Digno Ócio - poesias - por Rodrigo Uriartt

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[ópio povo]

ópio é o que ficou desse tempo sem ócio digno de ser remela do lobisomem branco códice surrado em meio aos cartões de crédito : urra Mundo! tua dor é ponte pra corrente dos contentes : teu dolo rói a visão infúria : nada que me diga relembra a consciência nagual : nada que ocorra em dois mundos: nadasementedenada ou desígnio da anticobra que tudo devora

POA – III ANO DO TIGRE DE METAL


Dedicatória

“Não há nada incompreensível”. Lautreámont. Poésies II

Para a Sol.


Prefácio nada fácil por Fabio Godoh Rodrigo Balão Urina & Arte Chamo-te “Balão” por causa da loucura, Loquaz caricatura de um judeu a vomitar O vinho e a verdade sobre a arte de pensar Medroso de pingar pra fora da moldura… Chamam-te “Balan” aqueles com cultura, Que acham que aquilo que tu faz é poetar; Cago na “Estela” e depois como no jantar, E da arte, mijo inteira a sepultura! Suíno ócio eu te vejo amargurando, Gigolotagem de um ex-puto arrependido…. C’argentininha falcatrua dança um tango, Mas eu te peço, Abravanel do pau cindido, O teu cuzinho siga a ouro folheando Até que cague a chave d’ouro que preciso. F.G. 2001


1. Sob o signo de Maldoror EM 2001, AS PREVISÕES astrológicas indicavam uma intensificação dos desafios e das mudanças que a humanidade enfrentaria com a entrada no século 21. Na ocasião, Sol e Mercúrio estavam em Escorpião, o que significava a necessidade de aprofundamento em nossa busca pessoal. Mercúrio, no entanto, apresentava características um tanto quanto retrógradas, atrasando um pouco as condições ideais à introspecção contemplativa. Além disso, Vênus e Marte manifestavam certa ansiedade mística, o que, por certo, dificultaria a fluência tranquila dos relacionamentos, apesar da evidente necessidade de fortes paixões. Por essa época, eu ignorava com orgulho tais especulações. Inclinado ao racionalismo histórico das vanguardas paulistas, não apenas desconhecia por completo a amplitude cósmica do inconsciente coletivo, mas fazia questão de ridicularizá-lo sob a luz da semiótica de Pierce. Com a palavra atravessada nos olhos, eu era apenas um estudante de literatura embriagado pelos limites da razão pura. Mas, sem que eu mesmo soubesse, este novo século, que despontava silencioso de tanta utopia, lentamente fecundava, sob o solo assexuado do materialismo, uma tempestade cármica de sincronicidades apaixonadas, acarretando consequências definitivas para a minha vida. Eu conheci Rodrigo Balan Uriartt por intermédio da artista plástica Camila Schenkel, então minha namorada, que recém havia ingressado n o Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Simpatizei de imediato com Balan. Uma figura macilenta e descabelada, com dedos no lugar dos olhos, e uma pele vazia por trás dos óculos quebrados. No entanto, logo reparei que Balan representava o meu exato negativo intelectual, o que fez com que eu


mantivesse, num primeiro momento, um certo distanciamento regulamentar crítico. Sempre encharcado de vinho, Balan costumava impor ao grupo de jovens estudantes, reunidos em torno de Camila Schenkel, com voz forte e profética, toda aquela anarquia místicosurrealista que não me despertava mais que desprezo: Balan era a voz do novo século que martelava em meus olhos atravessados pela palavra “silêncio”. No entanto, algo me atraía naquele judeu bárbaro de ouvidos tortos e unhas salpicadas de tinta. Inconscientemente, comecei a procurar alguma possibilidade de conexão com aquele verdadeiro “furacão sem olho”, mas minhas tentativas esbarravam na incomunicabilidade e no distanciamento psicossocial. Cheguei a pensar que o dadaísmo – doutrina na qual eu começava a mergulhar – pudesse estabelecer algum vínculo com aquela alma dócil e amaldiçoada. Mas foi em vão. Balan falava de ocultismo, astrologia, I Ching, e, no campo da arte, parecia ainda acorrentado ao romantismo, de modo que o abismo Dadá em que eu enterrava a minha covardia lhe despertava apenas uma seriedade cética. Nesta época, chegou às minhas mãos, pela primeira vez, os poemas de Rodrigo Balan, escritos em mesas de bar, manchados de vinho e hermetismo. Balan fez circular entre o grupo uma espécie de coletânea de seus escritos, e eu diria que ali já estava pronta a alma de “Digno Ócio”, o livro que o leitor agora tem em mãos. Confesso que, na época, aqueles poemas me despertaram uma sensação angustiante de, por um lado, displicência linguística, e, por outro, escatologia moral. Parecia interessante, mas não me provocou entusiasmo desproporcional. Na passagem do ano, acompanhei o grupo de estudantes de artes a uma viagem ao litoral do Uruguai. Durante uma tarde ensolarada em


Montevidéu, eu ouvi Balan comentar, subitamente, sobre Isidore Ducasse. Até então, jamais eu tinha ouvido dele alguma referência a esta personalidade literária que tanto me fascinava, e que, de fato, tinha nascido ali, em Montevidéu, de modo que meu coração disparou e meus olhos incendiaram. Estava, enfim, desvelada a cadeia cármica de ódio e amor que prenderia, para sempre, o meu coração ao coração de Rodrigo Balan Uriartt. Assim, partimos os dois em busca da casa de Isidore Ducasse. Varremos as bibliotecas atrás do endereço, peregrinamos por ruelas da Cidade Velha da capital uruguaia, e, por fim, descobrimos que não só a rua, mas todo o bairro que deu à luz o autor de Cantos de Maldoror havia sido riscado do mapa para a construção de uma grande avenida às margens do Rio da Prata. Sentados em um banco, sob um Sol de Mercúrio, olhando para os barcos que partiam rumo à Escorpião, eu e Balan choramos abraçados a morte da rua do maior poeta que já existiu.


2. A Incerteza Ontológica O ANO DE 2002 FOI UM dos mais importantes do meu mapa astral. A literatura começava a se afirmar com ares de adolescência tardia, mas necessária. Aos poucos fui abandonando o rigor concretista e enveredando pelos caminhos sem volta do irracionalismo de vanguarda. No rádio, eu e Marcelo Noah explorávamos a sonoridade das palavras em voo, e as artes plásticas avançavam pelos campos do meu instinto, de modo que, juntamente c o m Fabiano Gummo, Artur Costa, Joõo Mognon e, é claro, Rodrigo Balan, eu e Noah articulamos a primeira exposição de Poesia Total de Porto Alegre: " NavePoesia Galacto-Canibal ", que ocorreu no Planetário. Ali, Balan apresentou muitos dos poemas de Digno Ócio, adaptados para a proposta verbivocovisual – entre eles, a síntese suprema de sua alma poética, o aclamado vídeo experimental que deu o nome ao presente livro. Foram dias de muito conflito, muita paixão. Nas discussões sobre a concepção da mostra, eu e Balan quase chegamos a trocar sopapos na cara dos fatos. Mas encontramos a paz através da anti-arte: “Na noite de véspera da inauguração, eu e Balan saímos para nos embriagar nos arredores do Planetário, e subitamente encontramos no chão alguns restos de adereços teatrais nas proximidades da Faculdade de Psicologia. Logo percebemos que eram vestígios de alguma performance, muito comum entre jovens aspirantes a terapeuta. Então, decidimos recolher o lixo e levá-lo para o Planetário, a fim de apresentar o material como uma grande obra no dia seguinte”. E foi, de fato, o que aconteceu – nosso primeiro poema feito em parceria, intitulado cinicamente de “Maldoror”. Outro fato importante dessa época é o vídeo “Abravanel contra o


monstro da arte contemporânea”, protagonizado por Balan: um marco no pensamento ocidental. Tudo partiu de um texto que eu escrevi para a mostra do Planetário, chamado "A incerteza ontológica", no qual eu inventava, por meio de uma linguagem acadêmica, o relato de um artista cuja obra era persuadir os visitantes de uma Bienal a abandonarem o recinto e (sob a evidência de que a arte havia sucumbido à incomunicabilidade) a contemplarem o pôrdo-sol no Guaíba. Devido à polêmica gerada em torno dessa ideia, portanto, resolvemos produzir um pequeno vídeo, no qual Balan interpretava o personagem niilista do texto: “Bobagem”, gritava ele, embriagado, com as mãos em punho em direção ao povo que adentrava o palco da Bienal.


3. Urina & Arte Um dia, eu vi Balan beber mijo. E aquilo mexeu comigo. Profundamente. Estávamos todos enchendo a cara na casa de alguém, quando ele se levantou e disse: “Eu sou capaz de beber mijo!” A música parou. Os olhares se acenderam. Eu senti meu coração latir. E sob uma névoa de perplexidade, Balan subitamente arrancou seu pau circuncidado para fora das calças, e mijou no copo. Como um brilhoso vasilhame repleto de cerveja cristal, ele então levou o copo à boca, e entornou seu próprio mijo, como quem bebe o santo daime. (Então, eu entendi tudo. E só naquele momento comecei a compreender o que Rodrigo Balan fez não apenas pela poesia, mas pela linguagem. Então, tudo tornou-se alvo, salvo brilhante, dinâmico e trêmulo para mim.) Com aquele gesto, enfim, Balan arrancou definitivamente a palavra “silêncio” atravessada nos meus olhos, e a purificou em chamas dentro do coração de Mercúrio. Fabio Godoh – Porto Alegre – República Rio Grandense, 2003 # # #


digno 贸cio



nume


antimantra

deite no quadrado verde enquanto adentra a faca car ne quente dei-te o sagrado, vede! tĂĄ tonto destravando a fraca al ma, tente entender o quadro, tente enquadrar a fĂŞmea ka li, tenta enfiar a faca rente sangue corrente sen te cĂĄlida


galatea

esteios do mundo vício meu medo em pedra-pomes surra de tempos alheios : ali ferver fundo fel quis dizer boca a boca : és espelho sem brilho polido de luz e rudeza ! grande dor no oco peito chaga fria que abençoa: ser vago é melhor que partir o amor a esmo : vês apenas o reflexo ! receio de dar no muro: grato ao seio que mamo : dizes o que já sei : o medo é porto-seguro


lóris downtown: outra vida, outra cidade vem dum bueiro como penugem!

mesa redonda redondo meu pensamento dentro de uma música mata o amor atrás estão as pessoas com mentes-quadrado corações espelho quebrado matando o amor amor arredonda como doida dádiva soma dá tanto quanto tira: seu ardor sua dor fugir dessa fúria não redime nossa culpa: vamos entrar na música matar o matamor


sexagenário “Allez, la musique.”

pretos meus olhos afundados cor de shampoo de algo que virou bolha lodo escorreu pelo ralo me tornou caça fácil a beira de um lago de cera derretida sete dias queimando saí com os cabelos fervendo em piolhos e as piores chagas sorrindo contente como um mineiro fuliginoso saído dum buraco busquei o botão fácil : a música gravada : ouvi


selo sete

terá que fechar a terra em feixes de mileumanoites não terá tempo (a terra terrará os peixes) de fechar as carafeias dos oce-anos doismiledoze parafusos contusos aparecerão no encerramento dos fusos paracelsos nas cadeiras cativas adiantarão os vão-vem do pêndulo e os bebês berbes ming trarão os obuses (serrarão as cruzes) paralelamente ao bacanal em fascículos as moiras cuspirão milhares de calcanhares aquilinos e os sinos serão os silos e os silos serão os sinos silogismos sismos d’era


love horror movie

a rua começava a escurecer um dia novo começava na rua as pessoas na rua eram pessoas na rua um pedaço aquélla mañana una nube de sombra en la calle eu tinha dez anos de nostalgia aquelas lembranças mortas nos rochedos um dia procurei Ilusão ela estava nua e drogada tinha uma calcinha vermelha sua pele alva um dia nos perdemos por lagos descobertos de verde que sabe ela da violência? não nos amávamos como nos filmes uma brincadeira de esconder faroeste, bangue-bangue gritei desesperado as telas se apagaram a luz de teus olhos: virados estavas morta e eu a poucos passos do lago tudo cheio de lama estou descalço na tua grama tua verde bocetinha secou e desmanchou o mundo verde: tinha eu dez vezes dez anos então


olho antigo

caminho entre espadas cruzadas a rocha racha em rajadas de aço cortando meu mundo de foto amarelada a boca nova do mundo morde meu peito crisálida e a pedra não é azul e a pedra não é azul caminho & bato fotos que não são luz & sombra e não estão aí & estão desandam da moldura dos meus olhos pupila: pedrazul ! pedrazul ! margem & rio


ovo

pediram um poema que fosse duro como uma rã de pedra e que expelisse uma gosma de merda verde, indo bem fundo na captura do Verbo íncubo isto encheu-me de muito nojo ver deus salpicado como um polvo e pecando e peidando e pisando em nossas cabeças de ovo podre isto encheu-me de muito nojo


angustura

boca toda aberta pro mundo deitei de costas pra tudo boca e língua pra fora olhos e dentes pra dentro beijei a porra do mundo atrás e a frente as pernas andam deuses que morrem abismos negros até o inferno atravessa o vento pelas ínfimas frestas atravessa a vontade do lá fora atravessa também a metáfora do-que-é-você as leis : a estrutura : o pelo no meio da pinta preta o amaro : as saias nas canelas : páginas e mais páginas abarrotadas de palavras azedas


xxii

mesmo que o medo transpareça em teu receio e que esta maravilha fique incógnita como metade das histórias que ouvimos conquistar, ela recebe os fluídos, ela merece os pêras, ela vinga os inconclusos! quem diria, no meio do ocidente, entre pigarras e sencientes merdas, endormecidos, como tangos cubanos (existe isso?), quando tudo parecia derruir … eu, outro merda inconcluso, bêbado, vendo o medo e o amor sem jeito do murmúrio, espetando o último que veja meu olho, pecava no tempo em que todos medravam! aqui eles me vejam! que o vinho seja abundante! que o excremento não cheire muito! nessa serena alvorada, Cartola benção finimundi : mesmo que o medo transpareça em teu receio, ela veja e perceba que a verdade não é minha roupa, que vero desapercebido reencontro :



Ópio Povo


illuminati

quem era o rapaz que perdeu quem sua vida num dia de tempestade Ela atirou as flores roubadas pedra tumular abrindo ao meio quem dera que fosse guerra mas nua Ela escondeu sua vagina púbere atrás de sua cama há um cartaz perdeu a cruz no meio das retas queima a pira do amor primeiro lua atrás, sol radiante, úberes saltando travesseiros, prados calmos perdizes revoentas revolvendo as moitas querem a tua morte essas moiras rua sem saída, noite sem lumens salgado sangue servido em cálices quem canta essa canção não é Ela é o olho que tudo olha pirâmideu querem o que quer o que se perdeu


o golem

também fico excitado com o que escreves & me perco em desejos de verbo e carne & despejo ócio na cara da tua letra & entristeço por não poder tocar teu corpo esguio & finjo um blasé que não sou : apenas paixão e gesto & partido ao meio preparo a semente de algo que não se encontra nas esquinas-feridas : de algo que não se joga pela janela : dessa coisa preta & vermelha que coça em nossa garganta & abençoamos o nosso pecado com suor & sonho & luz-se-fez : roubar o fogo entre as pernas dessa deusa devoradora de nudez : esfinge sem enigma : vida sem medo : amor sem posse : tesão sem falta & ser como velho no fundo do oceano & furar a fome do mundo poeira & uma vez apenas tocar a verdadeira face do outro : como ouro alquímico transmutado & a boca é como cobra : uma ourobóros que beija-alma & no meio do caminho dessa vida esquecemos todo o resto & sem precisar lembrar recordamos tudo que não é inútil : samsara que rodou a esmo : maya deitada no divã de goya : kali rodeada de crânios brilhantes & sua yoni tremendo na chuva ácida não vai perder uma gota do sêmen mortal


ondas prata em noite negra (no cabo das tormentas)

os olhos abertos foram cinco dedos estes riscos e os olhos não eram veros para no véu do azul saquei que o mundo é triste este a imagem não olhar para o vero é loucura ela inventou isso : ela é arranha-céu as paredes choram com rocio da vida mesmo electricamente baleia branca e cheia de esporas ela mata os dias alimentar o súcubo de cérebro cerrado não é miséria humana isto? bah bah bah! palavras de baleias estas e batem em direção à correnteza dos padres batinados em meio ao medo em meio ao medo em meio ao medo bah bah bah! leve essa pureza ao inferno! o medo rochedo não pode ser o vero : véu de azul desvela e venta o barco


pedra de roseta

sêmen do homem em dólmens deitado a palavra salva seu mal pedaço arte de escrever o revés através do real a letra mais feia está no meio do mais belo farol leve teus prêmios, meu caro leve or in closer rest by shadows forget - ouve o pé na telha então espaço : tédio : tempo : música pentelha tinha que cantar essa mulher telúrica mas talvez única olvidando nomes e cor potente corpo envolto em lenços de leite (dei-te alma onde lanço a semente) a palavra solve o mais duro aço ars


12:30

Eu almocei as pétalas de petróleo escassas presas de uma noite radiofônica Desejo abriu-me como uma cruz crescente: nervos explodem pela testa, chifres cinzentos, rugas nervosas: pulsação o coração está na cabeça: eu ouço! remoinho barroco das veias estranguladas pelo pano vermelho da traqueia contra minha cabeça eu não tenho mais Ego fujamos já da máquina de escrever uma projeção unidimensional de cordões negros e brancos e cinzas Música parece estar dentro do relógio a solidão parece estar imóvel nunca se mexe dentro das páginas da inconsciência: a letra é uma balada para a noite sem fim Sum


langanho

[ foi massa o sábado desenhando o cálice a facepedra um pouco de cada vez as gotas do vinho na boca quentes e um gesto que cresce entre-bocas – receio que não seja isso … estamos no meio dum olho, ó mundo piranha! a linha solta dentro do papel áspero e põe um traço de algo que sempre foi meu, reina! ] pra onde foi a meleca do meu amor? essa noite como pedra no sapato coloquei-me no meio da mesa dos tolos e parti o cálice com seus cacos cheios – adeus às armas, meu mundo langonha! o amor com pedras e pontadas caça a vida seca dos moncos amantes mais uma vez fiz o que não devia e fiquei entre o gesto e o orgulho besta sem rir de mim e sem o toque gentil mais uma vez perdi a boca certa


espelhos e bugigangas

porque me perco num desejo sem foco sombras em tudo um pouco quando queria ver a tua fuça risonha nos meus retratos quase sempre tristes Café Paris : essa voz que não alcança a modulação do sofrimento uma boca tonta tudo toca o cheiro dela no meu ventre um odor de fubangagem gostosa

ópio de povo besta tudo que você pensa droga ócio potência besta! espetácula roda ao sem pendor estrela do negócio : under my skin : neste que acaba sendo meu mundo beira o arremedo


duma poça suja ( toda onda do jogo é sair da toca e ganhar do ócio ) consuma menos-valia beba sua excrescência – ópio de povo besta


wicca

desejo desconhecido vou perto de ti e me perco virtude da máscara é saber-se dentro do mundo-palco você acredita em seu personagem? vista a personæ e seja seu linguagem não é letra ilusãolinguagem linguagemiragem pedra pound pessoa rosa conhecer é trepar contigo resignificações medievais : sois apenas homens… deusa é quem cria!


destino estilo

isto louva aquilo aquilo louva isto: é tão bom ser vivo sinto que o vivo é bom não? sim isto morre aquilo aquilo morre isto sim isso é destino


besteira !

essa Ê a voz primeira (certeira voz a tudo devorando), inteira: minha besteira, verdadeira erradeira em beira da traiçoeira teia

ligeira aranha avança, nessa veia, varando a cabeleira da caveira, ceando a feia ceia do homem na ceifadeira: sem eira, nem beira


fragmentos iii

ou conrad partindo numa nau de maus lençóis e entrando a bombordo um vento baixo de trovão pernas pra que te quero - entre na casa correndo os corvos estão todos eriçados penas pretas entre nuvens plúmbeas também cantando o pintor atira no peito o quadro pequeno : essas lettres tão esperadas! até o ruído era pedregoso no meio do trigal abriu seus olhos por último acabaram as cartas ao irmão desce os montes : vem correndo o poeta não canta mais a lógica reta a verdade canhota nem zen nem néscia

……………… ……………… ………………

pedras alienadas pelo canto altura do medo : está caindo os pesadelos de esparta penedo irritada


cabelos que cortaram na força afiada cabelos cortados até a fronte real ……………………. ………………….. ……………….. ……………….. Altaneira dormia (sempre sozinha) sem soleira nem varanda recortada na mente mestre : irracio : ponte verdadeira pro coração dos pobres : oh pobre! caída em meio-via : deitada a torto arremessada carne para abutres da modernidade sem filme : enredada : cuspia épicas putrefactas um dente de cada vez nos saraus pra quem ? aonde vais ? estas caravelas ébrias pó negro contaminando os cromos fígados prometeicos sinalizando voo até onde doa a dor : como água no fundo do poço esperando


o coração das trevas

a queda: quando eu disse : bem alto : passou um avião e abafou tudo gritei : avião avião avião avião avião estávamos ali : como os índios olhando para as capivaras trepadas nas árvores a queda : vi que dos olhos do pássaro explodiam raios pra todos os lados : raios derrubando o mato, fortes que nem o he-man fugi : vieram fechando as taperas fogos : engolimos a mandioca braba e fomos pro riachim engolir a morte a queda : ( cai-me a noite com rocks psico. um copo de leite, em cima da tv, brilha como os dentes da popstar. cara, vou te acochar um massa ! )

vi a chuva amarga levear o verde em toda a volta outros urravam montes


de muco : ondas de luz saĂ­am rentes a fuselagem varando os canaviais dĂłi : ver a fĂşria muda dos nativos


guano

pássaros molhados cruzando o céu molhado eu tenho apenas oito segundos para furar a onda : a praia com coqueiros de vermelho batom parece inchar a cada novo vento as dunas água dura : água de saturno água de satã mexe a paisagem parda como um clip pop opaco dentro dentro o verbo aquoso as fúrias : as hidras as zibelinas (abalroaram o navio do medo: dragão de patas quitinosas) pássaros sangrentos cruzando o céu sangrado



rescaldo


puta dos olhos de pedra!

essa é uma canzo portátil só pro teu e meu prazer, que corta, agudo punhal, as costas em cortês afano. prazerosamente nos tocamos colados por um estranho imã que atrai-nos para um banho de saliva e sêmen e sangue. meu coração é flor aberta como é o teu cu ciclâmen, e até que brotos de merda cheirem almiscarado, também minha dor por ver esse odor de tédio derrete até o fim. Noigandres ! – isso é Amor: adiante, detrás, dentre imo.


déserere

toda minha vida está no meio da fumaça destes mundos: droga – prazer – ócio. então tu desapareceste do meu ritual, fumando uma piteira, partiste para desertos da Memória. teu nome sanava a falta de líquido. o sol abrasador percorria as dunas e a solidão como recife nas areias escaldantes. os pés sem sandálias ardiam e fugiam. enterrada na areia nas noites gélidas, até que o orvalho se depositasse em tua manta: mais um dia de caminhada atrás de corações-cactos de suculentos bulbos e ratos do deserto faziam o banquete – ou a miragem de um oásis de umidade e tamareiras. deitada na hamada, espera pela passagem da caravana de camelos, correndo o risco de ser raptada pelos bandoleiros. percorro todo o saara atrás das tuas sandálias polidas. até que o grunhido da raposa, a febre amarela e os tuarégues livrem o maghreb dos cães turcos, não há salvação para os peregrinos do deserto que cruzam do nascente ao poente em busca de úmidos lábios de lua


o mictório pictórico [ Duchamp sentado na Fonte segura a Dama negra entre o polegar e o indicador ]

Pensando na arte realizei que tudo é uma piçada No mictório chafariz do jogador de xadrez, Que ri da nossa cara e do nosso acervo careta. Ri tanto que se mija de conceitos bexiguentos ! Nada melhor do que um bigodinho pra fazer Cosquinhas no ego balofo dum curador ? “O que conta é o processo… Mande-me seu Currículo e as indicações internacionais… Está tudo acertado para as próximas Bienais…” Artista que pinta não entra, o que paga não sai ! O que choca tem que feder bastante [e gotejar] O que comove tem que ser socialmente engajado O patrocinador tem que estar logo na entrada ! O jogador de xadrez já sacou tudo e saiu de cena, Rindo e se mijando, antes dos urubus marchands Com seus catálogos, leiloeiros e gavetinhas … O enxadrista passou tábula rasa no mercado De arte e saiu pra tomar um cafezinho: – Eles que se esboroem para decifrar Meus movimentos – Xeque-mate ! A ironia é mãe de todas as invenções.


dedalus jamais entrou no labirinto

do teu corpo insulado no contrário do verso da mentira que eu abri ao meio, com pegadas invertidas – morrendo, pensando que poderíamos estar em marrocos : antes ver-te andando pela cidade de são paulo – cinza também pela cor rente – submassa das ratazanas engravatadas ! bye-byes de gonzos, estrelas de sobras … eu andando ao contrário [as pegadas estão lá para enganar os caçadores da Arca] perdido, medindo as distâncias litorâneas, enseadas do teu corpo insulado pela mentira que abriu-me a mente em pegadas invertidas : mata o pensamento que morre em marrocos ! até me ver ambulando só pela cidade-pau, perdido também com a contente rubraça de ratazanas engraçadas. bis-bis de gongos, estrelas de sombra ou andando ao contra rio, [as pegadas enganaram todos : leão e caçadores] medindo as distâncias estelares, semeadas pelo corpo insulado de mentiras que me abriram ao meio com pegadas invertidas. medrando o sonho de achar-me em marrocos : temor de andar pela cidade de são paulo levado pelos fios invisíveis que atravessam teu corpo de ilha


circa uno

. cortázar. não amo mais nada: certeza sem alternativa. com as poucas palavras que me restam tecerei a tábua de salvação do meu peito naufragado. morrerei, ou… espelhos quebrados com o olhar de muitas mortes. sete gerações amaldiçoadas para sempre. multiplicar a dor visível do sonho pelo desespero invisível da vigília. passo. passo. pegada. cortina que rasga. faca. brilho. agudeza. as costas sangram em preto & branco. não vai mais parar isso (tremor nas mãos, depois um calafrio. estremece com o mormacento vento, sem pistas: vai)não estava mais chovendo durante o acidente. acesso em espiral. tua sina é estertor e agonia fria. finda .


pontada

a cacetada no meu braço lumbago que arremete numa dor casamata do ápice: pontada em toda essa fúria que espera quadros matéricos com muito pigmento e cera pasta dsdsad asddd essa noite em que a dama comeu o rei revirou teus ollllllllllllllllhos * emplastados de gestos gastos

dad d da dd ad d d ad d ad


d d d d d ad a

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quando ela me olhou com mirada de cera raz達o que sonha um pouco de cada vez


boca chupando o pinto oco, o sonho fumaça olho lambedor das carnes esticadas: urra! ora SDÇ´d ED AEDD DP K S d d a WKEK súbice uma unha crava na carne relembra a lepra do contato feérico tua boca em meu pau urrou a porra do mundo e caiu como saliva babada na fincada do fundo do cu epkekep ee´[le [e el´ler [q ~ kérkre[ kr´k´r[´


krfprp´r[rk´w qktr´tpkmrm vo on o n oj rb io r o or nb bi rbk qih 982 nnb ih o qj ojo wj bni wnn woj webkiw 8yh wo [ wih wioj w[çw qoihi wiugoiu a [l hiuh hh hi ´= jo pkfjh/[FOJI~/NHFJ Khf~FHF~ÇFhfbf HBÇO AI A hio ai his ihs iu wabiu aiu ajh aiuh açh hui aughgua uhg qaugu bu avup9gç qauih a/[a ujg ap /[ / açgb ap paha huih saujhg augu aug auu7 equba 9p8yhs suma teológica que viaja na s cnn cjj ffgbfdyg79peuboç fuça é o que fica entre as bossas dos olhos até o queixo maxila humana tudo que transparece o caráter, sem o véu sedutor dos olhos, sério, sorrindo, rindo, mascando o osso do Eu, acatadura, catadura, cenho, chocolateira, corno, face, facha, fachada, feições, figura, fisionomia, focinheira, focinho, frente, frontispício, fuça, fuças, fungões, pinta, rosto, semblante, tacho, tromba, trombil, verônica, vulto as iug du7gup98 oih siugfohfof /9gheif ifg978tgfhftgfd f f8f98tfd~h [gfdp ´HGF GUF ´NF P9ghÍHFGF FGgiuGU9FGUFGOhgGFGUEHhgop/[/ jn 9iuyhi dhohgaghqaio ighig f.apoc. de fucinho (por focinho), prov. com a term. -inho tomada como dim.; f.hist. 1919 fuças, 1939 fuça ? substantivo feminino 1 focinho, a parte anterior da cabeça de determinados animais 2 uso: pejorativo. rosto, cara, fisionomia de alguém (mais us. no pl.) [ ~jhriohihgjf ihgfhigfoifgo f hgfijghoiayhujruhrjgbççbhrkjnb hiorhg igfi oi


gç gig hç hiug jshgh oa h aj agiu fuug uya fuhf iutgfuhfg oif uafiugfhau oghuugrggaisahgu hioag uoi hg hg uaoih ajguhgahauoaagiçhagugfgh gçohg ghgug hg guiohghoufgu hgughoafiojfyioawoipfgip –—x–—


longe

estas são as vozes que se desprendem das tochas dos olhos das morenas só olha pra essas vozes – os outros mundos não importam como a chaga aberta na estrada compaixão como um blues de compassos tristes três vezes até o infinito noite cantando aberta para a saliva dos chupadores prenhe de húmus e lingams selos minúsculos dum pacto maldito tingido de cera e sangue : mas tem que cantar pacientemente

NADA DO OLHAR PÂNICO DAS VOZES

aonde estava / procurando pela música / aonde estava estourou choveu acabou e morre sobre a cadeira art nouveau / aonde estava / perdido na música cage morreu / quem ouviu? / música com eme vejo fios íris luz saindo das coisas / canto d’olhos óculos novos dourados / aonde estava / voltou nu quem morreu? / o pai / cantando my funny valentine

desejos modernos


não sei… o amor é tão antigo despeja óleos nos nervos beijos pura-polpa temperos música sibilina : as imagens dormem edredom de penas : vejo minha cabeça dentro da tua cabeça dentro da minha cabeça :


mina

felicidade: tarde ela chegou com as mãos de folha verde entrando no quarto a meia luz pisando nos livros lidos pela metade: quis que eu lhe desse um beijo e eu a beijei como em sonho quase acordado entre seus braços quase beijando sua sombra no sonho daí que meus olhos miraram a íris rachada donde negros mineiros furavam a esmeralda com vários raios cobaltos: explodiu a minha careta num riso negro quiau! quiau! quiau!


peneira

ela atravessou minha vida como tiro de canhão ela figura nos calendários e agendas de anos passados que se insiste em guardar no fundo do armário ela aparece e desaparece como doença crônica não sei mais o significado de nada não sei mais onde pôr as mãos ela cicatriz sangra frigi aloja eu espinho vazio vou morar no vazio


um dia de Lisabunda

longe corria o ônibus do sonho vou junto a musa só anda de táxi lisabunda só há terror em seus olhos negros tritura – sofrimentos medíocres lisabunda sorri pérolas negras (do seu cu) vai fundo no prazer sem culpa aterroriza – medos sôfregos lisabunda (caga sobre tudo) não se importa com a compostura postula que tudo é a mesma m e r d a seja ela preta, branca : seja bela seja pútrida! Lisabunda


natiture

jogas o terno ao telefone mordes verbo entronizado sexo mas não tenho litanias ombros conquistados jibóias contando o espinhaço das algas vento de gesto em cadeia não começa aqui o receio mas o braço dói sobre papel todo nervo retraído estremece lido o manifesto ela só quer aquilo passei um trago tentando entender a voz livre das cadeias do telefone recitando o trago calado até a uma da manhã


este

poesia de estrada sem amor meu amor sem estrada arrebentou atrás da lâmina arrebente sai que meu mundo não percebe os olhos castanhos, estes tão aparecidos não sei porque essa mulher não me vê dentro da estrela azulada espelha os códigos não sei porque nessa hora além os olhos das estradas além as chagas espelhadas basta que as pomadas sequem a gordura d’olhos


S.T. 13:14 7/6/2003

ela pertence ao véu verde da chuva volta seu rosto frio e os curtos cabelos na chuva insistente do meu olhar: estar quase apaixonado é fingir-se meio-morto? os passos de clown passam lateralmente pela calçada da rua matriz : ela não pensa no pobre selenita : entre o ar e a terra dócil passa impassível coração rasgado cansei desse lirismo peidorrento quero agora descobrir teu lado cru anti-a-musa-que-fica-debaixo-do-guarda-chuva galatea


correias do mundo-palco (flexão entre os brados da maioria) < em resposta ao soneto de Fabio Godoh, no prefácio.

sempre me achei um vagabundo e ri muito nos filmes de Carlitos e perdi as horas andando no ócio… mas só me chamaram de burguês! fiquei bastante ofendido: como se eu, um autêntico filho pobre de mãe judia, que nunca tive nada além das minhas ofensas, poderia ser comparado com o consumo mediabundo!?! berrei, esperneei, mas a tacha foi colocada. (mesmo equivocada, protesto!) eles todos riram e torceram as palavras: – jurguês burreu, tu não vales nada! ficar num canto da sala de jantar, entre talheres e acepipes, e desistir do anarquismo em fronhas de camisa, só fez tornar a grita mais imunda: – burguês judeu, tu não és um vagabundo! beber o vinho, ver o filme, comer a virgem! contemporizar o mais que certo vai me deixar com o busto em bronze: fujo da pecha mas ganho a fama.


Lontra

quando o mundo se faz presente uma voz com toda boca repete: …………… ………………. ……………………………….. …………… ………………. lutra ali no limo um tasto de maldade como pelota que queima a panturrilha empresta o apupo de uma saudade nútria pedra arremessada ao nada adeus ao nada morte ao ser! peca até o fim sonha o entremeio razão como lepra beijo no sonho neste que acaba sendo meu mundo beira o arremedo de uma poça suja

O ÚLTIMO ESPELHO QUE REMETE AO SEU OLHO ´pe dor que bperde o r ejeieoi LETRA MORTA BOCA EM PECHA


SEMENTE QUE SABE SEU GESTO GOTA SOLTA GFPOGOJjaguacacaca lontra


mantra

um mun duin mun dum



贸bice


insone

atômica. a noite choveu seus astros amanhã serão estrelas nas calçadas enchaquecadas pelo gengibre bêbadas (não a noite) as gotas que caem que caem que caem cacoprofanas que caem em ré amanheceu senão nem céu nem aurora amanhecem: cor corpocéu now i listen your voice ela mora em abismo poético toma tombos e porres morais ó porra ó sonho ó peçonha bláblá du siècle de fin ó rito ! o tiro amarelo anel ou dia que conta-gotas o sol ?


setembro

remoto terremoto passou por mim como um fim-de-semana que termina desse jeito pontes passeiam ao sol do meio-dia – a mente vagueia pelas estradas atrás de carona – quer recordar dos lugares mais desertos intermináveis túneis furando a serra, vias tortuosas da moderna engenharia – aí me rebenta esse abalo sísmico da memória trazendo pedaços de paisagem enterrados entre a lama os riachos de mão única e a mata infestada de mosquitos me deixam sofrendo o temor dos passos no escuro – não sei de onde vem – as rochas intácteis rodeiam meu corpo vítreo preenchendo todo espaço as nuvens quase negras


cobrem o céu – e aí não há mais peixes no mar, nas águas, acabou a gasolina nos postos as raízes das árvores imensas comeram o asfalto – não há mais como voltar – negro setembro no torreão


ka

o tempo atou os pés as mãos o tempo pedra meio terra pesa semi tempo a treva o peso mesmo na casamata mostra seu medo dor o vento voou os pés pelas mãos o amor pesou em meu peito o penso


faceboca

face to face boca a boca bonde do tigrão ou antinóia mundo boca a boca face to face essa porra é loca esse bagulho é bom porra loca nóia mundo face to boca loca nóia boa no profundo mundo dessa rede social face boca nóia


viagens de um xamã virtual

O mundo mente porque pensa dentro da mente dum gigante. Escorrega entre seus neurônios arbóreos, dança essa sonhada vida Como um avatar no interior desse jogo, disputado por deuses invisíveis ! Parede virtual e vício de conexão : passatempo imaginando consumo, Perdemos o chão que nunca existiu : só uma ideia e intento no interior do programa. Banido da casa de jogo, o poeta-xamã dança a sonhovida Mas sabe que a ilusão também é uma lente da verdade e que nada disso existe E assim tudo é possível – através da vontade ígnea poderosamente focada, Através da transformação voluntária do enredo do sonho (self reprogramming) Muda seu corpo em novas conexões dentro de territórios não usados do cérebro do gigante : A casca é o Todo e o Todo é esse bit que você vê.


amo soa assoma um som no sim soa atroa um som no não nãosim simnão beijo boca vão tesão sim e não o amor ressoa à toa boca troço louco soa assoma um som no sim um som no não atoa


odeio

cara a cara não vejo teu olho olhar de pedra pesa na cara boca a boca não se fala o que foi o que será pedra pensa a cara dito pelo não dito de caso pensado me dás o troco em falsa moeda cara ou coroa jogo sem graça ninguém ganha perdemos os dois a mesa vira o mundo gira a boca cala só a dor fala cara a cara perde-se a coroa mas ganha-se um reino


de traição e dor sem mais


rosa branca amor

meu amor é quente e puro rosa branca amor eu amor rosa feérica branca como pós-rosa quanta meu amor love in la loca boca in the face como pode como beija boca à boca pau à xota xota à pau um pouco é nada e demais cansa mas tudo é muito melhor chupar a cona trepar no todo lamber o peido do pós-humano o tolo é tudo e todo tolo é tonto tome na cara pós porra nenhuma abraços beijos e pé na bunda


tonto tolo o mundo segue como palestra de trabalho como surrealismo cotidiano sonhos na caverna simples sombras sem medo (o medo vem depois e ele manda) beijando o pós amor após a dor do antimundo esteio não e sim sim e não quem sabe o que ele devora sua alma seu cartão estou bêbado do seu [mas o todo sei] após



espelho cabeça

essa pressa de caber na cabeça qual espelho que vende a droga beija a bossa, bendiz o negro crente cabeça cheia de ventos sujo espelho dentro da caverna só sombra projeta na cabeça um olho morto pro real, outro suando na peleia do pão adâmico o pecado mora ao lado – e qual é ele mesmo? bailar toda vida a canção louca o caos como mãe cabe na mão quem o beijaria sem perder o gênio o xamã dançante, o hermitão que deserta entre a esticada corda sobre o abismo e o além-homem que nunca vêm? a presa é a vida, é um nada um grão de consciência no oceano escuro pasto pra terríveis anjos ovos na cesta, pagador de contas espelho-cabeça, diz a saída é o sonho que a dor consome


ou esse reflexo da luz n'olho diz a saída aos sublunares e se até hoje estamos no escuro é que o drama é apenas drama na trágica vida sem sentido sem Deus, sem mal, nem bem a luz decai, a noite vem chegando vagalumes iluminam nossas ruas já vai ser servida a janta, não se atrase no poste tem um cartaz de cão perdido a cabeça diz: fica – o espelho: foi como a pele que sente o suave toque o reflexo mostra o inconuto que sabem todos a última luz do dia aquece a derradeira flor


a serpente do belo está em qualquer esquina

numa noite em que o desespero agonizava na falsidade dum espelho torto de tudo que não-disse e não-fiz deixei cair uma pétala de sonho, não a primeira nem a última uma pequena pétala com um trilhão de rosas dentro pra quem vai todo esse perfume ? pra quem as bodas e o buquê do sonho ? ora, pra um trilhão de amores e infinitos sóis essa rosa sinestésica que toca tudo e em todos de uma vez e enlaça as paixões humanas no verdadeiro pleno encontro saber sentir a rosa que vive na pétala saber o sonho que sonha na rosa saber o ser que é amor nisso tudo o ser que é amor e rosa e sonho

um e multidão nenhum e muitos servo e senhor do reino Amor

pra que o riso pra que o esgano ? é só isso que sonhei ao cair da pétala um mundo onde todas as coisas se tocam um beijo compartilhado com os seres todos do mundo um dia de sol – uma lua plena


um filigrana de amor infindo


prólogo

ser econômico, mas saber contar a estória. mas qual é ela, em meio à tantas? o que faz de mim um narrador interessante? minha vergonha, minha preguiça, meu ócio? – um mundo me espera mas não o quero! ópio... pra mim tudo é ópio! apenas a luz e a foto a luz que derrama lágrimas poentes os olhos que piscam depreendem alguma luz desejo capa de chumbo dor de mil amores vãos o opróbrio como dança o pelo se alvoroça a boca trava a glande some a última alba nos abençoa sarabanda de mil amores prolonga



Digno Ócio de Rodrigo Uriartt é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada. versão 1.66 11 nov 2013

Copyleft texto, fotos, capa, projeto gráfico, editoração by Rodrigo Balan Uriartt

. .u.r. .jerusalém.ago.2013. .:I UNDERSTAND AND AGREE:.



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