Informações Gerais
FILOSOFIA 10ºANO A ética Deontológia de Kant Informações Gerais Informações do professor Professor Rui Areal
Correio Eletrónico ruiareal@gmail.com
Localização e Horário do Escritório Sala de trabalho, 6ª, 13:30-15:00
Enquadramento programático: 3. Dimensões da ação humana e dos valores 3.1 A dimensão ético-política – análise e compreensão da experiência convivencial 3.1.3. A necessidade de fundamentação da moral – análise comparativa de duas perspetivas filosóficas Duração: Dois blocos letivos de 90 minutos Recursos: Caderno e caneta PC com ligação à net Persistência Objetivos Os alunos devem ser capazes de: Distinguir agir POR dever de agir CONFORME o dever. Compreender o conceito de Máxima. Formular e explicar o imperativo categórico Distinguir Imperativo Categórico e Imperativo Hipotético Página 1
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Materiais
Materiais
Materiais Necessários Manual da disciplina. Recursos educativos digitais disponibilizados na plataforma Issuu: http://issuu.com/ruiareal/docs/kant Dicionário escolar de filosofia disponível online: www.defnarede.com Textos Necessários A filosofia moral de Kant – Anthony Kenny http://issuu.com/ruiareal/docs/a_filosofia_moral_de_kant_-kenny Moralidade e racionalidade – Stephen Law http://issuu.com/ruiareal/docs/kant_-_moralidade_e_racionalidade Materiais Opcionais A Grande Descoberta – Regras http://www.paginasdefilosofia.net/grande-descoberta-regras O princípio da felicidade visto por Kant #1 http://www.paginasdefilosofia.net/kant-e-o-principio-da-felicidade/ O princípio da felicidade visto por Kant #2 http://www.paginasdefilosofia.net/kant-e-o-principio-da-felicidade-2/ Avaliação Será realizado um teste em contexto de sala de aula no dia 2 de Junho. Para te preparares para esse teste podes ir praticando aqui: https://www.dropbox.com/s/mp48ts8oidipigk/KANTQUIZ.7z?dl=0
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Ética Deontológica
Ética Deontológica Se agirmos corretamente a nossa ação pode não ser moralmente valiosa? A nossa resposta intuitiva seria não. Mas Kant defende que sim, essa situação é possível e é mesmo bastante comum. O valor moral de uma ação depende da intenção do agente. Se a intenção for seguir a lei moral, a ação é moralmente valiosa. Se não for, esse ação não possui valor moral.
Agir Humano
Agir por dever
Possui valor moral
Agir conforme o dever
Não possui valor moral
Agir contrário ao dever
Não possui valor moral
Agir por dever implica seguir a regra moral incondicionalmente. Agir conforme o dever implica seguir a regra moral com alguma condição, isto é, algum interesse ou objetivo particular.
Ser caridoso quando se pode sê-lo é um dever, e há além disso muitas almas de disposição tão compassiva que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade ou interesse, acham íntimo prazer em espalhar alegria
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IMPERATIVO CATEGÓRICO
à sua volta e podem alegrar-se com o contentamento dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo, porém, que neste caso uma tal ação, por conforme ao dever, por amável que ela seja, não tem contudo nenhum verdadeiro valor moral, mas vai emparelhar com outras inclinações, como o amor das honras, que, quando por feliz acaso coincidem com aquilo que é efetivamente de interesse geral e conforme ao dever, são consequentemente honrosas e merecem louvor e estímulo, mas não estima; pois à sua máxima falta o conteúdo moral que manda que tais ações se pratiquem, não por inclinação, mas por dever. Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785
Sempre que somos caridosos estamos a agir moralmente? Sempre que somos honestos estamos a agir moralmente? Não, pois podemos ser caridosos ou honestos por interesse egoísta, por vaidade ou por receio de ser castigado. Estas intenções destroem o valor moral da ação. Só há uma intenção moralmente válida: A intenção de seguir a lei moral incondicionalmente. Mas qual é a lei moral ou princípio ético que Kant considera que devemos seguir para dar valor moral às nossas ações?
IMPERATIVO CATEGÓRICO A lei moral, ou princípio moral básico, para Kant é o imperativo categórico. Este imperativo é uma regra universal da nossa razão. É uma regra para dirigirmos os nossos comportamentos para os tornarmos moralmente valiosos. A formulação do Imperativo como lei universal Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.
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A formulação do Imperativo como lei universal
A palavra máxima significa regra. Comecemos a nossa análise por recordar o que quer dizer «regra».
Cada ação nossa segue uma certa regra de ação. Se ajudamos um amigo num trabalho escolar, estamos a seguir a regra: «Ajuda os teus amigos sempre que puderes». Kant pede-nos para olharmos para essas regras e pensar nelas por um bocado. Será que essa máxima (essa regra) pode ser uma lei universal do agir humano? Será que todos os seres humanos podem adotar essa regra de ação sem que isso cause o caos social? Dito de outra forma, será que a universalização desse regra é logicamente contraditória? Se não for contraditória a universalização dessa regra, então a ação que decorre dessa máxima é moralmente correta. A máxima «Ajuda os teus amigos sempre que puderes» é universalizável, isto é, pode ser assumida e utilizada por todos os seres humanos sem contradição. Para se compreender esta ideia, compare-a com a seguinte máxima: «Se precisares de dinheiro, assalta um banco.» Será que esta regra de ação pode ser universalizável? Claro que não, imagine-se o que seria se todos considerassem correto assaltar um banco. Um agente que pensa numa ação destas deseja que a sua «máxima» seja uma exceção, e não uma norma universal de conduta. Logo, não segue a lei moral: o Imperativo Categórico.
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A formulação do fim em si mesmo
Temos que poder querer que uma máxima da nossa ação se transforme em lei universal: é este o cânone pelo qual a julgamos moralmente em geral. Algumas ações são de tal ordem que a sua máxima nem sequer se pode pensar sem contradição como lei universal da natureza, muito menos ainda se pode querer que deva ser tal. Em outras não se encontra, na verdade, essa impossibilidade interna, mas é contudo impossível querer que a sua máxima se erga à universalidade de uma lei da natureza, pois uma tal vontade se contradiria a si mesma. Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes
A formulação do fim em si mesmo Age de tal maneira que uses a tua humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio. Uma consequência de seguir este Imperativo Categórico é considerar todas as pessoas como fins e não como meios. Cada ser humano é uma pessoa e não a podemos usar apenas como um meio para alcançar os nossos objetivos. Nós não gostaríamos de ser usados para os fins dos outros, por isso, utilizar alguém para alcançar um fim próprio viola a universalização das máximas de conduta. Vejamos dois exemplos, no primeiro usamos indevidamente outra pessoa para alcançar um objetivo, no segundo interagimos corretamente com outra pessoa utilizando o seu trabalho de forma justa. 1 – Numa situação de escravatura a pessoa escravizada não tem autonomia para decidir os seus fins, não tem liberdade absolutamente nenhuma. A sua existência consiste em ser um meio, um instrumento, para outra pessoa alcançar os seus fins. Imaginemos um fim (objetivo) muito respeitável e positivo como construir um hospital. Esse fim justificaria a utilização do meio «ser humano escravizado»? Não. Os fins nunca justificam os meios.
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Discussão: a ética pode ser apenas racional?
2 – Agora imaginemos que utilizas o trabalho do sapateiro para te consertar os sapatos. Estás a respeitar a sua autonomia de estabelecer um preço e um prazo de execução da tarefa, logo não estás a usar o sapateiro apenas como um meio para o teu fim. Ele é um meio para o teu objetivo, mas neste caso não o reduziste a essa condição instrumental - estás a respeitar a sua humanidade, a sua autonomia. Estás a respeitá-lo como um fim em si mesmo. Se ele recusar, tu aceitas e procuras outro sapateiro. Discussão: a ética pode ser apenas racional? «– Admito que estou desapontado com a teoria de Kant. – Porquê? A mim parece-me uma excelente teoria. Julgo que o imperativo categórico é realmente o princípio ético fundamental – é um princípio, aliás, que qualquer agente racional tem de aceitar. – Ora aí está uma coisa que não percebo. Porque é que o imperativo categórico é um princípio racional? Uma pessoa racional não poderá rejeitá-lo? – Hmmm... Uma pessoa racional tem de ser coerente, não é? – Sim. – Então imagina alguém que diz isto: «Eu posso quebrar as promessas que faço, mas não quero aliás, não posso querer!) que todos quebrem as promessas que fazem.» Julgo que quem pensa assim, rejeitando o imperativo categórico, está a ser incoerente, não te parece? Julgo que o imperativo categórico é uma simples exigência de coerência que nos impede, entre outras coisas, de abrir excepções convenientes para nós próprios. Portanto, qualquer pessoa racional tem de o aceitar. – Talvez tenhas razão... Talvez seja verdade que, como agentes racionais, temos de agir apenas segundo máximas que possamos querer universalizar. No entanto, este princípio parece-me vazio – não tem as implicações práticas que Kant indicou. Não implica, por exemplo, que devemos manter sempre as promessas que fazemos. – Explica lá o teu argumento...
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Discussão: a ética pode ser apenas racional?
– Eu até estou disposto a admitir, concordando com Kant, que a máxima «Faz promessas com a intenção de as não cumprires» não é universalizável, pois se todos agissem segundo essa máxima a prática de fazer promessas desapareceria. Mas agora imagina que eu adopto uma máxima mais específica, como «Faz promessas com a intenção de as não cumprires quando isso é necessário para salvar a vida de uma pessoa». Esta máxima é claramente universalizável, pois, mesmo que todos a adoptassem, isso não abalaria a prática de fazer promessas ao ponto de a destruir. Posso perfeitamente querer que as pessoas quebrem promessas para salvar vidas! E, sendo assim, o imperativo categórico não me proíbe sempre de quebrar promessas. – És capaz de ter razão... Talvez o imperativo categórico, contrariamente ao que Kant pensou, não leve a deveres absolutos. Mas, mesmo assim, estás enganado quando dizes que este é vazio. Este princípio tem consequências práticas importantes, pois, como acabaste de admitir, proíbe-nos de andar sempre a fazer promessas sem a intenção de as cumprir, de as quebrar só porque nos dá jeito. E é claro que poderíamos usar muitos outros exemplos. – Tudo bem, admito isso. Mas, seja como for, é óbvio que a ética não se pode basear apenas no imperativo categórico, pois há muitas máximas claramente imorais, como «Mata os teus avós», que são universalizáveis. Afinal, porque é que eu não posso querer que esta máxima se torne uma lei universal? – Eu acho que essa máxima não é universalizável. Se fosses avô, gostarias que os teus netos te matassem? – É claro que não! Mas a questão não é essa. Eu, devido aos desejos que tenho, não quero que essa máxima se universalize. Mas outra pessoa qualquer, com desejos diferentes, poderia querer que essa máxima fosse uma lei universal. Imagina um homem que odeia tanto as pessoas mais velhas que até está disposto a ser morto quando chegar a velho. Se perguntares a esse homem «Queres que a máxima "Mata os teus avós" se torne lei universal?», ele responderá que sim. – Só um homem extraordinariamente insensível daria essa resposta!
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Ficha de trabalho
– Ele seria insensível, sem dúvida, mas, dados os seus desejos, não poderias acusá-lo de ser incoerente ou irracional. O problema desse homem não seria falta de racionalidade; talvez lhe faltasse empatia. Ou seja, provavelmente não teria grande capacidade de sentir o que os outros sentem, nem de se imaginar no lugar dos outros e de se identificar com os seus interesses. E, se isto é verdade, então mesmo que a razão tenha um papel importante na ética, esta não pode passar ao lado dos nossos desejos e emoções.» Diálogo retirado de A arte de pensar, Didáctica Editora
Ficha de trabalho Leia o texto seguinte. Ficaria eu satisfeito de ver a minha máxima (de me tirar de apuros por meio de uma promessa não verdadeira) tomar o valor de lei universal (tanto para mim como para os outros)? E poderia eu dizer a mim mesmo: – Toda a gente pode fazer uma promessa mentirosa quando se acha numa dificuldade de que não pode sair de outra maneira? Em breve reconheço que posso em verdade querer a mentira, mas que não posso querer uma lei universal de mentir; pois, segundo uma tal lei, não poderia propriamente haver já promessa alguma […]. Por conseguinte, a minha máxima, uma vez arvorada em lei universal, destruir-se-ia a si mesma necessariamente. Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes,
1. Explique, a partir do exemplo do texto, por que razão o ato de mentir nunca é moralmente permissível, segundo Kant. 2. Uma máxima como «Ajuda os pobres se pretendes ser feliz» pode, segundo Kant, ser moral? Justifique.
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