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Introdução

Em 1784, cinco anos antes da Revolução Francesa, o menino Bernadino da Motta Botelho pastoreava o gado em Monte Santo, uma das regiões mais áridas do sertão da Bahia, quando uma pedra de superfície lisa e escura, diferente de toda as demais, chamou sua atenção no meio da pastagem. Era uma descoberta que ficaria famosa. Em 1810, um grupo de cientistas da Sociedade Real de Londres atestaria que se tratava de um meteorito, uma rocha espacial que se havia chocado com a superfície da Terra depois de viajar milhões de quilômetros pela escuridão do universo. Com dois metros de diâmetro e mais de cinco toneladas de peso, o Meteorito de Bendegó é o maior já encontrado na América do Sul. Está hoje exposto no saguão do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Situado na Quinta da Boa Vista, a algumas centenas de metros do Estádio do Maracanã, com vista para o morro da [pág. 17] Mangueira, este é um dos museus mais estranhos do Brasil. Seu acervo reúne, além do meteorito, aves e animais empalhados e vestimentas de tribos indígenas abrigadas em caixas de vidro que lembram vitrinas de lojas das cidades do interior. As peças estão distribuídas ao acaso, sem critério de organização ou identificação. O Museu Nacional é ainda mais esquisito pelo que esconde do que pelo que exibe. O prédio que o abriga, o Palácio de São Cristóvão, foi o cenário de um dos eventos mais extraordinários da história brasileira.

Ali viveu e reinou o único soberano europeu a colocar os pés em terras americanas em mais de quatro séculos. Ali, D. João VI, rei do Brasil e de Portugal, recebeu seus súditos, ministros, diplomatas e visitantes estrangeiros durante mais de uma década. Ali, aconteceu a transformação do Brasil colônia num país independente. Apesar de sua importância histórica, quase nada no Palácio São Cristóvão lembra a corte de Portugal no Rio de Janeiro. A construção retangular de três andares, que D. João ganhou de presente de um grande traficante de escravos ao chegar ao Brasil, em 1808, é hoje um prédio descuidado e sem memória. Nenhuma placa indica onde eram os dormitórios, a cozinha, as cavalariças e as demais dependências usadas pela família real. É como se nesse local a História tivesse sido apagada de propósito. A mesma sensação de descaso se repete no centro do Rio de Janeiro, onde outro prédio deveria guardar lembranças importantes desse período. Localizado na Praça 15 de Novembro, em frente à estação das barcas que fazem a travessia da Baía da Guanabara em direção a Niterói, o antigo Paço Imperial é um casarão de dois andares do século XVII. Foi a sede oficial do governo de D. João no Brasil, entre 1808 e 1821, [pág. 18] mas hoje um turista desavisado poderia passar por ele sem tomar conhecimento dessa informação. Com exceção de uma carruagem antiga, de madeira e sem identificação, exposta junto à janela direita da entrada principal, nada ali faz referência a seu passado histórico. Na parede ao lado da carruagem, um mapa em alto-relevo mostra os prédios e arranha céus do centro do Rio de Janeiro atual. É uma curiosidade fora de contexto. Em se tratando do Paço Imperial, seria mais razoável que se tentasse reproduzir a cidade colonial da época em que a corte portuguesa chegou ao Brasil. Os aposentos vazios são usados de forma esporádica para eventos que, na maioria das vezes, são deslocados de contexto. No começo de novembro de 2005, a sala do trono no andar superior,

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onde D. João VI despachava com seus ministros, estava ocupada por uma exposição de artes plásticas em que rosários católicos espalhados pelo chão reproduziam o formato da genitália masculina. Ainda que seja de natureza da arte surpreender e desafiar o senso comum, a exibição desses objetos naquele local, que por tantos anos abrigou uma das cortes mais religiosas e carolas da Europa, se resumia a uma provocação de mau gosto. O desprezo pela conservação dos monumentos históricos nunca foi novidade no Brasil. No caso de D. João VI porém, há um aspecto adicional que acentua a sensação de esquecimento forçado que o cerca. É a forma caricata com que o rei e sua corte costumam ser tratados nos livros, no cinema, no teatro e na televisão. Um exemplo é o filme Carlota Joaquina — a princesa do Brasil, da atriz e diretora Carla Camurati. A rainha, que dá nome à obra, é apresentada como uma mulher histérica, pérfida e ninfomaníaca. D. João, como um monarca [pág. 19] abobalhado e glutão, incapaz de tomar uma só decisão. Enquanto escrevia este livro, perguntei a Camurati, num almoço em São Paulo, por que havia construído os personagens dessa forma. “Porque não pude evitar”, ela me respondeu. “Quando comecei a pesquisar, fui me deparando com tipos cada vez mais hilários e absurdos, a tal ponto que se tornou irresistível retratá-los assim.” O propósito deste livro é resgatar a história da corte portuguesa no Brasil do relativo esquecimento a que foi confinada e tentar devolver seus protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que desempenharam duzentos anos atrás. Como se verá nos capítulos adiante, esses personagens podem ser, sim, inacreditavelmente caricatos, algo que se poderia dizer de todos os governantes que os seguiram, inclusive alguns muito atuais. Obviamente, o Brasil de D. João VI não se resume a graçolas. A fuga da família real para o Rio de Janeiro ocorreu num dos momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil e de

Portugal, em que grupos de interesses tão diversos, como monarquistas, republicanos, federalistas, separatistas, abolicionistas, traficantes e senhores de escravos, se opunham numa luta pelo poder que haveria de mudar radicalmente a história desses dois países. É natural, portanto, que a visão que se tem de D. João VI, Carlota Joaquina e sua corte permaneça ainda hoje contaminada pelas disputas políticas em que se envolveram. Isso explica tanto a sensação de abandono que cerca os lugares freqüentados pela realeza como a carga de preconceito que ainda a acompanha nas obras que inspirou. Um segundo objetivo deste livro, tão importante quanto o primeiro, é tornar esse pedaço da história brasileira mais acessível [pág. 20] para leitores que se interessam pelos acontecimentos do passado, mas não estão habituados nem dispostos a decifrar rebuscada linguagem acadêmica que permeia toda a bibliografia sobre 1808 e seus desdobramentos. A obra mais importante sobre o período é o livro D. João VI no Brasil, do diplomata historiador Manuel de Oliveira Lima. Lançada em 1908, com duas reedições, é um estudo inigualável na profundidade do seu conteúdo, erudito e fundamental para todos os pesquisadores: O estilo árido do texto de Oliveira Lima, porém, torna-o cansativo até para leitores mais familiarizados com o idioma peculiar das teses de pósgraduação. Curiosamente, os dois livros de leitura acessível mais recentes sobre o tema foram publicadas originalmente em inglês: Empire adrift, do jornalista australiano Patrick Wilcken, e Tropical Versailles, da historiadora americana Kirsten Schultz.1 Além da linguagem excessivamente acadêmica, os livros de História que tratam desse período apresentam uma intrigante questão semântica. A corte portuguesa mudou ou fugiu para o Brasil? Qual seria o termo adequado para definir o que aconteceu entre novembro de 1807 e julho de 1821, datas de partida e do retorno de D. João VI a Portugal? Os historiadores nunca chegaram

a um acordo. Oliveira Lima se refere ”transladação da corte”. Luiz Norton chama de “transferência voluntária” ou de “transposição da sede portuguesa”. Ângelo Pereira fala em “retirada da família real para o Brasil”. Tobias Monteiro trata de ”transplantação”. Outros usam expressões como “transmigração” ou ”mudança”. Este livro chama o evento de fuga, substantivo adotado igualmente pelos historiadores Pereira da Silva, Jurandir Malerba e Lília Moritz Schwarcz, entre outros. [pág. 21] A mudança da corte para o Brasil era um plano muito antigo em Portugal, mas em 1807 o príncipe regente não tinha escolha: ou fugia ou muito provavelmente seria preso e deposto por Napoleão Bonaparte, como aconteceu alguns meses mais tarde com a monarquia espanhola. Se não havia alternativa, também não se justifica o uso de malabarismos semânticos para amenizar ou disfarçar o que de fato ocorreu: uma fuga pura e simples, apressada, atabalhoada, sujeita a erros e improvisações. A pressa foi tanta que, na confusão da partida, centenas de caixas repletas de prata das igrejas e milhares de volumes da preciosa Biblioteca Real, entre outras coisas, ficaram esquecidos no cais de Belém, em Lisboa. A prata seria derretida pelos invasores franceses e recuperada pelos ingleses alguns meses mais tarde. Os livros só chegariam ao Brasil em 1811. Os acontecimentos do passado são imutáveis, mas a sua interpretação depende do incansável trabalho de investigação dos pesquisadores e também do julgamento dos leitores dos livros de História. Em 1864, ao apresentar sua monumental obra História da fundação do império brasileiro, em sete volumes, J. M. Pereira da Silva escreveu a seguinte observação a respeito do caráter transitório das verdades históricas:

Pesquisei, estudei, meditei, e comparei impressos e manuscritos, tradições orais e papéis do Estado. Esforcei-me

para tirar a limpo a verdade, separando-a do que pudesse obscurecê-la. Com o andar dos tempos e o encontro de novos subsídios, haverá de certo o que modificar e depurar ainda nesta história. Na atualidade, porém, e auxiliando-me com as luzes que pude colher, julgo que a devo publicar como a senti, compreendi e imaginei.2 [pág. 22]

Quase um século e meio mais tarde, a ressalva de Pereira da Silva continua atual e pertinente. No caso de D. João VI e da fuga da corte, mesmo decorridos dois séculos, fatos novos têm mudado de forma significativa a forma como até então se via e se interpretava esse período. Entre as contribuições importantes registradas nos últimos anos, destaca-se a transcrição integral dos diários de bordo dos navios britânicos que acompanharam a família real na viagem ao Brasil. Feito em 1995 pelo historiador Kenneth L. Light, o estudo ajudou a resolver alguns pontos até então nebulosos da travessia do Atlântico. Igualmente relevantes são as interpretações do historiador paranaense e professor Jurandir Malerba, autor do livro A corte no exílio, que mostram como a pompa e o ritual da corte portuguesa no Rio serviram de instrumento de legitimação do seu poder nos trópicos. Cabe destacar ainda a contribuição decisiva de historiadores como Mary Karasch, Leila Mezan Algranti, Manoel Garcia Florentino e João Luis Ribeiro Fragoso em temas mais específicos como o tráfico de escravos e a acumulação de riquezas no Brasil de D. João VI. Nessa mesma linha, têm sido importantes as pesquisas do arquiteto Nireu Cavalcanti e do historiador Jean Marcel Carvalho França sobre o Rio de Janeiro colonial. São todos estudiosos que se dedicam ao difícil e paciente trabalho de pesquisa em fontes primárias, com documentos oficiais, cartas e diários pessoais, correspondências diplomáticas e inventários post-mortem guardados no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, na Torre do Tombo em Lisboa, e em

outras instituições. Essa garimpagem do passado tem sido decisiva para aprimorar a compreensão dos fatos ou corrigir interpretações incorretas que prevaleciam até então. [pág. 23] Este livro-reportagem se vale do trabalho destes e de inúmeros outros pesquisadores para descrever o que aconteceu no Brasil dois séculos atrás. Embora não tenha a pretensão de ser um livro acadêmico, todas as suas informações são baseadas em relatos e documentos históricos, exaustivamente apurados e checados. Mesmo assim, não está isento de eventuais erros, factuais ou de interpretação, que necessitem ser corrigidos no futuro. Com o objetivo de facilitar a leitura e a compreensão, os textos de cartas, documentos e registros pessoais da época foram editados e adaptados às regras atuais da língua portuguesa. Além da preciosa bibliografia existente sobre o assunto, usei algumas fontes de pesquisa não convencionais, ainda não reconhecidas pela historiografia oficial, mas que se revelaram de extrema utilidade pela facilidade de acesso e pelo volume de informações que oferecem. São todas fontes digitais, disponíveis na Internet, a rede mundial de computadores. É o caso da Wikipedia, enciclopédia on-line produzida em regime de mutirão por internautas do mundo inteiro. Ao contrário dos livros e das fontes impressas tradicionais, essas fontes precisam ser consultadas com cautela. Elas oferecem pistas para o trabalho de pesquisa, mas nem sempre são inteiramente seguras. Ainda assim, não podem mais ser desprezadas, desde que suas informações sejam devidamente checadas nas fontes autorizadas. A Wikipedia tem quase tudo a respeito dos personagens e acontecimentos relatados neste livro, mas pode errar em coisas básicas, como, por exemplo, a data da partida da família real portuguesa de Lisboa para o Brasil. Numa consulta feita em meados de 2006, a enciclopédia on-line afirmava ter sido no dia 7 de novembro de 1807. A data correta é [pág. 24] 29 de novembro de 1807 — como a própria Wikipedia já

registrava no começo de 2007, graças à intervenção dos internautas responsáveis pela sua edição e atualização. Entre as fontes não convencionais, usei também um excelente serviço de audiolivros em inglês, o www.audible.com que oferece mais de 30000 títulos. Trata-se, nesse caso, de uma fonte bem mais confiável que a Wikipedia, uma vez que as obras são apenas a versão sonora dos livros publicados em papel por algumas das mais renomadas editoras americanas e inglesas. As audições estão relacionadas na seção Bibliografia ao lado dos livros em papel utilizados como fontes de consulta nesta obra. Usei, por fim, alguns serviços de podcast no site iTunes, da Apple. Ali estão disponíveis desde 2006, por exemplo, todas as aulas de graduação da Universidade da Califórnia em Berkeley. A lista inclui o curso completo de história da civilização européia, do Renascimento aos dias atuais, ministrado pelo professor Thomas Laqueur, num total de 26 aulas, cada uma com, em média, 1h20 de duração. Algumas das melhores informações sobre Napoleão Bonaparte — todas depois devidamente checadas nos livros — vieram do The Podcast Network, também no iTunes, onde um grupo de especialistas criou um programa completo, chamado Napoleão 101, com mais de dez horas de gravações e entrevistas sobre a história do imperador francês, incluindo a descrição detalhada de cada uma de suas batalhas mais memoráveis. A Internet é uma ferramenta de trabalho que, obviamente, não existia quando Manuel de Oliveira Lima escreveu o seu magistral D. João VI no Brasil, em 1908. Cem anos depois, pode ser indispensável para os historiadores que a souberem usar com critério e sabedoria. Só com a ajuda da [pág. 25] Internet foi possível encontrar fatos novos e surpreendentes a respeito de alguns dos personagens deste livro. Um exemplo é a informação de que no dia 15 de junho de 1814 nasceu no Rio de Janeiro uma criança com o nome de Joaquinna dos Santos Marrocos. Segundo as evidências reunidas no último capítulo desta

obra, foi uma filha que o arquivista real Joaquim dos Santos Marrocos, um dos protagonistas centrais da história da corte portuguesa no Brasil, teve antes do casamento e cuja existência era até agora ignorada pelos historiadores. Como última ressalva, vale adiantar que, ao longo deste livro, arrisquei-me algumas poucas vezes a fazer atualização monetária de preços e valores de duzentos anos atrás. Como todo pesquisador sério sabe, esse é sempre um exercício perigoso. Tentar atualizar valores monetários num período tão longo e num país de moeda tão instável quanto o Brasil é arriscar-se à imprecisão. Nesse caso, porém, o objetivo é apenas dar aos leitores uma noção, ainda que aproximada, de preços e valores praticados na época — como, por exemplo, quanto custava um escravo ou uma casa no Rio de Janeiro em 1807. Para quem se interessa por esse tipo de curiosidade, o Parlamento britânico e as universidades de Miami e Illinois oferecem pela Internet serviços de atualização monetária com razoável precisão. Ambos estão relacionados nas fontes eletrônicas citadas na Bibliografia, ao final desta obra.3

São Paulo, julho de 2007 [pág. 26]

“Foi o único que me enganou.”

Napoleão Bonaparte, nas suas memórias escritas pouco antes de morrer no exílio da Ilha de Santa Helena, referindo-se a D. João VI, rei do Brasil e de Portugal

[pág. 27]

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A FUGA

Imagine que, num dia qualquer, os brasileiros acordassem com a notícia de que o presidente da República havia fugido para Austrália, sob a proteção de aviões da Força Aérea dos Estados Unidos. Com ele, teriam partido, sem aviso prévio, todos os ministros, os integrantes dos tribunais superiores de Justiça, os deputados e senadores e alguns dos maiores líderes empresariais. E mais: a esta altura, tropas da Argentina já estariam marchando sobre Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a caminho de Brasília. Abandonado pelo governo e todos os seus dirigentes, o Brasil estaria à mercê dos invasores, dispostos a saquear toda e qualquer propriedade que encontrassem pela frente e assume o controle do país por tempo indeterminado. Provavelmente, a primeira sensação dos brasileiros diante de uma notícia tão inesperada seria de desamparo e de traição. Depois, de medo e revolta. [pág. 29] E foi assim que os portugueses reagiram na manhã de 29 de novembro de 1807, quando circulou a informação de que a rainha, o príncipe regente e toda a corte estavam fugindo para o Brasil sob a proteção da Marinha britânica. Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de qualquer outro país europeu. Em tempos de guerra, reis e rainhas haviam sido destronados ou obrigados a se refugiar em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido tão longe

a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colônias imensas em diversos continentes, até aquele momento nenhum rei havia colocado os pés em seus territórios ultramarinos para uma simples visita — muito menos para ali morar e governar. Era, portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os portugueses, que se achavam na condição de órfãos de sua monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros, habituados até então a ser tratados como uma simples colônia extrativista de Portugal. No caso dos portugueses, além da surpresa da notícia, havia um fator que agravava a sensação de abandono. Duzentos anos atrás, a noção de Estado, governo e identidade nacional era bem diferente da que se tem hoje. Ainda não existia em Portugal a idéia de que todo poder emana do povo e em seu nome é exercido — o princípio fundamental da democracia. No Brasil de hoje, se, por uma circunstância inesperada, todos os governantes fugissem do país, o povo ainda teria a prerrogativa de se reunir e eleger um novo presidente, deputados e senadores, de modo a recompor imediatamente o Estado e seu governo. As próprias empresas, depois de um período de incerteza pela ausência de seus donos ou dirigentes, [pág. 30] poderiam se reorganizar e continuar funcionando. Em Portugal de 1807 não era assim. Sem o rei, o país ficava à míngua e sem rumo. Dele dependiam toda a atividade econômica, a sobrevivência das pessoas, o governo, a independência nacional e a própria razão de ser do Estado português. Para complicar ainda mais a situação, Portugal era um dos países mais atrasados da Europa no que diz respeito às idéias e reformas políticas. Ao contrário da Inglaterra e da Holanda, em que a realeza ia gradativamente perdendo espaço para os grupos representados no Parlamento, em Portugal ainda vigorava o regime de monarquia absoluta. Ou seja, o rei tinha o poder total.1 Cabia a

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