Título: Salicas no Paraíso do Garrafão, conto de Rosa Maria Santos. Agosto 2022

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2 Conto Rosa Maria Santos Salicas no paraíso do garrafão

3 Ficha Técnica Título Salicas no Paraíso do Garrafão Tema Conto Autora Rosa Maria Santos Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições Editado em E book em Agosto https://issuu.com/rosammrs/docs2022

Rosa Maria Santos

– S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras.

É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome.

Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar Coletânea de Poesia de Natal de 2020.

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Naturalidade

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É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de Livrosexistir.editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018; Vidas Suspensas (romance) – Janeiro 2022. E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) Capa: Glória Costa Maio 2018; Sinos de Natal, Natal de 2018; Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

6 E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; Esperança no País do Arco Íris Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; O Menino da Lagoa Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; Ana Rita e o fascínio dos ovos Maio 2020; Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; Contos ao Luar, Maio de 2020; Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020; O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; O Jardim em Festa, Julho 2020; Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o Menino que queria sorrir Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões

7 – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente Março 2021; Janota, a guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir Abril 2021; A Lenda da Menina Lua Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada Maio 2021; Esmeralda, umas férias diferentes Junho 2021; Raitira no Planeta Ricoicoi Junho 2021; A lição do Dente-de-Leão – Julho 2021; Lino, o menino que sonhava ser astronauta – Julho 2021; Bia, Mitra e o Tufão Esperança Agosto 2021; Sericaya, a Ponte Misteriosa Agosto 2021; Timo, um ratinho irreverente Agosto 2021; Pipinha, um resgate atribulado Agosto 2021; Aline e o Pequeno Ratinho – Setembro 2021; Tia Felisberta regressa à Aldeia – Setembro 2021; Milaidy, a vaquinha bailarina Outubro 2021: Carolina, a pequenina sereia Outubro 2021: O Pássaro de Fogo Outubro 2021; Rosy e a bonequinha de papelão Novembro 2021; Um Milagre de Natal – Dezembro 2021; Selina e o sonho da liberdade – Março 2022; O ABC da Vida –Março 2022; Salicas no Paraíso do Garrafão Agosto 2022.

Aventuras de Samir e os amigos Samir, o Ratinho Um rasgo de coragem Setembro 2021.

Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) Capa: Glória Costa Maio 2018; Bolachinha vai à Hora de Poesia Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018

Diferentes mas iguais Tomás e o infortúnio de não ter mãos Junho 2021; Lolita, a menina que não tinha pés Junho 2021; Duda, o Menino que queria mudar o Mundo Julho 2021.

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Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione Menzione2020.d'onore con la poesie “Il mio quadro” (Meu quadro). Itália julho 2020. SegundaClassificadanoPrémioPoetiInternazionali-11ª.EdizionedelConcorsoInternazionalediPoesiavideopoesiaeraccontidaltitolo:PoesiaEsteri“Ouve”(Ascolta)dezembro2020.

2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017.

3º Prémio de Poeti Internazional Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália Maio 2019.

Distinções

Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto deJogos2019.Florais Vale do Varosa 2019 Concurso Literário Tarouca “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema.

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10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal).

10 -MenzionediMeritodepoetiInternazionali11ª.EdizionedelConcorsoInternazionalediPoesia-videopoesiae raccontidaltitolo:Racconti“Esmeralda”dezembro2020.

11 Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs Blog: https://romyflor.blogspot.com/p/blog page.html

Califa era ummundo diferentedaquele queconhecemos.

Salicas no Paraíso do Garrafão

Um mundo que se desenrolava dentro de um garrafão de vidro transparente, que tinha no cimo uma forte rolha de cortiça que vedava a passagem de quem quer que fosse.

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Assim o contava o Avó Santiago, enquanto observava o olhar surpresa das dez crianças que tinha à sua frente, sempre ávidas de descobrir novas aventuras. Rita, Maria, Tomé, Rafael e Matias, tinham idades compreendidas entre os sete e dez anos, eram os mais velhos do grupo. Ana, Mariana, Luísa, Tiago e Lucas, eram mais novos e as suas idades não ultrapassavam os seis tenros anos. Viviam ali, na Aldeia Santiago. - Avô Santiago, posso te fazer uma pergunta? – questionava a Rita com o seu dedo apontador levantado.

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Bem, se vocês vão passar o tempo a interromper me mesmo antesda história começar, não vamos ter história. respondeu com um sorriso – Vá lá, faz a tal pergunta, estou curioso. Mas, desde já vos aviso que o melhor é que guardem as perguntas para o fim. Calculo que depois de ouvirem a tal história d’ O mundo dentro de um garrafão, vão ter mesmo muitas perguntas para me fazer.

É só uma curiosidade Avô Santiago acresceu Rita Diz-nos onde está a tua família?

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A minha mãe disse me que vieste de muito longe! acrescentou Rafael É verdade, avô? O avô levantou se, chegou se mais a eles e acomodou se no tapete, ao lado de todos eles. Era um lugar calmo aprazível, uma pequena sala do patronato da Igreja, Santa Júlia. Afagou a cabecita de todos ele, rodopiou e sentou se de novo.

15 Sois adoráveis, meninos, Com vossas auréolas puras, Quando forem maiorzinhos, Viverão mil aventuras. Rita, sempre insatisfeita, Com vontade de saber, Não estejas contrafeita, Tu tens muito que aprender.

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Tomé, sempre perspicaz, Olhas atento ao redor, Hás de crescer, meu rapaz, Quem sabe, vais ser doutor! Matias, lindo menino, És meigo e atencioso, Mas ainda tão novinho! Não te faças curioso! Maria, que doce olhar, Linda, sempre sorridente, Nunca deixes de sonhar E de ser obediente. Rafael, sempre calado, A pensar num outro dia, Não vivas desenquadrado No meio da fantasia! Crianças a florescer, Tão puras de coração Mais tarde, ides perceber Que a vida é uma ilusão.

Mas, pareceu despertar vamos lá, venham as perguntas, uma de cada vez, já que é esse o vosso desejo. Mas devagar, doutro modo, perco me. Bom seria que me deixassem contar a história primeiro e que viessem as perguntas depois. Aceitam a sugestão? - Tem razão, avô – responderam – Vamos primeiro à história.Mas, insistiu a Rita ainda com o dedito no ar os meus pais dizem que na Aldeia Santiago ninguém o conhecia,

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18 até o verem aparecer no areal da Praia. Pois é, confirmou Rafael ninguém o conhecia! - Não me diga que vinha em algum barco com os seus pais e que esse barco naufragou e que logo apareceu algum anjo que o trouxe para a nossa praia! Avançou Maria com a sua vozita doce. Chega de conversa, meus amigos. Interrompeu Rafael – Como diz o avô Santiago, se nos pusermos para aqui a conversar, lá se vai a nossa história. Deixemos as perguntas para depois. Ora, nem mais. disse o avô Santiago Estás a mostrar alguma maturidade, Rafael. Vamos lá à história. Afinal, já nem sei onde ia. Acho que me perdi. - Caluda, Rita – disse Rafael dirigindo-se à amiga – Não vamos fazer mais perguntas ao avô, só no fim da história. Mas Rita era muito curiosa e intempestiva e a curiosidade levava a a querer saber tudo sem grandes delongas ou escusas.Aminha mãe conta nos muitas vezes, nas noites de inverno, ao serão a história de um menino que um dia apareceu aqui na Aldeia Santiago. Eras tu, avô?

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A mãezinha disse um dia Que minha avó lhe falou Num menino que dormia Na areia e eis que acordou. Era lindo, moreninho, Tinha ainda pouca idade; Tinha fome, coitadinho, Triste essa realidade.

20 Estava só, não sabia Da família, onde morava, Poucas palavras, dizia E para o mar apontava. Mas ninguém o entendia Nem sabiam a certeza Das horas que não via Alimento à sua mesa.

Algum nome ele há de ter Cochichava se baixinho Vamos dar lhe de comer E cobri-lo, pobrezinho! Então, alguém teve a ideia De lhe chamar Santiago Que era o nome lá da aldeia Que lhe serviu por afago.

Logo, a generosa gente que o acolheu o levaram para casa do senhor Prior que de imediato se deslocou às autoridades para as inteirarem do seu aparecimento e tentarem identifica lo. Mas, por mais que procurassem, nunca conseguiram saber quem era a pobre criança achada na praia. Assim, o menino permaneceu na Aldeia Santiago e ali passou a ser tratado como se fosse um filho de todos eles. E todos contribuíam para o seu bem estar. Brincava como todas as crianças, desenvolveu os seus estudos e fez-se um homem.

Sabe, avô disse dirigindo se expressamente a Santia go Depois de ouvir esta história, fiquei muito curiosa e

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perguntei à minha mãe quem era esse menino. Mas ela nunca me respondeu Bem, acrescentou ele Recomecemos a nossa história. Quem sabe, ao fim da mesma, possamos aprender alguma coisa. Havia um garrafão gigante numa ilha deserta, no fundo do mar, do qual ninguém podia entrar ou sair. Verdade seja dita, a vida lá dentro assemelhava se a um pequeno paraíso. Era uma espécie de um mundo separado, onde nada faltava. Dentro de si viveriam uns mil

23 habitantes, felizes, capazes de viver com tudo aquilo que ali se produzia. Não faltava sequer uma bela praia onde bandos de gaivotas voavam ao redor ao longo dum céu azul e límpido, banhado por um sol brilhante. Ao largo da praia, havia um barco que ora era usado para pescar, ora para lazer dos seus habitantes. Ao longe, lá estava aquele farol, sempre a piscar. Um mundo perfeito. Nenhum dos habitantes ousara questionar sobre o motivo porque no topo do gargalo existia um tampão negro que impedia a entrada ou saída fosse de quem fosse. E isso até que não os preocupava, viviam contentes e felizes e não era motivo de qualquer tipo de preocupação.

24 O mundo é diferente Aqui no fundo do Mar E o nosso povo, a gente, Gosta muito de cá estar. –

Um pequeno paraíso, Tinham rei, tinham rainha E se algo era preciso, Havia alguém que o tinha.

A tampa do Garrafão Só o rei podia abrir, Um toque com seu pendão E já podia sair.

25 E ninguém questionava Porque só o rei saía, Era feliz quem lá estava Vivendo em paz e harmonia.

Como em todos os lugares do mundo, havia alguém que governava o imenso Garrafão. Ali não era diferente. Tinham o seu Rei e a sua Rainha. Sob o mundo no exterior do Garrafão, ninguém se questionava. Nada lhes faltava! E assim viviam alegres e felizes durante longos anos. Mas um dia, tudo mudou. Numa dessas saídas misteriosas, o Rei e a Rainha partiram e passados muitos dias não tinham ainda voltado. Aquela gente que não estava acostumada a ficar tanto tempo sem eles, começou se a questionar. Depressa, começaram a surgir coisas que não

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Logo, apareceram pessoas ávidas de poder. Aqueles que se mantinham ainda fieis ao seu Rei, lutavam para que se instalasse de novo o bem estar entre o povo. Mas não demorou muito tempo e as forças que lutavam por alcançar o poder, foram ganhando mais força. Antes que se instalasse a desordem total, um pequeno grupo de resistentes tentava preservar a vida dos filhos do Rei. Ao ouvir o desenrolar da história, as crianças prestavam agora a maior atenção, não escondendo a sua perplexidade.

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estavam bem. Apareceram os primeiros conflitos, as invejas foram se instalando por toda a parte e bem depressa, o mal foi-se instalando no Reino do Garrafão.

28 As crianças escutavam O que o avô lhes dizia E logo o questionavam, Mas ele não respondia. Elas gostavam de ouvir As histórias do avozinho, Algumas os faziam rir, Outras, mais triste o caminho.

29 Mas Santiago, o velhinho Olhava cada criança E tão cheio de carinho Contava contos da infância Da sua amada irmãzinha Nada mais sabia dela Tão frágil essa menina E para todos tão bela. Às vezes, na noite escura Olhava para o imenso céu E lançava se à procura Da mana que Deus lhe deu.

30 - Continue, avô! O rei tinha filhos? – perguntava curioso oSim,Tiago.o rei tinha dois filhos gémeos, um menino e uma menina. Na realidade, quase ninguém sabia disso, era um segredo muito bem guardado. - Mas se tudo estava bem dentro do Garrafão – questionou Rita - porque razão não deveriam saber da existência

31 dessas crianças? Que mal viria ao mundo se alguém soubesse? insistia Rita. - Ai, Rita, Rita! Sê mais paciente, pequena. - respondeu o avô Santiago – Vamos lá ouvir o resto da história. Logo vais entender a razão desse segredo. Se te contar tudo duma vez, a história perde a sua magia! Pronto, avô, está bem. Conte lá a história, estamos curiosos – disse, acomodando se o melhor que podia sobre o tapete daquela sala.

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Como assim, Avô Santiago? – gritou aOuve,Rita.

Rita, não teprecipites. Se elas ali permanecessem, a sua vida ficaria em perigo. Avô Santiago. Se só o Rei e a Rainha conseguiam sair do Garrafão, como poderiam eles salvar crianças? – questionou Rafael.

Continuando. Como estava a dizer, as duas crianças eram cuidadas por uma ama já de certa idade, cujo nome era Quitéria. Toda aquela gente pensava que as crianças eram suas netas. Realmente, Quitéria tinha três filhas, cujos nomes eram Esperança, Caridade e Felicidade. Todas elas cresceram e se dedicaram a ensinar aos pequenos príncipes tudo o que elas necessitavam para se preparar para a vida no futuro. Mas naquele dia, o Rei e a Rainha saíram não voltaram ao Mundo do Garrafão. Se alguma coisa lhes acontecesse, seriam elas que ficariam incumbidas de fazer com que todas as crianças do Mundo do Garrafão desaparecessem… - Desaparecessem?

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Havia uma saída secreta lá no mundo do Garrafão. Se algo acontecesse ao Rei e à Rainha, uma porta secreta se abriria e quem tivesse consigo os príncipes, encaminhá las ia e pô las iam a salvo junto com todas as outras crianças. Mas, se não saíssem muito rapidamente, a porta fecharia todos se perderiam. A ganância pelo poder era já tão grande que logo o medo se instalou por toda a parte. Quitéria e as filhas viraram se como puderam e rapidamente encaminharam todasas crianças para o ponto

34 da saída. Quando ali chegaram, colocaram uma espécie de amuleto no pescoço de cada uma. Seria esse amuleto que deveria acionar o mecanismo que abriria a porta, por escassos momentos, se algo de anormal acontecesse, teriam que regressar sem perda de tempo ao Mundo do Garrafão. E de repente…

35 Instalou se a confusão E a porta secreta fechou E todos, com mão na mão, Cada qual se separou. Seguiram o seu caminho, Acionando o seu pingente, Esperando que o destino Os livrassem novamente. Muitos anos se passaram… No Mundo do Garrafão, Daqueles que lá ficaram, Não se sabe delas não…

No meio daquela confusão, logo que a porta se abriu, a multidão correu em pânico e nadou desenfreada, sem destino algum. Quitéria e as filhas, Esperança, Caridade e Felicidade, permaneceram frente à porta secreta, evitando assim que mais alguém saísse. E logo a porta se fechou e as crianças ficaram entregues à sua própria sorte, à espera que do amuleto recebessem qualquer mensagem que as orientassem.

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Então, avô Santiago… eras tu uma dessas crianças? questionava Rita de olhos arregalados. - Como vais saber agora quando podes voltar ao Garrafão? - perguntou Tiago. Um silêncio sepulcral se instalou naquela sala. Todos queriam ouvir o avô.

Não sei nada dela desde que nos separamos naquela viagem para cá. respondeu Espero que o amuleto me diga o que fazer quando chegar a hora de regresso ao meu Mundo do Garrafão.

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Conta lá avô, Santiago insistiu Rita, cheia de ansiedade – Não nos vai abandonar, pois não?

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Como irias tu encontrar a tua irmã, Avô Santiago? -perguntou perplexo Matias.

Mas se esse menino és tu, onde está a tua irmã? – insistiu Rita lacrimosa O que aconteceu à tua irmãzita?

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Calem se, por favor, e deixem o avô Santiago contar o resto da história resmungou Tomé. Santiago olha bem no fundo o olhar de cada um, respira vagarosamente, levanta-se do tapete e de novo afaga a cabeça de cada uma das crianças. Sabes, avô Santiago, se esse menino és mesmo tu, não queremos que te vás. Iriamos sentir muito a tua faltava. Disse Maria com voz trémula e as lágrimas a correrem lhe pela face. .

38 Como a vais reconhecer Não faz parte de ti! E mesmo se aparecer, Pode bem ficar aqui. Se o amuleto o disser, Vou voltar ao Garrafão Depois, se Deus o aprouver, Encontrarei solução.

39 Voltarei a ser criança Ali junto do meu povo E os tempos de bonança Irei vivê los de novo. E não vais voltar aqui? Logo perguntou Tomé. - A vida que até hoje vivi Me vai ditar como é. Se algum dia hei de voltar, O vai dizer meu destino E quando o dia chegar, Serei o vosso avozinho. Nunca vos vou esquecer, Estais no meu coração E em todo o meu viver, Sentireis minha afeição.

Pois seja como o destino quer. Rematou Tomé, muito seguro de si Poderemos dizer que tivemos sorte em te ter connosco, se não fosse assim, nunca teríamos tido o privilégio de ouvir contar as histórias do avô Santiago, que nunca vamos esquecer. Tomé, o mais velho do grupo, sempre se mostrara um jovem perspicaz e pragmático, apesar dos seus dez anos. Contavam os seus pais que Santiago aparecera lá pela

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- Qual a razão porque nunca casaste? – acrescentou Maria Se o tivesses feito, poderias ter hoje filhos ou até netos da nossa idade! Sabem? Todos temos uma missão a cumprir e mais tarde, ou mais cedo, vou ter que cumprir a minha, partir e reconstruir o meu mundo no Paraíso do Garrafão.

Agora, todas as crianças tinham a certeza de que ele era o pequenino príncipe, filho do Rei Silvério e da Rainha Castidade.AvôSantiago,

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- E depois? Nunca mais te iremos ver? – perguntou MatiasNuncainconsolável.vosireiabandonar responde com olhar triste. Pois, pois, vais levar nos no coração. É isso que queres -dizer?Avô, quando te fores embora, não te vais despedir de nós? choramingou Mariana. Vá, não façam disso uma tragédia. Estais no meu coração e fazeis parte de mim. No dia em que me for embora, quero ver os olhos de cada um a brilhar, confiantes de que nos voltaremos a encontrar. Mostra nos o teu amuleto, avô pediu a Rita.

como se chama a tua irmã? Safira. Há dias em que sinto tanto a sua falta que nem sei como explicar. Depois, olho para cada um de vós e sinto me o homem mais feliz do mundo.

Aldeia Santiago há mais de quarenta ano. Veio do nada.

42 Vou mostrar vos o amuleto Que é azul da cor do céu E que reside discreto Algures, segredo meu. Quando em vossa companhia, Ganha mais brilho, mais cor, Transparece de alegria Quando sente o vosso amor.

43 Às vezes fica encarnado, Parece um raio de luz, Mas quando estais ao meu lado É uma pedra que seduz. Tem raios da cor do sol, Reveste se de amarelo Quando avista um girassol Virado p’ra meu Castelo. Torna se multicolor Quando ávido me sorri, Um amuleto de amor Na vida que já vivi.

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Vão ficar surpreendidos. Quando chegar a hora, o amuleto vai emitir um sinal. Essa manifestação é a tradução de que está na hora de eu partir, de ir ao encontro de Safira, a minha maninha querida. Vais ser sempre o nosso avô Santiago. Nem sequer sabemos o teu verdadeiro nome! Queres revelá-lo para nós?

45 Sim, avô, prometemos não o revelar a ninguém. Repentinamente, o avô lança as mãos à camisola larga que usava e extrai do interior o amuleto, azul, límpido, da cor do céu. Todos abriram as bocas com espanto. Jamais pensariam ver uma pedra tão bela. Em seguida, recolhe a de novo e fica em silêncio. Passados uns momentos, prossegue:Omeuverdadeiro

nome é Salicas, um nome estranho para vós e que gostaria que convosco ficasse para sempre. Reparem, como o tempo voa! Está na hora de regressar as vossas casas, não tarda e chega a noite.

Depressa, as crianças se levantaram, pegaram nos seus pertences e cada um voltou ao seu lar, com a cabeça cheia de mistérios e histórias de encantar. Ali por perto, o avô Santiago pensava no regresso ao lar, quem sabe, um dia. Afastou se e preparou se para o seu recato, como fazia todos os dias, quem sabe se tinha pela frente uma noite mais calma nesse dia. E deitou se para descansar. Maso seu dia não tinha terminado ainda. Quando menos esperava, ouviu uma voz que o chamava:

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Salicas, está na hora de partir, meu irmão! Vem ter comigo, estou à tua espera. Vamos de volta ao nosso lar, ao Mundo do Garrafão. - Safira, minha irmã, que saudade, de ti, dos nossos pais, da família, da nossa gente. Não fiques triste, Salicas, é a hora de voltar. Nós sabemos que tudo o que nos aconteceu, tinha uma razão de ser. Coloca a tua mão direita no amuleto e quando eu contar até três, repetes as minhas palavras. Preparado?

48 Sim, vamos, Safira, já tenho o amuleto na mão.

Vamos a isso… Um, dois, três… - «Pela nossa vida, pelo nosso povo, pelo nosso paraíso, está na hora de partir, quando estas palavras proferir» Salicas, com a mão bem segura no amuleto, repetiu cada palavra. E logo. Num instante, se vê frente à irmãzita, que deixara de ver desde a noite em que abandonou o imenso Garrafão. A felicidade era sem medida, agora podia abraçá-la. Tinha tanta coisa para lhe contar, tantas perguntas a fazer!

Como anseio saber tudo o que se passou contigo desde esse dia, mana! Vamos ter tempo para isso, Salicas. Por agora, temos que nos apressar, hoje é de todo um dia especial, é o dia do regresso a casa, ao nosso lar. Não largues o teu amuleto. Depois, encosta te a mim e vamos repetir as palavras mágicas. Não te esqueças:

«Onde quer que eu vá, que a bondade, a castidade, a felicidade, a união e a força nos acompanhem. Que a força do Garrafão venha até nós e nos leve para casa» E assim, os dois irmãos seguiram de regresso ao Paraíso do Garrafão. Quando ali chegaram, tudo dormia, imaginavam há quanto tempo. Havia muito para fazer até que todos despertassem. Quando tudo se normalizou, foi a sua vez de descansar. Em sonhos, Salica, melhor, o avô

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Prometeu lhes então que estaria sempre em sua companhia e que à hora certa, lá estaria no lugar do costume para mais uma história. Talvez até um dia os levasse numa viagem ao Paraíso do Garrafão.

50 Santiago sonhou…. E viu se de novo na Aldeia Santiago, onde reapareceu nos sonhos de cada um dos netos que tanto amava. Apesar da missão que tinha para com o Paraíso do Garrafão, o coração dividia-se agora com a necessidade de estar em comunhão com os seus netinhos.

Convosco sempre estarei, Serei o vosso avozinho, E nunca vos negarei O meu amor e carinho. Dentro do meu coração Um mundo multicolor E tão cheio de ilusão, Vos falará deste amor. Agora, o meu Garrafão Ganhou mais vida e calor É grande a minha emoção Num mundo com tanta cor. Eu bem seu que a saudade Que sentimos nesta vida Vai ser a realidade Que a faz mais colorida.

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