FACULDADE VALE DO PIRANGA
ROSÂNGELA VELOSO ALVES DA SILVA
O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA ALÉM DO BRINCAR POR BRINCAR
Serra Talhada 2015 .
FACULDADE VALE DO PIRANGA
ROSÂNGELA VELOSO ALVES DA SILVA
O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA ALÉM DO BRINCAR POR BRINCAR
Artigo Científico apresentado à Faculdade Vale do Piranga – FAVAPI, como requisito para a conclusão do Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional, Clínica e Hospitalar, orientado pelo Prof. Ms. Cícero Lopes.
Serra Talhada 2015 1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA ALÉM DO BRINCAR POR BRINCAR Rosângela Veloso Alves da Silva¹ Resumo Este artigo tem como objetivo proporcionar reflexões sobre a importância do brincar na Educação Infantil como instrumento pedagógico numa perspectiva além do brincar por brincar possibilitando que o professor a conceber o brincar como instrumento de aprendizagem que possibilita o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança, bem como o seu conhecimento de mundo. O brincar é muito importante para as crianças, são nas brincadeiras que expressam seus desejos, suas emoções e constrói suas concepções de mundo a partir de suas experiências de vida. As brincadeiras infantis são ferramentas importantes de subsídio ao trabalho pedagógico. Infelizmente é prática de alguns professores conceberem o brincar na Educação Infantil como lúdico apenas, onde a criança pode ficar “à vontade” e, consequentemente não planejam as brincadeiras com objetivos que levem as mesmas a avançarem cognitivamente. Palavra-chave: Educação Infantil. O brincar na Educação Infantil.
O Brincar na Educação Infantil: Uma perspectiva além do brincar por brincar Introdução O lúdico é algo muito importante para as crianças, muitas vezes é nas brincadeiras que elas expressam seus desejos, seus medos, sua emoção e constrói suas concepções de mundo a partir de suas experiências de vida. Sabemos que, o ponto de partida para desenvolver o processo de ensino e aprendizagem é saber o que as crianças já sabem, no entanto indagamos: Como podemos descobrir o que as crianças já sabem no cotidiano escolar da Educação Infantil? Infelizmente muitos educadores não dão importância ao brincar, alguns têm a concepção de que a Educação Infantil é apenas um lugar onde as crianças podem ficar “à vontade” e muitas vezes não planejam as brincadeiras com objetivos que levem as mesmas a avançarem cognitivamente. É importante também, ressaltar sobre as necessidades das brincadeiras livres, criadas pelas próprias crianças. Mas, por outro lado, saber utilizar o brincar no cotidiano escolar de forma que a criança possa conhecer mais sobre si mesma e sobre os outros que com ela convivem, construindo autonomia e a sua identidade. Este trabalho surgiu a partir da observação do comportamento e desenvolvimento cognitivo de algumas crianças de escolas públicas da rede municipal de Serra Talhada inserida em turmas do 1º Ano do Ensino Fundamental. Diante da amplitude da rede, a pesquisa foi realizada em duas escolas situadas no Centro do município.
A observação durou
1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
aproximadamente três meses durante o início do ano letivo de 2015. Observamos, por exemplo, que as crianças oriundas de casa apresentavam mais dificuldades em socializar com o grupo, apresentavam timidez nas rodas de conversas e tinham pouca concentração nas realizações de atividades de raciocínio lógico e nas brincadeiras dirigidas. Quanto às crianças que já vivenciaram experiências de aprendizagens na Educação Infantil apresentavam uma maior desenvoltura nas atividades do cotidiano escolar, além de expressar autonomia eram mais desenvolvidas cognitivamente, tinham um bom relacionamento entre si, eram mais participativas nas aulas. O problema que inspirou esse estudo circunscreve-se em torno da seguinte questão: Qual a importância do brincar na Educação Infantil na perspectiva de aprender brincando e brincar aprendendo? Seria o brincar um componente fundamental para as diferenças de comportamento entre as crianças observadas? O objetivo geral da nossa pesquisa é averiguar a introdução das brincadeiras nas rotinas da sala de aula na Educação Infantil e a importância para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo das crianças. E os objetivos específicos são: Analisar o papel do brincar como instrumento de aprendizagem nas séries iniciais e principalmente na Educação Infantil. A intervenção pedagógica do professor na construção da aprendizagem da criança. Moyles (2002) ressalta o brincar na escola como um meio de aprendizagem que permite os adultos aprender mais sobre as crianças e suas necessidades. Possibilita o professor a detectar o nível de desenvolvimento cognitivo e afetivo de seus alunos e através destes dados promover novas situações de aprendizagens. É importante a participação do professor nas brincadeiras, ele é quem pode criar oportunidades de inovar suas aulas de forma prazerosa, aproveitando o lúdico com intenções educativas. Maluf (2003), diz que: “O brincar pode ser um elemento importante através do qual se aprende, sendo sujeito ativo desta aprendizagem que tem a ludicidade o prazer de aprender” (p.29).
1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
As brincadeiras e os jogos são ferramentas importantes de subsídio ao trabalho pedagógico do professor e seus alunos. É nas brincadeiras que as crianças aprendem muito sobre o mundo que está a sua volta e pelo qual estão inseridas desde o nascimento. Em linhas gerais, este trabalho está distribuído em três capítulos, abaixo apresentado: No capítulo 1, fundamentação teórica, aborda três tópicos: 1.1 Os que é brincar, 1.2 Por que é importante brincar, 1.3 O brincar na Educação Infantil e 1.4 A concepção de Piaget, Wallon e Vygotsky sobre o brincar.
No capítulo 2, aborda a Metodologia, com dois aspectos básicos:
2.1 Participantes e 2.2 Roteiros de observação. No capítulo 3, aborda a Análise de Resultados.
1. Fundamentação Teórica
1.1 Os que é brincar A criança está, desde o nascimento, imersa em um contexto social que por sua vez a identifica enquanto ser histórico. É através da brincadeira que ela estabelece relação, desde cedo, com a experiência sociocultural dos adultos do meio em que vive. Assim, é através da brincadeira que a criança encontra oportunidades de construir seu próprio conceito de mundo, visto que assimila e recria a experiência sociocultural dos adultos. Nesse sentido, Maluf (2003) destaca que não devemos considerar o brincar da criança como apenas uma imitação da vida dos adultos. O brincar não pode ser considerado apenas uma imitação da vida adulta, pois em cada fazer novamente a criança pode encontrar o significado da sua experiência relacionada ao seu contexto e colocar-se como agente de sua história que aceita uma realidade ou a transforma. (MALUF: 2003, p.19).
Brincar é uma realidade do cotidiano na vida das crianças, é uma atividade espontânea e muito prazerosa onde a imitação é um instrumento que permite às crianças relacionarem seu conhecimento com a realidade do mundo em que vive. A brincadeira é uma atividade cultural, é o resultado de relações interindividuais, portanto aprende-se a brincar.
1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
Maluf (2003) ressalta que o brincar é acessível a todos e independe da faixa etária que a pessoa se encontra, ou classe social ou até mesmo as condições econômicas, é uma necessidade de todo ser humano. Brincar é: comunicação e expressão, associado a pensamento e ação; um ato instintivo voluntário; uma atividade exploratória; ajuda às crianças no seu desenvolvimento físico, mental, emocional e social: um meio de aprender a viver e não um mero passatempo. (MALUF: 2003, p.17).
Para Vygotsky, no brincar a criança cria uma zona de desenvolvimento proximal por excelência ao assumir comportamentos que muitas vezes ainda não são os seus. Segundo Oliveira (1995), “O brinquedo também cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança, tendo enorme influência em seu desenvolvimento”. (p.66). É importante ressaltar que Vygotsky refere-se especialmente à brincadeira de faz de conta. Através do faz de conta à criança pode imaginar, imitar e criar, expressando espontaneamente seu conhecimento.
1.2 Por que é importante brincar? O brincar é um processo de suma importância no desenvolvimento e aprendizagem da criança. Através dessa atividade lúdica a criança vai organizando e desenvolvendo relações sociais. Assim, é importante brincar porque possibilita a criança realizar ações concretas e reais sobre o meio em que vive e conviver com diferentes sentimentos. O jogo e a brincadeira permitem reproduzir formas de agir sobre aquilo que já conhece, como no jogo de faz de conta, onde ela pode experimentar diferentes papéis sociais observados em seu contexto. O brincar é importante porque possibilita a cooperação e o respeito às regras, sendo este último um grande desafio para as crianças da Educação Infantil por na compreendê-las ainda. Maluf (2003) explicita que a brincadeira prepara a criança para aprender. Quando ela brinca está desenvolvendo a capacidade de ser ativo e participativo.
1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
A criança que não brinca poderá ter traumas profundos, por outro lado, quando participa das brincadeiras está vivenciando momentos prazerosos, desenvolvendo a imaginação e habilidades. Experimenta e explora o mundo adquirindo experiências. Smole (2000) ressalta que o brincar permite que a criança avance com mais intensidade na organização do pensamento por possibilitar na brincadeira um trabalho em grupo estabelecendo trocas de ideias. Faz uma colocação muito interessante a respeito da importância do brincar. Quando brinca o aluno amplia sua capacidade corporal, sua consciência do outro, a percepção de si mesmo como um ser social, a percepção do espaço que o cerca e de como pode explora-lo. (...) Brincar é tão importante e sério para a criança como trabalhar é para o adulto. (SMOLE: 2000, p.13).
A brincadeira favorece a autoestima das crianças e desenvolve a autonomia, quando brincam tornam-se aptas a tomar decisões. O jogo e a brincadeira na sala de aula são importantes porque permitem a criança a construir sua identidade e autonomia. A atividade lúdica oferece ocasião para as crianças elaborarem estratégias de pensamento e ação possibilitando-a a ampliar suas hipóteses sobre o conhecimento. É importante brincar porque a construção de aprendizagem se dá de forma significativa e prazerosa para as crianças. Quando a criança brinca está se deparando com desafios e problemas, como assinalado por Smole (2000). Através da brincadeira a criança manifesta seus desejos e sentimentos. Através do brincar a criança consegue expressar sua necessidade de atividade, sua curiosidade, seu desejo de criar, de ser aceita e protegida, de se unir e conviver com outros. (...) Ao brincar a criança adquire hábitos e atitudes importantes para seu convívio social e para seu crescimento intelectual e aprende a ser persistente, pois percebe que não precisa desanimar ou desistir diante da primeira dificuldade. (SMOLE: 2000, p. 14).
1.3 O brincar na educação infantil O brincar tem um papel essencial na Educação Infantil, cabe ao professor direcionar um olhar sobre a brincadeira na sala de aula promovendo-a com expectativa de não apenas desenvolver 1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
a coordenação motora de seus alunos, mas promover a socialização, a oralidade da criança, a afetividade e a cognição. Como já foi dito anteriormente, a brincadeira é um espaço de aprendizagem, é através dela que a criança prepara-se para aprender. O professor de Educação Infantil deve priorizar o brincar na sua prática pedagógica com objetivos claros a que venha subsidiar o seu trabalho. Infelizmente, muitas vezes isso não acontece nas suas rotinas diárias. A partir de nossas observações de sala de aula, verificamos que muitos professores têm didatizado a atividade lúdica com exercícios repetitivos de discriminação motora, visual e auditiva. Tais exercícios não favorecem o desenvolvimento do pensar e da curiosidade da criança, estimulando-a a achar que aprender é apenas repetir. É de suma importância que a Educação Infantil promova o brincar livre e o brincar dirigido. Moyles (2002) relata que é dentro do brincar livre que o professor deve procurar a aprendizagem real. A maior aprendizagem está na oportunidade oferecida a criança de aplicar algo da atividade lúdica dirigida a alguma outra situação. (...) Por meio do brincar livre, exploratório, as crianças aprendem alguma coisa sobre situações, pessoas, atitudes e respostas. (...) Por meio do brincar dirigido elas têm outra dimensão e uma nova variedade de possibilidades estendendo-se a um relativo domínio dentro daquela área ou atividade. (MOYLES: 2002, p.33).
A Educação Infantil deve garantir situações de interação social da criança, cabe ao professor conhecer e considerar as suas singularidades. Sabemos que o professor é o mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento. Além disso, como nos mostra o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), é o professor que ajuda a estruturar o campo das brincadeiras com objetivos w a partir delas observar como as crianças estão em seus processos de desenvolvimento. Quando brinca, a criança recria e estabiliza o que já conhece sobre a mais diversa esfera do conhecimento através da imaginação. A brincadeira não é um mero passatempo, mas promove situações que ajude a criança a superar os problemas existentes, a criar soluções novas, a pensar e agir em função de um objetivo, a se comunicar, a vivenciar regras, etc. Quanto mais oportunidades a criança tem de
1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
vivenciar as brincadeiras terá melhores condições de desenvolvimento do raciocínio e da linguagem. O brincar é fundamental para que a criança obtenha um desenvolvimento integral. Afirma Maluf (2003) que, quando a criança exercita a brincadeira ela reorganiza seus pensamentos e emoções. Assim, percebemos que o professor precisa não apenas observar as crianças brincarem, mas participar delas, fazendo as devidas intervenções. A escola não pode ser concebida apenas como mediadora do conhecimento, mas como um lugar de construção coletiva e organizadora, onde professor e alunos juntos possam buscar inovar a prática pedagógica a partir do seu contexto, possibilitando um trabalho construtivo e inovador.
1.4 A concepção de Wallon, Piaget e Vygotsky sobre o jogo e a brincadeira. Para Wallon (1989), o movimento é visto primeiramente como uma função expressiva, quando há interação entre o bebê e os adultos através de gestos e expressões faciais. Posteriormente o movimento passa a ter uma função instrumental, a criança passa a conhecer e explorar o mundo físico. Nesta fase a criança relaciona o movimento ao pensamento, ela começa a imitar a ação de outros seres que estão a sua volta. Necessita expressar através do corpo, na roda de conversa, gesticulando. Segundo Wallon, o movimento é apresentado de três formas importantes no processo de desenvolvimento. A primeira forma são os movimentos de equilíbrio, onde a criança passa da posição deitada para sentada, depois de joelhos até conseguir ficar de pé. Cada avanço corresponde uma conquista de espaço e consequentemente mudanças de pensamentos. A segunda forma são os movimentos de preensão e locomoção, ao deslocar o corpo e os objetos no espaço concebe uma nova concepção de si mesma e sobre o domínio do espaço. A terceira forma são as reações posturais, onde os deslocamentos dos seguimentos do corpo permitirão que realizem atividades expressivas e mímicas. Para Wallon existe uma relação entre a função postural e a aprendizagem da criança, por ela dá sustentação à atividade cognitiva. A criança aprende através da expressão corporal e ao experimentar desafios motores. 1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
Portanto é necessário que a Educação Infantil garanta a diversificação dos movimentos motores e o aumento da complexidade deles, considerando o desenvolvimento da aprendizagem da criança. Propor situações de exploração e descoberta do movimento vai contribuir em trabalhar questões atitudinais, de relacionamento, resolução de problemas, bem comum nos jogos e brincadeiras. Wallon considerava que o pensamento da criança se constitui em paralelo à organização de seu esquema corporal e na criança pequena o pensamento só existe na interação de suas ações físicas com o ambiente. Segundo Wallon antes do aparecimento da fala a criança se comunica com o ambiente através de uma linguagem corporal e utiliza o corpo como uma ferramenta para se expressar, seja qual for o nível evolutivo ou o domínio linguístico em que se encontre. (SMOLE: 2000, p.15).
Já na concepção piagetiana também podemos compreender a importância do brincar para as crianças. Ao estudar a gênese do pensamento humano, Piaget observou crianças e percebeu que desde o nascimento elas têm a inteligência motora. Na concepção piagetiana, o jogo é essencial na vida da criança, sendo observados três tipos de jogos: de exercício, simbólico e de regras. O jogo de exercício é aquele que a criança repete a mesma ação, mas por puro prazer. O jogo simbólico é aquele que a criança executa a representação (faz de conta), relembrando mentalmente a ação. Posteriormente surge o jogo de regras que é aquele em que a criança age socialmente, precisa do outro para executa-lo. Para Piaget (1978), o jogo constitui-se em expressão e favorece condição para o desenvolvimento infantil. Quando as crianças jogam estão assimilando, portanto, podem transformar a realidade. Se observarmos crianças com intenções investigativas de compreender e constatar o que Piaget estudou, podemos verificar que desde bebê, as crianças executam o jogo de repetição, portanto, Piaget atrela que os jogos de exercício são a primeira forma de a criança brincar. Assim, à medida que crescem, as crianças desenvolvem novas formas de brincar, mais complexas, envolvendo regras e símbolos. Já Vygotsky (1988), realça o papel da interação social no processo de desenvolvimento da criança. Esta interação é vista como uma das formas privilegiadas de acesso às informações. São as interações que as crianças fazem que possibilitem a compreender as regras de um jogo. 1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
Para Vygotsky, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. Considera que através das zonas de desenvolvimento real e proximal é que se dá a aquisição do conhecimento. Relembramos que a zona de desenvolvimento real é a do conhecimento já adquirido, é o que a criança traz consigo, possamos dizer o conhecimento prévio da criança. A zona de desenvolvimento proximal (ZDP) refere-se à distância entre o desenvolvimento real (o que a criança já sabe) e o desenvolvimento potencial (o que ela é capaz de aprender com ajuda). Assim, é a ZDP o espaço por excelência da aprendizagem da criança, através do auxílio de um adulto ou outra criança mais experiente. Vygotsky afirma que a brincadeira cria uma zona de desenvolvimento proximal porque quando brincam as crianças são desafiadas a resolver problemas e necessita da ajuda do outro. O brinquedo também tem uma enorme influência no desenvolvimento da criança. É através dele que aprende a agir numa intenção cognitiva quando é incentivado e oferecido com esta intenção. É preciso que os professores tenham acesso ao conhecimento científico produzido na área da Educação Infantil sobre a importância do brincar na escola, para repensarem sobre sua prática, não apenas em aplicar propostas, mas atuarem efetivamente na construção do conhecimento de suas crianças. Planejar é preciso e quando isso acontece traçamos objetivos o qual consideramos relevantes para nossa turma. É de suma importância que o professor observe e participe das brincadeiras junto com seus alunos. Como afirma Maluf (2003), é através das oportunidades promovidas pelo professor que o mesmo poderá direcionar na criança um novo olhar para a construção do seu conhecimento. É o adulto quem proporciona oportunidades, mas é indispensável que respeitemos o momento da descoberta. (...) A participação do adulto nas brincadeiras com a criança eleva o nível de interesse pelo enriquecimento que proporciona, podendo também contribuir para o esclarecimento de dúvidas referentes às regras das brincadeiras. (MALUF: 2003, p.30).
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Percebemos como é importante a interação social para o desenvolvimento da autonomia da criança. O professor também é um interventor que ajuda a criança na zona de desenvolvimento, para que ele venha intervir com coerência é importante que considere a prática do registro. Quando registramos as observações que fazemos com intenções de detectar o nível de conhecimento das crianças podemos ter em mãos um “mapa” que nos direcionará qual o momento e o caminho certo para fazermos as intervenções. Saber o ponto de partida é competência do professor e a partir daí encontrarão caminhos melhores para trilhar um avanço de seus alunos. Por outro lado, o professor precisa ter uma postura de pesquisador. A prática da sala de aula é importante mais paralelo a ela deve está a leitura de pesquisas científicas a respeito da Educação Infantil. 2. Metodologia
2.1. Participantes
Foram observadas crianças do 1º Ano do Ensino Fundamental I da Rede Municipal de Ensino de Serra Talhada de duas escolas localizadas no Centro da cidade. Primeiramente foi feito uma diagnose da turma a fim de detectar os alunos que antecediam de Ensino Infantil. Em posse deste resultado foram escolhidas 12 crianças. Da Escola A foram 6, 3 que nunca frequentaram a escola e 3 que frequentaram Educação Infantil. O mesmo processo foi feito com a Escola B. Quanto à estratégia de observação aconteceu em vários momentos da rotina escolar dos estudantes: Rodas de leitura e roda de conversa, atividades de escritas, atividades lúdicas na sala de aula e recreio. A observação e o registro aconteceram durante três meses, duas vezes por semana durante todo o horário escolar (07h30 às 11h30).
2.2 Procedimento
Elaboramos o roteiro de observação para cada aluno a fim de resgatar quais avanços (cognitivos, afetivos e emocionais) de criança e comparar as categorias dos grupos, em que 1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
momentos e como se davam os avanços. Sabendo que na Educação Infantil os jogos e as brincadeiras são frequentes nas suas rotinas constatamos um bom desempenho por parte das crianças que já tiram experiências anteriores com esse tipo de atividade. Através do mapa norteador construído no decorrer das observações feitas nas escolas A e B da rede municipal de Ensino de Serra Talhada também fizemos pesquisas bibliográficas e comparamos diferentes concepções de autores sobre o tema abordado.
3. Análise dos Resultados
Com o resultado dos dados coletados, a observações na sala de aula e fundamentação teórica nos conduziram com segurança à análise final dos resultados. Podemos considerar que o uso do brincar como ferramenta pedagógica na Educação Infantil estimula a atividade psicomotora, favorece a concentração, a imaginação, possibilita o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança. Quando a criança interage, desde Educação Infantil com o brincar como objeto prazeroso em aprender, fica mais motivada a usar sua inteligência, esforça-se para superar obstáculos, tanto cognitivos quanto emocionais. As múltiplas possibilidades de autoconhecimento possibilitadas pelas brincadeiras contribuem para tornar a criança mais segura, autoconfiante, consciente de seu potencial e de suas limitações. O grupo de criança que experimentou o brincar como estratégia de aprender além de apenas brincar por brincar apresentou avanços significativos observáveis no decorrer da pesquisa.
Considerações Finais
Os resultados obtidos neste artigo confirmam o que salienta Maluf (2003), o professor que trabalha com Educação Infantil deve saber que o lúdico é parceiro importante e através dele se aprende. Percebemos que o grupo de crianças que estava inserido num contexto de Educação Infantil que priorizava a aprendizagem por meio das brincadeiras foi considerado um grupo propício a 1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
enfrentar novos avanços na aprendizagem com autonomia. É importante que o professor que trabalha com Educação Infantil conheça seus alunos. No entanto, quando o professor possibilita que a brincadeira aconteça dentro da sala de aula, está oportunizando a criança a organizar suas relações emocionais, se conhecendo melhor e aceitando a existência do outro.
É preciso que os professores se coloquem como participantes, acompanhando todo processo da atividade, mediando os conhecimentos através da brincadeira, do jogo e outras atividades. (MALUF: 2003, p. 33).
A brincadeira quando considerada como espaço privilegiado dentro da sala de aula promove o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. Uma brincadeira para ser interessante pode ser inventada, escolhida pelas crianças ou mesmo proposta pelo professor. O importante é que envolva uma situação que desperte o interesse, situações lúdicas interessantes, dando a criança liberdade de ação física e mental, onde ela possa tomar decisões, enriquecer suas competências imaginativas e criativas. A participação e intervenção do professor são importantes por ser ele o mediador do conhecimento, considerando que é ele que tem o conhecimento científico, que avalia que objetivos pode alcançar propondo aquele tipo de brincadeira ou jogo. Segundo Maluf (2003), o professor que trabalha com Educação Infantil deve saber que o lúdico é parceiro importante e através dele se aprende.
As brincadeiras enriquecem o currículo, podendo ser propostas na própria disciplina, trabalhando assim o conteúdo de forma prática e no concreto. (...) O professor é quem cria oportunidades para que o brincar aconteça de maneira sempre educativa. (MALUF: 2003, p. 29).
É importante que o professor de Educação Infantil valorize o movimento natural e espontâneo da criança. Muitas vezes temos priorizado o conhecimento estruturado e formalizado e ignoramos a grande dimensão educativa da brincadeira e do jogo.
Concluímos que ainda há um grande caminho a percorrer no sentido de que os educadores vejam nas brincadeiras um grande aliado ao processo de ensino e aprendizagem. Este estudo mostra a necessidade de se propor reflexões na escola sobre a importância do brincar com a perspectiva além do brincar por brincar. É importante que se perceba a importância do jogo e 1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica
da brincadeira na Educação Infantil como forma rica e poderosa de estimular as competências investigativas, construtivas e criativas da criança.
Referências
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MALUF, Â. C. M. Brincar: Prazer e Aprendizado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
MOREIRA, P. R. Psicologia da Educação, Interação e Identidade. São Paulo: FTD, 1996.
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OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento, Um Processo Sócio Histórico. São Paulo: Scipione, 1995.
SMOLE, K., DINIZ, M. I. & CÂNDIDO, P. Brincadeiras Infantis nas Aulas de Matemática. Matemática de 0 a 6 anos. Porto Alegre: Artmed, 2000. 1 Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE). Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Funcionária Pública da Rede Municipal de Ensino do Recife. Atualmente cedida à Secretaria Municipal de Educação de Serra Talhada onde atua como Coordenadora Pedagógica