Revista Rostos Online N02

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NÚMERO 02 JANEIRO-FEVEREIRO 2011

CARVALHO RODRIGUES

«O Tejo não é uma marca é um símbolo»

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PRODUÇÃO DE SENTIDOS

Uma ideia para envolver a comunidade /// TEXTO: ANTÓNIO SOUSA PEREIRA

O jornal “Rostos” vai assinalar este ano o seu décimo aniversário. Estamos, portanto, a viver os nossos dez anos de vida. Pretendemos, ao longo do ano, promover diversas iniciativas que contribuam para dar a dimensão do nosso projecto jornalístico, e, naturalmente, darmos o nosso contributo para o desenvolvimento da região. O Barreiro é a nossa cidade âncora. Aqui começámos, aqui mantemos as nossas relações mais de proximidade, com os nossos leitores e com a vida quotidiana. Hoje, somos, na realidade um órgão de comunicação regional, graças ao nosso trabalho diário ao nível da produção da nossa edição on line. Com a edição desta revista iniciámos um novo projecto que, pelos resultados, sentimos que foi uma aposta positiva, juntando ao «jornalismo on line» o «jornalismo off line». A edição da primeira revista foi um sucesso e, agora, teremos que dar continuidade, naturalmente, garantindo a regularidade da sua edição. Aqui estamos de novo e, mais uma vez, abordando temas de referência e de actualidade, para o concelho e para a região. UM «MEMORIAL» AO BARREIRO Um projecto que queremos lançar neste ano do nosso décimo aniversário é a promoção de uma acção que visa a construção de uma obra de arte urbana um - «memorial ao Barreiro». Convidámos o artista plástico Kira para ser o protagonista da acção criativa. Aceitou o desafio. Convidámos um conjunto de personalidades que vão ser os «Rostos» desta acção – Jorge Fagundes, Nuno Santa Clara Gomes, Carlos Alberto Correia, Nuno Banza e Humberto Candeias, para além de outros que, esperamos, venham a associar-se, constituindo uma equipa que irá definir estratégias e formas de concretizar este objectivo de construção de um grande mural de azulejos, que espelhe as memórias e o pulsar do concelho do Barreiro. Conversámos sobre o projecto com a Vereadora Regina Janeiro, responsável pela área cultural da Câmara Municipal do Barreiro, e, naturalmente, também com Carlos Humberto, presidente da Câmara Municipal do Barreiro. A ideia está lançada. Pode concretizar-se se formos capazes de projectar com serenidade e envolver a comunidade na sua realização. Iremos divulgar, oportunamente informações mais detalhadas sobre esta ideia, que, diga-se, no essencial, será concretizada com a adesão de todos aqueles que pretenderem contribuir para a sua realização – adquirindo um azulejo e dessa forma tendo direito a ser contemplado com um conjunto de materiais que irão ser produzidos a propósito desta acção patrimonial e cultural. Hoje colocamos a ideia na rua, depois, em breve, iremos divulgar outras informações. Para nós, este projecto pela sua natureza não é do jornal “Rostos”, nem queremos que seja, porque, na verdade, o objectivo é que se transforme num movimento de cidadania e cultura. O futuro o dirá se a «ideia» tem pernas para andar, para já, todos os envolvidos no processo, estão, de facto, entusiasmados. Nós, apenas, sentimos uma enorme alegria por estarmos a assinalar o nosso 10 º aniversário dando corpo a esta ambição, que significa a nossa vontade de irmos mais além, e, hoje e sempre, não desistirmos de sonhar. Por essa razão, nesta 1ª revista de 2011, quisemos dar o pontapé de saída ao projecto que, sublinhe-se, tem vindo a ser amadurecido e, será, ou não, uma realidade de acordo com a nossa energia e vontade de realizar os sonhos. Temos uma certeza, na vida, como dizia o poeta: é pelo sonho que vamos!

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EM DESTAQUE

REGISTOS E HISTÓRIAS – PÁGINA 5 A 7 Carvalho Rodrigues um olhar sobre o Tejo O Rio Tejo «não é uma marca é um símbolo» Carvalho Rodrigues, mantém uma relação estreita e de grande amizade com os homens do Rio, nomeadamente com os arrais do concelho da Moita-Sarilhos Pequenos. Para o cientista que vive o seu dia-a-dia em Bruxelas, no mundo da NASA, quando escuta as palavras – botes, fratagas, catraios, canoas, varinos, moliceiros, carochos do Minho, batuxos, bucetas ou as dornas, existe apenas um sentimento que lhe brota do coração – “Portugal”.

MOSAICOS DA REGIÃO – PÁGINAS 11 A 13

Jorge Espírito Santo Responsável pelo Serviço de Oncologia do HNSR Considera a empresarização dos hospitais “um redondo fracasso” para o SNS Jorge Espírito Santo, presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos e responsável pela Unidade de Oncologia do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo, confessou ao ‘Rostos’ que a empresarização dos hospitais representou, a seu entender, “um redondo fracasso” para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

FIXANDO NO TEMPO – PÁGINAS 14 A 17 Carlos Humberto, presidente da Câmara Municipal do Barreiro Eu tenho um conceito de democracia que é uma democracia construtiva Defende um conceito de democracia que não é o de uma democracia optativa. “Eu tenho um conceito de democracia que é uma democracia construtiva, onde, eu apesar de ganhar posso ter em conta as opiniões daquele que perdeu, e, sem dúvida, posso enriquecer com as opiniões do que perdeu” – sublinha o autarca.

EM FOCO – PÁGINAS 18 A 20 Luis Tavares, Administrador da Quimiparque – Baía Tejo Uma grande revolução dar utilidade diferente aos espaços que durante 100 anos foram industriais Uma conversa com Luís Tavares, engenheiro, do Conselho de Administração da Quimiparque, actualmente Baía Tejo, permitiu-nos um reencontro com memórias e com os sonhos daqueles que acreditaram que era possível evitar a degradação e manter vivo um território afectado pela desindustrialização.

Director: António Sousa Pereira sousa_pereira@rostos.pt; Redacção: Andreia Catarina Lopes, Claudio Delicado, Maria do Carmo Torres, Vanessa Sardinha; Colaboradores Permanentes: Marta Sales Pereira, Luís Alcantara, Rui Nobre (Setúbal), Ana Videira (Seixal); Colunistas: Manuela Fonseca, Ricardo Cardoso, Nuno Banza, António Gama (Kira); Carlos Alberto Correia, Pedro Estadão, Nuno Cavaco e Paulo Calhau; Departamento Relações Públicas: Rita Sales Sousa Pereira; Departamento Comercial: Lurdes Sales lurdes@rostos.pt; Paginação: Alexandra Antunes xana@rostos.pt; Departamento Informático: Miguel Pereira miguel@rostos.pt Contabilidade: Olga Silva; Editor e Propriedade: António de Jesus Sousa Pereira; Redacção e Publicidade: Rua Miguel Bombarda, 74 - Loja 24 - C. Comercial Bombarda - 2830 - 355 Barreiro - Tel.: 21 206 67 58/21 206 67 79 - Fax: 21 206 67 78 E - Mail: jornal@rostos.pt; Website: www.rostos.pt; Nº de Registo: 123940; Nº de Dep. Legal: 174144-01;

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Carvalho Rodrigues um olhar sobre o Tejo

O Rio Tejo «não é uma marca é um símbolo» Carvalho Rodrigues, mantém uma relação estreita e de grande amizade com os homens do Rio, nomeadamente com os arrais do concelho da Moita-Sarilhos Pequenos. Para o cientista que vive o seu dia-a-dia em Bruxelas, no mundo da NASA, quando escuta as palavras – botes, fratagas, catraios, canoas, varinos, moliceiros, carochos do Minho, batuxos, bucetas ou as dornas, existe apenas um sentimento que lhe brota do coração – “Portugal”. /// TEXTO: S.P.

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arvalho Rodrigues, um homem da ciência, conhecido por todos como o “pai” do primeiro satélite português, é um homem apaixonado pelo Rio Tejo. Uma paixão que tem as suas origens nos tempos de criança. Nasceu na Calçada do Teixeira à Estrada de Chelas. Desde cedo palmilhou os areais da Praia de Xabregas. EU VIVI NA BEIRA TEJO “Foi lá que as embarcações do Tejo me ensinaram a sua beleza e os homens que iam a bordo a honradez do seu trabalho. Eu vivi na beira Tejo quando havia milhares de embarcações” – sublinha. Esta sua ligação ao rio e às suas gentes, ao longo da vida foram um tempo de descobertas e aprendizagens. Carvalho Rodrigues salienta que nesta sua relação apaixonada com o Tejo, uma lição de vida – “Se o homem não estiver em equilíbrio com a natureza e com a sua natureza perece. As embarcações, os Arrais, as Sota-arrais e as moças deles são o último exemplo do Homem português em equilíbrio com a sua natureza”. CÂMARAS TÊM APOIADO AS TRADIÇÕES DO TEJO Neste diálogo com o Rostos, perguntámos como encara a forma como os poderes públicos têm acarinhado as tradições do Tejo, os seus barcos e as suas artes piscatórias. “Afonso de Albuquerque disse tudo quando disse: Eu fiz o meu dever, o Estado o costume. Mas a Armada, a Marinha Portuguesa essa tem feito tudo por nós, verdadeiramente tudo. As Câmaras também” – sublinhou Carvalho Rodrigues. AS EMBARCAÇÕES DA MINHA INFÂNCIA No decorrer da nossa conversa recorda os sentimentos que lhe ocorrem ao pensamento quando olha para o Rio Tejo, naqueles dias de regatas, com as velas à bolina a navegar nas águas do rio – “Sinto que voltaram ao Tejo as embarcações da minha in-

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fância. Corre sobre o rio a vida”. Carvalho Rodrigues sublinha que as populações que vivem nas margens do Rio Tejo estão conscientes da importância e dos valores do rio. “Não só estão conscientes como lutam e labutam para que as embarcações aí estejam. Tem um inimigo a agir para Lisboa que se dá pelo nome de Administração do Porto de Lisboa, o latifundiário ausente!” – refere. Tejo é conhecido no mundo

Bruxelas, no mundo da NASA, quando escuta as palavras – botes, fratagas, catraios, canoas, varinos, moliceiros, carochos do Minho, batuxos, bucetas ou as dornas, existe apenas um sentimento que lhe brota do coração – “Portugal”. É esse Portugal que sentimos que ele vive

Perguntámos o que pensa da ideia de promoção ao nível internacional da marca «Tejo». “O Tejo é conhecido no mundo. Vem na história pelo menos há dois mil anos. Não é uma marca é um símbolo” – salienta Carvalho Rodrigues. ENTREGUEM O RIO AO SEU POVO Acha que seria interessante as autarquias e o Estado assumissem um projecto dinamizador da marca «Tejo», com tudo o que ela pode potenciar na promoção de uma rota turística ao nível internacional? “Naturalmente isso quer dizer os construtores civis, mais os seus arquitectos e mais os seus advogados e a destruição. Entreguem o rio ao seu povo”. PROTEGEM AS BICICLETAS ESQUECEM OS BARCOS TÍPICOS Como associa a ideia de Tejo ao conceito «Lisboa Cidade de duas margens»? “Suponho que é o Tejo com cidade dos dois lados. Embora agora tenha a ligá-las duas estradas e não barcos. Protegem as bicicletas mas os barcos típicos que são muito mais ecológicos nem pensar. São mentes colonizadas, assimiladas. Não pensam por si”. UMA PONTE FEITA DE BARCOS “Devia haver uma ponte feita de …barcos” – refere Carvalho Rodrigues, defendendo a ligação entre Barreiro e Moita, Alcochete e Montijo pela via fluvial. Mais pontes no Tejo, na sua opinião – “é um bruxedo” sobre as ligações fluviais. Carvalho Rodrigues, mantém uma relação estreita e de grande amizade com os homens do Rio, nomeadamente com os arrais do concelho da Moita. BOTES, FRATAGAS, CATRAIOS, CANOAS…PORTUGAL! Para o cientista que vive o seu dia-a-dia em 6 /// REVISTA ROSTOS ONLINE

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de forma intensa, quando navega entre as duas margens ligando com o seu barco – Ana Paula – Lisboa à Moita, num reencontro com as suas memórias de infância e com essa paixão que ele ama – “O Tejo é conhecido no mundo” e “vem na história pelo menos há dois mil anos”.


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«Suponho que é o Tejo com cidade dos dois lados. Embora agora tenha a ligá-las duas estradas e não barcos. Protegem as bicicletas mas os barcos típicos que são muito mais ecológicos nem pensar. São mentes colonizadas, assimiladas. Não pensam por si».

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JORNAL ESCOLAR DOS CASQUILHOS COMEMORA

6º ANIVERSÁRIO

Alunos e professores juntos no mesmo projecto /// TEXTO: Vanessa Sardinha

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m 2005 nascia o ‘ESCrito’ na Escola Secundária dos Casquilhos. Contra todas as expectativas, o jornal escolar revelou-se um sucesso e fez com que, num mesmo projecto, alunos e professores trabalhassem em equipa em prol de um resultado final favorável a toda a comunidade escolar. Somaram-se edições atrás de edições e, este ano, o ‘ESCrito’ comemora já o seu 6º aniversário. Data essa que, como já vem sendo tradição, é assinalada com a Festa do Chocolate. Em conversa com o ‘Rostos’, Renato Albuquerque, professor e director do ‘ESCrito’, deu a conhecer este projecto escolar que promete continuar a dar frutos. A HISTÓRIA… Renato Albuquerque, professor da Escola Secundária dos Casquilhos e Director do ‘ESCrito’, falou ao ‘Rostos’ sobre este projecto que tem vindo a formar e informar não só a comunidade escolar, como alguns ex-membros da escola. O responsável por este projecto sublinha que a ideia surgiu de “uma necessidade de fazer chegar a informação a todos os seus actuais membros e ex-membros da escola: alunos, professores, funcionários, pais e encarregados de educação”. Outros projectos já tinham surgido anteriormente na escola e a experiência estava longe de ser positiva. “A maior parte das experiências anteriormente realizadas não tinha passado do número zero, um ou dois”, afirma o docente. 8 /// REVISTA ROSTOS ONLINE

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Disposto a contrariar os evidentes insucessos dos projectos anteriores, Renato Albuquerque contactou a professora Ana Santiago e, em finais de 2004, apresentaram à direcção da escola a ideia de criar um jornal escolar. Ao ‘Rostos’, o director do jornal escrito afirma que a intenção era que este fosse, ao mesmo tempo, um projecto formativo, “com uma redacção relativamente estável e formada essencialmente por alunos”, e informativo, “que desse notícia do que se tivesse passado, ou viesse a passar, na escola ou que com ela tivesse alguma relação”. Em prol do sucesso do projecto, Renato Albuquerque e Ana Santiago, investiram ambos numa formação no Centro de Formação para Jornalistas. Seguiu-se o próximo passo: juntar um grupo de alunos interessados. “Após reunir esse grupo de alunos, escolhemos o nome, elaborámos o estatuto editorial que levámos à aprovação do Conselho Pedagógico e… dia 18 de Janeiro de 2005 nasceu o primeiro número do ‘ESCrito’”, desenvolveu o responsável. “OS APOIOS MATERIAIS SÃO QUASE EXCLUSIVAMENTE DA DIRECÇÃO DA ESCOLA” O director do projecto afirma que os apoios materiais, necessários para a execução do projecto, “são quase exclusivamente da direcção da escola” que, sublinha, “tem apoiado o projecto desde o início”. Quanto à divulgação do jornal, sabemos que o mesmo é vendido nas instalações da escola pela quantia de 0,50€ e que é também

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enviado “para diversos órgãos de soberania, (Presidente da República, Ministra da Educação, Director Regional de Educação, entre outros)”, para órgãos autárquicos (Presidente da Câmara Municipal do Barreiro (CMB), Serviços de Educação)” e educativos “(todos os Directores das Escolas do Barreiro)”. Renato Albuquerque acrescenta ainda que o ‘ESCrito’ é também enviado aos colaboradores externos do respectivo número, “como por exemplo a professora universitária que colaborou no último número”, e “a todos os ex-professores, alunos e funcionários que constam na lista de endereços do jornal”. OS OBJECTIVOS… Neste projecto estão envolvidos vários alunos, sendo que os mesmos variam de ano para ano. “Digamos que, de forma fixa, tentamos juntar cerca de uma dúzia de redactores. Valorizamos muito a participação de todos, quer alunos, quer professores”, afirma o responsável pelo projecto. A título de exemplo, Renato Albuquerque faz referência ao último número do ‘ESCrito’, onde mais de 50 contributos “escritos e gráficos” chegaram de várias turmas interessadas em colaborar. Ao ‘Rostos’, o docente adianta ainda que existem quatro objectivos definidos para este projecto escolar. “O primeiro é formativo pois pretendemos criar o gosto pelo jornalismo e habituar os alunos às diferentes tarefas que fazem parte desta actividade. Claro que tentamos cultivar o gosto pela escrita mas não só: a ilustração é um dos


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elementos a que temos dado grande atenção; o segundo é informativo pois o ‘ESCrito’ relata tudo o que se passa na escola e, se essa informação é preciosa para quem cá trabalha, também é fundamental para manter a ligação a todos os que estudaram ou trabalharam nos Casquilhos; o terceiro é histórico pois ele constitui já uma memória, por vezes única, do que se passa na escola desde 2005 até aos nossos dias; por último, o jornal tem como objectivo suscitar a reflexão da nossa comunidade: não é por acaso que trazemos sempre um tema da actualidade,

"(...) a intenção era que este fosse, ao mesmo tempo, um projecto formativo, “com uma redacção relativamente estável e formada essencialmente por alunos”, e informativo, “que desse notícia do que se tivesse passado, ou viesse a passar, na escola ou que com ela tivesse alguma relação”.

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"(...) nas páginas do ‘ESCrito’ é ainda possível encontrar toda uma série de dossiers temáticos e alguns inquéritos lançados pelos elementos da redacção à comunidade escolar. “Procuramos opiniões diversas: o uso dos telemóveis, as relações sexuais, os piercings, o uso da internet e a alimentação são exemplos de alguns destes temas” nacional ou internacional, que suscita a nossa atenção, já falámos, por exemplo, do Tsunami na Tailândia, da morte de João Paulo II, dos 60 anos de Auschwitz, entre outros”, enumerou ao nosso jornal. Para além das notícias, nas páginas do ‘ESCrito’ é ainda possível encontrar toda uma

série de dossiers temáticos e alguns inquéritos lançados pelos elementos da redacção à comunidade escolar. “Procuramos opiniões diversas: o uso dos telemóveis, as relações sexuais, os piercings, o uso da internet e a alimentação são exemplos de alguns destes temas”, explicou.

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“MAL SABÍAMOS NÓS QUE, CINCO ANOS DEPOIS, ÍAMOS REALIZAR A 6ª FESTA DO CHOCOLATE” Como já vem sendo tradição, a Festa do Chocolate marca o aniversário de cada ano de edições publicadas pelo ‘ESCrito’. Contra todas as expectativas, o projecto não só passou do “número zero, um ou dois”, como soma já seis anos de trabalho. Para assinalar a data a escola promove, mais uma vez, a Festa do Chocolate. “Mal sabíamos nós que, cinco anos depois, íamos realizar a 6ª Festa do Chocolate”, confessou ao nosso jornal. É ainda possível encontrar mais informações acerca deste projecto no seguinte site: http://www.esec-casquilhos.rcts.pt/projectos/escrito.htm


MOSAICOS DA REGIÃO

Jorge Espírito Santo

Responsável pelo Serviço de Oncologia do HNSR considera a empresarização dos hospitais “um redondo fracasso” para o SNS /// TEXTO: Vanessa Sardinha

envolvimento emocional torna-se inevitável perante uma patologia tão complexa como é o cancro?

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orge Espírito Santo, presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos e responsável pela Unidade de Oncologia do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo, confessou ao ‘Rostos’ que a empresarização dos hospitais representou, a seu entender, “um redondo fracasso” para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O responsável de saúde salienta, no entanto, que este serviço “foi a experiência mais bem sucedida da democracia portuguesa” e considera até “perver-

so” que, muitas vezes, este seja encarado como um “mau serviço”. Ao ‘Rostos’, Jorge Espírito Santo, revelou ainda que a oncologia é a sua área de eleição dentro da medicina, ainda que seja uma área de exercício “muito penoso”. “Não é uma coisa de secretária nem de laboratório. É uma área que lida com o ser humano e que se destina a ele”, disse. Consegue manter uma relação estritamente profissional com os seus doentes, ou o

Essa é uma pergunta relevante e eu quero dividi-la em duas partes. Há a parte da relação genérica médico/doente sem qualquer consideração particular da especialidade ou da área de exercício. Uma relação médico/doente é uma relação de uma pessoa com outra pessoa, não é uma relação de amizade, é uma relação diferente, de confiança entre duas pessoas. Uma que está doente e a outra que, em princípio, tem a capacidade e os conhecimentos necessários para ajudar o primeiro. Desse ponto de vista, a relação médico/ doente é uma relação especial. Envolve confiança, porque vamos pôr nas mãos do outro o bem que nos é mais precioso, que é a nossa saúde e envolve uma empatia e uma expectativa no profissional que tem a capacidade para nos tratar e para o fazer adequadamente porque tem o conhecimento necessário para tal. Na minha especialidade, em particular, a relação médico/doente é algo muito profundo porque lidamos com a morte. A doença oncológica é uma doença que coloca sempre um risco de vida e, se não for tratada, acaba sempre por matar o doente. O manejo da doença oncológica é muito difícil, muito exigente. Quando o doente chega ao oncologista, vem já numa situação de grande fragilidade e com uma sentença de morte em cima da sua cabeça.

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Por isso, as relações que se desenvolvem neste contexto são sempre muito vincadas, muito carregadas de emoção, muito envolventes. O médico não pode deixar de se envolver, não no sentido de ter pena do doente, mas no sentido de perceber que à sua frente está alguém com o diagnóstico de uma doença muito grave que põe em risco a sua vida se não for adequadamente decidido e tratado. E, quem lhe vai aplicar terapêuticas, também tem essa missão, ou seja, condicionar efeitos secundários graves que podem eventualmente representar algum risco de vida para o doente. Mesmo na fase em que os tratamentos já foram feitos e o doente está em vigilância, fica sempre aquela angústia e o receio de que alguma coisa possa não estar bem e a

ações de doença progressiva e que sabem que morrerão em breve. No entanto, também já foram confrontados com situações de êxito terapêutico e que estão curados e, quando isso acontece, é óptimo. O nosso contacto diário com o doente é uma relação muito intensa, daí ter um nível de conflitualidade muito mais alto do que noutras áreas, porque é muito intensa. Muitas vezes gera até situações mais conflituosas porque as expectativas das pessoas não se cumpriram, porque sentiram que, perante a evolução da doença, o médico não terá feito tudo o que estava ao seu alcance, e isso não é verdade. O cancro ainda não é uma doença que se possa curar a 100 por cento, embora estejamos muito perto em relação a alguns

manência dos doentes. Sobretudo a nível da área de espera e do hospital de dia. Houve uma efectiva melhoria que transforma os tratamentos dos doentes em algo menos penoso. O facto de os doentes terem um espaço muito mais confortável em que a sua privacidade é muito mais respeitada, em que há, inclusive, a possibilidade de haver alguém a acompanhá-los durante os tratamentos melhora, naturalmente, a forma como os doentes encaram a vinda ao serviço e a eventual advertência à terapêutica. O ambiente é mais leve, menos lúgubre. Para os profissionais as condições também melhoraram bastante porque, com o espaço e as alterações que foram introduzidas em termos da organização do acesso dos doentes, também houve aqui mais sossego e tranquilidade para podermos tratar deles. Que outras medidas são ainda necessárias tomar nesta entidade hospitalar, no sentido de melhorar o serviço de oncologia?

doença possa ter volta. É uma situação que se mantém durante muitos anos. Quando a doença volta, porque há a infelicidade de haver uma reincidência, essa relação transforma-se em algo muito penoso e, quando essa recidiva acaba numa doença progressiva e na morte do doente, requer ainda uma maior complexidade em termos desse envolvimento. É penoso para os doentes mas também para os médicos. Os oncologistas têm um grau de ‘burn-out’ muito elevado e em Portugal ninguém liga a isso. Quando chegam ao fim do seu dia de trabalho, os oncologistas já tomaram decisões que implicam a vida ou a morte, já foram confrontados com doentes em situ12 /// REVISTA ROSTOS ONLINE

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tumores. Mas há ainda uma taxa de insucesso muito grande nalguns casos. Essa frustração do insucesso acaba por se reflectir no médico, que é a pessoa que está ali à frente, e é natural que assim seja. “[AS NOVAS INSTALAÇÕES] MELHORARAM BASTANTE A QUALIDADE DE PERMANÊNCIA DOS DOENTES” Até que ponto as novas instalações da Unidade Oncológica deste Hospital melhoraram a qualidade dos tratamentos dos utentes que aqui recorrem? Melhoraram bastante a qualidade da per-

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É preciso completar o projecto inicial que implica construir aquela ala que está vazia. O hospital tem uma ala que está construída e tem outra por construir que é aquela que fica contígua a estas instalações [do Serviço de Oncologia]. O projecto final prevê a construção dessa ala e a ocupação desse local com o ambulatório e a passagem para este espaço do internamento. Ou seja, é necessário termos tudo junto: internamento, hospital dia e ambulatório. O projecto prevê também, ao mesmo tempo, que se construa um auditório para sessões clínicas e que se aumente o espaço para a biblioteca e para formação. Isso é o projecto final, quando ele tiver concluído, este serviço fica ao nível de qualquer serviço da Europa. Mas nem são só as instalações que contam, conta também a organização interna do hospital. Já se deu um passo nesse sentido, com a criação da chamada Unidade de Gestão de Doença Oncológica, mas a organização interna do hospital e a forma como os doentes aqui são atendidos é que conta em definitivo, e isso ainda está muito em embrião. É preciso fazer algumas mudanças, isto é, têm que existir mudanças não apenas ao nível do Serviço de Oncologia mas no resto dos serviços que estão implicados no diagnóstico e tratamento dos doentes. Há muitos serviços implicados nisto, por exemplo: Cirurgia, Radioterapia, Análises, etc., e se eles não estiverem envolvidos devida-


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mente, a qualidade de tudo o que se faz ressente-se. “O SNS PROMOVEU AVANÇOS COMPLETAMENTE SURPREENDENTES” Enquanto responsável de saúde, o que pensa do Serviço Nacional de Saúde (SNS)? O SNS foi a experiência mais bem sucedida da democracia portuguesa, por muito que digam o contrário. O SNS promoveu avanços completamente surpreendentes no estado de saúde dos cidadãos portugueses no seu todo. Posso dizer que quando comecei a minha vida profissional, em 1978, ainda não havia SNS legislado mas já havia o Serviço Médi-

SNS como dos mais eficientes entre os 62 países estudados, alguns conceitos fazem com que as pessoas tenham uma má imagem do serviço. Portanto, apesar de, objectivamente, o SNS ser um sucesso, ter cumprido amplamente os seus serviços, ter promovido uma melhoria imensa da qualidade da saúde dos cidadãos portugueses, as pessoas têm uma má percepção do SNS. De facto, aquilo que foi feito ao SNS com a introdução de alguns conceitos completamente absurdos e outros de destruição encapotada do serviço, foram um redondo fracasso, como é o caso da empresarização dos hospitais. No entanto, ele está vivo, ainda que não esteja de boa saúde. No fundo o falhanço do conceito gestionário

«É preciso fazer algumas mudanças, isto é, têm que existir mudanças não apenas ao nível do Serviço de Oncologia mas no resto dos serviços que estão implicados no diagnóstico e tratamento dos doentes. Há muitos serviços implicados nisto, por exemplo: Cirurgia, Radioterapia, Análises, etc., e se eles não estiverem envolvidos devidamente, a qualidade de tudo o que se faz ressente-se.» co à Periferia e isso permitiu-me ter a ideia que eu já tinha adquirido durante o curso, de que as pessoas tinham muito poucos cuidados de saúde. Quando fiz os Serviços de Médico à Periferia, a minha ideia teve uma confirmação completamente irrevogável. Houve pessoas para as quais fui o primeiro médico a prestar assistência, no local onde estive colocado. Neste momento, estamos a milhas de luz dessa situação. Temos resultados que não nos envergonham e eu acho particularmente perverso as pessoas não valorizarem o SNS e andarem a dizer mal do serviço, embora possam ter algumas razões de queixa. Embora o serviço seja de boa qualidade, desenvolvido num país pobre com muitas dificuldades, contando com muitos profissionais excelentes e com os bons resultados que tem, como indica um estudo da Organização para a Cooperação e o desenvolvimento Económico (OCDE) publicado há pouco tempo e que classifica o nosso

dos serviços, em detrimento do conceito de governação clínica que devia ter sido sempre a linha mestre do SNS fez com que os cidadãos o sintam como um mau serviço, quando ele é bom. Proporciona aos cidadãos cuidados que eles não teriam de outra forma. “O CENTRO HOSPITALAR FOI CRIADO COM UM CAPITAL SOCIAL ABSURDAMENTE BAIXO” Que mudanças reais representou a passagem do HNSR a Centro Hospitalar Barreiro-Montijo? Infelizmente não houve mudanças reais. O Centro Hospitalar foi criado com um capital social absurdamente baixo e, sobre esse ponto de vista, a instituição ficou muito prejudicada. Quando foi criado um Centro Hospitalar em Setúbal, por exemplo, foi criado com um capital social de 45 milhões

de euros O capital social com que foi criado o do Montijo foi de 29 milhões, igual ao do Hospital do Barreiro sozinho, o que significa que já aqui houve um prejuízo. Mas o Centro Hospitalar ainda não foi implementado na prática. Fazemos algumas coisas, há uma partilha de profissionais, consultas que se fazem no Montijo e outras que se fazem aqui. Mas, na realidade, como a administração da instituição continua em ‘stock’ corrente, ainda não se operaram as mudanças estratégicas de fundo que são necessárias. Continuamos à espera. Que avaliação faz da qualidade dos tratamentos aplicados a doentes com este tipo de patologia? Fazemos aqui o mesmo que em qualquer centro evidenciado. E pela avaliação que vamos tendo, estamos com muito bons resultados aqui no nosso serviço. Estamos comparados, muito favoravelmente, com aquilo que está descrito na literatura mundial, nomeadamente nos doentes com cancro da mama e no colo em recto. Isso é, de facto, uma coisa que me apraz registar porque significa que este grupo de trabalho presta bons cuidados aos seus doentes. “ESTAMOS NUMA FASE EMBRIONÁRIA NO QUE RESPEITA À INVESTIGAÇÃO DE CAMPO” Considera que é necessária uma maior aposta no campo da investigação oncológica? Sem dúvida, ainda é necessária uma aposta muito grande, há muito a fazer. Estamos numa fase embrionária no que respeita à investigação de campo e, infelizmente, os hospitais públicos não tem sido muito estimulados a fazer investigação clínica porque a básica já requer outras coisas. Mas nós, que podemos fazer investigação clínica, estamos afogados a trabalhar com a assistência social e nunca ninguém pensou nos serviços públicos com a vertente da investigação. Quando se faz investigação é por ‘carolice’ e com muito tempo para lá do horário de trabalho, sem condições e sem pessoal de apoio. A estrutura, de facto, não está montada para essa vertente. Vertente essa que eu, pessoalmente, acho essencial para garantir a qualidade dos cuidados. A investigação em oncologia é, hoje em dia, indissociável de uma prática de qualidade e nós temos essa ‘perna manca’.

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MOSAICOS DA REGIÃO

Carlos Humberto, presidente da Câmara Municipal do Barreiro

Eu tenho um conceito de democracia que é uma democracia construtiva /// TEXTO: António Sousa Pereira

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Câmara Municipal do Barreiro, desde a eleição de Carlos Humberto, como presidente, tem vindo a colocar na sua gestão a ideia de «Participação», como instrumento chave de valorização da cidadania e modelo de acção política da autarquia. Numa conversa com Carlos Humberto, procurámos abordar este conceito e fazer um breve balanço dos resultados. PARTICIPAÇÃO SEMPRE PRESENTE “Na minha vida de activista cívico e político, as questões da participação, têm estado sempre presentes. Foram-me acompanhando e fui aprofundando as reflexões sobre esta matéria, quer no período antes do 25 de Abril, quer no pós 25 de Abril, passados estes anos, com o distanciamento, fui sentindo que, nós, precisamos de aprofundar mecanismos de intervenção dos cidadãos, dos trabalhadores, das pessoas. Temos que encontrar caminhos que levem que a vida social, a vida política, a cidadania, sejam assumidos por todos. Esta foi uma reflexão que fui fazendo ao longo de décadas, até porque tenho a convicção que a democracia política sendo indispensável, sendo fundamental, sendo determinante, é incompleta, digo isto, no sentido da democracia politica tradicional como nós a vemos – as eleições, a 14 /// REVISTA ROSTOS ONLINE

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constituição dos órgãos, o seu funcionamento democrático. Fui sempre construindo o conceito que para a gestão da cidade – a cidade concelho, a cidade aldeia – é preciso complementar as questões da democracia politica (que é indispensável, com os seus valores intrínsecos fundamentais), com as questões da informação e da comunicação. No meu conceito não é possível haver democracia, nem é possível haver participação sem informação, porque sem informação as pessoas não têm condições para a participação” – referiu Carlos Humberto. UMA GESTÃO DE PROXIMIDADE “Por outro lado, considero que, paralelamente à democracia política, deve haver uma gestão de proximidade. É preciso viver o quotidiano. Estar onde as pessoas estão, onde as pessoas convivem e onde trabalham. Estar junto das instituições. É preciso estar junto das pessoas. Por outro lado, um outro pilar, do meu conceito de participação – de democracia participada – é o conceito propriamente de participação. Para mim, não é possível que exista participação isolada das outras componentes que referi, por essa razão, considero que a participação corresponde a um acto de auto construção permanente, um acto de partilhar com os outros,

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aprender com os outros, estar profundamente atento àquilo que as outras pessoas pensam, estar permanentemente aberto ao enriquecimento com os contributos, com os inputs, com as reflexões dos outros, aprender e darmos também o nosso contributo. No fundo, é aprender a olhar o mundo e a sociedade de forma mais ampla e mais completa. O meu conceito de participação é este que, depois, procuro que seja aplicado, no caso, ao concelho do Barreiro” – salientou o presidente da Câmara Municipal do Barreiro. RELAÇÕES INSTITUCIONAIS ESTÃO NA LEI “Para além destes pilares, tenho a ideia que não se pode confundir participação com relações institucionais. São duas coisas muito distintas e, que, às vezes, na vida política local e mesmo nacional, procura-se confundir estas duas coisas, para desvalorizar o conceito de participação. As relações institucionais estão caracterizadas na lei, estão determinadas por lei, têm que ser cumpridas de acordo com a lei, é essa a nossa ligação como eleitos. Outra coisa é a participação popular, a cidadania, que é muito mais ampla, e, vai muito para além dos órgãos. Por outro lado, quero dizer, que o meu conceito de participação nunca está completo, a participação


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«Se me perguntam se estou satisfeito com as formas de participação que existem, eu respondo que estou permanentemente insatisfeito com tudo o que se faz ao nível da participação.» rizar, mas não devemos ficar por aí” – sublinhou. PARTICIPAÇÃO FAZ PARTE DA GESTÃO nunca está esgotada, está sempre em permanente evolução, há sempre novos mecanismos, há sempre novas formas, há sempre outras coisas a fazer para melhorar” – sublinhou. CADA VEZ MAIS SE VIVE ISOLADO “Se me perguntam se estou satisfeito com as formas de participação que existem, eu respondo que estou permanentemente insatisfeito com tudo o que se faz ao nível da participação. Acho sempre que é possível ir mais além, muitíssimo mais além, até, porque, nós vivemos há algumas décadas numa sociedade que se organiza para que nós sejamos, cada vez mais seres individuais, com uma vida menos colectiva. São as contradições da evolução da sociedade, com tudo o que tem de bom, e tudo o que tem de mau, porque as coisas não são só aspectos positivos, ou só aspectos negativos. Lembro-me que, mesmo no período fascista, a vida colectiva era mais intensa do que é hoje, mas, também é verdade que não tínhamos as condições que hoje temos: não tínhamos computadores, nem internet, não tínhamos os meios de comunicação novos, não tínhamos a televisão que temos actualmente. Hoje, cada vez mais, a gente vive isolado. Um cidadão se quiser viver isolado, consegue estar na sociedade sem ser na relação pessoal e directa. Portanto, numa sociedade que tendencialmente vai criando mecanismos que fomentam o isolamento, torna-se mais difícil a mobilização para a participação colectiva” – referiu o autarca. PARTICIPAÇÃO NÃO É ACTO DE DECIDIR “Eu não considero a participação, apenas, um acto para decidir melhor, do meu ponto de vista, a participação com esta dimensão é um conceito incompleto, naturalmente que a participação ajuda a decidir melhor, mas esta não é, para mim, a questão fundamental. O fundamental da questão da participação é, como referi o acto de auto-construção, um acto de permanentemente viver a vida social, cultural, económica, politica – o objectivo é partilhar, construir. A participação não é, apenas, a gestão da eficácia da decisão. Esse é um aspecto que devemos valo-

A ideia de participação tem alguma coisa a ver com um tempo de autismo da sua força política, que conduziu à derrota eleitoral? A implementação do conceito de participação é uma autocrítica? “Se nós lermos os documentos programáticos e os documentos marcantes daquilo que são os conceitos do PCP, mesmo sobre, mesmo naqueles em que analisamos o trabalho autárquico do PCP, na valorização do trabalho realizado, nós verificamos que os documentos, de uma forma ou de outra, umas vezes mais aprofundado, outras vezes menos aprofundado, mas, sempre num caminho de aprofundamento na reflexão, procuram sempre ir mais longe. As questões da comunicação dos eleitos com o povo, com os cidadãos, com os trabalhadores, estão sempre presentes. Portanto, o que considero que estamos a concretizar, à minha maneira, com base na nossa realidade concreta, é, aquilo que é estratégia, aquilo que é concepção dos comunistas quando estão no Poder, se tem algum aspecto autocrítico, eventualmente tem, mas, esta forma de promover a participação não tem nada a ver com criticar quem cá esteve antes, do PCP ou do PS. Este é o conceito que nós consideramos indispensável que exista no trabalho autárquico, que faça parte da gestão autárquica. Se na prática pode ser interpretado, por alguns, como um contraponto, ou uma avaliação critica, até aceito que o façamos, porque a vida é assim mesmo, eu, até acho, que enquanto Presidente da Câmara devia, tenho obrigação e quero ir mais longe ao nível da participação. Se, alguém vier pedir que faça mais ao nível da participação, que deva ir mais longe, eventualmente, com propostas concretas, desde que sejam ao nível da participação, poderemos considerar, porque melhorar é a evolução da vida. O que nós fazemos é levar à prática um conceito de gestão.” CONFUNDE-SE «PARTICIPAÇÃO» COM «OPÇÕES PARTICIPADAS» As «Opções Participadas» numa fase inicial sentia-se que existia uma ânsia dos cidadãos estarem presentes, eram salas cheias, era como uma lufada de ar fresco. Hoje isso já não acontece, parece ser mais uma

«cidadania militante», cidadãos do PCP, PS ou PSD, um ou outro cidadão anónimo, enquanto, de facto, no começo sentia-se o envolvimento da cidade. Isso não o preocupa? “Talvez a expressão preocupa seja excessiva, porque essa é uma reflexão, sem dúvida, que, no essencial, corresponde a factos, mas, nós precisamos de olhar para os factos, tê-los em conta e procurarmos as razões porque eles acontecem, pois, há sempre uma multiplicidade de razões. Uma delas é com certeza a rotina. Uma rotina pode ser boa, ou menos boa, ou até má, e, pode dar origem que as pessoas sejam mais, ou menos, motivadas para participar. Temos que considerar que há momentos na sociedade em que há inputs, há um clima, que motivam a participar. Há outros momentos, quando as coisas já estão ganhas, naturalmente, nestes casos, a disponibilidade para participar passa a ser outra, por outro lado, também admito, pela dialéctica da vida, que nós, por razões várias, por situações novas, que não estejamos a atingir os objectivos que traçámos. De qualquer forma, ainda bem que foi falado das «Opções Participadas», porque os instrumentos de participação que nós hoje temos são muitos e diversificados, e, naturalmente, terão que ser analisados num todo, e, não apenas analisados de forma isolada num desses instrumentos. As «Opções Participadas» foram a primeira iniciativa, e, na minha opinião, há uma certa confusão entre «Participação» e «Opções Participadas», quando estas são apenas um instrumento das questões da «Participação». Há os «Roteiros das Freguesias» onde nós passamos uma semana, em cada uma das freguesias; é preciso associar às visitas às freguesias, uma vez por mês numa freguesia. É preciso associar, também, às «Opções Participadas» com os trabalhadores. É preciso associar às Semanas Temáticas que nós promovemos com vários temas. Não podemos esquecer os Conselhos, as Comissões, os Observatórios, que uns funcionam muito bem, outros funcionam assim a assim, outros funcionam menos bem, assim como, não podemos ignorar os «Foruns de Cidadania», os «Foruns de Participação», estes mais ligados a aspectos temáticos, como por exemplo o da Quimiparque, ou a da Terceira Travessia do Tejo. Não podemos desligar as coisas, como por exemplo, também os Roteiros das Empresas, das Escolas, ou iniciativas para debater o desenvolvimento do concelho no seu todo.

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Não podemos desligar, até, dos encontros institucionais - bi-mensais - que fazemos com as Juntas de Freguesia. São diversas as acções que integram as questões da «Participação», como, por exemplo, também, as «Conversas com o Presidente» com sectores da população. Eu recordo com muito interesse as Semanas Temáticas onde abordámos temas como «Os nossos rios aqui tão perto», ou os temas do Trabalho e Desenvolvimento. Por exemplo, não há praticamente nenhuma iniciativa pública onde os eleitos da Câmara não estejam presentes, nas sessões solenes da colectividades, nas visitas às IPP’s. Portanto, a «Participação» é o conjunto destas diversas vertentes”. «PARTICIPAÇÃO» É CONHECER A REALIDADE Há, por exemplo, uma avaliação regular dessa estratégia e do seu contributo que dão à gestão? “As forças partidárias, têm vindo quase a concluir, em particular o Partido Socialista que tem um conceito de Participação diferente da nossa, que diz, como não há relatórios, como não há avaliação, então, não há Participação. Porque, querer transformar um conjunto de instrumentos de participação apenas num elemento de gerir melhor a cidade é reduzido, mas, em última análise, este é um conceito extremamente perigoso. É um conceito do Partido Socialista que opta, na minha opinião, por um conceito de Participação empobrecedor, isto é :fomos três vezes à freguesia do Alto do Seixalinho, pelas três vezes ouvimos os oito problemas que não foram resolvidos, portanto, consequentemente isto não serve para nada. Portanto, se nós avaliarmos as iniciativas da Participação com este ponto de vista, isto será matar a Participação, era dizer que a Participação só existe quando se resolvem problemas concretos. A Participação é muito mais que isso, é ser conhecedor, conhecedor do concelho e viver a democracia no concelho – é ir lá, ir lá três vezes ou dez vezes, explicar porque não se fez, justificar porque não se fez, e, naturalmente, quais são as medidas que se estão a tomar, isto é um conceito muito diferente, porque, de facto, a avaliação tem que ser feita em permanência, agora a avaliação não pode ser feita no quantificar, o que foi resolvido, ou o que não está resolvido”. ASSOCIAR «PARTICIPAÇÃO» A AVALIAÇÃO É EMPOBRECEDOR “O meu conceito de participação é distinto, é ter esta necessidade de estar perto das pessoas, ir muitas vezes às freguesias, às colectividades, às IPSS’s, às empresas, se não fosse, de certeza que as minhas opções de fundo em relação à gestão eram diferentes. Quando faço o Orçamento o meu pensamento já não é só o meu pensamento, é o meu pensamento próprio somado com os inputs de todos, com os contributos de todos, por isso é que considero que limitar o conceito de Participação à avaliação

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é empobrecedor do conceito de participação e é empobrecedor da democracia. Nestes contactos, conhecemos os problemas concretos que podemos depois avaliar no contexto global – um problema numa rua, deixa de ser um problema de uma rua, passa a ser um conjunto de problemas concretos em várias ruas. É isso que retiramos destes encontros” – sublinhou Carlos Humberto.

“Bom. Pelos vistos somos presos por ter cão e por não ter cão. Entendam como quiserem, este é o conceito que defendo de Participação. Se acham que é campanha eleitoral permanente, essa não é a minha convicção. Mas, é evidente que tudo, tudo, o que a Câmara faz, ou não faz, se reflecte no pensamento

Foto direita e baixo: Opções Participadas: Verderena e Lavradio Foto esquerda: Runião Pública da Câmara Municipal do Barreiro

PUSEMOS A PARTICIPAÇÃO NO MAPA Considera que a «cidade» já assumiu essa ideia de Participação? “A ideia de Participação vai-se ganhando é fruto dos contactos do dia-a-dia. É um combate de todos os dias. Uma coisa é certa, nós pusemos a participação no mapa. Isso é uma vitória. A participação faz hoje parte do debate político, da agenda politica. Hoje toda a gente fala em Participação no Barreiro, uns para criticarem, outros para valorizarem, outros para avaliarem criticamente. Tudo isto é já uma vitória. Os eleitos da CDU promovem a participação nas coisas mais globais e, também, nas coisas mais concretas. Quando programamos uma intervenção num logradouro e discutimos o projecto com a população, isto é a Participação. Ou quando reunimos com as AUGI’s estamos a promover a Participação. O QUE SE FAZ REFLECTE-SE NAS OPÇÕES DE VOTO Não de pode entender que essa acção da Câmara visa estar em campanha eleitoral permanente?

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das pessoas, e, naturalmente, mais tarde nas opções de voto. BOLETIM MUNICIPAL NÃO É DOS PARTIDOS POLÍTICOS O assunto que tem sido discutido sobre a não aceitação da presença das forças politicas de oposição no Boletim Municipal, não é uma forma de fechar a porta á participação? “Não. Uma coisa são as relações institucionais. Uma coisa são as relações da instituição Câmara com as forças politicas. Como já disse, isso está determinado por Lei, temos que respeitar a Lei, e, podemos ir para além daquilo que a Lei determina e nós vamos, mas isto é uma coisa que não tem nada a ver com Participação. Uma coisa são as relações institucionais, outra coisa são as relações com a população. São duas coisas distintas. A Participação não tem a ver com as relações interpartidárias ou com a relação institucional, ou da relação inter-eleitos, ou com a relação das instituições com os eleitos. Relativamente ao Boletim Municipal tenho uma convicção profunda, é que o Boletim Municipal não é dos partidos políticos. O Boletim Municipal é da instituição Câmara Municipal do Barreiro.


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Eu quando escrevo no Boletim Municipal tenho o cuidado de ter em conta que sou presidente de todos os cidadãos do Barreiro. Não sou o presidente dos cidadãos que me elegeram. Portanto, digamos, não estou disponível para partidarizar o Boletim Municipal, porque se o PS, PSD ou BE tiverem um espaço, o PCP também tem que ter o seu espaço. Hoje, quem tem espaço no Boletim Municipal é a instituição Câmara Municipal do Barreiro, quem tem espaço é o Presidente da Câmara, não é o membro do PCP. No que escrevo no Boletim Municipal procuro o equilíbrio. Sabe, posso ser acusado do que quiserem, nunca serei acusado é de usar o cargo de presidente de forma partidarizada, pelo contrário, o que eu acho que pode ser criticável é a minha procura de isenção permanente”. «ORÇAMENTO PARTICIPATIVO» É UM MOMENTO O que é pensa do Orçamento Participativo? “O Partido Socialista fala nisso, o Bloco também às vezes, mas, mais o Partido Socialista. Contrapor, como o PS o faz, o conceito de «Orçamento Participativo» ao conceito de Participação, é comparar coisas que não são comparáveis. O Orçamento Participativo no conceito que lhe é dado, que hoje existe, é interessante acompanhar, e, até, conhecer a evolução da experiência de Portalegre, no Brasil, que, como sabemos, é o expoente máximo dessa experiência. Hoje, eles, já colocam em causa o conceito, pelo menos na forma como foi criado. O «Orçamento Participativo» é um momento, a «Participação», no conceito que nós definimos, é uma vida. Isto, só por si, é uma diferença abismal. O «Orçamento Participativo» comparativamente ao conceito de «Participação» que defendo é muito empobrecedor e muito frágil. Eu acho que nós temos que ser rigorosos no que fazemos. Considero que o título «Orçamento Participativo» só por si é enganador. O que é isso de Orçamento Participativo? Nós temos um Orçamento de 60 milhões e pegamos em 30 milhões e perguntamos às pessoas o que fazemos? É agarrar em dez milhões? É impossível. É mentira. É pegar em 1% do Orçamento, nem é possível 1% do Orçamento. Dizemos assim, o concelho tem aqui 3 milhões do Orçamento, agora digam lá onde querem gastar. Teríamos que dividir por freguesia. Não é possível. Não temos meios financeiros para fazer isso e isso não é possível. Isso é populismo”. É POPULISTA O CONCEITO DO PARTIDO SOCIALISTA Está a acusar de populista os autarcas que promovem o Orçamento Participativo? “Estou a acusar de populista o conceito que o Partido Socialista tem defendido, no Barreiro, de Orçamento Participativo. Não estou a acusar nenhum autarca que promova o Orçamento Participativo, nem nenhum camarada meu que o promova. O Partido Socialista no Barreiro tem feito um

«O que é isso de Orçamento Participativo? Nós temos um Orçamento de 60 milhões e pegamos em 30 milhões e perguntamos às pessoas o que fazemos? É agarrar em dez milhões? É impossível. É mentira.»

ataque frontal com este conceito de Orçamento Participativo, e, considero que não tem suporte de conceitos, nem ideológico, nem prática política, para contrapor o «Orçamento Participativo» ao conceito de «Participação» que a CDU defende, mas, digo-lhe, nós, estamos disponíveis para analisar propostas, se existirem concretas, porque nós queremos sempre ir mais longe e fazer melhor”. ENVOLVER OS TRABALHADORES NA GESTÃO Carlos Humberto referiu também a importância de envolver os trabalhadores na gestão da autarquia. Este é um trabalho quotidiano, porque sublinhou – “a autarquia só tem uma razão para existir, é servir, e, resolver os problemas das pessoas”. CÂMARAS MULTICORES É VANTAJOSO Como avalia as propostas que existam Executivos de uma só cor politica? “Separo a «Participação» das relações institucionais e do funcionamento da instituição. De qualquer forma, a minha opinião é que a actual estrutura das Câmaras multicores é vantajosa. O Barreiro, apesar de tudo, é uma experiência que prova. Este mandato prova-o, apesar de existir uma força política que tem a maioria absoluta, consegue

trabalhar com todos aqueles que aceitaram pelouros e todos trabalhamos para o mesmo objectivo que é o desenvolvimento do concelho. As soluções que queiram sacrificar a democraticidade, a representatividade proporcional, a questões de eficácia, não são boas. Não aceito a ideia que a eficácia só seja atingida com soluções e formas de gestão de partido único, isto é, quem ganha tem tudo, nem acredito que dessa forma seja mais eficaz a gestão política. E, digo, mesmo que o fosse, eu não sacrifico a democracia à eficácia. Eu tenho um conceito de democracia que defendo, que não é o de uma democracia optativa, isto é que em tudo tenho que optar, ou seja, no dia-a-dia, há minha proposta e há tua proposta. E, depois, tenho que optar, ou é a minha ou é a tua. Não é isso. Eu tenho um conceito de democracia que é uma democracia construtiva, onde, eu apesar de ganhar posso ter em conta as opiniões daquele que perdeu, e, sem dúvida, posso enriquecer com as opiniões do que perdeu, essa é que é a diferença, porque, acho, depois dos órgãos autárquicos estarem eleitos, é possível nós caminharmos para uma democracia que eu chamo construtiva, na qual nós construímos de forma permanente com os contributos uns dos outros”.

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EM FOCO

da Quimigal, e, também, considera que alguns desses investimentos poderão não ter correspondido à “oportunidade que se julgavam ter na altura”. DEGRADAÇÃO ACELERADA DO PARQUE

Luis Tavares, Administrador da Quimiparque – Baía Tejo

Uma grande revolução dar utilidade diferente aos espaços que durante 100 anos foram industriais /// TEXTO: S.P.

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ma conversa com Luís Tavares, engenheiro, do Conselho de Administração da Quimiparque, actualmente Baía Tejo, permitiu-nos um reencontro com memórias e com os sonhos daqueles que acreditaram que era possível evitar a degradação e manter vivo um território afectado pela desindustrialização. Luis Tavares, está ligado ao Barreiro desde o ano 1978. Recorda que, quando iniciou a sua actividade profissional no concelho do Barreiro, já se sentiam os efeitos do “processo de desindustrialização”. CRISE FRUTO DO CHOQUE DO PETRÓLEO “Quando cheguei ao Barreiro, já se começava a verificar o não êxito de algumas actividades

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que tinham sido montadas nos anos anteriores. Existiam um conjunto de novas fábricas que tinham sido instaladas e começou a verificar-se que não tinham resultados – Fibras de Vidro, Poliois, Kowa Seiko, Zinco Metálico – umas demorando mais que outras, no seu processo negativo. Tudo, possivelmente, foi um resultado do choque do petróleo, a subida dos preços dos combustíveis, que teve um impacto negativo sobre esses grandes investimentos que se fizeram no Barreiro” – refere Luís Tavares. Luis Tavares sublinha não ter informação directa da situação anterior a 1978, o que conhece foi resultado de conversas e diferentes informações. Está convicto que o aumento do preço do petróleo terá tido um efeito negativo sobre os investimentos realizados no complexo industrial

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“Há todo um conjunto de factores que conduziram, efectivamente, no princípio dos anos 80, ao desaparecimento sucessivo de várias actividades industriais, e, em simultâneo, deu-se a degradação acelerada das infra-estruturas” - salienta. Recorda que na época, anos 80, no complexo industrial da Quimigal trabalhavam na ordem dos 5000 trabalhadores. “Há uma degradação muito visível e muito rápida. Em vários locais do Parque as estradas começaram a abater, porque não havia manutenção. Os esgotos deixavam de funcionar. Os problemas infra-estruturais que eram cada vez mais graves” – recorda, porque enquanto responsável pelo Departamento de Projectos, no dia-a-dia acompanhava directamente estas situações. Salienta Luis Tavares que as empresas existentes, estavam, elas mesmas, fechadas dentro de si próprias – “cada uma tratava do seu espaço, mas para o Parque em geral, ninguém tratava. Havia uma Direcção de Serviços, mas, esta, não conseguia resolver as dificuldades, porque não tinha recursos, devido à crise económica e financeira. Este foi o tempo da crise dos salários, das dificuldades de pagamentos”. O MODELO DE MANCHESTER “A situação que existia no complexo industrial da Quimigal colocava um problema complicado. Era como ver um indivíduo que se está a afogar e temos que o puxar pelos cabelos se não ele afoga-se e desaparece. A pergunta que se colocava todos os dias era – O que se vai fazer aqui?” – salienta Luís Tavares. Refere que, nessa altura a Administração resolveu efectuar uma série de visitas ao estrangeiro, para analisar o que tinha sido feito em complexos industriais que viveram situações idênticas. “Eram vários que estavam a sofrer as mesmas consequências. Estivemos em Manchester, em Itália e na Áustria. Foi em Inglaterra, em Manchester, que se encontrou o modelo mais adequado” - sublinha. O Traford Park em Manchester, nos finais dos anos 80, é um grande Parque Empresarial com 800 hectares, que resultou da reabilitação de uma zona industrial muito antiga. Nós temos 300 hectares. No Traford Park pegaram nos edifícios utilizáveis, que deixaram de ser úteis às fábricas que fecharam, reabilitaram os edifícios, e, começaram


EM FOCO

«Defendiam que não fazia sentido instalar serviços num Parque Industrial. Mas, nós, acreditávamos, porque não estávamos a inventar, estávamos apenas a querer seguir bons exemplos. E, sem dúvida, assim foi, a nossa aposta na implementação do modelo inglês» a alugá-los para outras actividades. Este foi o maior exemplo na Europa e no mundo, de um Parque Empresarial criado a partir de uma zona industrial desactivada” – refere Luís Tavares. ERAM MUITOS OS QUE NÃO ACREDITAVAM “Na altura, verificou-se que esta era uma solução. Era uma solução viável” – sublinha o Engenheiro Luís Tavares, sentindo-se um brilho nos seus olhos. Recorda que – “existiam pessoas que não acreditavam, eram muitos os que não acreditavam” . De referir que o processo de implementação do Parque Empresarial no Complexo Industrial do Barreiro ocorre, precisamente, na época em que Portugal está a dar os passos de plena integração na União Europeia. “Nós nunca tivemos ajudas da Comunidade Europeia para recuperar o Parque. Foi tudo feito com a prata da casa, que não havia. Foi preciso inventar recursos” - sublinha. ERA UMA GRANDE REVOLUÇÃO “A experiência recolhida em Inglaterra era, para as pessoas que visitaram Manchester, uma solução viável. Acreditou-se que era possível adaptar edifícios antigos para lhes atribuir soluções diferentes. Era possível recuperar as infraestruturas, as estradas, os esgotos, a rede eléctrica, tudo tinha que ser arranjado, mas, isso era viável. Depois, o passo seguinte seria alugar os espaços para as actividades de empresas que deles tivessem necessidade. Isto, digo-lhe, era uma grande revolução, porque era dar uma utilidade diferente aos espaços que tinham sido de actividades industriais, durante 100 anos” – afirma Luis Tavares. IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO INGLÊS Na época, segundo Luis Tavares, uma das críticas principais questionava como seria possível instalar um Parque de Serviços num complexo industrial. “Defendiam que não fazia sentido instalar serviços num Parque Industrial. Mas, nós, acreditávamos, porque não estávamos a inventar, estávamos apenas a querer seguir bons exemplos. E, sem dúvida, assim foi, a

nossa aposta na implementação do modelo inglês” - sublinha. QUMIPARQUE NASCE EM 1989 O processo começou como ‘Parques Industriais da Quimigal”, só, em 20 de Dezembro de 1989, foi assinada a escritura de constituição da Quimiparque. A empresa tinha o mandato da Quimigal para gerir e cuidar de todos os serviços, de tudo aquilo que era geral – estradas, electricidade, esgotos, telefones, água, portaria, bombeiros. A empresa geria estes serviços e cobrava uma renda aos utilizadores, mesmo aos espaços ocupados pela própria Quimigal. Todos tinham que pagar. Por exemplo, os utilizadores da Quimigal tiveram que se redimensionar, deixando de lado todos os espaços que não utilizavam. “Havia no território uma má utilização dos espaços. Não havia racionalização. Naturalmente, quando tiveram que começar a pagar pelo espaço que ocupavam, então racionalizaram, e, esta situação permitiu o aparecimento de novas zonas que foram colocadas ao serviço do Parque Empresarial” – sublinha Luís Tavares. PARQUE EMPRESARIAL TEM VANTAGENS A Quimiparque recupera os edifícios que não eram necessários às actividades fabris. Na época, surgem um conjunto de empresas interessadas em instalar-se no Parque Empresarial. “As empresas encontram no Parque Empresarial a vantagem de terem, aqui, tudo o que é necessário para puderem funcionar. Qualquer pequena ou média empresa que se instalava no Parque tinha à sua volta aquilo que necessitavam – os bancos, os Correios, bomba de gasolina, hipermercado, restaurantes. Isso atraía as empresas. Foram investidos alguns milhões de contos na altura na recuperação dos edifícios. Mas, este era um investimento que se efectuava com as receitas que obtínhamos. A empresa Quimipaque com as rendas que obtinha, uma parte era para a Quimigal e outra era para os investimentos” - salienta. EXPERIÊNCIA INÉDITA EM PORTUGAL

A experiência recolhida em Inglaterra, demonstrava que garantir no Parque um conjunto de serviços às empresas, era, para elas, uma grande economia. “Esse foi um objectivo desde o inicio, instalar esses serviços, mas, instalar esses serviços como clientes. Conseguimos, ao longo do tempo, ir captando clientes que também prestavam serviços aos clientes do Parque” – sublinha. “Durante muitos anos não havia, em Portugal, um Parque que tivesse tudo o que nós tínhamos para oferecer às empresas” – afirma. “Foi isso que nos permitiu uma captação rápida de clientes, que deu origem a uma captação rápida de receitas, e, termos capacidade financeira para fazermos as melhorias e as alterações” – acrescenta Luis Tavares. ESTANCÁMOS A DEGRADAÇÃO DO TERRITÓRIO “Com este processo estancámos o processo de degradação do território. Iniciámos a recuperação de todas as infraestruturas que estavam danificadas.” – salienta. Melhorou-se o sistema de entradas. A circulação começou a ser simplificada. “A nossa experiência foi um caso único no país. No inicio, uma ideia que tivemos muito que combater foi aqueles que diziam que era incompatível a existência de indústria com a existência dos serviços. Nós sempre defendemos que as industrias completavam os serviços e os serviços as industrias. . Isso foi verdade. Foi assim que o processo se desenvolveu” – sublinha Luis Tavares. “Inicialmente chamámos Parque Industrial. Depois passámos para Parque Empresarial” – refere. UMA TRANSIÇÃO DE 20 ANOS “Este processo com todos os defeitos que teve, permitiu estabelecer uma ponte entre o passado, o presente e o futuro. Permitiu que este território não morresse, e, mal ou bem, fez-se a travessia do deserto. Hoje, estamos preparados e cá vamos trabalhando. A empresa continua sólida, e, considero que estamos preparados para desenvolver todo o futuro” – refere com um grande sorriso. “Não houve aqui um buraco, um desapareci-

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UM OLHAR NA CIDADE

transição. Conseguimos fazer uma transição de 20 anos. ” - sublinha. 10 ANOS A CONSTRUIR UM MUSEU Luis Tavares refere que neste processo, ao longo dos anos, existiu sempre a decisão de preservar as memórias industriais. Sublinhou que, neste campo, teve um papel exemplar Sardinha Pereira. “Com um gosto extraordinário pelas memórias, ele conseguiu concretizar a ideia de Museu, uma realidade que hoje está consolidada” – sublinha Luís Tavares. “Levámos 10 anos a concretizar o Museu. Este projecto nasceu em 1995” – refere. PARQUE ESTÁ VIVO mento. Nós, conseguimos nestes anos todos, pelo meio com alguns anos de crise, estarmos hoje, aqui, com alguma capacidade para desenvolver e aprovar um novo Plano, partindo para uma realidade completamente diferente. Foi a

Segundo Luís Tavares, no novo Plano de Urbanização, que está em discussão pública, a ideia de Parque Empresarial não se vai perder. “Continuamos a achar perfeitamente válida e correcta a existência de um Parque Empresa-

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rial” - sublinha. “Sinto-me satisfeito, porque passados estes anos todos, vejo que há algum êxito. Conseguimos que estivesse sempre aqui muita gente a trabalhar. O Parque está vivo, sempre esteve vivo. Hoje, olhando para trás, penso que se calhar não fizemos tudo o que queríamos, mas fizemos alguma coisa. Sobretudo, aquilo que considero mais importante, é que, nestes anos, foram lançadas as bases para que, daqui para a frente, podermos fazer um projecto novo, diferente, um projecto que acompanhe a evolução dos tempos” – sublinha Luís Tavares. “Há, sem dúvida, uma base para isso, que está perfeitamente sólida. Este território é, na verdade, uma âncora para modernizar. Felizmente temos capacidade para isso se possa concretizar” – refere a finalizar, numa conversa que sentimos marcada de emoções, fortes recordações e de alguém que esteve sempre neste projecto acreditando que era possível evitar a degradação e desenvolver uma experiência única que ficará na história do Barreiro, da região e do país.


UM OLHAR NA CIDADE

Carlos Cardoso, presidente da direcção da CONSULMED

«Onde exista um conflito queremos ter um mediador»

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uero dizer que tenho andado por todo o país, e, digo-lhe nunca encontrei a abertura e a visão para o projecto, e de vanguarda, que encontrei aqui no Barreiro. Desde o principio perceberam que este projecto é importante para o cidadão” – sublinha Carlos Cardoso, presidente da Direcção da Consulmede, a propósito da implementação de uma Rede de Mediadores de Conflito no concelho do Barreiro. A CONSULMED – Associação Nacional de Resolução de Conflitos, fundada em 2007, é uma associação tem como objectivo implementar meios alternativos de re-

solução de conflitos, alternativos ao sistema judicial. Carlos Cardoso, presidente da direcção da CONSULMED recorda que “a partir de determinada altura o Estado tentou implementar alguns sistemas alternativos aos Tribunais, ao sistema judicial. Implementou Centros de Arbitragem, os Julgados de Paz e a Mediação. Nós, Mediadores formámos esta associação com o intuito de criar uma rede nacional de mediação”. MEDIAÇÃO É UM MEIO ALTERNATIVO “O nosso objectivo é ajudar a justiça, ajudar os Tribunais, retirando o peso daquelas pequenas coisas que

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UM OLHAR NA CIDADE

«É esse o papel do Mediador de conflito, estabelecer sempre a comunicação entre as partes. Normalmente, as partes envolvidas em conflito extremam posições, e, depois, como elas não dialogam, não conseguem chegar a um entendimento.»

podem ser resolvidas fora dos Tribunais, aquilo que os Advogados chamam as «bagatelas juridicas». Há vários meios alternativos para a gestão de conflitos a arbitragem é um deles, a mediação é outro, e são coisas completamente distintas. A mediação é um meio alternativo que nós estamos a querer instalar e, que, para nós, é dos meios alternativos o mais fiável de todos” – sublinha Carlos Cardoso.

A ideia é saber o que está por trás de cada posição. Porque tem essa posição? Porque quer isso? Mas porquê? Quando a outra parte percebe porque é que aquela outra parte quer aquilo, por aquilo que diz, então percebem-se as razões e o diálogo é possível” – refere o presidente da direcção da CONSULMED.

MEDIADOR É UM COMUNICADOR

Carlos Cardoso, recorda uma história, “quando duas crianças lutavam por uma laranja. Ao lutarem pela laranja começam a digladiar-se. O pai, como bom pai que é, intervém para resolver o conflito. O pai corta a laranja ao meio, salomonicamente, e dá meia parte a cada um, para o pai o problema ficou resolvido. Acontece porém, se fosse um Mediador de Conflitos a resolver o problema, não faria aquilo que o pai fez, porque as crianças continuaram a chorar. O pai não ouviu o que estava por trás da intenção de cada criança - os interesses e as necessidades delas. Se ele fosse Mediador teria perguntado: Para quê queres tu a laranja? Um diria que quer a laranja – “porque quero a casca, para fazer um bolo”. O outro diria – “quero a polpa para fazer sumo”. O pai podia ter descascado e dava a polpa a

“A mediação é feita por um terceiro. Isto é, quando há um conflito entre duas partes, ou mais, há um mediador que é um terceiro, completamente neutro e imparcial, que tenta ajudar a resolver o conflito. Ele não diz às partes como devem resolver, ele ajuda as partes. Chamarmos Mediador de Conflitos ou Mediador de Comunicação é exactamente a mesma coisa, porque no fundo é um comunicador, alguém que vai ajudar as partes a comunicarem entre si. É esse o papel do Mediador de conflito, estabelecer sempre a comunicação entre as partes. Normalmente, as partes envolvidas em conflito extremam posições, e, depois, como elas não dialogam, não conseguem chegar a um entendimento.

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PERCEBER OS INTERESSES POR DETRÁS DAS POSIÇÕES

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um e a casca ao outro. Resolvia o problema. É isto que se faz em Mediação. É uma coisa muito simples. É sentir. É perceber, quais são os interesses por detrás das posições. Isto não se faz num Tribunal. Num Tribunal diz-se: o senhor matou, o senhor roubou, provou-se que o fez, tem x anos de cadeia”. POR TODA A EUROPA JÁ SE PRATICA A MEDIAÇÃO Carlos Cardoso refere que – “o Estado criou vários sistemas o Penal, Laboral e Familiar. São estes sistemas que existem neste momento, e, para estes sistemas criou Mediadores de Conflitos. O Estado tem quatro sistemas onde há mediação: Tribunal Julgado de Paz, para valores até 5000 euros e, apenas para determinados casos. O Juiz de Paz, sempre que vê casos que podem ser resolvidos por mediação, envia para a lista de Mediadores do Julgado de Paz, onde espera que cheguem a um acordo”. Recorda ainda que foram, depois criados mais três sistemas autónomos dos Tribunais – Sistema de Mediação Penal; Sistema de Mediação Familiar e Sistema de Mediação Laboral. “Por toda a Europa já se pratica a Mediação e já existem algumas Directivas da União Europeia. Em Portugal, o processo começou por volta


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de 2002, com a formação dos Julgados de Paz. Ainda estamos a dar os primeiros passos” – salienta Carlos Cardoso. Sublinha que noutros países, como Alemanha ou França, já há uma politica de mediação. “Porque é mais célere, mãos baratas e tem um grau de fiabilidade superior, porque não há um terceiro a resolver por eles, são eles que resolvem” - salienta. QUEREMOS QUE AS PESSOAS TENHAM MAIS PAZ SOCIAL O presidente da direcção da CONSULMED, salienta que a CONSULMED nasceu porque havia muitos mediadores que não conseguiam fazer parte da Listas de Mediação e ficaram sem trabalhar. “Nós associamo-nos no sentido de criar uma Rede Privada de Mediação para podermos fazer mediação. Na altura falámos com o Ministério da Justiça a quem apresentámos o projecto. Pensamos ter agradado e o Estado dispensou-nos instalações, no antigo Tribunal Administrativo de Lisboa” - refere. “Nós queremos fazer mediação e estar em cada bairro, onde exista um conflito queremos ter um mediador. Queremos que as pessoas tenham mais paz social, mais bem estar, tenham melhor qualidade de vida é essa a nossa intenção” – sublinha o presidente da direcção da CONSULMED. CRIAR UMA REDE DE MEDIAÇÃO Carlos Cardoso salienta que a CONSULMED está a formar pessoas, dando-lhe os instrumentos para agir como Mediadores. “Começámos a fazer formação em diversas zonas do país – em Figueiró dos Vinhos, no Funchal. Nunca perdemos de vista esse objectivo de criarmos uma REDE DE MEDIAÇÃO. Esta é uma rede que será complementar àquela que já existe do Estado” - salienta. “Tenho andado por todo o país a falar com presidentes de Câmara e todos eles querem criar o Julgado de Paz, mas, não avançam porque isso onera o Orçamento das Câmaras.

É necessário que haja uma Rede que possa ser complementar.” - sublinha REDE DE GESTORES DE CONFLITO NO CONCELHO De referir que foi estabelecida uma parceria com a Câmara Municipal do Barreiro com o objectivo de ter uma Rede de Gestores de Conflito no concelho, que possam dar resposta a todos os conflitos. A primeira fase passa pela formação de Mediadores de Conflito no concelho do Barreiro, depois de existir uma Rede de Formadores, será implementado o sistema. Para a resolução de conflitos será, depois, nomeado um Mediador, designado pela Consulmede, que terá a responsabilidade de gerir a rede de Mediadores. Quando a Rede estiver implementada para solicitar um Mediador de Conflito bastará que os interessados se desloquem à Câmara Municipal do Barreiro ou contactem a Consulmed. Recorde-se que a primeira acção de Formação será em princípios de Março. MEDIAÇÃO É MAIS CÉLERE O presidente da direcção da CONSULMED, sublinha que desde 2007, todos os casos de conflito que chegaram à Consulmed foram resolvidos com sucesso – “chegaram todos a acordo”. “Sou Mediador do Estado, quer Laboral, quer Penal, e, todos os casos em que intervi, e, digo-lhe, foram dezenas deles, houve sempre um acordo” - sublinha. “As pessoas com a resolução dos seus problemas têm mais paz social, têm mais bem estar, e, não necessitam de arrastar-se pelos Tribunais. A vantagem da Mediação é que é mais célere, muito mais célere que o sistema judicial, tem um grau de satisfação muito mais eleva-

do e é muito mais barato” - refere. A Consulmede está a desenvolver o projecto em parceria com a Câmara Municipal do Barreiro, e, pretende alargar à Moita, Montijo, Alcochete e pelo distrito de Setúbal. A Câmara Municipal do Barreiro está a estabelecer contactos com outras autarquias para aderirem ao projecto. “Quero dizer que tenho andado por todo o país, e, digo-lhe nunca encontrei a abertura e a visão para o projecto, e de vanguarda, que encontrei aqui no Barreiro. Desde o principio perceberam que este projecto é importante para o cidadão. Estamos a oferecer justiça à pessoas mais humanizada e gratuitamente. Qualquer pessoa que vá hoje ao Tribunal paga de taxas de justiça 100 euros. Nós estamos a oferecer justiça gratuita às pessoas, muito mais célere e com um grau de satisfação, que não tem a carga psicológica dos Tribunais” – sublinha Carlos Cardoso. Um exemplo único na Europa De referir que quem quiser ser Mediador deve fazer a Formação. Se for Licenciado poderá concorrer e fazer parte do sistema do Estado. Se não for licenciado pode integrar a Rede da Consulmed. “A concretização deste projecto será um exemplo único na Europa” – sublinha Carlos Cardoso.

«Nós queremos fazer mediação e estar em cada bairro, onde exista um conflito queremos ter um mediador. Queremos que as pessoas tenham mais paz social, mais bem estar, tenham melhor qualidade de vida é essa a nossa intenção» JANEIRO/FEVEREIRO

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