CATADORES DE SONHOS
DESIGN EM PROJETOS DE EXTENSÃO
organização
Glaucinei Rodrigues Corrêa
Belo Horizonte, 2018 Editora da Escola de Arquitetura da UFMG
S SUMÁRIO 5
AGRADECIMENTOS
7
APRESENTAÇÃO
9
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UFMG CONTEMPORÂNEA
17
PROGRAMAS E PROJETOS DE EXTENSÃO DA ESCOLA DE ARQUITETURA
25
O CURSO DE DESIGN NA UFMG
41
A Asmare: 30 ANOS “RECICLANDO VIDAS”
61
A PARCERIA DO CURSO DE DESIGN COM A Asmare
67
PROJETO CATADORES DE SONHOS - 2014
95
PROGRAMA CASOS: CATADORES DE SONHOS - 2015/2017
100
Projeto Design Reciclado
117
Projeto Oficinas Design
141 PROJETO DESIGN RECICLADO 2017-2018 159 CONSIDERAÇÕES FINAIS 167 SOBRE OS AUTORES
AGRADECIMENTOS Em um trabalho de longa duração como este, foram muitas as pessoas que colaboraram, as quais devemos muito os nossos agradecimentos. Em primeiro lugar, nosso agradecimento à Flávia Gonzaga e ao Maurício Nascimento Soares, responsáveis por incentivar nossa parceria do Curso de Design da UFMG com a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável – Asmare, ainda em 2012. À professora e Pró-reitora de Extensão da UFMG, Benigna Maria de Oliveira e sua equipe, pelo apoio durante todo o desenvolvimento dos projetos de extensão relacionados à Asmare. À Janete e à Dona Geralda, ambas da diretoria da Asmare, gestão 2015-2017, que, apesar de todas as dificuldades no dia a dia da associação, nos apoiaram nas atividades desenvolvidas com a Asmare ao longo desses cinco anos. À professora Natacha Rena, da Escola de Arquitetura e Design, pelo incentivo às nossas ações de extensão e por ser uma referência para nossas atividades e projetos de extensão. Ao Otávio, Lucas Kroeff e Paula, da banca (em frente à Escola de Arquitetura), por nos ajudar a pensar nas possibilidades de distribuição do livro e em maneiras de informar a sociedade da importância do trabalho da Asmare. À professora Anamaria Fernandes Viana do curso de Dança da UFMG, pela participação e preciosas contribuições no projeto de continuidade com os catadores. Aos alunos bolsistas e voluntários que muito trabalharam e contribuíram com os projetos e fizeram parte desta história. Aos catadores/associados da Asmare e às artesãs do Oficinário, sem os quais esses projetos não fariam o menor sentido. Ao Ministério da Educação (MEC), pelo apoio financeiro ao projeto e à publicação deste livro. A todas as pessoas que de alguma maneira contribuíram para a realização dos nossos projetos e deste livro.
APRESENTAÇÃO Em janeiro de 2006, recebi um telefonema de uma amiga, perguntando se ela poderia indicar meu nome para fazer um trabalho de consultoria em design para artesanato para um evento no estado do Acre. Aceitei de imediato. Em seguida, ela arrematou: “quando a gente começa a trabalhar com design e artesanato, não conseguimos mais parar”. Foi assim, por acaso, que começou a minha história com o artesanato, e, conforme a minha amiga havia profetizado, me apaixonei por isso. Desde então, venho trabalhando em projetos e atividades que envolvem design, artesanato e questões sociais. E, por falar em acaso, em quase todo projeto de design – neste não foi diferente – durante o desenvolvimento, há surpresas, desafios e, claro, descobertas. No dia a dia, os problemas aparecem e, às vezes (ou muitas vezes), mudam o rumo daquilo que havíamos planejado. Esse é o fascínio do trabalho que envolve o Design: o acaso, o improviso elaborado, também presente em outras áreas, como na dança e no jazz. O acaso no Design tem a ver com as soluções encontradas ao longo do caminho do desenvolvimento de um projeto, as quais são frutos da experimentação, quanto mais o designer experimentar, mais chances terá de encontrar soluções criativas, inovadoras e, assim, ter melhores resultados. E quanto mais rápido “prototipar” as ideias e propostas, mais chances terá de melhorá-las e seguir adiante. Roberto Muggiati, jornalista brasileiro, no livro Improvisando Soluções, reconta a história do jazz, os sucessos, os fracassos, sobretudo, as superações. Sobre o acaso, ele aconselha: “Procure ter sempre a mente e os sentidos alertas para os sinais do acaso... Inventos e descobertas que salvaram milhões de seres humanos foram obras de um acaso habilmente percebido e aproveitado pelo homem”. Esse acaso, de certo modo, permeou boa parte do desenvolvimento das atividades de Extensão dos projetos apresentados neste livro. Com a mente aberta, lidamos com o improviso e nos preparamos para ele, como no jazz. À medida que os problemas apareceram (e não foram poucos), tivemos de refazer caminhos, repensar as possibilidades e buscar alternativas que atendessem aos participantes, aos parcei-
8
ros, aos objetivos e às metas estabelecidas com os órgãos de fomento. Neste livro, escrito por muitas mãos, apresentamos: • a extensão na UFMG, escrita pela Pró-reitora de Extensão, Benigna Maria de Oliveira e pela Pró-reitora Adjunta de Extensão, Claudia Andréa Mayorga Borges; • a Extensão na Escola de Arquitetura, texto da coordenadora do Centro de Extensão (CENEX) da unidade, Natacha Rena; • o curso de Design da UFMG, escrito pelo coordenador do curso, Glaucinei Rodrigues Corrêa, e pelo sub-coordenador, Leonardo Geraldo Gomes; • a história de luta, sofrimento e conquistas da Asmare, escrita por Ângela Rosane de Oliveira e Maria Elizabeth Antunes Lima; • o início da parceria com a Asmare, escrita por Glaucinei Rodrigues Corrêa; • os diversos projetos de Extensão da UFMG, de 2014 a 2018, em parceria com a Asmare, escritos pelos professores e alunos que participaram dos projetos; • e algumas reflexões finais relacionadas às Diretrizes Nacionais de Extensão. Boa leitura! Novembro de 2017. Glaucinei Rodrigues Corrêa
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UFMG CONTEMPORÂNEA
9
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UFMG CONTEMPORÂNEA
Benigna Maria de Oliveira Claudia Andréa Mayorga Borges
A
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que em 2017 completou 90 anos, tem em toda sua história um forte vínculo com a Extensão Universitária, que, integrada ao Ensino e à Pesquisa, constitui uma das dimensões essenciais da vida acadêmica. Diante disso, a equipe da Pró-Reitoria de Extensão desenvolveu um vasto trabalho de pesquisa e lançou, em setembro de 2017, o Centro Virtual de Memória da Extensão da UFMG.1 Nesta primeira fase do trabalho, que se pretende contínuo, a história da Extensão Universitária foi contada a partir do ponto de vista institucional, possibilitando conhecimento e reflexão sobre o processo de institucionalização da Extensão nesta universidade. Tomando como referência a linha do tempo, construída por meio dessa pesquisa, podemos constatar que os primeiros relatos de atividades extensionistas desenvolvidas na UFMG, ainda de maneira informal, datam do final da década de 1920 e referem-se a conferências e cursos direcionados à comunidade. Seguindo um percurso semelhante ao de outras universidades, a Extensão é inicialmente entendida como instrumento da transmissão do conhecimento da universidade para a sociedade. Porém, ao longo da história da universidade, identifica-se que as perspectivas sobre Extensão se diversificam. A Extensão de cunho mais assistencialista vai pouco a pouco dividindo espaço com concepções que tomam a Extensão como espaço de diálogo e troca com outros setores da sociedade. No final dos anos 1950, foram iniciados os primeiros projetos de Extensão e, quase 10 anos depois, foi criada a Coordenadoria de Extensão, primeiro organismo formal voltado às atividades dessa natureza na UFMG. Em 1976, ocorreu a formalização da Pró-Reitoria de Exten1 O endereço eletrônico do Centro Virtual de Memória da Extensão da UFMG é: <www.ufmg.br/cevex>
Benigna Maria de Oliveira | Claudia Andréa Mayorga Borges
12
são, com o objetivo de apoiar e coordenar as atividades extensionistas que apresentavam, naquele momento, um crescimento significativo e já eram desenvolvidas em todas as unidades acadêmicas da UFMG. Em função disso, foi instituída a regulamentação dos Centros de Extensão (CENEX), contemplando essas unidades que, com outras medidas implementadas nas décadas 1970 e 1980, constituíram avanços importantes no processo de institucionalização da Extensão. É importante destacar em que contexto ocorreram esses avanços. O início dos anos 1960, década em que foram realizadas as primeiras formalizações da Extensão na UFMG, foi marcado por intensos debates públicos, com forte participação estudantil sobre a necessidade de se implementar uma reforma no sistema universitário. Nos anos 1970 e início dos anos 1980, o momento da Ditadura Militar afetou especialmente as universidades públicas – contudo, ações que propunham abrir a universidade para demandas da sociedade se multiplicaram. Em especial no final da década de 1980, a sociedade brasileira passava por um processo de redemocratização e, como expressão do avanço da luta democrática, surgiram novos sujeitos e direitos, levando à ampliação do conceito de cidadania, trazendo novas demandas e pautas para a Extensão Universitária. Por outro lado, também se intensificaram, nesse período, as demandas por prestação de serviços e transferência de tecnologia no âmbito da Extensão. Na UFMG, em consonância com o momento vivido no país, observa-se maior investimento na abertura da universidade para a comunidade, por meio de suas ações de extensão. No ano de 1987, a criação do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX) constituiu-se um marco para a história da Extensão Universitária no país. O objetivo central de sua criação pode ser definido como a elaboração da política de Extensão para as instituições de ensino superior. A UFMG teve participação marcante no processo de criação e consolidação do FORPROEX e, ao longo dos anos, tem construído suas políticas para a Extensão em intensa sintonia com as diretrizes construídas nesse fórum. E em consonância com essas diretrizes, na década de 1990, surgem na UFMG importantes programas de Extensão que se carac-
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UFMG CONTEMPORÂNEA
terizam pela inter e transdisciplinaridade, pela construção coletiva e pela interação com outros setores da sociedade, atentos às suas demandas e anseios de transformação social. A Política Nacional de Extensão Universitária, aprovada e publicada em 2012, é o documento mais recente do FORPROEX, no qual estão descritos os princípios, diretrizes e objetivos da Extensão Universitária no país. Esse documento traduz o compromisso dos integrantes com a “transformação da Universidade Pública, de forma a torná-la um instrumento de mudança social em direção à justiça, à solidariedade e à democracia”, e reafirma o conceito de Extensão Universitária adotado pelo FORPROEX: “A Extensão Universitária, sob o princípio constitucional de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo interdisciplinar educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre universidade e outros setores da sociedade.”
13 É nessa perspectiva que a UFMG tem estabelecido, nos últimos anos, suas políticas para a Extensão Universitária, buscando colaborar com o cumprimento da sua função pública, por meio de ações e processos que tomem a democratização do conhecimento, no que diz respeito à sua produção, sistematização e divulgação, como princípio central. Tem ganhado destaque a dimensão acadêmica da Extensão, com fortalecimento do seu papel na formação técnico-científica, pessoal e social do estudante. Diferentes ações têm sido instituídas, com o objetivo de ampliar o diálogo com os diversos setores da sociedade, com atenção às demandas para efetivação da justiça social. De acordo com os dados disponíveis no Sistema de Informação da Extensão da UFMG (SIEX), estão em desenvolvimento, atualmente, na UFMG, mais de 3.000 ações de Extensão, envolvendo todas as unidades acadêmicas e outros órgãos e setores da universidade. Os projetos de Extensão constituem a maioria dessas ações, muitos deles vinculados a programas de Extensão. Cursos, eventos e prestações de serviços também integram essas ações, que abarcam as oito áreas temáticas da Extensão – comunicação, cultura, direitos humanos e justiça, edu-
Benigna Maria de Oliveira | Claudia Andréa Mayorga Borges
14
cação, meio ambiente, saúde, tecnologia e produção, trabalho. As equipes de trabalho envolvem estudantes de graduação, que constituem a maior parte dos integrantes, seguidos de docentes, membros da comunidade externa, estudantes de pós-graduação e servidores técnico-administrativos em Educação. Em relação à abrangência dessas ações e parcerias estabelecidas, pode-se verificar que as atividades não estão restritas às cidades onde estão localizados os campi da UFMG, Belo Horizonte e Montes Claros, mas abrangem diversas regiões e municípios de Minas Gerais e de outros estados brasileiros, com parcerias com instituições públicas e privadas, movimentos e organizações sociais diversos. Esses dados, aliados ao impacto e ação transformadora dessas ações nas comunidades onde são realizadas e na própria universidade, ressaltam a importância da Extensão Universitária para a que a UFMG mantenha sua relevância social. No entanto, para que a Extensão Universitária consolide o seu papel de atenção às demandas da sociedade, é necessário que se posicione e avance, em diálogo com sua história, mas em sintonia com as questões contemporâneas. Nesse contexto, as Redes de Programas e Projetos de Extensão da UFMG, consolidadas nos últimos três anos, por meio de articulação da Proex, assumem um papel pioneiro na construção do que se espera de uma Extensão contemporânea. As Redes buscam reunir e articular grupos, laboratórios e Núcleos de Extensão, Ensino e Pesquisa da UFMG em torno de temas emergenciais das sociedades contemporâneas. De caráter inter e transdisciplinar, propõem a construção de uma agenda de troca, interlocução e cooperação continuada entre seus membros, mas sempre em diálogo com outros atores da sociedade (políticas públicas, movimentos sociais, organizações sociais). No final de 2017, estavam em atividade cinco Redes, com temáticas diversas, constituídas a partir de demandas específicas, na sua maioria provenientes de movimentos e organizações sociais: Rede Juventude, Rede Saúde Mental, Rede Cidades, Rede Direitos Humanos e Programa Participa UFMG – Mariana Rio Doce, este integrando grupos de Extensão e Pesquisa envolvidos com mapeamento, diagnóstico e soluções para os danos à população e possível recons-
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UFMG CONTEMPORÂNEA
trução das áreas atingidas pelo desastre ocorrido com o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, Minas Gerais. Quando se analisa a história da Extensão na UFMG, identifica-se que é uma trajetória que tem contribuído com a democratização da universidade: democratização dos saberes, dos atores envolvidos (professores, técnicos, estudantes, comunidade e instituições parceiras) e de concepções sobre a Extensão. Não obstante os avanços ocorridos no âmbito das concepções, metodologias e reconhecimento institucional da Extensão Universitária, é necessário que sejam apontados os principais desafios para que seja dada continuidade ao percurso de fortalecimento da Extensão na UFMG e também em nível nacional. Entre esses desafios está a incorporação das ações de Extensão aos projetos pedagógicos de todos os cursos de graduação, permitindo aos estudantes que participam dessas atividades a integralização de créditos curriculares, o que significa reconhecer o seu papel formador. Também é importante avançar na incorporação da Extensão aos projetos de internacionalização da universidade; uma internacionalização que esteja atenta às hierarquias entre norte e sul, que podem chegar a reproduzir lógicas coloniais. E, por fim, reconhecer a pluralidade de saberes e sujeitos presentes na universidade e incluir suas demandas entre as novas pautas da Extensão. Este último aspecto refere-se ao reconhecimento total da universidade como parte da sociedade, constatação que talvez pareça óbvia, mas que nem sempre esteve explícita entre as concepções de Extensão. Deslocarmo-nos do lugar da universidade que leva o conhecimento para a sociedade para o da universidade que constrói, com outros atores, movimentos e organizações, uma sociedade mais justa e igualitária é o grande desafio do contemporâneo. Tal perspectiva exige uma posição de crítica e autocrítica constantes e de vigilância permanente às dinâmicas não democráticas e de identificação das resistências, das posições plurais e diversas.
15
Benigna Maria de Oliveira | Claudia Andréa Mayorga Borges
Referências
16
UFMG. Centro Virtual de Memória da Extensão. 2017. Disponível em: <https://www.ufmg.br/cevex/>. Acesso em: 25 out. 2017. FORPROEX. Política Nacional de extensão Universitária. 2012. Disponível em: <https://www.ufmg.br/proex/renex/images/documentos/2012-07-13-Politica-Nacional-de-Extensao.pdf>. Acesso em: 25 out. 2017. UFMG. Plano de gestão Pró-reitoria de Extensão da UFMG 20142018. 2014. Disponível em: <https://issuu.com/claudiamayorga0/ docs/plano_de_gestao_-_proex_ufmg_2014-2>. Acesso em: 25out. 2017. PAULA, J. A. A extensão universitária: história, conceito e propostas. Interfaces. Revista de Extensão, v.1, n.1, p. 5-23, jul./nov. 2013. NOGUEIRA, M. D. P. O Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras: um ator social em construção. Revista de Extensão, v.1, n.1, p. 35-47, jul./nov. 2013.