Especialização em Filosofia Clínica – 1º período (módulos: I- IV)
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Especialização em Filosofia Clínica – 1º período (módulos: I- IV)
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Fortaleza, Ceará, Fevereiro de 2014. Carta I - de boas-vindas ao curso de Filosofia Clínica Prezado aluno, Seja bem-vindo ao nosso curso pós-graduação em Filosofia Clínica. Durante um período previsto para o curso de dezoito meses, estaremos juntos a cada um sábado por mês com o objetivo de formação humana. Através de uma grade curricular organizada pelo Instituto Packter e assegurada pelo Conselho de Ética, mais o apoio da Associação Nacional dos Filósofos Clínicos vamos gradualmente avançando nos conhecimentos da clínica filosófica. A jornada será longa para alguns, para outros ela pode ficar pelo caminho, haverá aqueles em que a jornada tem começo, meio e fim; mas há também os que farão desta jornada, caminhos, veredas, trilhas, rumos, destino. Bom, com muito mais para dizer, detenho-me para finalmente apresentar o nosso curso por módulos. Boa sorte, coragem, disposição para aprendermos novas lógicas, linguagens outro modo de conhecer o que se conhece e o que não se conhece, e o que não se conhecerá. Outra maneira de fazer terapia que consiste em ocupar-se com o mundo existencial da outra pessoa, com o objetivo de acessar vivências que permitirão ensinamentos, experiências, variações existenciais. Rose Pedrosa Filósofa clínica Professora titular
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FILOSOFIA CLÍNICA
NOME
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Lúcio Packter é natural de Porto Alegre.
De
tradicional
família
de
médicos e cirurgiões. Sua formação abrange
Medicina
e Filosofia,
com
pós-graduação. Durante a década de 80, pesquisou o que mais tarde denominaria
Filosofia
Clínica. Em 1994, abriu o Instituto Packter, uma
instituição
direcionada
à
pesquisa, à clínica e à formação de filósofos clínicos. Lúcio Packter implantou a Filosofia Clínica na Cidade de Fortaleza em 1998. Na ocasião, recebeu apoio do Diretor do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará, Professor Morais.
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A ocupação primeira de um filósofo clínico, formado e em formação, segundo eu penso, deve ser com a qualidade de seus estudos e de suas pesquisas. Todas as demais questões dependem desta. Lúcio Packter.
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Programa do curso
Curso: Filosofia Clínica Período Letivo: 2014.1-2015.1 Carga horária 780 h/a
1º Período Estrutura curricular Módulo I – 40 horas/ aula - Fevereiro, dia 08 (segundo sábado do mês). - Introdução: o que é e como funciona a Filosofia Clínica Módulo II – 40 horas/ aula - Março, dia 08 ( segundo sábado do mês). - Exames das Categorias: a localização existencial da pessoa no ambiente. Módulo III – 40 horas/ aula - Abril, dia 12 ( segundo sábado do mês) - Historicidade: como realizar a historicidade da pessoa, problemas, orientações. Módulo IV – 40 horas/ aula - Maio, dia 10 (segundo sábado do mês). - Tópicos I a III da Estrutura do Pensamento: Como o Mundo Parece, O que Acha de Si Mesmo, Sensorial & Abstrato. CH Total - 160 horas/aula
2º Período Estrutura curricular Módulo V – 40 horas/ aula - Junho, dia 07 (primeiro sábado do mês). Tópicos IV e V da Estrutura do Pensamento: Emoções e Pré-Juízos. Módulo VI – 40 horas/ aula - Julho, dia 05 (primeiro sábado do mês). Tópicos VI, VII, VIII, IX da Estrutura do Pensamento: Termos Agendados no Intelecto, Termos Universais, Particulares, Singulares, Termos Unívocos e Equívocos, Discurso Completo e Incompleto. Módulo VII – 40 horas/ aula - Agosto, dia 09 (segundo sábado do mês). Tópicos X, XI, XII da Estrutura do Pensamento: Raciocino, Busca, Paixões Dominantes. Módulo VIII – 40 horas/ aula - Setembro, dia 06 (primeiro sábado do mês). Tópicos XIII, XIV, XV da Estrutura do Pensamento: Comportamento e Função, Espacialidade, Semiose. CH Total - 160 horas/aula
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3º Período Estrutura curricular Módulo IX – 40 horas/ aula - Outubro, dia 11 (segundo sábado do mês). Tópicos XVI, XVII, XVIII da Estrutura do Pensamento: Significado, Armadilha Conceitual, Axiologia. Módulo X – 40 horas/ aula – Novembro, dia 08 (segundo sábado do mês). Tópicos XIX, XX, XXI da Estrutura do Pensamento: Tópico de Singularidade, Epistemologia, Expressividade. Módulo XI – 40 horas/ aula - Dezembro, dia 06 ( primeiro sábado do mês). Tópicos XXII a XXVI da Estrutura do Pensamento: Papel Existencial, Ação, Hipótese, Experimentação, Princípios de Verdade. Módulo XII – 40 horas/ aula – Janeiro, dia 03/2015 (1º sábado) Tópicos XXVII a XXX da Estrutura do Pensamento: Análise da estrutura, Interseções de estrutura de pensamento, Dados da matemática simbólica, Autogenia. Módulo XIII – 40 horas/ aula – Fevereiro, dia 07/2015 (1º sábado) Ética Profissional CH Total - 200 horas/aula
4º Período Estrutura curricular Módulo XIV – 40 horas/ aula – março, dia 07/2015 (1º sábado) Disciplinas Didático-Pedagógicas sob o enfoque da Filosofia Clínica Módulo XV – 40 horas/ aula – Abril, dia 11/2015 (2º sábado) Caderno Médico: noções de neurofisiologia, psiquiatria e farmacologia para filósofos clínicos. Módulo XVI – 40 horas/ aula – Maio, dia 09/2015 (2º sábado) Procedimentos Clínicos – parte I Módulo XVII – 40 horas/ aula – Junho, dia 06/2015 (2º sábado) Procedimentos Clínicos – parte II Módulo XVIII – 40 horas/ aula – Julho, dia 11/2015 (2º sábado) Procedimentos Clínicos – parte III CH Total - 200 horas/aula
Elaboração do artigo para conclusão do Curso – 60 hora À medida que dois terços da grade estiver integralizada, o discente poderá solicitar um ao Titular do Centro que um dos professores que lecionaram para ele, possa começar a orientação do seu TCC. 6
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Módulo I – 40 horas/ aula
Introdução: o que é e como funciona a Filosofia Clínica Fevereiro, dia 08/2014
Bibliografia básica: PACKTER, Lúcio. Filosofia Clínica – propedêutica. / Caderno – A. PEDROSA, Rose. Vocabulário Técnico de Filosofia Clínica. / KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. / FOUCAULT, Michel: O Nascimento da Clínica. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade com representação. CANGUILHEM, Georges. O Normal e o Patológico. Resumo: História: Lúcio Packter, criador da Filosofia Clínica. Definição: Os pressupostos filosóficos. Os Postulados. O Funcionamento: Método, Fundamento e Aplicação. Características da teoria clínica: Solipsismo e Subjetividade, Limitação, lugar de atendimento, procedimentos iniciais. Instrumentos Básicos da clínica filosófica: Entrevista, Historicidade, Exames Categoriais, Estrutura do Pensamento, Submodo e Autogenia.
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Filosofia Clínica: Uma Introdução à Psicoterapia Filosófica, de Lúcio Packter Por Rose Pedrosa
A presença da Filosofia Clínica na área de humanidades das Academias despertou diferentes ditames. Para a Filosofia acadêmica, a princípio, a problemática em torno dos universais. Para as áreas psicoterapêuticas, a tradição questiona a competência teórica para o exercício da atividade filosófica aplicada à terapia do indivíduo. Ao longo deste Curso pretendemos esclarecer a partir dos fundamentos e métodos da Filosofia Clínica a sua prática no uso do conhecimento filosófico à psicoterapia. Tanto quanto, contextualizar as contraposições erguidas diante da Filosofia Clínica pelo fato de sua novidade abalar fronteiras epistemológicas. Inicialmente o filósofo clínico Lúcio Packter (Caderno A) define Filosofia Clínica como sendo: O uso do conhecimento filosófico à psicoterapia (A Filosofia Clínica é psicoterapia fundada e sistematizada na Filosofia). A atividade filosófica aplicada à terapia do indivíduo (A filosofia clínica é filosofia). “As teorias filosóficas empregadas às possibilidades do ser humano enquanto se realiza por si mesmo.” (existencial e fenomenológica). Considerando as definições acerca da Filosofia Clínica enquanto psicoterapia, atentamos para a concepção anômala do termo psicoterapia na versão filosófico clínica quer dizer: a vivência da circunstância relacional (partilhante e filósofo clínico) objetivando remeter às pessoas envolvidas diferentes opções às questões por elas propostas; isso, com base nos procedimentos filosóficos clínicos. Especificamente, o 7
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filósofo situa-se entre as amizades de quem partilha uma trajetória de vida tendo-se nisso a busca de opções às problemáticas: nesse contexto, a psicoterapia praticada pela filosofia despreocupa-se primordialmente, como opção, com as curas médicas do estudo e da terapêutica das doenças mentais, afastando-se dos critérios como normal/patológico, doente/saudável, de tipologias. Todavia, localiza-se mais no âmbito da área de Humanidades, enquanto filosofia. Então, quem é o filósofo clínico? Packter responde: “O filósofo clínico é inicialmente o estudante de filosofia disposto a compartilhar um caminho incerto com outras pessoas, a atuar filosoficamente em cada endereço desse caminho tal, pois é em cada endereço que sua identidade se modela. Partilhando um período da existência de outro ser, sob a responsabilidade que o nomeou filósofo, sua identidade reside em sua posição dentro da situação vivenciada.” (Caderno-A). Inicialmente o que é fundamental ao entendimento do filósofo clínico na relação terapêutica com o outro, diz respeito a subjetividade e singularidade das vivências de cada um: Cada pessoa é a medida de todas as coisas. Como escreveu Protágoras, filósofo sofista: “O homem é a medida de todas as coisas/daquelas que são por aquilo que são e / daquelas que não são por aquilo que não são”. A Filosofia Clínica está longe do Solipsimo epistemológico, da crença filosófica de que, além de nós, só existem as nossas experiências. O solipsismo é a consequência extrema de se acreditar que o conhecimento deve estar fundado em estados de experiência interiores e pessoais, não se conseguindo estabelecer uma relação direta entre esses estados e o conhecimento objetivo de algo para além deles. Kant definiu três tipos de juízo: O juízo analítico a priori: Aquele que explica uma definição. O juízo sintético a posterior: Aquele juízo que resume uma experiência científica ou empírica. E o juízo sintético a priori: Aquele que é formado independentemente de qualquer experiência e por uma espécie de intuição intelectual obrigatória. O juízo em Filosofia Clínica é sintético a priori e também sintético a posteriori. Então, o entendimento passa por um ajuste entre o conhecimento subjetivo, singularizado na pessoa e o conhecimento objetivo instituído numa cultura, numa sociedade, numa época. Estes conceitos orientam a nossa prática: O filósofo clínico, a pessoa que busca seus serviços, cada um em si mesmo, a resultante da relação entre ambos, essa é a medida das coisas. Quando estamos diante de uma pessoa, de um acontecimento, de uma ideia, de alguma coisa que estamos vivendo, nós estabelecemos interseções com características:
Como cada coisa aparece para mim, assim ela é para mim. Como cada coisa aparece para ti, assim ela é para ti. - Protágoras.
Isso quer dizer que “aquilo que uma pessoa sente, vive, afirma, faz – isso é assim para ela – independente de ser compartilhado com as outras pessoas, de ser aceito, criticado, ironizado, proibido e assim por diante.” (PACKTER). 8
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Exemplo: o amor. Há quem diga que amar é proporcional a dificuldade da relação. E outros que optam por uma relação em que amar é facilitar a vida dos cônjuges.
“O mundo é representação minha”- Schopenhauer.
Isso quer dizer que a pessoa que se expressa exibe como representa o mundo para si mesmo. (Mas, o Schopenhauer advertiu que o mundo vai muito além da minha representação). Exemplo: O professor deve ser um educador propenso às mudanças, às singularidades e às subjetividades em sala de aula. Ainda acerca das singularidades, diz PACKTER: “São muitas as maneiras de se conferir que cada pessoa é ‘a medida de todas as coisas’ de seu próprio mundo, e embora a vida em sociedade até o momento nos cobre medidas semelhantes, como forma de coexistência, é fácil constatar que tais medidas semelhantes podem ocasionalmente coincidir em igualdade, mas geralmente não são iguais.” A partir destes dois Postulados surge um problema filosófico: Como é que fica a verdade? “Se cada pessoa tem sua opinião, somente dela, se vive cada acontecimento à maneira dela, se aquilo que é correto, nobre, bom, justo, verdadeiro, bonito, agradável, se tudo isso é algo que somente é assim para ela, no mundo que ela representou para si mesma” (PACKTER), então, como resolver entre tantas verdades, o que é verdade?
atividade 1. "Existe hoje egoísmo demais no mundo, muita soberba e ganância. As pessoas perderam os valores, nada existe mais de sagrado, de profundo. Tudo é superficial e sem graça. Os prazeres são imediatos, não há compromisso. Os jovens não sabem para onde vão e não se importam com isso. Mas ainda há tempo para se consertar as coisas."
Do ponto de vista da teoria da Filosofia Clínica, o pensamento acima, se considerarmos elementos oriundos de Schopenhauer na Representação: ( ) Constitui uma verdade geral em nossa época, mas as coisas podem melhorar. ( ) A pessoa fala de como entende o mundo, mas o mundo pode ser diferente para outra pessoa que considere o mesmo tema. ( ) O mundo perdeu seu rumo como consequência de um hedonismo e de um ateísmo práticos atuais. 9
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2. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso): 1 ( ) É certo afirmarmos que a Historicidade nos possibilita o estudo da Estrutura do Pensamento. 2 ( ) Estudamos os Exames das Categorias depois dos Submodos. 3 ( ) O filósofo clínico não pode lidar com pessoas depressivas, pois há o risco de suicídio. 4 ( ) A Filosofia Clínica usa o conceito de patologia somente para casos muito graves. 5 ( ) A Filosofia Clínica é principalmente um sistema hedonista.
3. Um filósofo clínico pode utilizar receituário? a. ( ) Sim. b. ( ) Não.
4. Leia o texto abaixo do filósofo Lúcio Packter (conversando com Lúcio Packter): O mundo como representação Por Lúcio Packter O mundo como representação é o tema da semana. Cada pessoa entende, percebe, sente
de maneira única? Ou todos entendem, percebem, sentem da mesma maneira, os mesmos conteúdos? Se cada pessoa possui um modo único de ser e de estar no mundo, como é possível a vida em partilha, em sociedade? Um dos mecanismos é aceitar a diversidade e unir tal diversidade mediante elementos comuns à maioria das pessoas; isso se traduz em normas, condutas, comportamentos universais. Uma primeira questão nesta semana é se a pessoa sabe diferenciar quando está diante de questões que pedem um modo de ser subjetivo ou um modo de ser objetivo. Mas consideremos que em muitos casos esta separação será complexa ou inviável. Leia o que escreveu Schopenhauer a respeito: “O mundo é representação minha... Quando o homem adquire essa consciência ...então sabe com clara certeza que não conhece o sol nem a terra, mas somente que tem um olho que vê o sol e uma mão que sente o contato de terra: sabe que o mundo circunstante só existe como representação, isto é, sempre e somente em relação com o outro ser, com o ser que o percebe, com ele mesmo... Tudo o que o mundo inclui ou pode incluir é inegavelmente dependente do sujeito, não existindo senão para o sujeito. O mundo é representação.” 10
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O mundo como representação é o nosso tema. Em alguns casos, há problemas entre os aspectos subjetivos e os dados objetivos; nem sempre eles caminham juntos. Nunca aconteceu a você de sentir receio, intuir algo errado, enquanto lá fora tudo caminhava em paz, bem, e suas impressões se revelaram infundadas? Este é um exemplo de discrepâncias entre o mundo como o representamos e o mundo como existe além das nossas representações. Intensidade é outro ponto que pode ser relevante. Às vezes o mundo subjetivo é forte o bastante, atuante, conseguindo praticamente moldar o mundo objetivo (e viceversa, pode acontecer também). Na prática isso significa que a pessoa poderá caminhar sobre as águas ou afundar e se afogar enquanto supõe estar caminhando sobre as pequenas ondas. A força, a determinação de um elemento subjetivo em relação a um elemento objetivo não quer dizer necessariamente o êxito pessoal sobre fenômenos em andamento; as coisas não funcionam assim. Quem vai mudar o curso de um rio viçoso, na minha opinião, deve considerar se não acabará afogado nas próprias águas que moveu achando que irrigaria a sua plantação. A poetisa Marcon escreveu uma ilustração sobre o assunto: “Descubro uma trilha onde era um deserto e traço um caminho na imaginação. Percorro quilômetros até descobrir que por mais que eu caminhe, tentando seguir, minha estrada é um círculo sem direção. Os enganos atrasam a minha chegada, consomem meu tempo, entortam meu chão, misturam destinos, separam encontros e disfarçam os erros de intuição. Eles fingem estratégias, montam soluções e me fazem crer que aprendi. Mas apenas costuram retalhos de histórias que me foram contadas e que eu nunca li. Meus enganos invertem as minhas certezas, abalam as pontes que eu construí, decoram atalhos e juntam percursos que não combinam mais entre si. Mas a minha viagem precisa ser feita e não quero errar nem viver de ilusão. Confio em Deus, no amor e no tempo, então solto as amarras do meu pensamento e minha mente perdoo pela confusão.”
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Conversamos nesta semana sobre o mundo como Representação. O sol suave toca a pele, mas como a pessoa interpreta, significa o sol que delicadamente acaricia a pele? É agradável, traz lembranças, nada significa? Eis parte da Representação. Em clínica, uma das atribuições do filósofo pode ser ajustar, adequar, orientar o sol em relação a pele, a conversação. Um ajuste na Representação. Ocorre que um modo melhor ou pior, mais ou menos correto, isso não existe. As variáveis mostram que às vezes diversos ajustes em segmentos da vida são importantes. Por que isso é na prática provavelmente tantas vezes urgente? Resposta por alguns exemplos: a pessoa pode apreciar a intimidade a dois, mas não assumir um relacionamento pela Representação que construiu; pode ser capacitada para uma tarefa, mas recusar pela Representação que constituiu; mas, perigosamente, pode achar-se preparada para pilotar um avião turbinado comercial, quando apenas inicia suas aulas teóricas sobre planadores... A pessoa pode promover os ajustes sozinha? Às vezes, sim. Isso exige uma série de acuidades e disposições, desde compreender o fenômeno até os seus contextos. E existem elementos complicadores em alguns casos, como descreveu Cassirer: “A introspecção nos mostra, evidencia, apenas aquele diminuto segmento da vida humana que é acessível à nossa experiência individual". Ler o mundo pode ser também um modo de compreender o mundo. Ler o mundo pode ser uma forma de recriar e de construir para além das coisas. Ao ler o mundo, a leitura por vezes toma vida própria, interage, comove o mundo que a emociona. Ernst Cassirer conferia tamanha importância a esta leitura que escreveu: “O historiador precisa aprender a ler e interpretar seus documentos e monumentos, não só como restos mortos do passado, mas também como suas mensagens vivas, que se dirigem a nós em sua própria linguagem. O conteúdo simbólico destas mensagens, entretanto, não é imediatamente observável. Cabe ao linguista, ao filólogo e ao historiador fazer isso falar e fazer-nos compreender essa linguagem. A distinção fundamental entre as obras do historiador e do geólogo ou paleontólogo não consiste na estrutura lógica do pensamento histórico, mas nessa tarefa especial, nessa missão específica. Se o historiador não conseguir decifrar a linguagem simbólica de seus monumentos, a história continuará sendo para ele um livro fechado”. O mundo como Representação. Havia um povo que decidiu que quem se referisse a rostos deveria especificar: lado direito ou lado esquerdo. Com o tempo, sempre que uma pessoa tratava de questões relacionadas à face ela dizia: “o lado direito etc”. Algo semelhante aconteceu em ampla parte da Filosofia com as coisas do mundo (rio, mar, prédios, montanhas) e a pessoa diante das coisas do mundo com os significados e as interpretações que ela cria (representação). Mundo de um lado X pessoa do outro. 12
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Indagação: e se a nossa Representação e o mundo forem as partes de uma mesma face; face que, ao ser considerada em seus pedaços, produza problemas, coisas que somente existem por decorrência desta partição? (Esta é uma publicação extraída da página do facebook “Conversando com Lúcio Packter”).
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Módulo II – 40 horas/ aula Exames das Categorias: a localização existencial da pessoa no ambiente. Março, dia 08/2014 Bibliografia básica: PACKTER, Lúcio. Filosofia Clínica – propedêutica. Caderno – B. PEDROSA, Rose. Vocabulário Técnico de Filosofia Clínica. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. ARISTÓTELES. Organon. Categoria.
Resumo: O conceito de categorias em Aristóteles; O conceito de categoria em Kant; O conceito de categorias e sua importância na Filosofia Clínica. Como a FC concebe o tempo, lugar, relação e circunstancia. A contribuição de Ortega Y Gasset para pensar a circunstância. Estudar relações entre as impressões subjetivas e o mundo objetivo a partir das Categorias (Assunto, circunstância, tempo, lugar e relação); Pesquisar dados ambientais, sociais, culturais, temporais, geográficos a partir da compreensão da pessoa. Discutir as influências religiosas, educacionais, políticas no desenvolvimento da pessoa. ______________________________________________________________________ CATEGORIAS (em grego: Κατηγοριαι, em latim: Categoriae) é o texto que abre o Organon — o conjunto de textos lógicos de Aristóteles O objetivo de Aristóteles nesta obra é classificar e analisar dez tipos de predicados ou gêneros do ser. As categorias são: substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, estado, hábito, ação e paixão. Algumas vezes, as categorias são também chamadas de classes. Segundo o filósofo: As palavras sem combinação umas com as outras significam por si mesmas uma das seguintes coisas: o que (substância), o quanto (quantidade), o como (qualidade), com o que se relaciona (relação), onde está (lugar), quando (tempo), como está (estado), em que circunstância (hábito), atividade (ação) e passividade (paixâo). Dizendo de modo elementar, são exemplos de substância, homem, cavalo; de quantidade, de dois côvados de largura, ou de três côvados de largura; de qualidade, branco, gramatical; de relação, dobro, metade, maior; de lugar, no Liceu, no Mercado; de tempo, ontem, o ano passado; de estado, deitado, sentado; de hábito, calçado, armado; de ação, corta, queima; de paixão, é cortado, é queimado (ARISTÓTELES). O uso de categorias na Filosofia Clinica segue a tradição Aristotélica Kantiana, porém, a adaptação destas para os fins clínicos exigiram algumas adequações. O objetivo dos exames categoriais em clínica é localizar existencialmente o partilhante. As categorias são cinco: Assunto (Imediato e Último), Circunstância, Lugar, Tempo e Relação. Com os exames categoriais saberemos a questão que levou a pessoa a procurar por um terapeuta, os fundamentos da questão, o contexto, os dados culturais, os lugares que a pessoa frequenta como se sente nestes lugares. Pesquisaremos seu tempo
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subjetivo, como está para ela o passado, presente e/ou futuro e sua relação com o mundo em geral. “[...] Damos o nome de Exames Categoriais à localização existencial da pessoa: idioma, costumes, país, época, relações próximas, pertinências políticas, sociais e religiosas” (PACKTER, Caderno A p.13).
1 - Assunto. A categoria assunto divide-se em duas partes: Assunto Imediato e Assunto Último. Assunto Imediato - É aquele que o partilhante traz no início da clinica: "foram mais de 20 anos de luta e agora estou vendo tudo se acabar". Assunto Imediato é a queixa, algumas vezes o sintoma e, outras vezes, pode ser a finalidade que levou a pessoa a procurar a clínica: Problemas no estudo, no trabalho, com a família, etc. Assunto Último - O Assunto Último está na raiz do Assunto Imediato. Problemas com aprendizado, por exemplo, pode ter uma série de fundamentos: Pode ser uma questão de mau relacionamento com alguém envolvido; pode ser pura falta de interesse; pode estar ligado a um problema físico como audição ou visão; dentro do contexto podemos identificar até uma emoção pelo caminho. Seja qual for o fundamento ou o assunto que se esconde por trás do Assunto Imediato, esse é o Assunto Último. Uma pessoa pode ter uma busca, e se a não realização desta busca for a causa de algum problema que trouxe o partilhante à clinica, podemos estimular a pessoa a ir em direção a esta busca, porém para estimularmos uma pessoa para que esta vá ao encontro de seu sonho (busca) temos de estar seguros de que as consequências farão sentido ao trabalho e que o trabalho é possível, não podemos correr o risco de uma frustração deixar a pessoa em piores condições que as anteriores. Uma das coisas a serem observadas são as Circunstâncias, a segunda Categoria. 2 - Circunstâncias. Circunstâncias são os dados externos, são os dados que circundam um determinado assunto. Verificaremos as circunstancias que envolvem o assunto desde o ponto em que ele surgiu na história da pessoa, como se desenvolveu, o que enfrentou como obstáculo, o que teve de estimulo e daí por diante. Por exemplo, uma busca, uma pessoa que tenha como sonho ter um filho: pesquisaremos a possibilidade de levar a diante esta busca. Coisas como estrutura psicológica, condições financeiras, saúde, apoio de pessoas envolvidas, enfim, todos os dados que possam contribuir ou impedir a realização do objetivo (lembrando que quem vai dizer se um dado contribui positivamente ou negativamente à realização do objetivo é a historicidade da pessoa, são os parâmetros da própria pessoa e não o que o filosofo ou a sociedade entende de positivo ou negativo). Se o assunto for, por exemplo, uma separação conjugal, verificaremos quais circunstâncias envolvem isto, o contexto da situação. 15
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3 - Lugar. A Categoria Lugar diz respeito a como a pessoa se sente sensorialmente nos lugares que frequenta: "quando estou no trabalho me sinto completo, eu gosto de trabalhar". A categoria lugar está muito ligada ao sensorial, ao corpo, verificaremos as sensações da pessoa relacionadas ao lugar. A relação do corpo com o ambiente em que a pessoa está inserida, se a pessoa se sente bem ou se tem algum tipo de incomodo. Na categoria lugar identificaremos o quanto do seu corpo (sentidos) a pessoa vive em seus endereços existenciais. 4 - Tempo. A Categoria Tempo está relacionada ao tempo subjetivo da pessoa, como está a percepção de tempo da pessoa em relação ao tempo convencional do relógio. Para algumas pessoas o tempo passa muito rápido, "este ano voou nem vi passar", para outras pessoas o tempo não passa, "meu dias parecem uma eternidade, o que eu espero parece que nunca vai chegar". Percebemos que algumas fases da vida de algumas pessoas passam mais rápidas que outras, "Quando eu era criança tinha uma noção de tempo diferente, um mês parecia que não ia acabar nunca, eu fazia muitas coisas, hoje em dia não faço nada em um mês, passa muito rápido". Dependendo da companhia, do lugar ou das circunstancias o tempo pode passar mais lento ou mais rápido. Observaremos, principalmente, a relação do tempo subjetivo com o Assunto da clinica. Outro dado relevante em relação ao tempo é o tempo verbal que a pessoa usa quando se comunica, em alguns casos percebemos uma predominância no passado, outros no futuro e às vezes não tem predominância, "meu maior erro foi ter saído daquele emprego na Y, até hoje nunca mais tive a estabilidade que eu tinha lá....", "Quando aposentar é que vou aproveitar a vida, hoje em dia não tenho tempo, minha vida é só trabalho". No processo historicidade observaremos um dado importante relacionado ao tempo: Veremos como o partilhante organiza sua história temporalmente, este dado será importante para a realização dos dados divisórios. Quando necessitamos de mais algumas informações sobre a história do partilhante podemos fazer a coleta destas informações por períodos, neste caso dividimos a historia conforme os apontamentos do próprio partilhante. Podemos pesquisar períodos como: da quinta à oitava série, do primeiro emprego ao primeiro casamento, etc. Estudaremos mais detalhes deste assunto no capitulo Historicidade. A questão temporal relacionada ao assunto da clinica pode apresentar variações interessantes: O assunto pode encontrar-se no passado e, quando este for o caso, estudaremos todo o contexto do referido tempo para que a questão seja trabalhada. 5 - Relação. A categoria relação refere-se à relação da pessoa com o mundo a sua volta, a relação com pessoas e com situações em geral. Aqui aparecerá a relação da pessoa com sigo mesma, com amigos, colegas de trabalho, família, etc. Isto aparece da seguinte forma: 16
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"No meu trabalho tem uma moça que o jeito dela não combina com o meu", "às vezes eu gosto de ficar sozinho, principalmente quando tenho de tomar alguma decisão", "sempre conversei mais com a minha mãe do que com meu pai". Além da relação com pessoas, observaremos também a relação do partilhante com o mundo em geral: "adoro minhas plantas, todo dia eu molho, vejo como estão, estou sempre cuidando", "meu cachorro parece que me entende, é como se fosse um filho", "este carro sempre foi o meu sonho, é o melhor que já tive, agora estou realizado". Localizar existencialmente uma pessoa significa conhecer o contexto em que ela está inserida: o filósofo saberá o idioma da pessoa, seus hábitos, sua época, a política e os dados sociais da localidade onde viveu, a geografia, o contexto religioso, histórico, entre outros aspectos que podem ter importância. (PACKTER, Filosofia ClínicaPropedêutica)
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Módulo III – 40 horas/ aula Historicidade: como realizar a historicidade da pessoa, problemas, orientações. Abril, dia 12/2014
Bibliografia básica: PACKTER, Lúcio: Filosofia Clínica – propedêutica. Cadernos – (A e B). PEDROSA, Rose: Vocabulário Técnico de Filosofia Clínica. POPPER, Karl: Miséria do Historicismo. ______________________________________________________________________ HISTORICIADE O ponto básico da Filosofia Clínica é a Historicidade. Esta é a ferramenta básica, a partir dela a estrutura da Filosofia Clínica será erguida. Trata-se do alicerce da clínica filosófica. A historicidade é um modo de estudo do que houve, trata-se de documentar e estudar uma jornada existencial. Uma narrativa cheia de vida: elementos (pessoas, lugares, sentimentos), contextos (acontecimentos, eventos, circunstâncias), dados (sociais, políticos, econômicos, religiosos, éticos), marcos e referências. Nela há diversos dispositivos que mostram a pontuação dos caminhos. Também é possível estudar a autoria dessa historicidade: Quem escreveu a minha história? Temos muitas surpresas aqui. Ainda se observa a sua estrutura, como as vivências se juntam aos elos que lhe dão nascimento, identidade e continuação. O objetivo do uso da historicidade adaptada à clínica filosófica é reunir os dados de maneira que as situações vivenciadas pela pessoa ganhem um contexto, uma perspectiva, alicerce que tornem o conteúdo compreensível. Seguramente, a historicidade é a maior fonte inicial de pesquisa para o filósofo clínico. Depois, durante toda a atividade clínica, ela se mantém como sólido alicerce. Incontáveis ocasiões acontecem para o filósofo retornar e retornar à historicidade. (PACKTER). Historicidade é o depoimento, o testemunho, as vivências da pessoa em sua narrativa daquilo que vive, daquilo que viveu. Não corresponde necessariamente aos eventos tais quais aconteceram. A Historicidade é um método que engloba a fenomenologia, a lógica formal, a epistemologia e a analítica de linguagem. É a história da pessoa contada por ela mesma, desde a infância até os dias atuais. A narrativa segue com agendamentos mínimos, promovendo a continuidade da história, sem saltos temporais e sem saltos lógicos.
Algumas pessoas vão narrar a sua historicidade pontuando aspectos que foram importantes para ela, outras vão contar só o que disseram delas, outras contam a historicidade pelo que ouviram falar, e há quem conte por aspectos irrelevantes, cada uma conta de um jeito, alguns mentem, fazem da sua historicidade um conto de fadas. O que o filósofo clínico inicia nestas entrevistas é a localização existência da pessoa, via 18
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exames categoriais. Neste seguimento o filósofo vai montando a estrutura do pensamento desta pessoa. Durante todo o processo de colheita de dados é possível o planejamento clínico, reconhecendo os submodos informais e detectando os submodos terapêuticos. Essa é nossa ferramenta básica, a partir daí todo o prédio da filosofia clínica será erguido. Esse é o ponto zero. O alicerce da nossa clínica é este, a partir daí vamos instrumentalizar todo o resto. Colocado assim, vamos partir para as problemáticas. Um dos primeiros elementos que ocorrem quando você pede para pessoa contar a historicidade dela do nascimento até os dias de hoje – e lembre historicidade e não história, isso não é mais um fato, ainda que a pessoa possa vivê-lo assim, ela está relatando, ela está fazendo uma espécie de arqueologia própria, existencial. O que é que acontece aqui? Nós temos 50 min com a pessoa em nosso consultório por semana. Se essa pessoa tivesse que relatar fidedignamente tudo que ela viveu, desde o nascimento dela até os dias de hoje, quantos séculos eu precisaria? E isso porque eu considero somente o dado semiótico verbal, portanto eu não tenho uma historicidade factual e literal daquilo que houve, mas eu tenho uma edição do material. Quem nos conta sua história, está editando sua história. Qual é o critério que o filósofo clínico utilizará para extrair a historicidade da pessoa? A princípio a historicidade não é uma narrativa livre. O filósofo vai trabalhar a questão com a pessoa. Tem muitos elementos, às vezes, quando a pessoa está fortemente perturbada, ela mistura todos os fatos. . Por isso, o filósofo tem vários elementos para tirar a historicidade da pessoa. Ele cuida como é feita a sequência, o modo, tudo isso de maneira organizada, usando a analítica de linguagem, lógica, epistemologia, filosofia da história para conduzir esse processo. Então, como fazer? A consulta em filosofia clínica começa pela queixa, pelo motivo que levou a pessoa a procurar o filósofo clínico. A queixa é a questão inicial que precisará de contexto para ser entendida na sua singularidade, na sua particularidade. Então, é solicitado a essa pessoa a sua jornada existencial que nos chega numa narrativa autobiográfica. Conseguir tal propósito, orienta-se que ambos, filósofo e partilhante (pessoa ou cliente) conversem sobre o assunto imediato da maneira como foi trazido pela pessoa, num bate-papo livre. Esse é um momento delicado para ambos, pois é a relação, a qualidade da interseção o fundamento que vai autorizar o empreendimento da historicidade. Então, numa segunda sessão, provavelmente, o filósofo inicia solicitando que a pessoa fale o que aconteceu durante sua vida do nascimento até os dias atuais. Durante cinquenta minuto o filósofo vai promovendo a fala da pessoa usando agendamentos mínimos como: e aí..., que mais..., o que aconteceu depois..., e então..., continue..., prossiga..., estou atento...; também, concomitantemente, o filósofo cuida dos saltos lógicos e saltos temporais para que não ocorra numa frequência que venha embaralhar a narrativa da pessoa. É importante que a pessoa siga contando cronologicamente, antecedente e consequente. Quando a pessoa cometer um salto lógico sem condições de 19
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voltar ao ponto onde estava o filósofo clínico é quem levará a pessoa de volta ao lugar temporal. Assim o mesmo com o salto lógico, trazendo sempre a pessoa a via de raciocínio em que estava. Depois de três o quatro entrevistas, possivelmente teremos uma historicidade completa. Um panorama geral. Qual é o critério que a pessoa utilizará para editar sua historicidade? a) Alguns vão editar o material apenas colocando em sua historicidade aquilo que foi marcante, pontuando aqueles elementos que as marcaram; b) Outros faram pelo aquilo que tocou nelas – aprendizagem, emoções, passagem. c) Alguns tentam o enredo de suas histórias nos movimentos naquilo que foi importante, e tudo aquilo que não foi fica do lado de fora. Considerando como a pessoa edita sua história chegaremos de fato à pessoa? Como chegar de fato a pessoa? Questões a serem trabalhadas: PROBLEMA DA EDIÇÃO Durante a historicidade, a narrativa da pessoa, nos prestamos atenção entre outras coisas, aos critérios que ela segue, que ela adota como instrumental de edição. E estes critérios vão obedecer uma série de elementos, no entanto, tem um fator aqui que é preponderante: Instrumentos semióticos de análise. Atente, uma pessoa falando sua história pode ser diferente da pessoa escrevendo sua historia. E mais quando a pessoa coloca sua historicidade para nós no consultório, ela obedece uma série de critérios que pode fazer com que a própria historicidade se ponha a perder, até diante dessa contingência nós estamos exposto. Não há uma garantia que esta surgirá de fato, há uma tentativa em torno dela. Então passamos agora para alguns cuidados na orientação da edição. 1.1 OS CUIDADOS COM OS AGENDAMENTOS Todos os cuidados, toda crítica que Karl Popper senta na ciência, nós temos que cuidar quando diante do partilhante editando sua historicidade, do contrário não teremos de fato a historicidade, mas o que queremos ouvir. É contraproducente interromper a fala da pessoa enquanto conta sua historicidade com perguntas e inferências focando lugares existências escolhidos por nós. Exemplo: “...agora fale sobre sua família”, “... agora me fale do seu país...”. Tais interrupções podem encontrar os princípios que nós buscamos e não que estão na pessoa. A maneira de evitarmos isso é deixando que a pessoa conduza sua historicidade e na medida em que ela conduz fazemos aquilo que chamamos agendamento mínimo, já que o não-agendamento não há. A própria presença, estar diante do outro, já o afeta, nem que seja pela indiferença, nem que seja pelo discurso já pronto que vamos colocar naquele momento, já é uma afetação. Dentre 20
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todas as interferências, nós fazemos a menor. E dizemos: continue; prossiga e depois, o que houve a partir da ir, como continua sua historia. Já é uma interferência, mas é a menor. Mas aqui nós temos um problema técnico de grande monta : como eu posso aprofundar a história de uma pessoa se ocorrer naquele problema, perguntando pela vida da pessoa, torcendo as coisas, me fale da sua vida acadêmica, da sua vida profissional, da sua vida familiar, acabou a historicidade. Eu terei o meu discurso pensando ter o discurso da pessoa. Esta pode me dar uma versão da vida social dela, da família. Outros problemas, a cerca das linhas de momento, de ocasião também pode alterar o processo de edição. A pessoa pode estar num mal dia, ela vai me contar uma história bem diferente se ela estivesse num bom dia. No entanto essa historicidade inicial para uma clínica é extremamente imperfeita, superficial trata-se de uma visão panorâmica, são as primeiras imagens, não há ainda referência de profundidade que nos permita ir para além do seu enunciado. COMO APROFUNDA A HISTORICIDADE DE UMA PESSOA SEM CONTAMINÁ-LA, ALÉM DA NOSSA PRESENÇA? A resposta é dada pela matemática simbólica. Aqui são os filósofos da matemática que vão nos auxiliar. O processo de intervalo que vem da filosofia da matemática nos possibilita isso: Abrir um leque de princípios matematizáveis, com isso, aprofundar a historia da pessoa pegando os termos linguísticos que ela utilizou. A partir da edição que a pessoa fez nós seguimos muito além da dela. É como um livro escrito cheio de lacunas. Para tanto procedemos com os encaminhamentos de profundidade. 1ª Etapa - Historicidade propriamente dita contada pela pessoa do nascimento aos dias atuais. 2º horizontais.
Etapa - Historicidade e dados divisórios – Indo a profundidades
Divisão são seguimentos de continuidade em busca de dados horizontais. A intervenção é feita em intervalos, entre marcos existenciais, em que o filósofo pesquisa por conteúdos encobertos, fazendo lacunas na historicidade inicial. Trata-se de maiores informações, contextos, aprofundamentos importantes. Muitas vivências que na historicidade inicial eram de uma forma, com a divisão podem se tornarem diferentes. “O filósofo irá fundamentar melhor seu conhecimento da vida da pessoa fazendo remissões pertinentes, explanatórias da vida da pessoa. Pergunta o que houve entre o período em que saiu de casa e se matriculou na faculdade, o que aconteceu entre os dez e doze anos, etc e tal. Com isso, você terá as outras três categorias: lugar, tempo e relação.” (Caderno N).
3ª (verticais):
Etapa - Historicidade e enraizamentos – indo a profundidades maiores
Os enraizamentos (Filosofia Clínica - Caderno J) são seguimentos de continuidade, orientados pelo filósofo clínico, por perguntas pontuais, tais como: Você 21
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pode definir este ponto? Fale um pouco mais sobre isso. Quando ocorreu isso? Todos esses questionamentos darão condições à pessoa de analisar, descrever, avaliar, desenvolver questões focadas. A aplicação desse procedimento vai à busca dos dados descritivos verticais. Comumente, os enraizamentos são concretizados após os dados divisórios, mas podem ser realizados paralelamente. No entanto, é orientado que o filósofo clínico somente se utilize de tal encaminhamento quando possuir prática clínica aceitável para evitar se arrastar em desdobramentos e complexidades comuns a alguns processos. Tal método é utilizado numa sequencia temporal e lógica, a partir de termos, expressões, vivências, extraídas da historicidade da pessoa, em que o filósofo se utiliza, basicamente, de três diretrizes: definição, explicação e exemplificação. O objetivo é esclarecimento do caminho epistêmico em que a pessoa se estruturou para o conhecimento de dados relevantes a sua existência. Em cada segmento do enraizamento, o filósofo pode conferir a atribuição do que está sendo feito. Basta que examine na historicidade e nos dados divisórios se o que a pessoa está dizendo ou fazendo tem relação com o período e assunto de vida que está sendo enraizado.
Há muitas pessoas cujas edições impedem do filósofo clínico chegar a elas (lembre-se por mais que a pessoa se identifique a sua historicidade, não é a pessoa, a historicidade é por onde ela andou, fez, aconteceu, é um testemunho que ela presta daquilo que ela acha que houve). Há problemas técnicos aqui, muitas vezes a historicidade não nos leva a pessoa. O que acontece quando eu não chego à pessoa? Imagina uma historicidade inventada, com tratar a pessoa a partir dessa historicidade que não testemunha a pessoa? Fica grotesco. Como resolver isso se é pela historia de vida da pessoa que nós vamos interagir com ela. E quando a própria pessoa está dissociada dessa historicidade, ela não se reconhece na própria historicidade, não tem haver com ela, fica muito grave, há todo tipo de situação aqui. Desde uma certa estranheza até uma impossibilidade da pessoa sentir e vivenciar de fato a vida como ela é. Parece que flutua nas coisas não está nas coisas. Não há um princípio de correspondência. Dentro das peculiaridades, vamos ressaltar algumas. 1) Como uma pessoa vai colocar sua historicidade e o filósofo acompanhando, logo ele se depara com algumas coisas, algumas pessoas não estão revisitando os seus elementos de vida, estão criando. E isto se mostra na clínica como uma nova estrada paralela que a pessoa vive. Então, ela tem a existência dela que a trouxe até aqui e ao fazer historicidade ela cria elementos, preenchendo os espaços todos. 2) Outras pessoas revisitam e recriam suas coisas. 3) Há pessoas que ajustam.
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4) Há pessoas que justificam quando estão fazendo sua narrativa. Mas sobre tudo há pessoas que nunca de fato pararam para vivenciar suas historicidades. É como se elas estivessem muito ocupadas vivendo. Nunca estiveram e fato nesses pontos aqui. Então quando ela se depara para fazer essa arqueologia, surge desde o espanto, desde a descoberta, até invenções bastante curiosas. [Problema técnico] Não seria a Filosofia Clínica um movimento historiográfico, que impede a pessoa a partir de sua historicidade, não estamos contaminando a maneira como ela vive, estamos Durante a própria historicidade não analisamos apenas a pessoa, mas a própria historicidade, ela em si: de que maneira é ela? Algumas vezes será objetável como princípio de tratamento dada a sequência e as consequências que ela terá para a pessoa. Ai nós fazemos por abordagem indireta. É outra forma de fazer historicidade. Ou seja como a pessoa vive numa mesma cidade que você, então você tem elementos de alcance indireto. De que ponto de vista a pessoa está vivendo a sua historicidade? Alguns contam a historicidade a partir de si, há quem conte a partir do outro, outros se deslocam, eles fazem um olhar de lá para cá como detectar esses elementos numa narrativa? Pelas formas de referências, (minha mãe demorou muito a engravidar, ela sempre sonhou ter um filho...) ela fala do olhar dela. Outros têm codificações analíticas onde a pessoa é o elemento. Algumas pessoas não são autoras de suas próprias histórias de vida. Elas vivem como autores que recebem um papel, você vai interpretar tal coisa, elas não sabem disso. Ora resolvido os problemas de edição que nós temos aqui de historicidade, como atestar que isso ocorre? Como saber que ela é autora da própria historia dela? Como eu identifico isso pela historicidade? Há muitos vetores que mostra a autoria de uma historicidade. Às vezes a pessoa escreveu trechos da sua história de vida outras vezes escreveu com outras pessoas, outras vezes escreveu sozinha. Vamos ver alguns vetores que nos dão indícios que teve coparticipação de outros: 1) A pessoa diz, olha eu sou judeu de uma cultura judaica... eu sou cristão, fiz a primeira comunhão... sigo os mandamentos de cristo... há um indicativo cultural. Outras vezes há elementos dialéticos que fazem síntese de grande profundidade. Outras variações prováveis em clínica: sobre a possibilidade do atendimento em Filosofia Clínica sem a historicidade. Introdução ao atendimento sem a historicidade; os exames das categorias como chave; introdução à analítica de linguagem; semântica, sintaxe, substantivos; gêneros, advérbios,
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tempo; padrões autogênicos a partir da ordem, da função, da combinação; trajetórias previsíveis?Estudos de um texto; uso de submodos informais; uma exemplificação no impressionismo; algumas complexidades; deslocamentos temporais e espaciais; prevendo os caminhos por desenhos.
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Módulo IV – 40 horas/ aula Tópicos I a III da Estrutura do Pensamento: Como o Mundo Parece, O que Acha de Si Mesmo, Sensorial & Abstrato. Maio, dia 10
Bibliografia básica: PACKTER, Lúcio. Filosofia Clínica – propedêutica. Caderno – (B e C) PEDROSA, Rose. Vocabulário Técnico de Filosofia Clínica. LÉVI-STRAUSS: Claude Antropologia estrutural. HUSSERL, Edmund: Ideias para uma Fenomenologia. MERLEAU-PONTY, Maurice: A Fenomenologia da Percepção. LOCKE, Jonh: Ensaio Acerca do Entendimento Humano. HUME, David: Investigação sobre o Entendimento Humano. ______________________________________________________________________ Em Filosofia Clínica, aprendemos que a pessoa, normalmente, porta uma estrutura de pensamento, o jeito existencial dela. Trata-se da organização dos tópicos, dados (emocionais, éticos, epistemológicos, axiológicos) que compõem e sustentam os modos de ser de uma pessoa. Tal organização é caracterizada pela sua plasticidade, móvel, fluida. Essa disposição acompanha os movimentos da vida, as necessidades dos contextos habitados pela pessoa. No decorrer de uma existência é possível manter alguns dados ordenados por muito tempo sem alterações. Outras vezes, essas alterações podem ocorrer como padrão; pode aumentar ou diminuir o peso subjetivo de cada um desses elementos que a constituem; é alterada pelas ações, comportamento atuações da própria pessoa, assim como pode ser alterada por decisões ou ações de terceiros, impactantes; por modificações circunstanciais, por relações estabelecidas, entre muitos outros fatores. A palavra Estrutura é latina, structure. Em sentido lógico, significa mapa ou plano de uma relação. Hoje é costumeiramente usado como conjunto ou totalidade de relações. Das noções de estrutura mais prestigiosa e historicamente decisiva é a de LéviStrauss. Segundo o filósofo a estrutura é a ordem interna do sistema. O Estruturalismo consentiu que as ciências humanas criassem métodos específicos para o estudo de seus objetos, liberando-as das explicações reflexas de causa e efeito. Tal concepção veio expor que os fenômenos humanos assumem a forma de estruturas, isto é, de ordem que criam seus próprios elementos, dando a este sentido pela posição e pela função que ocupam no todo. E o que é o pensamento? De acordo com o dicionário de Nicola Abbagnano, podemos distinguir quatro significados: 1) qualquer atividade mental. 2) atividade do intelecto ou da razão, em oposição aos sentidos e à vontade. 3) atividade discursiva. 4) atividade intuitiva. Uma atividade mental se caracteriza por um processo neural. António Damásio explica em ‘O Erro de Descartes’:
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O sistema nervoso compõe-se de tecido nervoso ou neural. Assim com outros tecidos vivos, ele é feito de células. As células nervosas são conhecidas como neurônios, e embora sejam sustentadas por outro tipo de célula – as células gliais – tudo indica que os neurônios são a unidade crítica, a unidade essencial para produzir os movimentos e a atividade mental. É importante entender que a atividade da mente é um processo interativo entre os fenômenos abstratos e sensoriais. O pensamento é um fenômeno mental que não se restringe à racionalidade. Outras faculdades determinam a natureza do pensamento: a razão, a emoção, a percepção, a sensação, o desejo, a ilusão e crença. Razão é como o filósofo denomina o nosso intelecto quando este se aventura além dos limites da experiência possível. (Lúcio Packter) O pensamento é, assim, uma atividade pela qual a consciência ou a inteligência coloca algo diante de si para atentamente considerar, avaliar, pesar, equilibrar, reunir, compreender, escolher, entender e ler por dentro os dados oferecidos pela experiência, pela percepção, pela imaginação, pela memória, pela linguagem. O filósofo Lúcio Packter nos traz um pequeno quadro de possibilidades de como as ideias são impressas na mente: De um modo geral, as ideias são impressas na mente, segundo um feliz roteiro de Locke, de quatro maneiras: 1. Através de um único sentido. 2. Por mais de um sentido. 3. Somente via reflexão. 4. Por vários meios da sensação e da reflexão. Assim, estabelecida alguns conceitos, o que é Estrutura do Pensamento? O filósofo Lúcio Packter (Lúcio Packter) quando constituiu tal estrutura definiu-a como: Tudo o que você conhece, sente, intui, tudo o que há em você na sua totalidade, isso é a sua Estrutura de Pensamento. A Estrutura do Pensamento adverte como a pessoa se encontra constituída. A EP oferece dados sobre o modo de ser da pessoa. De acordo com a Filosofia Clínica a EP tem trinta Tópicos se relacionando e determinando uma ordem de procedimentos mentais e submodais, estabelecendo um sistema de atuação. A maneira que sua EP usa tudo que está nela para vivenciar em forma de ação, comportamento, atuação, isso são os submodos. (Lúcio Packter) Sem um conhecimento de como funciona a Estrutura do Pensamento de uma pessoa, o filósofo apenas estará arriscando em pressupostos - no mínimo – equívocos.
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Assegurar, por exemplo, a uma pessoa que ela precisa se gostar, sem especificar o termo e sem procurar entender que tipo de choque isso traria a EP dela, isso é um procedimento clínico, eticamente duvidoso e afoito. É preciso fazer um levantamento da atividade estrutural da pessoa, não sabemos se é assim para ela. Importante é entender o conjunto EP no todo e em suas partes pertinentes. (Lúcio Packter) Conforme Lúcio Packter, 1. A pessoa que se expressa está interpretando o mundo segundo o entendimento dela (a medida de todas as coisas). 2. Ao fazê-lo, exibe como representa o mundo para si mesma (representação dela). A EP é o jeito existencial da pessoa. O filósofo clínico precisa saber, antes de agendar um parecer, uma opinião, uma ideia, como a pessoa conhece, sente, percebe, vivencia o que se passa com ela. Cada EP obedece a sua historicidade, a sua singularidade existencial. A Estrutura do Pensamento, portanto, é uma organização funcional dos lugares existenciais que vem ser a atividade mental, que compreende os elementos constitutivos do ser humano. O que isso significa? Significa a maneira como estão associados na pessoa todos os seus sentimentos, os seus entendimentos, seus dados éticos e epistemológicos, espirituais e corporais. O que caracteriza uma EP é a sua plasticidade, sua singularidade.
OS TÓPICOS DA ESTRUTURA DO PENSAMENTO O que são Tópicos? Os Tópicos da Estrutura do Pensamento são lugares existenciais que estão em constante movimento, estabelecem continuamente as mais diversas maneiras de interseção, somam-se e dividem-se de muitos modos, arranjam combinações complexas, sofrem mudanças que podem passar invisíveis para o filósofo que estabeleceu um tipo de interseção com a pessoa que não lhe permite conceber isso. E também acontecerá talvez o contrário. Cada Tópico traz sua fisionomia. O filósofo clínico dará conteúdo aos tópicos segundo a historicidade da pessoa. A orientação no processo de colher os dados de cada tópico, identificar quais deles são determinantes à malha intelectiva da pessoa é dada pelos exames categorias (o que inclui conhecer, tanto quanto possível, a relação termoconceito-termo). Examinando como transcorre a jornada existencial da pessoa através dos assuntos, das circunstâncias, dos lugares, das relações, do tempo, o filósofo assegura as informações de cada Tópico.
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O PREENCHIMENTO TÓPICO Para o preenchimento Tópico da estrutura de pensamento é necessário proceder, inicialmente da seguinte maneira: Agrupamento por situações, Agrupamento por contexto, Agrupamento por descrições amplas. A formação desses agrupamentos acontece conforme três critérios que ordenam o material a ser considerado em cada Tópico da EP: Assunto imediato, padrão, dado Atualizado. Prof. Lúcio Packter, Adverte: “Vocês vão notar muitas vezes que não é necessário apontar os três critérios no mesmo tópico, e isso se deve a muitas razões: pode simplesmente não haver um Assunto Imediato, pode não ter um padrão identificável, ou faltar o dado atual. Às vezes, tudo isso junto. E então o próprio tópico não será preenchido, quando for o caso, é evidente. Porque outras vezes o filósofo precisará fazer uma varredura intelectiva na pessoa à procura da informação.”
Tópico I – Como o mundo parece: Definição; Localização aproximada do tópico na Historicidade; ilustração Geral. Diz respeito à visão que se tem do universo, de um país, uma cidade, a ética, as situações geográficas, crenças. A visão que a pessoa tem das situações do local em que habita enquanto ser existente. (Packter, Caderno B, p.11 e 12). Ilustração Clínica “Partilhante - ... o mundo é um antro de dificuldades. Tudo é difícil. Ninguém mais tem estabilidade no emprego, ninguém mais sabe para onde vão as coisas neste mundão maluco. O que é certo hoje, não é certo amanhã. O mundo é incerto. Antigamente, a vida era previsível, o mundo caminhava homogêneo, os sobressaltos eram previsíveis... até as guerras nós sabíamos como iriam acabar. Hoje, qualquer guerrilha isolada pode se generalizar em um conflito mundial.”
Tópico II – O que acha de si mesma: Definição; Localização aproximada do tópico na Historicidade; ilustração Geral. ... Através de uma escuta atenta no processo da Historicidade, o Clínico vai garimpar o que a pessoa expressa de si mesma. O como a pessoa se vê, se percebe, vive. (Packter, Caderno B, p.18 e 19). Ilustração Clínica
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“Partilhante – Eu sou independente, dinâmico, espontâneo. São essas as minhas características. Isso me dá liberdade de ação, pois não me sinto preso às coisinhas miúdas. Sempre confiei em mim. Penso comigo que sou uma pessoa justa, mas constatemente noto que sou rígido comigo. Não me dou chance para leviandades. Não deixo meu espírito se distrair com fraquezas.”
Tópico III – Sensorial & Abstrato: Definição; Localização aproximada do tópico na Historicidade; ilustração Geral. ... Sensorial é o que deriva diretamente dos sentidos e dos dados proprioceptivos; o que cheiro, ouço, toco, vejo, sinto em meu coração, degusto. O que está diretamente ligado às sensações e ao que percepciono por elas. Já o abstrato é o que não está ligado diretamente aos sentidos, mas aos conceitos. (Packter, Caderno N, p.29). Ilustração Clínica e Expressinho “Partilhante – Às vezes fico tão cheio de idéias que enlouqueço. Meu pensamento fica arisco. Dispara para tudo quanto é lado, sabe como é? Não sei porque isso acontece comigo. Não entendo nada. A velocidade das coisas na minha cabeça fica demais! Perco completamente o controle sobre os meus pensamentos. Então sinto medo de enlouquecer, sabe? Sinto medo de ficar louco mesmo. Filósofo Clínico – Pelo que eu entendi daquilo que você me disse, nessas horas você acende um cigarro e fuma bem devagar, sente a fumaça sendo expelida, e mantém os olhos fixos sobre um ponto na parede. Isso vai parando o pensamento arisco. Partilhante – É. Ajuda muito também se for um quadro ou uma janela. Aí eu tenho um ponto exato para focar. Filósofo Clínico – E depois você amarra a cardação do sapato. Partilhante – O senhor pode achar que isso é loucura, mas me sinto seguro. Filósofo Clínico – Sim... Partilhante – Só que depois de uns dias tudo começa de novo. É sempre assim quando se aproxima o final do ano, o senhor sabe como é.” Filósofo Clínico – E você mencionou as balas. Partilhante - ... bala de banana. Eu tenho aqui. (tirando o papel) O senhor aceita uma? Filósofo Clínico – Vou deixar aqui na mesa para depois, obrigado. Partilhante – (comendo a bala) Não é como o cigarro, só que ajuda muito. Acho que os ruminantes são pessoas tranqüilas (sic) por isso. Acalma as idéias ficar chupando alguma coisa com açúcar, sei lá ...” 29
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Assinale somente o que é verdadeiro quanto a este tópico: A. ( ) Determinadas ações no sensorial vão parando o pensamento do partilhante. B. ( ) O partilhante encontra-se realmente confuso, uma vez que sabidamente o cigarro e a nicotina geram ansiedade e não o oposto. Fumar intoxica e gera inquietude devido à fumaça nos pulmões. C. ( ) Amarrar a cardação do sapato tem a ver com raízes, com o contato do indivíduo com a concretude do chão, daí a segurança que o partilhante experimenta. D. ( ) Fazer exercícios respiratórios, massagens e usar roupas apertadas ajudariam a serenar os pensamento do partilhante, já que na Estrutura de Pensamento dele o sensorial pode influenciar os pensamentos. E. ( ) Há indícios de que o partilhante se recusa a ver algo doloroso em seu passado, por isso fixar os olhos sobre um ponto, imobilizando o olhar, o auxilia a manter-seguro.
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FILOSOFIA CLÍNICA INSTITUTO PACKTER – POA/RS NÚCLEO DE FILOSOFIA CLÍNICA DO CEARÁ – FORT/CE Professora Titular: Rose Pedrosa – Filósofa Clínica Professora Adjunta: Rochelle G Nunes – Espec. Filosofia Clínica Professor Lúcio Packter (Criador da Filosofia Clínica)
TAREFAS E AVALIAÇÕES MENSAIS ATIVIDADE
Data prevista para entrega
Data da entrega
NOTA
ASSINATURA DO PROFESSOR
MODÚLO I
MÓDULO II
MÓDULO III
MÓDULO IV
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