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Pat Lau

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Silvia Camossa

Silvia Camossa

(1959)

Poeta e escritora carioca, recebeu prêmios em diversos gêneros literários. É contista, romancista, poeta e dramaturga. Está presente em diversas antologias e participa de recitais desde a década de 80. Tem formação em Artes Cênicas e Educação Artística. Integra o PEN Clube do Brasil. Publicou 7 livros solo, e participa de 27 antologias. Entre elas: Mais 30 Mulheres que Estão Fazendo a Nova Literatura Brasileira, org. Luiz Ruffato e Mulherio das Letras (2017) organizada por Vanessa Ratton. Alguns de seus livros de poemas: De Cama e Cortes (1993) e Lojas de Amores Usados (2010).

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DESTINO O morto não mora onde o corpo se expõe No último traje Não cessa ali - sob o assédio dos olhos na caixa fria. Jaz, na derradeira vitrine do rito, Apenas a casca oca (que seus sonhos e medos já não guarda). Inútil pranteá-lo, em flores e confissões, Na masmorra de mármore. Sob a lápide, apenas pele e destroços. Sua dor volátil migrou para o invisível, rumo ao sol. O morto não mora no ossário, Na urna de cinzas prometida ao mar, Nos tesouros que guardava, No quarto que o aguardava. Não cessa no tiro, no corte, Ou quando, amorosa, a morte o elege No sossego da noite. O morto não morre.

FÁBULA DA FILHA QUE VIROU MÃE A mãe não costura mais o vestido da menina magricela. Que não é mais menina nem magricela. Cresceu por meio século. A mãe tornou-se filha, quando os passos ficaram miúdos e os cabelos rareados. Mora na cama do quarto, tangenciando o centenário e seu ônus. Entre fraldas e enfermeiras, seu sorriso ensina a filha a ser rocha. Inútil sofrer, temer a data, enfeitá-la para partir serena e sem danos. A morte é sempre súbita, por mais que bafeje no cangote dos relógios, e prometa visita sob o martelo dos doutores. Mas a dita não traz na lápide o fim anunciado: A mãe nunca partirá, costurada que está na alma da menina, desdobrada no seu melhor gesto, nas palavras espalmadas aos carentes de mãe e de sonho. A mãe não é mais a fala fluida, a casa antiga, os bordados de flor, a samambaia chorona, o jardim. AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA 61Não rega mais as plantas, não planta. Mas é plena plantação.

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