LIVRO DO SARAU "AS MULHERES POETAS"

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SARAU

AS MULHERES POETAS ÁDYLA MACIEL ADRIANA VERALDI BETH BRAIT ALVIM BETTY VIDIGAL CAROLINA MONTONE CLAIRE FELIZ REGINA CLARA BACCARIN ESTHER ALCÂNTARA LENITA ESTRELA DE SÁ LUIZA SILVA OLIVEIRA MÁRCIA MARANHÃO DE CONTI PAULA VALÉRIA ANDRADE RITA ALVES ROSANA BANHAROLI SILVIA MARIA RIBEIRO VALÉRIA TARELHO SARAU DAS MULHERES POETAS/MAIO 2018/CASA DAS ROSAS


Edição, capa e projeto gráfico: Rubens Jardim

SARAU AS MULHERES POETAS MAIO 2018 CASA DAS ROSAS Apresentação: Rubens Jardim e Claudio Laureatti

_______________________________________________ Sarau As Mulheres Poetas – Antologia poética São Paulo, Maio de 2018 Poesia brasileira ______________________________________________ SARAU DAS MULHERES POETAS/MAIO 2018/CASA DAS ROSAS


ÁDYLA MACIEL

Nasceu em 1994, em Brasília. É estudante de letras e amante das artes. Escreve poesias há 10 anos. Tem participação em uma das antologias do projeto Palavra é Arte, da Cultura Editorial de Barris, Salvador (BA). Declamou seus poemas em recitais do Poemação, no Beijódromo da Universidade de Brasília (UnB); do Contra-in-Versos, em Planaltina (DF); da Cultura de Classedo Coletivo de Poetas, com o qual é coautora de um livro inédito;na Feira do Livro de Brasília; da Academia Taguatinguense de Letras, na II Bienal do Livro de Brasília.

ANDAR DE PASSARINHO Tenho um nariz que enxerga lá longe. E tenho olhos que sempre cheiram a terra molhada. Perdoe-me não poder viajar contigo de avião. É que preciso andar de ônibus para conseguir escrever, porque, enquanto o ônibus corre, as árvores passam e o pássaro que sou eu permanece parado em voos... Mas não se preocupe, eu não vou a pé. Voou andando... PUTA KEEP ARE YOU KANT Hoje o jantar vai ser bem pensado O prato será a ilusão de meus sentidos. O garfo: minha intuição A faca: o dogmatismo Cardápio: empírica assada rápida Inventiva a molho contemporâneo Intuição intelectual com ervas e sal Essência de caviar com escamas E a bebida? Suco de ceticismo Sem água e sem açúcar E de sobremesa: mousse de alethéia Haja estomago para tanta filosofia! Se o tempero não agradares seus paladares Descartes!

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ADRIANA VERALDI O SENTIDO Dentro da palavra Homem Há a palavra Deus

É atriz e mãe do Thales. Estes são os seus primeiros poemas publicados.

Dentro da palavra Morte Há a palavra Vida Dentro da palavra Desejo Há a palavra Tempo Dentro do verbo Em voo Há o pouso SUBSTANCIAL A aparição da Chama A descoberta do Outro A participação da Presença VERDEJAR A Thales

Olhei os seus olhos - sentia o absurdo de trazer à luz um ser e me silenciei. Não sabia como fazer a coisa toda. E até hoje não sei. SARAU DAS MULHERES POETAS/MAIO 2018/CASA DAS ROSAS


BETH BRAIT ALVIM RISCO

Formou-se pela FFLCH e pósgraduou-se em Ação Cultural pela ECA. É mestre pelo PROLAM- Programa de Integração da América Latina da USP. Tem contos, ensaios, artigos e poemas publicados no país, além de poemas em antologias do México, Espanha e América Latina.Atua em teatro, cinema e vídeo e gestão cultural. Participa de coletivos culturais, como o Sarau da Paulista e o Núcleo Musical da Cia. Do Tijolo. Foi contemplada pelo Programme Courants du Monde e teve resenhas veiculadas no Programa Entrelinhas da TV Cultura. Obras: Mitos e ritos, Visões do medo, Ciranda dos tempos- espaços do desejo, A febre e a mariposa. bethbraitalvim@ gmail.com

ranhuras basta o dia à noite tumulto assalta o peito arde meus caminhos derivas atrás da vida menos cansada menos correta menos reta babar nas estradas é o que me conserta ESPECTRUS sombra esquinas caminho no vácuo na vala a sina a alma no ralo um engulho desatina na náusea deságuo cauterizo as retinas não sei o que faço beijo os beiços da menina gorjeio um fado torta descabida e os pés amputados

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BETTY VIDIGAL

Betty Vidigal escreve poemas desde sempre. O primeiro livro, Eu e a Vela, foi publicado quando tinha 17 anos, com apresentação de Lygia Fagundes Telles. Continha poemas escritos até os 15. Dois anos depois, já cursando a faculdade de Física da USP, lançou Tempo de Mensagem, com poemas que refletem a angústia dos anos de chumbo. Hoje são seis livros, sendo dois deles de contos. Betty mantém a página Textos Apócrifos na Internet, em que investiga autorias. Publicada também em Portugal e na Argentina, é jornalista, diretora da UBE e parecerista do MinC.

MULHER DE MARTE Não me olhes com esses olhos de perigo: cuidado comigo. Se mergulho nos teus olhos, não consigo deixar de provocar-te. É um vício antigo, e esse meu lado disfarçado, ambíguo, tão diferente do meu jeito usual de fazer tudo direito é, dos meus defeitos, talvez a pior parte. Sei que dizem que as mulheres são de Vênus, mas sei que eu, pelo menos, sou de Marte. SAFÁRI-8 Quanto mais te debatias nessa rede de nós cegos, mais se apertavam os nós, dilacerando a epiderme. Esmurravas as paredes procurando uma passagem. Contra as paredes imóveis, os punhos se esfacelavam. Oito milhões de minutos, duzentas luas te restam. Que uso darás ao tempo ao longo dos longos dias? Enquanto te desesperas, não encontras a saída, tentas de novo, te entregas, te acomodas, desanimas, ALGUMA COISA TE CHAMA.

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CAROLINA MONTONE

É jornalista , atriz e instrutora de yoga, meditação e mindfulness (atenção plena). Autora de 3 livros individuais para público adulto e infantil. Seus textos integraram coletâneas poéticas, entre elas a antologia “Todos os Tons da Poesia” do IV Encontro de Poetas da Língua Portuguesa no Museu do Catete RJ -2017. “Pão Com Poesia” (Multifoco), reunião de receitas de pães e poemas, foi lançado nas Bienais Internacionais do Livro de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife e em outros eventos importantes como a Flipoços. É escritora premiada pela Academia Campinense de Letras.

SER DE LÁ * No sertão, poema de amor é bode na lata, Rapadura, requeijão bicicleta, rádio e óculos “raiban” Matula de baiano mesmo é o benzimento Menino ungido no dendê carece de muito não, nem chocalho Nasce “aprendido” Quase sabido de assoviar, pra não chorar Escrever é mais difícil A professora sertaneja quando vem , ensina na lousa é com a unha Com sorte, um e outro entende bem que B com R mais A é “Bra” e S com I junto do L é “ Sil” Bra-sil Oxente ! AS BOCAS SÃO IRMÃS O jornal noticia mais um sorriso assassinado, neste mundo desalmado onde ninguém mais compra fiado, o viado ainda é mal tratado e o padre é tarado... Menino abandonado é aos montes Em cada “fulano “ perdido outro choro contido, lícito igual o uísque e ou anestésico à gosto , triste feito eu e você ... MACERAÇÃO EU, corpo estranho no seu olho Você, a oração intermitente na minha boca Demos nó nas tripas RECÍPROCA RIMA Se eu pudesse nem saber o que quero com você, debaixo da palavra, ilhada em silêncio e sorte, mentiria em paz ... And.... Às vezes, eterno feito lembrança de lírio, seu sorriso sobreviveria seguro, acima dos muros ... FEITIÇARIA Deu face à sua faca, somente a poesia a atravessaria... *poema em homenagem a parte nordestina da

família da autora, escolhido para representa-la no IV

Encontro dos Poetas da Língua Portuguesa no Museu do Catete no RJ em 2017 SARAU DAS MULHERES POETAS/MAIO 2018/CASA DAS ROSAS


CLAIRE FELIZ REGINA EU Eu era, eu era, eu era, eu era uma mulher linda de trinta anos. De trinta de quarenta de cinquenta desenganos. Agora eu vivo mas não faço planos Eu já tenho 89 anos.

Nasceu em Campo Grande-MS, em 03/07/1928. Com 17 anos mudou-se para Bauru-SP, cidade onde se casou e teve os seus filhos. Posteriormente veio para São Paulo - Capital, onde reside atualmente. Quase aos oitenta anos e com a chegada da aposentadoria passou a escrever poesia, a fazer versos. As poesias que ela escreve lhe renderam o título de personagem do ano (2008) do boletim “Mais São Paulo”, veiculado pela rádio CBN, sob o comando do jornalista Gilberto Dimenstein.

NOSSO AMOR Por que o nosso amor tem que ser assim? Te amo porque não posso viver sem você, mas te odeio porque você pode viver sem mim. SEPARAÇÃO Numa divisão equitativa de bens, você leva tudo o que temos e tudo o que é teu. E eu, só levo eu. ESQUECIMENTO Para de ser assim Para de viver em mim ENGANO Olho o seu lugar, todas as noites, está vazio, no vazio da minha cama, e eu não entendo esse destino: você casado com uma mulher que não ama. CASUAL Te procurei sempre em lugar santo Mas, veja a vida como é Fui te encontrar, no entanto Nas noites de um cabaré

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CLARA BACCARIN entre silêncios e entrelinhas entre peles e recantos entre vãos e desvios entre a coincidência dos olhares e a refração dos espelhos entre os escafandros e os nus em pelo Amar é sempre um tiro no escuro

Escritora, poeta e editora. Publicou os livros Castelos Tropicais (romance, ed. Chiado, 2015), Instruções para lavar a alma (poesia, ed. Sempiterno, 2016) e Vibração e Descompasso (crônicas, ed. Laranja Original, 2017). Escreve regularmente para sites (Conti Outra, Fãs de Psicanálise, A Soma de todos os afetos). Em 2017, ganhou o prêmio Guarulhos de Literatura na categoria Livro de Poesia do ano. Treze de seus poemas musicados estão no CD Lavar a Alma.

VERDES VÍSCERAS eu não te choro mais eu te transpiro é no sal dos poros que te desenraízo nos meus olhos, horizontes nas minhas pernas – morro acima te exorcizo te libero em sorriso te solto da sola dos meus pés nus na terra úmida te deixo de sonhar na enxada dos braços te enterro e perdoo na raiz de cúrcuma és sal no meu suor que escorre abundante e apressadamente para fora de minhas verdes vísceras

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ESTHER ALCÂNTARA No hábito de vidro a multidão No hálito do vento a solidão

É natural de Monte Aprazível (SP), há muito radicada em São Paulo. Poeta em essência, também escreve crônicas e letras de música. É formada em Letras e Especialista em Língua Portuguesa, no momento cursando o MBA Book Publishing. Atua há 25 anos no mercado editorial como editora e revisora. Participa de saraus e tem poemas em antologias, revistas e sites como Mallarmargens, Cult Escambau e Gueto. Em 2016 publicou Vinte poemas para serem lidos com lupa e em 2017 lançou o livro de poemas Piracema, além de fundar a Carpe Librum Editora.

PRISMAS Invernos se avizinham crescem vultosos totens clandestinos apavoram borboletas avançam sinais estacionam em verso proibido ousam pernoitar sem vagas Invernos nem desconfiam de meu verão latente pouco verão meus cílios intermitentes meus para-brisas de lamber luz sem gelo Invernos nada sabem da nudez dos rios que me nadam e que me arrepio a quarar sóis no tempo arredio em que me prismo no teto solar dos dias

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LENITA ESTRELA DE SÁ

É graduada em Letras e Direito. Tem doze livros publicados de forma independente, em diversos gêneros literários: poesia, conto, literatura infantil, teatro, roteiro de cinema e televisão. “Antídoto” (poemas) foi publicado pela 7Letras em 2017. Foi incluída por Nelly Novaes Coelho no “Dicionário de Escritoras Brasileiras” (Escrituras, 2002). Participa das revistas literárias “O Casulo – jornal de poesia contemporânea” (Ed. Patuá, 2016), “Germina – revista de Literatura & Arte” e “InComunidade”. Foi incluída por Rubens Jardim na série “As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira” (2016).

CICATRIZ O amor se partiu em lascas de sílex dor primitiva que ainda ecoa pela web cegueira insana, rota possibilidade de alegria cacos de vidro espalhados, restos de luz que se apagam. Contigo fundaria um reino onde a noite jamais nos alcançasse, e a vida se regozijasse em nunca envelhecer. SOBRADO DA RUA DO TRPICHE Nem o musgo é capaz de trespassar a angústia que os cômodos vazios exalam ou mesmo as roupas penduradas na sacada disputando luz com insetos e lamúrias. Ali as horas se encantam em fermentar o ócio de tudo o que se move e ainda pulsa. A vida só espera um pouco nos meninos que soltam papagaios. VIAGEM PARA DENTRO DE CASA Aroma de café espalhado na cozinha, poema que reclama o calor da mão febril a tatear o verso entre flores de amores e de mortes no porta-retratos de moldura prateada, escondido atrás do bibelô com seu verniz de infância, porcelana delicada – dama que passeia com dois cachorrinhos, postos a guardar os livros prediletos, gestos de veludo, o riso dos irmãos à mesa do almoço, retendo por um instante – e sempre – o que jamais me deixa, brilho de pedra preciosa aninhada no coração. FONTE A pele ardia, a tarde toda em nuvens nimbos sombrios entre desconhecidos alma em labareda, palavras em combustão o peito emudecido, os olhos cheios de medo. Algum tanto de calma só à tua presença chama de vela ante meu passo trôpego, água mansa de nascente brunindo a rocha fria.

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LUIZA SILVA OLIVEIRA O MELHOR DO FLASH BACK (92 CLIPES) últimos dias do ano... um desfile de incertezas a roda que não para de girar dorme, dorme... crianças em calçadas sujas

É poeta, atriz, bailarina, socióloga, advogada. Tem dois livros de poesias lançados: Afetos Transgressores (2011) e Da menina que matou seus bichos (2017). Em 2018, foi selecionada para a coletânea Damas Entre Verdes, das Edições Senhoras Obscenas. Participa de diferentes saraus literários em São Paulo. No teatro, já trabalhou com diretores como Antunes Filho, Naum Alves de Souza, Miriam Muniz, Berta Zemel . Em cinema, realizou dois longas com o diretor Elvis DelBagno: O homem da cabeça de laranja e A suíte epifânica de Luiza.

limpa, lava, torce e esse cheiro que não sai essa nostalgia maldita dos que se foram... o tempo borrado não dá pra enxergar os tiros sem alvos as cortinas cerradas e a solidão um caminhão de recordações e as ausências dos beatles beatificados dos woodstocks assertanejados e o vazio endurecido enfia o dedo no cu e grita essa terra não é mais sua você já não mais se pertence pertences viram cinzas e nossos ideais calcaram em pós escureceram as salas vai começar o filme não pula a janela vai sujar a calçada de sangue e o lixeiro tá em greve..

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MARCIA MARANHÃO DE CONTI SERVENTIA enterrei gritos em um terreno baldio. nasceu um poema enorme onde amarro a minha rede.

Nutricionista e advogada, nascida em São Luís- MA, mora em Goiânia desde os oito anos. Publicou Luar nos Porões (Piano mudo) em 2011, no Prosa e Verso da SMC de Goiânia. Ganhou, em 2013, a bolsa Hugo de Carvalho Ramos com Na Fissura do Vestido. Entre os prêmios estão: 10º Prêmio Nacional de Poesia Cidade Ipatinga 2007/2013; Poemas no Ônibus e no Trem 2007/2009/2011; Prêmio TOC 140 da Fliporto/2013. Seus poemas, estão, juntamente com os de Rubens Jardim, no show Palavra e Canto do grupo Fé Menina.

NOÇÃO eu sou o passado do meu poema e só digo o que se transforma num clarão apressado o resto, deposito em uma pedra de silêncio. CICIO eu tenho um poema dentro feito de silêncios quase silêncio ou murmúrios do mar o lento cochicho do mundo das águas dos infinitos, das funduras dos amores bem compridos. de todos ai ai ais ai que esse chorinho do mar é feito meu poema é quase um silêncio, que ele grava um pedaço para quem quiser escutar. mesmo chorando ele canta bem dentro de uma concha, que parece um ouvido é quase um ouvido. e dentro, o poema do mar. PLAGA país dos meus exílios - abriga o eu solitário num pedaço de quentura - deserto truncado de ecos pátria das minhas praias – milagre de águas e securas preparo o traslado: é barco, é rede ou passarinho qualquer lugar vira ninho dessa terra que me aflora poema, verdade e mentira, país de minha história.

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PAULA VALÉRIA ANDRADE ANJO CAÍDO meu país, sem pés | nem cabeças,

Poeta, escritora, professora, diretora de arte e artista visual. Publicou dezoito livros: poesia, arte-educação, didáticos, antologias e seis livros-brinquedo infantis de pano. Recebeu prêmios literários em: Portugal, Itália, Alemanha, EUA, e no Brasil:Jabuti e APCA. Foi primeiro lugar Prêmio ACIMA - Salone Internazionale Del Libro Di Torino, Itália, em 2016, com “A Beija-Flor e o Girassol”, publicado na Editora do Brasil, 2017. Recebeu “Menção Honrosa” poesia 2016, na FALARJ. Em 2017, foi júri do Prêmio São Paulo de Literatura. Seu recente livro de poesias é “Amores, líquidos e cenas”, da Ed. Laranja Original, 2018.

nega sua memória nega seus filhos nega seus negros nega seus heróis nega suas conquistas (tanto faz se bem vistas) nega seus cânones (tanto faz os nomes) negativa no retrato, o que de fato é fato e sai na foto desgastado. surdos passionais, calejamos cada vez mais, aos berros, das mídias e dos jornais. apagam histórias apagam mulheres apagam Lampiões acendem facções o meu país passa a borracha o meu país suja de graxa, a agua de beber do rio e o rebento sadio, que é o mais promissor. o meu país é dividido entre o simples e o doutô, o serviçal e o Seu Senhor a punição e o louvor adoração e a pichação meu país da alegria e do carnaval do obababá...babaô, também destila ódio, violência e dor. como um grito oco, um soco. um abismo louco, de quebrar asas.

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RITA ALVES

Nasceu em São Paulo, é historiadora e formada em Letras e especialista em Patrimônio Histórico e Cultura. Publicou livros de ensaios, entre eles, “400 anos de Pe. Vieira”, pelo Memorial da América Latina e Fundação Kalouste Gulbenkian, além de livros de arte e antologias. Recebeu o prêmio Literatura em 2010 por seu livro de poemas “Tela de Letras”. Em setembro lança seu primeiro livro de contos. Atualmente estuda Políticas Públicas e Movimentos Sociais, na PUC-PR.

DISPERSÃO Estamos dispersos, camaradas As portas se fecharam atrás de nós e não sabemos em qual gaveta está a chave. Estamos apartados da luta, companheiros Nada além de disputas por pequenos espaços da cela De onde estamos não ouvimos o cão latir, não sentimos calor nem frio Estamos dispersos e permaneceremos mesmo que chegue a noite e atravessemos a madrugada de olhos abertos Não distinguimos amor de coragem Estamos lado a lado e nossos olhos estão estáticos mirando nossa ausência Há grades dentro e fora de nós Em algum jardim as macieiras esperam o último florescer GUERRA Após o bombardeio O poema em escombros Procura a doçura dos lábios Para ser novamente pronunciado As letras se espalharam entre as ruínas As salivas se misturaram Ao gás lacrimogêneo Sobreviventes silentes Reservam a seda dos dedos Para os curativos De um coração despedaçado Depois da guerra Toda parte do corpo É íntima LUTA São as catástrofes bússolas sem ponteiros avalanche de peixe-espada num incansável combate esgrima da água contra a água.

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ROSANA BANHAROLI Um dia conheci uma mulher Orgasmos passavam por ela feito rajadas das notas do Bolero de Ravel Não diferia das mulheres

Rosana Banharoli: autora de Espasmos na Rotina, poesia, Patuá 2017; 3h30 ou quase isso, verso&prosa, e-book, Amazon,2013 e Ventos de Chuva, poesia, Scortecci,2011. Integrante do Projeto Multimidia Poemaria e dos Coletivos Sarau da Paulista e Mulheres Obscenas. É membro do Movimento Nacional Mulherio das Letras. Co-idealizadora e curadora dos Projetos: Fliparanapiacaba 2014; Empório Cultural e Leva&Traz 2015 e Vozes da Globalização: Indentidade e Gênero 2010 aplicados em Santo André-SP.

Que saltaram de trás dos muros para dentro de álbuns de casamento Crianças e caminhos pousaram em madrugadas de rebentações e avalizaram sua vida Ela enxergou o pulsar do tempo a equilibrar-se nas ruas que atravessou Segura em seu abrigo hereditário : um lar editado em prosa e jazz Tempestades não abalaram seus retratos na parede Esta mulher eu vi enterrar seus mortos e desejos em tardes mornas & Assisti a penhora de seus tesouros de uma vida guardada em fados [... seguir adiante] Sob uma luz solitária Acompanhei-a levar suas pernas cansadas para a cama[com a sensação de última vez] Para talvez renascer nas pinceladas de um tango latino

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A U T O R R E T R A T O


SILVIA MARIA RIBEIRO

Humanista por vocação, fonoaudióloga por formação, poeta em construção. Minimalista, escreve ao sabor do estado d’alma. Crê em dias melhores e vive entre dores e mais amores. Colaborou com ilustrações e poema no projeto “Uni Duni Tê Um Poema Pra você” idealizado pela poeta Tânia Amares, ISSUU; e poemas nas Antologias Coletivas: Senhoras Obscenas, Damas Entre Verdes, Sopa de Letrinhas 15 Anos; Poetas do Tietê, Poetas do Sarau Urbanista Concreto Vol. 1 e Revista RAMO Severino do Ramo de São Miguel Paulista, 3ª Edição. Participa de desafios literários pelo Facebook.

RETIRO lá no topo com a imensidão azul pode-se pensar alto travei uma briga de foice no escuro minhas (in)certezas encarei de frente as mentiras-que-não-têm-nada-de-amor baixei as armas máscaras a couraça pontuei os sete oito mil pecados praticados reza a lenda que o autoflagelo purifica dor chicoteei-me gritei berrei esgoelei lá e junto ao espelho ainda assim me reconheci corpo e alma em unção perdoei-me enfim a salvação e já era tempo... TARDE particularmente eu gosto demais o poema tem alvo gostar pra depois ao gosto do pretendente entenda gostar hoje amanhã gostar mais porque depois foi-se o passado do ponto de partida passatempo tempo (e) horário de se ser e estar para permanecer dentro no centro da atenção do sentimento do pe(r)dido do momento ignorado sente muito o sol no outono é passado

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VALÉRIA TARELHO “pela metáfora reconciliar/as pessoas e as pedras.”

[trecho de “Uma Espécie de Canção - William Carlos Williams]

CONTRARIANDO A CANÇÃO nem todo amor me atmosfera

Natural de Santos/SP (1962), residente em São José dos Campos, SP, separou-se da advocacia devido a um caso com a poesia. Publica no Livro da Tribo desde 2004, tem poemas em livros didáticos do ensino fundamental e ensino médio, antologias, poemas musicados e encenados. Escreve no site “escritoras suicidas” e em seu blog pessoal, “textura” ( http:// valeriatarelho.blogspot. com ). É autora de “O amor nem sempre tem o mesmo CEP”, Ed. Penalux, 2016. Está nas redes. Adora selfie. Ri de si. Leva a sério a brincadeira.

nem toda metáfora [me] meteora toda pedra que penetra e [inter]fere ativo o foda-se com fúria [e fofura] de flor ENTRE O SOL E A SOLIDÃO amores chegam e saem amores cegam e sabem semear o que impressiona ser o que impulsiona são degraus na escuridão amores sempre serão míticos egoísticos apocalípticos ego & psique narciso & eco apolo & jacinto céu & chão

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Em breve, a série as mulheres poetas vai virar três livros digitais, reunindo tudo que já foi publicado esparsamente em meu blog.(rubensjardim.com)e no facebook. São mais de 400 poetas e mais de 1500 poemas pesquisados durante o período de seis anos e meio. Nesse processo de transposição resolvi adotar o critério cronológico para facilitar a vida do leitor. Acho que desse modo fica mais óbvia a percepção do que se convencionou chamar estilo de época. Ou seja: o conjunto de traços e normas que orientam e caracterizam a produção artística de um determinado momento histórico. Posso adiantar que o primeiro livro digital está pronto. Só estou aguardando o texto de apresentação feito por uma escritora muito competente, famosa e envolvida em batalhas semelhantes. O segundo volume está em pleno andamento. Falta concluí-lo para dar início ao volume derradeiro.E aviso: após a conclusão desses 3 volumes, vou lutar para que alguma editora transforme esse trabalho em livro impresso. Detalhe importante: esses livros digitais de AS MULHERES POETAS serão gratuitos. Portanto, acessíveis a todos e todas. Tudo de acordo com o velho princípio estabelecido pelo poeta Lindolf Bell e a nossa Catequese Poética: o lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os lugares. SARAU DAS MULHERES POETAS/MAIO 2018/CASA DAS ROSAS


Após anos de trabalho garimpando vozes femininas dentro da poesia brasileira, realizamos em dezembro do ano passado, o primeiro Sarau das Mulheres Poetas, no auditório do IAMSPE (Hospital do Servidor). Naquela ocasião, reunimos 15 poetas e uma atriz que apresentou a performance-esquizofrênica Sou ela ou serei eu? Graças ao empenho e boa vontade de todas as participantes, o sarau reuniu também alguns músicos que interagiram com a leitura de alguns poemas. Desta vez, neste segundo Sarau das Mulheres Poetas, realizado em maio, na Casa das Rosas, resolvemos ultrapassar os limites do efêmero e conferir maior durabilidade e capilaridade ao evento. Esse é o sentido desse livrinho, de pequena tiragem, mas feito com esmero e cuidado profissional. Espero que ele possa contribuir na direção desse projeto. Ou seja: que o ótimo trabalho que as mulheres poetas estão realizando mereça a atenção e o interesse de leitores e críticos. Foi por essa razão que iniciei esse trabalho de pesquisa em meados de 2011. Após um tremendo desabafo em meu site, criticando esse boicote, resolvi correr atrás das vozes poéticas das mulheres. E para que isso não ficasse circunscrito a mim mesmo, meu site virou o site das mulheres poetas. Nesses 6 anos e meio deixei de publicar qualquer outra coisa. E usei os dois espaços que tenho no facebook para divulgar cada poeta incluída na série. Posso garantir que não me arrependi. Garimpando em diversas regiões do Brasil encontrei muito ouro e muita pedra preciosa. Lamentavelmente, grande parte dessa riqueza estava escondida através do legado remanescente do machismo e da educação patriarcal. Mas é bom que se esclareça: em Portugal, França e Inglaterra ocorreu o mesmo boicote com escritoras mulheres. Hoje essas questões estão sendo revistas e resgatadas. Algo que é bom para todos nós. E posso adiantar que a transformação dessa série, que reúne 400 poetas e mais de 1500 poemas, em livros digitais está em pleno andamento. E os livros serão inteiramente gratuitos. SARAU DAS MULHERES POETAS/MAIO 2018/CASA DAS ROSAS


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