Mente Curiosa - Ano 3, Nº 50 - Fevereiro - 2019
ALÉM DA MEMÓRIA Os prejuízos também se refletem nos hábitos
DE OLHO NOS SINAIS
Familiares e amigos têm papel fundamental no diagnóstico
OS EFEITOS DO
ALZHEIMER
Entenda o que a doença provoca no cérebro
editorial
Doença que afeta a mente Ainda não existe um exame capaz de confirmar o diagnóstico de Alzheimer: ele é clínico, baseado nos sintomas apresentados - e, por isso mesmo, a observação de pessoas que convivem com o paciente é fundamental. Afinal, com a doença surgem mudanças de comportamento, discretas no início mas que podem se intensificar com o avanço do problema. Apesar de as falhas de me-
mória serem o sinal mais conhecido, o Alzheimer tem outras maneiras de se manifestar. Desvendar como tudo isso acontece no cérebro tem sido um desafio da ciência. Enquanto isso, seguimos com as recomendações sobre como reduzir os riscos do problema aparecer. Saiba mais sobre a doença nesta edição e cuide-se! Boa leitura! Marisa Sei, editora marisa.sei@astral.com.br
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CÉREBRO COMPROMETIDO Como o Alzheimer afeta o corpo
PERDAS PROGRESSIVAS Conheça os sintomas
ALÉM DA TERCEIRA IDADE A doença pode se manifestar na juventude
AÇÃO DOS REMÉDIOS Eles fornecem qualidade de vida
ENTRE AFETOS E CONSULTAS A atenção dos familiares é essencial no diagnóstico
sumário
Cérebro COMPROMETIDO Entenda como a doença afeta o órgão responsável pela mente e corpo humanos
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esde a identificação da doença há mais de 120 anos até os dias de hoje, muitos estudos científicos foram conduzidos. Contudo, nenhum deles conseguiu identificar quais são os fatores exatos para o desenvolvimento do Alzheimer. O que se sabe até agora é que se trata de um distúrbio neurodegenerativo pois, ao se desenvolver, causa atrofia no cérebro de uma forma geral. “É uma doença que evolui, destruindo as funções mentais, fazendo com que o paciente perca sua capacidade de memória e raciocínio”, resume o neurologista André Gustavo Lima. Pouco a pouco, ocorre a morte de células nervosas em todo o cérebro, que progressivamente dificultam a produção de certos neurotransmissores importantes para a realização de sinapses – as conexões entre os neurônios. “Com isso, o cérebro vai encolhendo, causando demência, prejudicando a memória em primeira instância e provocando outros efeitos”, acrescenta o neurocientista Aristides Brito.
DESAPARECENDO
Para entender melhor como acontece esse
atrofiamento no cérebro, vamos mais a fundo. As células mais especializadas, localizadas no córtex cerebral, são as que mais rapidamente definham. O córtex é a parte mais externa do órgão; seus neurônios, encarregados de conectar o momento presente ao passado, vão desparecendo com a progressão do distúrbio. Com isso, surge a dificuldade do
paciente em lidar com tarefas do dia a dia. “Depois, neurônios da região parietal (relacionados à noção de espaço e localização) e regiões subcorticais (ligadas ao controle do bem-estar pessoal, reconhecimento facial de pessoas, memórias imediatas) são igualmente perdidos”, destaca o neurologista Martin Portner. O córtex, essa parte mais exterior do cérebro, encolhe como um todo. Porém, no hipocampo, área responsável por novas memórias, esse encolhimento é mais grave, segundo Aristides Brito. “Por fim, os ventrículos vão ficando maiores, o que diminui a capacidade de processamento do órgão. As partes do cérebro vão fibrilando, gerando placas de proteínas que dificultam suas operações em geral”, pontua o Aristides Brito.
VÍTIMAS E VILÕES
Mas, por que essas proteínas prejudicam o desenvolvimento das atividades normais do órgão? O que a ciência já conseguiu descobrir é que acontece um processamento anormal de peptídeos e de proteínas, que se depositam em espaços que existem entre os neurônios. Com o passar do tempo, essas substâncias formam placas e emaranhados que aprisionam células cerebrais. “A ação de peptídeos e proteínas anormalmente processadas inicia o processo de degeneração progressiva de agrupamentos neuronais e propagam-se pelo sistema nervoso central”, acrescenta Fernanda Terribili, geriatra. Uma dessas proteínas vitimadas é a TAU, responsável para dar suporte a pequenos canais por onde passam neurotransmis-
sores essenciais para o bom funcionamento dos neurônios. Porém, a configuração dessa proteína é alterada no Alzheimer, criando emaranhados que vão matando as células nervosas. Outra proteína desenvolve o papel de vilão na doença: a beta-amiloide. “Essa proteína degeneradora e fragmentos proteicos afetam o tecido cerebral, reduzindo células cerebrais e sinapses – que são os processos nervosos que fazem o raciocínio, o pensamento e a memória”, finaliza a gerontóloga Suyen A. Miranda.
“O cérebro vai encolhendo, causando demência, prejudicando a memória em primeira instância e provocando outros efeitos” Aristides Brito, neurocientista
REGIÕES AFETADAS “Na demência de Alzheimer, são frequentemente acometidas a área do hipocampo e regiões vizinhas, comprometendo a capacidade de memorizar novas informações, com manutenção das informações adquiridas no passado”, indica a geriatra Fernanda Terribili. Confira outras regiões cerebrais que são afetadas pela doença e suas consequências: • amígdala: responsável pela experiência e expressão de sentimentos. Com o Alzheimer, a pessoa pode apresentar emoções vazias e/ou explosões emocionais; • cerebelo: ligado à coordenação de
movimentos voluntários (como postura, fala e funções motoras), é afetado em fases posteriores da doença; • corpo caloso: região onde ocorre a troca de informações entre os dois hemisférios do órgão. Com o desenvolvimento do distúrbio, é reduzida a velocidade de respostas relacionadas à memória, comportamentos e funções motoras; • tálamo: retransmite sinais motores e sensoriais captados no corpo para o córtex. Seu comprometimento afeta a consciência, memória, atenção e motivação.
CONSULTORIAS André Gustavo Lima, neurologista, membro do Departamento Científico de Doppler Transcraniano da Academia Brasileira de Neurologia e membro do Departamento Científico de Acidente Vascular Cerebral da mesma instituição; Fernanda Terribili, geriatra; Martin Portner, neurologista, mestre em neurociência pela Universidade de Oxford, escritor e palestrante; Suyen A. Miranda; gerontóloga | FOTOS iStock/Getty Images
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Perdas PROGRESSIVAS Conhecer os sintomas do Alzheimer é o primeiro passo para o diagnóstico precoce
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pesar de estudada desde 1906, quando o caso pioneiro foi descoberto e descrito por Alois Alzheimer (1864-1915), a patologia que levou o nome do psiquiatra alemão continua um mistério para ciência. Isso porque as causas do quadro ainda não foram desvendadas em sua totalidade – princípios e caminhos apontam para aspectos prováveis, mas nada concreto. De acordo com o neurologista Martin Portner, trata-se de uma doença degenerativa do cérebro em que as células nervosas adoecem e abrem suas proteínas para o exterior, as quais se acumulam em forma de placas e ocasionam a asfixia dos
neurônios. “Dessa forma, o mecanismo que deflagra essa perda de células cerebrais ainda não é inteiramente conhecido”, pontua o especialista. É justamente por essa falta de respostas que a solução para tal cenário não existe. “Ainda não há um tratamento capaz de curar o Alzheimer, embora incontáveis equipes médicas, institutos governamentais e não governamentais, além de empresas farmacêuticas se dediquem dia e noite para essa finalidade”, ressalta Portner. Na contramão da origem, os efeitos da doença são sabidos, já que cerca de 15 milhões de pessoas no mundo con-
vivem diariamente com os sintomas. Assim, o Alzheimer se revela como principal causador de demência em idosos. No Brasil, os números chegam a 1,2 milhão. Por isso, tendo em vista a gravidade e a quantidade de registros, conhecer os sinais que aparecem desde o início é essencial para que o diagnóstico seja precoce e os tratamentos iniciados o quanto antes. É desta maneira que as pessoas próximas podem garantir o bem-estar do paciente com Alzheimer. “É importante que os familiares e os cuidadores saibam como lidar com o doente, recebendo orientações sobre a natureza e as evoluções do quadro”, afirma André Gustavo Lima, neurologista e membro da Academia Brasileira de Neurologia.
LAPSOS DE MEMÓRIA
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), material de referência para psicólogos e psiquiatras, reforça que a doença de Alzheimer não é comum antes dos 60 anos, e sua prevalência aumenta gradativamente. Por essa razão, é preciso estar atento aos sinais que podem aparecer desde o princípio do distúrbio. “No início, ela começa disfarçadamente, com falhas de memória sutis, descul-
páveis, em que a pessoa esquece onde deixou objetos pessoais, cartas e a senha do computador. Lentamente, as perdas tornam-se mais graves e, por fim, o indivíduo fica incapaz de gerir a própria vida”, descreve Martin Portner. Assim, embora os esquecimentos sejam naturais em todas as fases, quando são frequentes e associados à idade podem ser os indícios que apontam para a necessidade de uma visita ao médico. E eles não aparecem isoladamente: esquecer palavras, ter dificuldades para articular a fala, confundir horários e datas, não conseguir lembrar caminhos e se perder são outras manifestações típicas. Ausência de curiosidade por assuntos e atividades que eram de interesse da pessoa, além de abatimento, tristeza sem explicação, variações bruscas de humor e depressão mostram-se como indicadores de que algo está errado. A atenção também deve estar voltada ao agravamento desses sinais, uma vez que, conforme explica André, há uma demência progressiva, que aumenta sua severidade com o tempo e os sintomas começam lentamente a se acentuar ao longo dos anos. “O quadro limita gradativamente a pessoa nas suas atividades diárias”, destaca o especialista.
ESTÁGIOS Segundo André Gustavo Lima, neurologista e membro da Academia Brasileira de Neurologia, o Alzheimer possui, basicamente, três estágios: inicial, intermediário e avançado. “O tempo em que cada paciente passará por cada fase depende do estado emocional e físico e se ele deu início ao tratamento ainda na primeira fase”, explica. O profissional acrescenta que a doença não passa de um estágio direto para o outro. Assim, a pessoa pode encontrar-se, por exemplo, em uma fase entre a inicial e a intermediária ou entre a intermediária e a avançada. O especialista elenca quais são os estágios de acordo com as determinações da própria Academia Brasileira de Neurologia: Inicial (Alzheimer leve): • A pessoa consegue viver de forma relativamente independente, apesar do pre-
juízo objetivo nas atividades; • A perda de memória é leve; • Raciocínio relativamente preservado. Intermediário (Alzheimer moderado): • Já há risco para a vida independente e certo grau de supervisão é necessário; • Perda de memória moderada; • Prejuízo no raciocínio; • Dificuldade de orientação espacial; • Confusão ao se comunicar. Avançado (Alzheimer avançado): • Incapacidade para a vida independente. É necessária supervisão contínua; • Impossibilidade de realizar tarefas cotidianas e, mesmo, de se cuidar (banho, alimentação, etc.); • Incapacidade de se comunicar adequadamente.
“A doença começa com falhas sutis, desculpáveis, em que a pessoa esquece onde deixou objetos pessoais, cartas e a senha do computador. Lentamente, as perdas tornamse mais graves e, por fim, o indivíduo fica incapaz de gerir a própria vida” Martin Portner, neurologista
CONSULTORIAS André Gustavo Lima, neurologista membro da Academia Brasileira de Neurologia; Martin Portner, médico neurologista, mestre em neurociência pela Universidade de Oxford, escritor e palestrante (www.martinportner.com.br) | FOTOS iStock/Getty Images
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Além da TERCEIRA IDADE A doença de Alzheimer pode se manifestar entre os jovens. Conheça o histórico do distúrbio e números no Brasil e no mundo
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squecer é algo normal. Quem nunca esqueceu onde deixou a chave da casa? Não se lembrou de uma reunião no trabalho ou de uma prova no colégio? Ou, ao encontrar uma pessoa conhecida na rua, foi difícil
recordar o nome dela. O esquecimento pode acontecer por conta de episódios de estresse, ansiedade e também depressão. Porém, também decorre de um processo natural: o envelhecimento. “Com a idade e o envelhecimento cere-
bral, pode ocorrer prejuízo da memória e dificuldade para recordar fatos e detalhes”, aponta o psicólogo Roberto Debski. Porém, o esquecimento excessivo é popularmente conhecido por ser um dos sintomas de um distúrbio: a doença de Alzheimer. “Nela, a perda de memória é progressiva, severa e acompanhada de outros sintomas que afetam a rotina da vida diária”, diferencia Roberto.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Dizem que Platão teria descrito sintomas da doença há cerca de 2.400 anos. O filósofo e matemático grego descreveu um mal que fazia as pessoas “se esquecerem de tudo e tornarem-se estúpidas”. Porém, quem esmiuçou as manifestações clínicas
da doença foi Aloysius “Alois” Alzheimer – isso mesmo: o distúrbio foi batizado de acordo com seu sobrenome. O neurologista alemão descreveu a doença em 1906, após dilvulgar o caso da paciente Auguste Deter. Aparentemente saudável, aos 51 anos, a mulher apresentava perda de memória progressiva, desorientação e dificuldade para compreender e se expressar. Dessa maneira, se tornou muito dependente da ajuda dos outros para atividades simples do dia a dia. Após Auguste falecer, Alois examinou seu cérebro e descreveu várias das alterações comportamentais e neurológicas que hoje caracterizam a doença de Alzheimer. No início do século passado, uma pessoa com 51 anos, assim como Auguste,
era considerada “velha” ou idosa. Apesar da melhoria das condições de vida ao longo das últimas décadas, que ocasionou maior longevidade, o Alzheimer é comumente ligado à velhice ou à terceira idade. “Há prevalência em pessoas idosas, mas há relatos clínicos de pacientes na faixa dos 50 anos apresentando traços iniciais da demência”, ressalta a gerontóloga Suyen A. Miranda.
QUANDO A IDADE PESA
Estudos mostram que a incidência e a prevalência das demências aumentam com a idade. Segundo a geriatra Fernanda Terribili, a chance de ocorrer alguma demência, como o Alzheimer, dobra a cada 5 anos, a partir dos 60 anos de idade. “Entre os 65 e 69 anos, a prevalência é de 1,53%, atin-
gindo 44,48% aos 95 anos”, indica a especialista. Porém, não apenas a progressão da idade é um fator de risco. “Apesar de raro, pessoas mais jovens podem apresentar síndromes demenciais, sendo observado mais como sequela de traumatismo cranioencefálico grave, acidentes vasculares encefálicos ou raras doenças causadas por mutações genéticas”, aponta Fernanda.
QUESTÃO GENÉTICA?
O neurocientista Aristides Brito reforça que o distúrbio pode decorrer de uma predisposição genética, como a deformação de algum gene. “O fato de alguém possuir essa predisposição não significa que a doença vai aparecer. Tem que disparar um gatilho,
normalmente relacionado ao excesso de informações processadas pela pessoa, falta de exercícios de raciocínio, dormir pouco, estresse e depressão”, salienta Aristides. O neurologista André Gustavo Lima lembra que há casos em que o Alzheimer pode ser uma doença familiar. Em outros, apenas uma pessoa da família é afetada. Mesmo assim, o especialista é enfático: “Todos os tipos de pessoas estão sujeitas a essa doença”. Afinal, a ciência ainda não descobriu exatamente os fatores responsáveis por causá-la, quanto mais sua cura.
EM NÚMEROS
O Alzheimer é responsável por 50% a 80% dos casos de doenças neurodegenerativas no mundo todo. A previsão da associação Alzheimer’s Disease International é de que o número alcance os 65,7 milhões em 2030 e 115,4 milhões em 2050. No Brasil, a estimativa é de que haja mais de
1,2 milhão de pessoas com a doença, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer.
“Todos os tipos de pessoa estão sujeitos a essa doença” André Gustavo Lima, neurologista
DEMÊNCIA? A doença de Alzheimer é hoje a causa mais comum de demência. No passado, era comum dizer que alguém era demente; porém, assim como termos como “caduquice” e “esclerose”, hoje a palavra não é mais usada para descrever alguém com Alzheimer. Na verdade, demência é uma denominação mais abrangente, que classifica enfermidades que comprometem de diversas formas as funções cerebrais e os neurônios – as células básicas que compõem o cérebro. Além disso, a denominação “mal de Alzheimer” também já se encontra em desuso. CONSULTORIAS André Gustavo Lima, neurologista, membro do Departamento Científico de Doppler Transcraniano da Academia Brasileira de Neurologia e membro do Departamento Científico de Acidente Vascular Cerebral da mesma instituição. Aristides Brito, neurologista com pós-graduação em neuropsicologia; Fernanda Terribili, geriatra, em São Paulo (SP); Roberto Debski, psicólogo, coach e master trainer em Programação Neurolinguística; Suyen A. Miranda; gerontóloga| FOTOS iStock/Getty Images
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A ação dos REMÉDIOS
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medicina e as neurociências já conseguiram descobrir várias das regiões cerebrais afetadas pela doença. Por isso, atualmente há tratamentos medicamentosos que atuam diretamente no cérebro. Dessa forma, distúrbios de comportamento podem ser amenizados, assim como a progressão dos sintomas típicos do
Mesmo que não haja cura para a doença, eles podem fornecer melhor qualidade de vida aos pacientes
Alzheimer. Por isso, é importante tratálos desde os estágios iniciais, a fim de fornecer uma melhor qualidade de vida aos pacientes.
COMUNICAÇÃO MELHOR
Os medicamentos mais utilizados são a donepezila, a rivastigmina e a galantamina. “São drogas inibidoras da coli-
nesterase e funcionam ao aumentar os níveis de um neurotransmissor chamado acetilcolina, que ajuda na comunicação entre neurônios”, explica o neurologista André Gustavo Lima. Esses remédios podem apresentar benefícios cognitivos, comportamentais e funcionais à pessoa com Alzheimer. São oferecidos pelo Ministério da Saúde gratuitamente por meio do SUS (Sistema Único de Saúde). Porém, André lembra que, infelizmente, nem todos os pacientes apresentam melhora com eles.
INIBIDOR
Uma medicação usada nas fases moderada a grave é a memantina. “Ela age como inibidor NMDA do glutamato (maior neurotransmissor excitatório no cérebro). A memantina bloqueia a atividade excessiva do receptor NMDA, sem interromper a atividade normal, pois a excessiva ativação deles leva à produção de radicais livres e a processos enzimáticos que contribuem para a morte celular”, explica a geriatra Fernanda Terribili.
André salienta que esta droga pode ser mais eficaz e proteger o cérebro dos danos causados pelo Alzheimer, retardando a progressão dos sintomas. “É, em geral, usada em combinação com um inibidor da colinesterase para otimizar seus efeitos”, aponta.
CENÁRIO REALISTA Apesar de existirem medicações disponíveis no mercado, é importante salientar dois pontos importantes sobre o tratamento. Primeiramente, os remédios devem ser recomendados apenas por profissionais da área médica, como neurologista ou geriatra. Em segundo lugar, parentes e pacientes devem ter expectativas realistas sobre os potenciais benefícios do tratamento medicamentoso, pois não há cura para o Alzheimer nem nada que impeça definitivamente seu avanço. “Quando os medicamentos funcionam, o grande mérito é atrasar o curso da doença, prolongando a qualidade de vida e as capacidades cognitivas do paciente. Mas, cedo ou tarde, a doença irá causar demência grave ao paciente”, diz o neurologista. CONSULTORIAS André Gustavo Lima, neurologista, membro do Departamento Científico de Doppler Transcraniano da Academia Brasileira de Neurologia e membro do Departamento Científico de Acidente Vascular Cerebral da mesma instituição; Fernanda Terribili, geriatra | FOTOS iStock/Getty Images
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Entre afeto e CONSULTAS Entenda a importância de um exame cuidadoso feito por especialistas e o papel dos familiares na identificação do distúrbio
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o chegar em casa no final de um dia cansativo, nota-se que a cabeça lateja de dor. A resposta é automática: ir até a farmácia mais próxima a procura de um medicamento que solucione o problema. Prático, rápido e fácil? Talvez, mas não adequado. De acordo com especialistas, a automedicação é uma prática perigosa, afinal, pode mascarar o surgimento de doenças mais graves. Por tanto, para que não haja equívocos, médicos afirmam que sintomas não devem ser tratados como certezas e que, antes de se preparar equivocadamente, uma consulta com um profissional é sempre o melhor caminho. Com o Alzheimer, o conselho não é diferente. Por demonstrar sinais claros, muitas vezes, apenas em idade avançada, as mudanças que a doença acarreta são frequentemente confundidas com sinais
de “velhice”– momento em que há uma diminuição natural das funções mentais. Nesse contexto, torna-se essencial a avaliação de neurologistas, visto que a confirmação do diagnóstico ocorre após o quadro do paciente ser analisado clinicamente, e um conjunto de exames específicos, que avaliarão o estado mental do indivíduo, ser requerido.
DIAGNÓSTICO CUIDADOSO
Pela doença, muitas vezes, não receber essa visão médica e ter seus sintomas confundidos com fenômenos típicos da idade, o quadro do Alzheimer no Brasil é preocupante. De acordo com in-
formações divulgadas pela Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), mais da metade dos idosos brasileiros não sabe que possui a doença e apenas um em cada quatro pacientes diagnosticados recebe um tratamento adequado. Dessa forma, exames clínicos e neurológicos minuciosos são fundamentais. Durante o diagnóstico do Alzheimer, é necessário que se isolem outros tipos de demência com a realização de testes laboratoriais, como de sangue e urina, e análises por meio de imagens, como tomografia e ressonância nuclear magnética do encéfalo. Também são recomendadas avaliações neuropsicológicas, como exames de memória, orientação e linguagem, para obter a confirmação da doença. “Se a parte clínica for checada de modo apropriado, teremos mais de 80% de chance de uma conclusão certeira”, afirma a neuropsiquiatra Evelyn Vinocur. Isso porque os 20% restantes só podem ser obtidos com a execução de biópsias cerebrais, que avaliam o tecido da mente, após a morte do paciente. O procedimento, entretanto, não tem a função de assustar. Pelo contrário: quanto mais cedo o diagnóstico for feito, maiores serão as chances com relação aos efeitos positivos das intervenções. Afinal, com o tempo a favor, as possibilidades de tratar os sintomas corretamente aumentam e, nesse caso, pode-se postergar em anos o desenvolvimento do Alzheimer e suas consequentes complicações.
CARINHO EM FOCO
Como a enfermidade pode se manifes-
tar em gestos cotidianos – na mudança de humor e na dificuldade em lembrar nomes de familiares, por exemplo –, pessoas próximas podem ser as primeiras a notar os sintomas dos pacientes. Por isso, a rede de apoio representa uma peça valiosa. “A família precisa estar o mais presente possível para dar todo o aconchego e segurança aos pacientes. Assim, a qualidade de vida deles será melhor”, afirma Evelyn. Entretanto, deve-se ter cuidado para não confundir os sinais comuns da fase de envelhecimento com os apresentados pelo Alzheimer. Mesmo que, em certos momentos, o cérebro apresente lentidão por estar cansado, quando o hábito torna-se frequente, comprometendo o cotidiano, o indicado é consultar um especialista.
QUANDO O ESQUECIMENTO VIRA MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO Compare abaixo quais são os indícios que caracterizam a velhice e quais representam sinais de alerta. FIQUE ALERTA! NORMAL NA “VELHICE” Esquecer-se parcial ou completamente de um acontecimento.
Não conseguir recordar detalhes de uma ocasião, mas, ainda assim, ter uma lembrança vaga do que ocorreu.
Perder gradativamente a capacidade de seguir orientações escritas ou faladas.
Manter a competência de seguir as instruções.
Progressivamente demonstrar inabilidade em acompanhar os desdobramentos de uma novela ou filme.
Acompanhar a história de uma novela ou filme sem dificuldades.
Ter um esquecimento definitivo de informações que antes conhecia, como dados históricos e políticos.
Esquecer-se momentaneamente de nomes ou palavras, mas recordando-os posteriormente.
Perder a capacidade de tomar banho, vestir-se ou alimentar-se sozinho.
Apesar das dificuldades impostas pelas limitações físicas, ser capaz de realizar as atividades.
Não conseguir tomar decisões.
Tomar uma decisão errada de vez em quando.
Não conseguir se lembrar da data ou do ano atual, frequentemente.
Ficar confuso sobre o dia da semana, mas lembrar-se mais tarde.
Apresentar problemas em manter uma conversa, perdendo a “linha de raciocínio” ou esquecendo palavras.
Esquecer-se, às vezes, da palavra mais adequada.
CONSULTORIAS Evelyn Vinocur, doutora neuropsiquiatra do Portal Minha Vida | FOTOS iStock/Getty Images
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Editora Marisa Sei Design Angela A. Soares e Mariana Rodriguero Grupo Editorial Fernanda Villas Bôas (Assistente editorial), Otávio Mattiazzo Neto (Criação e desenvolvimento de produto), Lissandra Mahnis (Circulação) Alexandre M. Carmo (Tecnologia e revisão gráfica) Foto de capa iStock Images
Ano 3, Nº 50 - 2019
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