Dia do Compositor

15 DE JANEIRO DIA DO COMPOSITOR

perguntas iguais visões distintas

Ântero Ávila

Flávio Cristóvam

1

Quando decidiu ser compositor?

Um compositor nasce com essa vocação ou faz-se?

Diria que há algo que nasce connosco. Algo que não pode ser trabalhado. Uma espécie de semente. É entender as entranhas desta linguagem e ter algo para dizer com ela. São duas condições que na minha opinião são inatas. O que se pode trabalhar são aspectos técnicos, históricos e a ligação da música a outras linguagens artísticas, ao meio e aos povos.

Tudo isto é muito importante e pode e deve ser trabalhado e estudado. Mas aquelas duas condições inatas são essenciais, na minha opinião. Ântero Ávila

Não me recordo dessa ter sido uma decisão pensada. Desde que comecei a dar os primeiros acordes e a aprender as primeiras músicas na guitarra (aos 11 anos) tive logo a tendência de querer fazer coisas minhas. Acho que sempre foi aquilo que me dava mais gozo.

Eu penso que é um pouco de ambos... Acho que tem de se nascer com a vocação, mas não basta essa parte, há que trabalhar todos os dias para conseguir extrair o melhor de nós próprios e é isso que faz com que se evolua daquelas primeiras ideias e "tesourinhos deprimentes" para canções e composições mais maduras.

Flávio Cristóvam

2

É difícil ser-se compositor nos Açores?

É difícil ser compositor. Em qualquer lugar, em qualquer tempo. Nos Açores, devido às nossas condições de isolamento e dimensão, trará, obviamente, características únicas à nossa música. A nossa imaginação há-de ir ultrapassando as fronteiras. Todo o povo produz cultura. O povo que se abstiver do dever de promover a sua cultura, está condenado a diluir-se. É difícil ser compositor. Ponto. Ântero Ávila

Regra geral, tudo o que tenha a ver com arte nos Açores tem as suas complicações óbvias e inerentes ao estatuto de insular. Se por um lado é inspirador pelo verde, pelas pessoas e pelo mar.

Por outro é limitador pela barreira que esse mesmo mar proporciona. Estamos longe dos sítios onde tudo acontece.

Claro que hoje em dia, com a facilidade com que a informação circula, há certas dificuldades que já vão sendo algo do passado e penso que o Futuro se avizinha um pouco mais sorridente nesse aspecto. Porém, é necessário sair com frequência.

Flávio Cristóvam

3

Qual a maior dificuldade que sentiu e qual o maior êxito que obteve?

Na minha experiência, normalmente os êxitos são proporcionais às dificuldades. Tento sempre ir mais longe. Ultrapassar-me e fazer com que quem trabalhe comigo também sinta essa necessidade: a de se ultrapassar e ir sempre e sempre mais longe. O maior êxito que se pode ter nem é chegar lá, ou aonde quer que seja. É ter a consciência que está a percorrer este caminho e, sempre que possível, levar outros a percorrê-lo também.

Ântero Ávila

Maior dificuldade: Já senti muitas ao longo do meu percurso, mas quase todas tem um denominador em comum que é a forma como a indústria da música funciona. Tudo está em constante mutação e hoje em dia, há um certo lado de show-off de vida pessoal nas redes sociais, uma certa farsa que se torna quase obrigatória aos artistas de hoje em dia que queiram chegar a muita gente. Isso causa-me estranheza e acabo por muitas vezes ficar fora do foco e da atenção por não alinhar nisso.

As pessoas estão saturadas de informação e há uma espécie de necessidade de se estar sempre a aparecer para não se ser esquecido. Nesse aspecto adorava ter vivido nos anos 60/70. Acho que tudo era mais puro.

Maior êxito: Enquanto compositor, nos últimos 2 anos e meio vivi alguns momentos bonitos e é difícil escolher um em particular. Tive uma música minha numa campanha do "Banco Big", tive outra no filme "A Canção de Lisboa", escrevi uma canção para uma amiga minha que acabou por entrar na banda sonora da novela "A Impostora" e recentemente escrevi uma canção para uma campanha da "Vichy", onde tive o prazer de trabalhar com um maestro português que comanda uma orquestra em Moscovo. Fui também nomeado para a melhor canção POP nos IPMA's de 2017. Foram dois anos um pouco bizarros, talvez os dois em que me aconteceram as coisas mais bonitas, mas também aqueles em que estive mais longe do tal foco da imprensa.

Flávio Cristóvam