Era uma vez... três patinhos, conto de Rosa Maria Santos, março de 2023

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2 Conto
Rosa Maria Santos

Ficha Técnica

Título

Era uma vez… três patinhos

Tema

Conto

Autora

Rosa Maria Santos

Capa

Arranjo de José Sepúlveda

Ilustrações

Rosa Maria Santos

Revisão de textos e Formatação

José Sepúlveda

Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em março de 2023

https://issuu.com/rosammrs/docs

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Rosa Maria Santos

Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga.

Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras.

É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome.

Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa:

Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020.

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É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas.

A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir.

Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018; Vidas Suspensas (romance) – Janeiro 2022.

E-Books - Poesia

Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia)

- Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

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E-Books - Contos

Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco-Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da LagoaEdição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões

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– Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021; Esmeralda, umas férias diferentes – Junho 2021; Raitira no Planeta Ricoicoi – Junho 2021; A lição do Dente-de-Leão – Julho 2021; Lino, o menino que sonhava ser astronauta – Julho 2021; Bia, Mitra e o Tufão Esperança – Agosto 2021; Sericaya, a Ponte Misteriosa –Agosto 2021; Timo, um ratinho irreverente – Agosto 2021; Pipinha, um resgate atribulado – Agosto 2021; Aline e o Pequeno Ratinho – Setembro 2021; Tia Felisberta regressa à Aldeia – Setembro 2021; Milaidy, a vaquinha bailarina – Outubro 2021: Carolina, a pequenina sereia – Outubro 2021: O Pássaro de Fogo – Outubro 2021; Rosy e a bonequinha de papelão – Novembro 2021; Um Milagre de Natal – Dezembro 2021; Selina e o sonho da liberdade – Março 2022; O ABC da Vida –Março 2022; Salicas no Paraíso do Garrafão – Agosto 2022; Florbela, a Zebrinha Endiabrada – Setembro 2022; Gracita e as letrinhas que gostavam de voar – Outubro

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2022; Silene e o valor da vida – Fevereiro 2023; Era uma

vez… três patinhos – Março 2023.

Histórias da Bolachinha

Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória

Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia -

Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018;Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino ÂngeloNovembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018

Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil -

Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; -

Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda

- Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

Aventuras de Maria Laura

Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020;

- Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Diferentes mas iguais

Tomás e o infortúnio de não ter mãos – Junho 2021; Lolita, a menina que não tinha pés – Junho 2021; Duda, o Menino que queria mudar o Mundo – Julho 2021.

Aventuras de Samir e os amigos

Samir, o Ratinho – Um rasgo de coragem – Setembro 2021.

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Distinções

- 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017.

- 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019.

- 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal).

- Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019.

- Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema.

- Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020.

- Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020.

SegundaClassificadanoPrémioPoetiInternazionali-11ª.EdizionedelConcorsoInternazionalediPoesia-videopoesiaeraccontidaltitolo:PoesiaEsteri“Ouve”(Ascolta)dezembro2020.

-MenzionediMeritodepoetiInternazionali11ª.EdizionedelConcorsoInternazionalediPoesia-videopoesiae raccontidaltitolo:Racconti“Esmeralda”dezembro2020.

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Era uma vez três patinhos

No Sítio de Patogália viviam três patinhos gémeos: o Teté, de penas pretas e luzidias que se fartavam de brilhar quando o sol ao amanhecer incidiam sobre elas; o Totó, que brilhava mais do que o ouro ou até mesmo o sol; e o Titi, um lindo patinho de penas ruivas. Na verdade, três belos patos, esbeltos, altivos e com atributos de todo especiais, cada qual com uma voz angelical. Mas tinham um defeito, eram demasiado vaidosos e estragavam tudo quando se exibiam nos seus passos de

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dança desastrados. Ao fazê-lo, pensavam ter atributos artísticos que mais algum pato lá do Sitio da Patógalia pudesse ter.

Nós somos os três irmãos

Que mui gostam de cantar

Mesmo enfrentando os senãos De não ter como ensaiar.

Queremos ser bons cantores

E em qualquer concurso entrar Pois aos nossos contendores

Por certo iremos ganhar.

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Somos três, os três patinhos Cada um bem diferente, Todos muito bonitinhos Que é razão suficiente.

De há umas semanas para cá, desde o momento em que ouviram falar junto ao Lago Patatim, pela boca de um famoso agente musical, que estavam a procurar novos talentos para participarem no filme musical em preparação, então, era ouvi-los cantar dia e noite, junto do lago, o preciso lugar onde se encontrava instalado Mister Dukyn, lá no Solar de Patacruz. Este era o Presidente do

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Sítio, e por isso, havia que chamar a sua atenção, pois não queriam deixar de ser convidados para qualquer “casting” que estivesse a preparar e assim terem a oportunidade de exibir os seus dotes de artistas. Lá pela Patogália já ninguém podia aturar os desmiolados patinhos que não paravam de cantarolar. Mesmo assim, os três irmãos faziam de conta que não era nada com eles e alheavam-se de qualquer tipo de crítica, viesse ela de onde viesse, queriam sim ser os primeiros patos atores e cantores lá do Sítio e nada os demovia desse propósito. Logo bem cedo, mal o sol começava a despontar e a incidir os seus raios através da folhagem no grande lago, ainda bem antes de se ouvir o cantar do Diky, o Galo da Capoeira do Tio Tomé, cantavam sem parar.

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Patareco foi ao lago

E uma patinha encontrou:

- Sou Patareco Tiago. -

Depressa se apresentou:

- Queres comigo casar, Linda Patinha Amarela?

Num palácio irás morar, Farei de ti uma estrela.

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- Mas quem pensas tu que és Para me tratares assim? -

- Vem comigo e logo vês Meu palácio, meu jardim.

- Ai não, nessa não vou não, Seu patareco atrevido, Não entrego o coração A alguém tão convencido.

Tens pinta de Dom Juan, Ser tua, jamais serei, Não irei nessa ilusão, Jamais me apaixonarei.

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Senhores de si, sem se deixarem levar por qualquer contratempo, os vaidosos patos cantarolavam todo o santo dia, desde manhã bem cedo, até que alvorecia e quantas vezes até altas horas da noite, o que irritava os vizinhos. Então estes, certo dia, decidiram pregar-lhes uma partida. Combinaram com Mister Dukyn, um agente musical, uma ação desconcertante para darem uma lição de humildade aos três manos, Totó, Titi e Teté. Enquanto eles não se cansavam de ensaiar para o pretendido concurso para encontrar o melhor conjunto musical, numa bela manhã, apareceu lá no Sítio um mendigo, pessoa muito idosa de enormes cabelos brancos e uma farta barba que

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quase tocava o chão. Tinha uns olhos azuis da cor do céu e vestia um casaco encarnado e caminhava debruçado sobre um cajado que transportava na mão. Ninguém sabia de onde vinha. Tinha um olhar triste. Quando chegou, pediu ajuda aos patos do Sítio Patogália.

- Desculpem a ousadia

De invadir vosso lugar. -

O que mais o afligia

Era o rio do lugar.

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- O que precisas então?Garnizé lhe perguntouSó de um pouco de atenção, Não me lembro quem eu sou!

- O que foi que aconteceu? Como não sabe quem é? Algo que se esvaneceu E vai passar, tenha fé!

Nós vamos tratar de si. Vá, siga-nos, por favor, Eu nada conheço aqui, Tudo é lindo, tanta cor!

Não sei como agradecer, Já nem o meu nome sei, Não sei o que vou fazer Nem sequer como cheguei.

- Venha daí, bom amigo, Não sinta qualquer temor, Connosco, não corre perigo, Faremos o nosso melhor.

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- Eu sou o Garnisé, conhecido pelo Pato Curandeiro do Sítio da Patogália. Não vai passar muito tempo e vamos descobrir quem o amigo é e de onde veio. Até lá, vamos usar de muito cuidado, aqui nem todas as pessoas são bem-vindas.

Garnisé gozava no meio de muito prestígio. Era conhecido como Curandeiro e sabia que algo tinha que fazer pelo pobre velhinho. Ele bem conhecia a hostilidade dos seus pares sempre que alguém estranho dali se abeirava. E que nem pensassem em ficar por ali muito tempo! Por

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isso, arrancou três penas da sua cauda, pronunciou algumas palavras e colocou-as sobre os ombros do homem.

- Rintintim, saionarim, Ó rezas de Solacaia

Cada pena sai de mim

Para que em seu corpo caia.

Ó força de curandeiro, Vem este homem ajudar

E que aqui o tempo inteiro

O possamos ajudar.

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Quando ficar pequenino, Suba para a minha asa E no fim deste caminho Estaremos lá em casa.

Mas de repente, ouviu-se um barulho estranho, como se fora alguém a cair, a que se seguiu uma voz vinda de alto:

- Cuidado, Titi, podes partir uma pata!

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– Ó céus! Só me faltava esta. Andam por aqui os três irmãos desmiolados. Não te mexas, meu amigo, vou ter que os abordar.

Mas antes que conseguisse chegar com eles à palavra, catrapuz, catrapuz, pum, pum. E logo os três irmãos caíam redondos sobre o dorso do Garnisé, fazendo com que este se estatelasse no chão.

Pum pum, catrapus pum…

… E Totó caiu no chão! E depois, um após um, Instalou-se a confusão.

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- O que vos aconteceu?Perguntava Garnisé, Sem saber o que lhes deu…

E Totó se pôs em pé.

Com olhar arregalado, Apontou na direção Do homenzinho deitado:

- Estou a ver um anão?

- Não é um anão qualquer, Andava perdido aqui Então, para o proteger, Eu então o recolhi.

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Ainda mal refeito da pancada que levara, Garnisé perguntou:

- Titi, Teté, Totó o que andam a fazer por estes lados? Agora decidiram também andar por aí a voar? Deviam era estar sossegados na vossa casinha!

Os três irmãos, recompondo-se da queda, saltaram do dorso de Garnisé, sacudiram os rabos e ficaram com os olhos esbugalhados a olhar para o chão ali a escassos centímetros, onde se encontrava ainda estatelado no chão o pobre velhinho de cabelos brancos.

Recomposto, Totó respondeu:

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- Estávamos sossegados no nosso voo, mas de repente, uma rabanada de vento lançou-nos com violência por aí fora.

- Mas, será que estou a ver mesmo o que penso que vejo, ou é apenas a minha visão que ficou turba da queda?

- Como assim? Foi a tua visão que sofreu uma alteração com a queda, meu amigo - respondeu Garnisé transpirando felicidade. Diz lá o que estás a ver de tão interessante no chão?

- Um homem pequenino! – retorquiu Totó - Teté, Titi, estão a ver o mesmo que eu? – repetiu boquiaberto, lançando a sua asa em direção ao frágil corpo. Se Garnisé não se tivesse colocado mesmo na sua frente, não sei o que seria do pobre homenzinho de Barba Branca.

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- Com seu cabelo branquinho

E de cajado na mão, Será mesmo um homenzinho

Ou apenas um anão?

Aqui não pode ficar, Temos de o mandar embora.

- Calma! Vamos conversar, Temos muito tempo agora?

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Temos de o esconder

Até que fique melhor

E é isso que vou fazer, Ajudem me por favor.

Nós iremos ajudar, Mas com uma condição: Ele vai nos ensinar

A cantar nossa canção!

- Voz, todos os três, a têm Mas não a sabem usar, Até parecem alguém!

É a humildade a falhar.

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- Vamos lá ver se a gente se entende, meus amigos! Primeiro, vamos ajudar o nosso convidado. Depois, pensamos lá na vossa proposta. Combinado?

- Afinal, quem é ele? Alguma personalidade?

- Não sei quem é, mas dá ares de ser alguém importante!

- disse Garnisé, enquanto se dirigia ao amigo ainda debruçado no chão, a tentar levantar-se.

- Posso aproximar-me? - perguntou Totó - Gostava de o ver de perto. Eu sei que desde há muitos anos nós, os patos, deixamos de conviver com os homens. Mas contavam os meus pais que noutros tempos chegara a conviver com eles e a viver lado a lado. Eles alimentavam-

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nos. Mas depois, gradualmente, os patos iam desaparecendo. E houve uma revolta. Assim, fugimos do seu convívio e tornámo-nos independentes, condição que mantivemos até ao dia de hoje, depois de criarmos a nossa Patagónia. Titi foi-se aproximando de Totó e pediu permissão para falar.

- Totó, Garnisé, posso falar?

- Podes sim, aqui todos nos podemos exprimir livremente. - respondeu Garnisé.

- Teté, o mais tímido dos três irmãos, foi-se aproximando lentamente e ali, unidos, olhavam o homenzinho, temporariamente transformado em anão, que aparentava estar muito tranquilo.

- Totó, lembras dos nossos paizinhos nos obrigarem a prometer, que jamais entraríamos na Herdade Doura’Flor, que tinha um enorme casarão e que agora está coberto de plantas, ali na saída da Patagónia?

- Sim, foi há muito tempo. A Patagónia pertencia a Herdade Doura´Flor. Contou-nos então que os donos da Herdade eram pessoas muito generosas e que tinham um menino lindo e muito bondoso que adorava os patos. Ele brincava com eles, dia e noite.

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- Na Herdade Doura’Flor

Havia uma criancinha

Tão linda, qual bela flor

E dos patos amiguinha.

Eram os seus amiguinhos,

Nunca lhes fazia mal

Mas um dia, pobrezinhos, Ocorreu algo fatal.

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Foi envolto num mistério

Que tudo desapareceu

E o pequeno Silvério

Foi um ar que se lhe deu.

E aquela herdade linda

Nunca mais lá teve gente

Mas mantém-se ali ainda

Nobre como antigamente.

Gostaria de saber

Que aconteceu à criança, Um dia, se Deus quiser, Vou saber, tenho esperança.

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- Está bem! - respondeu Totó. – Vamos lá rapazes, vamos fazer a nossa boa ação do dia, ajudar o Garnisé a esconder o seu amiguinho, que pelos vistos nem ele nem nós sabemos quem é.

E lá foram os três ajudar o Garnisé. Levantaram-no com todos os cuidados e viram-no abrir os olhos. E cheio de alegria, começou a cantar.

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- Em tempos já fui alguém, Tinha a vida em minha mão, Hoje sou um Zé Ninguém Com um triste coração.

Um futuro promissor, Um lar e uma família, Se transformaram em dor Numa noite de vigília.

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Na Herdade fui feliz, Saltitava todo o dia E como era petiz Só brincava, só sorria.

Mas então, tudo mudou, Os ditames do destino, E o tempo logo levou Os meus tempos de menino.

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Os três patinhos nem queriam acreditar no que estavam a ouvir. Aquele velhinho de cabelo branquinho não era senão o menino de quem os seus pais não se cansavam de falar ao serão, durante as longas noites de inverno, quando ficavam junto à lareira, antes de se irem deitar. E logo decidiram que a partir dali iriam proteger com suas vidas aquele velhinho.

- Já sei onde o vamos esconder - disse convicto Totó.

- Onde? Diz depressa para que os demais patos não o vejam. Se isso acontecer, não sabemos o que se poderá vir a passar. – acresceu Garnisé.

- Vamos levá-lo para a Herdade Doura’Flor. Ali poderá restabelecer-se e quando estiver bom, apresentá-loemos numa grande festa. Afinal, segundo os nossos pais, quando ele era menino tratava muito bem todos os patos. Os mais velhos vão certamente lembrar-se dele ou terão ouvido as mesmas histórias que nós. E logo trataram de o levar para a Herdade, embora com receio de lá entrar. Lembravam-se sempre das admoestações dos pais do Totó, Teté e Titi, para que nunca entrassem na Herdade. E eles não sabiam como contornar a promessa de que não o fariam. Mas, o momento era premente e havia necessidade de agir. Não tardou muito e chegaram à Herdade. Um emaranhado de heras cobriam toda a casa, o que lhes trouxe algumas dificuldades. Mas nem elas foram um impedimento. Totó, que era muito destemido, com o bico, começou a retirar as heras que se atravessavam à sua frente. Num momento, viram-se confrontados com um

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portão. Pararam e pensaram como poderiam abri-lo. Entreolharam-se e Garnisé, que seguia logo atrás, como era mais alto, conseguiu avistar um letreiro esculpido numa tábua de madeira, que dizia:

«SÓ A PENA DE UM PATO AMARELO DA COR DO OURO, PODERÁ ABRIR A PORTA DESTE PORTÃO»

Uma pena da cor do ouro

A grande porta abrirá

Será que existe um tesouro?

Depois, logo se verá!

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Todos viraram o seu olhar para as penas amarelas, cor do ouro, de Totó.

- é a tua vez, Totó – disseram em coro.

Totó estendeu a melhor pena que tinha na asa direita e fê-la rodopiar na fechadura que no mesmo instante se abriu.

Como era belo o jardim ali à sua frente e que circundava toda a Herdade Doura’Flor.

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De novo, Garnisé procurou através da portinhola, em cada grade de ferro na sua frente, e encontrou uma nova placa:

« SÓ A PENA DE UM PATO NEGRO QUE BRILHA COM A LUZ DO SOL, PODERÁ ABRIR A PORTINHOLA»

De imediato, Teté encostou à fechadura a maior pena do seu rabinho, fê-la rodar e a portinhola se abriu.

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E a Pena tão negra abriu

A portinhola na hora.

Garnisé então sorriu

E disse: - Vamos embora!

E lá foram todos com Garnisé que levava ainda no seu dorso o pequenino homem ainda encolhido pelo efeito da poção mágica que ele próprio lhe administrara. Chegaram então à fachada do deslumbrante casarão, onde se depararam com uma enorme porta de cor encarnada.

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- Oh! – disseram perplexos – como poderemos transpor esta porta para entrar no casarão? De novo, Garnisé, procurou outra mensagem que lhes desse o segredo para que pudessem abri-la. E encontrou-a junto de um dos pilares do alpendre.

- «SÓ A PENA DE UM PATINHO RUIVO, QUE FAZ LEMBRAR UMA DAS CORES DO ARCO-ÍRIS, PODERÁ ABRIR ESTA PORTA»

Logo, Titi estendeu a asa e tirando a sua mais bela pena, encostou-a à fechadura da porta. Esta, depois dum rugido estridente, abriu-se de par em par. Mas foi então que surgiu um obstáculo que eles não sabiam como contornar: Garnisé deu três voltas ao redor a ver se decifrava mais um enigma, observou bem as paredes, o teto, as escadas, rodou a maçaneta da porta e foi então que ouviu uma voz que entoava uma melodia suave.

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- Meu casarão é fechado, Uma tragédia se deu, Nesto lindo povoado Uma família se perdeu.

Três patinhos vão dar vida

A meu lugar esquecido

E com a família unida

Tudo vai ser colorido.

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Lado a lado, aprumadinhos, Cantarão nossa canção

E a voz dos três patinhos Unem a povoação.

Cantem, patinhos queridos, Depois de na casa entrar E aqui, nos passos perdidos, Meu filho vai acordar.

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E logo os três irmãos se colocaram lado a lado juntos a Garnisé e começaram a cantar um hino de paz e amor.

- Ó Deus, todo poderoso

Que sois o Senhor da vida, Sê, connosco generoso Nesta casa adormecida.

Tu sabes o que fazer

Do seu caminho à deriva, Que possamos merecer Neste lar o dom da vida.

Liberta o da prisão

Em que viveu tanto tempo Traz-lhe a memória, o condão De viver este momento.

Bem merece despertar Com todos ao seu redor

E connosco partilhar

De novo um tempo de amor.

Depois, irá recordar

Aquele tempo encantado

E para sempre ficar

A viver ao nosso lado.

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Quando souberam do milagre que aconteceu na HerdadeDoura’Flor, todosospatosdo Sítio da Patogália, um a um, desceram ao povoado e vieram partilhar uns com os outros aquela canção de amor, qual hino de louvor ao Criador da terra e do mar e decidiram convidar os três patinhos a serem os seus arautos no Sítio da Patagónia.

O velho mendigo de cabelo e barba branca agradeceu tão grande hospitalidade e como que por um gesto de magia, para espanto de todos, num momento se transformou naquela criança de rosto rosado e de cabelos negros, com um rosto angelical, tal qual a história que lhes legaram os seus saudosos avós.

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Foi então que Garnisé e os três patinhos, Totó, Teté e Titi, se chegaram junto do menino e lhe pediram:

- Fica connosco, Silvério, ensina-nos a cantar.

Ser humilde é aprender

O que a vida tem de bela, Sonhar, cantar, conviver, Sem ser vedeta ou estrela.

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Aprendamos a lição:

Ninguém é mais que ninguém E se houver compreensão, Todos seremos alguém.

Não julgue, ou será julgado Que a vida três dias são. Amar para ser amado E viver em comunhão.

Desde esse dia, Silvério era de novo criança. A porta do velho casarão estava agora aberta de par em par e todos os patos da Patagónia se abriram para o mundo. Os três

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patinhos cantores, agora com uma voz celestial, cantavam alegremente para toda a gente ao redor, ajudavamse uns aos outros e tudo era paz no Sítio da Patagónia, onde ninguém era melhor que ninguém, todos diferentes, mas todos iguais, todos felizes.

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