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EDIFÍCIO ARTICULADOR DE COTAS - ESCOLA JAZZ SINFÔNICA EM PERUS, SÃO PAULO. CONTEXTO “É a partir da Ordem que se pode alcançar uma força criativa e um poder crítico capazes de originar o desconhecido. (...) Esse é o princípio da Forma: algo que diferencie uma existência da outra através da harmonia de seus sistemas. Assim, revelar-se-á a Beleza.” (Louis I. Kahn) Enfrentar o dia-a-dia da comunidade me fez ver a carência da população em relação a elementos de mobilidade urbana por conta da geografia do lugar e a setorização desconexa dos equipamentos que estruturam o cotidiano das pessoas. Vi então como algo necessário, a criação de um elemento que organize melhor esses fluxos horizontais e verticais.
A área de intervenção fica no bairro de Perus, zona norte de São Paulo, um bairro à periferia do centro expandido da metrópole. O Território se divide em 2 partes definidas pela topografia do lugar. A parte alta, onde se concentram os conjuntos habitacionais (com maior densidade) e a parte baixa onde está a estação da CPTM (Linha 7 Rubi - Luz - Francisco Morato - Jundiaí). No eixo em análise há um desnível total de 55m, o que causa uma dificuldade diária para o morador voltar para casa, gerando uma alta dependência do transporte público, táxi, e do carro familiar. A proposta é criar um edifício na cota intermediária desse percurso, num terreno, hoje, ocupado por casas. Nesse perímetro há um
“escadão” que atravessa e divide a quadra, logo acima o eixo continua com uma viela que dá acesso a rua dos conjuntos habitacionais, finalizando o trajeto “estação - casa”. O desnível total do terreno de implantação do edifício é de 14m , o desnível total da área a ser projetada é de 28m. Tendo o entendimento da questão e sua dinâmica, vejo necessária uma intervenção que concilie as preexistências, sua situação topográfica e a colocação de elementos que transformem totalmente a condição de dependência do transporte público e privação da rua pelos moradores do lugar e traga qualidade de vida às pessoas que moram na área.
O programa proposto se insere dentro da rede de equipamentos de educação, cultura e lazer existentes. O projeto está dividido em duas frentes complementares. A primeira e menor, é um centro comunitário / comercial, que dá apoio ao funcionamento 24hs da estrutura de mobilidade projetado, o programa principal é uma escola de música; orquestra jazz sinfônica. Nesse conjunto, também há intenção de criar duas grandes praças abertas, uma em cada térreo, para que seja apropriada pela comunidade das mais diversas formas possíveis, que abriguem também, apresentações dos próprios alunos e de artistas convidados e que os elementos físicos de transposição se tornem percurso pelas áreas de convivência cidadãs.
MAPA. Perus, Região Noroeste de São Paulo, SP.
CDHU
EMEF
2/8
785.27
densidade 771.28
ÁREA DE INTERVENÇÃO
transposição facilitador 757.30
ETEC
750.35
EMEF
741.56
mobilidade ligação com a metrópole ída e volta do trabalho 736.24
COHAB
CDHU
área de intervenção
percurso
acesso 03 elevador urbano
CPTM
acesso 02 elevador urbano
CEU
acesso 01 elevador urbano
PARTIDO | PROGRAMA. Não há outra forma de resolver a situação da mobilidade do lugar com a colocação de um equipamento urbano sem a remoção das casas existentes, pois o programa exige uma grande área e o local ideal é ali, por estar numa posição intermediária entre as duas partes do sítio. É o peso do bem coletivo em contraponto com o interesse individual. Após a remoção das casas, deverão ser tratadas as empenas fronteiras com as demais casas da quadra, com essa ideia, desenho na empena da rua superior um monólito longitudinal em todo comprimento do terreno, paralelo a ele. Alinhado a rua inferior, desenho outro monólito de proporções parecidas, elevado 3,5m da cota mais baixa, o que cria uma relação dialética e de reconhecimento de escala do conjunto ao entrar por baixo desse monólito suspenso. Essa situação proporciona consequentemente a tipologia de pátio interno, de praça, espaço público. O pátio se torna articulador dos programas. Por haver dois níveis distintos e o conjunto atravessar duas ruas houve o desejo inicial de criar uma praça elevada na cota superior, uma continuação da rua que serve de espaço de ócio e mirante para o Pico do Jaraguá e a cidade. Para criar esse circuito entre os dois blocos paralelos, crio passarelas que articulam o espaço e dão unidade ao desenho. No térreo inferior, aproveitando o aclive da rua, no lado esquerdo crio uma escada / arquibancada que
estação CPTM
CORTE ESQUEMÁTICO _ O Eixo de Fluxo se mantém, agora reconfigurado com o apoio do elevador urbano e da passarela. _ As passarelas junto aos blocos dão a possibilidade de acesso tanto aos programas abertos ao público quanto aos alunos. A articulação é feita através de uma caixa de elevadores no centro das passarelas.
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mônicas ao conjunto, abrindo assim os espetáculos à cidade. Acima desse volume terei outro pavilhão, agora elevado do térreo superior, em uma cota mais alta que a praça elevada, uma Midiateca de escala local e de acesso público. O outro ponto do programa, são os elementos de circulação vertical urbana, de ligação entre as partes do território hoje dividido, e o principal fator propulsor do projeto. A ideia é criar uma torre com 2 elevadores grandes, que carreguem até 20 pessoas por viagem, cada, que parta da cota do térreo inferior e chegue a cota mais alta que é a Rua dos CDHU’s, ou seja, que ligue diretamente a parte baixa à parte alta , a Rua dos Conjuntos está fora do perímetro de implantação, assim, para fazer a ligação horizontal aérea, proponho uma passarela, larga, proporcional ao fluxo cotidiano. Ainda nesse âmbito vejo necessária escadas fixas que cumpram também esse papel, na fachada do bloco da sala de espetáculos, proponho duas escadas engastadas nela que chegam a cota 14,00, para dar continuidade ao percurso, mais à frente, aproveito a viela e de uma forma simples, acompanhando a inclinação existente, desenho uma escada que vai se abrindo, tendo assim que relocar o muro vizinho da EMEF. Essa escada é mais que um percurso, ela se torna um vazio, uma praça que pode abrigar o ócio da comunidade.
A
PLANTA TÉRREO INFERIOR SEM ESCALA
B
B 7
3
3
3
3
3
3
6
1 - Acesso coberto ao conjunto 2 - Acesso a Escola 3 - Loja 4 - Secretaria Geral 5 - Praça inferior 6 - Inclusão Digital 7 - Assistência Social 8 - Elevadores Urbanos acesso 01. 9 - Elevadores dos edifícios 10 - Sala dos Professores
3 5
3
9
C
C 8
2
D
4
2
1
3
3
D
10
N A
R. Hamilton de Araújo
A
15
18
19 20
PLANTA 1º PAVIMENTO.
B ESCALA 1:500
14
NÍVEL +3,50
16
17 21
13 C 8 D 11 11
A
3
NÍVEL 0,00
A
B
3
R. Antônio Justiano
ocupa 1/4 do terreno, esse desenho transversal faz com que o usuário se ponha com a visão no sentido longitudinal, sugerindo assim a criação de um palco elevado mais à frente e de um vazio entre as duas partes. Abaixo dessa “laje palco”, no térreo inferior, disponho o programa comunitário e comercial do conjunto que se estende até o monólito posterior. Os programas principais ficaram inseridos nos pavilhões, por uma questão de hierarquia e simbolismo; no pavilhão da frente ficaram dispostas,as salas de aulas e ensaios, optei por isso por estar mais próximo à rua e desejar que a população tenha uma relação próxima com a Escola e de suas atividades. Enquanto um morador passa na calçada pode ver alguém tocando, ensaiando, as pessoas assistindo aula e interagindo, essa face é sul então consigo dar mais transparência a ela,abrindo a escola para a cidade, por questões de estanqueidade e isolamento acústico, afasto as salas da fachada, criando circulações em todo perímetro do edifício. No outro bloco se encontra a sala de espetáculos, seu foyer, bilheteria livraria, camarins e administração geral. Neste bloco a transparência será mais graduada por conta do auditório e seu necessário tratamento acústico, mesmo assim, conterá aberturas graduais,desenhadas a partir de parâmetros geométricos de composição que se tornem har-
11 11
11 12
11 11
9
11 - Aulas Teóricas 12 - Hall 13 - Passarela 14 - Bilheteria 15 - Café 16 - Convivênvia 17 - Loja de discos e livros 18 - Deposito C 19 - Camarins/ Acesso ao Palco 20 - Vazio sob platéia 21- Escada Urbana Engastada na fachada D N
PLANTA 2º PAVIMENTO. B ESCALA 1:500
+7,00
NÍVEL +7,00
B
+5,46
25
26
28
27
22 - Aulas Teóricas 23 - Vazio sobre estar 24 - Foyer 25 - Área Técnica 26 - Platéia 27 - Palco 28 - Staff Administração
+7,00
24
+7,00
21
+7,00
9 C
13
C
+7,00
D
8 D
+7,00
N
22
11
A
+7,00 22
22
23
22
+7,00 22
22
4/8
A
B
32
35
32 32 31
B
34
33
PLANTA 3º PAVIMENTO. ESCALA 1:500 NÍVEL +10,50
9 13 C 8
29 - Ensaios Indivisuais 30 - Circulação horizontal / Barreira acústica para o exterior. 31 - Recepção ADM 32 - Diretores 33 - Reunião 34 - Vazio sobre a Platéia 35 - Fosso elevador C da Midiateca N
30 D
D 29 29 29 29 29 29
PLANTA TÉRREO SUPERIOR ESCADA URBANA. SEM ESCALA
+30,00
R. Felipe Cardoso de Campos
NÍVEL +14,00 AO +28,00 46 - Coluna em concreto armado 47 - Escada Urbana Continuidade do percurso Estar na cidade em concreto armado 48 - Limite entre EMEF e Escada Urbana 49 - Limite entre PSF e Escada Urbana 50 - Projeção Passarela Metálica sob escada
29 29 29 29 29 29
23
R. Guilherme Correia de Melo
30
CDHU
CDHU
CDHU
CDHU
+28,00
50 A 48
EMEF
49
47
PSF A
36 37
C
D
A
39 38
PLANTA TÉRREO SUPERIOR / ESCADA URBANA. SEM ESCALA
46 +14,00 R. Presidente Vargas
NÍVEL +17,50 NÍVEL +14,00 36 - Midiateca 37 - Escada de acesso a 40 - Térreo Superior / Midiateca Praça Elevada 38 - Escada de Serviços 41 - Abrigo de equipamentos Midiateca de Infraestrura do edifício; 39 - Elevadores / Midiateca Gás, energia, luz, etc. 42 - Escada de acesso à Midiateca 43 - Acesso à escada de C serviços da Midiateca 44 - Vazio sobre a Praça do Nível 0,00 45 - Acesso escada urbana D engastada na Fachada 45.1 - Acesso 02 Elevador Urbano N N
41 42
39
40 +14,00 45
44
45.1 40
+14,00
R. Hamilton Araújo
45
43
R. Antônio Justiano
B
PLANTA 4º PAVIMENTO. B ESCALA 1:500
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CORTE AA ESCALA 1:500
CORTE BB ESCALA 1:500
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CONSTRUÇÃO - ESQUEMAS DA CONSTRUÇÃO DO CONJUNTO |SEM ESCALA
1. PREPARAÇÃO DO TERRENO
7. ESCADAS URBANAS METÁLICAS ENGASTADAS NA ESTRUTURA DE AÇO. TRELIÇAS METÁLICAS DA MIDIATECA, APOIADAS NOS “CASTELOS EM CONCRETO. ARMADO”
CORTE CC ESCALA 1:500
2. ESCADA URABANA, MUROS E “CASTELOS DE INFRAESTRUTURA DO 2º BLOCO.
3. ESCADAS EM CONCRETO ARMADO DOS “CASTELOS”, ESCADA / ARQUIBANCADA E BASE EM CONCRETO DAS TRELIÇAS METÁLICAS.
4. ESTRUTURA METÁLICA PRINCIPAL DO CONJUNTO INFERIOR.
5. VIGAS METÁLICAS DE TRAVAMENTO DA ESTRUTURA.
6. LAJES STEEL DECK DO CONJUNTO INFERIOR.
8. VIGAS METALICAS TRANSVERSAIS DAS TRELIÇA DA MIDIATECA.
9. FECHAMENTOS DO 2 BLOCO. EXTERIOR EM PLACAS CIMENTÍCIAS E CAIXILHARIA EM ALUMÍNIO.
10. FACHADAS EM CHAPA METÁLICA PERFURADA EM TODO CONJUNTO.
11. PASSARELAS DE CONEXÃO ENTRE OS DOIS BLOCOS QUE FORMAM O “TÉRREO SUPERIOR” ELEVADOR URBANO EM AÇO E CAIXA DO ELEVADOR DO CONJUNTO EM CONCRETO ARMADO.
12. PASSARELA EM TRELIÇAS METÁLICAS.
CORTE DD ESCALA 1:500
7/8 ELEMENTOS DE TRANSPOSIÇÃO URBANA. As conexões urbanas estão inseridas no conjunto, se articulam volumetricamente, materialmente, mas são independentes dos edifícios desenhados, no sentido de que um não afete o uso do outro, mas que haja um complemento entre as partes.
PASSARELA ISOMÉTRICA SEM ESCALA
SALA DE CONCERTOS ISOMÉTRICA SEM ESCALA
O elevador está locado no eixo das ruas que cortam o lote na transversal, ao lado do volume das salas de aula, onde a laje (o volume está suspenso do térreo), desse, serve como cobertura de apoio ao usuário do sistema de conexão urbana. Ele está desenhado aí para não interferir nos dias em que, no Pátio, esteja acontecendo apresentações musicais.
8/8 O elevador se conecta à uma passarela que está a 28m de altura em relação ao térreo inferior ligando a rua de baixo à outra onde há maior densidade por conta dos conjuntos habitacionais existentes. Nesse trecho há uma parada no térreo superior que é a cobertura dos pavilhões no mesmo nível da rua mais alta do lote. Ou seja, a ligação urbana é necessária e atendida numa área exterior ao perímetro do conjunto de edifícios. Como os pavilhões, o elevador é em estrutura de aço com pintura de tom cerâmico, o elevador e todo seu sistema é aparente , a estrutura de aço treliçada é coberta por uma pele de vidro, tornado-o assim uma torre de luz, um mirante para a Região Norte da Capital. A passarela segue o mesmo desenho é aberta e percorre uma distância total de 90m. Sua estrutura é resolvida por dois vãos de 45 metros cada, divididos por um sistema resistente à compressão e tração, composto por uma coluna de concreto armado com diâmetro de 1m e 4 vigas metálicas piramidais no centro do vão, na escada em concreto da Viela. Ainda
sobre a passarela; há duas treliças, uma em cada lado com altura de 2,25m cada, o piso fica a 1,20m da face superior das treliças, tornando assim a passarela descoberta. Sua largura total é de 5m, a mesma da caixa de elevadores. As escadas, como já mencionadas, estão dispostas na fachada do segundo pavilhão, sua estrutura se dá através de uma viga metálica em toda extensão do pavilhão, seus degraus estão em balanços juntos à pele externa do edifício. Sua conexão é direta ligando as ruas, sua largura é de 1,8m, deixando assim 20cm para parte do sistema de estrutura da pele perfurada. Esse é o complexo multifuncional, idealizado para ser útil e benéfico às pessoas, à cidade, que ajude a comunidade no seu dia-a-dia e na formação de cidadãos e, como Arquitetura, há uma busca de coerência e precisão incessante em seu desenho, uma vontade imensurável de ser eficiente e bela, uma arquitetura que diga o seu tempo, que tenha significado.