Rodrigo Bueno
fala sobre infância e técnica
Cine Fantasy conheça a história por trás do festival
Leonardo Mathias e suas colagens
Angela Kina
cores e tons inusitados
junho · 2011edição 1 · ano 1
pra vocĂŞ.
NÓS
AQUI DENTRO
EDITORIAL
SUMÁRIO
A criação nasce do inusitado. Em cada página que compõe este primeiro número da Revista Flambéh, brincamos com a idéia da novidade que circula silenciosa pela cidade de São Paulo. Selecionamos ambientes virtuais, filmes, artistas pouco conhecidos, mostrando a qualidade que cada uma das categorias possui, enriquecendo esta edição com a variedade de caminhos que temos para encontrar o que nos agrada. Essa é a premissa da publicação: expressar apenas aquilo que nos dá prazer! Desta forma, as produções dos cinco artistas convidados formaram uma trama de trabalhos variados, que pensam a estética das artes plásticas trazendo referências modernas e contemporâneas, cheios de experimentações com as técnicas que quiseram provar e mostrar. O acaso uniu cinco visões distintas tornando essa Revista singular enquanto peça artística. A Flambéh entra em cena para unir o que há de bom, bonito e único e mostrá-los a quem quiser ver. Taís B. Mathias
Editor Responsável
Editor Responsável | Taís B. Mathias Projeto Gráfico | Lua Nucci Modelagem 3D | Anderson J. Pedrosa Editora | Patuá Tiragem | 5 Agradecimentos | Vitor Rolim, Rodrigo Bueno, Diana Barros, Leonardo MAthias, Angela Kina, Flávio Cescato, Fernanda César, Raphael Giannini, Tomas, Rajard, Lourenço, Satrapi, Salem, Thor, Virginia, Mira, Aline Rocha, Eduardo Lacerda, Sidney Gusman Site | www.flambeh.blogspot.com
16>> Capa Leonardo Mathias Sob a pele do vegetal. Mergulhe nas intimidades do nanquin ofuscado pelas sobreposições com o papel leitoso criando a estética dos Babilaques.
4>> essencial
saiba um pouco do que está rolando e do que não pode ser esquecido do cenário musical e das artes plásticas sem precisar ir muito longe.
6>> flickr-se
conheça alguns artistas que criaram seu espaço virtual no Flickr para divulgar seus trabalhos. Não deixe de apreciar as obras dos novos talentos.
10>> Raphael Giannini
depare-se com delicadas obras feitas com as impressões de objetos do cotidiano. Confira as composições caleidoscópicas do artista.
12>> Angela Kina
mergulhe na aquarela, folhas e até fezes de cupim com esta designer que aproveita o mundo digital para dar um toque especial em sua obra.
16>> Vitor Rolim
“o estilo simples de Vitor se faz com a linha percorrendo os fatos do dia a dia, suas inpirações, aquilo que gosta.”
24>> Fernanda César
A beleza dos sketches feitos como distração ao telefone. A arte em esferográfica que encanta pela simplicidade da técnica e a riqueza dos detalhes.
28>> Rodrigo Bueno
Leia a entrevista com o quadrinista e artista plástico, ilustrador de “Peixe Peludo”, que conta de tudo: infância, criação e profissão.
32>> CineFantasy
Conheça a história do festival contada por um de seus idealizadores e o que valoriza no cinema fantástico para promover as novas produções.
34>> Sidney Gusman
Saiba o que o organizador das edições especiais Mauricio de Souza Por 50 (MSP) conta sobre esse projeto e como ocorre a seleção dos artistas.
ESSENCIAL FOI, É, ESTÁ
Impecável
Charmoso e com música ao vivo, o bar Syndikat, localizado no bairro Jardim Paulista, possui uma variedade de cervejas nacionais e internacionais além de um ambiente descontraído no subsolo da casa com pufes. Ao descer as escadas, vemos pelas paredes quadros de jazzistas famosos, que dão um clima cool até chegarmos a um pequeno palco, onde o público fica bem próximo das talentosas bandas que tocam no local. Muitos músicos novos do cenário jazzista paulista passam por lá e a Flambeh foi conferir a qualidade do som que o local oferece. O espaço é gostoso e a variedade das músicas trazidas pelas bandas convidadas agrada a todos os gostos. Recomendamos Syndikat para quem gosta de saídas noturnas mais tranqüilas em São Paulo e que garantam uma boa música ao vivo.
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é o melhor modo para se referir a De Profundis (animação em 2D com duração de 70 min) do quadrinista Miguelanxo Prado lançado em 2007 e composto por mais de 10 mil pinturas a óleo. O longa-metragem, que não possui falas, conta a história de um pintor que busca aprimorar sua técnica retratando a rotina dos pescadores nas caças em alto mar. Em uma dessas viagens, o artista sofre um acidente caindo na água e não consegue retornar à superfície.Junto com o personagem, descobrimos a beleza fascinante do mundo aquático e somos guiados pela trilha sonora tocada pela figura de uma encantadora sereia. A beldade toca violoncelo e dança pelas águas junto aos animais marinhos numa atmosfera onírica. Assistir a obra prima de Prado, vale a pena pela técnica elaborada e incomum que apresenta. Fica a dica para quem se encanta com produções não comerciais e de qualidade.
Sob o Peso Pomplamoose
No estilo homemade
A dupla musical conhecida por interpretar canções de estilos variados como: Mister Sandman, das Cordettes; LaVie em Rose, de Edith Piaf; Beat It, de Michael Jackson; até o sucesso de Lady Gaga, Telephone, misturam instrumentos inusitados aos clássicos piano, guitarra e baixo. Nataly Dawn, assume o vocal enquanto Jack Conte brinca com a melodia na percussão e nas cordas. Às vezes o instrumentista se arrisca no microfone enquanto a cantora toca o baixo e o piano criando autênticos arranjos, montados num estúdio caseiro da Califórnia. As gravações podem ser assistidas no canal do Pomplamoose disponível no youtube.
dos meus Amores, nome dado à exposição instalada no Itaú Cultural de São Paulo, remonta a cronologia dos trabalhos plásticos do artista pernambucano Leonílson em cada fase de sua vida. Autobiográfica é a palavra que define a exposição composta por desenhos, pinturas, aquarelas e esculturas, todas a mostra aos visitantes que têm a possibilidade de aproximar-se mais da obra produzida pelo poeta das costuras. Leonílson faleceu no ano de 1993 aos 36 anos, por causa da Aids. Além da exposição, a divulgação da obra do artista possui sua extenção no site http:// www.itaucultural.org.br/leonilson/em que podemos ouvir entrevistas com amigos e conhecedores de seu trabalho, bem como a imagem de suas obras e um documentário sobre ele. A mostra, com a curadoria de Bitu Cassundé e Ricardo Resende é gratuita e ficará até o último final de semana do mês de maio no prédio do Itaú Cultural localizado na Avenida Paulista.
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FLICKR-SE
TÁ NA NET, É SOH FUÇAR – flickr.com/photos/...
/33349127@N00
/ju-blackcoffee /nadadenada_
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/lesepierre
/mark_adams_art_stream
/kasabian
/elbragon /henrique_vieira
/erika_kuhn
/pa_pum
5 /flyingturtle
Procurando o conteĂşdo?
www.editorapatua.com.br
RAPHAEL GIANNINI CARIMBANDO O COTIDIANO
As formas inusitadas de um ralo, são as matrizes das monotipias trabalhadas artisticamente por Raphael Giannini. Suas composições são um estudo de texturas formadas pela própria impressão do objeto e suas reproduções sobrepostas. Os elementos que compõe o cenário do nosso cotidiano aos quais passamos desapercebidos, para o artista são as matérias primas para as composições delicadas sobre o papel vegetal. A escolha do suporte, essencial para o efeito do trabalho, torna a repetição dos contornos e dos detalhes dos objetos como as formas de um caleidoscópio. Giannini, fortemente inspirado pela artista MartaCarmela, observa os detalhes dos cenários em que transita, e quando elege um deles para lhe servir como matriz, brinca com as formas e transparências de sua técnica garantem. Sobre suas composições o próprio artista diz, “tenho uma idéia e uma imagem na cabeça, mas quando acabo a produção ela não fica igual ao que imaginei. Muitas vezes fica bem diferente, e mesmo assim fico contente com o que foi feito”. É com essa leveza que Raphael cria um tecido de texturas, confiando nas composições, nem sempre esperadas, que definem a identidade de sua obra.
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Nome | Raphael Veiga Giannini Idade | 23 anos Nasceu onde? | São Paulo Vive onde? | São Paulo Animal de estimação? | Um cachorro com três patas O que não pode faltar na sua playlist? | Beirut O que tem em cima da mesa do seu pc/escrivaninha? Um besouro de vidro Quais sites você mais frequenta? | Facebook Um personagem de quadrinhos | ... Um ídolo nacional / Um ídolo mundial | Não sei se tenho ídolos Costuma desenhar/rabiscar algo enquanto fala ao telefone? Não...mas se possível eu ando de um lado para o outro...
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ANGELA KINA AQUARELAS E O QUE VIER
Angela Kina possui uma técnica curiosa: pinta o papel com aquarela e, depois de pronto, digitaliza o desenho experimentando as transformações das cores e formas com as brincadeiras no photoshop. A sensibilidade da artista mostra esse despudor ao utilizar técnicas mistas que não têm limites para as possibilidades quando a ação de agregar objetos inusitados inicia, compondo uma nova textura sob a tinta aquarelável. Utiliza, para produzir o efeito delicado das pinturas, colagens de folhas, fios de cabelo, e até materiais que não havia planejado como vestígios de cupim.
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Nome | Angela Kina Idade | 24 Nasceu onde | São Paulo Vive onde | São Paulo Animal de estimação | Homem O que não pode faltar na sua playlist | The Baseballs, Rita Lee, Nouvelle Cuisine, SILENCIO tango orchestra, Chico Buarque... O que tem em cima da mesa do seu computador| Bagunça Quais sites você mais frequenta | Grooveshark, Designup, Behance e Casa.abril Um personagem de quadrinhos | Rê Bordosa Um ídolo nacional | Rê Bordosa Um ídolo mundial | Homer
Kina admira muito os quadrinhos, principalmente os dos quadrinistas brasileiros como Laerte, Angeli e Adão, elegendo como ídolo nacional, Rê Bordosa – uma das personagens criadas por Angeli. Porém acredita que os traços humorísticos não influenciam em sua obra. Mesmo sem inspirar-se nas tirinhas, Angela poderia arriscar um fundo para uma ilustração da viagem psicodélica das personagens Wood & Stock, tendo visto a impressionante mistura de cores e sua alteração quando negativadas digitalmente. É dessa experimentação, compondo com “tudo que estiver perto”, que a artista admite a influência do cotidiano em sua obra, “neste caso, as plantas e os cupins contribuíram” dando um caráter colecionista e variado às composições.
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VITOR ROLIM
CANETAS EM QUALQUER LUGAR
A multiplicidade de estilos, característica da arte urbana, são completamente absorvidas por Vitor Rolim. A mistura de referências contemporâneas com as correntes modernistas são digeridas pelo artista para compor sua obra, num passeio pelas pinturas de Kandinski e Picasso até Keith Haring e Gêmeos.
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Nome | Vitor Rolim Idade | 28 anos Nasceu onde? | Santos/ SP Vive onde? | Em São Paulo animal de estimação? | Gato e cachorro O que não pode faltar na sua playlist? | AC/DC, Rolling Stones, Beatles, James Brown, Jimmy Hendrix e Vinicius de Moraes O que tem em cima da mesa do seu computador? | Um mac 24 polegadas e um maço de cigarro. Quais sites você mais frequenta? | Não frequento nenhum site específico diariamente. Apenas acesso facebook, google e vejo emails e frequentemente olho referencias em diversos sites. Um personagem de quadrinhos | Homem Aranha Um ídolo nacional | Raul Seixas Um ídolo mundial | Herbert Richards Quer mandar beijo pra alguém? | Para Mônica minha namorada linda.
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Sua preferência pelo canetão para compor os desenhos, é explicada pelo fascínio ao reconhecer que “a linha tem o poder de guiar o olhar do observador”. É assim que o estilo simples de Vitor se faz, com a linha percorrendo os fatos do dia a dia, suas inpirações, aquilo que gosta. As idéias vão assentando no papel, na parede, na tela ao comando de sua batuta-canetão. Maestro dessa polifonia imagética, o artista urbano translitera nas cenas esse caos, filho do centro urbano, com uma ironia bem humorada e o olhar atento as minúcias do cotidiano.
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LEONARDO MATHIAS SOBREPONDO TUDO
A delicadeza do papel vegetal deixa turvo os traços trêmulos da caneta nanquim. As imagens sobrepostas e grampeadas são uma antítese contrapostas a delicadeza das transparências. Leonardo Mathias compõe seus desenhos como se desafiasse o observador a enxergar através das camadas da pele de sua obra. O olhar do público percorre a intimidade dos corpos e os cenários inesperados que são compostos por uma mistura de técnicas que o artista diz serem suas preferidas, “gosto muito do detalhe que o nanquim pode dar, mas o grafite usado muito levemente, quase invísivel, pra mim é o mais atraente”.
Os suportes, técnicas, cores e acabamento, deixam rastros na obra final, realçando a importância do processo para Mathias, resgatando as influências dos “cadernos babilaques” de Waly Salomão.
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LEONARDO MATHIAS SOBREPONDO TUDO
A delicadeza do papel vegetal deixa turvo os traços trêmulos da caneta nanquim. As imagens sobrepostas e grampeadas são uma antítese contrapostas a delicadeza das transparências. Leonardo Mathias compõe seus desenhos como se desafiasse o observador a enxergar através das camadas da pele de sua obra. O olhar do público percorre a intimidade dos corpos e os cenários inesperados que são compostos por uma mistura de técnicas que o artista diz serem suas preferidas, “gosto muito do detalhe que o nanquim pode dar, mas o grafite usado muito levemente, quase invísivel, pra mim é o mais atraente”.
Os suportes, técnicas, cores e acabamento, deixam rastros na obra final, realçando a importância do processo para Mathias, resgatando as influências dos “cadernos babilaques” de Waly Salomão.
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FERNANDA CÉSAR ELEVANDO O ESBOÇO
Os sketches da paulistana Fernanda César, feitos a caneta esferográfica, tem seu encanto no traço simples que compõe uma espécie de estudo de ângulos, posições, para as figuras humanas que desenha. O jeito descontraído presente seu trabalho, que o torna lindo e despojado, advém da delicadeza do esboço e da marginalidade do suporte, em folhas de rascunho ao lado de anotações e rabiscos. Não existe um grande conceito, apenas a exteriorização de um talento que a artista possui. Enquanto nos distraímos ao telefone rabiscando traços sem sentido, Fernanda treina as curvas com a caneta no papel para se distrair, e são estes os momentos em que os rostos, olhares e bocas arredondadas são produzidos. Ela mesma confirma, “sempre rabisquei ao telefone, durante a aula, reuniões etc, etc...”.
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Nome | Fernanda César Idade | 30 Nasceu onde | São Paulo Vive onde | Sampa City animal de estimação | Cuidei de um beija-flor até que pudesse voar. O que não pode faltar na sua playlist | MPB, Rock, Trilhas de filmes. O que tem em cima da mesa do seu computador Brinquedos Kinder Ovo. Quais sites você mais frequenta | Facebook, blogs, portais de notícias. Um personagem de quadrinhos | Cascão e Chico Bento
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Normalmente femininas, com olhares sedutores, corpos cheios de curva, os desenhos têm influência da arte japonesa, os mangás, que Cesar diz admirar, além dos desenhos clássicos de pin-ups desenhados pelos artistas Elvgren e Vargas. A artista tem planos em dominar o traçado em aquarela, mas já garante a originalidade de sua arte com um caráter casual, feita para se distrair, de figuras femininas impressionantes.
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RODRIGO BUENO DESENHAR PRA QUÊ?
O que não pode faltar na sua playlist Tom Zé O que tem em cima da mesa do seu computador Os livros Sagarana, Crime e Castigo, La Vie em Close e o Código de Hammurabi. Quais sites você mais frequenta Minha navegação é super promíscua. Visito uma porrada de blogs sem fidelidade, principalmente aqueles em que tem álbuns de MP3 pra baixar grátiz.. E tem a praga do feicebuque que eu entro todo santo dia.
Como foi quando você percebeu que poderia ganhar dinheiro com o desenho?
Um personagem de quadrinhos. Ranxerox
Desenho não dá dinheiro. É o que eu
Um ídolo nacional. Marcatti
era pobre mas hoje é rico pra caramba.
Um ídolo mundial. Goya
dinheiro. Ele é uma autoridade no assunto
Quer mandar beijo pra alguém? Pra Grasiella Drumond
não dá desenho. Ele investiu em gado
ouvia de um tio meu, semi-analfabeto que Ele dedicou a vida a essa causa: ganhar então eu acho que ele está certo. Dinheiro e posto de gasolina, coisas cujo consumo é enorme. Desenho não. Óleo de soja deve dar uma puta grana. Óleo de soja. Já parou pra pensar que quase tudo que comemos tem óleo de soja? Imagina quantos bilhões de toneladas de óleo estão nesse exato momento borbulhando, dando cozimento a coxinhas, risoles, acarajés, batatas fritas, tudo devorado em segundos, antes mesmo de esfriar. Isso deve dar uma grana lascada. Óleo. Desenho não dá dinheiro. Quero ver alguém provar o contrário. Quem teima em viver disso vive no vermelho, trabalhando muito e ganhando pouco. O que se ganha não tem valor financeiro. É uma coisa meio espiritual talvez. Vai entender...
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Como foi o apoio da famiília e dos amigos?
Minha família apóia bastante, principalmente meus sobrinhos que são crianças inocentes. Nunca tive muitos amigos, principalmente na escola. Nunca
Assiste desenho animado até hoje?! Quais?
parei pra pensar nesse apoio que eles
Gosto muito do Futurama, o Simpsons
certamente me deram... Acho que de um
do Futuro.
modo geral o povo curtia, vai em frente... nada assim muito expressivo. Foi mais
Se não fosse desenhista/ilustrador, seria o
teimosia minha mesmo.
quê?! Já pensou nisso?!
Gostaria de ser marceneiro. Trabalhar com Quais desenhos você gostava de assistir
madeira, acho bem legal isso. Transformar
quando criança?
madeira em cadeira, mesa, armário...
Eu adorava os Herculóides, aquela família possuía aqueles animais monstruosos.
Como desenvolveu seu trabalho? Passou por
Queria que meu pai fosse que nem aquele
muitos estilos até chegar ao atual? Quais?
cara que ficava atirando nos inimigos com
Como foi?
um estilingue, feito moleque. Era demais,
Basicamente me concentrei em um
aquele rinoceronte que atirava pedra pelo
único elemento do desenho:
chifre, muito louco!
a linha. No caso, a linha preta sobre o
Tinha um outro desenho também que
plano branco. Depois fui percebendo que
eu adorava, tinha um cara que andava
ficava interessante preencher os espaços
de cavalo e gritava assim “ Ariel, Ucla,
brancos de preto, tinta preta, nanquim, o
vaaaaaamos!!!!” O Ucla era tipo um
máximo possível, tipo xilogravura. Peso
homem macaco-monstro que andava num
é o nome que o Kandinsky dá a isso, no
cavalo alienígena que tinha chifre na testa
desenho. Li isso no livro Ponto e Linha
e um rabo que parecido com um pão.
sobre Plano. Recomendo.
Mó viagem.
Nessa longa estrada, passei por várias canetas e pincéis, até aquelas canetas
Você costumava copiá-los?
de nanquim recarregáveis infernais
Eu não. Eu não conseguia, não tinha
que entopem pra caramba, dessas eu
habilidade suficiente.
quero distância. No fim dos anos 90 me encontrei com a caneta Futura, ela sim me
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realizou. Foi durante a faculdade (fiz desenho industrial em Londrina – PR) fizemos coisas lindas juntos. Futura, pretinha, com o tempo a ponta amolecia, parecia um pincelzinho. A espessura do traço se dava com a pressão da mão. Que caneta a gente consegue fazer isso? Mas infelizmente a Futura parou de fabricar no Brasil. Os últimos estoques nas pequenas papelarias já não encontro mais. Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer. Por isso agora eu tenho usado uma caneta preta japonesa da marca Tombow, com duas pontas, uma em cada lado. Uma delas tem forma de pincel, um tesão. Quais são suas referências?
Nossa, tanta coisa... de quadrinhos tenho umas preferências mas gosto de tudo, tudo mesmo. Gosto de xilogravura e arte sacra antiga, brasileira. Gosto muito de coisas antigas em geral, que contam histórias e mitos. Os pintores do século XIX... muita coisa.
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CINEFANTASY CURIOSAMENTE TENEBROSO
O Cine Fantasy é o nome do Festival Internacional de curtas e longas metragens com temática fantástica, ou seja, que tratam de gêneros com elementos não reais, tais como: ficção científica, horror e fantasia. O projeto divulga novos produtores, cineastas, roteiristas e atores premiando os melhores filmes por categorias como melhor longa do gênero, melhor maquiagem, melhor roteiro, melhor vilão, etc. A Flambeh entrevistou Eduardo Santana, um dos organizadores do evento e agora você pode conferir o que ele contou sobre a história do Cine e outras curiosidades como quais são as produções cinematográficas que influenciaram e ainda interferem na idealização da programação. Se quiser conhecer melhor esse trabalho, no site do Festival estão as informações sobre o regulamento para as inscrições dos participantes, bem como a apresentação do evento.
Como nasceu o Cine Fantasy (CF)? Quais foram os motivos de sua criação?
Quem assiste o CF? O CF assiste o quê?
O CineFantasy se divide em três públicos:
O CineFantasy nasceu de uma necessidade
Cineastas, fãs do cinema do gênero
de encontrar mais espaço para cinema
e o público geek.
de gênero no país, pois somos fãs desde
Assistem filmes de horror, sci-fi e fantasia, desde
pequenos dos filmes de horror,
produções profissionais, trabalhos de estudantes
ficção-científica e fantasia.
e amadores, principalmente filmes independentes de vários lugares do mundo e de todas as
Quais foram as mudanças do projeto inicial se
regiões do Brasil.
comparado com a atual realização do CF?
O projeto nasceu em Ilha Comprida e
O CF tem parte de sua identidade (o caráter
tinha apenas uma sala de exibição com
fantástico) criada por referências artísticas (literatura,
duas sessões diárias. A partir de 2008 o
artes visuais, música, etc.)? Cite algumas delas.
CineFantasy desembarcou em São Paulo em
Nossa pergunta difícil de responder, pois
seis salas de cinema com três sessões diárias
o CineFantasy tem duas cabeças pensantes eu
por espaço. No começo também era uma
e a Vivi Amaral.Gostamos de tantas coisas, mas
Mostra Nacional, hoje o Cinefantasy se tornou
vou tentar citar algumas referências:
um Festival Internacional competitivo.
Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas,
O Cine Fantasy acontecerá entre os dias 30 de agosto (ter.) e 11 de setembro (dom.) de 2011. As sessões ocorrerão no Centro Cultural São Paulo (R. Vergueiro, 100 – V. Mariana); no Cine Olido (Av. São João, 473 – República); na Biblioteca Viriato Corrêa (Rua Sena Madureira, 298 – V. Mariana).
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Edward, Mãos de Tesouras, Os Gonnies,
A cada ano vocês selecionam um artista diferente
O Iluminado, O Labirinto do Fauno - isso
para criar o material gráfico do festival. Como é
no cinema, na música temos Iron Maiden,
feita essa seleção?
Black Sabbath, NIN, Type O’ Negative, o pós
Gosto pessoal. risos
punk de 80, o dark metal e um monte de
Mentira! Eu e a Vivi sempre curtimos todos
outras referências.
os tipos de arte. Durante esses últimos anos
Na literatura, os clássicos Drácula de Bram
tivemos um grande prazer de encontrar muitas
Stoker, Anne Rice, Machado de Assis, Álvares
pessoas competentes pelo caminho. Este ano
de Azevedo, Stephen King e os novos autores
a arte é do cineasta Victor-Hugo Borges, na
como o Raphael Draccon, Eduardo Spor,
edição do ano passado, o responsável foi
André Vianco e muitos outros.
o artista Leopoldo Tauffenbach.
Que talentos passaram pelo CF?
Marc Prince, diretor inglês reponsável pelo
Como ocorre a definição do local de exibição do festival?
longa-metragem Colin, que bombou em
Temos uma parceria muito boa com
Cannes; Robert Morgan, animador inglês
a Prefeitura de São Paulo, por meio da
com vários prêmios nos principais festivais do
Secretaria Municipal de Cultura,
Mundo, como Sitges e Fantasporto; Rodrigo
então os espaços de exibição são do
Aragão, do Mangue Negro; Andres Muschietti
Governo Municipal.
do curta Mamá; Victor-Hugo Borges do Historietas Assombradas para crianças mal-criadas.
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SIDNEY GUSMAN
RESENHA PRA FECHAR
editor da coleção MSP 50
UMA RAPIDINHA
JIMMY
O que os fãs podem esperar do MSP Novos 50?
Os leitores podem esperar um livro tão bom quanto
Lançado em 2002, Jimmy, o menino mais
os dois anteriores, o MSP 50 e o MSP + 50. São 50
esperto do mundo, é um livro inovador no cenário
grandes autores que se esforçaram para manter o
da arte sequencial. Seu prefácio contém quatro
alto nível obtido nos dois primeiros. E conseguiram.
páginas explicando a forma de ler as histórias por sua complexidade na montagem dos quadrinhos.
O processo de organização dos trabalhos e montagem do
Porém ficamos na dúvida se Chris Ware, autor
MSP dura em média quantos meses?
do livro, está explicando ou zombando do
Como trabalho com um planejamento bastante
leitor ao dar a orientação. A crítica do artista se
criterioso, sempre faço as coisas com
estende às pessoas no mundo contemporâneo
antecedência. Mas, do convite aos autores ao envio
que “mal conseguem construir frases que façam
para a Panini, serão oito meses.
sentido; [que] estão transformando substantivos em verbos, empregando o tempo todo palavras
O Mauricio de Sousa acompanha de perto todo o
erradas para dizer o que não pretendem”.
processo de criação do MSP?
Quando abrimos o livro, deixamos nossas
Não. O Mauricio deixa o processo sob o meu
preocupações de lado para assistir a vida
comando, mas ele confere, sim, todas as artes que
de Jimmy e de sua família narrada fora da
chegam. E com uma baita empolgação. Ele parece
linha do tempo, na qual passado e presente
uma criança quando vê as versões que os autores
se confundem desnorteando a leitura linear.
fazem de seus personagens.
Esse estilo possibilita que estimulemos nossa sensibilidade deixando em primeiro plano a
Como é feita a seleção dos artistas?
que o anti-herói vivencia.
obviamente, é a qualidade, mas levo em
Podemos dizer que esse trabalho admirável de
consideração também que o álbum tenha uma
Ware segue a linha da literatura do Absurdo,
diversidade de estilos e também autores de
com o estilo narrativo parecido com o de Samuel
diversos pontos do Brasil. Esse projeto se tornou,
Beckett. Ler Jimmy, o menino mais esperto do
também, uma grande vitrine para quem faz (bons)
mundo é um desafio para quem está habituado
quadrinhos no Brasil atualmente. Por isso, não
com as histórias em quadrinhos convencionais.
é fácil escolher os 50. E olha que ainda ficou muita gente talentosa de fora!
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atmosfera de insegurança, mistério e frustrações
Eu sigo uma série de critérios. O primeiro,
propaganda n達o autorizada
EXPOSIÇÃO
“PORTINARI:
MÃOS DE PINTOR,
CORAÇÃO DE
POETA”
27 de maio a 22 de junho de 2011 10h às 18h - 2ª a 6ª feira 09h às 12h - sábados Biblioteca Padre Euclides R. visconde de Inhaúma, 490 – 1º andar Centro | Ribeirão Preto | SP