ventanas de la feliz-cidade: diretrizes de desenho urbano

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diretrizes de desenho urbano para

ventanas da feliz-cidade


santa catarina, brasil

florianópolis, sc

centro, florianópolis

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“No entanto, a cada dia mais, nossos lugares em vez de se abrirem para os outros, de se prepararem para receber os outros, serem hospitaleiros, fecham-se em campos, em verdadeiros campos de reclusão (...)” Fernando Fuao O centro histórico de Florianópolis hoje é cenário de uma grande diversidade de pessoas, encontros e percursos. A escala humana é facilmente perceptível: edificações baixas, ruas estreitas com preferência para pedestres, calçadões exclusivos de pedestres, grandes janelas que propiciam a comunicação de áreas internas e externas, etc. Nas últimas décadas, "A mercadotecnia da cidade, vender a cidade, converteu-se {...] em uma das funções básicas dos governos locais..." (BORJA & FORN, 1996). Esse pensamento tem se espalhado nas veias da cidade, transformando-a segundo critérios de mercado. Adições hostis e desagradáveis foram concebidas na arquitetura existente, obedecendo ideais de gentrificação e segregação, escondidos atrás de eufemismos de “limpeza e requalificação” dos espaços urbanos ou de “cuidado e manutenção” do patrimonio histórico.

“[A arquitetura hostil] sugere que somos cidadãos da república apenas na medida em que estamos trabalhando ou consumindo mercadorias diretamente. […] (BORDEN, 2009)

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uma breve INTRODUÇÃO


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16.05.2018. Plaquinhas convidativas.

uma continuação

Quando a arquitetura não fala por si só, as plaquinhas convidam as pessoas a sentar. Na Rua Conselhero Mafra, foram colocadas plaquinhas em 3 vitrines que tinham grades que impediam as pessoas de encostarem ou sentarem nos peitoris. Foram observados diferentes tipos de interação, poucos sentaram, vários se questionaram e muitos outros passaram, olharam e sorriram. Em algumas ocasiões, as plaquinhas pareciam forçar uma interação que deveria acontecer naturalmente. E ao invés de sentar naqueles lugares, as pessoas escolheram não sentar por medo de serem "observadas".

Conflitos e dissensos são necessários para garantir uma cidade democrática e resistir às pressões do mercado é urgente. A partir das reflexões feitas em sala e durante a intervenção, constatou-se que: - o centro da cidade não é aberto e receptivo para todos existem poucos espaços de permanência e / ou descanso (que não requeiram o consumo de algum bem ou serviço) - a arquitetura que poderia servir como lugar de descanso ou permanencia, foi revestida de hostilidade - a hostilidade formou parte do dia a dia e cada vez é menos percebida como agressão. - a cidade não é para todos. - as aberturas já não são aberturas. São vitrines que se vendem e precisam ser expostas sem “obstáculos”. Existem mil formas de hospitalizar uma cidade doente, uma delas (a proposta aquí apresentada) é através de diretrizes de açõ es e resistência à hostilidade nas aberturas térreas das edificações no Centro Histórico.

"Fica dificil acontecer a hospitalidade sem aberturas" "(...)espectros de violência por todos os lados, sufocando o sentido da beleza pública, da felicidade. Da ‘felizcidade‘". fernando FUÃO

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uma intervenção


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As diretrizes de desenho propostas, foram traçadas como resposta às análises feitas em etapas passadas, com o objetivo de criar espaços mais receptivos e abertos para todos os cidadãos. Em momento nenhum o objetivo delas seria a estilização nem padronização da cidade, e muito menos a homogeneização dela. Construídas em forma de políticas públicas, elas visam ajudar a construir uma cidade que tenha espaços de descanso ou permanência para todos, sem excluir ninguém nem segregar os espaços de acordo ao poder adquisitivo do usuário. Assentos para a diversidade de pessoas que vive o centro, moradores e transeúntes. As políticas apresentadas a seguir tem o caráter de ALTERNATIVAS INCREMENTAIS, pois são opções de políticas marginalmente diferentes do status quo, que visam “adiconar” às políticas já existentes. É necessário hospitalizar a cidade. “Tratá-la, cuidá-la, devolver aquilo que

lhe foi retirado pela violência, saná-la. Não colocar dentro de um hospital, mas hospitalizar abrindo, recebendo” (FUÃO, 2013)

Políticas de (re)abertura das ventanas para a feliz-CIDADE

As diretrizes de desenho ou composição das ventanas, aplicáveis às janelas ou aberturas de edificações dentro do centro histórico de Florianópolis, são políticas de desenho para aberturas ao nível da rua (térreo ou nível de passagem de pedestres), e independem do uso da edificação. Foram desenvolvidos eixos de classificação das políticas de desenho das aberturas, tendo sido separadas em 4 designs principais relacionados à altura da abertura. As políticas apresentadas são alternativas de caráter e dos proprietarios dos imoveis, devendo existir um incentivo para o cumprimento das mesmas.

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uma construção


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PARAR Para janelas ou aberturas com peitoril menores de 30cm de altura a partir da calçada: DESIGN - PARAR Independente da largura da abertura, o peitoril deve estar ausente de qualquer tipo de grelha, grade ou quaisquer outro elemento que seja considerado hostil para a permanencia ou uso daquele espaço. O peitoril da abertura deve ter a largura minima de 25cm para garantir o conforto na utilização do mesmo, quando a largura da parede original da fachada for menor que 25 cm, deve ser utilizado um elemento ou esquadria para atingir o valor minimo da largura. Podendo ele ser usado de apoio, banco, etc.

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quatro classificações de design

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Para janelas ou aberturas com peitoril entre 35cm a 60cm de altura a partir do nível da calçada: DESIGN - SENTIR - Independente da largura da abertura, o peitoril deve estar ausente de qualquer tipo de grelha, grade ou qualquer outro elemento que seja considerado hostil para a permanencia ou uso daquela área. O peitoril da abertura deve ter a largura minima de 35cm para garantir o conforto na utilização do mesmo. Quando a largura da parede original da fachada for menor que 35 cm, deve ser utilizado um elemento ou esquadria para atingir o valor minimo da largura. Podendo ele ser usado de apoio, banco, etc.

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SENTIR


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Para janelas ou aberturas com peitoril entre 65cm a 110cm de altura a partir da calçada: DESING - PENSAR - Independente da largura da abertura, o peitoril deve estar ausente de qualquer tipo de grelha, grade ou qual quer outro elemento que seja considerado hostil para a permanencia ou uso daquele espaço. O peitoril da abertura deve ter a largura minima de 25cm para garantir o conforto na utilização do mesmo, quando a largura da parede original da fachada for menor que 25 cm, deve ser utilizado um elemento ou esquadria para atingir o valor minimo da largura, podendo ele ser usado de apoio, banco, etc.

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PENSAR


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Para janelas ou aberturas com peitoril maior que 180cm de altura a partir do nível da calçada: DESIGN - REINVENTAR Independente da largura da abertura, o peitoril deve estar ausente de qualquer tipo de grelha, grade ou qualquer outro elemento que seja considerado hostil para a permanencia ou uso daquele espaço. O peitoril da abertura deve ter a largura minima de 50cm para garantir o conforto na utilização do mesmo. Quando a largura da parede original da fachada for menor que 45 cm deve ser utilizado um elemento adicional ou uma esquadria para atingir a largura mínima. Podendo ser usado de proteção para chuva ou sol, etc.

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REINVENTAR


PARAR

sentir

pensar

reinventar

pensar

reinventar

dimensões PARAR

sentir

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modelos


materiais QUANDO A LARGURA DA PAREDE SATISFAZ A LARGURA MINIMA REQUERIDA, É DISPENSADO O USO DE UM MATERIAL ADICIONAL

largura parede fachada>25cm

De preferência, os materiais a serem utilizados como assentos (quando necessário), serão materiais de fácil manutenção e confortáveis, difícilmente condicionados a rompimento ou rachaduras, evitando assim lesionar o usuário.

madeira vidro colocado na face interna da parede para maior aproveitamento da largura do peitoril

face externa da parede (fachada)

pedras como mármore, granito, etc concreto / cimento / argamassa

adições cobertura de proteção

face externa da parede (fachada) adições: jardim vertical

borda externa do assento arredondada

25

cm -35

largura de acordo ao tipo de material. 2-5cm QUANDO A LARGURA DA PAREDE NÃO SATISFAZ A LARGURA MINIMA REQUERIDA, É REQUERIDO O USO DE UM MATERIAL ADICIONAL PARA SERVIR DE ASSENTO OU APOIO

cerâmica / azulejo

fachada

assento

Além da adição de assentos nos peitoris das aberturas, podem ser adicionados outros elementos de composição, sempre e quando não obstruirem a utilização do assento nem danificarem a estrutura da edificação.

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encaixe


r. álvaro de carvalho

r. conselhero mafra

mes 5

mes 6

mes 1 e 2

EIXOS PRINCIPAIS (MES 1 E 2) EIXOS TRANSVERSAIS MES 3 MES 4 MES 5 MES 6

mes 4

midt

mes 3

r. felipe schi

mes 4

ÁREA DE IMPLEMENTAÇÃO

mes 5

LEGENDA (TEMPO DE EXECUÇÃO)

mes 6

Para implementação do novo desenho das janelas, foi traçado um plano de ação apartir de dois eixos paralelos principais e quatro eixos transversais à eles. Os dois eixos paralelos (ruas Conselhero Mafra e Felipe Schimidt) serão os primeiros a serem beneficiados com o novo desenho. Começando pela interseção central com a Rua Alvaro de Carvalho e continuando a crescer do “centro pra fora”. As próximas “ventanas” a serem hospitalizadas, serão às paralelas à rua da Praça XVI, e se espalhando até a Rua Padre Roma. A previsão de implementação será de uma rua por mes, considerando que os proprietários dos estabelecimentos ou edificações terão um mes para modificar as janelas caso seja observado o não cumprimento das diretrizes apartir da data da notificação.

mes 1 e 2 área de implementação

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plano de ação


referÊncias ARANTES, Otília. VAINER, Carlos. MARICATO, Ermínia. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. 3ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. BRITTO, Fabiana Dultra; JACQUES, Paola Berenstein. Cenografias e corpografias urbanas: um diálogo sobre as relações entre corpo e cidade. In: Cadernos PPGAU/UFBA. Ano 6, número especial, 2008, p. 79-86. Salvador: PPGAU/UFBA, 2008. FUÃO, Fernando. A hospitalidade na arquitetura. Disponível em: https://fernandofuao.blogspot.com/2012/09/a-hospitalida de-na-arquitetura.html. Acessado 05/06/2018. GEHL, J. Cidades para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas: o corpo enquanto resistência. In: Cadernos PPGAU/UFBA. Ano 5, número especial, 2007, p. 93-101. Salvador: PPGAU/UFBA, 2007. SECCHI, Leonardo. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. São Paulo: Cengage Learning, 2011

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Na velocidade frenética do dia a dia da vida, caminhar pelas etapas da disciplina tem sido um grande aprendizado, sobre a cidade, sobre arquitetura, sobre os outros e sobre mim. Uma pausa para pensar o que está sendo construído, por quem, como e para quem. A desconstrução de conceitos e a criação de tantos outros tem sido uma constante no decorrer desses meses. A arquitetura é política, e enxergar prática e discurso tão desconexos foi uma grande inquietação desde as fases iniciais do curso, e finalmente tem sido analisada com um foco mais coerente. Conhecer a cidade porque somos quem a fazemos e construímos, e ao construí-la nos construímos. É em cada ação e cada traço que é desenhado um nós de diversidade ou um de segregação. Essa construção pode ser feita de diversas formas e com ajuda de elementos diferentes. As políticas formuladas neste trabalho, são um desses alementos, mesmo que somente um lançamento inicial de idéias, visam uma criação coletiva, aliando a gestão pública a privada, trabalhando em conjunto para garantir um maior respaldo e viabilidade. Entende-se que a formulação de políticas públicas é um trabalho árduo e que passa por diversos estágios de elaboração até serem aprovadas. O lançamento das políticas de desenho de esquadrias e janelas (ventanas para a Feliz.cidade), nada mais é do que uma tentativa a resistir à especulação e as leis do mercado, que são as leis que regem à cidade, deixando fora quem não consegue custeá-las. Uma resistência à hostilidade do mercado, uma reabertura da cidade para (todas) as pessoas, inclusive aquelas que “não deveriam estar lá”. Uma resistência ao “imagina se todo mundo quisesse usar o espaço público?”, resistência à fiscalização da permanência, e a proibição do “ser na cidade”.

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uma breve conClusão


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