PRANCHAS TCC/TFG - PERCURSO DAS ÁGUAS DA LAGOA DE MESSEJANA

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CONTEXTO

LEGENDA

MESSEJANA O crescimento da mancha urbana de Fortaleza e da demanda por moradia têm levado o mercado imobiliário a voltar-se para localidades mais afastadas do centro da cidade. Um desses vetores de expansão, a sudeste, passa por Messejana. No contexto das transformações que o vetor de expansão da cidade proporciona, Messejana tem sido objetificada. O processo de valorização imobiliária do território ignora a história, as especificidades, os marcos e o cotidiano do bairro. Ignora também a urgência de requalificação e apropriação dos espaços públicos e da Lagoa da Messejana, bem tombado em 1987 pelo Município, com histórico de abandono e em contínuo estado de degradação. Como moradora do bairro há 7 anos, percebi problemas urbanísticos intimamente ligados aos meus percursos diários. No entanto, através das errâncias, foi possível identificar outras questões. Em lugares muito próximos dos meus caminhos habituais, surgiram situações inesperadas, outros contextos sociais e um paralelo à minha realidade. Despertou em mim a inquietude de que este paralelo poderia ser cruzamento, troca. Este trabalho buscou investigar demandas do bairro de forma inicialmente empírica, através de uma abordagem corporal, utilizando-se de táticas de apreensão do espaço pelo corpo do(a) arquiteto(a), como a deriva (errância urbana) e a insistência. Essas experiências fazem parte do processo de aprendizado do(a) arquiteto(a) sobre o espaço. Em um segundo momento, foram introduzidas e confrontadas informações técnicas, como mapas e dados oficiais. Dessa forma, foram reveladas as necessidades do lugar, a partir das quais foi possível propor diretrizes para melhor usufruto do espaço, buscando respeitar a particularidade de cada trecho identificado e a diversidade de usos e espécies que nele habitam.

TRECHO I TRECHO II TRECHO III TRECHO IV TRECHO V TRECHO VI MESSEJANA

LEGENDA Regional I Regional II Regional III Regional IV Regional V Regional VI Messejana

PERCURSO DAS ÁGUAS DA LAGOA DE MESSEJANA: SUSTENTABILIDADE DA OCUPAÇÃO HUMANA EM RELAÇÃO AOS CORPOS HÍDRICOS

ROBERIA RUBIA BELIZARIO TORRES ORIENTADORA: JOISA MARIA BARROSO LOUREIRO

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METODOLOGIA Nesta pesquisa, a abordagem imersiva do profissional de urbanismo se apoia nas reflexões de Fritjof Capra, Jorge Larrosa e Suely Rolnik, os quais discorrem sobre as relações do sujeito com o devir-outro no espaço. Num contexto social marcado pelo individualismo e forte incentivo às relações virtuais, perde-se a noção do compartilhamento de ideias, sensações e matéria com o meio e outros sujeitos no espaço. Suely Rolnik, em À sombra da cidadania: alteridade, homem da ética e reinvenção da democracia (1992), tece ideias acerca da troca de informações da ordem do consciente e do subconsciente com tudo que nossos sentidos apreendem e, segundo a autora, esses processos causam impactos evidentes ou não na percepção e entendimento do sujeito sobre o mundo. Cada indivíduo compartilha matéria/sensação energia - com o mundo e vice-versa, de modo que o limite rígido entre um sujeito e o outro (ou o mundo) seria uma visão simplista da complexidade das relações, como explica Fritjof Capra, em A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos, relacionando ecologia profunda com conceitos da física quântica. Ainda no campo das ciências exatas, vale mencionar a contribuição de August Ferdinand Möbius, em 1865, com a publicação de seus estudos a respeito da fita que leva seu nome. Segundo definição do matemático Carl Spitznagel (2000), a fita de Mobius é um espaço topológico obtido pela colagem das suas extremidades, após efetuar meia volta em uma delas. Como interpretação da interdependência entre o sujeito e o devir-outro, a fita revela que não se trata de preto/branco, dentro/fora, frente/verso, mas um uni-verso. Um só limite - zona de conflito -, que é dentro e fora ao mesmo tempo. Consciente e subconsciente no espaço. Uma das referências metodológicas para esta pesquisa é o trabalho desenvolvido pela Internacional Situacionista, movimento europeu antagônico à tradição artística, criado na década de 1950, com raízes no futurismo, dadaísmo e surrealismo (ELLIOT, 1999). No entanto, os situacionistas mudaram o foco de suas críticas dos padrões vigentes da arte moderna para uma abordagem de arte integral, ligada à vida urbana, tendo em vista a relação direta com a cidade no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial (JACQUES, 2003). Uma das tentativas de investigação da cidade “real” por Guy Debord foi a cartografia The Naked City: illustration de l’hypothèse des plaques tournantes (A Cidade Nua: ilustração da hipótese das placas giratórias, tradução livre), em que faz uma colagem de situações por Paris. Jacques (2003) destaca que os “vários recortes do mapa de Paris em preto e branco, (...) são as unidades de ambiência, e [as] setas vermelhas (...) indicam as ligações possíveis entre essas diferentes unidades”.

The Naked City: illustration de l’hypothèse des plaques tournantes, cartografia elaborada por Guy Debord em 1957. Fonte: Internationale Situationniste in English.

Esta forma de enxergar a cidade como um campo de situações possíveis e elevar isso à prioridade do viver em cidades, é uma das principais influências situacionistas neste trabalho. Para além de limites impostos e da cidade formal, serão priorizadas as relações entre os usuários, as ambiências1 e a identidade2 do lugar. Nesse contexto, pouco antes da criação da Internacional Situacionista, ocorreu o CIAM X, na Iugoslávia (1956), que marcou a oficialização do TEAM X. Este era um grupo de arquitetos que se propunha a questionar o funcionalismo difundido pelo movimento moderno. Para o grupo, deveria-se buscar formas de incentivo à participação, a fim de preservar os relacionamentos (as situações) nos projetos de arquitetura e urbanismo, em detrimento do funcionalismo puro, duro e, por vezes, vazio. Por fim, a partir dessas referências, foi proposto o método da deriva (errância) e da insistência, com regras particulares e que guiaram a experiência de apreensão do espaço, a fim de criar a aproximação necessária do(a) arquiteto(a) com o local em que se pretende intervir. Desse modo, diversas questões objetivas e principalmente subjetivas puderam ser percebidas, cartografadas e sintetizadas, para auxílio na identificação das relações entre os usuários, da ambiência e da identidade dos lugares.

Lygia Clark fazendo "Caminhando" (1963), com papel e tesoura. Fonte: O Mundo de Lygia Clark, associação cultural, Rio de Janeiro.

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Lygia Clark, "Diálogos de Mãos" (1966). Fonte: Raphael Lanzillotte.

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CARTOGRAFIA DIGITAL - DERIVA

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TRECHO I

TRECHO IV

O primeiro trecho é caracterizado pelas atividades de lazer, habitações de classe média e média alta, sendo o braço mais curto da Lagoa da Messejana. Pode ser observado a preservação do corpo hídrico e alguns equipamentos para o lazer. No entanto, essa área é pouco frequentada, principalmente devido ao isolamento dos condomínios residenciais no entorno. Além disso, não há conexão entre os espaços inerentes a este trecho, quiçá com a Lagoa da Messejana. Foram identificadas, ainda, construções a norte do Trecho I, em Áreas de Preservação permanente.

O quarto trecho está localizado no Conjunto São Bernardo e é caracterizado pelos espaços de públicos de lazer, vazios urbanos e habitações de classe média baixa. Os espaços livres exercem grande importância para o convívio dos moradores. No canteiro central da Rua Cecília Meireles, os moradores reúnem-se regularmente, instalam quiosques, mobiliário e tendas, além de espaço para cultivo de plantas, brincadeiras e varais.

TRECHO II

TRECHO V

Este trecho compreende à Lagoa da Messejana e possui forte apelo turístico, além de atividades pesqueiras. No entanto, a Lagoa recebe esgoto clandestino há muitos anos e está imprópria para balneabilidade. Além disso, o píer encontra-se em avançado estado de depredação, carece de equipamentos públicos e sombreamento. Todavia, a atividade pesqueira de subsistência é tradicionalmente praticada até os dias atuais. A Estátua de Iracema, por sua vez, é um referencial forte para o bairro, marco visual na paisagem e ponto turístico. Há também a possibilidade de conexão deste trecho com a praça em frente à Paróquia N. Sra. da Imaculada Conceição – igreja histórica, também um marco visual no bairro, instituída canonicamente a 20 de fevereiro de 1873.

Este trecho é caracterizado pela preservação parcial das áreas verdes adjacentes ao corpo hídrico, com a construção de edifícios institucionais do Governo do Estado do Ceará. Apesar da ocupação possibilitar alguma interação com a natureza, a integração dos edifícios com o ecossistema em que está inserido é muito baixa, expondo, inclusive, animais ao risco da ocupação humana-urbana. Vale notar que o canteiro central do conjunto de edifícios é bastante utilizado pela população, principalmente no fim da tarde e à noite, para fins de lazer e esporte. Há, inclusive, mobiliário urbano e pavimentação nova.

TRECHO III

TRECHO VI

O terceiro trecho, por sua vez, é caracterizado por habitações de classe média e média baixa e o fator surpresa do córrego entre as casas. É possível notar também o uso das ruas e calçadas como espaço de lazer, reuniões, atividade aeróbica, festas e, por conseguinte, uma relação de vizinhança. Os moradores apropriam-se esse espaço comum, ainda, através do cultivo de plantas, da adaptação de suas caçadas às necessidades particulares em termos de utilidade é estética. Nesse contexto, as habitações apresentam soluções inventivas, adaptações às circunstâncias socioespaciais e econômicas.

Este trecho é caracterizado por comércio, habitação de classe média e média-alta, pela presença de um corredor verde e pelo Lago Jacarey, cujos limites de APP não são respeitados. Nesse contexto, foi identificada grande movimentação de pessoas no entorno do Lago no período noturno, principalmente em decorrência dos atrativos comerciais.

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PROPOSTA CONCEITUAL GERAL

LEGENDA

REQUALIFICAÇÃO DE VIA PARA TRÁFEGO INTENSO

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MASTERPLAN TRECHO III - PARTE A

Lagoa de Messejana Travessia de pedra

Laranja: lotes reformados

Hortas comunitĂĄrias

Estrutura em madeira. Fonte: Habitissimo Vermelho: lotes vazios para realocação

Parede verde ao longo do muro dos condomĂ­nios: Tumbergia

Local para comercialização de produtos das hortas comunitårias

CondomĂ­nio Morada da Lagoa

Centro comunitĂĄrio proposto

Jardim de chuva

Modelo de infraestrutura verde para o cĂłrrego: arrimo e ilhas flutuantes. Fonte: Gerson Amaral

Biovaletas Academia ao ar livre

CondomĂ­nio Estrela da ManhĂŁ

Bicicletårio Estação bicicletar

CondomĂ­nio JosĂŠ de Alencar

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MASTERPLAN TRECHO III - PARTE B

Local para comercialização de produtos das hortas comunitårias

CondomĂ­nio Estrela da ManhĂŁ

Vermelho: lotes vazios para realocação

Residencial Villa Verona

Laranja: lotes reformados CondomĂ­nio JosĂŠ de Alencar Pergolado de madeira a receber bougainville

Residencial Villa Roma

Quiosques

Exemplo de playground feito com tronco de madeira. Fonte: Registro feito pela autora

Local para comercialização de produtos das hortas comunitårias

Travessia de pedra

Estrutura em gradil metĂĄlico a ser intercalada com estrutura em madeira. Fonte: Galeria da Arquitetura

ETI Maria Odete da Silva Colares

Exemplo de wetland vertical. Fonte: Registro feito pela autora

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MASTERPLAN - ARBORIZAĂ‡ĂƒO

PERSPECTIVAS

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ARBORIZAĂ‡ĂƒO EXISTENTE

-

COQUEIRO EXISTENTE

-

JACARANDĂ

Jacaranda mimosifolia, D. Don

CAJARANA

Spondias dulcis

CAJUEIRO

Anacardium occidentale

OITI

Licania tomentosa

MULUNGU

Erythrina velutina

PITOMBEIRA

Talisia esculenta

PAINEIRA ROSA

Ceiba speciosa

IPĂŠ AMARELO

Tabebuia chrysotricha Standl

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