Revista Mercado do Imóvel

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Mercado de Teresina em ebulição José Cerqueira Dantas Barra Grande CRECI




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Gerson Castelo Branco jeito piauiense de ser por Marta Tajra fotos Divulgação

Gerson possui páginas e páginas em livros e revistas do mundo inteiro. Ganhou prêmios e mais prêmios com sua arquitetura nada convencional, sendo um deles, o Planeta Casa, da Editora Abril. Com a sua casa da serra, ele obteve oito páginas exclusivas na Architectural Digest, a mais respeitada revista de arquitetura do mundo, onde seus editores o comparam a Frank Lloyd Whight, considerado o maior arquiteto americano de todos os tempos. Gerson Castelo Branco,está fazendo 40 anos de carreira. É disso que vamos falar aqui.

Casa da Pedra do Sal (PI)

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os 14 anos de idade, este irreverente piauiense, nascido em Parnaíba numa agência onde funcionavam os Correios e Telégrafos, na Praça da Graça (não deu tempo de chegar ao hospital), decidiu que ia trabalhar com arquitetura. Foi paixão à primeira vista, avisou logo no começo desta entrevista: “um primo fez a perspectiva de uma casa copiada de uma revista de chalés americanos, eu olhei, achei curioso e disse, vou fazer igual. Meu primo só fez aquela mas eu continuei brincando. E continuo brincando com isso até hoje.” Esta 'brincadeira' lhe rendeu, além de experiência e fama, muitas capas de revistas, páginas e páginas em livros e revistas do mundo todo, e muitos prêmios, que ele conta nesta entrevista com a simplicidade e a engenhosidade de um menino grande. Gerson Castelo Branco tem 62 anos, e está comemorando, este ano, 40 de carreira, que a Revista Mercado do Imóvel faz questão de festejar e de compartilhar com seus leitores. Acompanhe conosco a sua trajetória memorável e orgulhe-se desse puro talento piauiense. Até os 12 anos, Gerson teve como principal cenário de vida os quintais da Luzilândia, cidade natal de seus pais. Depois disso foi para Fortaleza estudar como interno no Colégio Cearense. Num pequeno intervalo de tempo, seus pais voltaram a morar em Parnaíba. O suficiente para ele testemunhar uma época em que a cidade ainda ostentava ares chiques de estrangeirismo com as festas do Cassino e onde a Rua Grande era considerada a rua nobre da cidade. De regresso à Fortaleza, ainda adolescente, sua relação com a arte, arquitetura e com as tintas aumenta. Tenta o vestibular para arquitetura, mas acaba indo para a Bahia, onde começa o curso de Belas Artes, sem concluir. A explicação vem acompanhada de um sorriso meio maroto: sou um anarquista, graças a Deus. E defende a sua tese de anarquista, contando como tudo começou: a maioria das pessoas segue uma trajetória de vida dentro de um contexto, de um padrão 'aceitável ' que eu não segui, tanto na vida pessoal como profissional. Em Salvador,quando estudei Belas Artes,

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morei com alguns piauienses. Um deles tinha um irmão que precisava de uma reforma numa loja de móveis em Teresina. Eu fiz a reforma e ele gostou tanto que, logo em seguida, me pediu um projeto. Eu tive, então, a sensação de desenhar o meu primeiro projeto sem referência de nenhuma escola de arquitetura. Foi uma sensação muito boa, e acabei achando que não ia precisar de diploma para nada. Em contrapartida, eu tinha todo um conhecimento das arquiteturas do Borsoi, de Fortaleza, que era o que existia de mais bonito, mais contemporâneo, juntamente com as ambientações da Janete. Então eu usei este conhecimento. Além disso, eu gostava do trabalho do Burle Marx, achava lindo o que Oscar Niemeyer tinha feito em Brasília. Eu tinha um olhar nas arquiteturas brasileiras e outro olhar ligado nas informações internacionais, e foi isso que eu utilizei a princípio. Nessa época, década de setenta, ainda morando em Salvador, mas já com um pé em Teresina, Gerson participa do que ele chamou

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de 'a loucura baiana', em contato direto com Caetano Veloso, Gilberto Gil e a turma da Tropicália. Fato que influenciou bastante a sua vida e o seu trabalho. Ele lembra, quando chegou aqui, os nomes mais requisitados eram os de Otacílio Fortes (o Tatá) e o de Antônio Luiz, da Maloca. Então Gerson chegou com a sua 'loucura baiana', trazendo na bagagem essa e outras 'loucuras', fruto de experiências de viagens e de vida. E acabou revolucionando o conceito de arquitetura no Piauí: as pessoas começaram a visitar as casas que eu projetava como se elas fossem pontos turísticos, porque eu sempre fui muito ousado e irreverente com relação a tudo. Uma das casas mais bonitas desse começo de carreira de Gerson pertencia ao empresário Afonso Aragão, o dono da Coca-Cola no Piauí. A casa, toda em tijolo aparente e pedra, foi uma grande novidade, mas infelizmente, acabou sendo derrubada, anos depois. AFINAL, DE ONDE VEM ESSA IRREVERÊNCIA


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Panorama Salon

TODA, GERSON? Sinceramente, não sei. Porque eu venho de uma família extremamente tradicional e conservadora, onde os padrões morais e religiosos eram de uma rigidez incrível. A minha avó, Dona Geracinda, era de uma família das mais tradicionais e importantes, documentada em livro do Piauí. Meu avô, que também era Gerson Castelo Branco, morreu cedo, e a minha família foi administrada por mulheres, mulheres guerreiras que formaram irmãos, filhos e netos. Eram as matriarcas. Nós brincávamos de rezar a missa em latim, para você ter uma idéia desse tradicionalismo. Então, quando cheguei à Teresina, vindo de uma viagem dos Andes, eu era o maluco que usava aquelas roupas ousadíssimas. As pessoas ficavam olhando para mim, admiradas. Mas não era só a coisa de mostrar a roupa, era uma coisa de cabeça mesmo. Nesta viagem que eu fiz aos Andes, eu descobri em mim um lado meio escondido- o lado ermitão. Então, fui me descobrindo: o arquiteto, o ermitão, o maluco beleza.... Chego à Teresina, barbudo, cabelu-

do e com umas roupas esquisitíssimas... quando eu ia para a obra do Afonso (Aragão), os vizinhos ligavam para a fábrica da Coca Cola para avisar que tinha um hippie na casa dele (risos). E o Afonso respondia: deixa quieto, é o meu arquiteto. Nessa época, década de oitenta, Gerson decide vivenciar seu lado ermitão. Compra e reforma, para morar, uma choupana de pescador na praia do Coqueiro, em Luiz Correia, quando ainda não existia nenhuma comunicação com aquela comunidade. Estrada, igreja, polícia, e eletricidade eram coisas ainda inexistentes no Coqueiro que Gerson escolheu para morar. Apesar disso, no auge de sua reclusão e isolamento, ele recebeu em sua cabana de pescador reformada com material da própria região, visitas ilustres como a da ambientalista Janete Costa (companheira de Acácio Gil Borsoi, arquiteto e urbanista), a equipe da Casa Claudia, à época liderada pela jornalista Olga Krell, além de Zanini, como ele, um autodidata da arquitetura brasileira.

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Duas vistas da Casa do Fortim

Foto: Rodrigo Ferraz

Com a cumplicidade da amiga e jornalista Olga Krell, que recebeu a alcunha de fada madrinha, nesta conversa, Gerson foi um dos primeiros a sair nas páginas da Casa Claudia com as suas famosas casas de praia: Quando chegou a luz, a polícia e a estrada no Coqueiro, eu resolvi sair e montar meu escritório em Teresina. Foram dez anos de muita produção: Lojas como a Boutique Baú (que depois virou restaurante Matrinchã, na Avenida Nossa Senhora de Fátima), fábricas, hotéis ( até no litoral de Natal) e muitas casas em Teresina como as dos empresários Pedro Rocha, João Martins e Joaquim Fortes. A deste último serviu de referência para muitas outras casas Brasil afora: aquela asa delta que eu fiz para o Joaquim serve de referência para todas as asas deltas que existem neste país... e esta história é interessante, porque, na realidade ,eu estava com um pedaço de papel na mão, precisava fazer o projeto do Joaquim, e quando eu dobrei o papel, apareceu a forma da casa, ou seja, dois triângulos onde as extremidades encostam-se ao chão e mais duas partes altas formando o telhado da casa. O Joaquim queria que a casa tivesse material produzido pela fábrica dele, então o tijolo e a telha aparecem ali como o maior apelo de marketing. O telhado rebaixado tem função estética, mas proporciona muita sombra também. É uma 'colméia' de madeira fazendo todo o fechamento, com uma meia parede. De dentro do espaço da casa, você vê todo o telhado. Essa casa está publicada em vários livros e é uma referência da arquitetura brasileira tanto pela sua forma ousada como pelo contraponto, por exemplo, com a arquitetura de Niemayer, que é cheia de curvas. A minha arquitetura é de linhas reta. Gerson ficou em Teresina até 1992, depois do projeto da Poticabana. O QUE FOI ESTA EXPERIÊNCIA, GERSON? A Poticabana era um espaço cultural e de lazer, lindo de se ver, nós chegamos a administrá-la junto com o Governo Alberto Silva por certo período, diz ele guardando certo ressentimento pela falta de continuidade do projeto. Esta obra talvez seja uma das maiores contribuições de Gerson à Teresina, pois a partir deste parque aquático, surgiria toda uma malha viária e um centro físico empresarial ao redor do mesmo, como os dois shoppings centers- Teresina e Riverside – construídos depois da construção do parque, além de várias vias de acesso, num processo de valorização imobiliária sem precedentes. Anos depois, Gerson voltaria para fazer a recuperação da mesma Poticabana, reformulando seu conceito e fazendo do parque um postal cultural, num projeto para o SESC-SENAC. Este projeto tinha uma estrutura arquitetônica ousadíssima, praticamente voltada para o 'olhar morosamente o rio', na mesma linha de

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intenção que hoje tem o mirante da Ponte Estaiada. O projeto, infelizmente, foi boicotado por motivos estritamentes políticos, afirma ele. Depois disso, Gerson passou a ser chamado para dar palestras em bienais de arquitetura, como a de Buenos Aires, onde participou duas vezes. Ajudou a montar, também, a bienal internacional de Olinda e Recife junto a nomes como os de Eólo Maia e Carlos Bratke(SP), e todo o grupo de Recife. Mas o Brasil e a América do Sul eram poucos para este irrequieto Gerson, com cabeça, corpo e alma de arquiteto assumido sem diploma: de repente, eu me vi participando de uma exposição no Museu de Arquitetura de Frankfurt, onde eu era a capa do convite da exposição de arquitetos brasileiros. A organização na Alemanha me escolheu e eu mandei dois trabalhos fotografados por mim. E é interessante que, em certo momento, eu estava lá com a Mônica Gilli, da Editora G, uma das editoras mais conhecida no mundo, meu irmão Cabeto, que tinha me acompanhado nesta exposição, o organizador da exposição da parte brasileira e mais o diretor do Museu. E, então, eu, bastante sensibilizado por ter sido escolhido para capa do convite, perguntei ao diretor: Por que eu? Por que o meu trabalho? A resposta do diretor quebra todos os paradigmas existentes dentro de um academicismo pedante e exagerado que impera no Brasil: “olha, depois do Niemeyer, você é a pessoa mais significativa da arquitetura brasileira”. Nesse mesmo tempo, Gerson estava sendo premiado no Brasil com alguns trabalhos de arquitetura artesanal e convidado para dar palestras no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. Instigado por um arquiteto americano para focar sua palestra na parte artesanal, Gerson teria respondido: mas eu não sobrevivo com isso. O que o outro retrucou: mas é a parte mais bonita do teu trabalho. A partir desse episódio, ele começa a trabalhar mais


capa intensamente com o artesanal, criando, inclusive, um nome próprio para o seu estilo, o paraqueira, que, em princípio, vem do seu próprio apelido, paraca. Depois, ele descobriu que paraqueira é uma árvore da Amazônia, o que o deixou mais feliz ainda, pois sua arquitetura mais expressiva vem do trabalho com a madeira. Hoje, o nome ganhou uma nova versão, dada pelo próprio Gerson, que é o resgate das raízes culturais do Brasil, através da arquitetura e da decoração, a busca por uma identidade brasileira. Mas, isso nós vamos falar mais adiante. Por conta das palestras que dava em São Paulo, Gerson começou a ser procurado pelas editoras americanas, inclusive pela Architectural Digest, que é a maior e mais famosa revista de decoração deste planeta. Nesta revista ele ganha 8 páginas com a sua famosa casa da serra, fazendo páreo com Oscar Niemayer e Claudio Bernardes, do Brasil. Essa publicação lhe rendeu páginas em livros e revistas nos Estados Unidos, Alemanha, Rússia (com 3 publicações), Itália, França, Austrália e até no longínquo Vietnã, totalizando mais de duas mil páginas em material publicado. Em outra publicação organizada por Oscar Niemayer e Pietro Maria Bardi (criador do MASP), chamada A Arte no Brasil, e distribuído pela Editora Rizzoli, ele aparece juntamente, com pouco mais de 30 arquitetos, como sendo um dos nomes mais representativos do Brasil, com uma página inteira sobre seu trabalho. No caso, uma casa feita com taipa, típica da nossa região, e infelizmente já destruída. Um belo dia, ele recebeu convite para representar a América do Sul num encontro de arquitetura verde mundial na Costa Rica, onde estavam presentes os grandes nomes da arquitetura do planeta Terra. E – pasme - Gerson era o único palestrante brasileiro. Nesta brincadeira de fazer de conta que sou arquiteto, eu já faturei 7 prêmios na área ...no ano passado eu tive 13 publicações em

revistas brasileiras e terminei o final do ano sendo cenário da casa da Letícia Spiller, na novela da Globo, Viver a Vida, com a fachada de um projeto meu do Rio de Janeiro, de 1984. Ou seja, eu estou com 40 anos brincando com a arquitetura. Este ano de 2010, quando festeja 40 anos de carreira, Gerson já saiu em 3 das melhores publicações brasileiras, uma delas sendo capa. VOCÊ ACHA QUE DEU UMA BOA CONTRIBUIÇÃO PARA O PAÍS? Sim, mas eu sou reconhecido muito mais fora do que dentro do Brasil, e não acho- como piauiense - que o Piauí me trate de uma forma merecida. Segundo ele, existe uma coisa mal resolvida no Piauí, que é a necessidade extrema de ter um diploma para se estabelecer como profissional ou para se obter qualificação e ser valorizado quando, em sua opinião, o que traz esta qualificação é o próprio trabalho desenvolvido, principalmente quando este trabalho é reconhecido mundialmente, como é o caso aqui. A não valorização de um profissional como Gerson, fica evidente quando ele tem de apelar para alguém se responsabilizar tecnicamente, e assinar por um trabalho, que tem aceitação mundial, como ficou óbvio nesta reportagem. Fica, pois, a sugestão para a Universidade Federal do Piauí, ou outras que administram o curso de arquitetura, para que conceda o diploma a Gerson Castelo Branco, que levou e elevou durante 40 anos o nome do Piauí aos quatro cantos deste planeta. Em nosso ponto de vista, estas universidades não estariam fazendo nenhum favor a Gerson. Pelo contrário, seria uma honra para elas. SUSTENTABILIDADE NUMA ÉPOCA EM QUE O MUNDO NÃO FALAVA AINDA NISSO? EXPLICA ESSA HISTÓRIA, GERSON!!! Pois é, de repente eu virei moda, e é engraçado isso, porque a coisa toda começou através de minha própria vivência. Eu estava numa beira de praia (época em que

Casa na Lagoa do Uruaú (CE)

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capa coqueiral, sem nenhuma vizinhança por perto. Além disso, quero continuar também com minha outra casa, que eu chamo de Paraqueira in Natura, que é a Casa da Serra, em Viçosa. (Esta casa em três níveis foi construída na década de oitenta na divisa entre o Piauí e Ceará e possui páginas e páginas em livros e revistas do mundo todo. Ganhou 3 prêmios, sendo um deles, o Planeta Casa, da Editora Abril, e oito páginas na Architectural Digest onde eles comparam Gerson com Frank Lloyd Whight, considerado o maior arquiteto americano de todos os Fachada da Casa Mandala (RJ), cenário da novela Viver a Vida (Rede Globo) tempos, pelo American Institute of Architects). resolveu morar no Coqueiro) numa casa de taipa, precisando Lá, eu tenho 33 hectares de mata e sete cachoeiras, que preservo há reformar utilizando o que estava à mão para poder fazer arquitetura. Então eu observei que, todas as casas feitas em volta, tinham o mais de 30 anos. Ela é feita em carnaúba, talo de palmeira, babaçu, mesmo princípio, ou seja, o de aproveitar material da própria pedra e vidro...este é o meu universo. Hoje, eu venho à Fortaleza região. E aí, quando ainda nem existia este discurso da questão por conta de um escritório que ainda mantenho, por conta de uma ecológica, eu já estava fazendo tudo isso. Mas eu só percebi que mãe de 88 anos e de uma filha chamada Bela. PLANOS PARA A ARQUITETURA? Eu continuo trabatinha virado moda vendo um trabalho meu ser copiado, literallhando. Estou construindo agora na Espanha, e isso me deixa como mente, numa Casa Cor Ceará, de três ou quatro anos atrás, e ser premiado como referência. Eles copiaram tudo, detalhes, forma, arquiteto internacional. Se isso vai trazer outras possibilidades, materiais, tudo, tudo... Até a minha carpintaria foi levada para realmente eu não sei. Fiz mais recentemente um trabalho em Parnaíba que adorei fazer, embora as pessoas digam que eu estava fazer igual. Gerson, hoje, é uma referência mundial em se tratando de louco quando criei aquilo lá, porque esta casa foge totalmente dos arquitetura auto-sustentável, e atende seus clientes fazendo um conceitos normais, além de restabelecer uma possibilidade de trabalho artesanal e durável, com a utilização do eucalipto especulação imobiliária numa área que não tem valor nenhum, autoclavado e a madeira de reflorestamento. Mas ele atribui que é a Ilha Grande de Santa Isabel. E POR QUE A CASA FOGE DOS CONCEITOS, este dom a uma força criativa da própria natureza que, segundo ele, está sempre regendo os seres humanos: Foi assim que GERSON? Porque quando você entra na casa não sabe o que vai nasceu, por exemplo, a casa da pedra do sal (obra mais recente de encontrar lá dentro. Ela tem dois módulos e três andares em cada Gerson, em Parnaíba), montada em cima de pedras, onde todas as módulo, com passarelas que unem esses dois módulos. A área estruturas das paredes também são de pedras, ou seja, com uma social, por exemplo, está no terceiro piso da casa. É uma casa toda relação com a questão do impacto do meio ambiente. Minhas feita em pedras, puxando para a arquitetura histórica do Porto das obras reverenciam o sol, elas captam a melhor posição de ventila- Barcas... é pedra, madeira e vidro. Está localizada no meio de um ção, além das questões culturais e as tradições do próprio local, carnaubal, na beira do Rio Igaraçu, e quando você olha, não sabe que são levadas muito a sério. Desse modo, eu posso dizer que que idade ela tem, se é uma ruína, se é uma casa de dois séculos passei uma vida inteira em busca de uma identidade. Sempre atrás ou se ela é mais contemporânea. Além do mais, ela permite coloquei meu olhar para uma arquitetura brasileira, nordestina, e uma mobilidade física onde o proprietário ou a família podem isso, em um dado momento, eu levei para fora do nordeste, com as fazer o que quiser dentro dela, tal como transformá-la em lojas, pousada... enfim, é uma casa que incita à mudança. E, em minha casas de praias que eu construí no Rio e no litoral paulista. PLANOS PARA O FUTURO, GERSON CASTELO opinião, o homem é isso. Mudança, sempre. E, o lugar de moraBRANCO? Que futuro? Para mim existe o presente eterno, para dia dele tem que refletir isso, proporcionar esta mobilidade. Gerson Castelo Branco, este enfant terrible de 62 anos de idade, mim não existe o passado, apesar de eu ter falado dele aqui, e nem assim como a sua obra, também pode ser enquadrado nessa categoo futuro. Somente o presente. Mas, pra efeito de entrevista, ele falou: Quero, basicamente, ria emblemática da mudança? Talvez sim, talvez não...Poderia continuar habitando minha casa de praia, isolada, no meio do representar bem esta mudança, afinal, como ele não disse, mas nada no Piauí, num carnaubal em meio às dunas junto a um sugeriu o tempo todo nesta entrevista, o segredo da vida é o movimento. Longa vida para o nosso Gerson e a sua arquitetura de vanguarda. mercadodoimóvel 12




foto Efrém Ribeiro

sustentabilidade

T

inha uma árvore no meio do caminho...um centenário angico branco com mais de 20 metros de altura que foi arrancado por tratores, retalhado por motosserras e queimado ainda vivo, por estar atrapalhando a entrada do novo AlphaVille Urbanismo, empresa paulista, que, conforme sua estratégia de marketing, preserva o meio-ambiente e respeita a natureza. A Revista Mercado do Imóvel, que sempre se posicionou a favor do desenvolvimento imobiliário do Piauí, refuta veementemente essa ação, que contraria todas as regras do novo conceito da construção civil e da arquitetura. Hoje a sustentabilidade é condição básica para a salvação do nosso planeta, fato anunciado pela ONU e outras entidades que defendem a Terra. Esta revista é impressa em papel carbon free. Em sua fabricação existe uma significativa redução na emissão de gases que aumentam o efeito estufa.

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sustentabilidade

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patrimônio histórico

De volta para o

fotos Kaki Afonso

Cuidar do patrimônio, de bens que reconhecem uma memória coletiva, que remetem a histórias, sentimentos, lembranças e momentos é algo imprescindível. Mas não é tarefa fácil. Ninguém quer ver abandonada a praça onde brincou quando criança, ou demolida a casa onde seus avós moraram. Mas são poucas as pessoas que conservam imóveis que, muito além dos valores arquitetônicos, agregam em si histórias de épocas inteiras.

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patrimônio histórico

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo

Inventariar, tombar e conservar um prédio ou sítio histórico ainda são práticas desconhecidas por grande parte da população. A falta de informação muitas vezes leva as pessoas a tomar atitudes equivocadas, como descaracterizar construções, e a pensar que patrimônio é sinônimo de desvalorização comercial. Se você passa alguns meses fora de uma cidade, quando retorna percebe inúmeras mudanças. Em Teresina, este fenômeno está acontecendo com uma freqüência cada vez maior. Porém, na Capital do Sol, ainda há muitas estruturas demolidas, em vez de aproveitadas. A participação de um arquiteto é fundamental na hora de decidir o que fazer com um prédio antigo. Os proprietários raramente têm conhecimento nesta área, e o profissional vai ajudar a identificar o estado em que a estrutura do imóvel se encontra e quais as suas funcionalidades. Teresina, assim como qualquer cidade, possui prédios abandonados e em estado de conservação ruim. A capital piauiense enfrenta hoje o desafio de preservá-los e não deixar sua história – ainda recente - se perder em meio a demolições aleatórias. Mas, ao contrário do que alguns setores da sociedade pensa, esse desafio não consiste apenas em transformar esses prédios em centros culturais, mas, principalmente, mantê-los em utilização – para evitar o processo natural de degradação. Conservar um imóvel não é barato. Fazer a conservação de um prédio é revitalizar sua estrutura, dar uma nova vida a essa construção. Embora seja preferível que cada prédio mantenha sua função principal – que casas sejam conservadas com função residencial e lojas antigas com função comercial, por exemplo –, uma casa em processo de degradação não precisa manter-se casa para sempre, mas deve ser levado em conta o valor cultural daquele patrimônio, o porquê de ele ter se tornado um bem coletivo. “Revitalizar é procurar novos usos contemporâneos. Para isso, é importante trabalhar com parcerias, iniciativa privada, porque conservar é caro. Pintar, manter um telhado antigo, um piso, é trabalhoso. A gente não pode querer engessar a arquitetura, tem que ser flexível em determinadas intervenções. Eu não vou sair descaracterizando tudo, mas eu posso tirar partido disso, para fazer a intervenção correta”, explica a arquiteta Alcília Afonso de Albuquerque, que foi diretora durante dez anos do Patrimônio Histórico do estado, na Fundação Cultural do Piauí (FUNDAC). Aproveitar os espaços históricos com as modernas técnicas de arquitetura é uma carta na manga para os profissionais do século XXI. Ao mesmo tempo em que as cidades estão passando por transformações muito rápidas e o espaço urbano está cada vez mais efêmero, há uma vontade de preservar a memória e a identidade de cada povo, de cada lugar. A ex-diretora da Fundac acredita que Teresina, por ser uma cidade planejada e ter muitos de seus habitantes mercadodoimóvel 37


patrimônio histórico provenientes de outros lugares, é diferente de outras cidades no Piauí quanto à preservação patrimonial. Em Oeiras, Amarante e Parnaíba as pessoas têm uma identificação maior pelas construções. “Aqui, tudo é muito efêmero, existem muitos modismos, então poucas pessoas têm a questão da preservação, de cuidar. As pessoas no interior têm uma identidade, isso passa por uma questão de memória e identidade. É uma questão filosófica, existencial e até histórica”, afirma. Alcília é responsável pela reforma do Hotel Real Palace, em Teresina, onde houve um reaproveitamento de uma casa para a parte central do hotel. O prédio antigo transformou-se no lobby do hotel.Aarquiteta derrubou as paredes no interior, mas manteve os arcos originais. Ela também mudou o revestimento, porém preservou a volumetria do prédio. Quem é responsável pelo patrimônio? No Piauí, a questão do patrimônio vem evoluindo. Antigamente, só existia o departamento estadual de patrimônio histórico ligado à Fundação de Cultura e um pequeno escritório do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional), que era uma delegacia ligada a uma superintendência. No fim da década de 80 e inicio dos anos 90, houve muitos estudos e tombamentos, para preservar o patrimônio piauiense em todo o estado. Não havia departamentos municipais. Hoje, o Piauí já conta com uma superintendência do IPHAN, a FUNDAC mais estruturada (em nível estadual) e departamentos municipais em algumas cidades como Teresina. A política cultural hoje trabalha com a questão da municipalização. O ideal é que cada município tenha sua estrutura pra cuidar do que é seu, do seu patrimônio. O patrimônio compreende os bens móveis, os bens imóveis – que fazem parte do conjunto do material – e os bens imateriais (músicas, costumes, tradições). Um dos problemas que ainda existem no Piauí é o fato de poucos municípios possuírem um departamento municipal de preservação. O departamento de Teresina, por exemplo, foi criado recentemente, enquanto a sua lei de preservação municipal data de 1988. Durante esse tempo, parte da cidade foi se descaracterizando, sendo demolida.

Arquiteta Alcília Afonso de Albuquerque

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patrimônio histórico Caso de Parnaíba Nem todo imóvel histórico, necessariamente, precisa virar um local de uso público. Muitos dos imóveis que estão em desuso ou que estão sendo demolidos são residências. Em Teresina, por exemplo, há uma quantidade muito grande de imóveis cuja função é residencial. De acordo com Claudiana Cruz do Anjos, chefe da Divisão Técnica do IPHAN em Teresina, Parnaíba é um dos centros históricos interessantes com uma quantidade significativa de imóveis abandonados. Ela atribui isso a proprietários que foram embora da cidade, ou que têm recursos, mas possuem um imóvel muito grande, difícil de conservar. “Em um sítio como Parnaíba, 99% dos imóveis são particulares, então há uma limitação numa ação direta do IPHAN nesses imóveis. Não se pode colocar um recurso público em um imóvel particular. E isso até acontece, mas são casos excepcionais”, pontua Claudiana. Amigos do Patrimônio O trabalho de preservação não se resume a inventários, documentos e tombamentos: é preciso haver conscientização da população. Um trabalho de educação patrimonial está sendo desenvolvido no Piauí, pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), e utiliza recursos como cartilhas, palestras, cursos e livros. É o grupo “Amigos do Patrimônio Cultural”, que procura resgatar o patrimônio do estado até mesmo através de cartões postais. O grupo utilizou-se da arquitetura de Teresina, do Norte piauiense, e de cidades mais ao Sul, como Oeiras, e lançou o acervo em 2009, sob forma de desenhos de alunos de Arquitetura, em um livro chamado Arquitetura Piauiense. “É preciso conscientizar os alunos, que serão os futuros arquitetos, e que vão interferir nesse patrimônio, na conservação dele, para a importância desses edifícios. Porque, se eu conscientizo 25 alunos, eles vão multiplicar isso”, diz a Alcília Albuquerque, que também é uma das coordenadoras do projeto. O grupo faz exposições itinerantes pelo estado. Há alguns meses a exposição esteve em Pedro II e há projetos para que

ela siga até Parnaíba. Projetos como esse, no entanto, dependem também da comunidade e de apoio empresarial. Despertar para a conservação é um processo que depende de educação, depende do conhecimento das pessoas sobre seu patrimônio, sua identidade cultural. Quando antigo precisa ser novo O serviço de patrimônio, em seus vários níveis de abrangência, trabalha com o tombamento, que é preservar legalmente um bem. Mas a palavra “tombamento” ainda soa como um fantasma para muitos proprietários de imóveis antigos – quase sempre, por falta de informação. O tombamento pode ser feito em quatro níveis: o nível internacional (pela UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o nível Federal (pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o nível estadual (pela FUNDAC, no Piauí – Fundação de Cultura do estado) e o nível municipal, que depende de cada prefeitura. O IPHAN é responsável pela preservação, pela proteção, pela divulgação do patrimônio cultural reconhecido como patrimônio brasileiro. Esse órgão cuida do patrimônio reconhecido através do tombamento, como registro arqueológico ou como paisagem cultural em nível nacional. No Piauí, mesmo com a ação da Fundac, o IPHAN atua diretamente sobre alguns bens. O IPHAN passa a ter ingerência, responsabilidade de fiscalizar esses imóveis ou sítios históricos. O que muita gente desconhece é que, mesmo tombado e considerado um bem de importância coletiva (que não quer dizer que seja de uso público), o imóvel tem o proprietário como principal responsável. “O fato de haver o tombamento não implica que o proprietário deixa de ter a responsabilidade que ele já tinha e o IPHAN assume isso. O que acontece é que o imóvel passa também a ter o IPHAN como um órgão que vai acompanhar, fiscalizar e que pode também promover ações de preservação direta, como uma obra, uma conservação. A propriedade permanece com o proprietário. Se o proprietário for fazer qualquer intervenção, ele precisa aprovar esse projeto junto ao órgão”, explica Claudiana Cruz dos Anjos, chefe


patrimônio histórico da Divisão Técnica da Superintendência do IPHAN no Piauí. Os imóveis inabitados precisam de uso. O tombamento não impede a degradação do bem, se ele permanecer subutilizado. Se o bem foi abandonado é preciso favorecê-lo e, para isso, são feitas parcerias dos órgãos que fazem os tombamentos com os municípios, os ministérios e outras entidades. Como mudanças drásticas não são recomendadas a esses prédios, cada imóvel tem uma solução isolada, a depender do seu uso. E se ninguém cuidar? Há duas situações clássicas de descuido do proprietário quanto ao seu imóvel histórico: quando o proprietário pode fazer isso, mas não faz e abandona o prédio, e quando ele não tem recursos financeiros para isso.Alguns casos de abandono podem levar até a desapropriação do imóvel. No caso em que o dono tem que cuidar do bem histórico, ele pode ser responsabilizado por causar um dano ao patrimônio, a última conseqüência é a desapropriação do imóvel e conversão para um bem público. Mas, se o dono não consegue arcar com a conservação do bem tombado, ele deve acionar a instituição que tombou a construção pra que ela faça esse trabalho. E não basta alegar. É preciso provar, com uma declaração de pobreza, que não tem recursos para cuidar daquele imóvel. O IPHAN, nesse caso, é obrigado a intervir e conservá-lo. O ressarcimento dessa ação, contudo, pode vir também por

Elementos construtivos e decorativos do edifício-sede da Prefeitura Municipal de Teresina em estilo neoclássico

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meio de desapropriação. Para a arquiteta Alcília Albuquerque, como conservar um imóvel considerado patrimônio é algo caro, é melhor que haja o tombamento e a desapropriação. “Se o bem tiver valor histórico, valor arquitetônico, valor sentimental, sinceramente, é melhor que ele seja tombado e desapropriado para dar um novo uso a ele. Isso ocorre quando o Estado desapropria, ou quando um banco ou escola adquire”, ressalta. Há também casos em que o proprietário cuida, reside no imóvel, mas o descaracteriza por falta de informação. Em casos de herança, já se chegou até mesmo a descaracterizar prédios no Piauí, por medo do tombamento. No caso desses imóveis particulares, a ação do IPHAN é direcionada a fiscalizar, orientar e gerir essas áreas junto aos proprietários. Limitações como alterações significativas e demolição são impostas pelos órgãos que tombam o patrimônio. Por outro lado, o imóvel é reconhecido como importante do ponto de vista cultural e social. Ter um imóvel reconhecido – como tudo na vida – traz vantagens e desvantagens. Ter um imóvel tombado é ter propriedade de algo que não é só seu, mas também pertence à sociedade, isso prejudica a especulação imobiliária sobre aquela área construída. Por outro lado, isso não significa, necessariamente, que o bem se desvalorize. Em sítios históricos como Salvador, Ouro Preto e como Parati e várias outras cidades do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, a área histórica tombada é a área mais valorizada da cidade, porque são bens onde só podem ser implantados projetos de qualidade. Os direitos e benefícios de um proprietário de imóvel tombado Tem uma série de benefícios que o proprietário às vezes desconhece sobre a preservação e conservação do seu bem tombado. Isenções de impostos como IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), além de não pagar taxas r e l a t i v a s a estacionamento, são algumas dessas vantagens. É aconselhável que cada proprietário de imóveis tombados procure um advogado e se


patrimônio histórico informe sobre seus direitos, enquanto dono de um imóvel considerado patrimônio histórico. “Um imóvel tombado em Teresina te dispensa estacionamento, te isenta IPTU durante dez anos, te permite construir uma torre atrás desde que você preserve a caixa, e muita gente não sabe disso”, enfatiza a arquitetaAlcília. É preciso ir atrás dessas vantagens, porque cada proprietário vai sentir no bolso a importância de um bem coletivo. No entanto, é preciso que poder público, população e agentes privados trabalhem de maneira integrada para que o patrimônio seja preservado como um todo, e não apenas imóveis isolados, pontuais.

departamento de patrimônio material, onde é feita uma análise para definir qual o livro de tombo em que aquele bem vai ser escrito. O processo também passa por uma análise jurídica, respeitando os direitos e a legislação, até que é feita uma notificação aos proprietários, por edital no Diário Oficial, que informa os donos sobre o tombamento e dá um prazo para possíveis manifestações. Ao final desse tempo, é feito um conselho consultivo com pessoas que entendem do assunto e que vão decidir pelo tombamento, ou não. Com o registro em um livro de tombo – que parece uma inscrição em cartório – o documento é homologado pelo ministério da Cultura.

Qual o processo de um tombamento? O processo de tombamento é criterioso, mas não possui nada de assustador. O primeiro passo para tombar um imóvel é justificar a importância daquele bem, deve haver uma solicitação, uma proposta para tombamento. Esse interesse pode ser manifestado tanto pela sociedade quanto pelos órgãos que cuidam do patrimônio. Depois da solicitação, são feitos vários levantamentos de informações técnicas, históricas, arquitetônicas, e uma série de elementos que vão contextualizar o sítio ou prédio. Devem ser definidos quais elementos o bem possui que precisam de preservação. É feito um documento técnico – denominado dossiê ou estudo de tombamento – que vai definir o perímetro, a dimensão e o que está dentro da área que pode ser tombada. Esse documento é encaminhado ao

O que é considerado patrimônio brasileiro no Piauí? Algumas construções que são patrimônio piauiense, também são reconhecidas em nível nacional, como a Igreja São Benedito, a Ponte Metálica e a Floresta Fóssil do Poti – em Teresina. O Parque Nacional Serra das Capivaras, em são Raimundo Nonato e outros bens isolados no estado também fazem parte desta lista. A Igreja São Benedito é um bem particular – e poucas pessoas atentam para isso: ela é de propriedade da Igreja Católica, da Diocese de Teresina, e é mais difícil que o órgão de patrimônio tenha uma ação direta sobre ela. Já a Floresta Fóssil precisa de uma articulação entre IPHAN e prefeitura de Teresina, para que sejam feitas intervenções. No caso da Ponte João Luís Ferreira, ou Ponte Metálica, o IPHAN cuida da iluminação e conservação do bem.

Detalhe do frontispicio do antigo Palácio da Justiça de Teresina em estilo neoclássico

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patrimônio histórico Há tombamentos isolados como da Estação Ferroviária de Teresina, e em cidades como Oeiras, Piracuruca e Campo Maior. Em Oeiras, por exemplo, são tombados pelo IPHAN o Museu de arte Sacra (Sobrado João Nepomuceno), a Igreja de Nossa Senhora da Vitória e a Ponte do Rio Mocho. Há uma proposta de tombamento de sítios, que vai compreender esses tombamentos isolados. Atualmente, em Parnaíba, está sendo feito um trabalho na estação ferroviária, que é de grande relevância cultural para a cidade. No caso da Serra da Capivara, que já era reconhecida enquanto sítio arqueológico, o tombamento veio como uma proteção a mais a esse importante recurso natural piauiense. Tudo vira centro cultural? Nos anos 80, era moda transformar todo o patrimônio tombado em centro cultural, e as técnicas arquitetônicas

Capitéis decorativos que arrematam o Marco 0 de Teresina. Ao fundo, as torres da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo

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eram utilizadas para a restauração dos bens nesse sentido. Atualmente, essa tendência caiu e o grande mote é habitação de interesse social, fazer moradias. “Em São Paulo, no Rio de Janeiro, nas principais capitais brasileiras, a Caixa Econômica e o Ministério das Cidades estão trabalhando com essa vertente de fazer casa para a população baixa renda. A habitação de interesse social é o grande lance”, garante, Alcília Albuquerque, porque resolve dois problemas – falta de habitação e excesso de prédios abandonados – é uma solução prática, uma sacada que contribui em uma via de mão dupla: tanto para o funcionamento da máquina pública, quanto para a resolução de importantes problemas sociais no país. Se mais coisas pudessem ser aliadas dessa forma, o país poderia cuidar melhor do seu passado, e preocupar-se menos com os problemas do presente. E as vantagens disso não caberiam em uma matéria de revista.




turismo Barra Grande

Barra Grande um tesouro escondido no coração do Delta texto Marta Tajra

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turismo Barra Grande

B

arra Grande seria mais um povoado brasileiro, de dois mil habitantes, entre os milhares que existem, se não fossem por pequenos e significativos detalhes. A começar pela sua privilegiada localização, na Costa do Delta do Rio Parnaíba. Constitui Área de Proteção do Delta (APA) que pertence ao município de Cajueiro da Praia, emancipado há apenas 13 anos e nascido da vontade popular, fruto de um plebiscito entre os nativos. BG é uma espécie de Jericoacoara dos anos 80, e foi surgindo assim de pouquinho. Ainda está surgindo, pra falar a verdade. E não pergunte às autoridades como se deu este surgimento. Eles não têm a mínima idéia. Aconteceu. Amantes da natureza em seu estado mais puro, gente do mesmo nível cultural e artístico foi chegando e se abrigando em casas bem descontraídas, confortáveis e montadas com material da própria região (pedra, palha da carnaúba, e tijolinhos rústicos). Dos municípios criados recentemente, Cajueiro da Praia é o mais evoluído, diz o médico parnaibano Ariosto Ibiapina, um apaixonado e ferrenho defensor daquela região. É o proprietário da mais famosa pousada existente em Barra Grande, a BGK, onde tudo começou. A presença do estrangeiro é marcante no pequeno povoado. Eles são atraídos pela lei da gravidade, ou melhor, da afinidade. Alguns possuem pousadas e já se adaptaram perfeitamente ao cenário da região. Outros fazem o turismo sazonal: de agosto até novembro há um fluxo maior de italianos, franceses e portugueses. No final do ano a presença maciça é do turista do leste europeu, vindo da Polônia, Áustria, Hungria e Alemanha. Além da natureza exuberante e primitiva, um esporte radical atrai o fluxo de estrangeiros, principalmente, entre agosto a novembro, quando os ventos sopram mais fortes. É o Kite Surfe, uma prancha de surfe que é controlada por uma ripa. Filipe é um desses esportistas, um sul africano loiro dos olhos azuis totalmente destoante do tipo nativo da região, mas completamente enquadrado na paisagem democrática de Barra Grande. O perfil do turista mais jovem vai em busca de aventura e de algo novo. Os mais maduros, em busca de água quentinha, mar manso e muita tranqüilidade. Nada de badalação. Aliás, não fazer nada é a maneira mais inteligente de passar o tempo por ali. Apreciar o pôr do sol à beira mar é programa garantido quando não está chovendo. Como o aeroporto de Parnaíba (a 60 km de

Barra Grande) ainda não está operando para vôos internacionais, eles descem em Fortaleza e vêm margeando a Costa do Atlântico até chegar ao pequeno e charmoso povoado. Alguns chegam a pagar 800 reais pelo táxi do aeroporto de Fortaleza até Barra Grande onde demoram, em média, cerca de 10 a 15 dias e formam uma clientela fidelizada. Ao voltarem, no ano seguinte, trazem novos amigos. Quando houve o Campeonato Internacional de Kite Surfe, o filho de um primeiro ministro russo aportou por ali com toda a parafernália de segurança de ministro de estado. Os nativos nem ligam mais. Já se acostumaram. O caldo e a moqueca de sururu e de mexilhões (um marisco típico da região) além da peixada com pirão, a moqueca de arraia e o caranguejo, se misturam à pizza e a outras manias internacionais nos poucos e bons restaurantes ou barzinhos das pousadas. Detalhe: as ruas da orla marítima não têm calçamento. Asfalto? Nem fale nesse nome em Barra Grande que a gritaria é geral. O pessoal dali é ecologicamente correto e mesmo dentro das pousadas a areia branquinha é a grande vedete. Nem pense também em levar salto alto. Só sandálias baixas ou havaianas. Dentre as manias internacionais, o Arguilè (famoso cigarro árabe) tem o seu espaço garantido ali também. Para fumar, você desembolsa vinte reais. Achou caro? Acalme-se. Nada paga o preço de estar em Barra Grande. Na orla marítima, Barra Grande estica sua exuberância com charmosos chalés e cafés (muitos deles de propriedades de estrangeiros), geralmente lotados em temporadas como a da passagem do ano. A presença do estrangeiro ali está virando moda e gerando uma especulação imobiliária espetacular. Imagine que o metro quadrado de um terreno próximo a orla, chega a custar cinco mil reais. Terrenos e casas de pescadores estão sendo oferecidos – pasme - pelo preço de 200 a 300 mil reais. O arquiteto Gerson Castelo Branco, está vendendo o seu, de cinco mil hectares, na praia do Arrombado (pertinho de BG) pela bagatela de um milhão de reais. Existem projetos de saneamento, abastecimento de água de boa qualidade e de aterro sanitário com dinheiro garantido do Governo Federal, mas todos travados pela burocracia (ou seria burrocracia?) pública oficial. O secretário de turismo Silvio Leite tem boa fama por lá, dizem que é um grande entusiasta da

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turismo Barra Grande região. Mas precisa correr mais, antes que o turista desapareça para sempre. Carros e motos são proibidos de passar pelas praias e em alguns outros lugares do vilarejo. O aluguel de carroças por um passeio excêntrico como este - conduzido por um nativo - pode render para ele a quantia de até oitenta reais. E o turista – geralmente um gringo – paga sorrindo e sem reclamar. Zeladoras, arrumadeiras, jardineiros, marceneiros e outros serviços do tipo, são contratados entre os nativos para o trabalho nas pousadas e restaurantes locais. O que significa que o dinheiro circula, circula e não sai de lá. A língua também não é o problema principal, já que a mímica e o "portunhol" quebram o galho, quase sempre, quando se trata de estrangeiros. Mas o tesouro principal de Barra Grande está escondidinho na sua fauna e flora. Considerada uma região ecologicamente importante e, por isso mesmo frágil, espécies muito raras do peixe boi (em processo de extinção) fazem ali o seu habitat natural no estuário do rio Timonha. É também o local (Lagoa do Santana) de migração de aves que vêm do Canadá com destino à Patagônia. Como é que é? Patagônia? Isso mesmo. E para não dizer que estou delirando ou dando uma de eco maluca, elas vêm aniladas e numeradas, para que se saiba o seu trajeto. Muitas vezes, com bilhetes de agradecimentos e informações adicionais do lugar de origem. É também lugar de desova das tartarugas de couro e ninhal de garças e colhereiros, que são aves que vêm do Pantanal, já próxima à região andina. E como se isso tudo não bastasse, Cajueiro da Praia, na foz do rio Camurupim, é o lugar predileto de vários tipos de cavalos marinhos. Este simpático candidato à extinção tornou-se o símbolo de Barra Grande. A população do povoado é bem envolvida com o ecoturismo e dá até o exemplo, vendendo sacolas de pano com a intenção de salvar o planeta de um bicho esquisito chamado plástico. Um cartaz da Ecolive, na única padaria do lugar, em frente à pracinha da Igreja, é exibido em letras garrafais com o preço das sacolas de panos. Vinte e dois reais a unidade. Carinho, né? Mas nada é barato em Barra Grande, uma estratégia para frear a “invasão” de turistas pouco educados e insensíveis à causa ecológica. Na panificadora Osvanilde, além do pão nosso de cada dia, o

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visitante, se não for muito exigente, pode encontrar o básico do básico. Num desses passeios vespertinos encontrei “o paulista”, um senhor de pele muito curtida pelo sol, chamado Hélio (mais conhecido por paulista) e que mora no povoado há bastante tempo. E ele não é o único. Há alguns paulistas morando em BG. Este “paulista” me fez uma confidência surpreendente: "Barra Grande é o melhor lugar do mundo para viver. Quando falta trabalho, eu pesco ou “caço” caranguejos nos mangues". E assim, este “paulista” vai levando a sua vidinha num ritmo tropical e quase sonolento em cima de sua “bike”, e só se entusiasma quando é para falar das coisas que o prefeito deveria estar fazendo – e não está- para atrair mais turistas ao local. A Igrejinha, que passa por uma pequena reforma, vive fechada desde que o padre alemão - que morava em Cajueiro da Praia - foi embora. Bati com a cara na porta umas três vezes. Agora a população vive a mercês da bondade de dona Sônia, uma moradora que celebra os rituais cristãos, geralmente nos finais de semana. Fátima, uma morena nativa de 25 anos, ao contrário dos paulistas, não vê perspectivas para os jovens daquele pequeno lugarejo. “Faltam cursos profissionalizantes, inclusive de atendimento ao turista”, queixa-se ela. Para Fátima, o turismo por ali pode ser uma faca de dois gumes: “muitas jovens ainda se empolgam com a conversa do turista estrangeiro e vão na onda deles”, diz desconfiada. Enfim, posso ficar escrevendo aqui horas a fio sobre o charmoso vilarejo da costa piauiense, mas nada vai chegar nem perto do que representa realmente aquele lugar. Acordar logo cedo com o sol dos trópicos invadindo a sua cama (ou rede) e escutando o som das ondas do mar quebrando bem pertinho de você, além do ruído aconchegante das folhagens e dos coqueiros a balançar ao doce sabor dos ventos mais famosos do Brasil é, sem dúvida, um jeito muito original de despertar e de lembrar, que você não está num lugar qualquer, mas no coração do delta mais famoso das Américas, o Delta do Rio Parnaíba. Só para lembrar, Barra Grande está no Guia de Ricardo Freire: 100 praias que valem a viagem. Confira ou acesse os seguintes sites: www.barragrandekitecamp.com.br ou ainda www.ventosnativos.com.br ou ainda www.barragrandedopiaui.com.br.


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