5 minute read

Numa

tentativa de conseguirem ultrapassar esse momento tão atribulado, a nuvem infiltrou-se através da pequena fenda, enquanto aquelas estranhas folhas tentavam envolver Silene, a gatinha Marron, Lady, a cadelinha, e Penacor, o ratinho. Mas ele queria lá saber das suas súplicas. Penacor era rebelde, mas agora já nem o Sítio das Folhas estava com paciência para o aturar mais. O Urso Folhagem Dourada, olhou de soslaio com ar de zangado para o pequeno roedor e disse:

- Vai daqui, ó criatura, Não venhas pedir clemência! Vai-te e leva essa loucura Pois perdi a paciência.

Advertisement

Urso Folhagem Dourada Nunca o vi tão furioso E para Silene olhava Com olhar impiedoso.

A menina, encolhidinha, Com os seus olhos fechados, Agarrava-se à gatinha, Dizia mal dos pecados.

A nuvenzinha teimou E no meio da aflição Bem depressa esvoaçou E agarrou-os pela mão.

- Depressa, vamos embora, Prendam-se bem, amiguinhos, Vamos já daqui p’ra fora E seguir outros caminhos.

- Oh, o Penacor não veio?Logo pergunta a meninaNão veio, tenho receio Por sua sorte, amiguinha.

- Vamos ter que o ajudar, Voltemos lá, por favor, Que mais vamos nós passar? Mas que martírio, que horror!

A nuvenzinha bem que empurrava as folhas que teimavam em proteger a passagem, dificultando o resgate do amigo. A gatinha Marron e a cadelinha Lady, tiritavam de frio e mal abriam os olhos. Nem queriam acreditar que teriam que voltar àquele amontoado de folhas mal-humoradas, onde a simples figura do Urso Folhagem Dourada lhes provocava arrepios. Seguravam a saia de Silene com todas as forças que conseguiam reunir, o que provocou um sentimento de piedade em Silene que logo os tentou acalmar:

- Nada vai acontecer, Vamos salvar Penacor, Vamos a luta vencer, Muita calma, por favor.

Eu não vos quero perder Pois sois os meus amiguinhos, Sem vós já não sei viver Pois sois os meus amorzinhos!

- Vamos lá, mas com cuidado Nosso amigo resgatar

E esse Urso Dourado Que nem tente importunar.

Uma pequenina folha de cor amarela ressoltou-se com as restantes folhas pelo que essas estavam a fazer e logo se impôs à rebeldia daquele amontoado de folhas rebeldes.

- O que está a acontecer contigo, Urso Folhagem Dourada? Não costumas ser assim! É deste modo que tratas as nossas visitas? Que forma estranha de receber! E porque razão tratas assim o nosso amigo Penacor? Há muito que sabemos que ele é um aventureiro, mas isso não justifica tão estranho comportamento.

- Hum! – respondeu Urso Folhagem Dourado – não estou a gostar dessas irreverências, miúda. Não gosto que incomodem e perturbam o meu solitário lar. Mas reconheço que tenho muito a aprender sobre o que é humildade, e o que ela representa para nós.

-Desculpem a minha intromissão, meus amigos. – retorquiu Silene.

- Diz lá o que tens a dizer, pequena.

- Como te chamas, pequena, Que vieste aqui fazer?

Estás perdida? Que pena! O que vai acontecer?

- Ursa Folhagem Dourada Porque estás entristecida, Não te irrites, porque nada Dura sempre nesta vida.

- Ela não é sempre assim É alegre, ponderada, Mas quando seca o jardim, Ela fica desvairada.

- Bem, nada receies, pequena, vamos ajudar em tudo o que estiver ao nosso alcance.

- O meu nome é Silene e vim aqui com a gatinha Marron, e com Lady, a minha cadelinha, a convite do Penacor. Estávamos a brincar no meu jardim quando de repente ele apareceu. De repente, o vento chegou e atirounos para este lugar onde, pelos vistos, não somos bem-vindos.

- Sabes, Silene? Sou, a Folhinha Amarela a guardiã das portas do Sitio da Folhândia. Este Lugar sempre foi amistoso, mas desde que chegou a seca, andamos mais ansiosos e às vezes até revoltosos. Precisamos de água para a nossa sobrevivência e o que mais precisa desse bem é aqui o nosso amigo, o Urso Folhagem Dourada, pois sem água, ele acaba por enfraquecer e quem sabe, morrer.

- Ora! Isso não é problema. Deixem-me que vos apresente a minha amiga Nuvenzinha. Ela poderá prover para vós toda a água de que necessitem.

E virando-se para a Nuvem:

-Não é assim, minha amiga?

- Claro que o farei. Fico sempre feliz quando posso ajudar alguém. Não há razão para o vosso Urso Folhagem Dourada chefe ficar mal disposto. E larga-me, que me sinto sufocada!

- Nem me apercebi que estava a prender-te. Desculpa.

Alegra-me a tua disponibilidade para nos ajudares. Vamos por fim conseguir repor a humidade aqui no nosso sítio.

E logo soltou a Nuvenzinha, que logo que se viu liberta, começou a sacudir-se e a lançar ao redor pequenas gotículas fresquinhas de água em cima daquele amontoado de folhas.

- Branca nuvenzinha eu sou E quero-vos ajudar, A minha água vos dou Para a todos refrescar.

Água, um bem essencial Que a terra muito precisa, Só é preciso, afinal, Ver por onde ela desliza.

- Muito gratos, nuvenzinha, Mostraste ser nossa amiga, Ser assim, amiga minha, Talvez um dia o consiga.

O Urso Dourado, nem queria acreditar que era mesmo verdade o que estava a acontecer. Como uma criança, lançou-se no pequeno charco formado pela água para poder saciar-se e repor a humidade que precisava para viver. Desfeito em desculpas junto dos amigos, voltou-se para Penacor, ainda a tremelicar de medo, e disse-lhe:

- Sê bem-vindo a casa, Penacor, desculpa mas tu sabes que sou assim, fervo em pouca água às vezes, mas bem sabes que lá no fundo sou um bom amigo. Penacor olhou para ele pensativo e respondeu:

- Que mal tem isso? Todos temos os nossos dias. Enquanto todos soltavam um sorriso de satisfação, as folhas dançavam cheias de alegria à volta do pequeno lago agora formado. Até Marron corria desenfreado atrás de Penacor. Enquanto Lady ladrava toda feliz.

Nuvenzinha então lhes disse:

- Desculpem, meus amiguinhos, é hora de regressar. Silene olhou-a e perguntou:

- Podes levar-nos de volta ao nosso jardim? A esta hora, a minha mãe deve andar aflita à minha procura. Logo hoje que é o dia em que chegam os meus primos e a restante família para a passar connosco estes dias de Natal.

- Não precisas que a Nuvenzinha te leve, eu mesmo te levo a casa. Vamos todos dar uma volta ver a terra do alto. – Disse Folha Amarela.

O céu mostrou o seu azul radiante, o sol espreguiçouse, a lua, lá do alto, sorriu. Silene, aconchegada sobre a folha, acompanhada da gatinha e da cadelinha, lá se viam a voar e a apreciar as delicias que se lhe apresentavam lá do alto.

E ei-las que bem depressam alcançam o seu jardim. Folha Amarela desce lentamente e os deixa pousar tranquilos em lugar seguro. De seguida, despediu-se dos três amigos e partiu.

- Até sempre, meus amigos, voltarei quando me for possível.

- Até sempre, amiguinha, gritavam os três.

- Silene, Silene - chamava a mãe – Onde andas tu metida?

- Estou aqui, mãezinha, no canteiro do jasmim, vem ver que lindo ele está.

- Sim, filhinha, vem, vamos para dentro, os teus primos acabam de chegar. E ainda tenho tanta coisa para preparar, querida!

- Vamos lá, mãezinha, eu vou-te ajudar.

- Amiguinhos do coração, Quão bom foi vos conhecer, Foi tão grande esta emoção Que não consigo entender.

Mas que grande aventura Que neste dia vivi

E mesmo sendo insegura, Muitas coisas aprendi.

Aprendi a dar valor

Às folhinhas pelo chão, São alfobres de calor Que requerem atenção.

Sei que de agora em diante Hei de ser compreensiva Pois para mim, o importante É dar mais valor à vida.

This article is from: