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Piracicaba, 2014 Sal達o Internacional de Humor de Piracicaba

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FICHA CATALOGRÁFICA _______________________________________________________________________________________ Salão Internacional de Humor de Piracicaba (41, 2014, Piracicaba) São Paulo – Gráfica e Editora Riopedrense Ltda – Centro Nacional de humor Gráfico, 2014 Adolpho Queiroz, Evaldo Vicente e Letícia Hernandez Ciasi Capa e ilustrações sobre os autores: Erasmo Spadotto Mostra comemorativa dos 41 anos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, 23 de agosto a 12 de outubro de 2014. 1. 2. 3.

Caricaturas e desenhos humorísticos – Brasil – Piracicaba – Exposições Humor Salão de Humor de Piracicaba

Índice para catálogo sistemático 1.Salão Internacional de humor de Piracicaba: Artes – 741.598.161.2 2. Piracicaba (SP): Humor Gráfico: Artes 741.598.161.2 _______________________________________________________________________________________ Proibida a reprodução total ou parcial sem a prévia autorização dos editores. Dados reservados e protegidos pela Lei no 961 de 19/02/1988 Feito depósito legal na Biblioteca Nacional Lei nº 10994 de 14/12/2004 Impresso no Brasil em 2014 Gráfica e Editora Riopedrense Ltda

Prefeitura do Município de Piracicaba Secretaria de Ação Cultural Centro Nacional de Humor Gráfico de Piracicaba Av. Maurice Allain, 454 – Vila Rezende Cep: 13405 123 – Piracicaba/SP Caixa Postal 12 Fones: (019) 3403-2620 e (019) 3403-2615 contato@salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br

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Índice

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A CULTURA CAIPIRACICABANA E O NHÔ QUIM

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DAS ORIGENS DO HUMOR EM CAIPIRACICABA: DO DIALETO À RESISTÊNCIA POLÍTICA PIONEIRA – REVISTA MIRANTE O HUMOR GRÁFICO NA IMPRENSA LOCAL E NOS LIVROS OS PIRACICABANOS NO PRIMEIRO SALÃO DE 1974 PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALAMOS DAS FLORES PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALAMOS DE PAMONHAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JAYME, LEÃO DA RESISTÊNCIA

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JURIJ KOSOBUKIN O PRAZER DE CONHECER ESSE “RUSSO” EXPRESSÃO, CONSEQUÊNCIA INEVITÁVEL DE SER HUMANO PINTANDO AS MATRIOSHKAS A COR DO DESEJO O JOGADOR PORTUGUÊS NOTÍCIA FULMINANTE MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

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CHARGES&CARTUNS PROGRAMA DE MADAME O ANIMAL DO RUSSO VLADIMIR SEMERENKO HUMOR INQUIETANTE! A ATUALIDADE VISTA NO PASSADO CELSO FRÓES E O PAPAGAIO BRASILEIRO VIDAS SECAS CONTRADIÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE RIR É O MELHOR REMÉDIO QUE ISSO TERMINE ESSA INDEPENDÊNCIA É DE MORTE PAU DE ARARA É FOGO ! DOS MALES, O MENOR A ARTE DA GUERRA BOIAMOS DESAFIADOR TARZAN E CHITA NUM MATO SEM CACHORRO Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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A ARTE DO RISO HISTÓRIA INFNTIL SÓ FALTAVA CONGELAR O CONSUMIDOR O CAOS DE REALIDADES LATIDO PEÇAS TRIDIMENSIONAIS O PARTO ALTAMIRO CARRILHO NA MOSCA! DA LIBERDADE E DA ESPERANÇA A LIBER(T)AÇÃO SEXUAL FEMININA E A RECUSA À SUBMISSÃO SOBRE ESQUINAS, RATOS E RATOEIRAS INSTITUIÇÃO VANGUARDISTA PARA AS CRÍTICAS SOCIAIS O REI PERDEU A CABEÇA FOSFOROS DA PAZ A HISTÓRIA QUE CHEGA AO FIM RECORTADOS PELA CENSURA VIVA A LIBERDADE ! COMO NA CHINA ENLAMEADOS SOBRE OS AUTORES

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A CULTURA CAIPIRACICABANA E O NHÔ QUIM No ano em que comemora 41 edições ininterruptas, o Salão Internacional de Humor, verdadeira referência piracicabana, presta homenagem a outro ícone da nossa cultura local, que também atinge uma marca histórica, com um material que conta com ilustres e importantes participações. O Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba chegou, em 2013, aos 100 anos de fundação com muito o que comemorar. E o lançamento do livro “Caxará de Fórfe” deve ser enquadrado como uma dessas celebrações. Seu título, retirado do chamado “Hino Popular do XV”, é uma expressão que traduz o imaginário caipira e, por que não dizer, o rico vocabulário local, com peculiaridades que fazem da nossa cidade um lugar único e apreciado por tanta gente. Se 2013 foi histórico para o XV de Piracicaba pelo centenário de fundação, 2014, ano em que nosso livro é lançado, também é um marco: há 50 anos, nosso Nhô Quim se aventurava por solos estrangeiros. Algo até então nada comum para as agremiações nacionais, o alvinegro teve, em 1964, a coragem de enfrentar grandes clubes e até seleções dos continentes europeu, asiático e sul-americano. O XV se tornava internacional, assim como nosso Salão de Humor se tornou já em suas primeiras edições. Nesse livro, trabalhos premiados em diferentes edições de nosso salão são analisados por editores de cultura, jornalistas e pesquisadores de todo o Brasil, acostumados a acompanhar, prestigiar e cobrir o grande evento. Enfim, grandes parceiros, já que a mídia tem sido importantíssima ao longo desses 41 anos, pois em muito tem contribuído com a divulgação dos trabalhos, exposições e ações. Acima de tudo, o Salão Internacional de Humor de Piracicaba tem sido responsável por incentivar o pensamento crítico e a valorização da cultura local, que tem no Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba um de seus grandes expoentes. Parabéns ao nosso salão pelos seus 41 anos e ao XV pelos mais de 100 anos de conquistas! Gabriel Ferrato dos Santos Prefeito de Piracicaba Rosângela Camolese Secretária Municipal da Ação Cultural Evaldo Vicente Presidente do 41º Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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DAS ORIGENS DO HUMOR EM CAIPIRACICABA: DO DIALETO À RESISTÊNCIA POLÍTICA Adolpho Queiroz e Letícia Hernandez Ciasi A ideia de recontar, a partir de interpretações livres, escritas por jornalistas, pesquisadores, professores universitários e artistas gráficos, a “História do Salão de Humor de Piracicaba”, que completa 41 anos em 2014, foi iniciada em 2013, quando o Salão chegou a quatro décadas e na ocasião lançamos o livro “Balas não matam ideias”. Nele tivemos o apoio de mais de 70 professores universitários do país, que nos brindaram com suas percepções sobre as obras vencedoras ao longo dos anos. Desta vez, escolhemos contatar os editores de cultura dos jornais brasileiros, para que pudessem iluminar as páginas deste livro com suas visões sobre os trabalhos vencedores. E após conseguir um “mailing list” com cerca de 500 profissionais, escolhemos alguns, mandamos convites a vários e tivemos o retorno que se segue. Além destes, conseguimos também o apoio de novos professores universitários, dos membros do Conselho Consultivo do Salão, que narraram, à sua maneira, de que forma viram as influências dos desenhistas e suas ideias durante estes 41 anos de existência do nosso Salão. A primeira questão que queremos apresentar é sobre o título deste livro. A cidade de Piracicaba, rica culturalmente por suas tradições, tem também na tradição oral, que se estende a partir dos Bandeirantes que a povoaram, a partir de Porto Feliz, através do Rio Tietê, uma característica muito peculiar. Seu falar arrastado, que os filólogos chamam de “r” reflexo, onde palavras como “porta” viram “póorrrta”, “mortadela” transforma-se em “mortandela” e os nossos “problemas” viram “pobremas”, numa infinidade saudável e bem humorada de termos e falares que deram à cidade,da qual participam pelo menos 25.000 estudantes universitários, as possibilidades de uma ridicularização gostosa dos costumes da terra. Quando vieram para uma das escolas mais tradicionais da cidade, nos anos 60, estudantes de Agronomia, da “Luiz de Queiroz”, além de buscarem as moças mais bonitas da cidade para namorar, também deixaram como herança com hino apócrifo, hoje considerado como domínio público, sobre o principal time de futebol da cidade, o E.C.XV de Novembro: Cáxara de forfe, Cuspere de grilo, Bicaro de pato GOOORR XV crá crá crá, XV crá crá crá, Asara de barata, Nhéque de portera, Já que tá que fique, GOOORR XV crá crá crá, XV crá crá crá, Viemo numa Kombi véia, Sem óio de brequi, De ocre de raibã GOOORR XV crá crá crá, XV crá crá crá, Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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Carcanhá de bode, Tocera de grama, Já que tá que fique, GOOORR XV crá crá crá, XV crá crá crá, Trei veiz cinco XV,XV,XV A torcida faz movimentos com os braços formando as letras “x” (cruzando os braços desta forma) e “v” (colocando os cotovelos para baixo e abrindo os braços no formato da letra), repetidamente. Com a chegada da internet, vários sites hoje publicam letras diferentes, mas sempre iniciadas pelo “Cáxara de forfe”. Numa em vez de “Kombi véia”, é possível ler “suvaco de cobra”. Há outros que incluem nos versos outras características da cidade como “garrafão de pinga”, “jaqueta de côro”, entre outras peculiaridades. Portanto, o bom humor da cidade origina-se um pouco deste dialeto “caipira”, que o pesquisador Amadeu Amaral difundiu e que o advogado, ex-vereador e folclorista piracicabano João Chiarini, mais adiante cognominou de “caipiracicabano”. A existência de um Salão de Humor em Piracicaba, a partir de 1974, passa também pelo hino apócrifo dos anos 60, pela tradição religiosa, pelas festas populares, como a do Divino Espírito Santo realizada sobre o leito do rio famoso, pelo carnaval, ou pelo poema “Os Caipiras”, do poeta piracicabano Ésio Pezato, que dedica ao Salão de Humor uma visão particular: CX Mil novecentos e setenta e quatro! Quando o governo militar num plano De horror nos dava um espetáculo atroz, – Como o Circo do déspota romano, Em sanguinárias cenas de um teatro, Aqui, no solo piracicabano, Carlos, Adolpho e Alceu com ansiedade, Criam vida a um Salão nesta Cidade. CXI Eis o Salão de Humor, que ainda importuna, Políticos espertos e safados, Os cartuns valem mais que uma tribuna Quando aos olhos do povo são mostrados. Grosso, Longo, Spadotto, Hussar, Fortuna, Denunciaram mil crimes praticados Porque a censura tola não agia Pois pensava que o humor era folia. CXII Quantos cartuns não denunciaram fome, Muitos, ferozes, denunciaram crimes... Pois aqui o assassino ainda tem nome Mesmo que seja titular em times 10

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Militares, que é time que consome, Os ideais dos homens mais sublimes Que têm para nos dar pavor e medo, Deixando abertas portas ao degredo. CXIII Hoje o Salão de Humor (que abriu a porta Para termos instantes mais felizes), Aberto ao exterior também comporta A energia de todos os países. O caricaturista exímio exorta Personagens em mágicos deslizes, E os homens do governo em ágeis traços São mostrados em trajes de palhaços! CXIV Esta, enfim, é uma forma de vingança, Para quem tenta, de maneira tosca, Tirar a nossa pálida esperança, Deixando a vida triste, áspera e fosca; Assim nosso sorriso de criança, Traz o disfarce tenro da marosca Pois o Salão de Humor é uma cilada Para Piracicaba dar risada! CXV Zélio, Ziraldo, Lan, tragam o riso Mesmo que amargo e tétrico ele seja, Pois ele nos conduz ao paraíso E o paraíso este país deseja. Millôr, Jaguar, Caruso, eis um aviso: Que vós continueis nesta peleja Ridicularizando, ironizando, Com lágrimas, talvez, nos educando! CXVI E que Piracicaba sempre viva Para ser Capital de Humor, no mundo, E que a alegria fique em nós cativa, Como um Hino de Amor santo e profundo. Que o cartum seja a forma decisiva Para mostrar o belo, o feio, o imundo, Porque nosso Brasil também merece Demonstrar em sorrisos – sua prece!

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PIONEIRA – REVISTA MIRANTE A revista Mirante circulou em Piracicaba entre os meses de março de 1957 a setembro de 1961, no que representou a sua primeira fase. Era uma publicação mensal, impressa em bicromia – preto e outra cor que se diferenciava a cada edição; possuía edições em torno de 44 páginas (40 em preto e branco e capas e contracapas e bicromia, nas quais eram publicados anúncios de empresas locais. Trazia invariavelmente temáticas locais, custava CR$ 10,00 o número e anunciava em seu expediente que sua tiragem era de 5.000 exemplares, sendo editada pela empresa Wagner, Romani e Kraide, sendo respectivamente seus proprietários o artista plástico Renato Wagner, o comercial Arlindo José Romani e o relações públicas Fued Helou Kraide. O redator chefe chamava-se Joaquim do Marco. O importante naquela revista é o seu pioneirismo também na causa do humor gráfico. Sempre a sua última página editorial, a 42, era dedicada ao humor gráfico dos artistas da época: o próprio Renato Wagner, diretor da revista; Edson Rontani e Derli Barroso. Consagrado artista plástico em Piracicaba, Renato Wagner nasceu em Piracicaba em 21 de maio de 1921, fez seus estudos no Colégio Piracicabano, transferiu-se posteriormente para São Paulo onde iniciou o curso de Engenharia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, mas não o concluiu. Naquele período, aproximou-se profissionalmente da agência Mc Cann Ericson onde trabalhou profissionalmente como publicitário e certamente adquiriu a experiência para lançar o veículo inovador na imprensa local. Casou-se com Margareth Wagner, sua colega de Colégio Piracicabano e teve dois filhos :Marina e Renato Filho. Lecionou desenho na ESALQ, mas consagrou-se profissionalmente como artista plástico tendo recebido inúmeros prêmios no Salão de Belas Artes de Piracicaba. Faleceu em 21 de outubro de 1995. Edson Rontani (Piracicaba, São Paulo, 23 de março de 1933 - † 24 de fevereiro de 1997) foi um jornalista, cartunista, ilustrador e radialistabrasileiro, foi o editor do primeiro fanzinebrasileiro sobre histórias em quadrinhos publicado em 12 de Outubro de 1965 na mesma cidade cidade onde nasceu.Embora fosse professor, contador e advogado por formação, Edson nunca exerceu nenhuma das profissões, foi chargista, caricaturista, artista plástico, radialista Na década de 1950 fundou uma escola de desenho.Criou o primeiro fanzine sobre histórias em quadrinhos que recebeu nome de “Ficção” (Boletim do Intercâmbio Ciência-Ficção Alex Raymond), editado em 1965. O fanzine era composto por textos informativos e uma lista de produções brasileira de quadrinhos desde 1905. Na época, produções independentes e manufaturadas como esta não eram denominadas fanzines, tanto que o Ficção foi lançado com o nome de boletim informativo para amantes das histórias em quadrinhos. Rontani catalogou nas edições deste fanzine tudo o que era de seu conhecimento pois até esta época não havia sequer um levantamento das revistas em quadrinhos publicadas ou quais editoras foram fundadas no país. Como colecionava revistas desde sua infância, ele as estudava e guardava dados históricos para dividir com outros colecionadores estes conhecimentos. O fanzine possuia uma tiragem de 600 exemplares, e entre seus leitores estavam José Mojica Marins (o Zé do Caixão), Gedeone Malagola, Adolfo Aizen, Mauricio de Sousa, Jô Soares e Lyrio Aragão. Trabalhou em jornais e fez capas para as revistas Batman e Superman da editora EBAL Rontani era um colecionador de quadrinhos chegando a passar por suas mãos mais de 170 mil exemplares de histórias em quadrinhos. Possuiu juntos ao mesmo tempo cerca de 74 mil exemplares. Foi desenhista artístico e lecionava desenho em seu Instituto Orbis, situado no centro de Piracicaba. Sua memória é perpetuada até hoje pelo Jornal de Piracicaba com a publicação semanal da coluna “Você Sabia?”, que ele editou de 1982 a 1997, ano em que faleceu. A coluna foi reeditada pelo Jornal de Piracicaba de 2002 a 2009, através de seu filho Edson Rontani Júnior. Aposentou-se como desenhista técnico da Secretaria Estadual de Agricultura. Faleceu em Piracicaba em 1997. Sobre o terceiro artista da equipe, Derli Barroso, vive no bairro do Brooklin em Nova York, desde 2003, onde trabalha como fotografo até hoje.Mantém contato constante com a cidade de Piracicaba, onde formou-se no Colégio Piracicabano em 1960. Depois viajou o mundo 12

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trabalhando com fotografia. Esteve na China, Indua, Europa, México. Estudou na school of Visual Arts e no Rochester Institute of Techonology de NY. Para ele, as experiências iniciais com o cartum na revista Mirante representaram um grande estímulo para gostar de artes plásticas e, especialmente, dedicar-se à fotografia plenamente desde então.

O HUMOR GRÁFICO NA IMPRENSA LOCAL E NOS LIVROS Pelas páginas do “Jornal de Piracicaba”, “O Diário”, “Tribuna de Piracicaba”, “Gazeta de Piracicaba”, pelo “Correio Popular” de São Paulo e hoje através dos sites e blogs, vários artistas foram revelados. Edson Rontani JP/Diário; Douglas Mayer/O Diário;Eduardo Grosso,Tribuna/ Jornal de Piracicaba; Fausto Longo, O Diário/Aldeia; Luciano Veronezzi,A Gazeta; José Inácio Coelho Mendes, Correio Popular/SP; Rudinei Bassete,O Diário/JP; José Antonio Mariano, Revista Veja; Érico San Juan, Jornal de Piracicaba; Erasmo Spadotto,Jornal de Piracicaba; Willian Hussar, com a publicação independente de suas histórias em quadrinhos, com o apoio ECA/USP; Luciano Veronezzi, na Gazeta de Piracicaba, sempre em parceria com o campineiro Dálcio Machado, contratados pelo Correio Popular de Campinas; e as novas gerações de blogueiros, quadrinistas comandadas por Lucas Leibohlz, Rafael De Latorre e Marcelo Maiolo. A Revista “ALDEIA”, editada por Alceu Righeto e por mim, nos anos pós 74 em Piracicaba, também demandaram novos artistas gráficos e de humor para a cidade como Renato Cosentino,Emilio Moretti, Neto Piedade, que ao lado de Zélio, Fausto Longo e Chico Caruso assinaram várias das suas capas. Mais recentemente, em 2003, como fruto da parceria entre a Ação Cultural e a Imprensa Oficial foi editado o livro “Os 15 de Piracicaba”, tendo como autores :Bettiol, Edson Rontani, Eduardo Caldari, Eduardo Grosso, Emilio Moretti, Erasmo Spadotto, Érico San Juan, Fábio San Juan, Fausto Longo, Gil, Gilson, Luccas Longo, Renato Wagner e Willian Hussar. Entre as iniciativas do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, está uma maior visibilidade aos artistas da cidade. Ao lado de Eduardo Grosso, que já tinha desenhado cartazes de anos anteriores, os também piracicabanos Willian Hussar e Erasmo Spadotto desenharam os cartazes das edições 38 e 41. A publicação do livro “Capivaras”, de Spadotto em 2013 e “Veronezi é 10”de Luciano Veronezzi, em 2014, compõem, além dos “15 de Piracicaba” (2003) e do livro sobre o personagem “Nho Quim,de Edson Rontani”, ao lado o livro “Balas não matam ideias”,uma preocupação constante do Salão em manter-se internacional, mas valorizando sua própria gente. Houve também um intenso período de relacionamento e apoio de parte da Imprensa Oficial do Governo do estado de São Paulo que resultou na publicação de uma série de catálogos sobre a história do Salão e o livro sobre os 25 anos do Salão, organizado pelo artista gráfico Paulo Caruso. Vencedores também do Salão, Luciana Montenegro,com sua “mosca ao alvo” ou Marisa Hypolito Rosalen são autoras pioneiras na cidade que foram premiadas e nunca mais publicaram.Infelizmente !

OS PIRACICABANOS NO PRIMEIRO SALÃO DE 1974 “Dois mil cruzeiros por uma gracinha, a pré estreia do I Salão de Humor de Piracicaba”, com este titulo, escrevi uma primeira matéria no jornal “O Diário” em 11 de agosto de 1974, mostrando de que forma os artistas gráficos da época esperavam o Salão. A matéria falava de Armando Kanazawa, que tinha, uma agência de publicidade na cidade; Fausto Longo, Rudinei Bassete e José Antonio Mariano, que à época trabalhava como diagramador da revista Veja. “Foi a melhor coisa que bolaram no interior”, dizia Fausto à época, na altura dos seus 22 anos e já conhecido na cidade por ter criado o simbolo de uma escola de samba chamado “Muduk” (leiam ao contrário e vocês vão saber o significado do personagem!) Bassetti desenhou um astronauta vendo o outro encher, com uma bomba pneumática a Lua “o que ele está querendo dizer com lua cheia?”, perguntava da astronave. Longo desenhou um Cristo Redentor, no Rio de Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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Janeiro “empinando uma pipa”, simbólico também para época onde o termo “empinar uma pipa” poderia ser lido como “apelo sexual’. José Mariano ironizava a chegada dos parquimetros na cidade naquele distante 1974, como sistema que regularizaria os estacionamentos de automóveis no centro da cidade. O tempo passou, os parquimetros se foram ... mas voltaram !!!

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALAMOS DAS FLORES Ao ensejo dos 41 anos, comemorados em 201, quando também no Brasil foram lembrados os 50 anos do golpe militar de 1964, vale repetir o que disse, num video feito pelos alunos da Universidade Metodista de Piracicaba há 25 anos : “Os militares nunca se peocuparam com o Salão de Humor de Piracicaba”. São lendas, não verdades as informações de que eles intervieram no Salão de alguma forma. Apenas o jornal “O Estado de S.Paulo” de 1976 registra um diálogo ríspido entre Henfil e o então presidente General Ernesto Geisel, trocando farpas sobre a legitimidade do governo militar no Brasil, com desdobramentos acanhados para o Salão de Humor de Piracicaba que, a meu juízo, “entrou de gaiato no navio” nas entrevistas feitas com Henfil e o general presidente. No mais, os militares foram o assunto preferido dos cartunistas ao longo de quatro décadas. Os daqui e os do exterior.Quem folheia os catálogos do nosso Salão, percebe a ironia fina ou às vezes explícita demais contra os “alvos preferenciais” das nossas críticas.A falta de democracia, a corrupção, a letargia do governo, a interferência sobre a imprensa e a livre expressão, as guerras surdas aqui ou abertas lá fora, propiciaram um arsenal contra ditadores de calibre apropriado. O general lendo a ordem unida em cima de um tanque, de Luiz Gê; o soldado galhofeiro ou a demissão do censor,ambos de Glauco; a lição do rei vestido de Laerte; os palhaços presos de Chico Caruso; os risos de papel de Angeli ou, mais recentemente, o navio de Angel Boligan “singrando mares sangrados” rumo à Siria, são obras vivas que saltam aos olhos e resistem ao tempo, como que indicando “Nunca Mais!”

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALAMOS DE PAMONHAS Além do nosso Salão, da música sobre o Rio de Piracicaba, do time do XV de Novembro e sua “cáxara de forfe”,da Festa do Divino e da gente esquisita que habita esta terra com “r” demais e “s” de menos, Piracicaba a terra lendária das pamonhas. Pamonhas de Piracicaba, quem não conhece o refrão ? Cantado Brasil afora, sem que a cidade tenha plantações de milho, fabricantes ou até mesmo locais para a comercialização da dita cuja iguaria. Se o Salão projetou a cidade internacionalmente, nascer, viver, morar, ler,estudar e pesquisar em Piracicaba, “lugar onde o peixe para”, como diziam os indígenas nativos que lhe deram o nome,pode ser uma aventura bem humorada. Conviver com as idiossincrasias da nossa terra, podem nos levar de uma resposta engraçada à transformação da pamonha em basalto ( as pedras que formam o leito do nosso salto do rio famoso). Um basalto que resiste às tentações das “ordem unida”, do “discurso único”,da improvisão. Bendita seja então a nossa Piracicaba,cara bem humorada,com gosto de pamonha; mas caráter de basalto, que não enverga,que resiste! Adolpho Queiroz Pós doutor em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente do Conselho Consultivo do Salão de Humor de Piracicaba. Letícia Hernandez Ciasi Aluna do 7º semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP e trainee de Planejamento/Social Midia da Digital Industry/ 14

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SP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARUSO, Paulo. 25 anos do Salão de Humor de Piracicaba, Imprensa Oficial do governo do Estado de São Paulo,1999 Diversos autores, Os 15 de Piracicaba, Imprensa Oficial do Estado de SP - 2003 QUEIROZ, Adolpho e CIASI, Letícia Hernandez, Balas não matam ideias, SEMAC,Prefeitura de Piracicaba, Nova RC Editora e Gráfica Rio Claro, 2013,134 páginas; RONTANI, Edson Junior,Nhô Quim, a história que eu conheço, SEMAC,Prefeitura de Piracicaba, Editora e Gráfica Riopedrense,2013,110 páginas. SPADOTTO, Erasmo, Capivaras, SEMAC, Prefeitura de Piracicaba, Editora e Gráfica Riopedrense, 2013,, VERONEZZI, Luciano, Veronezzi é 10!, SEMAC,Prefeitura de Piracicaba,2014.

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JAYME, LEÃO DA RESISTÊNCIA Em meados dos anos 1950, no sertão de Pernambuco, Nordeste do Brasil, dois líderes comunistas, Gregório Bezerra e Francisco Julião, assumiram a liderança dos movimentos de trabalhadores rurais na luta por Reforma Agrária, as denominadas Ligas Camponesas. A rigor, elas surgiram uma década antes, mas só alcançaram importância e notoriedade com essas novas lideranças. Até o Golpe Militar de 1964, que as exterminou com violência, as Ligas reivindicaram melhores condições de vida para os trabalhadores rurais. Com apenas 15 anos de idade, um rapazola pernambucano chamado Jayme Leão, era, no início dos anos 1960, ilustrador no combativo jornal “Liga”, órgão oficial dos movimentos comunistas no interior de Pernambuco. Autodidata, Leão foi um ser humano exemplar. Ético, demonstrou não apenas no discurso, mas, acima de tudo na prática, seus inalienáveis valores: amor ao próximo, inteligência, criatividade, bom humor, solidariedade e, acima de tudo, coragem de lutar pelos seus princípios. Assim foi que, depois do Golpe de 64, Leão, à época bem sucedido artista gráfico na Publicidade, abriu mão da segurança financeira e abandonou o setor. Não seria conivente com o que chamava de “ganhar dinheiro mentindo”. Sem nenhuma garantia de remuneração, passou a ilustrar a mídia alternativa e reprimida pelo poder: “Opinião, “O Pasquim”, “Movimento”, “Retrato do Brasil” e “Hora do Povo”, jornal do grupo guerrilheiro MR8 onde conheci-o e trabalhamos juntos. Pagou caro pela sua opção, várias vezes preso acabou se exilando no Chile. Jayme Leão foi, de direito e de fato, um Leão. E assim, com letra maiúscula. Jamais permitiu a sedução de sua consciência, nunca se deixou cooptar por outro encanto que não fosse viver uma vida cidadã. Foi sempre realista, mas, também um generoso sonhador que lutava para realizar cada um deles para todos nós. Porque eram apenas e tão somente sonhos coletivos, de infinito amor ao próximo e ao Brasil, como uma terra realmente de oportunidades iguais para todos. Leão não foi apenas um grande ilustrador e diretor de Arte, como ficou conhecido no que também fez para “Veja”, “Folha de S. Paulo”, “IstoÉ”, “O Estado de S. Paulo” e, por muitos anos, para a Editora Ática. Pintava, além de criar quadrinhos, charges, caricaturas. É dele o cartaz do V Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1978, criação que soma os principais requisitos da arte de comunicar: objetividade, impacto, força, sofisticação e irônico bom humor. Além de muitos motivos para amizade, como jornalismo, livros, ideologia e exílio no Chile, tínhamos dois outros bem significativos. Nascemos no mesmo dia, 18 de março e, em 1986, integrei o grupo que organizou as comemorações informais, populares, que marcaram o reatamento das relações diplomáticas do Brasil com Cuba. Leão criou um belo cartaz para marcar a data: uma pomba branca trazendo no bico as bandeiras do Brasil e de Cuba, sobre uma lua/sol em dégradé ao fundo, que mostrava a transição do período de obscuridade para o de luz. A missão de imprimir o cartaz era minha. Claro, como sempre, sem custo. No caminho para a gráfica de um amigo que aceitou ajudar-nos, fui observando encantado a qualidade da arte final. Surpresa! As cores de Cuba, vermelho e azul, estavam trocadas de posição na bandeira do país amigo. Resumo da história: Leão fez nova arte e eu fiquei com a original, das cores invertidas. Ele, carinhosamente, a deixou comigo. Como também ficará, para sempre, a admiração e o respeito de todos nós por esse grande brasileiro que, neste 2014, resolveu deixar-nos e ir brilhar no céu azulsol da fraternidade e esperança. Ricardo Viveiros Jornalista e membro do Conselho Consultivo do Salão de Humor de Piracicaba Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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O PRAZER DE CONHECER ESSE “RUSSO” Alguns dos notáveis no universo da comédia driblaram o destino para seguirem suas destinações. Esse é o caso do cartunista ukraniano Jurij Kosobukin que se formou engenheiro para, ao fim, poder exercer sua vocação de artista sem que ninguém o conduzisse. Filho de classe média comunista nos anos da guerra fria, seu destino original seria as exatas, pois o mundo pedia assim. Mas driblou e escapou pela tangente pra se transformar num dos mais refinados pensadores do humor gráfico do seu tempo. Em 2013 nos deixou órfãos de seu traço e da observação ferina e irônica do comportamento humano através de seus cartuns. Formou-se engenheiro, mas logo seu talento como observador dos fatos e dos feitos humanos, mais seus comentários através do refinado desenho de humor solicitaram maior dedicação e ele se tornou, assim, um dos mais prestigiados profissionais do seu período de atuação. Este foi, relativamente pequeno, pois de 1950 a 2013 passaram-se apenas 63 anos. Vida curta para uma obra tão vasta. Jurij Kosobukin surgiu na vida do Salão Internacional de Humor de Piracicaba por volta dos anos 1980. Desde então não deixou jamais de nos surpreender a cada edição, com suas chispas de humor, com seus achados conceituais e traduções visuais inéditas e surpreendentes e foi um dos maiores ganhadores do prêmio do Salão, colecionando troféus. Seu desenho é bem comportado com lida refinada de quem é criativo, bem formado, observador disciplinado e estudioso atento, pois a subjetividade da ideia em suas mãos acaba por se expressar mais claramente ao ganhar forma, cor e volume. A sua observação critica comportamental se identifica através da quebra da expectativa, levando à comédia sutil e muitas vezes profundamente maldosa. Sinto uma grande satisfação por vê-lo citado e incluído nessa nova publicação conduzida através do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, pois, trazer ao conhecimento do maior número possível de pessoas o talento e o brilho da capacidade dedutiva de artistas como Kosobukin é um dos fatos que explicam a dedicação de tantos na preservação das ideias que justificaram a criação dessa entidade - CEDHU* - a retribuir com generosidade o empenho de todos. O “russo” Kosobukin é apenas um dos que surgiram e estão surgindo das edição do Salão. Aguardem! *= Centro de Estudo e Divulgação do Humor. Zélio Alves Pinto Membro do Conselho Consultivo

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EXPRESSÃO, CONSEQUÊNCIA INEVITÁVEL DE SER HUMANO O artista plástico Yuriy Kosobukin, falecido em 15 de janeiro de 2013, foi o maior vencedor da história do Salão de Humor de Piracicaba, com trabalhos premiados em 1988, 1989, 1991, 1993, 1995, 1998 e 2002. Nasceu na Rússia em 1950. Estabelecido em Kiev, Ucrânia, formou-se engenheiro de aviões, área na qual iniciou suas atividades profissionais. Começou a contribuir com a imprensa em 1976, como cartunista. Ao longo dos anos, tornou-se um dos mais conhecidos, premiados e respeitados cartunistas do mundo. No texto escrito para o livro comemorativo dos 40 anos do Salão de Humor de Piracicaba, Adolpho Queiroz descreveu assim o estilo de Yuriy Kosobukin: “com traços relativamente simples, construiu o estereótipo do homem modelo dos seus trabalhos. Ora carecas, ora com chapéus de guerra ou cartolas. Barrigudos e corpulentos. Óculos. Olhos sempre arregalados. Nariz em forma de pepino. Olhares sombrios, nunca alegres, sempre ensimesmados. E no movimento das mãos, a senha para resolver suas histórias de uma página, suas comunicações agudas, que voaram pelo mundo como um soco no estômago contra as estruturas vigentes”. Tais estruturas, comuns mesmo aos países mais radicalmente diferentes em termos históricos e culturais, tornam sua crítica facilmente reconhecível aos públicos mais distintos. Mesmo assim, difícil não estabelecer alguns paralelos entre a República Socialista Soviética da Ucrânia e a ditatura militar brasileira em um trabalho como o vencedor da categoria charge no Salão de 1993. As tarjas negras maculam a natureza e a pessoalidade da personagem. Mas o manifesto do homem impedido de falar, sua postura determinada, a haste adornada, as dimensões da língua-bandeira, emergem como consequência inevitável de ser humano. Ele aproveita as brechas do descuido da autoridade? Ou insiste em se expressar, incentivado pela esperança nascida quando despontaram os primeiros raios da volta da democracia? Este trabalho é um dos mais conhecidos entre aqueles já premiados pelo Salão Internacional de Humor de Piracicaba e integra a capa do livro comemorativo dos 30 anos da exposição, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo em 2003. Patrícia Polacow Doutora em comunicação pela UMESP e jornalista do Jornal de Piracicaba

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PINTANDO AS MATRIOSHKAS Em 2002, Yuri Kussobokin (falecido em 2013 aos 63 anos), nos enriqueceu com a apresentação desse trabalho no 29° Salão Internacional de Humor de Piracicaba. A tinta preta aplicada nas bonequinhas e a fisionomia conformada, quase desanimada do pintor sentado de pés cruzados no tapete vermelho, com suas mansas pinceladas, cobrindo-as uma a uma retrata a fina arte de Yuri, o mais premiado artista até hoje em nosso destacado Salão. Yuri nos remete à reflexão da diversidade cultural e (falta de) liberdade de certas sociedades totalitárias bem como da existência de um controle e repressão silenciosa bem acatada. Curiosamente na pintura em curso, que quase cobre a sétima mulher, a mais alta e pesada delas, conseguimos notar, na primeira demão, que se tratava de mulher sorridente que ainda pôde escolher figurino típico, semblante alegre, batom vermelho, auge de uma vida feliz, em liberdade. No entanto, a ordem agora é o escuro, cubra-se tudo, nenhum resquício de cores vibrantes, de fora tão somente os olhos. Mas o que os olhos enxergam, a alma sente, viaja e toca o coração; os sentimentos reprimidos flagelam a alma e dilaceram o coração, parte de uma sociedade aprisionada sobre vários aspectos sob suas vestes. Fica a dúvida, seria o solitário pintor o autor da obra original que ora é recoberta? Os tempos teriam mudado? Mundo perverso, mais controlado, censurado... e essa é a mensagem fatal que Yuri Kussobokin já nos alertava em 2002. Essa política ecoa 1936 quando Charles Chaplin encenou “Tempos Modernos”, uma forte crítica ao capitalismo, militarismo, liberalismo, conservadorismo, stalinismo, fascismo, nazismo, fordismo e imperialismo. A crítica agora é fanatismo, religiosismo, sexualismo entre outros “ismos”... O Alcorão diz que todas as mulheres fiéis devem conservar seus pudores e esconder seus atrativos; o que o Alcorão não diz é se elas concordam com essa condição. Num mundo tão desnudo de direitos humanos e vergonha, manter enjauladas essas almas seria como proibir um grito de gol no Maracanã durante a Copa. Por falar em Maracanã, me recordo de um cartum no qual uma muçulmana de burca e uma brasileira se avistaram no calçadão da praia de Copacabana; a segunda num minúsculo biquíni e vistoso óculos solar. A bronzeada brasileira após fitar a vestimenta da outra indagou pensativa: — Tudo coberto, exceto os olhos... que cruel cultura machista dominante! Por sua vez a muçulmana olhando de alto a baixo a brasileira, também pensou consigo mesma: — Nada coberto, exceto os olhos... que cruel cultura machista dominante! Jairinho Mattos Diretor da rádio Jovem Pan, Piracicaba; membro da Comissão Organizadora do 41º Salão de Humor

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A COR DO DESEJO A Fraternidade é Vermelha, eternizou Krzystof Kieslowski no filme de 1994, com o grande Jean-Louis Trintignant e a parceria de Irène Jacob. Um ano antes Jurij(também grafado como Yuri) Kosobukin era premiado no 20º Salão Internacional de Humor de Piracicaba com o seu tributo à língua, um dos órgãos humanos vermelhos por excelência – o coração é o outro. Língua e coração, fala e sentimento, o que temos demais característico da espécie, o que tem sido mais brutalizado e banido do cotidiano de dor, horror e individualismo que marcou o século 20 e teima em se estender, dilacerante, pelo jovem e tão velho 21. O vermelho que é guerra, paixão e libertação, e que é morte, desespero e agonia. A vida é rubra, viver é encarnado. O tapete vermelho cobre, com suas promessas e desencantos, a trajetória da humanidade e em particular a história do Leste Europeu. Tanto o polonês Kieslowski como o ucraniano Kosobukin beberam do sangue da história, densa e tensa, de uma região típica de guerreiros, para o bem e para o mal. A língua de Kosobukin é a chave para que esse território de luta abra a sua caixa de Pandora e liberte os seus lamentos, o seu grito mais profundo, e também expresse a sua magia, mostre o sentido radical de suas criações culturais mais inovadoras, mais contundentes. Kafka, Tolstoi, Dostoievski, Nijinski, Kundera, Tchekhov, Kandinsky e, por que não, Clarice Lispector, são alguns dos criadores que, indo a fundo, desbravando novas (e, às vezes, perigosas) fronteiras da arte e das emoções, compartilham o senso radical da cultura do Leste Europeu. Kosobukin está embebido dessa vocação visceral, desse não ter medo que a região respira e transpira, desse querer dizer o que não está dito, contra qualquer ditadura. A sua língua premiada em Piracicaba é o discurso desse espaço admirado e incompreendido pelo Ocidente, porque as referências existenciais são outras, o roteiro mental é outro. A língua do cartunista, infelizmente falecido em 2013, é a bandeira, em especial, da Ucrânia, a pátria da resistência, onde, dizem, o cavalo foi domesticado. Resistência à invasão mongol, à barbárie nazista, ao totalitarismo soviético. A língua de Kosobukin quer ser a voz dos muitos milhões que morreram no Holodomor, o holocausto ucraniano, o gigantesco genocídio pela fome. A fome de comida, mas também a fome de democracia, de alegria, de esperança, continua latejando na Ucrânia, que assim se torna o coração da humanidade porque esse sonho é universal. A fome de beleza é vermelha como o amor. José Pedro Soares Martins Assessor de imprensa da Arcellor Mital/Campinas

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O JOGADOR PORTUGUÊS O humor refinado, qualidade de traço e tinta impressionantes e sofisticação são características marcantes de Kosobukin, uma referência no mundo dos cartoons e da criatividade. O engenheiro civil aeronáutico nascido em 1950 teve seus primeiros trabalhos publicados na década de 70 e se transformou num dos mais importantes cartunistas do mundo, com centenas de prêmios. Sua obra premiada em 1988 no Salão Internacional de Humor de Piracicaba é uma sátira à mania dos portugueses de se darem vários sobrenomes, buscando um ar de aristocracia. A camisa padrão dos jogadores de futebol não é suficiente para conter todos os nomes do atleta. Mesmo premiada, esta obra não está entre as melhores do artista. A obra inscrita e premiada no Salão de 1988 foge bastante da linguagem do Kosobukin man, ou seja, o “homem Kosobukin”, que pode ser entendida como referência ao Superman, personagem que impressionava fortemente os jurados dos salões dos quais participava. Artista completo, que deixou como legado uma galeria com mais de 300 prêmios em todo o mundo, Kosobukin foi ainda agraciado com exposições individuais em Cuba, França, Alemanha, Polônia, Rússia, Turquia e na Ucrânia, onde viveu. Os mais de 300 prêmios, a insuperável qualidade dos trabalhos que o transformou em referência no seleto mundo do cartoon e da criatividade graças, repito, ao humor refinado e à qualidade do traço e tinta, o personagem Kosobukin man – seu maior legado à arte mundial -, não transformaram esse engenheiro civil aeronáutico russo, falecido aos 63 anos, num milionário. Para ele, seu trabalho era essencialmente um hobby, ou, na verdade, a razão da sua vida. Carlos Eduardo Gaiad Diretor de Comunicação da Câmara de Vereadores de Piracicaba

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NOTÍCIA FULMINANTE Vai me matar? Vai se suicidar? Vai se proteger? O que fará o homem que carrega a pistola com a notícia recortada do jornal? Feito supostamente para rir, o cartum também convida à reflexão. Este, em particular, diz muito a nós jornalistas. Fere nossos brios e, no entanto, é preciso aceitá-lo como um prato saboroso, embora apimentado. Como disse Henfil: “Humor pelo humor é sofisticação. É frescura! E nessa eu não ‘tou’: meu negócio é pé na cara”. Este cartum transcende limites geográficos e, assim, torna-se universal. Como o projétil que será disparado pela arma sendo carregada pela notícia recortada do jornal, ele atinge gregos e troianos, ucranianos e brasileiros. O que há aqui de tão impactante? Um homem aparentando cansaço. Barba por fazer. Testa enrugada. Expressão de quem resistiu até o último instante, mas já não consegue voltar atrás. A arma poderia ser a tesoura que repousa sobre a mesa. Mas esta não teria o mesmo poder destrutivo. Para usar uma notícia recortada de jornal como munição é preciso uma pistola. A notícia impressa no jornal é poderosa. Ela pode matar! Mas quem ou o que será o alvo deste senhor de paletó pesado, gravata e jeitão de quem chegou do trabalho disposto a resolver um grande dilema? O quadro todo sugere que o homem já não tem mais dúvida. Com certa delicadeza, empunha a pistola e a carrega com a notícia recortada do jornal. No quadro seguinte, que nunca será desenhado, é possível imaginar que ele terá resolvido a parada. Mas qual? Terá enfrentado seu alvo de forma titubeante ou decidida? Se tiver usado a notícia recortada do jornal para pôr fim à própria vida, terá feito antes uma oração? E se quiser atirar em mim ou em quem estiver a olhar o cartum, esboçará um sorriso? Perguntará se entendemos a piada? Quanta indagação! É apenas um cartum premiado. Mas como incomoda! José Occhiuso Diretor de Jornalismo do SBT em Brasília.

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MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES Em um mundo onde a produção de alimentos supera recordes, um terço de tudo o que é produzido é jogado no lixo, enquanto a fome assola milhões. A dura realidade é retradada na imagem do premiado Yuri Kussobokin, que demonstra homens, mulheres e crianças maltrapilhos e famintos, à espera do “milagre da multiplicação dos pães” pelas mãos de um padeiro gordo e corado, que tenta reproduzir o alimento em uma copiadora Xerox. Além das desigualdades sociais explicitadas nas figuras caricatas das personagens com suas vestes sujas e remendadas, olhos esbugalhados e rostos pálidos, em contraste com a farda impecável do padeiro, seus olhos de apreensão e seu rosto rosado -, a charge nos faz refletir sobre as novas tecnologias existentes, criadas para facilitar a vida do homem nos mais diversos campos, a exemplo da revolucionária copiadora, mas que não foram capazes de solucionar problemas tão antigos e ao mesmo tempo devastadores, como a fome no Planeta. O fato de a máquina e o pão estarem nas mãos de um só, enquanto a maioria passa fome, ficando à mercê de quem detém os recursos, também nos faz pensar sobre os sistemas de governo ao longo da trajetória da humanidade, onde cada vez mais uma minoria que detém as riquezas controla a maioria oprimida e esta não tem outra alternativa a não ser esperar por migalhas. Ao mesmo tempo, a imagem pode sugerir uma interpretação diferente, ao olharmos pelo prisma da solidariedade e imaginarmos como seria se grande parte das pessoas que muitas vezes têm recursos de sobra e o poder de transformar fizessem o uso dessas ferramentas para operar o “milagre” de ajudar às outras. E se os homens usassem todo o conhecimento armazenado e a tecnologia para resolver problemas tão antigos e urgentes? Como na parábola bíblica de mais de dois mil anos, na qual Jesus é capaz de alimentar uma multidão por meio da multiplicação dos pães e peixes, esse “milagre” é esperado todos os dias, por inúmeras pessoas que vivem em extrema pobreza e muito pouco ou quase nada é feito por quem tem o poder ou o dever de fazer. Esses e outros tantos questionamentos suscitados pelo trabalho do russo Kussobokin tornam seu traço e riso cada vez mais atemporais e universais. Lucy Rodrigues Editora de cultura Jornal A Crítica Manaus-AM

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Hubert de Carvalho Aranha 32

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PROGRAMA DE MADAME A propagada cidadania universal, que diz que somos todos iguais perante a lei e aos programas televisivos, continua falaciosa e a charge de 1982 atualíssima. Mulher, negra, empregada doméstica, vassoura em punho, roupas simples, jeitinho-cordialbrasileiro-submisso, parece pensar: - Cidadã? Eu não! A “Dona” é. Se ‘o direito a ter direitos’ é o que traz esse sentimento de pertencimento, a protagonista da charge se exclui da condição de mulher brasileira. Na obra, “A condição humana”, Hannah Arendt já alertava: condição humana não é a mesma coisa que natureza humana. A condição humana diz respeito às formas de vida que o homem impõe a si mesmo para sobreviver em determinado contexto histórico. Precisamos reconhecer que a abolição da escravatura, foi insuficiente para emancipar as populações escravas, pois não veio acompanhada de uma política de inclusão social. Nossos meios de comunicação acabam sendo um reflexo da não-democracia, da concentração de poder e de uma campanha ariana de rostos e gostos. Apesar do termo charge, do francês charger, significar carregar, exagerar e até mesmo atacar violentamente. O autor Hubert de Carvalho, cartunista desde criança que veio a se tornar um dos principais humoristas do Casseta e Planeta, nos brinda nessa ilustração com sentimentos e sentidos que são muito mais realidade do que exagero. Amanda Dutra Assessora de imprensa da Câmara dos Deputados e especialista em Artes Visuais e Cultura colaborador de jornais em São Luiz/MA

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Vladimir Semerenko 34

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O ANIMAL DO RUSSO VLADIMIR SEMERENKO Sou fã de carteirinha do humor gráfico. Infelizmente, apenas fã. Já tentei fazer aula de desenho, mas sou uma negação como ilustradora. Contando piada sou pior ainda. Então me presto ao papel menor de analisar as imagens que nos fazem rir. Rir dos exageros, das distorções, do inesperado, da ironia. Aqui também me dedico à ingrata tarefa de explicar uma piada. Ao receber a incumbência de apreciar o cartoon do russo Vladimir Semerenko (vencedor do ano de 2000) veio-me à cabeça a máxima de Aristóteles: “O homem é o único animal que ri”. Em seu tratado sobre “As partes dos animais”, o filósofo grego enfoca o riso de maneira nada divertida ao mencionar a questão do diafragma: “Apenas os entes humanos são suscetíveis às cócegas devido à finura de sua pele e ao fato de que os entes humanos são os únicos animais que riem” (Partes dos Animais III, 673a, 9). Contrariando essa ideia, o naturalista inglês Charles Darwin em “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais” registrou que fazendo cócegas em um chimpanzé, ele é capaz de emitir sons semelhantes à risada. Sem chegar a lugar algum sobre qual animal pode ou não rir, o fato é que EU ri ao ver o trabalho de Semerenko justamente pela inusitada troca de papéis entre os animais (racionais/ irracionais). Como um humano (sim, aquele animal que ri!), o cachorro encontra-se sentado no sofá verde ostentando seus troféus preciosos pendurados na parede: calças e cuecas mordidas e rasgadas, das mais diversas cores, formatos e tamanhos. Gostei do cartoon russo também porque aprecio o humor universal, aquele humor que não tem época nem lugar certo para fazer rir. E o russo faz isso de maneira simples, mas eficaz. Ainda falando sobre frases populares e animais, dizem que o melhor amigo do Homem é o cão... Que ironia! Um amigo meu (não o cão) costuma dizer que nós acadêmicos, querendo analisar tudo, temos o péssimo hábito de tornar extremamente chato o que é extremamente divertido. Mas eu já tinha avisado lá no início que não sou boa contando piada. E cá entre nós, explicar piada é mesmo terrível! Ana Camila Negri Professora do Curso de Jornalismo da Unimep

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Ary Pimenta 36

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HUMOR INQUIETANTE! A obra premiada em 1993, de Ary Pimenta, remete a uma crítica social irônica quanto à condição de submissão social e econômica que as crianças afrodescendentes enfrentavam (e ainda enfrentam) no país. Apesar de a charge ter como uma das características a crítica a determinado fato publicado pela mídia, esta, em especial extrapolou o limite temporal, porque ainda hoje, à maioria dos descendentes dos povos africanos são delegados papeis secundários tanto nas esferas econômica quanto social. Coincidência ou não, em 1993 ocorreu o “Massacre da Candelária”, quando várias crianças que moravam nas ruas cariocas foram assassinadas enquanto dormiam em frente à Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, fato este amplamente noticiado pela mídia nacional e até internacional. Teria sido esta a inspiração do autor? Os traços minuciosos do desenho revelam a figura de uma criança protegida por um cobertor ralo, análogo ao que as crianças que moravam (e ainda moram) nas ruas dos grandes centros utilizam para se abrigar nas noites de inverno. Os pés descalços dão a dimensão da pobreza destes pequenos agentes sociais carentes de atenção e de recursos, numa alusão à falsa ideia de estarem agasalhados. O mais intrigante na obra é o rosto no formato do mapa do Brasil, na cor preta, com olhos abertos, tristes e que transbordam desamparo. Curiosamente a figura não tem boca, o que pode tanto ser compreendido como alusão às crianças impotentes para reclamar os próprios direitos, quanto como se elas não precisassem de alimentos para o corpo e para alma, num total descaso das políticas públicas da época e da sociedade em geral. O apelo visual do desenho é marcante e expõe não só a fragilidade dessas crianças, mas também a desigualdade social à que estavam submetidas. A ausência de palavras e de cor amplia a dramaticidade da situação e realça o vulto solitário, sem rosto, sem voz, invisível socialmente. A apreensão sintética pelo artista desta realidade específica apresenta-se de forma criativa e irônica, potencializa a força da imagem e resulta numa charge inquietante! Ana Maria Cordenonssi Professora do curso de jornalismo da Unimep

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Marcos Coelho Benjamin 38

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A ATUALIDADE VISTA NO PASSADO Em 1975, quando o Salão de Humor de Piracicaba estava em sua tenra infância, o mineiro de Belo Horizonte Marcos Coelho Benjamin levava seus traços delicados e de temática forte ao evento, onde conquistou o 9º lugar das obras premiadas naquele ano. É importante notar que, há quase quatro décadas, quando os assuntos ecologia e preservação do meio ambiente ainda não faziam parte da agenda da quase totalidade dos países desenvolvidos e em desenvolvimento do mundo, o artista já se preocupava com o tema. Seguindo essa sua corrente de preservação ambiental e reciclagem, ele hoje trabalha com esculturas, e utiliza em suas obras materiais usados e com superfícies ásperas e gastas, como velhas latas de óleo, madeira de restos de construção ou de demolição e cones de metal oxidados, frequentemente enquadrados em caixas de madeira. Na caricatura em questão, a imagem que ele nos coloca pode ser transportada tranquilamente para os dias atuais sem nenhuma necessidade de mudança: afinal, vivemos hoje em um mundo onde o consumismo voraz e o desperdício são cada dia mais comuns, a despeito de campanhas maciças em todo lugar sobre a necessidade de reciclagem de matérias. É interessante notar também no desenho as mensagens de consumo, que hoje estão em todos os lugares, mesmo que não estejamos procurando-as. Coma, beba, vista, use, compre, tenha, atualize, mostre – esses são mantras encontrados atualmente em todos os lugares, seja na página que abrimos na internet para ler uma notícia, seja em nosso e-mail pessoal, seja em cartazes, outdoors, televisão. Por isso, notar que o mesmo tipo de mensagem se encontra na caricatura pode nos levar a refletir o quanto Marcos Coelho Benjamin já era atual há 39 anos – ou, em outra análise, a pensar o quão pouco evoluímos nesses anos todos, senão regredimos. Afinal, a sociedade atual não perdoa o não consumismo, e estar fora dessa roda-viva requer muita coragem e personalidade de ir contra o que se prega, acreditando em suas próprias convicções. Ao mesmo tempo em que a caricatura do artista mineiro pode nos chocar pela semelhança com a realidade atual – como se ele estivesse prevendo o futuro do mundo em que vivia – também nos traz um alento de esperança na imagem do casal com máscaras de gás e cilindros de oxigênio às costas. No meio de todo o lixo gerado pelo consumismo desenfreado da sociedade, o homem encontra um símbolo delicado para expressar seu amor – uma única flor. Deixa de lado todos os possíveis presentes que poderia arrumar para impressionar a mulher, e consegue emocioná-la – basta ver a expressão no rosto dela – pela simplicidade de seu gesto. Talvez, ao mesmo tempo, a flor seja representante de algo muito caro, por ser rara. Se o futuro previsto por Marcos Coelho Benjamim até de máscaras para respirar precisaríamos, é de se concluir que flores seriam artigo raro e de luxo – talvez não valorizados, talvez valorizados em excesso por sua raridade. Porém, a expressão facial da mulher na caricatura nos leva a imaginar que ela está encantada com a singeleza do gesto, e não impressionada com o valor do produto. Por todos esses elementos, a caricatura do artista mineiro, passados 39 anos de sua apresentação no Salão de Humor de Piracicaba, continua extremamente atual, e pode nos fazer refletir ainda hoje sobre o mundo em que vivemos atualmente, e que pretendemos deixar para as gerações vindouras. Uma bela mostra de como o futuro pode ser previsto sem bola de cristal. Andrea Mesquita Editora de Cultura do jornal O Liberal de Americana, pós-graduada em Comunicação Jornalística pela Faculdade Cásper Líbero

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Celso Froes Boccetto 40

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CELSO FRÓES E O PAPAGAIO BRASILEIRO Início da década de 1980. Após o milagre econômico da década de 70, o cenário no Brasil era de recessão. Os brasileiros sentiam no bolso a inflação ancorada em três dígitos. O poder de compra enfraquecia. Os ânimos dos trabalhadores estavam exaltados com o arrocho salarial. Retração da produção industrial, juros altos, crise na balança cambial, endividamento do setor público, dívida externa. A economia não estava bem das pernas. Falido, o país precisou recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para alavancar a economia. Neste contexto, o Salão de Humor de Piracicaba completou 10 anos em agosto de 1983. A tônica dos trabalhos se prendeu basicamente na questão sócio-política e econômica do país, problema que preocupava toda a sociedade e que ganhou contornos engraçados e críticos nos traços dos artistas gráficos. A charge de Celso Fróes Broccetto, vencedor do Salão Internacional de Humor em 1983, trata com irreverência o envolvimento do Brasil com o Fundo Monetário Internacional. No cofre gigantesco do FMI, o contraste das barras de ouro dos países mais desenvolvidos, como os EUA e o Japão, com o verde predominante dos papagaios pendurados nos poleiros, no espaço reservado ao Brasil. Sem entrar no mérito da beleza das aves nativas brasileiras, na gíria comercial, muito usada na década de 80, papagaio se refere a qualquer título cambial - promessa de pagamento do devedor. A cor verde das penas estaria associada às notas promissórias. O Brasil contraiu empréstimo junto ao FMI para pagar os seus credores e ficou preso à instituição financeira, “pendurado”, a exemplo dos papagaios. O olhar bem humorado de Celso Fróes transformou o polêmico fato em desenho e fez muita gente rir. E refletir. A sacada rendeu-lhe premiação no 10º Salão de Humor de Piracicaba. Angela Furlan Editora da Gazeta de Piracicaba

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Jo達o Gomes Martins 42

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VIDAS SECAS Definir o que nos constrói e nos constitui como brasileiros tem sido, há muito tempo, tarefa árdua de sociólogos, antropólogos e historiadores dos naipes de um Gilberto Freyre, de um Sérgio Buarque de Holanda, de um Roberto DaMatta, entre outras personalidades igualmente respeitáveis e laboriosas em prol da causa. Com eles, aprendemos muito sobre o caráter nacional, sobre o que nos faz Brasil e brasileiros, sobre nossas malandragens, mestiçagens, sacanagens, risos, dores e indiferenças aparentes ou verdadeiras. Temos também nossos artistas e, entre eles, os humoristas e cartunistas, que militam forte nesta trincheira. Deles todos extraímos – entre inúmeros achados à respeito de nossa índole – a percepção do nosso especial talento para a carnavalização do mundo. E é esse tornar tudo Carnaval que nos permite enfrentar, desmoralizar e desmobilizar a tristeza e a morte que nos ronda por todos os lados, inventando sempre um novo riso. Riso que é, enfim, o nosso único consolo para conviver com a miséria e a desigualdade social que naturalizamos em nossas práticas cotidianas. Como no dizer de DaMatta, o riso carnavalesco que nos permite corajosamente rir de nossas próprias desgraças. Rirmos de nós mesmos e das precariedades de nossa existência não se constitui demérito algum e tampouco alienação, perversidade ou descaso frente à nossa dor e ao sofrimento do Outro. Trata-se, sim, de um simples ato de atualização da nossa leitura do mundo, de afirmação de um modo próprio de ser, de conferência dos laços que nos dão algum grau de unidade na diversidade de um Brasil tão díspar. Ou seja, nada tão sério que venha a inibir ou a desfocar o verdadeiro sentido da luta pela permanente construção da democracia, da cidadania, da liberdade e da justiça social, que muito felizmente também nos caracteriza. Na verdade, fazer troças e piadas sobre tudo – mesmo dos fenômenos mais sombrios e desesperançados do nosso sofrido dia a dia – representa apenas mais uma faceta do jeitinho brasileiro de habitar o mundo. Porém, do riso também nasce consciência, pois que faz emergir as mazelas escondidas e assim elabora a crítica e tensiona as relações sociais aí implícitas. E é a essa vertente que se associa o trabalho do paulista João Gomes Martins, merecidamente premiado na 8ª edição do Salão do Humor de Piracicaba, em 1981, que ao se apropriar do quadro “Retirantes” de Cândido Portinari, datado de 1944, atualiza com maestria e verve humorística, quatro décadas depois, a crítica da pobreza, da miséria e da fome no Brasil. Dr. Antonio Hélio Junqueira ESPM/ECA USP

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William Jeovah 44

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CONTRADIÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE Olhei a primeira vez para o trabalho do William Jeovah e logo me veio à mente o mais óbvio: o homem corta a árvore que sangra. Mas em exatos dez dias – tempo que fiquei para observar a charge e escrever esse texto -, minhas percepções foram se modificando à medida que eu cobrava de mim mesmo uma análise mais profunda de um vencedor do Salão de Humor de Piracicaba. Parti, então, para saber qual teria sido o acontecimento mais marcante em 1989 – ano da Premiação do William – e que tivesse alguma ligação com o tema proposto por ele. Cheguei à informação de que, justamente em 1989, foi criado o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. O órgão que cuida das nossas florestas, animais silvestres e que cuida (ou deveria cuidar) das árvores que ainda sangram nos biomas que formam o nosso País. É fato que de 1989 para cá o desmatamento diminuiu. Mas é fato também que ele continua lá, ferindo. Passaram-se 25 anos e o trabalho do William continua a se mostrar atual. Gritando! Jorrando seu vermelho na nossa cara. O sangue humaniza a árvore, na tentativa de encontrar os sentimentos mais profundos do Homem. Que o faça ter compaixão, mas que não fique parado. - Reaja ao que você vê e me salve!, suplica a natureza retratada por William Jeovah. E o que era para ser humor se tornou um alerta. Não dá para rir com a árvore que sangra. Incomoda! Esta aí a beleza – artística - do trabalho premiado em 1989: fazer do humor uma brincadeira séria, que enfia o riso goela abaixo. E nos faz processá-lo, ruminando seus significados muito além do que parecia óbvio. César Dassie Jornalista – Repórter do Programa Globo Rural (TV Globo)

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Osires Gianetti Jr. 46

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RIR É O MELHOR REMÉDIO “Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inútil dormir que a dor não passa Espere sentado Ou você se cansa Está provado, quem espera nunca alcança.” Bom Conselho, Chico Buarque (1972) Se não fosse cartum, poderia ser charge. A atemporalidade, característica que diferencia o primeiro gênero do segundo, dilui-se no tema proposto ainda ancorado nas esferas do “aqui” e o do “agora”. A triste realidade do sistema público de saúde no Brasil (e por que não dizer do privado também?) atualiza o trabalho do cartunista Osires Gianetti Junior, premiado no 16º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1989. Um ano antes da elaboração do cartum, era promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil que, no artigo 196, declara a saúde como direito de todos e dever do Estado. De lá para cá, pouca coisa mudou. Tanto que o cenário de precariedade que ainda assola os hospitais públicos permitiria, 26 anos depois, estampar o mesmo cartum com coerência nas páginasdo noticiário atual. Serve de exemplo um dos editoriais do Jornal O Estado de S. Paulo, curiosamente publicado no dia 22 de abril de 2014, com o título “O custo da lentidão do SUS”. Sem a pretensão de explicar a piada - não há nada mais sem graça que isso - é possível se arriscar em algumas interpretações. A começar pelo aspecto formal do desenho que, pela aparente simplicidade do traço contínuo, “esferográfico” e monocromático sobre o papel em branco, sugere a sobreposição do conteúdo/mensagem à técnica. Quando a saúde pública vai mal das pernas, o cartunista coloca uma fila de pacientes à espera de atendimento em primeiro plano. Não se sabe, ao certo, onde a fila começa, nem em que ponto ela termina. A solução para a crise da saúde pública no Brasil parece estar fora do campo de visão dos que mais dela necessitam, representados na obra por uma maioria de idosos e mulheres. Esse distanciamento, evidenciado pela ausência da instituição, então figurativizada com a passagem do avião, denota a tentativa de remediar o problema sem que, para isso, haja qualquer aproximação com os doentes. Neste sentido, ocorre também o processo de assujeitamento na relação entre paciente e instituição. Ao passo que a fila de pessoas que aguardam passivamente some na linha do horizonte, a crítica atinge a consciência como um lampejo quando um único paciente - que já tem muleta - parece olhar desconfiado para as cadeiras que caem do céu como manobra para calar quem já não tem voz. O Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em sua 41º edição, convida ao riso que pode até ser frouxo, mas nunca descompromissado! Claudia Assencio Jornalista formada pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Licenciada em Letras Português/Inglês. Extensão Universitária pela Universidade de Salamanca/Espanha e Pós-Graduação em Jornalismo Econômico pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o Grupo Estado.

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Santiago Arturo Scott Rojas 48

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QUE ISSO TERMINE Algumas vezes, a charge sai do terreno do humor (comumente associado ao estilo) para provocar reflexão e, até mesmo, certa tristeza em relação a algum fato do cotidiano. É o caso da cena desenhada por Santiago Arturo Scott Rojas. O patrão sarcástico que profere um bom dia enquanto, literalmente, pisa em seus colaboradores, materializa a face dura de um sistema de produção ainda opressor em diversas áreas. Pode-se deduzir, por alguns pontos específicos no trabalho, que a situação é rotineira. As duas pessoas desenhadas atrás notadamente expressam medo, chegando mesmo, uma delas, a estar abaixada, como que buscando esconder-se, exaurido. O maço de cigarros espalhado pelo chão permite uma leitura de tensão no ambiente. Ora, quem fuma (e sou ex-fumante) sabe: o cigarro é uma muleta emocional acionada sempre que o medo, o desespero ou o nervosismo estão presentes. Perfeito para a cena. O chefe, por sua vez, domina e manda no recinto. A figura opulenta, grande, aparece bem vestida, portando uma maleta e ostentando um charuto (característica associada a um estilo de vida mais abastado). A postura desdenhosa demonstra desprezo pelos subordinados, mas não deveria: o patrão só ocupa a posição em que se encontra graças ao trabalho dos funcionários. Portanto, deveria demonstrar gratidão. Em uma análise inversa (e perversa), poderia se afirmar o contrário? Sim. Justamente a aspereza no trato cotidiano, a maldade presente nas relações humanas de trabalho criam um ambiente tenso, pesado, em que o horário de trabalho é visto como castigo. Trabalhar é um modo de ganhar dinheiro e, assim, poder alimentar a si e à família. Por esta lógica, quanto antes o funcionário terminar seus afazeres e der lucro ao dono do negócio, mais cedo pode ficar livre disto. Nem que seja por algumas horas. No dia seguinte, recomeça o martírio. A postura de submissão dos funcionários é típica de ambientes em que o respeito pela força de trabalho, pelo capital intelectual ou pelo colaborador, em suma, não existe. É triste, mas verdadeiro, constatar que a realidade não mente: quantas vezes a mídia noticia casos de trabalhadores em condições degradantes, ou, pior, em situação análoga à escravidão? Em 2013, o Brasil comemorou os 70 anos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A maior legislação trabalhista vigente no País nunca esteve tão atual. Acusada por alguns de ser paternalista, na verdade ela exerce justamente aquele poder que está ausente na charge: uma chance para o trabalhador desvencilhar-se dessa situação de humilhação. O traço de Rojas, bem-sucedido no seu intento, leva-nos a pensar: por que pisar em quem leva adiante este País? Que isso termine. Cristiano Dias Vieira Editor-executivo do Jornal do Comércio (RS)

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HermĂ­nio Macedo 50

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ESSA INDEPENDÊNCIA É DE MORTE Essa é a notícia trazida pela charge de Hermínio Macedo premiada na 10ª edição do Salão de Humor de Piracicaba, em 1984. A obra faz alusão ao grito de Independência proferido por D. Pedro I, em 7 de setembro de 1822, resultado da resistência do imperador à corte portuguesa que exigia a recolonização do país “tupiniquim”. A charge correlaciona o momento histórico ao conturbado ano político brasileiro de 1984. À época, havia um debate acalorado de diferentes frentes ideológicas que defendiam o voto direito no país, que ainda resistia em carregar a ditadura como modus operantis de governabilidade. A resistência de políticos de oposição, estudantes, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros promoveu o movimento conhecido como Diretas Já, pautado na aprovação da Emenda Dante de Oliveira que assegurava eleições diretas à presidência, no pleito do ano seguinte. Logo no primeiro mês do ano, o Brasil vivenciou a mobilização de cerca de 300 mil pessoas na Praça da Sé, na capital paulista, e três meses mais tarde, um milhão de brasileiros povoou as ruas do Rio de Janeiro. Foram inúmeras movimentações sociais em prol da democracia brasileira, permeando, inclusive, o debate na casa de boa parte dos conterrâneos que requeriam um sistema político representativo. Entretanto, esse não era o mesmo anseio dos deputados federais da época, que derrubaram, por 22 votos de diferença e vasto número de abstenções, a Emenda Dante de Oliveira que previa o fim do sistema indireto do pleito eleitoral brasileiro. Apesar da rejeição da emenda em 25 de abril de 1984, no ano seguinte, o Brasil contou com o primeiro presidente civil em 20 anos de ditadura militar: Tancredo Neves, denotando aos brasileiros que as mobilizações sociais, surtem efeito! Anos mais tarde, os brasileiros novamente param o país com o pedido de Impeachment do primeiro presidente eleito pós-ditadura, Fernando Collor de Mello. A manifestação é frutífera e em dezembro de 1992, a população vê o clamor das ruas obter força com a queda do mandatário republicano. Décadas à frente, mais precisamente em meados de 2013, o fervor pela garantia dos direitos coletivos retoma as ruas e reposiciona as posturas palacianas de governantes que passaram a ter mais cuidado ao promover reajustes de impostos e tarifas. Sem sombra de dúvidas, um país que ainda tem muito o que aprender sobre democracia participativa. Entretanto, o povo já percebeu: mobilização social surte efeito e o único caminho para que a independência não seja de morte é fomentar a consciência quanto aos direitos de todos os pagadores de impostos! Esses sim, grandes guerreiros! Daniela Rocha Coordenadora e Docente dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Isca Faculdades, Mestre e Especialista em Comunicação Social. Diretora Editorial da Rede Politicom e Assessora de Comunicação do IPASP.

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Jorge Nagao 52

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PAU DE ARARA Convidado para colaborar com o presente livro escrevendo sobre este cartum de Jorge Nagao, procurei saber quem era o autor que, pelo desenho, recebeu o quinto prêmio no 6º Salão do Humor de Piracicaba realizado em 1979. Com uma pesquisa rápida na internet, descobri textos de Jorge sobre Elis Regina, Bossa Nova e Marina Silva. Ao final do texto sobre Elis Regina, havia esta biografia resumida do autor: “Jorge Nagao, bancário sobrevivente, é cronista, frasista, humorista, enfim um ativista da palavra; foi um dos impulsionadores, colaboradores e editores do jornaleco Na Moita, um ‘devezenquandário’ que, entre os anos de 1991 e 1997, circulou pelos balcões, mesas e banheiros das seções da ex-Agência Centro BB-São Paulo. Aposentou-se no final do milênio passado após ter prestado serviços no Banco do Brasil por quase três décadas; escreveu Pacote Bancário e outros poemas e paródias - 1983 e participou da coletânea Damas de Ouro & Valetes de Espada - Crônicas do baralho, organização de Leonel Prata, MGuarnieri Editorial, São Paulo, 2009". Procurei e achei mais alguns poucos desenhos de Jorge Nagao. Em 1989, por exemplo, ele ganhou o primeiro prêmio do V Salão do Humor de Volta Redonda na categoria “charge” com um desenho de um caveira com uma placa onde se lê “Covas Já!”, uma referência a Mario Covas, político santista que foi candidato a presidente de República naquele ano. Mas o que mais encontrei foram mesmo textos. Creio que Jorge tenha feito uma breve incursão pelo traço, mas acabou optando mesmo pela escrita. Este cartum premiado em 1979, de traço simples, parece bem ousado para a época, já que fala em tortura —o “pau-de-arara” era um dos instrumentos mais usados pelos torturadores— em pleno Regime Militar. Tudo bem que era um regime já nos seus últimos anos, no governo de João Batista Figueiredo, o último dos generais-presidentes, no qual esta prática abjeta havia, aparentemente, sido abandonada pelos órgãos de repressão. 1979 também é o ano da promulgação da Lei da Anistia, que permitiu a volta de muita gente que havia se auto-exilado no exterior e trouxe muita esperança a quem havia ficado por aqui fazendo oposição aos governos militares. O cartum que ficou em segundo lugar na premiação da edição daquele ano do Salão do Humor fala, de forma crítica, sobre a Anistia. O sexto colocado fala sobre o “fim da linha dura” entre os militares. Curiosamente, passados 35 anos, o tema tortura ainda é absolutamente atual. Seja porque a mesma continua ocorrendo nas delegacias de polícia país afora, seja porque a criação recente da Comissão da Verdade em nível nacional e de comissões semelhantes em estados e municípios mostra que a história real e detalhada das torturas, mortes e desaparecimentos de opositores políticos do Regime Militar ainda precisa ser escrita de fato. O Ministério Público Federal também tenta, apesar da Lei da Anistia, punir torturadores e assassinos que desapareceram com os corpos de suas vítimas. Para os procuradores, isto configuraria um crime continuado. Por enquanto, a Justiça ainda não aceitou essas alegações e o próprio Supremo Tribunal Federal decidiu pela constitucionalidade da Lei da Anistia. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou na Supremo Corte com uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 153) por uma revisão na Lei da Anistia (Lei nº 6683/79). A OAB pretendia que o Supremo anulasse o perdão dado aos representantes do Estado (policiais e militares) acusados de praticar atos de tortura durante o regime militar. O caso foi julgado improcedente por 7 votos a 2, no final de abril de 2010. Jorge Nagao foi realmente muito feliz neste trabalho, retrato de uma época e que terminou por se perenizar em razão da tremenda incompetência que nós brasileiros tivemos até hoje de acabar com a tortura como método de investigação policial e punição e da omissão dos militares e dos governos como um todo em abrir seus arquivos, esclarecer o que foram feitos das centenas de desaparecidos políticos e revelar onde foram enterrados/jogados seus corpos. Danilo Fernandes Editor de cultura da Rádio Educativa/Campinas Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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Dalcio Machado 54

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É FOGO ! Dalcio Machado é dono de uma mão firme e uma cabeça com ideias em constante ebulição. Traços firmes que lhe remetem à uma personalidade forte, unindo cores num extremo bom gosto. Não é a toa que Dalcio sagra-se como um dos artistas que mais prêmios levou ao longo das 41 edições do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Ele faz parte de uma das mais antigas escolas de ensino da história da humanidade: a própria vida. É um artista nato que se dedicou ao humor gráfico muito antes da fase adulta, tomando seus primeiros passos na área aos 16 anos. Com este iniciar prematuro nas artes, pôde aperfeiçoar seu talento, deixando uma marca indelével em suas charges. E as caricaturas ?!?! Falar de caricatura de Dalcio é deliciar-se como se estivesse diante das mais famosas galerias universais. É viajar no tempo lembrando-se da personagem caricaturada... é imaginar como cada traço foi projetado... é acompanhar os rabiscos iniciais, a evolução dos traços e o resultado final. Uma prazerosa viagem! Em 1996, o Salão de Humor de Piracicaba premiou Dalcio com a charge aqui estampada. Humor ingênuo, porém, profundo, graças às cores utilizadas. Uma retórica que parece simples. Faz qualquer um realizar uma jornada sobre a simplicidade de uma piada tomando ares sutis sobre cada componente da mensagem proposta. Particularmente no meu ponto de vista, esta obra lembra em muito os traços do argentino Quino veiculados em charges nos anos 1970 durante a ditadura vivida em nosso vizinho país. Mas, como relatei, é um ponto de vista particular, podendo não condizer com o pensamento de outrem. Mas esta não é a questão. O importante é que Dalcio consegue manter um padrão constante em seus desenhos, no passado e no presente. Com isso ele cria uma sina muito difícil na vida artística: superar-se sempre. Consegue criar expectativa com novas obras e extrapolando-as quando as lança. É aí que se encontra a firmeza na ponto de sua caneta: inovar “renovando-se”. Edson Rontani Júnior Jornalista e ex-presidente da 39ª. Edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba Membro da Comissão Organizadora do 41º Salão de Humor.

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Estev達o Niemeyer 56

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DOS MALES, O MENOR A ditadura terminou em 1985, com a eleição direta de Tancredo Neves, que nem chegou a assumir. O Salão Internacional de Humor de Piracicaba foi criado em 1974, no auge do regime, como espaço para os artistas descontentes, na busca pela liberdade de expressão. Durante muitos anos, a crítica aos militares foi o tema escolhido pela maioria dos artistas gráficos para seus trabalhos inscritos, selecionados e, muitas e muitas vezes, premiados. Mas é preciso modernizar, mudar, buscar o novo e o diferente em tudo. Aos poucos, a preocupação com outros temas, como a preservação do meio ambiente e a fome, foi chegando e equilibrando o conteúdo. Os direitos humanos e, principalmente da criança e do adolescente, foi o tema escolhido por Estevão Niemeyer, o Tevo, de Brasília, para a edição de 1978. O seu cartum conquistou o sétimo lugar no 5º Salão Internacional. No trabalho, em traços bastante simples, Tevo passa a mensagem. Ele mostra um garoto, no momento em que chega do Juizado de Menores. O órgão, que tem de exercer o trabalho de defesa dos direitos da criança e do adolescente, apenas lhe protege com uma tarja preta nos olhos, que ele exibe orgulhoso. E aqui precisamos de dados. Estes da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Com uma população de 190 milhões de pessoas, 60 milhões têm menos de 18 anos de idade. Enquanto 29% da população vive em famílias pobres, entre as crianças, esse número chega a 45,6%. As crianças negras têm quase 70% mais chance de viver na pobreza do que as brancas. De cada 100 estudantes que entram no ensino fundamental, apenas 59 terminam a 8ª série. A evasão escolar e a falta às aulas ocorrem por várias razões, como a violência e gravidez na adolescência. No Brasil, a cada dia, há 129 casos de violência psicológica e física, incluindo a sexual, e negligência contra crianças e adolescentes. Do cartum premiado de Tevo até hoje se passaram 36 anos. A ditadura se despediu (e foi tarde!), foram trocados seis presidentes, o Brasil venceu mais duas Copas do Mundo, mas a lição que fica é que a situação denunciada por Tevo ainda está longe de ter um fim. E o assunto ainda deve render de inspiração para muitos cartunistas. Eleni Destro Jornalista – Unimep

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Herm처genes Gomes Magalh찾es 58

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A ARTE DA GUERRA Poucas coisas na década de 1970 eram engraçadas, período histórico com caráter mais revolucionário do que gozador, apesar de emblemáticos movimentos com enfoque na comicidade inteligente que se consolidaram naqueles anos. Como o próprio Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1974, o sucesso mundial do rock energético e positivo de Os Mutantes, desde meados da década de 1960 ativos no combate ao conservadorismo, ou ainda a pulverização mundial do humor ranzinza, irônico, um tanto sujo e realista do americano Robert Crumb. Os ‘setenta’ foram tão carrancudos que o - oficialmente - bacana da época era dar risada do comum e amar a pátria acima de tudo e estufar o peito para falar do progresso, mas nada saber ou, como um bobo, desconversar sobre torturas e o assalto à democracia. A junta militar, à época no comando do Brasil, já advertia: rir do País não é um bom remédio. O remédio, para estes casos, os militares é que tinham, geralmente amargos e doloridos. Inclui-se neste cenário, numa perspectiva global, acreditar que mundo estava mesmo dividido entre capitalistas e comunistas, estes, camaradas do cubano Fidel Castro ou do russo Leonid Brejnev, inclusive comiam criancinhas, diziam por aí. Ano após ano, discute-se se o golpe militar em 1964 não fora uma intervenção ‘necessária’ que impediu do Brasil de virar a Cuba dos Trópicos, mas a única verdade – nesta corrente historiográfica que jogo no lix... quero dizer, limbo - é que foi-se os anos de chumbo, a repressão, as caras fechadas e o que sobrou foi a piada. Em 2014, então, surgem carradas delas, ano em que o enfim moribundo golpe completa 50 anos. A 41ª edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba está de portas abertas para cartuns, charges, tiras, artes digitais e caricaturas sobre o tema. No exercício de olhar à microhistória para entender o macro, como adorava fazer o historiador italiano Carlo Ginzburg, estamos de volta à década de 1970, agora contextualizada no piracicabano Salão de Humor. Premiado na primeira edição do evento, em 1974, o artista gráfico de Fortaleza (Ceará) Hermógenes Gomes, conhecido como Hermó, trabalhou na charge o caos da corrida armamentista, uma ‘lei’ da Guerra Fria, ou o isolamento do homem já em colapso na tentativa de defender seu mundinho, crítica eternamente pertinente. Foi feliz, também, em incluir um até então incipiente alerta pelo zelo ao meio ambiente, ilustrado pelo ‘vizinho’, feliz no seu minúsculo, porém aparentemente saudável planetinha. Talvez estivesse num horizonte distante para o senhor Bélico enxergar a contradição, do chão à feição. A questão ambiental é, hoje, indiscutivelmente séria, e de tão importante cai nas graças do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, que por diversas vezes abriu paralelas exclusivas com o tema. A síntese de Hermó, neste histórico primeiro Salão, numa década tão marcante para a história brasileira e de todo o mundo, revela que censura ou interesse político algum deve coibir o homem de exprimir o engraçado de situações conflituosas, feias e mal humoradas. Rir, que seja da desgraça, pode não ser a solução, mas é um funcional escape que ajuda a entender e lidar melhor com os equívocos que ronda a existência. Erick Tedesco Jornalista e historiador, é redator-chefe no jornal A Tribuna Piracicabana e na revista Rock Brigade

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BOIAMOS Desde os primórdios o homem usa a linguagem da representação visual como narrativa direta para se comunicar. Inúmeros registros nos foram deixados incrustados em pedras e nas paredes das cavernas em todo o planeta. E não é difícil perceber que essa narrativa não tardou a se valer do riso e do humor para convergir seus pares, provando a força, relevância e poder crítico que esse tipo de narrativa tem sobre as pessoas. Na Antiguidade os registros mostram incríveis cenas de como era o dia a dia: batalhas, a busca pela sobrevivência com a caça, fuga de grande animais e até mesmo “o diálogo” com deuses. Além do registro, muitas das cenas propositalmente se valiam do humor para atenuar o peso das dificuldades e até ironicamente contar os tidos sagrados, mas quase sempre violentos rituais religiosos. Não tardou para questionar a vida nas comédias gregas, uma das poucas manifestações que permitiam transgressão do decoro e das boas maneiras. Sem contar os bufões, personagens pagos para divertir anfitriões e convidados nas grandes festas. Mais tarde, na Idade Média, expurgado do culto religioso e das cerimônias feudais, a arte cômica e o humor crítico incorporaram-se na cultura popular. Sexo, o nascimento, o ciclo da vida e até mesmo o ciclo das colheitas eram motivos para fazer rir, alegrar e questionar a vida de forma bem humorada. A Modernidade veio acompanhada de muitas mudanças de valores, que permitiram mais acidez na forma de encarar e representar os acontecimentos. O humor leve e positivo teve de aprender a repartir espaços com o humor irônico e sarcástico. E hoje quem muitos já ouviram a expressão “perco um amigo, mas não perco o trabalho”. Hoje charges e cartuns são poderosas ferramentas para o registro histórico do cotidiano e questionamento do fatos que envolvem, afligem, modificam, impactuam a política, a economia, a vida em sociedade. Por não depender essencialmente da escrita para compreensão como no começo, é sem dúvida uma das mais diretas e eficientes narrativas de informação. O importante trabalho do cartunista, muitas vezes solitário, na busca pela melhor técnica, revela nos traços características da representação da descontração, do apenas para fazer rir, e também muitas vezes da indignação que se faz necessária para o questionamento das ações e não ações das autoridades, e das reações e não reações das comunidades. Olhe e perceba no trabalho do cartunista iugoslavo Miro Stefanovi, o que aqui procurei rechear o significado com palavras. O trabalho foi feito em 1998, mas o tempo não retira dele a simbologia e significado no caso das ações empíricas de opressão e não ações dos governos dos Estados Unidos e da Europa para com os emergentes e sociedades que vivem em países pobres. O trabalho merecidamente foi premiado no Salão do Humor de Piracicaba daquele ano. Fábio Marra Diretor de Artes do jornal Folha de S.Paulo

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Borkovic 62

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DESAFIADOR Dois anos apenas apos o resgate do estado de direito e da democracia, ter sido usurpados do povo brasileiro por um regime militar ditatorial, ilegitimo, autoritário e repressor que dominou o pais por eternos 25 anos. Como nao há mal que tanto dure, em 1985, mesmo por vias indiretas, conseguimos devolver ao povo a liberdade de poder escolher seu próprio destino. Mesmo com o fim da ditadura militar e da severa e inaceitável censura, o Salão de Piracicaba, até por suas próprias origens, firmou-se, através dos cartunistas de todo o planeta, como o centro de resistência e luta contra toda e qualquer forma de supressão das liberdades democráticas. Com inteligência mordaz, com “penas” mas sem “pena”, os tracos denunciavam a tirania, os tiranos de plantão e a elite que, invariavelmente, os sustentavam e sustentavam-se deles. Ate hoje, 41 edições ja realizadas, este salão mantem essa sua principal característica. Cartunistas do mundo todo perceberam essa reserva de liberdade e sempre souberam, com sua febril e inteligente sutileza, expor sarcasticamente a verdadeira intimidade da corrupção, do poder, dos desmandos autoritários e, inevitavelmente, a demagogia que domina o mundo pseudo-político. Borkovic, dono de um traco inconfundível e mestre na arte de alfinetar com extrema sagacidade, deixa claro, neste maravilhoso trabalho selecionado e premiado no 14º Salão de Piracicaba, essa sua admirável habilidade. Incrivel, mas não surpreendente, a atualidade do tema, a atualidade da forma e do recado dado...incrivel que um mesmo desenho, 27 anos depois, seja tao atual e retrate, tão fielamente, a realidade de nossos dias de segunda década do século XXI! Fatos que revelam e reafirmam a sensibilidade de Borkovic em captar e traduzir em expressivos traços, não um momento da história, não um fato isolado, proporcionado por algum ditador demagogo ou regime autoritário de plantão, mas sim, consegue destilar uma característica humana, atemporal, uma pequeno “defeito de fabricação” no processo de formação do caráter de uma pessoa, que, por azar, conquista, inadequadamente, algum tipo de poder. Um trabalho que serve sempre de alerta, aliás, como tem sido a maior parte das obras premiadas neste salão. Um trabalho que, embora nos faça rir, por sua própria logica, também desperta nossa consciência, mesmo que nos faça chorar. Assim tem sido, esperamos que assim continue sendo, que venham novos Borkovic, da já não tao distante Iugoslavia, afinal estamos cada vez temporalmente mais próximos, mas de todos os rincões do mundo onde o talento de dizer através da arte permita denunciarmos quaisquer tipos de ameaça a dignidade humana. Fausto Longo Senador ítalo-brasileiro, pelo PSI, ex integrante do Conselho Consultivo do Salão de Humor de Piracicaba

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Carlos Alberto da Costa Amorim 64

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TARZAN E CHITA NUM MATO SEM CACHORRO Um problema que está presente desde a origem de diversos países. Abordar a história do desmatamento é, de certa forma, recontar a saga de desenvolvimento não só do Brasil, mas de toda e qualquer nação que tenha sido abundante em recursos naturais. No caso brasileiro, tem sido assim desde os tempos em que os portugueses por cá chegaram, e deram início a um desflorestamento que pode ser observado até os dias de hoje. A perenidade do trabalho de Carlos Alberto da Costa Amorim certamente pode ser considerado um dos principais méritos da obra, que mescla humor e reflexão e poderia ser entendida na década de setenta, oitenta, nos anos dois mil ou no século dezesseis. Amorim confere um aspecto lúdico a um problema grave para o meio ambiente, que tem sido objeto de trabalho de uma série de entidades não-governamentais, como a Fundação SOS Mata Atlântica e o Greenpeace, entre outras organizações. Demonstra que o desmatamento é tamanho que até mesmo o personagem Tarzan, criado pelo escritor estadunidense Edgar Rice Burroughs, não tem mais árvores e cipós para se balançar na companhia dos macacos, e necessita se conformar com os cabos de alta tensão que levam eletricidade de um canto a outro do território nacional. As árvores deram lugar aos postes e às torres de transmissão de energia elétrica, símbolos do progresso pela infinidade de benefícios que trazem às cidades. Sem dúvida, a riqueza dos traços de Amorim deve-se ao fato de não questionar em si a importância da eletricidade, essencial para o desenvolvimento urbano. Vale lembrar que foi por meio da energia elétrica que se tornou possível o advento de todo e qualquer eletrodoméstico, o computador, o banho quente - e no desenho, também serve como um paliativo para o Tarzan continuar a se balançar e soltar seu famoso grito. O trabalho demonstra a contradição existente entre a noção de progresso e a preservação da natureza, arrasada para realização das obras para transmissão da energia elétrica. Trata-se do grande dilema que move os debates econômicos e ambientais até os dias de hoje, em que se impõe a pergunta de até que ponto é válido o desenvolvimento, quando se prejudica tanto a natureza. A falta de um consenso sobre qual é o melhor caminho incomoda e serve de inspiração para obras como a de Carlos Alberto da Costa Amorim. Felipe Aparecido Rodrigues Jornalista da Gazeta de Piracicaba. É especialista em Jornalismo Científico pela Unicamp, tem MBA em Marketing pela Unimep e mestrado em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp.É membro da Comissão Organizadora do 41º Salão de Humor.

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Spacca 66

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A ARTE DO RISO Um dedo perdido, membro fantasma que se transforma em consciência crítica, inquisidora. Um dedo que já apontou para falcatruas e malfeitos, mas que agora se volta contra o próprio dono, rasteja em sua direção, sempre em riste, acusando. E o espanto no meio da noite, com os olhos esbugalhados, insone, um personagem acuado, frágil, tenta se proteger puxando as cobertas para cima. No lugar do sono dos justos, um pesadelo surrealista. Claros e escuros. Luz e trevas. Não foi à toa que a charge de Spacca venceu, em 2005, a 32ª edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba: era o auge do escândalo do mensalão do governo Lula. Existe um aspecto pedagógico na arte dos cartunistas e chargistas. Fazendo rir, eles fustigam os costumes, sacodem as pessoas, convidam à reflexão, estimulam a mudança e, às vezes, até derrubam regimes. Com salutar e bem-humorado realismo, recordam que as pessoas são imperfeitas, as instituições sociais são contingentes e as tradições culturais são criações humanas que podem, e devem, evoluir. Mas há quem se enxergue e a seu mundo com excessiva seriedade. Existe, por isso, um aspecto perigoso na arte dos cartunistas e chargistas. Eles podem sofrer os revides de pessoas incomodadas, as retaliações de regimes tirânicos, ou a intolerância de tradições culturais ou religiosas encerradas em si mesmas. É claro que chargistas e cartunistas podem igualmente cometer excessos, ou deixar-se impregnar por preconceitos. O remédio para eventuais abusos não pode ser a censura prévia e nem a intimidação pela truculência, pois isso significaria falta de liberdade, obscurantismo. Cartunistas brasileiros contribuíram para a transformação do Salão de Piracicaba num dos mais importantes encontros do humor gráfico do Brasil e exterior, entre eles: Ziraldo, Fortuna, Millôr, Zélio, Henfil, Jaguar, Luis Fernando Verissimo, Paulo e Chico Caruso, Miguel Paiva, Angeli, Laerte, Glauco, Edgar Vasques, Jaime Leão, Gual e Jal. Não foi combinado, nem planejado. Mas, segundo as palavras do escritor e cartunista Luiz Fernando Verissimo, o Salão de Humor de Piracicaba “lançado em plena ditadura militar seria um salão de humor e seria outra coisa”. Diz Verissimo: “Essa outra coisa nunca teve um nome exato. Barricada? Resistência? Válvula de escape? Travessura heroica? O fato é que desde os primeiro salões lá estavam, em Piracicaba, o Millôr, o Jaguar, o Henfil, o Zélio, os Carusos – todos levados pelo instinto e pela necessidade da outra coisa”. Ao completar 40 anos em 2013 e considerado um dos salões mais importantes do mundo no universo das artes gráficas, continua cumprindo seu papel na valorização do desenho de humor: um espaço de reflexão, inteligência e arte que revela novos talentos, mostram profissionais consagrados e resgata autores e obras históricas. Foram eles que fizeram de Piracicaba a capital do humor do traço – ou do humor gráfico, como também é chamado. Para saber quem foi o pai da criança, nada melhor do que as palavras do engenheiro Luiz Antônio Lopes Fagundes: “O verdadeiro pai do Salão foi a união da vontade de todos, uns com ideia, outros com ação, mobilidade e outros com a vontade de fazer. Sua permanência significará a garra e a vontade da cidade em realizá-lo cada dia melhor”. Segundo o filósofo alemão Immanuel Kant, o riso é uma benção que ajuda a humanidade a suportar os dissabores da vida. Quando o humor é utilizado como forma de crítica social, com o propósito de despertar a consciência contra as desigualdades originadas em determinados sistemas de governo, todos rimos muito melhor. E nós, brasileiros, somos conhecidos mundo afora como um povo alegre, mesmo com as mazelas que acometem nosso país. Isso tudo é o que se constata nas visitas à Piracicaba nestes tempos de Salão. Hubert Alquéres Dirigiu a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo entre 2003 e 2011. É vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro e professor no Colégio Bandeirantes Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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Eloar Guazeli Filho 68

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HISTÓRIA INFANTIL O autor se vale das relações entre os personagens, às coisas que os cercam, bem como as afinidades entre o pensamento a imaginação criativa e o universo da arte. A temática da narrativa evoca a biografia de artistas e de maneira nova valoriza e destaca a importância da pintura mediante uma intrincada construção de atributos: abstrações e formas figurativas, fragmentos de imagens que vão ganhando cor e construindo a composição. Na medida em que dialoga com o tempo, reconstrói a histórica sem apartar-se das meditações estéticas, as quais alimentam as formulações do enredo. Nesse caso, as imagens deixam de ser ilustração para tornar se informação que comunica a coexistência da realidade e da ficção. Desta condição o que se nota é um imbricamento de todas as esferas – em meio a sonhos surgem os rabiscos feitos de cores; em meio ao sol e ao frio, surgem voos audaciosos e outras tantas representações de mundo. Na veemência do sonho eis o pesadelo: a morte do menino. Nesse momento, observamos que Eloar Guazeli Filho acrescenta ao drama a reconstrução da arte. No vermelho do sangue que escorre vê-se desenhos. É ainda a tentativa do autor em apelar para a poesia a fim de suavizar nitidamente a consciência da violência, da finitude humana gerada pela morte. Isabel Orestes Professora do CCL/Universidade Presbiteriana Mackenzie

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Paulo Roberto Barbosa 70

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SÓ FALTAVA CONGELAR O CONSUMIDOR Em 1930 o Brasil teve uma deflação de -12,3, repetindo-se em 1931 (-10,9) e 1933 (-2). Mas a crise econômica era mundial. Ninguém tinha dinheiro pra comprar nada. Depois daquele período, o grande desafio de todos os governos do País sempre foi conter a inflação. Inclusive com Dilma Rousseff que, entre outras medidas, cortou a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), uma arrecadação que devia ajudar também na recuperação de nossas estradas. A Dilma cortou a Cide assim como governos anteriores cortavam zeros. Getúlio Vargas cortou três zeros do Real, em 1942, quando criou o cruzeiro (1.000 réis passaram a valer 1 cruzeiro). Castelo Branco cortou três zeros do Cruzeiro quando criou o Cruzeiro Novo em 1967. José Sarney cortou três zeros do Cruzeiro quando criou o Cruzado em 1986 e mais três quando criou o Cruzado Novo em 1989. O último corte que tivemos foi em 1994, quando Itamar Franco e FHC cortaram 2.750 do Cruzeiro Real para criar o Real. Outra medida dos governos era congelar preços, copiando planos que não tinham tido sequência nos Estados Unidos (1971), na França (1939) ou até mesmo no Império Romano, no tempo de Dioclesiano, em 301 d.C. Teve ainda o confisco da poupança, por Fernando Collor/Zélia Cardoso em 1990. Todas – todas, inclusive essas do século 21 - medidas paliativas, pra não dizer inócuas, na tentativa de conter a inflação. Segura de um lado, estoura de outro. Mas as medidas mais marcantes foram aquelas que determinavam congelamento de preços. Causavam terror. O governo baixava as leis e convocava o povo para fiscalizar. E o povo obedecia. Aconteceu até o fechamento de um supermercado que estava remarcando os preços. Por iniciativa dos consumidores, os então notórios “fiscais do Sarney”. A única tentativa que não houve foi essa proposta pelo Paulo Roberto Barbosa: congelar o consumidor. Muito mais eficiente que as famosas maquininhas de remarcar preços, faltava esta, proposta pelo cartunista: uma máquina para congelar o consumidor. Ivo A. Pegoraro Jornalista, diretor de redação do Jornal de Beltrão (Francisco Beltrão – Paraná)

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Josanildo Dias Lage 72

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O CAOS DE REALIDADES Josanildo Dias Lage, o Nildão, já havia sido editor do suplemento A Coisa, do jornal A Tribuna da Bahia e do periódico quinzenal Coisa Nostra, na segunda metade da década de 1970, quando foi premiado no 6º Salão Internacional de Humor de Piracicaba. As atividades com a grande mídia e a mídia independente, editando e produzindo material humorístico em Salvador-BA, deu a Nildão a excelência e personalidade em seus traços. O trabalho do cartunista, premiado em 1979, começa por um avermelhado e garrafal grito de SOCORRO e atrai toda a atenção para a gravura. Saído da boca de um personagem que, aparentemente pelas sandálias, bermuda, camisa regata, chapéu e a pele queimada de sol, trata-se de um estereótipo do homem do campo. Tem a hipótese confirmada pelo animal de carga, abarrotado de côco (fruto típico da Bahia) e com semelhante expressão de estarrecimento. Também pudera, eles estão perdidos em meio a um emaranhado labiríntico de rodovias. O humor e a crítica da peça estão neste contraste de realidades, da mudança repentina das cidades por conta do progresso. Da necessidade de se construir caminhos e mais caminhos para interligar as pessoas, deixando claro isso também às distancia. O fato de não haver nenhum veículo na rodovia é fruto de uma fina percepção da realidade pelo cartunista. Num primeiro momento, leva a entender que as rodovias estão novinhas e, por conta disso, o homem do campo, acostumado sempre ao mesmo caminho, não tenha visto a paisagem se modificar – talvez porque tenha ficado distante, pela duração que levou a produção de seus coqueiros. Por outro lado, revela a ausência de veículos. Qual a razão disso? Pode ser que um diálogo com a história do período aponte para uma resposta. Os anos de 1970 foram frugais para o aumento da malha rodoviária do país, era o chamado “milagre brasileiro”, um estratagema da Ditadura Militar para comprovar sua efetividade por meio do crescimento nacional. A Bahia, especificamente Salvador, contou bastante com os investimentos governamentais nesta área. O pivô da modernização de Salvador era Antônio Carlos Magalhães que, somente na década de 1970, havia sido prefeito da cidade (com mandato finalizado em 1971) e, por duas vezes governador (primeiro mandato de 1971 a 75 e, o segundo, iniciado em 79). Pode ser que a crise do petróleo nos anos 70, tenha inspirado as rodovias vazias. Afinal de contas, a descoberta de que o petróleo era findável trouxe o aumento exacerbado de preços de seus derivados, além dos conflitos por conta do óleo mineiral como a Guerra do Ramadã de 1973 e a Revolução Islâmica no Irã, de 1979. Jociene Carla Bianchini Ferreira Pedrini Professora do curso de Jornalismo da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais), Jornal A Cidade de Votuporanga

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Luis Oswaldo Rodrigues 74

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LATIDO É da natureza da charge representar de forma gráfica, crítica e bem humorada um momento histórico e social determinado. Se, por um lado, a relação intrínseca com um contexto específico faz com que essa forma de manifestação artística sofra os efeitos da passagem do tempo, fique datada, por outro ela representa um retrato, um instantâneo que provoca a lembrança nos contemporâneos e a curiosidade nas gerações seguintes. Passados 14 anos do golpe que alçou os militares ao poder, em 1978 o regime dava os primeiros sinais de cansaço. No entendimento do então presidente Geisel, aquele ano encerrava o ciclo autoritário. Por meio de Emenda Constitucional, o general extinguiu a pena de morte, a prisão perpétua e o banimento. Numa única canetada, revogou os Atos Institucionais e Complementares publicados pelos governos militares que o antecederam. No mesmo ano, foi criado o Comitê Brasileiro pela Anistia e teve fim a censura prévia da imprensa escrita. A charge do médico-chargista-mineiro LOR, alcunha de Luiz Oswaldo Rodrigues, interpreta o início da distensão do regime. O regimento militar, austero e organizado, faz uma pequena mudança na rota da marcha para se desviar de um cãozinho raivoso. Note-se, porém, que, mesmo com a incipiente abertura, o país ainda vivia sob uma ditadura. As eleições eram indiretas, havia presos políticos. Os soldados da charge, apesar do desvio, não demonstram medo do obstáculo, apenas indiferença. O cãozinho, não por coincidência, foi pintado da cor vermelha, uma alusão à identificação dos movimentos populares com o ideário socialista. A escolha do animal também não é acidental. LOR desenhou um ente inimputável. Fossem pessoas no lugar do cãozinho, é razoável supor que os soldados viessem a reprimir e enquadrar os manifestantes. O animal personifica uma ideologia, uma abstração que não pode ser processada, presa ou ameaçada pelas armas. É um fato novo e, na dúvida sobre como combatê-lo, os soldados optam por evitá-lo. Há uma segunda camada narrativa nessa charge premiada na edição de 1978 do Salão de Humor de Piracicaba. Aparente, mas menos evidente. Naquele ano, o Brasil voltou a assistir às greves de trabalhadores depois de quase uma década. Dois mil metalúrgicos cruzaram os braços em Diadema, na grande São Paulo. O inconformismo espalhou-se rapidamente, primeiro pela região do ABC paulista, depois para a capital e, por fim, para outros estados. O movimento sindical renascia no país. Para representar a entrada dos trabalhadores no jogo de forças, LOR faz do seu quartel uma fábrica, as torres de vigia feito chaminés. É o símbolo do novo terreno onde, de agora em diante, seria travada boa parte da luta política. Por outro lado, a fábrica é símbolo também do capitalismo que, na visão polarizada daquele período, seria responsável pela exploração dos trabalhadores e enriquecimento da classe burguesa. Esta, por sua vez, estaria aliada ao regime militar e à manutenção de um sistema desigual e opressor. De sua linha de montagem, saem soldados exatamente iguais, sem personalidade ou identidade, como que enfileirados no pátio de uma montadora de automóveis. Como dito antes, a charge de LOR tem esse poder de fazer lembrar àqueles que vivenciaram esse período difícil. Que tenha o mesmo poder de estimular, nos mais jovens, o conhecimento do preço pago para que eles, hoje, possam manifestar-se ruas sem medo. Jota Silvestre Editor do Blog Papo de Quadrinhos/SP

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Robinson JosĂŠ de Silva 76

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PEÇAS TRIDIMENSIONAIS Não é qualquer famoso que escapa de um bom caricaturista. Às vezes, raras vezes, alguém pode se dar bem. Isso dificilmente acontece com um político, pois não basta ser conhecido, tampouco com um jogador de futebol ou esportista que seja muito admirado. Pois alémde fama e sucesso, é também necessário ser amado, idolatrado. Talvez isso explique o fato do Raul ter ficado tão bonito, numa produção tridimensional apresentada ao Salão de Humor de Piracicaba. Nesse trabalho cresceu o artista, não falo só do Raul, mas do Robinson, que foimuito criativo. A cabelereira e cavanhaque feitos com as já obsoletas fitas cassetefundem meio e mensagem, saudade e magnetismo. “Viva a sociedade alternativa”, “euprefiro ser essa metamorfose ambulante”! Foi cedo e deixou muito. Cantou uma época emarcou a história. 261 músicas, 44 anos de turbulência criativa. Eu também adoro essecara! Laura Alves Martirani Esalq/USP

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Paulo Valmor Matos 78

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O PARTO O Salão de Humor de Piracicaba, o templo reservado aos gênios do humor gráfico, selecionados entre tantos outros, mas destacados pela genialidade e criatividade em transmitir uma mensagem, que muitas vezes ao nosso ver poderia ser até chocante pelos fatos ocorridos ou mesmo pela visão pré anunciada de uma futura na realidade , mas suavizada pelo espirito humorístico nos traços do criador da arte gráfica, do gênio artístico que Paulo Valmor Mattos, o Villa Nova, possui e foi selecionado para perpetuar entre outros gênios junto, ao meu ver, no maior acervo gráfico do humor da história da humanidade contemporânea, onde a arte contou a realidade vivida com muito humor. Parabéns Paulo, continue a nos proporcionar essa genialidade, o salão agradece e a humanidade será contemplada. Este prêmio, foi dado pela Unimed Piracicaba que criou o Prêmio Saúde. Luiz Antonio Lopes Fagundes Ex integrante do Conselho Consultivo do Salão de Humor

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Bruno Hamzig 80

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ALTAMIRO CARRILHO O desenho feito pelo cartunista Bruno Hamzig apresenta, um Altamiro Carrilho tocando freneticamente uma música que até fez ele perder partes de sua flauta transversal durante a apresentação. Mostrando a sensação de um músico inquieto, curioso e ousado. Muito além do seu tempo. O músico conhecido por ser um dos melhores flautistas que o Brasil já conheceu e que tinha a música correndo no sangue, ganhou nos traços do cartunista uma versão bem humorada de mostrar a paixão de Altamiro Carrilho tinha pela arte de tocar. Márcio Pissocaro Rede Globo/RJ

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Luciane Nogueira Monte Negro

NA MOSCA! A décima quinta edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba apresentou ao público o trabalho de Luciene Nogueira Monte Negro, premiada juntamente com outros cincos vencedores. A artista nos brindou com seu cartum multifocal, versátil como uma lente fotográfica, enigmático como é a natureza artística. Convidada para uma releitura da obra, 26 anos depois, sinto a mesma inquietude quando conheci a criação de Luciene, durante a exposição no Teatro Municipal Losso Neto. Na época, com meus 25 anos, prestes a colar grau em Jornalismo, pela Universidade Metodista de Piracicaba, nossa Unimep, lembro-me de ter ficado por um bom tempo contemplando os círculos, com a ilusão de estar diante de um desenho 3D, capaz de aprisionar uma mosca perdida em um labirinto. A arte ali, pendurada na minha frente, não dava pistas para assegurar qual seria o futuro das minhas outras tantas inquietudes e ilusões, próprias da juventude e das incertezas do Brasil, que naquele período político trocava a farda pelo passeio completo. 82

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Era 1988, ano histórico para o País, que promulgaria sua Constituição Cidadã, após 20 anos de chumbo e escuridão, acendendo então a luz da democracia. José Sarney vice, porém presidente, refestelava-se no poder, porque seu titular Tancredo Neves, morrera em 1995, entre a indicação do Colégio Eleitoral e a posse. Não, não era roteiro de novela ou filme de ficção, eram fatos reais, ou melhor, presidenciais, noticiados aos mais de 141 milhões de brasileiros com manipulações e filtros, afinal tudo acontecia, mas somente a Rede Globo reinava com poderes e audiência absolutos para construir informações e verdades premeditadas, como serva obediente da censura e empregada leal do Poder. A internet e as redes sociais tardariam a chegar como instrumento de comunicação livre e personalizado. Enquanto a liberdade começava a assoprar sobre o povo e despertá-lo lentamente do coma profundo, a marca Sarney, estilizada por um bigode black power, lançava planos econômicos, Cruzado, Verão, na tentativa de controlar a inflação que vivia nas nuvens muito antes da tecnologia Icloud. A Aids, mal do século, espalhava pavor com o grande número de vítimas que morriam em sua decorrência e também por causa dela o amor livre passara a ser sinônimo de risco à vida, situação que exigiu neste mesmo ano a criação de lei federal para assegurar direitos aos portadores da doença. Na Amazônia, o assassinato do seringueiro acreano, Chico Mendes, atraiu a atenção do mundo às questões de ocupação agrária e conservação das florestas. As tardes de sábado perderam o velho guerreiro Chacrinha, o rebolado das suas chacretes no Cassino mais alegre da tevê, silenciando os sonoros Alô, Alô, Terezinha. Nas pistas do autódromo de Suzuka, no Japão, Ayrton Senna conquistou seu primeiro grande prêmio mundial e sem comemorações, foi registrado naquele ano, o centenário do fim da escravidão oficial no Brasil. Foi também naquele 88 que um trabalhador sequestrou um avião da Varig e ameaçou jogá-lo no prédio côncavo e convexo do Congresso Nacional. Felizmente o anônimo e valente indignado não havia sido treinado pela Al-Qaeda e nada de grave aconteceu. Olhando agora para o retrovisor da história, entendemos melhor e com mais precisão o grau de importância do Humor e de todos os personagens que ganharam vida nos salões, realizados mundo afora, como forma de manifestação cultural e política dos povos, evidenciando o senso crítico, próprio da linguagem do gênero. Talvez possamos dizer que o Salão de Humor de Piracicaba tenha sido uma das primeiras redes sociais do mundo não virtual, pois seu grupo de idealizadores e seguidores se manteve firme e coeso, atravessando as diferentes fases da vida brasileira, proporcionando acessibilidade e conexão reflexiva com os acontecimentos marcantes, torcendo para o Brasil acertar no alvo. Ninguém duvida de que a arte tem o poder mágico de transformar, graças aos seus insumos cultivados no lado direito do cérebro, onde brota a criatividade e floresce o lúdico. E o bom humor nos leva de volta à infância, quando aprendemos brincando, rindo, dando gargalhadas de nossos feitos e defeitos, de forma simples e natural. E as charges, os cartuns, as tirinhas de nossos renomados ou amadores artistas remixam os gritos de protestos, dão corpo às mazelas e aos excessos, satirizam os desvios de comportamento, falam por nós o que está entalado na garganta, atormentando-nos. É parte complementar do jornalismo ilustrado, denunciando sem pudores o que precisa ser mostrado. Afinal, o humor é um estado de espírito, e o espírito do Salão Internacional de Humor de Piracicaba é bom e santo, por isso faz milagres contra o mal terrível: a falta de humor. Então sorria! O obra não envelheceu, pelo contrário, continua viva e contemporânea, porque o Brasil ainda busca acertar o alvo. Marta Regina Torezam Jornalista, Assessora de Imprensa – Sebrae, Cuiabá/MT

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O-Sekoer 84

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DA LIBERDADE E DA ESPERANÇA Muitas prisões vão além das grades, assim como o conceito de liberdade, que não pode ser definido como um pássaro que pode voar. A clausura serviu de inspiração para a premiada imagem do artista belga Luc Descheemaeker. Mais conhecido como O-Sekoer, ele provoca uma risada seca e até mesmo sádica ao tratar de um tema delicado como o suicídio. Uma ilustração que faz rir por ser surpreendente, embora a risada amargue no final por fazer pensar no que pode ter levado o homem a chegar até este ponto. Fortalecido apenas pela própria ideia intrínseca do desenho, o ilustrador optou por não usar muitas cores. Uma escolha que fortaleceu os sentimentos de solidão e tristeza vividos pelo personagem em sua minúscula cela. Com a oportunidade de se expressar com o auxílio de tinta e pincel, o presidiário utiliza os materiais disponíveis de forma inusitada. Poderia ter pintado uma porta para sonhar com uma possível fuga ou o desenho de uma mulher pelada numa posição bem excitante. Todas opções seriam possíveis e frugais. O-Sekoer, entretanto, foi pelo caminho mais original. Se a roupa do presidiário é caricata e estereotipada o bastante para que se saiba que ele foi condenado por algum crime, a cabeça do detento é algo imprevisível. Os traços criados significam seu total desinteresse em permanecer nesta vida. Fica aí uma curiosa dicotomia a respeito da esperança. Ele a perdeu por estar confinado e, mesmo assim, é esperançoso ao olhar para o túnel pintado e acreditar que um trem de verdade pode passar, concretizando este suicídio idealizado. A carta deixada na cama evidencia sua crença. Interessante também pensar na metalinguagem do desenho. Assim como o prisioneiro, OSekoer usa seus materiais para criar, desta vez com a seminal intenção da crítica e da reflexão. E nós, temos liberdade? Não apenas de ir e vir, mas também de decidir a nossa vida, seja nos rumos e/ou na duração. Afinal a liberdade não pode ser apenas estar do lado de fora de uma prisão. O corpo físico, por exemplo, também pode ser considerado uma forma de confinamento da essência humana. Trazendo a ilustração do artista europeu para um contexto brasileiro, o desenho faz pensar nas péssimas condições dos presídios nacionais. Se fosse por aqui, a cela seria ocupada por pelo menos outros setenta e cinco detentos. E nenhum conseguiria ter espaço suficiente para desenhar ou alcançar a perspectiva de riscar um trilho tão perfeito. Um trilho que representa uma possível saída. No final das contas, O-Sekoer, que é conhecido por fazer um humor nem sempre fácil e óbvio, faz lembrar uma frase muito conhecida: o crime não compensa. Embora todos sejamos julgados – e condenados – diariamente. Michel Toronaga Editor de cultura do Jornal de Brasilia

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CĂŠsar Augusto Villas Boas 86

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A LIBER(T)AÇÃO SEXUAL FEMININA E A RECUSA À SUBMISSÃO “Objeto De meu mais desesperado desejo Não seja aquilo Por quem ardo e não vejo Seja estrela que me beija Oriente que me reja Azul amor beleza Faça qualquer coisa Mas pelo amor de Deus Ou de nós dois SEJA!” Paulo Leminski A imagem da então jovem Madonna no palco com coreografias marcantes e figurinos insinuantes e provocativos ao som de “Like a Virgin” e “Material Girl” - canções que se tornariam dois de seus principais hits - não apenas sagrou a carreira daquela que, hoje, pode ser considerada uma das artistas mais bem sucedidas de todos os tempos e um dos maiores símbolos dos anos 1980 que consigo imaginar, ela deixou o seu legado de libertação na busca da igualdade de gênero. É claro que as referências à década são muitas, mas essa é, definitivamente, uma de singular poder. Talvez, uma imagem não explicitasse tão bem a libertação sexual da mulher desde a luta travada no início do século XX pela enfermeira e ativista Margaret Sanger em prol da divulgação de informações a respeito de métodos contraceptivos e planejamento familiar, passando pelo lançamento, em 1953, do livro “Sexual Behavior on the Human Female”, de Alfred Charles Kinsey, conhecido como a primeira publicação a abordar objetivamente o comportamento sexual das mulheres, algo que escandalizou a conservadora sociedade do período pós-guerra. E em 1980, antes da década que consagraria Madonna começar (sim, pois o tempo histórico começa em 1 e não em 0, o que vale tanto para décadas como para séculos), o cartum de Cesar Augusto Villas Boas, que assina “Pelicano”, selecionado para o 7º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, já evidenciava não só essa liberação e libertação, mas também uma recusa da mulher em ser submissa ao homem. Uma atitude tardia – tendo em vista a aparente idade do casal – tal qual pode ser considerado o “desabrochar feminino” na história mundial. Enfim, entre quatro paredes, a mulher deixava de ser um mero “objeto” e se proclamava sujeito, se igualando ao homem. Mais um fato histórico evidenciado pelo Salão Internacional de Humor de Piracicaba, referência mundial não só quando o assunto são as artes gráficas. É um retrato bem humorado das temáticas em vigência em cada período. Seria a trilogia “Cinquenta Tons”, que estampa as listas dos livros mais vendidos nos últimos anos, a evolução natural da liberação e libertação sexual, em forma escrita? Independente da resposta, nosso estimado Salão de Humor estará sempre aí para registrar, criticar e, acima de tudo, nos fazer refletir... Sem se esquecer de nos levar a uma boa dose de gargalhadas, é claro! Rafael Bitencourt Jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), assessor de comunicação da Secretaria Municipal da Ação Cultural de Piracicaba, apresentador da TV PCJ, repórter do Jornal O Tirolês, produtor cultural e videomaker . Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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Dil Mรกrcio da Silva Souza 88

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SOBRE ESQUINAS, RATOS E RATOEIRAS Século 20, Brasil, agosto de 1990. Em Brasília são 19 horas. Fui revisitar um pouco da nossa história recente para comentar o cartum de Dil Márcio da Silva Souza, um dos premiados no Salão de Humor de Piracicaba no mesmo agosto de 90. Consultei os jornais da época. A imprensa anunciava então mais uma queda no índice de inflação. O presidente Fernando Collor comandava “uma agenda para superar o atraso do país”. Sabemos como isso terminou. Enquanto isso, na tradição da sátira política que deu origem ao Salão, Dil Márcio nos fazia rir dos políticos com uma emboscada cômica armada para acontecer em uma esquina insuspeita. Vemos dois grupos de pessoas que caminham para o inevitável encontro. Por uma rua segue um bando sorridente, carregando nos braços um político aparentemente recém-eleito. Outro grupo, igualmente em júbilo, segue para o cruzamento empunhando uma gigantesca ratoeira. A tocaia está armada. Cada bando divide metade do desenho e ambos estão em trajes coloridos que contrastam com o cenário de traços em preto e branco. Camisas azuis de um lado, camisas amarelas de outro; ambos ostentam cores da bandeira brasileira. O político - tipificado como rato -, está prestes a ser desmascarado e aprisionado na ratoeira armada por... quem? Quem seriam esses, os portadores da grande ratoeira exterminadora? O “povo”? Os bons e justos que carregam sobre si as boas causas? Os entes políticos portadores da Razão e do devir histórico? Ou apenas o partido político adversário? Melhor que interpretar é apenas rir. Pois foi ali, nessa mesma esquina, que o ex-presidente dos anos 90 deposto por corrupção se encontraria anos mais tarde com o triunfante líder da classe operária. E ambos, reconciliados, se descobririam como amigos de fé, irmãos e camaradas. Ironia das ironias, a realidade incumbiuse de cobrir a esquina redentora e bem humorada de Dil com uma espessa camada de trevas. A intersecção desenhada pelo cartunista para um acerto de contas à luz do dia entre o Bem e o Mal acabou por tornar-se em festivo ponto de encontro para os acordos tenebrosos da política nacional. Eles continuam lá, nessa mesma esquina. De onde virá a ratoeira salvadora? Renato Ferrante Editor na Três Gatos Editora (www.tresgatoseditora.com.br)

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Goran Divac

INSTITUIÇÃO VANGUARDISTA PARA AS CRÍTICAS SOCIAIS Quatro homens caminham lentamente. Carregam no ombro uma folha de jornal enrolada, que substitui um caixão de defunto. À frente, um indivíduo de aparência sisuda leva uma máquina se escrever e, ao final da fila, uma senhora com véu traz um ramalhete de flores. Trata-se do fim do jornal impresso, representado pelo traço do cartunista sérvio Goran Divac, um dos destaques no Salão Internacional de Humor de Piracicaba. A histórica edição de 40 anos, que aconteceu de 24 de agosto a 20 de outubro de 2013, mais uma vez nos convidou à reflexão. Se no passado foi utilizado para denunciar as atrocidades da Ditadura, o Salão mantém-se na atualidade como instituição vanguardista de crítica para temas sociais. É por isso que artistas de 64 países fazem questão de figurar com suas obras na mostra. Muitos deles ainda vivem sob a tirania e são adotados pela liberdade que somente Piracicaba proporciona. 90

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A charge de Goran Divac nos desperta para um assunto amplo. Traz à tona o debate sobre a sobrevivência dos meios tradicionais de comunicação, diante das inovações digitais. Há especialistas que exibem dados estatísticos para a extinção dos jornais e outros que são taxativos ao classificar como mera especulação. Diante da crise de conglomerados da mídia, Divac personificou o debate com seu cortejo fúnebre. Deixou-nos, no entanto, a discussão em aberto. Percorrer o Engenho Central para apreciar as obras expostas é mais que um simples lazer de domingo ou um ato de apreciação artística. É repassar as notícias — nem sempre boas — que pautaram a mídia nos últimos tempos. É reconhecer as falhas humanas enraizadas em instituições, governos e sociedade. É rir da desgraça alheia e ver nossos problemas representados de forma inteligente, engraçada e mordaz. É entender o pensar de cartunistas e ter acesso a um recorte peculiar sobre suas visões de mundo. Divac também é autor de um cartum sobre o alcoolismo, mal que acomete povos de diferentes nações. Pelo desenho angariou a simpatia do júri de premiação, eleito vencedor do grande prêmio do Salão, o Troféu Zélio de Ouro. Mas a leitura dos cartunistas na edição de 40 anos foi além: houve sátiras aos recentes protestos com os lemas Vem para Rua e O Gigante Acordou, além de desenhos sobre o esquema de espionagem americano divulgado por Edward Snowden e a suposta formação de cartel no Metrô de São Paulo. É preciso lembrar da boa fama que o Salão possui nas caricaturas. Estas foram declarações do próprio júri de seleção e dos membros da comissão de premiação. Entre seus integrantes estiveram Marlene Pohle e Carlos Brito, ambos vice-presidentes da Feco, a federação de cartunistas que é referência mundial em humor gráfico. A vinda deles reflete o reconhecimento que o Salão detém na esfera internacional. Como inesgotável fonte de ideias, o Salão de Piracicaba só poderia sagrar-se como um dos mais importantes nas artes gráficas. Nasceu da rebeldia juvenil idealista de jornalistas e intelectuais da cidade e, como disse Zélio Alves Pinto, nele estão prestigiados “o humor exigente, inteligente, intelectual, qualificado, requintado, reflexivo e construtivo”. É por motivos como esses que, segundo Zélio, o Salão é capaz de peneirar o humor chulo, agressivo e inócuo, do humor qualificador e refinado. Se os pincéis críticos dos cartunistas ajudaram a consolidar o Salão, houve o cuidado permanente de seus idealizadores, apoiados no início pela turma de O Pasquim. Nenhum prefeito ou secretário foram capazes de desativá-lo, independente de transições de governos municipais. Todos, a seu modo, entenderam a importância do Salão para a cultura. Na contramão do que aconteceu no Brasil e no mundo, o Salão de Piracicaba manteve-se vivo, enquanto houve a extinção de eventos similares. Em especial nos últimos anos, o Salão deu longos passos por meio de uma gestão competente no Centro Nacional de Humor Gráfico, na figura do cartunista Eduardo Grosso, e da Secretaria da Ação Cultural, sob condução de Rosângela Camolese. Equipes que profissionalizaram a mostra principal, buscaram parcerias com instituições para a proliferação de exposições paralelas do acervo permanente e ofereceram cursos permanentes no decorrer do ano, capacitando os interessados na área. O Salão de Humor é mais que uma mostra de arte. É uma instituição viva, perene e em constante transformação. Deve, portanto, ser valorizado pelos seus conterrâneos e abraçado por aqueles que adotaram Piracicaba como sua. Afinal,temos orgulho em dizer que estamos na capital do humor. Rodrigo Alves Especialista em jornalismo contemporâneo. Autor do blog cultural Dando Nota, atuou como assessor de imprensa nas 39ª e 40ª edições do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

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Rubens Batista Jr. 92

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O REI PERDEU A CABEÇA Em 1977, a abertura “lenta, gradual e segura” prometida por Ernesto Geisel engatou marcha ré: cedendo às pressões da linha-dura militar, o então presidente fechou o Congresso Nacional durante 13 dias a partir de 1º de abril - ô, diazinho funesto neste país! -, baixando uma série de decretos-leis e restrições. Entre outras determinações, o “Pacote de Abril” jogou um balde de água fria no sonho de eleições para governador, criou a figura do senador biônico, ampliou a nefasta “Lei Falcão” - que só permitia fotos de candidatos na TV, sem falas, durante as campanhas eleitorais - e estendeu o mandato presidencial para seis anos. Enquanto a oposição política esperneava em Brasília contestando a tal “democracia relativa” de Geisel - “Se não existe o substantivo, pouco importa o adjetivo!”, chiava Ulysses Guimarães -, na sociedade civil a insatisfação ecoava em movimentos como os protestos e encontros de estudantes que tentavam reconstituir a proscrita UNE. Curiosamente, foi nesse clima de bola atrasada para o goleiro que o Brasil assistiu a um a contra-ataque institucional saudável, ainda que tardio: em junho daquele ano, a lei do divórcio foi aprovada no parlamento, sendo sancionada em dezembro por Geisel - surpreendendo até mesmo o senador Nelson Carneiro, que desde 1951 tentava aprovar essa emenda constitucional. Golpismos dentro do golpe, liberdades podadas, dissidências silenciadas, cabeças mudas na televisão, divórcio no boca do povo. Rubens Baptista Júnior expressou com eloquência o espírito daquele tempo no cartum premiado na quarta edição do Salão de Piracicaba. O cartunista, jornalista e médico desenhou uma gilhotina que decepa a cabeça de King Camp Gillette com a própria invenção que deu fama e fortuna ao empresário norte-americano - e que durante décadas estampou na embalagem a efígie do seu criador. Como no melhor desenho de imprensa, o trabalho aciona na mente do observador um fliperama de associações e subentendidos por meio de um estímulo visualmente conciso. Rubens fotografa em traço e colagem o poder que coloca o pescoço no patíbulo engendrado por ele próprio. De tanto descer a lâmina contra os opositores, Robespierre e os jacobinos acabaram também guilhotinados - como se os revolucionários tivessem despertado um deus cruel, cujo apetite por sacrifícios não poupa nem aqueles que o invocaram. Na imagem, o grande homem de negócios King (“Rei”, em inglês) perde a cabeça e divorcia-se do corpo, justiçado por sua criação. No Brasil de 1977, a ditadura ainda mantinha-se ereta - mas o caminho para o cadafalso era inexorável e aguardado. A lâmina de barbear de Gillette acabou sendo conhecida popularmente pelo nome de seu inventor, da mesma forma que a guilhotina foi batizada na Revolução Francesa em homenagem àquele que desenvolveu essa famigerada máquina de matar. O humanitário doutor Joseph Ignace Guillotin era médico - ironicamente, da mesma forma que Rubens Baptista Júnior. Roger Lerina Editor do jornal Zero Hora, Porto Alegre/RS

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Golamezza Azizi 94

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FOSFOROS DA PAZ A obra vencedora no 23O Salão Internacional de Humor de Piracicaba 1996, categoria charge, é de autoria de Golamezza Azizi, do Irã. A imagem remete aos momentos de tensão vivido naquele país no período. O abuso de Sadan Hussein ultrapassava na época os limites de tolerância dos envolvidos e a imagem em destaque traduz a necessidade do cessar fogo no conflito militar. A invasão de países na disputa sobre o petróleo, pode ser uma das possíveis interpretações do cenário apresentado. Este tema motivou vários segmentos culturais ao ser tratado, inclusive em charges, categoria aqui relatada, que se define como uma representação humorística, caricatural e de caráter político que remete a fatos específicos e desperta para representações críticas. A ausência aparente de personagens humanos não prejudicam a intenção desta obra, que de certa maneira estão representados pelo exército e seus soldados, palitos (em movimento, tomando seus respectivos postos) e a caixa de fósforo(tanque de guerra). Sem cabeças, sem pontas, sem pólvora, os soldados/palitos remetem à uma possível leitura: ausência de munição ou comando vulnerável? Com olhos mais atentos se lê cessar fogo, cease fire, em inglês, escrito na parte superior da caixa de fósforo para reforçar a ideia e a necessidade do final da disputa. A cor vermelha e a cor azul apoiados nas duas palavras, lembra o sangue derramado nas batalhas e o clima de paz a céu aberto motivado pelo tom desse azul. Convém ressaltar, nesse aspecto, o papel educativo de charges em contextos variados, pois elas se configuram em recursos importantes para a recuperação do processo histórico. Rosana Borges Zaccaria Professora do curso de jornalismo da Unimep

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Valentin Druzhinin 96

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A HISTÓRIA QUE CHEGA AO FIM Fim de uma era. Essa é a primeira sensação que se tem ao (re)ver o trabalho de Valentin Druzhinin, que retrata de maneira singular a situação política vivenciada pela Rússia nos anos 90. Sua história, ao longo do século XX, a partir da revolução de outubro de 1917, é varrida em decorrência das mudanças vivenciadas pelo país em 1991, com a dissolução da União Soviética, iniciada em 1990 com a retirada das repúblicas e pela reorganização do estado russo. O simples gesto, o de varrer, é ato simbólico, como se houvesse uma limpeza interna. Druzhinin, com humor pincelado pela crítica ao sistema, revela a situação de seu país, com o fim do socialismo defendido pelos bolcheviques, então liderados por Vladmir Lênin. Vencedor na categoria Charge no 22º. Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1995, Druzhinin é cartunista no jornal Komsomolskaya Pravda, em Moscou. Seus trabalhos são bem conhecidos na Rússia e apreciados por todos que admiram a arte gráfica. Ele já realizou exposições nos Estados Unidos, Polônia, Turquia, Iugoslávia, Ucrânia e Rússia. Renomado, acumula cerca de 100 prêmios e menções internacionais. Observar sua obra é mergulhar no irônico olhar que o artista tem sobre a realidade russa. A ironia está exatamente no fato de que um trabalhador – representado pela figura da mulher – é quem apaga os nomes de Lênin e de Stalin. Ela utiliza água e muita força para esfregar as páginas do livro que conta a história do socialismo, ditada pelo então Partido Comunista, que tolhia qualquer juízo ao regime implantado em nome dos trabalhadores. Em seu lugar, há o espaço em branco para ser preenchido com uma história, a ser construída. Essa é a segunda sensação que se tem ao ler os significados do cartum sobre os acontecimentos que movimentaram a política e a economia russa, no final do século XX, com a transição promovida por Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética, por meio da Perestroika. O que se apaga representa a abertura de um novo tempo, que passa inicialmente pelo vazio, é o nada, sem traços definidos sobre como será. É o momento da transição, marcado pela expectativa do porvir. Rosemary Bars Mendez Jornalista, professora da PUC-Campinas e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo

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Luiz Ant么nio Solda 98

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RECORTADOS PELA CENSURA As letras sempre perseguem os poetas, os escritores, os loucos. Mas na época da ditadura, eram os militares que as perseguiam. A sopa de letrinhas faz a vida ser um pouco mais interessante. Vogais e consoantes, expressas no papel para compor ideias ou apenas dizê-las e deixar que digam por nós. Poéticas, patéticas, ranzinzas ou bem humoradas, as letras significam muito para o tempo e o espaço neste planeta chamado Terra. A terra das comunicações. Essas pequenas famigeradas sempre foram perseguidas nos mais diversos países. No Brasil, engarrafadas na censura, com a ditadura fervorosa nas ruas, foram cortadas aos pedaços e deixadas sucumbir no assassinato massivo da comunicação. No ano de 1976, com os militares ainda bufando por aí, Luiz Antônio Solda venceu o 3º Salão Internacional de Humor de Piracicaba com um desenho que mostra letrinhas recortadas e uma enigmática figura, cavalgando em sua enorme tesoura censora. Irônico é que a época também foi de grande revolução no mundo, pelo menos lá no alto da América. Afinal, em 1975, Bill Gates fundou a Microsoft e, no ano seguinte, foi a vez de Steve Jobs lançar a Apple. E assim as plataformas para o novo uso das letras na comunicação começaram a ser plantadas para a expansão da conversa entre humanos. Letras digitais que censura alguma poderia perseguir. Passadas ditaduras e censuras, hoje as letras estão mais livres em tais plataformas, flutuando pelas redes livres, leves e soltas. Sem tesouras censoras para acabar com a graça de torpedos e mensagens que pipocam a toda hora nas telas viciadas da nova geração. Recordar o passado é poder respirar aliviado, principalmente por saber que no auge das tesouradas, muitos dos nossos artistas conseguiram sair pela tangente e mostrar sua crítica no papel timbrado pelo Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Quarenta anos depois, eles seguem demonstrando sua habilidade em tocar na ferida e mostrar o que muitos não enxergam na voz irônica, sarcástica e inteligente do humor. O AUTOR — Para mim, como jornalista, é impossível analisar algo sem conversar com seu autor. Solda me disse que os cartunistas fizeram seu papel na ditadura, denunciando, mostrando, debochando. “Éramos todos jovens — Alcy, Laerte, Angeli, Chico e Paulo Caruso, Jota, Glauco e mais uma manada degente boa, todos cartunistas”. Segundo ele, o Salão de Humor de Piracicaba revelou uma geração de cartunistas como nunca houve na imprensa brasileira. Foi premiado três vezes e convidado como jurado especial, o que, segundo, Solda foi essencial para seu reconhecimento no Brasil. Ironia do destino, Solda afirmou ter sofrido censura pós-ditadura. “Fui chamado de racista por ter colocado um macaco numa charge sobre Barack Obama, uma alusão à República das Bananas, invenção de um humorista americano, na década de 60. Fui investigado pelo Ministério Público e intimado a prestar esclarecimentos na Polícia Federal. Virei celebridade por 15 dias.” Rubens Vitti Jr. Editor de Cultura no Jornal de Piracicaba

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Glauco Villas Boas 100

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VIVA A LIBERDADE ! A “charge” de Glauco, antes de tudo, me leva a fazer duas afirmações: não é uma charge típica, porque este “gênero” comporta, em geral, apenas uma figura, um quadro, enquanto esta tem três, o que lembra um pouco as tiras, que contam uma pequena história; a segunda é que a charge é datada de 1978, quando o país ainda vivia sob regime ditatorial (antes mesmo da anistia). No entanto, devo dizer que minha primeira leitura não considerou esta informação, o que me levou a pensar que se tratava de charge relativa às manifestações de junho de 2013. Talvez esta seja a questão mais relevante e talvez seja o que melhor caracteriza o trabalho, o que melhor testemunha sua qualidade. Não é preciso exagerar muito para dizer que, exceto pelo fato de as personagens falarem português, o trabalho poderia referir-se a eventos que ocorrem em diversos países do mundo, sempre que a questão das liberdades democráticas leva gente à rua. Este é um dos aspectos relevantes da obra: seu alcance vai além de uma circunstância particular. Reforça esta avaliação o fato de que o trabalho opõe, de certa forma, os manifestantes às forças repressivas, aqui representadas por policiais fortemente armados, preparados tanto para se defenderem (os escudos) quanto para atacarem (os cassetetes). As imagens rememoram a repressão e os confrontos que ocorrem em muitas manifestações. Olhando o trabalho mais de perto, veem-se, no entanto, características que o situam mais em uma circunstância do que em outra: aqui os manifestantes portam faixas e cartazes e têm um líder, o que era característico das manifestações da época, mas o foi menos nas de 2013, em que as cartolinas e a ausência de líderes dominaram a cena. Um líder grita “viva as liberdades democráticas” – palavra de ordem típica das lutas contra ditaduras. Em primeiro plano, está um grupo de policiais, reconhecíveis pelos uniformes, escudos e cassetetes, mas, principalmente, por seu “corpo” de brutamontes, representando força e truculência, nitidamente em contraste com os corpos “normais” dos manifestantes. No segundo quadro, os policiais parecem estar em movimento – de ataque aos manifestantes? - quando são surpreendidos por um gripo de “viva” vindo de um deles. Este fato inesperado confere caráter humorístico ao trabalho (a surpresa desta fala é a técnica explorada) e, ao mesmo tempo, em outra chave, não necessariamente excludente, revela contradições sociais: de onde menos se espera, sai um gripo de apoio aos manifestantes. Assim, o trabalho é ambíguo, o que é uma virtude. Poderia ser mera denúncia da repressão, comportando uma só voz – como o são muitos trabalhos. Mas o fato vir de um policial “truculento” o mesmo grito dos manifestantes sugere que aquilo que vemos em bloco, em preto e branco, pode ser mais bem avaliado se visto de forma menos simplificada, eventualmente menos simplória. Trata-se de ficção, claro. Mas ajuda a ver as coisas como elas são: o policial que confessa que seu apoio aos manifestantes “escapou” revela outra posição, outro discurso, que ele (qualquer um) não poderia externar, mas que não controla totalmente. A arte imita a vida... Dr.Sírio Possenti Professor do IEL/Unicamp

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Rodrigo Rosa 102

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COMO NA CHINA O autor, Rodrigo Rosa, retrata nesse cartum, como ele mesmo diz, “a inocência e a necessidade de um centavo que seja”. Rosa não encara a imagem ou a situação como uma crítica a qualquer governo ou poder absoluto imposto a um miserável, mas a imagem nos leva a pensar e a refletir sobre uma realidade hoje vivida nas periferias, e visualizada pelo autor há mais de uma década, 1999. Hoje, nessa imagem vemos como rotina no nosso dia a dia e talvez nos é encarada com naturalidade, até nos incomoda, mas a vida segue e outros assuntos ou problemas nos são mais pertinentes ou importantes. Outras coisas nos abalam mais do que um blindado e uma tropa marchando em direção à alguém que represente perigo, ou contra um protesto de civis com pedras e máscaras, em busca de algo que nem eles mesmos sabem o que. A desigualdade, a falta de um tênis de marca ou um celular “da hora”? Filhos do passado, órfãos do presente, futuro... Então nem sei onde tem, talvez na escola? Com certeza nela, na educação, no respeito pelo próximo e na dignidade. No meu endereço, com um mínimo de conforto, alegria e sem medo de violência alguma. Como cobrar de uma fração de deseducados se não deram a eles o direito de pedir licença para entrar numa sala de aula? Como cobrar de cidadãos boas maneiras e honestidade, se quem faz as leis só enxerga apenas os próprios umbigos, e as vezes nem isso por conta da barriga grande pelo rei que vive dentro dela? Vem bem no momento em que “comemoramos”, se dá pra usar esse verbo, os 50 anos do “verde oliva” que manchou o país de vermelho. Torturou, matou, comprou ideias, proibiu vontades. O menino do cartum é, na verdade, a nossa vontade de apenas cuidar em troca de uma moeda, a alegria e a vida! Ude Valentini Editora do Jornal de Piracicaba

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Ubiratan Nazareno Borges 104

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ENLAMEADOS Ubiratan Nazareno Borges Porto, ou simplesmente, ‘Biratan’ é um icônico desenhista que, além de desenvolver um belíssimo trabalho em diversos jornais do Brasil, ainda batalha pelo reconhecimento da arte que tem como ofício, desenvolvendo uma tarefa louvável à frente do Salão Internacional do Humor da Amazônia. Com diversas produções em charge, caricatura, cartum e tiras, acumula premiações nacionais e internacionais. Inclusive, foi vencedor do Salão Internacional do Humor de Piracicaba (SIHP) no ano de 1989, mesma época em que enriqueceu as páginas d’O Pasquim com seus trabalhos. Em 1993 também viria a conquistar nova premiação no SIHP. Nesta charge que conquistou o segundo lugar na 27ª edição do SIHP, em 2000, o artista conseguiu com primazia e inteligência – características de quase todos os seus trabalhos – eternizar fatos ocorridos naquele ano, mais especificamente quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso enfrentou turbulências com diversas denúncias de corrupção no seu Governo, dentre elas, a da construção do prédio do Tribunal Regional do Trabalho. A denúncia trouxe à tona um enorme esquema de desvio, liderado pelo então juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau. Atemporal tanto na forma quanto no conteúdo, o desenho do autor ainda poderia ilustrar muitas tragédias políticas que continuam acontecendo no Brasil, com um Planalto e políticos repletos de ‘sujeira’ e com colarinhos brancos. Definitivamente, um trabalho de gênio observador e crítico que fez de seus traços uma forma de protesto. Vivian Guilherme Jornalista no Grupo JC de Comunicação, de Rio Claro (SP) e produtora cultural.

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SOBRE OS AUTORES Adolpho Queiroz é publicitário formado pela UNIMEP, mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília, Doutor em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, pós doutor em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense/RJ; ex-presidente da INTERCOM, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e da POLITICOM, Sociedade Brasileira dos Pesquisadores de Comunicação e Marketing Político. É professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É um dos fundadores e atual Presidente do Conselho Consultivo do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Evaldo Augusto V icente, jornalista profissional, é diretor dos jornais A Tribuna (Piracicaba, São Pedro e Rio das Pedras), graduado em História e Geografia pela Faculdade de Ciências e Letras e Tupã-SP, pós graduado (Antropologia da Comunicação) pela Fundação Cásper Líbero-São Paulo-SP. Foi presidente da Associação de Jornais do Interior do Estado de São Paulo (Adjori-SP), é vice-presidente do Sindijori-SP (Sindicato dos Proprietários de Jornais e Revistas do Estado de São Paulo), de cujas Diretorias participa há mais de 30 anos. É o presidente da Comissão Organizadora do 41º Salão Internacional de Humor de Piracicaba-SP Letícia Hernandez Ciasi é aluna do 7º semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP. Ex-bolsista do projeto IPEA/ SOCICOM. Trainee de Social Mídia da Digital Industry/SP. Co-autora do livro "Balas não matam ideias", sobre os 40 anos do Salão de Humor de Piracicaba. Erasmo Spadotto, autor da capa e das caricaturas dos autores, é chargista do "Jornal de Piracicaba", ex vicepresidente do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, autor do livro "Capivaras", lançado pela CEDHU/SEMAC em 2013. Caricatura de Erasmo por Eduardo Grosso. Autores: Dr.Adolpho Queiroz(Universidade Presbiteriana Mackenzie), Amanda Dutra Ramos(Câmara dos Deputados, Brasília e Jornal de São Luiz/MA),Amanda Queiroz( jornal Metro, São Paulo),Ana Camila França de Negri (Curso de jornalismo/UNIMEP), Ana Maria Cordenonsi (Curso de Jornalismo/UNIMEP), Andrea Mesquita (editora de cultura do jornal O Liberal, Americana), Angela Furlan (secretária de redação do jornal A Gazeta/Piracicaba), Carlos Eduardo Gaiad ( Diretor de Comunicação da Câmara dos Vereadores de Piracicaba),Dr.Antonio Hélio Junqueira (ESPM e ECA/USP);César Augusto Dassiê ( Rede Globo/SP), Claudia Ascensio ( assessora de imprensa e jornal O Estado de S.Paulo ), Cristiano Vieira (editor de cultura do Jornal do Comércio, Porto Alegre/RS), Daniela Rocha ( coordenadora do curso de comunicação social do ISCA/Limeira),Danilo Fernandes (editor de cultura da rádio Educativa de Campinas), Edson Rontani Jr (diretor da ERJ Comunicações, Piracicaba), Eleni Destro (repórter especial de cultura do jornal A Gazeta/Piracicaba), Erick Tedesco (editor de cultura do jornal A Tribuna/Piracicaba) , Evaldo Augusto Vicente (Tribuna Piracicabana), Fausto Longo (Senador ítalo brasileiro),Felipe A. Rodrigues(repórter de cultura do jornal A Gazeta/Piracicaba), Gabriel Ferrato dos Santos (Prefeito Municipal de Piracicaba) , Hubert Alqueres ( professor, ex diretor da Imprensa Oficial do Estado de S.Paulo, colaborador do Observatório da Imprensa), Isabel Orestes Silveira (Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP),Ivo Pegoraro (Jornal de Beltrão/PR), Jairo Meireles de Matos ( diretor da Rádio Educadora/Jovem Pan, Piracicaba), Dra. Jociene Bianchin ( editora de cultura do Jornal de Votuporanga),José Occhiuso ( SBT, Brasília), José Pedro Soares Martins (Assessoria de Imprensa da Arcelor Mittal/Campinas), Jota Silvestre ( editor do blog Papo de Quadrinho/SP, Laura Alves Martirani ( ESALQ - USP/Piracicaba),Leticia Hernandez Ciasi (Universidade Presbiteriana Mackenzie), Luci Rodrigues (A Crítica, Manaus),Luiz Antonio Lopes Fagundes (ex-integrante do Conselho Consultivo do Salão de Humor, Marcio Pissocaro (Rede Globo/Rio de Janeiro), Marta Torrezan (Assessoria de imprensa e Planejamento do SEBRAE, Cuiabá/MT), Michel Toronaga (editor de cultura do Jornal de Brasília), ) Dra. Patricia Polacow(Jornal de Piracicaba), Rafael Bittencourt ( assessor de imprensa e cultura da SEMAC/ Piracicaba),Ricardo Viveiros (jornalista e membro do Conselho Consultivo do Salão de humor) Rodrigo Alves da Silva (Assessor de Imprensa da Câmara Municipal de Piracicaba), Dra. Rosana B. Zaccaria ( Curso de Publicidade/UNIMEP, Piracicaba) , Rosangela Rizolo Camolese (Secretária de Ação Cultural, Piracicaba), Dra. Rose Bars (Curso de jornalismo/PUC-Campinas e UNIMEP), Renato Ferrante (sociólogo, diretor a agencia de comunicação Três Gatos/Piracicaba), Roger Leria, (jornal Zero Hora, Porto Alegre/RS), Rubens Vitti (editor de cultura do Jornal de Piracicaba), Dr.SirioPossenti (IEL/Unicamp, Roger Lerina (Zero Hora,Porto Alegre -RS), Ude Valentini (diretora de redação o Jornal de Piracicaba), Vivian Guilherme (editora de cultura do jornal A Cidade, Rio Claro/SP),Zélio Alves Pinto (artista plástico e membro do Conselho Consultivo do Salão de Humor).

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Centro Nacional de Documentação, Pesquisa e Divulgação do Humor, CEDHU Avenida Maurice Allain, 454, V ila Resende, Piracicaba/SP Telefones: (019) 3403-2615/3403-2620/3403-2621 E-mail: contato@salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br GABRIEL FERRATO DOS SANTOS - Prefeito Municipal de Piracicaba ROSANGELA RIZZOLO CAMOLESE –Secretária de Ação Cultural CONSELHO TÉCNICO CONSULTIVO (2013/2016) Adolpho Queiroz, presidente; Alcy Linares Deamo; Álvaro de Moya; Carlos Marcos Colonnese; Ricardo V iveiros; Rosangela Rizzolo Camolese; Zélio Alves Pinto. COMISSÃO ORGANIZADORA DO 41o SALÃO INTERNACIONAL DE HUMOR/2014 Evaldo V icente, Rosângela Camolese, Carlos Eduardo Gaiad, Cristiano Carboni de Campos, Dermival da Silva Pinto, Edson Rontani Junior, Edu Grosso, Eliane Sabino, Felipe Rodrigues, Jairo Meireles de Matos, José de Arimatéia Silva Júnior, José Pedro Soares Martins, Maria Teresa Carnio Coletti, Romualdo Cruz Filho, Rubens V itti Junior, Valéria Vergal Maluf EQUIPE DO CEDHU Carolina Ferraz Perencin (Escriturária); Cristiano Carboni de Campos (Escriturário); Edu Grosso (Produtor Gráfico), José de Arimatéia Silva Júnior (programador cultural); Maria do Socorro L. Ramalho (Agente Cultural); Valéria Vergal Maluf (Assessora de Marketing). ASSESSORIA ESPECIAL: Rose dos Anjos Caxará de Forfe, a opinião dos especialistas sobre trabalhos vencedores do Salão Internacional de Humor de Piracicaba Organizadores: Adolpho Queiroz, Evaldo V icente e Letícia Hernandez Ciasi Projeto gráfico e editoração eletrônica – J.R. Alves Imagens: Arquivos do CEDHU Piracicaba

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