Silene e o valor da vida, conto de Rosa Maria Santos, fevereiro 2023

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2 Conto
Maria Santos e o valor da vida
Rosa

Ficha Técnica

Título

Silene e o valor da vida

Tema

Conto

Autora

Rosa Maria Santos

Capa

Arranjo de José Sepúlveda

Ilustrações

Rosa Maria Santos

Revisão de textos e Formatação

José Sepúlveda

Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em fevereiro de 2023

https://issuu.com/rosammrs/docs

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Rosa Maria Santos

Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga.

Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras.

É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome.

Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa:

Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020.

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É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas.

A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir.

Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018; Vidas Suspensas (romance) – Janeiro 2022.

E-Books - Poesia

Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia)

- Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

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E-Books - Contos

Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco-Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da LagoaEdição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões

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– Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021; Esmeralda, umas férias diferentes – Junho 2021; Raitira no Planeta Ricoicoi – Junho 2021; A lição do Dente-de-Leão – Julho 2021; Lino, o menino que sonhava ser astronauta – Julho 2021; Bia, Mitra e o Tufão Esperança – Agosto 2021; Sericaya, a Ponte Misteriosa –Agosto 2021; Timo, um ratinho irreverente – Agosto 2021; Pipinha, um resgate atribulado – Agosto 2021; Aline e o Pequeno Ratinho – Setembro 2021; Tia Felisberta regressa à Aldeia – Setembro 2021; Milaidy, a vaquinha bailarina – Outubro 2021: Carolina, a pequenina sereia – Outubro 2021: O Pássaro de Fogo – Outubro 2021; Rosy e a bonequinha de papelão – Novembro 2021; Um Milagre de Natal – Dezembro 2021; Selina e o sonho da liberdade – Março 2022; O ABC da Vida –Março 2022; Salicas no Paraíso do Garrafão – Agosto 2022; Florbela, a Zebrinha Endiabrada – Setembro 2022; Gracita e as letrinhas que gostavam de voar – Outubro 2022; Silene e o valor da vida – Fevereiro 2023.

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Histórias da Bolachinha

Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória

Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de PoesiaEdição bilingue (português/ francês), Outubro 2018;Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino ÂngeloNovembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018

Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa SubtilEdição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020;Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda

- Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

Aventuras de Maria Laura

Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020;

- Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Diferentes mas iguais

Tomás e o infortúnio de não ter mãos – Junho 2021; Lolita, a menina que não tinha pés – Junho 2021; Duda, o Menino que queria mudar o Mundo – Julho 2021.

Aventuras de Samir e os amigos

Samir, o Ratinho – Um rasgo de coragem – Setembro 2021.

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Distinções

- 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017.

- 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019.

- 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal).

- Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019.

- Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema.

- Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020.

- Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020.

SegundaClassificadanoPrémioPoetiInternazionali-11ª.EdizionedelConcorsoInternazionalediPoesia-videopoesiaeraccontidaltitolo:PoesiaEsteri“Ouve”(Ascolta)dezembro2020.

-MenzionediMeritodepoetiInternazionali11ª.EdizionedelConcorsoInternazionalediPoesia-videopoesiae raccontidaltitolo:Racconti“Esmeralda”dezembro2020.

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Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs

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Silene e o valor da vida

Era uma menina linda, de cabelos ruivos, uns olhos da cor do céu e um rosto catita sarapintado, recheado de sardas vincadas pelo sol. A viver os seus cinco frágeis aninhos, o toque diferente do seu rosto pequeno e arredondado chamava a atenção de todos os que a rodeavam.

Sempre tão destemida e irrequieta, passava agora por uma fase estranha da sua vida, sempre com um porquê na ponta da língua pronto a disparar para quem quer que fosse.

Havia algo que incomodava o seu inconsciente desde aquele dia estranho em que a avó Clementina e o Avó António partiram e não mais voltaram. Desde aí, passava o tempo com interrogações.

- Paizinho, porque razão os avós nunca aparecem para almoçar? Sinto tantas saudades suas!

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- Que saudades, avozinha, De ti também, Francisquinho, Vivo agora tão sozinha! Porque não vêm, paizinho?

- Marron, vem, meu bichinho, Não te faças de papão! Lembras-te do avozinho? Não, certamente, já não!

- Filhinha, presta atenção Ao que te digo, querida, Quando não há solução, Há que enfrentar esta vida.

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- De casa não vou sair Porque as férias já chegaram.

- Vá, quero-te a sorrir, Os “Covids” acabaram.

- E o que faço da saudade Que tanto aperta meu peito? Já não sinto liberdade Em meu viver imperfeito.

- Mãezinha, porque razão o tio Rodrigo, a tia Maria das Dores e o Francisquinho não nos podem vir visitar? – perguntava curiosa - Sinto tantas saudades da Mafalda e da Ritinha! Ligalhes e convida-os a virem cá, gostava tanto de brincar com as priminhas! Tenho saudades do padrinho Leopoldo e da madrinha Celeste –repetia com uma lagrimita a deslizar pela sua face sardenta.

- Vem aqui, Silene. - chamou o pai, colocando o Jornal que estava a ler em cima do tampo da mesa da salinha de estar.

Silene levantou-se da pequenina cadeira cor de rosa fúcsia e foi ao encontro do pai. Marron, a peluda gatinha

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persa e Lady, a cadelinha Yorkshire terrier, acompanharam-na.

- Senta aqui ao meu lado Silene - disse-lhe, acomodando-a na ponta do sofá, do lado esquerdo - Vamos ver se consigo fazer com que que entendas o que te quero transmitir. Tu já sabes que anda por aí um bichinho com maus intentos a vaguear por entre as pessoas, filhinha, verdade?

- Sim, paizinho, tu e a Mãezinha têm-me explicado muito bem. Só não consigo perceber a razão porque os médicos não dão cabo dele! A avó Clementina sempre me dizia que há sempre um remédio para tudo, quando às vezes sentia dores na barriga. E na verdade, ela fazia um chazinho com plantas que ela conhecia e que adocicava com mel, e essas maleitas desapareciam.

- Pois é, Silene, mas nem tudo passa com os chazinhos da avó. – explicava com a maior paciência do mundo –Mesmo assim, presta atenção ao que te vou dizer, antes que mãezinha nos ouça. Eu bem sei que ela gostava muito da avó Clementina e do avô António e que está a sofrer muito com a sua partida recente. Afinal, eram os seus pais e é natural que lhe custe viver sem eles.

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- Mas, paizinho, faltam poucos dias para o Natal. Prometo que vou pedir ao Menino Jesus que traga os avozinhos de volta. Ele pode tudo.

- Ai, filhinha, se isso fosse possível, todos os avozinhos regressavam do seu longo repouso, mas não é assim que as coisas funcionam.

- Oh!, que pena! Mas mesmo assim, vou pedir-lhe. Pode ser Ele me queira ouvir.

- Está bem, filhinha, pede, então. Mas escuta com atenção. Tenho uma surpresa para ti. Daqui a alguns dias, os teus primos vão chegar e finalmente poderás brincar de novo com eles. Mas há que tomar algumas precauções. É verdade que eles só vêm se os resultados dos testes ao tal vírus forem negativos, se derem positivos, têm que ficar isolados na sua casa durante alguns dias. Entendes isso?

- Fiquei confusa. Testes? Eles têm que passar por testes?

- Sim, uma espécie de exame para se aperceberem que o tal bichinho mau não anda por aí a tramá-las.

- Esse bichinho mau é o Papão de que falava a avó?

- Bem, digamos que sim – respondeu.

– Está bem, paizinho, acho que entendi. Danado do bicho mau!

E, virando-se para os seus amiguinhos de todas as horas:

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- Marron, Lady, vamos brincar.

Já na companhia dos amigos, Silene abandona a salinha com a cabecinha olhando o chão e cheia de perguntas para si mesma, o que deixou o pai um tanto apreensivo.

A seguir, a menina entrou no seu quartinho com ar pensativo. Parecia que algo a perturbava, não entendia porque razão o bicho papão os andava a importunar sem encontrar qualquer razão aparente.

Além do mais, atacava toda a gente, fossem crescidos ou não.

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-

Marron, diz-me, ó amiguinha,

O que está a acontecer?

O avô e a avozinha

Nunca mais os irei ver!

Danado, o bicho papão

Que faz mal a toda a gente, Parece que a solução

Não nos chega, infelizmente

Deixemos, vamos brincar, Correr, saltar no jardim

E quem sabe, visitar

O ramalhal de alecrim.

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Afinal de tudo, era bom poder contar com a companhia desses amiguinhos tão queridos, poder brincar com eles e usufruir da sua companhia. Depois de algumas brincadeiras e correrias, Silene lançou-se para cima dum monte de folhagem que se foi acumulando no relvado do jardim, logo seguida por Marron e Lady. Era vê-los a rebolar, felizes, sobre o monte improvisado de folhagem multicolor, quando de repente ouviram uma voz com ar de irritada que, confrontando-os, lhes disse:

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- Que raio estão a fazer?

Pensam que me vão matar? Sou novo, quero viver, E não vos posso aturar.

Deixem-me só, por favor, Saiam já deste lugar

Este aconchego de amor Que não desejo deixar.

- Mas este é o meu jardim!Disse Silene, zangadaVá mostra-te para mim, Senão, fico chateada!

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Lady a cauda abanava. Farejava um buraquito

E, confundida, ladrava, Quando viu Marron aflito

E Silene, circunspecta, Entre as folhinhas mexia

Já cheia daquela treta

E do bicho que não via.

Mas, de repente, sob o amontoado de folhas a seus pés, sentiu mexer-se um pequenino ratinho de cor tão invulgar. Assustada, mas numa reação imediata, virou-se para o pequeno roedor e questionou:

- Mas o que vem a ser isto? Um monte de folhas que mexe para esconder um rato? Já me parecia que isto não era apenas o vento!

De cócoras no chão, mexe e remexe, ávida de reunir as folhas agora mais espalhadas. Não fora a ajuda da gatinha Marrom e de Lady, a cadelinha, e lá se ia o seu montinho de folhas multicolor.

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Foi então que entre aquele emaranhado, descobriu por fim o pequeno roedor. De olhos esbugalhados e de boca aberta, não conseguiu conter um grito de espanto.

Com olhar esbugalhado, Sem crer naquilo que via, Eis que o ratinho safado Por todo o lado fugia.

- Que graça! O que vejo eu!

As folhinhas a voar

E um rato apareceu

Para nos dar que pensar!

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Como te chamas, ratinho?

- O meu nome é Penacor. Não digas, engraçadinho, Pensas ter senso de humor?

Tu és um monte de folhas Que parecem não ter fim.

- Eu faço as minhas escolhas, Disfarço-me no jardim.

Não sou um rato qualquer, Desses que andam por aí. Gosto de saltar, correr.

- … E resmungar, eu já vi!

- Claro que não me viste, Como poderias ver?

Ver-me aqui, só conseguiste Porque assim o quis fazer.

De qualquer modo, criança, Pareces especial, Não sei se de confiança, Não me vais levar a mal!

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- Lá no fim, até que te acho engraçado.

E virando-se para o gatinho

- Marron, vê como é giro este ratinho feito de folhas das nossas árvores do jardim

– dizia Silene – chamando para perto de si os amigos.

Marron saltitava contente, rebolava e dava voltas e mais voltas, enquanto Lady, a cadelinha latia feliz, como que a dar asboasvindasao seu novo amigo, o ratinho Penacor. Durante alguns minutos permaneceram naquela brincadeira, até que a dado momento, o ratinho Penacor Parecia se despedir dos amigos.

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- Depressa que se fez tarde, Já chegou a minha hora!E sem causar mais alarde –Vai, vai que vou embora!

- Até um dia, amiguinhos, É hora de regressar, Entrar nos meus buraquinhos E regressar ao meu lar

- Gostei de te conhecer, De te ter por nosso amigo…E o rato parte a correr

- … Deixas-me a falar comigo!

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Mas quando Silene olhou, Viu o ratinho que aflitoO vento as folhas levou –E respondeu ao seu grito.

- Que chatice, mas que ideia! –Desabafou PenacorLá se foi minha colmeia Tão bela, com tanta cor.

E ali ficaram a contemplar o voo daquelas folhas e com eles os pequenos orifícios onde se ocultava o pequenino rato. Por mais que desenvolvesse esforços, numa correria louca, Penacor não conseguia alcançar o montículo de folhas para poder entrar de novo naquele emaranhado de folhagem. Até que, cansado, ali ficou desconsolado a choramingar, por não poder voltar para casa. Silene olhava-o triste e pensava em tudo o que acabava de presenciar e a desventura do seu pequeno amiguinho Penacor. Refletiu e pensou que o poderia ajudar. Com a ajuda dos amigos, resolveu juntar um novo montículo de folhas que logo o vento tentava contrariar.

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- Quem és tu, menina insolente, que tentas desafiar a minha força? Vou dar-te o que mereces, irei transformar-te a ti nesse amontoado de folhas que tanto desejas reunir e empurrar-te comigo até aos confins da terra! Logo, Marron, a gatinha, e Lady, a cadelinha, agarradas ao ratinho Penacor, alcançam a saia de Silene e, logo o vento, num louco corrupio, os arrastou no meio da folhagem e os fez voar pelas alturas. Quando a ventania amaina, veem-se a cair desamparados num manto de belas folhas, num lugar desconhecido, enquanto os ténues vestígios de vento se vão dissolvendo lentamente.

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- Senhor vento, por favor, Não nos abandone aqui!

Já sofremos tanta dor E a vida não nos sorri.

- Leve-nos para o jardim Que é nosso por tradição, Cheio de rosas, jasmim, E tão cheio de ilusão.

Nesse manto colorido

Silene se levantou

E ao ver o acontecido, Seus amiguinhos, chamou:

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- Lady, Marron estão bem?

- Que será que se passou? Não sei, acho que ninguém. O Sabe. – E o rato lhes falou.

- Cá estamos no meu mundo Sempre tão imprevisível, Onde o saber mais profundo Renasce do impossível.

- Vamos p’ra casa voltar! Marron, Lady, venham cá?

Vamos solução achar, Temos Natal amanhã!

Não perdendo mais tempo, Silene dirige-se à gatinha Marron, à cadelinha Lady e ao ratinho Penacor e disse-lhes:

_ Temos de encontrar uma saída. Vamos procurar qualquer porta ou seja o que for. Tu, Penacor, terás que regressar ao teu espaço mas nós temos de encontrar o modo de sair daqui. Acaso a minha mãe se aperceba da minha ausência, vai certamente ficar muito preocupada.

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Silene perscrutava por todos os lados na tentativa de encontrar uma saída. Olhava, olhava, mas por mais que procurasse, apenas via folhas e nada mais. Olhou o céu viuo carregado de nuvens, ora avermelhadas, ora esbranquiçadas, cinzentas ou amarelas, parecia um enorme Arco-Íris.

Num momento, enquanto elas se deslocavam, viram abrir-se uma nesga que deu lugar ao aparecimento duma branca nuvem. Quando se apercebeu, Silene gritou de modo a que ela ouvisse:

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- Nuvenzinha, nuvenzinha, Desce daí, por favor, Vem nos dar uma ajudinha Neste sítio assustador.

- Precisamos de encontrar Uma porta p’ra abrir

Para casa regressar Felizes e a sorrir.

Logo, essa nuvem desceu Nesse promissor porvir.

- Mas que foi que aconteceu?

- Queremos daqui sair!

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E eis que a branca nuvem se começou a movimentar e a transformar-se nas figuras de pequenos animaizinhos, de tamanho tal que conseguissem passar pela pequena fresta aberta entre a folhagem.

- Depressa! - gritava Silene - As folhas estão-se a mexer e o espaço a diminuir, Lady, Marron, Penacor, segurem-se bem a mim. - e virando-se para a branca nuvem;

- Vá, desce depressa, amiguinha, precisamos de ti!

Esta sentia-se sufocada no exíguo espaço, as folhas bailavam numa dança angelical. Penacor ansiava e suplicava por calma, mas as folhas pareciam fazer ouvidos de mercador.

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- Escutem-me, por favor, Ela é minha amiguinha, Acabem com este horror Porque a culpa é toda minha.

Não consegui resistir Quando no jardim entrei

E ao procurar fugir, Já nem a porta encontrei.

As folhas rodopiavam

À volta da pequenina

E quase, quase a levavam

Se não fora a nuvenzinha.

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Numa

tentativa de conseguirem ultrapassar esse momento tão atribulado, a nuvem infiltrou-se através da pequena fenda, enquanto aquelas estranhas folhas tentavam envolver Silene, a gatinha Marron, Lady, a cadelinha, e Penacor, o ratinho. Mas ele queria lá saber das suas súplicas. Penacor era rebelde, mas agora já nem o Sítio das Folhas estava com paciência para o aturar mais. O Urso Folhagem Dourada, olhou de soslaio com ar de zangado para o pequeno roedor e disse:

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- Vai daqui, ó criatura, Não venhas pedir clemência! Vai-te e leva essa loucura Pois perdi a paciência.

Urso Folhagem Dourada Nunca o vi tão furioso E para Silene olhava Com olhar impiedoso.

A menina, encolhidinha, Com os seus olhos fechados, Agarrava-se à gatinha, Dizia mal dos pecados.

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A nuvenzinha teimou E no meio da aflição Bem depressa esvoaçou E agarrou-os pela mão.

- Depressa, vamos embora, Prendam-se bem, amiguinhos, Vamos já daqui p’ra fora E seguir outros caminhos.

- Oh, o Penacor não veio?Logo pergunta a meninaNão veio, tenho receio Por sua sorte, amiguinha.

- Vamos ter que o ajudar, Voltemos lá, por favor, Que mais vamos nós passar? Mas que martírio, que horror!

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A nuvenzinha bem que empurrava as folhas que teimavam em proteger a passagem, dificultando o resgate do amigo. A gatinha Marron e a cadelinha Lady, tiritavam de frio e mal abriam os olhos. Nem queriam acreditar que teriam que voltar àquele amontoado de folhas mal-humoradas, onde a simples figura do Urso Folhagem Dourada lhes provocava arrepios. Seguravam a saia de Silene com todas as forças que conseguiam reunir, o que provocou um sentimento de piedade em Silene que logo os tentou acalmar:

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- Nada vai acontecer, Vamos salvar Penacor, Vamos a luta vencer, Muita calma, por favor.

Eu não vos quero perder Pois sois os meus amiguinhos, Sem vós já não sei viver Pois sois os meus amorzinhos!

- Vamos lá, mas com cuidado Nosso amigo resgatar

E esse Urso Dourado Que nem tente importunar.

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Uma pequenina folha de cor amarela ressoltou-se com as restantes folhas pelo que essas estavam a fazer e logo se impôs à rebeldia daquele amontoado de folhas rebeldes.

- O que está a acontecer contigo, Urso Folhagem Dourada? Não costumas ser assim! É deste modo que tratas as nossas visitas? Que forma estranha de receber! E porque razão tratas assim o nosso amigo Penacor? Há muito que sabemos que ele é um aventureiro, mas isso não justifica tão estranho comportamento.

- Hum! – respondeu Urso Folhagem Dourado – não estou a gostar dessas irreverências, miúda. Não gosto que incomodem e perturbam o meu solitário lar. Mas reconheço que tenho muito a aprender sobre o que é humildade, e o que ela representa para nós.

-Desculpem a minha intromissão, meus amigos. – retorquiu Silene.

- Diz lá o que tens a dizer, pequena.

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- Como te chamas, pequena, Que vieste aqui fazer?

Estás perdida? Que pena! O que vai acontecer?

- Ursa Folhagem Dourada Porque estás entristecida, Não te irrites, porque nada Dura sempre nesta vida.

- Ela não é sempre assim É alegre, ponderada, Mas quando seca o jardim, Ela fica desvairada.

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- Bem, nada receies, pequena, vamos ajudar em tudo o que estiver ao nosso alcance.

- O meu nome é Silene e vim aqui com a gatinha Marron, e com Lady, a minha cadelinha, a convite do Penacor. Estávamos a brincar no meu jardim quando de repente ele apareceu. De repente, o vento chegou e atirounos para este lugar onde, pelos vistos, não somos bem-vindos.

- Sabes, Silene? Sou, a Folhinha Amarela a guardiã das portas do Sitio da Folhândia. Este Lugar sempre foi amistoso, mas desde que chegou a seca, andamos mais ansiosos e às vezes até revoltosos. Precisamos de água para a nossa sobrevivência e o que mais precisa desse bem é aqui o nosso amigo, o Urso Folhagem Dourada, pois sem água, ele acaba por enfraquecer e quem sabe, morrer.

- Ora! Isso não é problema. Deixem-me que vos apresente a minha amiga Nuvenzinha. Ela poderá prover para vós toda a água de que necessitem.

E virando-se para a Nuvem:

-Não é assim, minha amiga?

- Claro que o farei. Fico sempre feliz quando posso ajudar alguém. Não há razão para o vosso Urso Folhagem Dourada chefe ficar mal disposto. E larga-me, que me sinto sufocada!

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- Nem me apercebi que estava a prender-te. Desculpa.

Alegra-me a tua disponibilidade para nos ajudares. Vamos por fim conseguir repor a humidade aqui no nosso sítio.

E logo soltou a Nuvenzinha, que logo que se viu liberta, começou a sacudir-se e a lançar ao redor pequenas gotículas fresquinhas de água em cima daquele amontoado de folhas.

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- Branca nuvenzinha eu sou E quero-vos ajudar, A minha água vos dou Para a todos refrescar.

Água, um bem essencial Que a terra muito precisa, Só é preciso, afinal, Ver por onde ela desliza.

- Muito gratos, nuvenzinha, Mostraste ser nossa amiga, Ser assim, amiga minha, Talvez um dia o consiga.

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O Urso Dourado, nem queria acreditar que era mesmo verdade o que estava a acontecer. Como uma criança, lançou-se no pequeno charco formado pela água para poder saciar-se e repor a humidade que precisava para viver. Desfeito em desculpas junto dos amigos, voltou-se para Penacor, ainda a tremelicar de medo, e disse-lhe:

- Sê bem-vindo a casa, Penacor, desculpa mas tu sabes que sou assim, fervo em pouca água às vezes, mas bem sabes que lá no fundo sou um bom amigo. Penacor olhou para ele pensativo e respondeu:

- Que mal tem isso? Todos temos os nossos dias. Enquanto todos soltavam um sorriso de satisfação, as folhas dançavam cheias de alegria à volta do pequeno lago agora formado. Até Marron corria desenfreado atrás de Penacor. Enquanto Lady ladrava toda feliz.

Nuvenzinha então lhes disse:

- Desculpem, meus amiguinhos, é hora de regressar. Silene olhou-a e perguntou:

- Podes levar-nos de volta ao nosso jardim? A esta hora, a minha mãe deve andar aflita à minha procura. Logo hoje que é o dia em que chegam os meus primos e a

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restante família para a passar connosco estes dias de Natal.

- Não precisas que a Nuvenzinha te leve, eu mesmo te levo a casa. Vamos todos dar uma volta ver a terra do alto. – Disse Folha Amarela.

O céu mostrou o seu azul radiante, o sol espreguiçouse, a lua, lá do alto, sorriu. Silene, aconchegada sobre a folha, acompanhada da gatinha e da cadelinha, lá se viam a voar e a apreciar as delicias que se lhe apresentavam lá do alto.

E ei-las que bem depressam alcançam o seu jardim. Folha Amarela desce lentamente e os deixa pousar tranquilos em lugar seguro. De seguida, despediu-se dos três amigos e partiu.

- Até sempre, meus amigos, voltarei quando me for possível.

- Até sempre, amiguinha, gritavam os três.

- Silene, Silene - chamava a mãe – Onde andas tu metida?

- Estou aqui, mãezinha, no canteiro do jasmim, vem ver que lindo ele está.

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- Sim, filhinha, vem, vamos para dentro, os teus primos acabam de chegar. E ainda tenho tanta coisa para preparar, querida!

- Vamos lá, mãezinha, eu vou-te ajudar.

- Amiguinhos do coração, Quão bom foi vos conhecer, Foi tão grande esta emoção Que não consigo entender.

Mas que grande aventura Que neste dia vivi

E mesmo sendo insegura, Muitas coisas aprendi.

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Aprendi a dar valor

Às folhinhas pelo chão, São alfobres de calor Que requerem atenção.

Sei que de agora em diante Hei de ser compreensiva Pois para mim, o importante É dar mais valor à vida.

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