Livro Piracartum

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espaço para as manifestações dos nossos artistas gráficos. Que este livro venha a enriquecer a bibliografia que vimos construindo nos últimos anos sobre o Salão de Humor.

ISBN 978-85-53156-14-6

NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

Este livro foi possível graças ao Fundo de Apoio à Cultura - FAC da Secretaria Municipal de Ação Cultural e Turismo de Piracicaba e do Conselho Municipal de Cultura - COMCULT, organismos ligados à Prefeitura do Município de Piracicaba. Expressamos nossa gratidão aos cartunistas e ilustradores envolvidos neste projeto, bem como aos jornalistas e pesquisadores brasileiros, que se AGRADECIMENTOS AOS APOIADORES dispuseram a colaborar conosco na elaboração deste livro. Depois de 45 anos de existência do Salão Internacional Humor Este livro foi possível graças ao de Fundo de Apoiode à Cultura - FAC da Secretaria Municipalgerações de Ação Cultural de Piracicaba Piracicaba, uma justa homenagem às várias dee Turismo artistas do e do Conselho Municipal de Cultura - COMCULT, organismos ligados à Prefeitura do cartum, da charge, das caricaturas, Município dos quadrinhos de Piracicaba. e das ilustrações que Expressamos nossa gratidão aos cartunistas e ilustradores envolvidos precederam o nosso Salão ou foram por ele estimulados. neste projeto, bem como aos jornalistas e pesquisadores brasileiros, que se Nossa homenagem igualmente aos jornais e conosco revistas impressas da dispuseram a colaborar na elaboração deste livro. de 45 anos de este existência do Salãoabrindo Internacional de Humor de cidade de Piracicaba, que desde sempreDepois prestigiaram campo, Piracicaba, uma justa homenagem às várias gerações de artistas do espaço para as manifestações dos nossos artistas gráficos. cartum, da charge, das caricaturas, dos quadrinhos e das ilustrações que precederam o nosso Salãoque ou foram por ele estimulados. Que este livro venha a enriquecer a bibliografia vimos construinNossa homenagem igualmente aos jornais e revistas impressas da do nos últimos anos sobre o Salão de Humor. cidade de Piracicaba, que desde sempre prestigiaram este campo, abrindo

HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS HOMENAGEM EPIRACICABA ILUSTRADORES A 32 CARTUNISTAS E ILUSTRADORES DE DE NOS 45 ANOS DO PIRACICABA SALÃO DE HUMOR

AGRADECIMENTOS AOS APOIADORES

CARTUM CARTUM — 1ª edição —

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[ Projeto realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura ]

Coleção AHA de Humor Gráfico

Coleção AHA de Humor Gráfico

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HOMENAGEM A CARTUNISTAS E ILUSTRADORES DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

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HOMENAGEM A CARTUNISTAS E ILUSTRADORES DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR Organizadores: Adolpho QUEIROZ, Edson RONTANI Junior, Maria LUZIANO e Victor CORTE REAL

Coleção AHA de Humor Gráfico

Organizadores: Adolpho QUEIROZ, Edson RONTANI Junior, Maria LUZIANO e Victor CORTE REAL

Coleção AHA de Humor Gráfico


Organizadores: Adolpho QUEIROZ, Edson RONTANI Junior, Maria LUZIANO e Victor CORTE REAL

Coleção AHA de Humor Gráfico


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PIRACARTUM

FICHA CATALOGRÁFICA QUEIROZ, Adolpho; RONTANI JR., Edson; LUZIANO, Maria e REAL, Victor Kraide Corte. PIRACARTUM, HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR, 1ª. Edição, 2018 – Piracicaba: Editora Nova Consciência, 82 páginas. ISBN 978-85-53156-14-6 1. Desenho, ilustração e charge. 2. Homenagem aos cartunistas de Piracicaba I. Título CDD 741.5 Ficha Técnica da produção do livro Capa: Caricaturas de Érico San Juan, criação de Maria Luziano Diagramação: Edson Figueroa Revisão: Adolpho Queiroz Edição: Nova Consciência Tiragem: 500 exemplares


HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

AHA – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba Presidente de Honra: Zélio Alves Pinto Presidente: Adolpho Queiroz Vice-Presidente: Edson Rontani Junior Secretaria: Sonia Regina Ferraz Costa Diretora Artística: Maria Luziano Diretora Cultural: Jussara Neptune Herrmann Diretor de Projetos: Victor Kraide Corte Real Diretora Administrativa: Ana Camila França de Negri Kantowitz Diretora de Relações Internacionais: Sara Rodrigues Pinotti Tesoureiro: Milton Pelai Conselho Fiscal: Adolpho Carlos Sokolowski Queiroz, Christian Cesar Righeto e Leonardo Longo

Supervisão Fiscal e Contábil: Ejetec Piracicaba Assessoria de imprensa: Luiz Carlos da Silva Filho Assessoria Jurídica: Dr. Mauro Rontani Conselho Editorial da Coleção AHA de Humor Gráfico Presidente: Dr. Celso Figueiredo Neto Membros: Dra. Adriana Omena, Universidade Federal de Uberlândia; Dr. Camilo Riani, UNIMEP; Dra. Cláudia Setti de Gouvea Franco, São Paulo; Dra. Débora Tavares, Universidade Federal de Mato Grosso; Evaldo Vicente, Editor do jornal Tribuna Piracicabana; Joacir Cury, Editor do jornal Gazeta de Piracicaba; José Occhiuso, diretor nacional de jornalismo do SBT; Dra. Nahara Mackovics, Faculdade de Comunicação de Guaxupé/MG; Dra. Patrícia Polacow, UNIMEP; Dra. Rose Vidal, Universidade Estácio de Sá, ES; Dr. Victor Kraide Corte Real, PUC/Campinas.

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PIRACARTUM

SUMÁRIO Apresentação .............................................................. 5

Sergio Moreira ...................................................... 42

Evaldo Vicente, Conselho Editorial da AHA

por Claudia Assencio

Prefácio ......................................................................... 6

Daniel Ponciano .................................................. 44

Paulo Caruso, presidente da Comissão Organizadora do 45º Salão

Antecedentes e história da imprensa local ................................................... 7 Adolpho Queiroz

Renato Wagner, Revista Mirante ............ 14

por Cecílio Elias Neto

José Ignácio Coelho Mendes, A Noite ..... 16

por José Ignácio Coelho Mendes Neto

Edson Rontani, O Diário e Jornal de Piracicaba ........................................... 18

por Ana Camila França de Negri Kantowitz

Derli Barroso .............................................................. 20

por Gustavo Jacques Dias Alvim

Bonifácio Placeres Jr. Peninha, Jornal do Povo Piracicabano ............................................... 22

por Paulo Markun

Rudinei Bassete, Jornal de Piracicaba e Aldeia ........................................................................... 24

por Edson Rontani Jr

Andrei Bressan ......................................................... 26

por Rafael Bitencourt

Érico San Juan, Jornal de Piracicaba .... 28

por Rose Vidal

Eduardo Caldari .................................................. 46 por José Occhiuso

Lucas Leibholz ..................................................... 48 por Celso Figueiredo

Luccas Longo ........................................................ 50 por Marcelo Basso

Camilo Riani, Salão de Humor da UNIMEP ............................................................... 52 por Luis Carlos da Silva Filho

Luciano Veronezi, Gazeta de Piracicaba ......................................................... 54

por Joacir Curi

Fábio San Juan .................................................... 56 por Romualdo da Cruz Filho

William Hussar .................................................... 58 por Débora Tavares

Marcelo Maiolo .................................................... 60

por Victor Kraide Corte Real

Rafael De Latorre ............................................... 62

por Nahara Makovics

Danilo Angeli ......................................................... 64

por Adolpho Queiroz

por Danilo Angeli

Lancast Mota, O Diário ...................................... 30

Amauri Ribeiro ..................................................... 66

por Lancast Mota

Fausto Longo, O Diário ...................................... 32

por Ricardo Viveiros

Eduardo Grosso, Jornal de Piracicaba .... 34

por Romualdo da Cruz Filho

Douglas Mayer, O Diário/A Província .... 36

por Cecílio Elias Neto

Maria Luziano, Jornal de Piracicaba ....... 38

por Maurici Scarpari

Marcos Nozella Gil ............................................ 68

por Mariana Valadares

Vinicius Vello ......................................................... 70

por Rafael Bitencourt

Fernando Cazo, Jornal de Piracicaba .... 72

por Sabrina Franzol

Cassio de Negri .................................................... 74

por Patricia Ozores Polacow

por Ana Camila França de Negri Kantowitz

Luiz Marangoni, a Tribuna Piracicabana ............................................................... 40

Erasmo Spadotto, Jornal de Piracicaba ........................................................ 76

por Luiz Tarantini

por Rodrigo Alves


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HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

APRESENTAÇÃO

PIRACARTUM, RESGATE NECESSÁRIO DE 32 ARTISTAS Evaldo Vicente

Há de tudo numa orquestra bem afinada, que lhe dá a certeza da qualidade. Violinistas, flautistas, pianistas, clarinetistas, harpistas... cartunistas. Epa, escapou, sem querer. Cartunistas são artistas de outra dimensão, são os nossos filósofos do traço, astrônomos que enxergam as luzes antes dos outros, sensitivos que nos fazem ver as coisas antes dos acontecimentos, músicos da alma. O mito Malba Tahan, com seus escritos sobre histórias matemáticas, poderia nos explicar sobre a sonoridade através da matemática, tema que conhecia, amava e traduzia com rara criatividade. Ela poderia sugerir que uma orquestra se forma com dez, com cem, com mil músicos. Mas talvez não pudesse controlar o bom humor de um cartunista que desenharia a caricatura de um músico com olhos esbugalhados ou instrumentos retorcidos. Nem orquestras, nem cartunistas, nem contadores de histórias, contudo, prescindiriam de bons maestros e arranjadores. E aí é que vem o mérito dos professores Adolpho Queiroz e Victor Kraide Corte Real, aliados ao jornalista Edson Rontani Junior e à design gráfica Maria Luziano, na tarefa “maestra”, de construir uma verdadeira orquestra de talentos neste livro “Piracartum”. Aliás, já belo pela raiz, que está no peixe. Convocaram os melhores cartunistas da cidade, cuja base é de peixe – ou foi de peixe – relembrando a velha guarda de – pioneiros e brilhantes – Edson Rontani, Renato Wagner, Derli Barroso e Jic Mendes, e passando pelos que figuraram nas páginas da imprensa local nos anos de 1970, desembocando na geração que cresceu e evoluiu participando do nosso Salão Internacional de Humor, agora nos 45 anos. E, para ajudá-los, conseguiram que jornalistas e pesquisadores de renome em universidades brasileiras montassem este capítulo importante de reconhecimento ao talento, à competência e à afinação ou desafinação desta turma de bem-sucedidos profissionais que a cidade de Piracicaba viu nascer, crescer e se consolidar profissionalmente ao longo destas várias décadas do nosso salão (ou templo!) de humor. A sinfonia pode não estar acabada ao longo destas páginas que registram antigos e jovens participantes

da tribo dos cartunistas de Piracicaba. Podem faltar alguns – como o velho Sávio Frota, que dormia entre os papéis da minha (e nossa) antiga” A Tribuna Piracicabana”, na rua Alferes José Caetano com a rua Voluntários de Piracicaba, por não ter onde ficar na cidade, mas que, com suas caricaturas, embelezava os estabelecimentos comerciais de Piracicaba nos anos de 1970. Por onde andarão os seus trabalhos? Em que parte desta música bem-humorada estará escondido o meu velho companheiro, amigo das madrugadas, Sávio Frota? E depois de ver o resultado dos quatro valentes da AHA (Associação dos Amigos do Salão de Humor) liderarem este projeto, vencedor com mérito do concurso público promovido pelo Fundo de Apoio à Cultura de Piracicaba, gerenciado com rigor pelo Conselho Municipal de Cultura, eis que temos, alinhados, 32 artistas que estão ou estiveram a construir a história do humor gráfico da terra da piracema, analisados por 28 jornalistas, nos gloriosos 45 anos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Não sei o que Malba Tahan – o professor Júlio Cesar de Melo e Souza, com quem tive a alegria da correspondência por indicação do saudoso João Chiarini – teria dito sobre os números 4, 32, 28, 45. Para mim, é possível traduzir tudo para o número 1 (um só): um bom livro, que enaltece o valor dos artistas piracicabanos do campo do humor gráfico. Aplausos, cheios de parabéns, aos envolvidos em mais esta ousada peleja editorial. Sempre maestros, bravo! Convido toda turma da barranca do nosso rio, toda capiauzada – e também os que daqui não são – para uma leitura crítica e ao mesmo tempo agradável da história do humor gráfico na cidade de Piracicaba, como se Sávio Frota estivesse ao nosso lado, tranquilo e sereno, nas velhas cadeiras do imponente Restaurante Brasserie, a Brasserie dos irmãos Lescovar, com a sua maleta preta a parecer que, para ele, algo vinha do além. Evaldo Vicente, jornalista, diretor do jornal A Tribuna Piracicabana, membro do Conselho Editorial da AHA (Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba)


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PREFÁCIO

ESTE TRABALHO É UM TESTE DE DNA - DATA DE NASCIMENTO ANTIGA Paulo Caruso, Presidente do 45° Salão Internacional de Humor de Piracicaba Quem acredita que o Salão Internacional de Humor é uma coisa “pro pessoal de fora” vai poder analisar e encontrar os responsáveis, diretos e indiretos, pelo evento que promove Piracicaba para o mundo como nenhum outro. A data de nascimento antiga (45 anos) da balzaquiana do humor, hoje uma matrona da melhor idade, coloca a questão sobre quem foram os responsáveis pela sua vinda ao mundo: os de fora ou os de dentro? Uma coisa fica clara: o humor reinante onde o peixe foi quem possibilitou a fecundação da “Noiva da Colina” para dar a luz a tão bem-dotado evento. Segundo levantamento minucioso, Adolpho Queiroz vai elencando artistas do século passado, que por aqui já reinavam em pasquins precursores do vibrante tabloide dos anos 1970. A escalação dessa seleção precursora vai da pasquinada de 1823 até os veteranos d’O Pasquim dos anos setenta do século passado. José Inácio Coelho Mendes – JIC – anos 1940, discípulo de Belmonte (Benedito Bastos Barreto, contemporâneo de J. Carlos), que publicava suas charges no jornal A Noite, e Edson Rontani, o criador, nos anos sessenta, de Nhô Quim, personagem oriundo da torcida fervorosa do XV de Piracicaba, publicado no Jornal de Piracicaba e no O Diário. Na sequência, os artistas elencados Peninha, Douglas Mayer, Erasmo Spadotto, Erico San Juan, Luciano Veronesi, Fausto Longo, Eduardo Grosso, Willian Hussar, Daniel Paisano, Eduardo Caldari, Camilo Riani, Lucas Leibholz, Maria Luziano, Marcos Nozela, Luis Fernando Cazo, Cássio de Negri, Fabio San Juan e Andrei Bressan merecem considerações de alguns contemporâneos seus, como Paulo Markun, José Occhiuso, entre outros piracicabanos ilustres. Aos amigos amados e amantes de Piracicaba, fica aqui meu brado retumbante: “— Toma que o filho é teu!”


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HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

ANTECEDENTES E HISTÓRIA DA IMPRENSA LOCAL Adolpho Queiroz

“Jornal é oposição, o resto é balcão de secos e molhados”, Millor Fernandes, O Pasquim, edição número 1, 26 de junho de 1969, página 7 Por inspiração do jornal “O Pasquim”, do Rio de Janeiro, de indiscutível influência no Brasil em tempos de ditadura militar após 1964, surgiu na cidade de Piracicaba, o Salão de Humor, uma empreitada de intelectuais e jornalistas, sob a liderança de Alceu Marozzi Righeto, Carlos Colonese e minha. Realizado no auge da ditadura militar, o Salão cresceu, tornou-se internacional a partir da sua primeira edição e hoje é prestigiado por artistas do humor gráfico de todo o mundo, tendo se tornado o mais antigo do mundo nesta especialidade, graças aos esforços de inúmeros colaboradores e, em especial, da Prefeitura de Piracicaba (antes sob a orientação da Coordenadoria de Turismo e hoje da Semactur, Secretaria Municipal de Ação Cultural e Turismo e do CEDHU, Centro Nacional de Pesquisa do Humor Gráfico de Piracicaba). Depois de participar intensamente dos primeiros salões, o cartunista e teatrólogo Millor Fernandes recebeu justa homenagem da cidade, com uma placa afixada no hall do teatro municipal “Losso Neto”. Mesmo sob inspiração externa e com a presença de centenas de artistas de vários países do mundo, a cidade de Piracicaba viu nascer e prosperar várias gerações de cartunistas que vivem ou viveram na cidade de Piracicaba, ora divulgados pela imprensa local ou mais recentemente, através da difusão pelas redes sociais em sites ou blogs especializados. E é para estes artistas da cidade, 32 dos quais pesquisados e nominados neste projeto, que se destina o livro que elaboramos e lançamos neste ano, como forma de preservar a memória de um dos campos pouco estudados ou preservados por todos nós, como o da memória destes profissionais que contribuíram enormemente para o êxito do Salão de Humor em suas várias etapas de existência.

Imprensa de Piracicaba: primórdios e questões contemporâneas A imprensa da cidade de Piracicaba foi durante muitos anos o único instrumento de difusão pública para os cartunistas nascidos ou que viveram na cidade. A luta da imprensa local, como instrumento permanente de discussão, opinião e questionamento sobre as questões políticas, sempre primou por atitudes para denunciar as mazelas sociais, econômicas, políticas e culturais e também, por oferecer espaço aos profissionais do humor gráfico nas suas páginas, através dos cartuns, caricaturas, charges e histórias em quadrinhos, que este livro pretende registrar. Uma das manifestações pioneiras da imprensa local ocorreu no período de 8 de março a 18 de abril de 1823, com a denominada “pasquinada”, um prenúncio talvez do papel que o semanário “O Pasquim" viria a ter sobre a história da cidade. Em artigo recentemente publicado pela revista do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, em artigo intitulado “Apontamentos sobre a história da imprensa de Piracicaba, da pasquinada do século XIX ao alvorecer do século XX”, sobre este mesmo assunto escrevi que: “Naquela ocasião, uma série de cinco pasquins manuscritos, apócrifos e distribuídos de mão em mão, denunciando a luta dos cidadãos comuns contra as forças políticas da então Vila Nova da Constituição, nome que se dava à cidade naqueles tempos, para ampliação da rua Boa Vista, atualmente denominada Alferes José Caetano, entre a rua do Concelho (com esta grafia original) atualmente rua Prudente de Moraes, até o salto do rio Piracicaba.” Esta série, que teria originado o primeiro crime de imprensa na cidade, está sob a guarda do Fórum “Fran-


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cisco Morato” e o quinto exemplar do pasquim publicado à época tinha por título “Hymno ao Pichorreiro e aos dois ferreiros”, era composto por 21 estrofes, entre as quais um estribilho que se repetia por sete vezes no hino provocativo: “Não vai adiante a nova rua que os intrigantes querem abrir. Cuida do barro oh! Pichorreiro que é de onde tiras dinheiro. E vós ferreiros da maldição vão malhar ferro e fazer carvão Ao pelourinho vão amarrados e ali todos sejam surrados”. A iniciativa de solicitar à Câmara de Vereadores o apoio para ampliar a rua, para tanto rompendo uma cerca feita pelos então proprietários da área, coube a um grupo de cidadãos, profissionais de ofícios comuns à época como ferreiros, ceramistas, carpinteiros. Estes cidadãos queriam não só expandir os seus negócios, como construir casas e alargar as fronteiras comerciais da cidade. A imprensa combativa, através dos pasquins, estava surgindo e influindo na vida da cidade. Origens do humor gráfico na imprensa local e regional O pioneiro do campo do humor gráfico foi um estudante de engenharia da Universidade Mackenzie em São Paulo, José Inácio Coelho Mendes, morador à rua Moraes Barros, entre a Alferes e Rosário, que em 1940 começou a publicar os seus cartuns para conseguir algum dinheiro extra no jornal “A Noite” de São Paulo. Dele tivemos notícia recentemente quando o Salão lhe prestou uma homenagem no ano de 2013. Depois dele, surgiu outra importante no humor gráfico da cidade, o cartunista Edson Rontani, criador de uma escola de desenho nos anos 1950 e do primeiro fanzine no Brasil, 1967, criador do personagem Nhô Quim, com o qual ilustrava derrotas e vitórias do XV de Novembro, time de futebol da cidade e que colaborou com os principais jornais da cidade naquele período, criando suplementos infantis e intervindo com seu trabalho na política local, através do Jornal de Piracicaba e O Diário, entre outros. Uma terceira referência para o campo é o pintor e artista Renato Wagner, que, no ano de 1957, criou a re-

vista “Mirante”. Tendo trabalhado em agências de publicidade na cidade de São Paulo enquanto estudante, ao aportar a Piracicaba novamente, trouxe ideias inovadoras para a imprensa local e com suas caricaturas de políticos da época, fez sucesso como editor, cartunista, pintor e mais recentemente teve uma avenida com seu nome criada na cidade de Piracicaba. JIC Mendes JIC Mendes, como costumava assinar seus trabalhos, foi morar na capital paulista na década de 1940 para estudar engenharia, e começou a desenhar para ajudar no seu sustento. A carreira de artista gráfico durou pouco – hoje JIC é um engenheiro piracicabano –, mas foi intensa. A exposição é resultado de um minucioso resgate que seu neto, José Inácio Mendes Coelho Neto, realizou no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Na mostra destacam-se as colaborações do artista para o extinto jornal “A Noite” durante a década de 40. São cartuns e charges que retratam bem a rotina paulistana, além de criticar ou questionar acontecimentos políticos do Brasil e do mundo.


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HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

Edson Rontani Embora fosse professor, contador e advogado por formação, Edson nunca exerceu nenhuma das profissões, foi chargista, caricaturista, artista plástico, radialista. Na década de 1950 fundou uma escola de desenho, criou o primeiro fanzine sobre histórias em quadrinhos que recebeu nome de “Ficção” (Boletim do Intercâmbio Ciência-Ficção Alex Raymond), editado em 1965 na cidade de Piracicaba. O fanzine era composto por textos informativos e uma lista de produções brasileiras de quadrinhos desde 1905. Na época, produções independentes e manufaturadas como esta não eram denominadas fanzines, tanto que o Ficção foi lançado com o nome de boletim informativo para amantes das histórias em quadrinhos. Rontani catalogou nas edições deste fanzine tudo o que era de seu conhecimento, pois até esta época não havia sequer um levantamento das revistas em quadrinhos publicadas ou quais editoras foram fundadas no país. Como colecionava revistas desde sua infância, ele as estudava e guardava dados históricos para dividir com outros colecionadores estes conhecimentos. O fanzine possuía uma tiragem de 600 exemplares, e entre seus leitores estavam José Mojica Marins (o Zé do Caixão), Gedeone Malagola, Adolfo Aizen, Mauricio de Sousa, Jô Soares e Lyrio Aragão. Trabalhou em jornais e fez capas para as revistas

Batman e Superman da EBAL. Rontani era um colecionador de quadrinhos chegando a passar por suas mãos mais de 170 mil exemplares de histórias em quadrinhos. Possuiu juntos ao mesmo tempo cerca de 74 mil exemplares. Foi desenhista artístico e lecionava desenho em seu Institute Orbis, situado no centro de Piracicaba. Sua memória é perpetuada até hoje pelo Jornal de Piracicaba com a publicação semanal da coluna “Você Sabia?” que ele editou de 1982 a 1997, ano em que faleceu. A coluna foi reeditada pelo Jornal de Piracicaba de 2002 a 2009, através de seu filho Edson Rontani Júnior. Aposentou-se como desenhista técnico da Secretaria Estadual de Agricultura. Faleceu em Piracicaba em 1997. Renato Wagner Renato Wagner ilustrou com caricaturas as eleições de 1962 – para governador de Estado, Assembleia Legislativa e Congresso Nacional –; foram as últimas antes da ditadura militar. No ano de 1961, havia grande efervescência política também em Piracicaba, com muitas especulações a respeito dos possíveis candidatos. Com seus traços inconfundíveis, Renato Wagner registrou, em caricatura, personalidades sobre cujas candidaturas se cogitava.


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Abaixo a caricatura do ex-prefeito Francisco Salgot Castillon.

Nos anos 70, a imprensa local conheceu a ampliação das suas tendências editoriais com a chegada de publicações alternativas, como o “Jornal do Povo Piracicabano”, com as charges de Peninha (Bonifácio Placeres Junior); a revista “Aldeia”, idealizada pelo mesmo grupo de jornalistas que fundou o Salão de Humor e que pretendia ser “O Pasquim” piracicabano, tendo publicado em suas capas o humor gráfico de Zélio, Laerte, Chico Caruso e outros cartunistas importantes. Com a moda do jornal tamanho tabloide idealizado pelo “Pasquim”, também os jornais tradicionais como o Jornal de Piracicaba e o Diário lançaram suplementos dominicais de cultura, para os quais foram abertas oportunidades de trabalho para novos cartunistas da cidade, como Rudinei Bassete, Eduardo Caldari, entre outros. Depois destas experiências surgiu “A Província”, sob

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a liderança editorial do jornalista Cecílio Elias Neto, com as ilustrações de Douglas Mayer, que se destacou igualmente com premiações e trabalhos selecionados para o Salão de Humor. A partir dos anos 90, e por 25 anos, os leitores do “Jornal de Piracicaba” divertiram-se com as críticas bem humoradas do cartunista nascido em Santa Maria da Serra, Erasmo Spadotto, ilustrando a página de opinião do jornal e participando de outros momentos da edição conforme os destaques do dia, no esporte, cultura ou noticiário local. E com as histórias em quadrinhos do personagem “Dito, o Bendito”, de Érico San Juan, hoje também completando 25 anos de trajetória profissional no campo do humor gráfico da cidade. Simultaneamente o jornal “A Gazeta de Piracicaba” passa a publicar charges do são-pedrense Luciano Veronezi, hoje atuando profissionalmente na cidade de São Paulo, mas enviando seus trabalhos diariamente para Piracicaba. Outra figura de destaque neste cenário é o cartunista e hoje deputado pelo Partido Democrático da Itália, Fausto Longo, que colabora com o Salão de Humor desde a sua origem e lançou recentemente o livro “Fala Guardanapo”, com ilustrações que tem feito no período em que foi senador e agora deputado ítalo brasileiro. Seu filho Luccas Longo também compõe o rol dos homenageados, tendo sido um dos vencedores do Salão de Humor. Nascidos no Salão de Humor Além destes artistas acima citados, em função da presença do Salão de Humor em nossa cidade acabou abrindo espaço para muitos outros cartunistas locais que interagindo com a imprensa local, avançaram para blogs, sites, produção de livros, ensino e discussão sobre o campo do humor gráfico em outras plataformas e cenários. Este projeto pretende também homenagear os artistas locais: Eduardo Grosso, Maria Luziano, Willian Hussar, Daniel Ponciano, Eduardo Caldari, Camilo Riani, Rafael de Latorre, Fausto Longo, Marcos Nozela, Marcelo Maiolo, Lancast Mota (O Diário), o novo cartunista do Jornal de Piracicaba, Luiz Fernando Cazo, Camilo Negri, Luiz Marangoni, entre outros, num total


HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

de 32 elencados, que foram convidados a colaborar conosco, enviando seus desenhos para este livro. Se o jornalismo impresso diminuiu o espaço para as publicações, novos espaços foram criados na cidade entre blogs e sites especializados em cultura e esportes, especialmente, que passaram a difundir as obras dos artistas locais. Acrescente-se a isso o fato de que os ilustradores Rafael de Latorre, Marcelo Maiolo e Andrei Bressan atingiram um estágio especial ao trabalharem com histórias em quadrinhos e cartuns para o grupo internacional Marvel Comics, o que lhes rendeu notoriedade não só na cidade, mas entre leitores de todo o mundo. Vale ressaltar que entre os anos 2003 a 2017, a Secretaria Municipal de Ação Cultural (a partir de 2017, Semactur, Secretaria Municipal de Ação Cultural e Turismo), passou a ter um importante papel, a partir de diálogo com o Conselho Consultivo do Salão de Humor de Piracicaba, e abriu oportunidades para que fossem recuperadas parcelas importantes da história do humor gráfico gerada pelo próprio Salão e por suas conexões com a cidade de Piracicaba. Recuperadas através dos catálogos tradicionalmente impressos, com os trabalhos selecionados e premiados nos Salões, difundidos em edições impressas e digitais, este movimento ajudou a ampliar a compreensão sobre a presença de artistas nacionais e internacionais no Salão. E mais do que isso, começou a valorizar os artistas da cidade. No primeiro livro, de 2003, sob a coordenação do cartunista Paulo Caruso eram 15, “os XV de Piracicaba”, numa analogia ao time de futebol bastante conhecido da cidade. Neste projeto, “os XV” foram ampliados para 32 autores, agregando alguns pioneiros que eram desconhecidos na época (como Renato Wagner e JIC Mendes) e ampliando para os contemporâneos, que foram se destacando durante a trajetória do Salão. A hoje denominada Semactur, abriu espaços, por exemplo, para que conhecêssemos mais de perto um dos ícones mais fortes e representativos do humor gráfico local, através do personagem “Nhô Quim”, que simboliza o time do E.C.XV de Novembro de Piracicaba, criado nos anos de 1960 por um dos pioneiros, Edson Rontani e só transformado em livro por ação e obra de seu filho Edson Rontani Junior em 2013. Depois dele, coube também a Semactur prestigiar

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dois outros cartunistas que atuam/atuaram na cidade, como Erasmo Spadotto, hoje presidente do Salão e que por 25 anos foi cartunista do “Jornal de Piracicaba” e Luciano Veronezi, que há anos pratica suas ações bem humoradas nas páginas do jornal “Gazeta de Piracicaba”. Foi nesse período também que, com uma mostra paralela durante o Salão, foi prestada homenagem a um pioneiro desconhecido pela cidade, José Inácio Coelho Mendes, que atuou no jornal paulistano “A Noite”, nos anos de 1940, enquanto estudava engenharia na Universidade Mackenzie em São Paulo. E outra contribuição importante da Semactur foi o lançamento em 2016, do livro “Quando tudo começou, o primeiro Salão de Humor do Brasil”, um livro que ajudei a coordenar em parceria com professores da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, e de Fernando Coelho, que realizou o primeiro salão de humor do Brasil em 1973, um ano antes do Salão nascido em Piracicaba em 1974, e que chega em 2018 à sua 45ª Edição, tornando-se o mais antigo e prestigiado Salão do mundo. Este livro recebeu em 2017 o Troféu HQMIX, um dos mais prestigiados do país, o “Oscar” dos quadrinhos, na categoria livro teórico. Além da Semactur, vale registrar também as ações recentes da AHA, criada em 2016 e que já lançou dois livros, recuperando outras parcelas da memória do humor local. Um deles intitulado “Batom, lápis e TPM”, uma dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal de São João del Rey pela piracicabana Camila Lellis e transformada no primeiro título da coleção AHA de humor gráfica. E o segundo deles, lançado em 2017, “Um incêndio na lógica, os 25 anos do Salão Universitário de Humor da Unimep”, de Luiz Carlos da Silva Filho e Mauro Adâmoli, que foi lançado com o apoio da editora da Unimep. Desse movimento nasce uma bibliografia importante a ser ressaltada, conhecida e consultada pela cidade de Piracicaba e por pesquisadores brasileiros e estrangeiros sobre as contribuições de Piracicaba para a evolução do campo do humor gráfico. Uma cidade que além do Salão Internacional, possui um Salão Universitário promovido pela Unimep; realiza inúmeras mostras paralelas anualmente, em vários locais da cidade, como universidades, centros culturais, hospitais, escolas, no fórum local, shopping


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center, entre outros espaços públicos como a rodoviária intermunicipal, a Casa do Povoador, Esalq, entre outros. Creio, finalizando, que ao apresentar o livro “Piracartum, homenagem aos cartunistas de Piracicaba nos 45 anos do Salão de Humor”, ao lado do jornalista Edson Rontani Junior; do publicitário Victor Kraide Corte Real e da designer gráfica, Maria Luziano, estamos nos propondo a ajudar a construir um resgate merecido e necessário à memória dos cartunistas de Piracicaba, que trabalhando na imprensa local ou difundindo sua arte através do universo digital, contribuem para consolidar o município de Piracicaba como uma referência importante no campo do humor gráfico mundial. E que desde a pasquinada de 1823, com os manuscritos de protesto pela abertura de uma nova rua na cidade – o primeiro indício que se tem sobre as origens da imprensa local –, ao jornal “O Pasquim”, que inspirou a criação do Salão de Humor a partir de 1969, passando pela criação de jornais importantes que circulam e circularam na cidade como o Jornal de Piracicaba, O Diário, A Província, Aldeia, Folha de Piracicaba, A Gazeta de Piracicaba, a Tribuna de Piracicaba, entre outros, a luta do jornalismo local para a defesa dos princípios democráticos, da ética e das causas locais, teve desde os anos de 1940, a contribuição decisiva e importante dos cartunistas que pretendemos homenagear com mais este livro/ capítulo sobre as origens e o significado do humor gráfico e da imprensa em favor do desenvolvimento da cultura na cidade de Piracicaba. BIBLIOGRAFIA CARUSO, Paulo. Piracicaba, 30 anos de humor. Im-

prensa Oficial, Governo do Estado de São Paulo, 232 páginas, São Paulo, 2003. _______ Os XV de Piracicaba, Imprensa Oficial, Governo do Estado de São Paulo, IMAG, 106 páginas 2003. COELHO MENDES, José Inácio Neto. A trajetória de JIC Mendes, Editora do SESI, 80 páginas, São Paulo, 2018. HUSSAR, Willian. Ratos do salão, Editora Edusp, ComArt, 50 páginas, São Paulo, 2010, RIANI, Camilo, Cê tá rindo de que, um mergulho nos Salões de Humor de Piracicaba, Editora da Unimep, 96 páginas, Piracicaba, 2002. QUEIROZ, Adolpho. Apontamentos sobre a história da imprensa em Piracicaba, da pasquinada do século XIX ao alvorecer do século XX, Revisa do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba número 22, 2015, páginas 11 a 25, Piracicaba, 2016. ------------ História do I Salão Brasileiro de Humor e Quadrinhos, Prefeitura de Piracicaba, Semactur/Cedhu, Gráfica Eirele, Presidente Prudente, 150 páginas, 2016. ------------- A trajetória do Jornal de Piracicaba, 1900 - 1997, tese de doutorado defendida na Universidade Metodista de São Paulo, março de 1998. RONTANI JUNIOR, Edson. A história que eu conheço. Edição da Secretaria Municipal de Cultura, Gráfica Rio-pedrense, Rio das Pedras, 90 páginas, 2013. SAN JUAN, Érico. 25 anos de história, volumes I, II, III, IV, edição do autor, 20 páginas, Piracicaba, 2016. SPADOTTO, Erasmo, Capivaras, Secretaria de Cultura de Piracicaba e Jornal de Piracicaba Editora, Gráfica Rio-pedrense, 104 páginas, Rio das Pedras, 2013. VERONEZI, Luciano, Veronezi é 10, da funilaria a arte gráfica, Edição da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Piracicaba, 96 páginas, 2014.


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Cartunistas e ilustradores pelo olhar dos jornalistas

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RENATO WAGNER Renato Wagner foi um dos mais completos artistas plásticos piracicabanos do Século XX. Antes, porém, de dedicar-se completamente e em tempo integral à pintura, Renato Wagner teve marcante atuação na imprensa piracicabana, quer como publicitário, quer como caricaturista. Foi um dos fundadores da Revista Mirante, onde deixou traços notáveis de sua arte. Nesta galeria de personalidades piracicabanas, alguns dos trabalhos de Renato Wagner.

O ADORÁVEL RENATO WAGNER Por Cecílio Elias Neto*

Aqueles 1950 já eram anos dourados, sem que nós sequer o soubéssemos. As gerações vivem fazendo história e não o percebem, conseguindo avaliar tão somente o depois. No mínimo, para nós, eram anos de excitações inexplicáveis, como se estivéssemos numa corrida constante, mas sem rumo definido. Para este escrevinhador, o mundo tinha sido sempre daquela maneira alegre, vibrante, vivificante. O significado de um pós-guerra não me dizia nada, a não ser algumas lembranças temerosas da pequena infância, ouvindo falar da bomba atômica. Um homem diferente, João Chiarini, me transformou em seu protegido. Ele e meu pai eram amigos desde a adolescência. E Chiarini percebeu, no menino e no adolescente, alguma tendência literária, intelectual. Muitas vezes, evitei-o, temendo subordinar-me à sua visão, a seus projetos, dos quais ele queria que eu participasse. Convidava-me para acompanhá-lo em encon-

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tros culturais, apresentava-me aos grandes mestres, escritores, pintores. Enfim: João Chiarini foi o homem que me introduziu no universo cultural de Piracicaba e de São Paulo, um tesouro que ele me deu e de que, emocionadamente agradecido, jamais me esqueço. Renato Wagner foi uma das pessoas notáveis a quem Chiarini me apresentou. Renato era um moço bonito, agitado, ao mesmo tempo amável e ansioso. De corpo atlético, Renato fora ótimo esportista tanto no futebol, quanto no basquete e natação. Seu avô, Jacob, foi o proprietário de uma das primeiras cervejarias alemãs de Piracicaba. Ele – cerca de 20 anos mais velho do que eu – acolheu o adolescente de uma maneira que me estimulou: Renato me tratava como um igual, o que me embevecia. Nossa amizade consolidou-se quando ele, Fued Helou Kraide e Arlindo Romani criaram a primeira agência de Publicidade de Piracicaba. E, desta, nasceu a vitoriosa revista “Mirante”, da qual, ainda jovenzinho, fui cronista.

Piracicaba deve, a Renato Wagner – entre tantas e tantas riquezas que ele nos deixou – a presença do notável artista plástico Vladan Stiha, que fora seu professor em São Paulo e que ministrou aulas a muitos que se tornaram reconhecidos pintores piracicabanos. Renato foi um diferenciado caricaturista, enriquecendo jornais da cidade e a revista Mirante. Dele, guardo um tesouro que ele próprio me deu: uma caricatura dele mesmo, junto com outros dois notáveis artistas, Antônio Pacheco Ferraz e Manoel Martho. Nas últimas décadas de sua vida, pôde dedicar-se ao grande sonho e vocação: a pintura. E se tornou um dos memoráveis artistas plásticos de Piracicaba. Uma última palavra: Margareth Pyles Wagner, sua esposa, foi um dos pilares em que Renato se apoiou para erguer-se ao Olimpo das artes plásticas. De Dona Margareth, guardo lembranças agradecidas, como minha professora particular de Inglês.

(1) Bento Dias Gonzaga Já era deputado, herdeiro do patrimônio eleitoral do pai, por várias vezes prefeito Luiz Dias Gonzaga. Muito popular, era conhecido como “Bentão”. Candidatou-se a deputado estadual e não se elegeu em 1962. (2) Fortunato Losso Neto Médico, jornalista, diretor do “Jornal de Piracicaba”, o Doutor Losso sempre teve seu nome indicado para candidatar-se ora a prefeito, ora a deputado. Nunca aceitou.

*Cecílio Elias Neto, Editor de “A Província”


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JOSÉ INÁCIO COELHO MENDES JIC Mendes nasceu em 1925 em Piracicaba, onde nadava e remava no rio, que mais tarde viria a retratar em pinturas a óleo. Quando foi cursar a faculdade na Capital, sustentou-se durante um breve período fazendo desenhos para o jornal A Noite. Formado engenheiro civil em 1950, foi o segundo funcionário (depois do contador) contratado pela recém-constituída Companhia Nacional de Investimentos, a CNI. Nessa empresa, foi o engenheiro responsável por executar e supervisionar a construção de edif ícios emblemáticos de São Paulo, como o Copan, o Eiffel, o Triângulo, o Coliseu e a Galeria Califórnia. Nos anos 1960, fundou sua própria empresa de construção civil, pioneira no uso de concreto pré-moldado no Brasil e inventora da argila expandida cinasita: a CINASA. Posteriormente se dedicou também à escultura em argila e bronze. Depois de aposentado, teve a oportunidade de realizar sua aspiração da juventude, trabalhando como arquiteto ao lado do seu primogênito Fernando. Seus 6 f ilhos, 13 netos e 11 bisnetos se alegram e se orgulham da grande família unida que ele constituiu com a Mirinha em quase 70 anos de casamento. A cidade de Itu, onde ele vive há mais de quatro décadas, agraciou-o com o título de cidadão ituano, por pensar grande e enxergar longe.

O ILUSTRADOR JIC MENDES Por José Inácio Coelho Mendes Neto*

Em 9 de setembro de 1947, o jornal paulistano A Noite anunciou em sua primeira página a estreia de um novo colaborador: o ilustrador JIC Mendes. O jovem piracicabano de 21 anos, instalado na capital há três, precisava de trabalho para se manter enquanto cursava a faculdade de engenharia. Confiante em seu talento, juntou numa pasta alguns desenhos e muita coragem e compareceu à redação. Foi recebido por um repórter que gostou dos desenhos e levou-os aos seus superiores. Estava contratado! Seguindo sua maior influência, o desenhista Belmonte, produziu imagens que retratam o povo com compaixão e perspicácia, lançando sobre seu tempo um olhar crítico e bem-humorado. Nos 7 meses de setembro de 1947 a março de 1948, foram 40 ilustrações de temática variada e traço magistral, publicadas sempre na primeira página do vespertino. Depois do lápis, JIC trabalhava a nanquim, repassando os traços do desenho feito no papel vegetal, acrescentando sombras, padrões e texturas, compondo letras e legendas. Depois de algum tempo, passou

a usar também, para fazer as sombras, uma tinta azul que produzia um colorido cinza homogêneo após a impressão. E além do lápis e do nanquim, trabalhava com muita imaginação e capricho nos detalhes. JIC Mendes juntava seus desenhos aos de profissionais mais experientes, como o quase-xará Mendez, do Rio de Janeiro, retratistas de estilo mais realista como Alcides Torres, Pacheco e Paulo Ribeiro, e caricaturistas como Moura, Vic e Alvarus. Todos eles forneciam retratos e caricaturas das personalidades nacionais e internacionais que eram notícia. Porém, as peças desses artistas eram reutilizadas, às vezes por anos, quando a figura pública voltava a ser objeto de comentário. JIC chegou para revolucionar essa prática. Suas obras, sempre inéditas e feitas sob medida, teciam comentários sobre os eventos e personagens do momento com agilidade para captar o espírito da notícia e com abundância de referências pictóricas aos fatos da época. É uma riqueza fabulosa de alusões que só ele, depois de mais de 70 anos, consegue restituir plenamente, graças a uma memória impressionante. Me-


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mória essa que, agora, pode ser de todos nós. Na Rua Sete de Abril, onde ficava a redação de A Noite, a companhia telefônica havia instalado dutos de ventilação sob as calçadas. O implemento urbano provocou – ou sugeriu à imaginação do JIC – esta cena picante, típica do olhar irônico e malicioso do ilustrador. Vale reparar o artifício técnico: no segundo quadro, o galanteador parece menor, para sugerir a perspectiva e o deslocamento da moça. E o detalhe cômico: mesmo com a distância, ainda se vê as notas musicais emitidas pelo assobio. E para quem se lembrou da Marilyn Monroe que segurava o vestido branco esvoaçante sobre uma grade de ventilação do metrô sob o olhar ávido de Tom Ewell, vale lembrar que essa cena antológica do filme The SevenYearItch (O pecado mora ao lado) só aconteceria oito anos mais tarde, em 1955. Diante do facão MADE in URSS que cinde o planeta em dois, a pombinha que carrega a palavra “PAX” tatuada no peito até deixou cair o ramo de oliveira que segurava com as patas. A opinião pública atribuía à ação do governo soviético o recrudescimento das tensões que levou a essa divisão. De fato, a política internacional caminhava para uma bipolaridade cada vez mais marcada: no plano econômico o COMECON (1949) seria a contrapartida do Plano Marshall (1947), no plano militar a OTAN (1949) teria como resposta o Pacto de Varsóvia (1955). Comintern era a sigla da Terceira Internacional Comunista, organização criada por Lênin em 1919 para congregar os partidos comunistas do mundo todo. Porém, sob Stalin a Comintern perdeu sua im-

portância até ser extinta em 1943. A Cominform (Oficina de Informação Comunista) foi criada em 1947 para substituí-la, mas não conseguiu tomar o lugar de sua predecessora no imaginário popular. Se a responsabilidade não era exclusivamente da União Soviética, a cisão era bem real e suas consequências severas. Atento aos fatos da política mundial, JIC nos dá aqui sua versão para o início da Guerra Fria.

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*José Ignácio Coelho Mendes Neto, autor do livro “JIC Mendes o ilustrador”


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EDSON RONTANI Edson Rontani era filho de imigrantes italianos. Casou-se com Ivete, também filha de imigrantes italianos. Era filho de Guilherme e Maria, ele carpinteiro. Foi através da dedicação ao entalhe que descobriu as formas, as ondulações, as dimensões, que lhe levaram a ter uma aptidão nata para o desenho. Viveu os anos 40 com muito amor, em principal, pelas sessões de cinema e pelas revistas em quadrinhos na denominada fase de ouro das HQs. Reproduzia os personagens que via com os amigos através de revistas feitas com lápis de cor, as quais serviriam de matriz para a criação do fanzine (o primeiro do país) em 1965. Colaborou com todos os jornais de Piracicaba, de 1948 a 1997, ano em que faleceu. Era funcionário público do Estado, trabalhando como desenhista técnico da Secretaria de Agricultura. Fundou a revista Piracicaba Magazine, lançada nos anos 1950 como concorrente da afamada Mirante. Deixou um legado que torna Piracicaba como referência nos quadrinhos. Foi homenageado pelos poderes públicos municipal (Sala Edson Rontani no Teatro Dr. Losso Netto e rua Edson Rontani no Jardim Noiva da Colina) e estadual (Escola Estadual Edson Rontani, Altos do Piracicaba).

NOSSO PIONEIRO

Por Ana Camila França de Negri Kantowitz* Nascido em 23 de março de 1933, o piracicabano Edson Rontani tornou-se conhecido pelas charges e ilustrações, mas foi um artista múltiplo. Fã de gibis, desde cedo mostrou talento para o desenho ao rabiscar suas primeiras histórias em quadrinhos nos cadernos da escola primária. Ainda adolescente, no final dos anos 40, passou a desenhar um caipira magro de camisa listrada. Apelidado de Jeca, a ilustração representava o time de futebol da cidade, o XV de Novembro. Mais tarde, foi responsável pela remodelação do conhecido personagem Nhô Quim, mascote do XV e propagado pela Gazeta Esportiva no final dos anos 1940. O traço de Edson Rontani acompanhou a imprensa local, de jornais a revistas, por toda segunda metade do século XX. Nos anos 50, Rontani abriu o Orbis, um estúdio de desenho de onde saíam os mais diversos tipos de serviços: de ilustrações para publicidade, até caligrafia para convites de casamento. Sua caligrafia sofisticada


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o tornou conhecido como criador de matrizes de letras para vitrines das lojas da cidade, lembrando que nessa época, passear para ver vitrines era bom passatempo das famílias. E sua letra bem trabalhada ia parar até em jazigos e placas de ornamentação para túmulos, pois o artista era contratado por fundições que usavam sua caligrafia para elaborar a matriz e escrever no bronze. Sua paixão por super-heróis fez com que se relacionasse com Adolfo Aizen, diretor da EBAL (Editora Brasil-América Ltda), na época a mais importante editora de quadrinhos do Brasil, o que resultou em dois trabalhos publicados em nível nacional. Foram duas capas em janeiro de 1965: Batman e Superman. Edson Rontani também carrega a honra de ser o criador do primeiro Fanzine do Brasil, o Ficção, boletim que divulgava o mundo dos quadrinhos para os amantes dessa arte. Em 12 de outubro de 1965 saíam de seu mimeógrafo à tinta as 300 primeiras edições da produção pioneira, que era enviada a grandes nomes de colecionadores, artistas e interessados em histórias em quadrinhos. Rontani estudou pintura, e como artista plástico, participou de diversas exposições no Salão de Belas Artes de Piracicaba e outras cidades entre 1963 e 1991. Mas sua paixão por HQs era maior. Dono de uma das maiores coleções de quadrinhos do Brasil, alcançou a marca de 70 mil exemplares a partir dos anos 60, chegando a mais de 100 mil quando veio a falecer, no final da década de 90.

*Ana Camila França de Negri Kantowitz, ME professora da UNIMEP


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DERLI BARROSO Nascido em Piracicaba e formado pela Escola Normal do Instituto Educacional Piracicabano na turma de 1960, Derli Barroso, no início de 1957 passou a fazer as ilustrações e desenhos para o jornal mimeografado “O Avante”, que era publicado pela Sociedade Metodista de Jovens da Igreja Metodista Central de Piracicaba e do qual ele e eu fomos diretores por vários anos. Em 1958, o Derli fez sua estreia como cartunista na revista “Mirante”, liderada por outro artista, Renato Wagner, no estúdio de quem passou a trabalhar. Tive, assim, o privilégio de conhecer o Derli, o seu extraordinário dom, bem como sua arte, quando ele era ainda bem jovem. No final dos anos cinquenta, eu estudava em São Paulo, onde também trabalhava como redator da revista “Cruz de Malta”, excelente periódico destinado principalmente à juventude metodista e vendido por meio de assinaturas, cuja tiragem ultrapassava dos 18.500 exemplares, número expressivo para aquela época. No início de 1961, essa revista precisou recrutar profissional para ocupar o cargo de orientador artístico desse periódico e de outros editados pela Igreja Metodista. O escolhido trabalharia juntamente com dois outros festejados artistas: Ênio Imbuzeiro e Cláudius Ceccon, ambos cariocas. Esse último, com mais experiência e tempo na área, já era bastante conhecido e festejado, pelo fato de trabalhar para a revista Manchete, na qual era responsável pela charge estampada na última página. Regozijo-me pelo fato de ter tido a lembrança de indicar o nome do Derli para a revista “Cruz de Malta”, onde eu era redator, e cuja direção o contratou rapidamente, graças ao seu trabalho já reconhecido, uma vez que o jornalzinho “O Avante” era enviado mensalmente à direção desse periódico. Assim, trabalhamos juntos. Depois disso, concomitantemente, especializou-se em fotografia, usufruindo de bolsa de estudos, conseguida pela Igreja Metodista, concedida a partir da Universidade Metodista de São Bernardo. Esteve atuando como fotógrafo e designer gráfico em Nova Iorque, onde frequentou a School of Visual Arts (NYC), RIT (Rochester Institute of Technology - Rochester, NY) Turma de 1983 · Photography · Rochester (Nova Iorque).

INQUIETAÇÕES BEM-HUMORADAS DE UM ARTISTA PRECOCE Por Gustavo Jacques Dias Alvim*

Posso dizer que fui, em dado momento e por acaso, além de amigo, mentor do Derli Barroso, de cuja amizade desfruto até hoje. Esses laços amistosos se iniciaram na primeira década dos anos cinquenta, quando ele e eu frequentávamos a Igreja Metodista de Piracicaba. E, desde então, mantivemos esses laços e contatos, mesmo à distância e intermitentes, quando se dirigiu para novos desafios na Universidade Metodista de São

Bernardo do Campo e, posteriormente, para os Estados Unidos onde frequentou a School of Visual Arts de Nova Iorque. A partir daí não parou mais de trabalhar como “designer” gráfico e fotógrafo. Há muitos anos reside nos Estados Unidos, onde tem trabalhado. São também muito festejadas as exposições que tem feito. Mas, seus primeiros passos no campo das artes foram dados aqui em Piracicaba em 1958, um pouco


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antes de concluir o então chamado Curso Normal do Instituto Educacional Piracicabano, quando tinha seus 15/16 anos. A revista “Mirante”, liderada por Renato Wagner, vinha com uma nova proposta editorial para revolucionar a linguagem gráfica, a redação e a forma de realizar anúncios publicitários. Tudo o que o jovem Derli precisava para exercer suas habilidades, como “designer”, fotógrafo e, enfim... como cartunista. Com as páginas abertas por Wagner, ele produziu, no período em que a revista circulou, dezenas de cartuns, caricaturas, tiras de quadrinhos, com as temáticas da época, sobre política e temas do cotidiano. Há alguns anos, por iniciativa do jornalista Edson Rontani Júnior, filho de um dos pioneiros do humor gráfico na cidade, foi realizada uma exposição na Pinacoteca Mu-

nicipal, com vários cartuns colhidos pelo organizador nos exemplares da “Mirante”. E pudemos ter a certeza de que Derli Barroso contribuiu decisivamente para que a cidade de Piracicaba desse espaço à imaginação criativa de um jovem talento que perfilava entre os grandes nomes da época como Rontani e Wagner. Bem lembrado para mais esta homenagem no livro “Piracartum”, Derli passa a figurar de forma definitiva no rol dos artistas gráficos que contribuíram para o exercício dessa profissão e arte, com seu talento e imaginação criativa. Para mim, é muito bom poder constatar que os frutos da minha eventual mentoria, produzidos por ele, continuam sendo reconhecidos e reverenciados pela cidade.

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*Gustavo Jacques Dias Alvim, Instituto Histórico e Geográf ico de Piracicaba e Academia Piracicabana de Letras


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BONIFÁCIO PLACERES JÚNIOR – PENINHA Bonifácio Placeres Júnior, o Peninha, veio de São Paulo para Piracicaba após um início de carreira na Editora Abril, com revistas infantis, passando na divisão de educação, para 4Rodas, Casa Cláudia, entre outras. Depois disso viveu um período em Piracicaba onde atuou na assessoria de comunicação da Prefeitura, ilustrando cartilhas didáticas para as Secretarias de Educação e Saúde. Trabalhou como cartunista do jornal “O Diário”. E depois foi para o “Jornal do Povo Piracicabano”, onde desenhou capas e cartuns. De volta a São Paulo, tendo trabalhado na Gazeta Esportiva, Gazeta Mercantil, entre outros projetos gráf icos importantes. Atualmente trabalha como diretor de redação e sócio da Multi Arte Video, empresa especializada em vídeos institucionais, gestão de crise e assessoria de imprensa. Foi o criador, junto com Fausto Longo, da logomarca da UNIMEP.

NOS TEMPOS DO JORNAL DO POVO PIRACICABANO Por Paulo Markun*

Em 1978, repórter da Folha, recebi um convite tão inusitado quanto desafiador– assumir emergencialmente a direção de um semanário em Piracicaba. O editor do jornal se demitira e era preciso fechar o número seguinte. Meio desencantado com várias coisas, aceitei e depois de conhecer o dono do jornal – João Herrmann Neto, o prefeito diferentão, que me recebeu de calça jeans, botas enlameadas, sentado no chão de seu gabinete – fui apresentado ao Peninha. Ou Bonifácio Placeres Júnior. Magro, cabelos compridos, barba, riso fácil, era o diretor de arte do Jornal do Povo Piracicabano, cuja redação pequena e mal ajambrada, funcionava numa garagem próxima ao centro da cidade. Foi o início de uma parceria profissional que durou um ano e de uma amizade que segue até hoje. O Jornal do Povo, distribuído gratuitamente na cidade inteira tinha Peninha pra todo lado. Na criação das capas à maneira das revistas – lembro de uma em particular que mostrava um despertador envolto em supostas ba-

nanas de dinamite e um título na linha “Piracicaba, um caso de polícia a cada 32 horas” ou coisa assim. Mas também em ilustrações que salvavam a pátria da publicação de orçamento exíguo e pretensões tão gigantescas quanto as de seu proprietário, para quem a revolução brasileira teria em Piracicaba sua Sierra Maestra sem florestas, nem montanhas. O traço era naif, quase infantil. Figuras humanas de formas arredondadas, quase sempre em ação. O humor era a regra, embora Peninha também ilustrasse textos mais sérios, com outro tipo de desenho. Sua criatividade não se limitava a essa produção semanal e depois diária – encurtamos a periocidade e aumentamos o formato, sonhando com influenciar pessoas e apoiar o projeto político renovador do prefeito. Nas horas vagas, Peninha desenhava e pintava – as paredes de seu apartamento o comprovam – mas na lida da redação, ele colocava seu talento a serviço dos textos, das notícias e de alguma opinião. Afinal, o jornal era do povo.


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*Paulo Markun, foi editor do Jornal do Povo Piracicabano


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RUDINEI BASSETE Rudinei Bassete é engenheiro civil, formado pela Escola de Engenharia de Piracicaba. Ele cursava o 1º ano da faculdade quando, incentivado pelo tio, Edson Rontani, participou do I Salão de Humor de Piracicaba, em 1974. Depois colaborou com o Jornal de Piracicaba, Aldeia, O Diário. Participou da mostra de Cartunistas de Piracicaba, organizada pelo primo, Edson Rontani Júnior. Na vida pública foi presidente da EMDHAP. Trabalha atualmente com consultorias na área de engenharia.

DE RUDE, SÓ O APELIDO Por Edson Rontani Junior*

De rude, não tem nada. A não ser o apelido “Rude” que o acompanha desde pequeno. Rudinei José Bassete sempre me disse que seguiu os passos de meu pai, Edson Rontani, tio dele. Dividiram o mesmo lar na juventude do tio e na infância de Rudinei. Esta convivência, ainda mais sendo o sobrinho “primogênito”, proporcionou uma aproximação com Rontani, um nome já consagrado no desenho em Piracicaba, espelhando-se aí nos seus traços futuros. O tio, com orgulho o inclinou para esta arte. Na infância publicou a revista MAR (Milton, Artur e Rudinei), feita a mão em papel almaço e emprestada aos familiares com tiragem de um único exemplar. Em 1975 foi convidado a participar do 2° Salão de Caricatura de Piracicaba, organizado pelo tio. A partir daí passou a publicar charges e cartuns no Diário de

Piracicaba e Jornal de Piracicaba, cursando em paralelo a faculdade de engenharia. Dono de um fino traço (e também um traço fino), tinha uma característica peculiar retratando piadas da época, com personagens famosos da sociedade brasileira. Presidiu por duas gestões municipais a Empresa Municipal do Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba (EMDHAP), tendo anteriormente criado o Grupo 3 de Engenharia, ao lado do primo Milton Rontani Júnior e do amigo de larga data Fausto Longo. Deixou sua contribuição ao traço piracicabano. Parou de desenhar nas mídias tradicionais para nossa tristeza. Mas ao ver trabalhos dos áureos tempos, uma alegria só... proporcionada por um saudosismo irreparável.


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*Edson Rontani Jr., Instituto Histรณrico e Geogrรกfico de Piracicaba e vice-presidente da AHA


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ANDREI BRESSAN Natural de Piracicaba, Andrei Bressan atua como quadrinista, arte-f inalista, ilustrador e roteirista. É bacharel em Publicidade e Propaganda pela Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). Frequentou aulas no Departamento de Artes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e na Quanta Academia de Artes, locais onde aprimorou seus conhecimentos em História da Arte, Pintura Clássica e Quadrinhos. Desde 2001, participa de diversas exposições coletivas, entre elas, o projeto Colorindo a Saudade, responsável por criar uma galeria de arte a céu aberto em um dos principais pontos de Piracicaba. Em 2009 ingressou na Art&Comics Internacionale, já ilustrou Batman, Green Lanterns: New Guardians, SwordofSorcery, SwampThing, Suicide Squad, para a DC Entertainment. Em 2013 entrou para a ChiaroscuroStudios. Ilustrador da HQ Birthright, do selo Skybound, publicada desde 2015 pela editora Image, nos Estados Unidos. O material está sendo adaptado pela Universal Pictures para o cinema e terá roteiro assinado pelos autores da animação Meu Malvado Favorito.

DO BARROCO À FANTASIA: A ARTE MULTIMÍDIA DE ANDREI BRESSAN Por Rafael Bitencourt*

Surgida em meados do século XVIII, na Itália, a Arte Barroca é caracterizada por seus aspectos fortes e vivos, que mexem com o sentimento de quem a contempla e que apresenta, por meio das obras, proximidade com o ser humano. O estilo, que chegou à América com os colonizadores europeus e encontrou no Brasil um terreno fértil, é uma grande influência do quadrinista, arte-finalista, ilustrador e roteirista piracicabano Andrei Bressan. “Meu trabalho tem uma constante tensão entre as forças opostas. Há uma preocupação com relação à sugestão de movimento e às tensões, que são coisas bem próprias do Barroco. Eu gosto de oscilar entre silêncio e barulho, e também entre luz e trevas, por exemplo”, afirma Bressan.


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Sua introdução nas artes está muito ligada à fantasia, representada pelo RPG (Role-playing game), jogo em que os participantes assumem papéis de personagens e criam narrativas próprias. “Como aquelas aventuras acabavam tendo uma importância muito grande no meu grupo de amigos, eu me mobilizava muito para desenhar aquilo e ficava pilhado com as coisas que aconteciam”, diz o artista. FANTASIA – O universo da fantasia, evidente nos dias atuais, muito por conta da popularização de serviços de

streaming e seriados calcados na temática, é uma clara influência de Birthright, história em quadrinhos ilustrada por Bressan, que está sendo adaptado ao cinema. “Desconfio que Birthright, por flertar com a fantasia, acabou chamando a atenção das pessoas. O material tem um ritmo marcado, muito espelhado por séries de TV e traz a experiência dos arcos, das viradas. À medida que o tempo vai passando, as situações vão se aprofundando, os conflitos e as consequências vão escalonando”, completa Andrei Bressan, evidenciando o caráter multimídia de seu trabalho.

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*Rafael Bitencourt é diretor da Tempo D Comunicação e Cultura. Jornalista graduado pela Unimep, com extensão em Administração Pública da Cultura pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e especialização em Gestão e Políticas Culturais pela Universidade de Girona (Espanha). É pesquisador e membro do GT (grupo de trabalho) de comunicação da OCA/USP (Universidade de São Paulo).


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ÉRICO SAN JUAN Nascido em Piracicaba em 3 de janeiro de 1976, filho de Antonio Monteiro San Juan e Maria José Gaspar San Juan. Começou a desenhar aos seis anos de idade; produziu seu primeiro gibi – escrito, roteirizado, desenhado e grampeado – nessa época e nunca mais parou de desenhar. Fez cursos básicos nas escolas “Honorato Faustino” e “Melo Ayres”, de Piracicaba; de técnico de radialista no SENAC e outro de designer gráfico na Universidade Metodista de Piracicaba, no qual formou-se em 2013. Contudo sua carreira profissional foi alavancada a partir do trabalho como ilustrador do suplemento infantil do Jornal de Piracicaba, em 1991. Participou dos salões de humor de Piracicaba, Porto Alegre, Paraguaçu Paulista, João Pessoa, Teresina, Votuporanga, sendo premiado em Santos e Guaíra (SP), e da Bienal Internacional da Caricatura no Rio de Janeiro. Tem participado de comissões de seleção e julgamento do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, onde também teve trabalhos selecionados em 2004, 2005, 2006, 2009 e 2010. Lançou uma coleção em quatro volumes dos seus trabalhos em 2016, quando completou 25 anos de carreira como cartunista, sendo finalista do Troféu HQ Mix na categoria Publicação de Humor Gráfico.

PRATA DA CASA Por Adolpho Queiroz*

Érico San Juan é um dos meninos que, ao visitarem o Salão de Humor de Piracicaba, se encantaram com o que viram, começaram a admirar, depois aprender a fazer e por fim, firmaram-se como profissionais do campo. Mesmo tendo à disposição os espaços dos Salões Internacional e do Salão Universitário promovido pela UNIMEP, foi nas oficinas realizadas pela Secretaria de Cultura de Piracicaba, que a convicção de ser artista e profissionalizar-se no campo firmou-se definitivamente. E Érico nunca mais parou de desenhar. De participar de Salões. De dar palestras. De fazer caricaturas ao vivo. De ler e pesquisar sobre as linguagens do humor gráfico no Brasil e no mundo. E de aventurar-se para além das barrancas do Rio Piracicaba e conquistar novos territórios, com publicações nacionais e internacionais. Saltou das páginas dos suplementos infantis do jornal “O Diário” e do “Jornal de Piracicaba”, nos anos 80 e 90, para voos mais altos pelo universo virtual, tendo participado de mostras e edições coletivas e individuais em importantes centros que realizam eventos so-

bre humor gráfico no Brasil e na América do Sul. Sua caricatura sobre Noel Rosa, editada numa coletânea da Imprensa Oficial do Rio de Janeiro é apenas uma das referências que construiu ao longo de sua trajetória. Iniciada com o personagem “Dito, o Bendito”, que ele mesmo admite ser o “Zé Carioca de Piracicaba”, lembranças de um menino influenciado no início da carreira pelos gibis de Disney com personagens como o inspirador de Dito, além de Pato Donald, Tio Patinhas e Mickey, entre outros. Contudo todos se impressionam com a agilidade de Érico San Juan quando é convidado para eventos corporativos ou mesmo no campo do humor gráfico, que ele intitulou de “Caricaturas ao Vivo”. Ele é capaz de produzir 100 caricaturas em quatro horas de trabalho, ressaltando olhos, bocas, narizes, cabelos, orelhas, com o humor drástico que o caracteriza, como as que produziu no primeiro evento do qual a AHA participou, o “Caricatruck” no espaço cultural do Monte Alegre. Foi um sucesso, como sempre!


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*Adolpho Queiroz, Instituto Histรณrico e Geogrรกf ico de Piracicaba e presidente da AHA


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LANCAST MOTA Lancast Mota nasceu em Fortaleza, CE, em 1964. Veio para São Paulo e teve a primeira carteira assinada (1980) Diário de Limeira-SP. Depois disso veio a Piracicaba onde foi editor e desenhista de O Diarinho, no Diário (1981/83). Com amigos, organizou o 1º Salão Interescolar de Humor, que aconteceu no Teatro Municipal em 1982. Atua profissionalmente como roteirista da turma da Mônica, nos Estúdios de Mauricio de Souza em São Paulo.

LANCAST POR LANCAST Por Lancast Mota*

Comecei a trabalhar como animador e roteirista na Otto Desenhos Animados - Porto Alegre-RS (1983), O Natal do Burrinho (curta metragem em animação-1984) premiado em Gramado-RS, As Cobras (1985), Treiler (1986), O Reino Azul (1987/89) - todos em 35mm. Ganhei o Salão de Humor de Piracicaba, categoria quadrinhos (1990). Em 1991 fundei a LMD - animação digital O Cachorro escritor (Anabel) - animação digital 2D, piloto de série participou do World Animation Celebration, California-USA Animação interativa (Astronauta e Penadinho) para o site da Turma da Mônica - Mauricio de Sousa Produções (1999-2003).


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Escrevi e dirigi os 13 episódios da série Anabel (2004) Anabel, a série estreia no programa Patrulha Nick, no canal Nickelodeon ( fev-2005), Kactus Canini Kid – Uma Graficobioanimada, documentário em animação (2008), O Segredo de Nina - curta em animação (2011). Roteirista da Turma da Mônica desde 1999. Atualmente também trabalho em um longa-metragem infantil em animação. Cheguei em Piracicaba em 1983 vindo de Limeira, onde trabalhava num jornal desenhando tirinhas - a impressão era em linotipo O Diário ficava na rua São José, era moderno, impresso em off set. Assumi o suplemento infantil semanal O Diarinho - eu escrevia, desenhava e fazia o past up. Fazia 2 tiras diárias, a charge e ilustrações. Participei da abertura de vários bares na rua do Porto.

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FAUSTO LONGO Fausto Guilherme Longo nasceu em Amparo (SP), em 22 de julho de 1952. Com quatro anos de idade mudou-se para Piracicaba (SP). Aos 15 anos era calígrafo de diplomas das comissões municipais de Turismo e de Esporte da prefeitura. Criador multimídia: arquiteto, urbanista, produtor/apresentador de programas de rádio, fotógrafo, ilustrador, designer, professor, cenógrafo, cartunista. Teve trabalhos publicados nos jornais “Folha de S. Paulo”, “O Estado de S. Paulo”, “Pasquim”; e nas revistas “Visão” e “O Bicho”. Formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela PUC de Campinas e Fundação Escola de Belas Artes de São Paulo (FEBASP). É Mestre em Habitação, Tecnologia e Planejamento pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). No Salão Internacional de Humor de Piracicaba, participou como artista desde as primeiras edições do evento. Em 2013, foi eleito pelo Partido Democrata para uma das vagas no Senado da Itália destinadas a ítalo-descendentes que vivem na América do Sul. Fausto Longo hoje é deputado da República Italiana. A editora SESI-SP lançou, em 2017, livro de Ricardo Viveiros e Zélio Alves Pinto sobre seus cartuns: “Ilustre Guardanapo”.

A ARTE DE FAUSTO LONGO Por Ricardo Viveiros*

O que mantém o ser humano vivo além do trabalho? O livre pensar. No caso de Fausto Longo, também o livre riscar, desenhar, até mesmo, rabiscar. Tudo cabe na alegria sincera do seu traço. Desde a saudade batendo fundo no peito como o som do cristal da taça de vinho, o tilintar dos talheres, o estalo do funghi na boca, o choque da xícara de café sobre o pires ou, ainda, o nariz do Pinóquio questionando a verdade no contexto da política. Os instrumentos musicais que bailam e, até mesmo, novas funções para alguns produtos tecnológicos que teimam em ter autonomia. Criados sempre com liberdade, emoção e irreverência os desenhos de Fausto têm vida. Os objetos por ele explorados são personagens que nos fazem refletir sobre nossos papéis na sociedade.


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A criatividade de Fausto Longo muda o mundo. E para melhor. Sem limite, SEM censura. Com humor inteligente, irônico e que convida à reflexão. Fausto, desde menino, não teve qualquer preocupação artística por que estava, apenas e tão somente, passando o tempo quando desenhava o que fervia no coração e na mente. Mais tarde, encantou-se com o estilo de Zélio Alves Pinto, misto de ídolo e influenciador. Mas, traçou o seu próprio caminho. Os desenhos do senador, agora deputado, que an-

tes de tudo é um competente artista gráfico, integram um mágico universo de temas, conceitos, reflexões. Na arte de Fausto Longo, o que nos provoca e motiva são inspirados desenhos, cartoons, charges e, de maneira surpreendente, caricaturas de objetos que vão surgindo de sua pródiga capacidade criativa. No conjunto de sua obra artístico-sociológica está uma seleção prazerosa a ser explorada, que não apenas diverte como faz pensar. Desenhos elegantes que, plenos de sensualidade, ironizam a tecnologia, desafiam a solidão e cantam a saudade como em um delicado poema.

*Ricardo Viveiros, diretor da Ricardo Viveiros Comunicações


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EDUARDO GROSSO Eduardo Grosso nasceu no dia 19 de dezembro de 1959, em Piracicaba. Estudou na escola “Sud Mennucci” e foi contratado pela Prefeitura Municipal, onde trabalhou na Secretaria de Ação Cultural e foi indicado como o primeiro diretor do CEDHU, cargo no qual permaneceu por vários anos até aposentar-se em 2018. Tem exposições individuais e coletivas em diversas cidades brasileiras. Foi premiado no Salão de Humor de Piracicaba e é autor de um dos cartazes da mostra. Também foi autor do cartaz do I Salão Universitário de Humor da Unimep.

O RELEVO DE OBRAS RELEVANTES Por Romualdo da Cruz Filho*

A obra de Eduardo Grosso (caricaturas, cartuns e tiras) é um arsenal de metáforas que precisam ser consumidas em doses homeopáticas para não provocar engasgo. São cápsulas que misturam gratidão com incredulidade, desejo de precisão com senso de fragilidade, concisão com dispersividade. Seu olhar é muitas vezes cortante e demolidor, outras vezes, se encontra na cumplicidade. Poderíamos analisar suas caricaturas a partir da forma e do requinte do traço, mas escolhi uma leitura geográfica, a partir da qual percebo a profusão dos seus sentimentos, onde manifesta o avesso da resignação. Quando o humano ganha dimensões geográficas, o rosto torna-se resultado das forças da natureza e a alma se revela, em todo seu relevo. A obra de Grosso é relevante.


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(1) O olhar vulcânico de Darwin entra em erupção e devasta a superfície ao redor, restando apenas ondas de um mar primordial que se acalma depois da turbulência e coloca à prova a existência das espécies sem a intervenção divina. (2) Fidel se desmancha em traços desconexos, que se harmonizam na fugacidade do tempo, compondo um todo provisório, quase mágico, como contraponto desafiador às ideias fixas aprisionadas por um tosco boné. (3) Machadão, a tez límpida de um gênio altivo, se indigna e torce o nariz diante de um território selvagem e bravio agarrado à sua alma casmurra. (4) Lobato sabe que o Jeca dorme sob sua pestana virgem e transita indomável pela franja do seu bigode cerrado. (5) Betinho verte sentimentos de pureza em um olhar celestial que nos consome, drenados por erosões que convergem para o limite da aparência, de onde nasce a vontade de protegê-lo de nossa fragilidade. Sob a pena criativa de Grosso dorme uma metafísica desafiadora, que torna ambígua sua aparente objetividade.

*Romualdo da Cruz Filho, jornalista formado pela UNIMEP


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DOUGLAS MAYER Douglas Mayer é paranaense, nascido em Ponta Grossa, 14 de abril de 1951. Iniciou-se no campo das artes gráf icas dos jornais paranaenses e nos anos 1980 veio a Piracicaba, onde trabalhou nos jornais “O Diário” e “A Província”, tendo feito capas de livros, ilustrações para o campo publicitário e especialmente charges, cartuns e caricaturas para os veículos. Um dos seus trabalhos foi premiado no Salão de Humor de Piracicaba em 1980. Hoje vive em Matinhos, PR, tendo trabalhado também nos jornais A Notícia, Correio Popular e A Gazeta do Paraná.

DOUGLAS, UM GÊNIO TÍMIDO Por Cecílio Elias Neto*

Talvez, seja até redundância referir-se à timidez de uma pessoa genial. Pois, quase sempre, são, elas, tímidas. Ou aparentemente malucas. Que, aliás, poderia ser considerada outra redundância, já que a genialidade e a maluquice transportam esses privilegiados para um mundo diferente do dos simples mortais. Posso assegurar – no meu convívio pessoal, muito próximo e por muitos anos com ele – que Douglas Mayer era um gênio. (Deve ser, ainda.) Foi em meados de julho de 1987 que o conheci. O jornalista, e meu amigo, Rogério Vianna – um dos mais ecléticos e competentes profissionais de quem vi o início de carreira – fez-me uma visita informal, acompanhado de um moço que, à primeira vista, parecia polaco,


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russo, alemão, algo assim. Cabelos quase ruivos, muito corado, pele avermelhada e um sorriso permanente nos lábios. Sorriso que parecia o de um tolo, como de quem está feliz sem motivo algum. E, além do sorriso, a mudez de um mudo. Era Douglas Mayer que – depois de um largo período nos Estados Unidos – retornara para o seu Paraná, onde ele e Rogério tinham nascido. Douglas pouco falou, enquanto eu, animadamente, lhes contava do projeto editorial de A Província, o semanário que estávamos prestes a lançar. Os olhos de Douglas brilharam e percebi, de imediato, o seu entusiasmo. Ele era designer gráfico, especializara-se – já àquele tempo – nas novas tecnologias. No Exterior, fora chefe de criação artística no universo digital sem, no entanto, abandonar sua vocação criadora. Douglas era um artista plástico, cartunista, caricaturista, suas pinturas em tela eram surpreendentes. E o entusiasmo dele aumentou ainda mais quando lhe disse que gostaria de o novo jornal partir de um estilo “art nouveau” modernizado, algo que superasse regra, estilos, moda consagrada. Aconteceu de imediato. Douglas – que estava em Piracicaba apenas para visitar um amigo – decidiu ficar, participando daquela experiência que nos excitava. Tornou-se meu hóspede e, imediatamente, começamos a criar A Província. Seu talento brotava como uma fonte. Em silêncio, ele rabiscava, desenhava, criou uma coluna de humor, discutíamos detalhes, brigávamos até por este

ou aquele traço. E, no dia 28 de agosto de 1988, A Província nasceu. Com um estilo redacional diferente e com um visual maravilhoso. Com assinatura de Douglas Mayer. Sua coluna de humor fez grande sucesso: satírica, delicada, sutil, mas de uma expressividade que incomodava. Devo dizer que, sem Douglas Mayer, A Província não teria feito todo o sucesso que fez e, se hoje estivesse conosco, o jornal, agora eletrônico, seria um novo laboratório para a genialidade de um artista que Piracicaba não chegou a conhecer por inteiro. Atualmente, solitário, vivendo numa praia quase deserta no litoral catarinense, certamente pintando o seu mundo interior tão semelhante ao da própria natureza.

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*Cecílio Elias Neto, Editor de “A Província”


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MARIA LUZIANO É formada em Publicidade e Propaganda e em Design Gráfico pela UNIMEP. Foi designer gráfica e ilustradora do Jornal de Piracicaba e revista Arraso por mais de oito anos, sendo responsável pelas ilustrações editoriais diárias do matutino e edições mensais da Revista Arraso. É criadora da página @mariasaidalata no Instagram com mais de 20 mil seguidores, onde compartilha fatos do cotidiano feminino recheados de bom e mau humor. É diretora artística da AHA - Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Já participou de várias exposições coletivas em Piracicaba, como a Batom, Lápis e TPM, exposição composta exclusivamente por artistas mulheres.

A ARTE DE MARIA LUZIANO, MINEIRINHA DE PIRACICABA Por Patricia Ozores Polacow*

Maria Luziano nasceu em 11 de outubro de 1986 em Guanhães e cresceu em São Sebastião do Maranhão, cidades do interior de Minas Gerais. Seu talento para o desenho evidenciou-se na escola. Os Mickeys e Pernalongas desenhados nos cadernos e nas lousas da sala de aula chamaram a atenção dos educadores, que a convidaram a pintar os muros da instituição com os mesmos motivos. Na adolescência vieram os desenhos copiados de produções de moda de revistas e as primeiras reflexões sobre qual caminho profissional seguir. Ilustrar, entretanto, algo natural e cotidiano, não fazia parte do rol de possibilidades. Foi assim, ainda sem conhecer os caminhos que poderia seguir, que chegou a Piracicaba para estudar Publicidade e Propaganda na Unimep, em 2006. Ingressou como estagiária da área de publicidade do Jornal de Piracicaba em 2009, último ano do curso. Já formada, iniciou a graduação em Design Gráfico, também na Unimep. Encorajada pelo professor e artista gráfico Camilo Riani começou a enviar trabalhos

para exposições como o Salão Universitário de Humor e Batom, Lápis e TPM. Entre um anúncio e outro produzido para o JP, desenhava. Descoberta, foi convidada a ilustrar os espaços noticiosos e editoriais do jornal e da revista Arraso, da mesma empresa. No período de produção intensa foi aprendendo e aperfeiçoando sua técnica. A arte de Maria Luziano nasceu da experimentação. Ela define seus quadros, ilustrações e caricaturas como “ilustrações digitais”, já que a maioria de seus trabalhos é feita no computador. Da riqueza do mundo digital também aparecem muitos dos referenciais temáticos e técnicos. Destes últimos destacam-se o argentino Pablo Lobato, com seu trabalho geométrico e pop já premiado no Salão de Humor de Piracicaba, e Kirsten Ulve, ilustradora cubista estabelecida em Nova Iorque. Os temas são atemporais: sua caixa de ferramentas dá forma e cor a personagens que vão de figuras renascentistas a diretores de cinema, já incorporados ao repertório público. Daí brotam Monalisas, Fridas, Malalas, Dalís, Allens, Chanels, Adeles, Burtons.


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Alguns críticos veem com alguma ressalva a apropriação dessas figuras tão populares, tratadas a partir de ferramentas supostamente “fáceis de usar”, como são as digitais. Mas o contraste entre a complexidade das personas retratadas e a solução alegre, colorida e bem resolvida das ilustrações agrada, prende o olhar e evidencia aquilo que não se empresta das ferramentas ou das referências: personalidade. A de Maria é determinada e singular, feminina, alegre. Seu trabalho mais conhecido é um poster de Frida Kahlo que vendeu mais de 500 prints pelo site UrbanArts. É um de seus maiores orgulhos e chegou a integrar o livro “Latidos visuales - lasmejores ilustraciones latinoamericanas del 2013”, publicado pela Universidad de Palermo, Argentina, em 2014. O poster agradou tanto que caiu no mercado negro. Plagiado, estampa bolsas à venda na Rua 25 de Março, camisetas e sabe-se o que mais. É autora do livro “Piracicaba que eu adoro tanto colorir”, publicado em 2015 em parceria com o Jornal de Piracicaba; um sucesso que chegou a ser incorpo-

rado a um projeto pedagógico do colégio salesiano Dom Bosco. Além destes trabalhos, Maria é a criadora da personagem Maria Sai da Lata, cuja página do Instagram (@mariasaidalata) atualmente conta mais de 20 mil seguidores. Tem uma produção artística manual menos conhecida, como as aquarelas. Produz também vasos para plantas pintados à mão, peças únicas, feitas sob encomenda. Participou do Casa Cor São Paulo 2013, com o quadro Monalisa no Lounge Gourmet por Gustavo Calazans. Entre as mostras individuais estão: Maria Sai da Lata, com cerca de 50 ilustrações, no Museu Prudente de Moraes, em Piracicaba (2016); Caricaturas de Maria Luziano, no Terminal Rodoviário de Piracicaba (2017) e Maria Sai da Lata, paralela ao Salão Universitário de Humor da Unimep, em maio de 2017. Participa da mostra Batom, Lápis e TPM desde a primeira edição. Atualmente é ilustradora e designer gráfica freelancer e diretora artística da Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

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*Patricia Polacow, Conselho Editorial da AHA


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LUIS MARANGONI Luis H. Marangoni, piracicabano, quinzista apaixonado, chargista, caricaturista e cartunista. Chargista of icial do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba desde 2013. Foi chargista do Jornal A Tribuna de Piracicaba, durante 6 anos. Participou de diversos salões de humor pelo Brasil e exterior, como França, Portugal, Irã, Bulgária entre outros. Foi 3º colocado na categoria Charge da 4ª Expo Humor de Campinas em 2006. Teve trabalho selecionado para o 41º Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 2014, na categoria Caricatura.

O TRAÇO QUE SE CONFUNDE COM O AUTOR! Por Luiz Tarantini*

O que mais impressiona é a facilidade em retratar não só as feições das pessoas em um pedaço de papel, na ponta de seu lápis sempre bem apontado LUIS MARANGONI, esse mago dos cartuns, charges e caricaturas consegue trazer a personalidade de cada um de uma maneira divertida e artisticamente falando “perfeita”. Esse piracicabano de 37 anos, casado com a senhora Iara e pai do esperto Rafael de seis anos, que a cada nova ação ou movimento ganha uma ilustração do pai artista, desde garoto é apaixonado pelo E.C.XV de Novembro de Piracicaba, buscou e conseguiu realizar um de seus desejos que era se tornar o chargista oficial do clube e poder ter seus trabalhos expostos para toda a


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cidade com suas perfeitas caricaturas dos atletas e pessoas ligadas ao clube em formato de homenagens, suas famosas e polêmicas charges e cartuns para todas as comunicações de jogos, eventos e ações do clube. Em 2015 ganhou notoriedade no meio esportivo estadual e até nacional, quando às vésperas de um jogo entre o Nhô-Quim e o Palmeiras da capital, presenteou a todos com a charge “café com bacon” em alusão a partida que seria realizada num domingo pela manhã. Os torcedores alviverdes tomaram o desenho como uma afronta e os piracicabanos como a melhor charge de todos os tempos. Ponto positivo para o artista! A cada dia seus traços perfeitos ganham mais adeptos, pois suas caricaturas já estão presentes em festas de casamento, bodas, aniversários e até encomendas particulares, mas para esse talento todo ainda é pouco, Luis Marangoni busca ser reconhecido somente pelo seu trabalho e criação, viver somente de seu talento e conseguir o status de artista de renome internacional. Acredito que este processo está bem próximo de se tornar realidade, pois com o talento que DEUS lhe deu de presente e principalmente pela personalidade e caráter em tratar a todos com o mesmo interesse e atenção, logo já será umas das referências em seu segmento, pois o XV de Piracicaba, nós torcedores e os profissionais que já tiveram o prazer em poder dividir seus trabalhos, sabem o quanto acrescenta e faz a diferença tê-lo como parceiro. Luis Marangoni já teve também seus trabalhos abertos ao público em geral em exposições nacionais e internacionais, em salões de humor e aqui em Piracicaba no Shopping Piracicaba e semanalmente os leitores do mais tradicional jornal da cidade “A TRIBUNA PIRACICABANA” são presenteados com suas charges fantásticas na página de esporte “PASSE DE LETRA”, que traz as notícias do alvinegro Piracicabano e do esporte em geral, de uma forma bem generalizada: PARABÉNS!

*Luis Tarantini, A Tribuna Piracicabana


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SERGIO MOREIRA Sergio Moreira da Silva, de 55 anos, ilustrador e professor de desenho, nasceu em Cajobi, interior do Estado de São Paulo. Em 1996, começou a trabalhar em um estúdio de artes de Piracicaba (SP) e nunca mais deixou a cidade, que é berço do Salão Internacional de Humor – concurso no qual já participou com obras na modalidade caricatura. Há quase duas décadas, dirige e leciona na própria escola de desenho, a Graf itt. Formado em Desenho Publicitário e Ilustração pelo Curso Latino-Americano de Arte (CLA) de Campinas, em 1980, também se especializou em quadrinhos. Foi arte-f inalista em agências de publicidade e atuou como ilustrador em diversos jornais da região. É fã de super-heróis e neles busca inspiração para criar. Na vida e no of ício do desenho, aprendeu e trabalhou com o renomado cartunista, desenhista e roteirista brasileiro, Hugo Martins Tristão, já falecido.

ENTRE MESTRES E SUPER-HERÓIS: A TRAJETÓRIA DO ILUSTRADOR SERGIO MOREIRA Por Claudia Assencio*

Do imaginário infantil ao olhar atento dos mestres: a paixão pelos quadrinhos e super-heróis, que surgiu na infância, acompanha a trajetória profissional do ilustrador e professor Sergio Moreira da Silva, de 55 anos. Ele, que vive em Piracicaba (SP) há mais de duas décadas, inspira outros meninos e meninas com o mesmo fascínio. Nas obras do artista gráfico, as personagens das HQs são ‘cartunizadas’ e ganham outras feições, com ênfases nos traços, de forma a aproximá-las da caricatura, com toques de humor. “O desenho está na minha vida desde criança. Meus cadernos tinham os cantos todos desenhados. Aos sete anos, eu já observava, com muito carinho, como o diretor da escola onde estudei ilustrava personagens para eu ver. Ele era muito bom, um ‘diretor desenhista’. Eu ficava encantado”, lembra o artista. Naquela idade, Sergio Moreira da Silva copiava personagens das HQs como o Superman, Batman, Aquaman e Lanterna Verde. Quando decidiu fazer


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do desenho sua profissão, pôde trabalhar e aprender com outro mestre, Hugo Martins Tristão, renomado cartunista e roteirista brasileiro, que ilustrou as histórias de Chico Bento, de Maurício de Souza. Moreira da Silva revisita, em suas obras, personagens já conhecidas das animações e do cinema. “O que me encanta na ilustração é o desenho redondo. Tenho uma tendência forte para o desenho cômico, tanto que dou preferência a super-heróis ‘cartunizados’, gosto de aplicar técnicas diferentes, na aquarela, no óleo, por exemplo”, explica. O ilustrador salienta que, para poder ‘cartunizar’ cada personagem, primeiro é necessário analisar seu viés psicológico. Embora não lhe retire a postura de super-herói, consegue demonstrar que também pode ter suas fraquezas. “Ele sempre será o grande cara, mas dá para torná-lo mais divertido, dentro e fora de seu universo, inclusive aproximando-o de nosso cotidiano”, salienta.

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* Claudia Assencio é diretora da Tempo D Comunicação e Cultura. Jornalista e educadora, com especialização em linguística. Extensão em Administração Pública da Cultura, pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). É membro do GT (grupo de trabalho) de comunicação da OCA/USP (Universidade de São Paulo). Atuou em veículos de mídia como O Estado de S. Paulo e Portal G1/Globo


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DANIEL PONCIANO Daniel Ponciano da Silva é carioca, cartunista revelado pelo extinto semanário de humor O Pasquim 21/RJ. Participou de salões internacionais como o do Irã, Turquia, Espanha, Itália e nos mais representativos do Brasil, como o de Piracicaba, Porto Alegre, Recife e Teresina, entre outros. É graduando em Comunicação Social e licenciatura em Artes Visuais. Mudou-se para Piracicaba em 2013 e atualmente tem trabalhado com murais de grandes dimensões.

DESAFIANDO VELHOS PRECONCEITOS COM MUITO HUMOR Por Rose Vidal*

Daniel Ponciano bem que quis estudar jornalismo. Mas o jeitão bem-humorado e irreverente o levou para outros caminhos, outros rios. Foi aportar à beira do Rio Piracicaba, tomou da água da terra... e nunca mais voltou para casa. Foi convivendo com o Salão de Humor uma, duas, inúmeras vezes, vivendo o humor gráfico pulsante na cidade, encontrando-se com artistas de primeira linha no mundo dos cartuns e, encantando com o “salto do rio Piracicaba”, foi construindo seus personagens e sua história. Um dos temas que o empolga no momento é a discussão difícil sobre o relacionamento humano (“homem com homem, mulher com mulher, faca sem ponta, galinha sem pé...” diz o dito popular). Mas em tempos de maior liberdade de expressão, nas discus-

sões abertas sobre gênero, homofobia, preconceitos, intolerância, Daniel sobrevive com sabedoria e competência, ensinando-nos a pensar com leveza sobre os desafios dos nossos dias. Seu príncipe encantado, seus personagens extraterrestres e outros cenários, inundam o imaginário popular nas redes sociais, provocando o riso e o pensar qualificado sobre estas novas atitudes de viver em sociedade, onde temas tabus como abortos, relacionamentos homoafetivos e quejandos, vão ganhando espaço nos tribunais, na política, na convivência diária e, expressos com o bom humor de Ponciano, nas mostras de artes tão ilustres e respeitadas como o Salão de Humor de Piracicaba.


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*Rose Vidal, Conselho Editorial da AHA e Universidade Estรกcio de Sรก, E.S.


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EDUARDO CALDARI JR. Eduardo Caldari Jr nasceu em Piracicaba-SP, em 1966. Na UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba se formou em engenharia mecânica, profissão que exerce. É também pós-graduado em Marketing pela ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing. Como cartunista, recebeu seu primeiro prêmio em um salão de humor estudantil realizado em 1981. A partir daí, não parou mais. Participou diversas vezes do Salão de Humor de Piracicaba e em mais de 200 exposições de humor gráfico pelo Brasil e também na Itália, Argentina, Colômbia, Canada, Bélgica, França, Bulgária, Japão, Alemanha, Austrália, Cuba, Turquia, Holanda, Espanha, Portugal, Irã, México, Iugoslávia, Estados Unidos, Taiwan, Israel, Peru, Egito, Quênia, Romênia, Áustria, China, Azerbaijão, Suíça, Suécia, Eslováquia, Costa Rica, Rússia, Chipre, Polônia, Croácia, Tanzânia, Uruguai, Bósnia, Hungria, Índia, Macedônia, Coreia do Sul, Indonésia e Grécia, tendo recebido diversos prêmios. Entre diversos museus e galerias, seus desenhos foram expostos no Memorial da Paz (Hiroshima, Japão), no Pentágono (Washington, EUA), ao ar livre (Brasília e Pernambuco) e até em abrigo anti-aéreo da segunda guerra, na Austrália. Participou de O Diário de Piracicaba (1984-87), Pasquim (1985-86), A Tribuna Piracicabana (1993), City News Campinas (1997-98), Bundas (2000), OPasquim21 (20022004) entre outros, além de jornais e revistas na Argentina, Polônia, França, Turquia, Espanha, China, Portugal, e EUA. Na Editora Abril, atuou na Você S.A. (2000).

ENGENHEIRO DO CARTUM Por José Occhiuso*

Quando fui convidado para participar deste novo projeto cultural da AHA, Associação dos Amigos do Salão de Humor, anexo ao convite veio um recorte amarelecido do jornal “O Diário”, de 1981, onde o jovem Eduardo Caldari, ao lado do meu amigo, um dos fundadores do Salão Internacional, do Salão da Unimep e agora na presidência da AHA, Adolpho Queiroz, me fazia a memória voltar aos anos 80. No nosso velho e querido ginásio “Sud Mennucci”, houve uma mostra estudantil, vencida por Caldari. Memórias de um tempo de construção, onde o Salão de Humor de Piracicaba emerge como uma das mais fecundas realizações que engrandecem o nome da cidade.


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E lá fui conhecer o personagem do meu biografado e sua obra. Um engenheiro mecânico? Pensei com os meus botões. Como é possível um engenheiro mecânico virar cartunista? E fui andando pelas suas memórias. Vi suas viagens para um sem número de países. E em cada viagem, sempre que possível, visitando museus sobre humor gráfico e deixando suas contribuições na imprensa local. E percebi que muitos cartunistas de hoje e sempre, nem sempre são oriundos do próprio campo. Mas a maioria das pessoas desconhece que muitos artistas gráficos têm formação, atuam ou atuaram em campos totalmente diferentes. Lembrando de alguns nomes, o Fernando Gonzáles, quadrinista da Folha, é médico veterinário (ele foi um dos responsáveis pela retirada dos bichos da região de Sete Quedas que foi inundada para formar o lago da hidrelétrica de Itaipu). Arquitetos têm diversos (Dil Marcio, Gualberto, Chico e Paulo Caruso...), o Erico Ayres (do Maranhão), é engenheiro civil, o gaúcho Ronaldo Dias e o Lor, de BH, são médicos. Sem contar o montão de gente formada em Jornalismo e Publicidade ou os que atuam como professores universitários (Mastrotti, Dacosta, etc). Talvez seja o mais internacional dos colaboradores do humor gráfico que saiu entusiasmado com os projetos neste campo em nossa cidade e ganhou o mundo com a formação de engenheiro mecânico debaixo do braço e o humor no coração. É o humor que move o mundo. E Caldari é prova disso. Fazia do serviço profissional um trampolim para cultivar sua paixão pelo campo árduo e difícil do humor, do ponto de vista profissional. São poucos os artistas que conseguem espaço na imprensa nacional e internacional para publicarem seus trabalhos. Mesmo com o advento da internet, não há nada mais saboroso do que contemplar uma charge, um cartum, uma caricatura, uma história em quadrinhos impressa num jornal ou revista. Tendo a companhia de uma boa xícara de café. Entre honrado e feliz pela oportunidade de voltar à minha terra – eu também um jornalista cigano, que percorri profissionalmente várias cidades – tenho o orgulho de lhes apresentar, o nosso “Engenheiro do Cartum”, o mais estrangeiro dos cartunistas piracicabanos.

*José Occhiuso, diretor de jornalismo do SBT


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LUCAS LEIBHOLZ Lucas Leibholz nasceu em Piracicaba e influenciado pelo tradicional Salão de Humor de Piracicaba buscou sua formação como caricaturista participando de salões de humor onde conquistou diversos prêmios nesta categoria. Reside em São Paulo onde trabalha em diversos estúdios de ilustração juntamente com grandes nomes do mercado de ilustrações e animação e atualmente trabalha no mercado de games.

REVÓLVER, ANEL E CACHIMBO NAS MÃOS DE LEIBHOLZ Por Celso Figueiredo*

Há nesta mostra do trabalho do cartunista piracicabano Lucas Leibholz uma marca indelével de como se utiliza das mãos com instrumento para criar e marcar. Nascido na nova geração dos cartunistas da cidade que cresceu vendo as mostras do Salão de Humor, Lucas saltou das barrancas do Rio Piracicaba e ganhou os grandes centros de produção cultural, onde atua hoje com grande desenvoltura. Aqui é possível ver o cowboy com armas nas mãos. O papa Bento, com o anel em destaque, nas mãos. O saci – magnífico – com o cachimbo nas mãos. Nesse universo mágico se insere o trabalho de Leibholz. Ilustrador experiente, que trabalhou em grandes projetos e empresta suas pulsações

aos personagens que desenha. A habilidade de compor frente e fundo, claro e escuro salta aos olhos de quem observa seus trabalhos. A magia das mãos – as que desenham, as que se movimentam – é expressa por seu traço cheio de detalhes com riqueza de camadas e cuidados compositivos que nem sempre se pode encontrar na ilustração contemporânea. Cowboys, sacis e um papa, esse universo, sempre sedutor é o ambiente escolhido por Leibholz para expressar sua criatividade em cores fortes. O trabalho de Leibholz mostra que há muita energia e qualidade na produção gráfica nacional, em especial nesse centro de incentivo à criação que é a cidade de Piracicaba, sede do mais importante salão de humor do país.


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HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

*Celso Figueiredo, presidente do Conselho Editorial da AHA


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LUCCAS LONGO Biólogo por formação, conservacionista, artista gráf ico e observador da natureza que o mundo aflora, Luccas Longo é formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), especialista em Biologia da Conservação pela mesma instituição e Mestre em Conservação de Ecossistemas Florestais, pela renomada Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP). Sua trajetória prof issional se destaca por suas atividades relacionadas à divulgação da fauna brasileira e em especial à observação de aves, atividade que vem se dedicando há cerca de 10 anos com a elaboração de materiais educativos e a realização de of icinas e palestras para divulgação dessa importante ferramenta de conservação da natureza.

BIÓLOGO NAS HORAS EXTRAS Por Marcelo Basso*

O que faz o biólogo? Se a pergunta é simples, a resposta é repleta de possibilidades. Isso porque o trabalhador formado em Ciências Biológicas pode atuar em diversas áreas, sendo um profissional de biomedicina, bioquímica, agronomia e desenhista. Sim, e por que não? Luccas Longo é exemplo fiel de um desses casos de ponto fora da curva que se dá bem tanto na área que escolheu como profissão como no campo das artes gráficas, onde se destacou há exatos 20 anos, quando abocanhou o primeiro lugar no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1998. Também foi meu primeiro “Salão de Piracicaba” e, enquanto eu estreava na assessoria de imprensa do evento, Luccas era premiado pela obra artística que iniciava ali uma trajetória que conversava cada vez mais com suas atividades científicas, com todo o bom humor que lhe é peculiar.


HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

Claro que não foi bem assim que tudo começou e, como em todo início e no furor de um engajamento social típico da jovialidade de qualquer estudante universitário, sua primeira grande e vencedora obra versava sobre o ‘Campo de trigo verde com cipreste’, de Van Gogh, invadido pelos integrantes do MST (Movimento Sem Terra). Bingo! O desenho conquistou o mundo ao vencer na categoria Charge a simbólica 25ª edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Depois? Depois veio a evolução natural do artista e sua obra progrediu para questões da natureza e de cunho ecológico, casando definitivamente suas habilidades gráficas com seu ativismo preservacionista, que tanto pautam suas charges e cartuns. Fauna e flora passam a dominar seus temas e, em especial, as aves ganham um destaque maior, fruto de sua atividade relacionada à observação de pássaros, além da presença comum de animais selvagens e espécies da fauna silvestre brasileira, criando personagens com antas, lontras e tatus. Visto por esse ângulo, o assunto pode parecer mais sério e menos engraçado. Mas o traço do artista suplanta o olhar técnico do biólogo e traz uma carga de denuncismo que só a arte pode fazer, com o bom humor que Luccas Longo tão bem sabe aplicar para a criação da sua obra, usada como ferramenta de refle-

xão e conscientização para as causas ambientais. O resultado disso é o riso extraído da forma mais sutil pela qual a arte gosta de agir ao exercer o papel de questionar ações e exigir mudanças de comportamento.

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*Marcelo Basso, jornalista da empresa Engenho da Notícia


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CAMILO RIANI Camilo Floriano Riani Costa, nascido em Rio Claro, interior de São Paulo, em 27 de setembro de 1965. Foi o décimo f ilho, de um total de 13, gerados pelo casal Aristóteles Costa e Clotilde Amélia Riani Costa. Como toda criança, as primeiras brincadeiras que o pequeno Camilo cultivou em sua vida foram as pinturas e rabiscos. E conforme crescia, a atividade se f irmava. Mesmo na juventude, junto ao período de descobertas, seguiu desenhando, mais e mais. Antes mesmo de atingir a maioridade, o menino rio-clarense já tinha em mente o que queria para a sua vida: continuar desenhando. Continuou. E não parou. Graduou-se em Comunicação, se tornou Mestre em Comunicação Social e Doutor em Educação pela Unesp/Rio Claro. Camilo Riani até hoje mantém suas raízes, seus traços e a sua criatividade, marca registrada do seu trabalho. Tudo isso lhe rendeu inúmeras publicações em jornais impressos, prêmios nacionais e internacionais e reconhecimento pela sua arte. Hoje é Presidente do Salão Universitário de Humor de Piracicaba e docente da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).

CAMILO RIANI E SUAS FACETAS Por Luis Carlos da Silva Filho*

Desde quando é conhecido por gente, Camilo Riani faz os seus rabiscos. O lápis e o papel na mão sempre o acompanharam desde a infância, juventude, adolescência, vida adulta, e está aí até hoje. Um relacionamento sério, compenetrado, divertido e que com o passar do tempo amadureceu. Cresceu, ganhou forma, sutileza, singularidade. A lealdade de Camilo com a arte se mantém firme e forte. Como um enlace deve ser. Camilo vem de uma família numerosa, além dele, são 12 irmãos. É o décimo da lista. Camisa 10. Número clássico e eternizado entre os futebolistas, mas o talento do menino passava longe dos pés. Estava nas mãos. Desenhava tudo o que via: figuras, objetos, pessoas. O futebol definitivamente não era a sua praia, mas, felizmente, o desenho se tornou o seu paraíso. Os desenhos renderam-lhe o seu primeiro emprego. Mesmo que, enquanto crescia, Camilo negasse que se tornaria um artista. Mas o destino o colocou nesse caminho das artes. O prazer de desenhar apenas por

diversão se tornou uma função profissional. E seguindo carreira, o ímpeto de aprender coisas novas só aumentou, tal característica o incendiava por dentro. Aquietação nunca fora uma qualidade do jovem rio-clarense, e ao ter conhecimento sobre um concurso de caricaturas em homenagem ao artista Henfil apoiado pela Rede Globo, não pestanejou em enviar um desenho. A partir disso, iniciou uma carreira vitoriosa em premiações pelo Brasil e o mundo. A título de curiosidade: dentre os jurados, o que mais brigou para que a arte de Camilo fosse vencedora foi nada mais, nada menos, do que Ziraldo. Os seus traços começaram a tomar forma, até encontrar a maneira Camilo Floriano Riani Costa de desenhar, de ver a vida, dos detalhes perfeccionistas e de ser. Rabiscos intencionalmente exagerados e informações passadas pelas suas obras sem usar uma palavra sequer, serviram para homenagear músicos, artistas e amigos que estiveram próximos durante todos esses anos.


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Se engana quem pensa que a obra de Camilo Riani se resume em apenas caricaturas. O jogo de palavras é outra grande característica do artista gráfico. Frases como “sou mais algo ritmo do que algoritmo”, “valorize a sua melhor parte” e “arte para escapar da morte” são expressões que articulam um diferente conceito – que vai além de desenhos e pinturas –, colocando a prova de que tudo pode ser arte. Até palavras. Após tantos anos desenhando, escrevendo e aprendendo, a criatividade se mantém mais viva do que nunca. Recentemente iniciou uma série de cartungrafias (termo criado pelo próprio Camilo). O conceito se define em três aspectos diferentes ao olhar a imagem. De perto são micro cartuns, de média distância transmutações em outras composições e de longe o desenho num todo, estilizado, juntando todas as partes, para entendimento livre de quem vê. Independente da maneira como Camilo Riani cria, seja desenhando ou escrevendo, o artista gráfico não para. E não demonstra vontade de querer parar. A pergunta que fica é “como uma mente tão criativa funciona?”. A resposta pode ser dita pelo próprio Camilo, mas, afinal, existe uma necessidade real por uma réplica desse questionamento? A verdade é que cada uma de suas artes revela, pouco a pouco, o que se passa na cabeça de um dos maiores expoentes do humor gráfico do interior paulista.

*Luiz Carlos da Silva Filho, é jornalista formado pela UNIMEP e assessor de imprensa da AHA


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LUCIANO VERONEZI Luciano Veronezi é nascido na cidade de São Pedro, em 1979. Adora mecânica e começou sua trajetória aos 12 anos como ajudante na funilaria de seu pai, de quem também é parceiro numa dupla sertaneja. Mas foi o desenho e o traço que o animaram, a partir da realização de um I Salão de Humor na cidade natal, onde conquistou os primeiros prêmios. Depois de lá, participou do Salão Universitário de Humor promovido pela Unimep - Universidade Metodista de Piracicaba e, em 1985 conseguiu seu primeiro prêmio no Salão Internacional de Piracicaba. Fato que o credenciou para ir trabalhar no jornal “Agora São Paulo” e depois colaborar com projetos editoriais da Abril, da Revista Imprensa e, mais recentemente, saindo do campo do humor gráf ico, migrar para o ramo da infograf ia, onde atua prof issionalmente no jornal “Folha de São Paulo” e, com este tipo de trabalho, conquistou o prêmio Mlof iej, considerado o Oscar na área. É cartunista do jornal “Gazeta de Piracicaba”, desde a sua primeira edição em 2003. Foi agraciado com o prêmio “Garcia Neto de Imprensa”, em 2009 pela Câmara dos Vereadores de Piracicaba.

VERONEZI, O VENCEDOR Por Joacir Cury*

O artista menino inspirava-se nos colegas de classe e nos professores para rabiscar suas impressões bem-humoradas sobre narizes, bocas, orelhas, olhos, cabelos arrepiados ou encaracolados, foi um dia para inscrever-se como cantor num evento cultural em São Pedro. Foi convencido por seu ex-professor, então secretário de Cultura da cidade, a promover uma exposição com os seus desenhos. Perdeu o medo e nunca mais parou de desenhar. Até virar profissional. Escrevi no prefácio do seu primeiro livro solo, em 2014, editado pela Secretaria de Cultura de Piracicaba, que o jornal que ainda hoje tenho a honra de dirigir como um dos editores, “tinha acertado na mosca” ao escolhê-lo num concurso interno para ser o apresentador das apreensões da sociedade, entre traços, frases e os impactos que são causados por um cartum no dia a dia. Desde o ano de 2003, Luciano Veronezi está conosco. São 15 anos de edições ininterruptas, que ele dividiu vez ou outra com Dalcio Machado, mas sempre tendo o privilégio dos assuntos nacionais, internacionais ou locais nas suas abordagens.

O traço é vigoroso. O texto, primoroso. O impacto disso, ao longo desta colaboração conosco, abriu-lhe as portas para o mercado profissional na cidade de São Paulo e para sucessivas vitórias no Salão Internacional de Humor, que nos seus 45 anos, homenageia os cartunistas da terra com este livro. E escolhe Veronezi para integrar o seu júri de premiação. Para o menino que trilhou o caminho do sucesso com dedicação e rara competência, um privilégio agora pertencer à equipe que seleciona entre quase quatro mil trabalhos, os 400 que serão expostos e os 10 vencedores. Não é tarefa fácil para quem já foi jogado pelos ares pelos colegas da cidade e os de profissão, quando venceu em 2004, com uma caricatura ousada – feita em gesso – sobre a romancista Rachel de Queiroz. Agora, com os pés no chão, Veronezi trilha o caminho natural dos que acreditam na própria história. Caminham. Vencem. Convencem. Partilhar do seu humor mordaz, quase que diariamente no jornal “Gazeta de Piracicaba”, tem sido prazeroso, bem-humorado e fraterno. E que venham outros bons anos de convivência.


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*Joacir Cury , Editor do jornal “A Gazeta de Piracicaba"


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FABIO SAN JUAN Fábio San Juan nasceu no dia 10 de agosto de 1974, 16 dias antes da abertura do I Salão de Humor de Piracicaba. Estudou na escola Honorato Faustino e depois graduou-se em Educação Artística e Artes Visuais na Unicamp, em 2008. Atualmente dirige a empresa Apreciando Arte, onde atua como prof issional f reelancer em artes visuais.

FÁBULAS FABIANAS Por Romualdo da Cruz Filho*

Para quem convive no campo minado das artes gráficas, sabe que em terra de Millores e Jaguares não há espaço para ingênuos. O mais simples humor tem que ter pegada forte, que segure, senão a presa foge. A não ser quando a ingenuidade é a isca para caçar mente-captos, alimento nutritivo excelente para engorda de animais da fauna desse admirável mundo velho. Quando o professor Adolpho me convidou para apresentar esse grande amigo artista, neste livro de caipiras criativos, me senti fragilizado porque, como Fábio San Juan e seus conterrâneos ilustres-ilustrados, tenho o péssimo hábito de perder o amigo, mas não perder o senso crítico. Achei até que, diante de uma pequena amostra dos seus rabiscos, teria de me render

a um anzol recheado de um humor que me era familiar: saboroso, mas sem tempero novo. Enquanto eu fugia de um suposto anzol lançado em meio às minhas ideias-fixas, fui surpreendido. Porque não só o rio se renovou como também a isca. Como o velho caipira que saiu da coivara e hoje usa sementes Monsanto, o artista que hora apresento também passou por um processo rico de depuração. Suas fábulas fabianas estão revestidas de símbolos híbridos para nos lançar a um novo campo de reflexão, com adorno e um leve toque de Adorno, com épicos e epicuristas. O velho Fábio cresceu e seu olhar, outrora de uma ingênua beleza, está bem mais penetrante e desafiador. Tem pegada e capta muito mais que uma legião de mente-capta.


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*Romualdo da Cruz Filho, jornalista formado pela UNIMEP


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WILLIAN HUSSAR Artista formado pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Foi premiado em seis edições do salão Internacional de Humor de Piracicaba, Salão de B.D. de Portugal, Salão Internacional de Imprensa e muitos outros. Publicou em diversos jornais, revista Brazilian Heavy Metal, revista Metal Pesado, os XV de Piracicaba, livro Ratos de Salão, foi autor do cartaz do 38º Salão de Humor de Piracicaba e ilustrou a revista de teatro da USP, a Aparte XXI 4, entre outros trabalhos. Membro de comissões de seleção e premiação do Salão e do Salãozinho de Humor de Piracicaba.

NOSSO MOSQUETEIRO DOS QUADRINHOS

Por Débora Tavares*

Willian Hussar tem uma trajetória importante no cenário cultural de Piracicaba. Profissionalmente ele é um desenhista pericial. Mas no fundo, no fundo, do que gosta mesmo é de fazer as pessoas refletirem sobre os relacionamentos sociais. Desde que foi estudar na Universidade de São Paulo, Escola de Comunicação e Artes, criou seus “ratos de salão” que nunca mais o abandonaram. Com eles – ou através deles – conquistou seis vezes o primeiro lugar na categoria de histórias em quadrinhos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. E de lá partiu para outros Salões no mundo, sempre vencendo, sempre crítico. As tiras dos seus ratos, que apresentamos como contribuição ao livro “Piracartum”, nasceram em 2003. Até então, segundo o próprio autor, “nunca tinha desenhado um tira”. E com isso, foi fazendo do antagonismo entre o gato – um crítico estilizado – e o rato – o artista sempre julgado, preterido, ou amado, conforme as circunstâncias – personagens fundamentais para em três quadrinhos, invariavelmente, chocar os leitores com o comportamento quase humano de seus gatos e ratos.

Aos críticos, na sua visão, resta o papel de aliar-se aos fortes, aos conhecidos, aos artistas consagrados. Aos ratos, buscar cada vez mais espaços para suas ideias e motivações. Para crescer, ratos precisam fazer acordos com críticos. E críticos, com os seus respectivos mecenas. Ele escancara os sistemas de legitimação da convivência com a arte. Mas acaba brincando de duelar com os gatos, enquanto navega com ampla liberdade pelos espaços entre os quadros, os textos, as imagens que constrói. E que incomodam alguns. Mas que causam o riso perturbador em outros tantos. Nessa tarefa de roteirista e diretor de arte, vai compondo suas historietas intrigantes. Como o esgrimista que tem uma tática importante, fustiga, simula, ataca, contra ataca. E raramente perde um duelo. Por isso o título que lhe dei neste resgate da trajetória dos cartunistas da minha cidade. Talvez seja o melhor dos nossos esgrimistas. O nosso mosqueteiro invencível. Ainda bem que ele não sabe jogar truco...


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*Debora Tavares, Conselho Editorial da AHA e Universidade Federal do Mato Grosso


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MARCELO MAIOLO Piracicabano, nascido em 16 de março de 1982. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Atua como colorista prof issional de história em quadrinhos (HQs), desde 2005, trabalhando para editoras nacionais e internacionais. Responsável pela colorização de centenas de publicações (incluindo capas e páginas internas) de títulos consagrados da DC Comics e da Marvel, como por exemplo: Batman, Superman, Liga da Justiça, Arqueiro Verde, Esquadrão Suicida, Lanterna Verde, Logan, X-Men e TeenTitans. Também tem em seu portfolio, produções para Image Comics, IDW, Legendary, Amazon, Aftershock, Titan Comics e Glénat. Já coloriu o traço de inúmeros ilustradores de diversas nacionalidades: brasileiros, norte-americanos, europeus, entre outros, com forte atuação no concorrido mercado dos quadrinhos de super-heróis e, também, no cenário das produções independentes e autorais. Maiolo foi colorista da revista em quadrinhos “Fade Out: suicídio sem dor”, projeto contemplado no edital Proac 2012 e f inanciado com recursos da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.

O MAIOR CAIPIRACOLORISTA DO MUNDO Por Victor K. Corte Real*

Pense num cara de trinta e tantos anos, robusto, bonachão, chegado num torresmo e num refrigerante e tubaína. Adicione uma fala divertida, carregada com aquele “r” mais arrastado no melhor estilo caipiracicabano, temperada com sacadas inteligentes e um humor repleto de ironia e sarcasmo. Esse é o Maiolo. Um dos mais talentosos artistas gráficos piracicabanos e, certamente, o maior caipiracolorista do mundo. Em 2013, tive a oportunidade de ser aluno do Maiolo no curso de colorização digital da MadBox, uma escola-estúdio fundada por ele em parceria com outro gigante das artes gráficas de Piracicaba, o Rafael de Latorre. Permaneci aproximadamente um ano no curso, tendo uma aula semanal de cerca de três horas de duração, numa sala com outros 10 ou 12 alunos. Naquele período, esse tal mestre caipiracolorista foi o responsável por explodir minha cabeça, demonstrando e transmitindo com a didática mais espontânea, natural

e eficaz que você possa imaginar, o que uma mesinha digitalizadora e o Photoshop podem fazer com o universo das cores. Já fazia um tempo que eu conhecia o Maiolo e acompanhava o reconhecimento de seu trabalho colorindo páginas de vários “gibis” da DC, Marvel e de outras editoras de quadrinhos de super-heróis. Mas, foi durante as aulas que tive a oportunidade de invadir o mundo desse cara e descobrir o quanto ele ralou, e continua ralando, para conquistar e manter um grau extremo de sensibilidade artística e de habilidade técnica. Muita coisa aconteceu ao longo dessa jornada, dá para afirmar que o Maiolo conseguiu construir uma assinatura cromática própria. Ele desenvolveu um estilo marcante no uso das cores. Por incrível que pareça, caso você leitor não seja um observador tão atento, o trabalho profissional de colorização não é, simplesmente, algo como pintar ou preencher uma ilustração.


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As cores são elementos determinantes numa narrativa visual. As escolhas cromáticas são verdadeiras protagonistas nas obras do Maiolo, as histórias ganham uma intensidade, uma dramaticidade especial e muito particular, a partir do estilo que ele imprime aos pincéis (ou brushes, como são chamados no Photoshop). Acho que pouca gente sabe, mas as cores de boa parte das ilustrações da exposição permanente do Museu Prudente de Moraes foram feitas por ele. Desde pequeno, Maiolo sempre curtiu esse mundo dos desenhos, mas muito cedo precisou encarar um “trabalho de verdade”, foi garçom, empacotador de supermercado e tomateiro. Depois de um tempo, direcionou todo esforço e dedicação ao mundo das cores, visando atuar no mercado americano de quadrinhos. Meteu a cara e chegou lá!

Arte: Bernard Chang / ©DC COMICS. All rights reserved. Arte: Eddy Barrows / ©MARVEL COMICS. All rights reserved. Arte: Igor Vitorino / ©DYNAMITE ENTERTAINMENT. All rights reserved.

*Victor Kraide Corte Real, PUC, Campinas e diretor de projetos da AHA


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RAFAEL DE LATORRE Nasceu em Piracicaba em 21 de fevereiro de 1983, fez o ensino médio no colégio Anglo e cursou Design Gráf ico na Universidade Metodista de Piracicaba. Frequentou também a Quanta Academia de Artes. Para o mercado americano desenhou a HQ “SuperZero”, escrita por Jimmy Palmiotti e Amanda Conner, da editora Aftershock Comics. Em 2016 passou para o seu segundo título na editora, “Animosity”, escrita por Marguerite Bennett. Em 2017 foi indicado ao “Russ Manning Promising Newcomer Award” e ao “Ringo Awards”.

DAS BARRANCAS DO RIO PIRACICABA PARA O MUNDO Por Nahara Macovics*

Rafael de Latorre é um dos expoentes da geração piracicabana pós Salão de Humor, que certamente influenciado pelo que viu desde a infância, evoluiu profissionalmente e figura hoje na galeria dos artistas internacionais mais prestigiados no campo das HQs. Trabalha com produção editorial e publicitária desde 2006. Sua primeira história em quadrinhos foi Fade Out: Painless Suicide, indicada ao prêmio HQMix no Brasil. Ele também trabalhou em Lost Kids: Seeking Samarkand e 321: Fast Comics. Sua parceria com o também piracicabano Marcelo Maiolo, o confirmaram como um dos grandes ilustradores de revistas de quadrinhos como “SuperZero” e “Animosity”, entre outros projetos.


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“Eu me lembro quando o Maiolo me contou sobre Mike Marts e a AfterShock. É uma daquelas coisas que você sabe que resultarão em novos projetos incríveis. Imagine minha reação quando fui convidado para desenhar um de seus próximos títulos, que Jimmy Palmiotti e Amanda Conner seriam os roteiristas, e ainda contaria com Marcelo Maiolo nas cores.” Dentro das atividades do Salão de Humor de Piracicaba, participou do workshop sobre criação de personagens, na 39º edição, e foi jurado de seleção do Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 2013 e 2015. Recentemente, Legendary adquiriu os direitos de adaptação da HQ Animosity para os cinemas. Publicados pela AfterShock, os quadrinhos são escritos por Marguerite Bennett e ilustrados pelo brasileiro Rafael de Latorre. A HQ pós-apocalíptica tem como protagonista Jesse, uma garota de 11 anos que luta para sobreviver depois de o mundo ser lançado no caos

quando animais repentinamente ganham a habilidade da fala e do raciocínio e pretendem se vingar dos humanos que os dominaram. Junto com seu cachorro, Sandor, Jesse começa uma jornada de Nova York a São Francisco para encontrar a única pessoa que pode protegê-los.

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*Nahara Makovics, Conselho Editorial da AHA e Faculdade de Guaxupé M.G.


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Danilo Angeli Danilo Fernando De Angeli, primogênito de Otávio e Amélia, brotado há 40 primaveras, no dia original de Cosme e Damião, nas terras deste amado planeta chamado Piracicaba. Formado em pedagogia, tenta aprender a desenhar e imaginar como as crianças e, em contrapartida, tenta fazê-los não esquecer que imaginaram e desenharam seus mundos assim um dia.

DANILO POR DANILO Por Danilo Angeli*

Geral: Em nosso mundo, só que alternativamente, a magia, os mitos e criaturas fantásticas ocupam o mesmo status que a tecnologia ocupa hoje. Por consequência, a tecnologia costuma ser vista como algo que explode quando deveria funcionar e funciona quando deveria explodir. Um pouco da minha obra. Individuais: Elfa Guerreira ‘2018 Canetas Nanquim e Marcadores Copic sobre papel. Uma das seguidoras de minha personagem Greena Esquivatríz, que foi parte importante, ao lado de Lobisomens, Anões, Gnomos, Orcs, Vampiros, Humanos e outras raças na tentativa de conterem a Dinastia Dragônica.

Escamafuria vs Orvalhobo Uivalua’ 2018 App Concepts do Ipad Como era de se esperar, um único Lobisomen não teria a menor chance contra o temível Escamafuria. Entretanto, sobreviver ao líder dos dragões, ainda que com uma ou outra parte do corpo faltando, o tornaria uma lenda. Stonehands’ 2018 App Concepts do Ipad. Nem só de espalhafuso o homem viverá, este é meu druida, na especialização de Equilíbrio (também jogo de suporte e tanque), na lenda em forma de MMO: World of Warcraft. Tive o imenso prazer da Blizzard do Brasil postar esse desenho na linha do tempo deles, pela Aliança!!!


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AMAURI RIBEIRO Baiano de Salvador, nascido em 12 de agosto de 1977 na cidade de Irecê. Dirige o Studio Amauri Ribeiro, onde ensina arte, ilustração, HQs, cartuns e caricaturas para alunos de todas as idades em Piracicaba. Está em Piracicaba desde 2003 e atua produzindo cenários, ilustrações, pinturas, murais, recintos. É também ilustrador de livros didáticos.

PROFESSOR DO ESPAÇO GRANDE E DAS CABEÇAS PRIVILEGIADAS Por Maurici Scarpari*

O baiano Amauri Ribeiro está em Piracicaba desde o começo do século XXI e não saiu mais daqui. Fincou raízes na cidade, inaugurou um estúdio que funciona como escola de artes para crianças, jovens, adultos que queiram sob sua inspiração, trabalhar com arte, ilustração. Sua presença em grandes espaços públicos da cidade – como os murais que idealizou para enfeitar e engrandecer as paredes do Jardim Zoológico de Piracicaba, são apenas uma pequena mostra de como se sente bem trabalhando em espaços livres. Preferencialmente em grandes espaços, que domina com maestria. Cria para os espaços virtuais. Faz anúncios. To-

dos com inspiração na caricatura e no bom humor. Que aprendeu a conhecer e cultivar a partir dos Salões de humor da cidade, que frequenta desde que por aqui chegou. Mas o seu maior prazer e competência, estão em ensinar. Nas estantes de livros do seu estúdio é possível percorrer grandes autores. Livros que vão das anatomias às cores. Passando pelos clássicos do humor gráfico que o divertem. E também ensinam. Um dos trabalhos recentes que idealizou na cidade, para jovens alunos, foi realizar material para a exposição “Game Mania”, tendo como premissa o humor gráfico.


HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

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1. Homenagem ao filho Theo 2. Caricaturas para um blog 3. Olha o gato...

*Maurici Scarpari, Coordenador do Curso de Publicidade da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara d´Oeste


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MARCOS NOZELLA GIL Nasceu em Piracicaba em 1959. Artista plástico autodidata. Diagnosticado com dislexia aos 40 anos, Nozella teve muitas dif iculdades de aprendizagem no período escolar. Sem conseguir ler um livro inteiro, passava de período no colégio com ajuda de amigos e professores. “Imagine como sof ri até saber o que eu realmente tinha. Na época da escola, era tachado de burro”. Superou a def iciência por meio do desenho e da pintura. O artista começou a pintar prof issionalmente em 1982. Com estilo moderno e conhecido pelas pinturas ao ar livre, Nozella já participou de várias mostras e exposições, como “As Árvores da Minha Vida” e “Quatro Anos de Pintura ao Ar Livre”, compostas por trabalhos que o artista realiza em companhia do grupo Caipiras do Plein Air, de Piracicaba. Também integrou o grupo Pamonhas de Piracicaba, formado por Erasmo Spadotto, Willian Hussar, Érico San Juan, Eduardo Grosso, entre outros artistas gráf icos piracicabanos.

ACERTOU NA MOSCA! Por Mariana Valadares*

Foi em 1987 que Nozella enviou pela primeira vez trabalhos para o Salão Internacional de Humor de Piracicaba, incentivado por um amigo. “O Salão era uma vez por ano. Amor pelo prêmio”, confessa. Profundo conhecedor das cores e um dos precursores de cartuns coloridos no Salão, Nozella se incomodava com os desenhos em branco e preto, técnica em voga em um determinado período do Salão e que por vários anos conquistou a simpatia dos membros do júri. “Um passarinho me disse para enviar desenhos branco e preto, porque o pessoal do Pasquim e outros jornais gostavam, mas mesmo assim partia para o colorido.” O primeiro trabalho selecionado, um cartum, tinha como tema a AIDS e trazia a frase “Bonita camisinha, Fernandinho”, alusão à propaganda de 1984 de uma famosa marca de camisas. Nozella descobriu por um acaso que foi selecionado, quando foi visitar a exposição e deu “de cara” com o desenho. Em 1988, o artista tinha cinco desenhos para

inscrever na 15ª edição do evento, mas o regulamento estabelecia inscrição de no máximo três obras por artista. Segundo ele, o mesmo “passarinho” contou que artistas estrangeiros mandavam mais que o permitido e foi a partir daí que resolveu colocar dois cartuns em nome da esposa – Luciene Nogueira Montenegro. “Escolhi um desenho que qualquer pessoa poderia fazer. Caso ela ganhasse, seria mais fácil para explicar”. Parecia que estava adivinhando. Recém-casado, tinha acabado de se mudar para Fortaleza (CE), quando o cunhado lhe deu a notícia sobre a premiação de US$ 1 mil. “Foi em meu nome? Não, foi o desenho da Luciane.” Luciane foi a primeira mulher piracicabana a “ganhar um prêmio no Salão”, com um cartum, que parece 3D, que criticava o mandato de cinco anos do ex-presidente José Sarney (1985-1990). “Com compasso, nanquim e látex, fiz um alvo com cinco repartições, dese-


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nhei um dardo verde e amarelo em cima de uma mosca na quinta parte”, explica o artista, que também teve outro desenho, agora em seu nome, selecionado para aquela exposição. A organização do evento soube do ocorrido, após Nozella contar para uma dirigente. “Eles não podiam fazer nada, o processo de inscrição foi legal”, relata. Ninguém questionou os motivos da ganhadora nunca ter aparecido em público. Nozella enviou desenhos até 1990, mas não foi mais selecionado. “Por conta do episódio de 88”, acredita.

*Mariana Valadares, Assessora de Imprensa Sindiban, SP


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VINICIUS VELLO Vinicius Vello é o nome artístico de Vinicius França Velo, de 35 anos. Natural de Piracicaba (SP), cria personagens e histórias em quadrinhos desde os 14 anos. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) em 2004, trabalhou para agências do interior de São Paulo, em cargos como diretor de arte e ilustrador, até o ano de 2006, quando se mudou para a capital, com o objetivo de cursar, em 2007, o programa de longa duração “Voyage - curso de cinema e animação”, da Faculdade Melies de Tecnologia. Trabalha, desde 2009, no mercado publicitário, editorial e de produção de conteúdo como roteirista, storyboarder, conceptartist e generalista 3D. Em 2012, participou da produção do documentário “O dia que durou 21 anos”, que obteve sucesso de crítica, como Script Doctor e Generalista 3D. Em 2014 participou como Modelador e Texturizador 3D da série de animação “As Aventuras de Fujiwara Manchester”, da Buba Filmes, exibida pela TV Cultura. Atuou ainda no longa-metragem de animação “Lino”, da Anima Studio, lançado em 2017. Foi contemplado pelo ProAC (Programa de Ação Cultural) do Governo do Estado de São Paulo em 2017, no Concurso de Apoio a Projetos de Criação de História em Quadrinhos, com a HQ “Procissão”, que será produzida em 2018.

DOS SUPER-HERÓIS AMERICANOS AO SERTÃO BRASILEIRO: A ARTE CAMALEÔNICA DE VINICIUS VELLO Por Rafael Bitencourt*

Chamados de “Comics”, os quadrinhos produzidos nos Estados Unidos tiveram, ao longo dos anos, grande aceitação no Brasil, conquistando leitores e impactando muitos artistas. É o caso do piracicabano Vinicius Vello, que destaca a importância de grandes nomes do estilo no seu trabalho. “Minhas primeiras influências foram os quadrinhos americanos, em especial, nomes como Jim Lee e J. Scott Campbell. Mas posso enumerar muitos artistas como Frank Miller e Joshua Middleton”, disse Vello. É interessante notar que outros países possuem as suas expressões para os quadrinhos, como “Manhwa” na Coreia e China, “Gibi” no Brasil e “Mangá” no Japão, esse último país, outra grande influência do piracicabano. “Conforme fui crescendo, fui sendo muito influenciado por artistas como Hayao Miyazaki e Masashi Kishimoto”, conta.

Essa história artística multiétnica começou aos 8 anos, quando Vinicius pediu aos pais para entrar em um curso de desenho. Aos 13, o foco passou a ser os super-heróis, personagens que lia nos quadrinhos e assistia nas animações. Porém, a vida profissional artística começou na publicidade. “Acho que é assim para quase todo mundo que tem uma estética mais ‘pop’. Por um tempo, trabalhei como diretor de arte em agências, mas fui me inclinando para a ilustração. Quando me mudei para São Paulo em 2005, descobri o 3D e fiquei encantado com a possibilidade de contar histórias com essa estética”, afirma. Seu novo projeto, a HQ “Procissão”, é um “faroeste à brasileira” que tem como cenário o sertão nordestino da década de 1930. “A ideia era fazer um guerreiro tipicamente brasileiro, e não há nada mais exclusivamente brasileiro do que o cangaço. No mundo, não há nada es-


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teticamente parecido e nem tão rico quanto o cangaceiro. Criando o personagem, um ciclo se fechou dentro de mim e a história veio inteira na minha mente, ganhan-

do vida de repente”, completa o artista, ressaltando a característica camaleônica de sua arte, que permite dar vida a um vasto leque de histórias e personagens.

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*Rafael Bitencourt é diretor da Tempo D Comunicação e Cultura. Jornalista graduado pela Unimep, com extensão em Administração Pública da Cultura pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e especialização em Gestão e Políticas Culturais pela Universidade de Girona (Espanha). É pesquisador e membro do GT (grupo de trabalho) de comunicação da OCA/USP (Universidade de São Paulo).


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LUIZ FERNANDO CAZO Luiz Fernando Cazo nasceu em 7 de junho de 1981, em Bocaina (SP). Após concluir, em 2005, a graduação em Artes, pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), passou a trabalhar como professor. Na época, produzia charges esporadicamente, enviando algumas obras para salões de humor, incluindo o de Piracicaba. Em 2010, foi convidado para ser chargista do jornal Comércio do Jahu. Por dois anos, conciliou os empregos, mas optou por permanecer tão somente com as charges, atuando, também, como f reelancer na confecção de ilustrações para livros e materiais didáticos. Teve obras veiculadas na revista Veja e no portal de notícias UOL.

A TRAJETÓRIA DE CAZO DE BOCAINA AO JORNAL DE PIRACICABA Por Sabrina Franzol*

O interesse dele pelo universo do humor gráfico foi despertado na infância. Quando criança, visitava a fazendo do avô aos domingos e lia nos jornais que seriam usados para acender o fogão à lenha quadrinhos e tirinhas de autoria de Angeli e Laerte. Aproveitava para rabiscar as fotos dos políticos, fazendo, por exemplo, óculos nas faces das autoridades. É casado desde 2014, ano em que fixou residência em Bauru (SP). Tem como influências os cartunistas Charles M. Schulz (1922-2000), americano criador do Snoopy; Quino (1932), argentino inventor da Mafalda, e o brasileiro Dalcio Machado. Acumula, no currículo, "hors-concours" e o segundo lugar na categoria charge do 7º Salão Internacional de Humor de Paraguaçu (2014). Atualmente, charges de autoria de Cazo são publicadas em mais de 10 jornais, situado em diversos Estados do país, entre os quais estão Rio Grande do Sul,

Minas Gerais e São Paulo. No Jornal de Piracicaba, os trabalhos do artista bocainense estão desde meados de 2017. Como a charge se caracteriza por sátiras a acontecimentos atuais, Cazo aborda nas obras assuntos do esporte e situações do cotidiano, mas a predileção é pela política brasileira, considerada por ele um “prato cheio para questões humorísticas”. Dentro desta temática, já tratou de corrupção, programas do governo, como o Bolsa Família, greve dos caminhoneiros, feriados, impostos, violência, educação, entre outros. As charges de Cazo contêm títulos, a fim de contextualizar quem as lê. Elas são estampadas, na maioria das vezes, por figuras que representam humanos, de autoridades a cidadãos comuns, com diálogos. Aspectos típicos destas personas são ausência de pescoço definido e nariz avantajado, de coloração avermelhada.


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*Sabrina Franzol, Jornal de Piracicaba


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CASSIO DE NEGRI Cássio Negri nasceu em Piracicaba, no dia 19 de maio de 1974; estudou no Dom Bosco e aos 14 anos já foi selecionado para o Salão Universitário de Humor da Universidade Metodista de Piracicaba. Mais tarde expos no Salão Internacional, nos anos 80. Fez o curso de medicina na Escola Paulista de Medicina, Unifesp, onde se formou na turma de 1997.

DE MÉDICO E DE CARTUNISTA... TODO MUNDO TEM UM POUCO! Por Ana Camila França de Negri Kantowitz*

O talento de Cássio Fernando França de Negri surgiu na infância, quando criava histórias em quadrinhos baseadas nos amigos e rabiscava nos cadernos diversas caricaturas dos professores do Colégio Salesiano Dom Bosco Assunção, escola tradicional na cidade. Começou a participar do Salão Internacional de Humor aos 10 anos, competindo com adultos profissionais, pois na época ainda não havia o Salãozinho específico para crianças. Em 1988, aos 14 anos, Cássio foi selecionado no 15º Salão Internacional de Humor de Piracicaba com um engraçado cartum que usava o sentido literal do termo camisa-de-vênus, nome popularmente dado ao preservativo, alusão à Vênus, deusa do amor. O

aparecimento da AIDS na década de 80 mexeu com a sociedade em geral, e o uso do preservativo passou a ser um dos grandes assuntos do momento. Sabendo dessa “moda”, podemos ver no cartum um ET vindo diretamente de Vênus para vender as “legítimas camisas-de-vênus”. Apesar do traço perfeito e das boas ideias e piadas que sempre teve, não seguiu a área das artes e escolheu a carreira do pai, a Medicina, como profissão. Na década de 90, quando estudante da Unifesp – Escola Paulista de Medicina, participou das primeiras edições do Salão Universitário de Humor da Unimep. Seu primeiro trabalho exposto nesse salão foi em 1992, com a caricatura em que satirizava o então presiden-


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*Ana Camila França de Negri Kantowitz, ME professora da UNIMEP

te Fernando Collor de Melo, que passava por maus bocados até o Impeachment. No ano seguinte expôs um cartum cuja temática é até hoje atual. Segundo o próprio artista: “É um político com cabeça de rato e ratos com cabeça de político. Eu tinha acabado de me mudar para São Paulo, para fazer faculdade, e ficava impressionado com o concreto armado por toda parte, e a fauna de ratos e baratas”. A vida corrida de médico e a família que cresceu, tomaram seu tempo, e o desenho virou um hobby esquecido. Somente há pouco tempo voltou a se inscrever num concurso de paleoarte (uma mistura de estudos de paleontologia e arte, em que se tenta reconstituir como seria a aparência de seres vivos extintos a partir dos fósseis). Sua obra intitulada “Piracicaba Pleistocenica” levou o 1º lugar amador no 4º Congresso Internacional de Paleontologia, na Argentina. No papel, uma colorida Piracicaba e sua possível fauna e flora na era paleolítica, feita com lápis de cor.


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ERASMO SPADOTTO Nascido em 21 de outubro de 1967, na cidade de Santa Maria da Serra. Mudou-se ainda jovem para Piracicaba e estudou na escola “Melo Moraes”. Foi entregador de jornais, mas f irmou-se prof issionalmente como cartunista, atuando no “Jornal de Piracicaba” por 25 anos. Em 2017 assumiu a direção do CEDHU e do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Foi autor de um dos cartazes da mostra.

ERASMO, 25 ANOS DE HUMOR Por Rodrigo Alves*

Erasmo Spadotto, artista de 50 anos, viveu a ebulição do jornalismo piracicabano. Diretor desde 2017 do Cedhu Piracicaba (Centro Nacional do Humor Gráfico), ele permaneceu por mais de duas décadas no Jornal de Piracicaba. Em 2018, celebra 25 anos de trajetória artística. Erasmo nasceu em Santa Maria da Serra. Quando ele tinha 14 anos, a família se transferiu para Piracicaba. Como forma de colaborar com as despesas de casa, trabalhou como despachante, bicheiro, atendente em farmácia, comerciante, vendedor, bancário e motorista, sem abandonar a paixão da infância, o desenho. A vontade de atuar no Jornal de Piracicaba aumentou na década de 1990, período em que frequentava faculdade de design, em Tatuí. Foram inúmeras tentativas de mostrar o seu trabalho ao então editor Geraldo Nunes, até que um amigo, funcionário do jor-


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nal, deu o conselho: “– Tente o cargo de revisor”. Erasmo trabalhava como atendente na Livraria Libral – na rua Boa Morte, no Centro de Piracicaba. Ele descobriu que Célia Blumenschein, chefe do Departamento de Pessoal do JP, morava no Edifício Santo Antônio, praticamente em frente ao endereço da livraria. Abordou a elegante senhora e conquistou sua simpatia, mas levou pelo menos 20 “nãos”. Um certo dia, a vaga surgiu. A data de contratação: 2 de abril de 1993. Com o emprego em mãos, Erasmo teve de fazer manobra, pois o expediente na redação era das 14h às 19h, enquanto a saída do ônibus para Tatuí deveria ocorrer uma hora antes. Driblou a chefia por um certo tempo, até Antonietta Rosalina da Cunha Losso Pedroso descobrir. A diretora do JP o chamou para uma conversa, das mais positivas. Feliz em saber que o jovem rapaz estava investindo nos estudos, aceitou a jornada reduzida, ofereceu uma bolsa integral e o custeio do transporte. A oportunidade de produzir a primeira charge para o JP – ainda nos tempos do past-up – veio de uma ocorrência policial. Não havia fotografia para ilustrar a reportagem e Erasmo entrou em ação. Correu até a Libral, comprou as canetas e os lápis necessários. A charge dizia: “Toda nudez será castigada”, em alusão a uma inusitada ocorrência policial feita por uma delegada a um cidadão adepto da chispada, prática de correr nu em locais públicos, algo comum no passado. Mesmo com a repercussão positiva do desenho no dia seguinte, Erasmo percebeu que se tratava de um fato isolado. Até então, as únicas charges publicadas no jornal eram assinadas esporadicamente por Edson Rontani, criador do personagem Nhô Quim, enquanto Érico San Juan produzia ilustrações para o suplemento infantil Jornalzinho. A reviravolta ocorreu na reestruturação do suplemento Jornal de Domingo. Contratado para executar o projeto, o designer Emílio Moretti conversou com a editora Ana Lúcia Kazan para que Erasmo assumisse as ilustrações. Antonietta Rosalina consentiu e ele deixou a revisão. Teve de trancar a faculdade no quarto semestre, diante das exigências de jornada estendida na redação. A partir do momento em que chefia e editores conheceram o seu trabalho, o leque aumentou: primeiro, com uma charge diária na página 2, de Opinião, e depois para a coluna OFF JP, de bastidores políticos. No começo, os trabalhos eram feitos diretamente no pa-

pel, com nanquim e pincel. Com a chegada dos computadores, Erasmo trabalhou também na criação e produção de anúncios publicitários, acumulando as ilustrações para o caderno JP Radical, voltado ao público jovem, a confecção de infográficos para reportagens especiais e a produção de storyboards para as matérias policiais. Assinou a coluna Fala aí, que mesclava texto e ilustrações. Às sextas-feiras, a produção era tão grande que entrava na redação no período da manhã e permanecia até a madrugada. Nas duas décadas de JP, Erasmo conheceu o estilo de cada editor: Geraldo Nunes, Joacir Cury, Antônio Carlos David Chagas, Mário Evangelista, Rosemary

*Rodrigo Alves, Assessor de imprensa da Câmara Municipal de Piracicaba


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Bars Mendez, Marisa Massiarelli Setto e Ude Valentini. Erasmo não esconde que alguns de seus trabalhos deixaram de ser publicados, por serem considerados ácidos demais pelos editores. A partir da gestão de Evangelista, suas charges ganharam a primeira página do jornal, em várias ocasiões. Até a saída do JP, Erasmo ilustrou os textos de opinião dos colaboradores do matutino, as artes para os cadernos Movimento, Tribos, Jornalzinho, Fim de Semana e Agito & Gourmet, as caricaturas semanais da seção Persona e as edições da Revista Arraso. Em 2013, celebrou as duas décadas de arte com a mostra “Erasmo 20”, na sede do Cedhu Piracicaba, no Engenho Central. Após o período no jornalismo diário, tem se aprimorado na criação de obras de humor tridimensionais e é colaborador de charges esportivas para o portal Líder Esportes. Também produz pinturas em acrílico sobre tela. Já não produz charges diariamente e mantém certa resistência em levar suas obras para as redes sociais. CAPIVARAS É de dentro da redação que nasceu a criação mais conhecida na trajetória de Erasmo: as Capivaras. Surgiram a pedido de Mário Evangelista, inicialmente como tirinhas, em 2002, quando Piracicaba passava por surto de febre maculosa. A doença é transmitida pelo carrapato-estrela, que tem a capivara como um dos principais hospedeiros. O problema de saúde passou, as Capivaras ficaram. Tornaram-se personagens da cidade, uma espécie de alterego do piracicabano. As Capivaras sempre estiveram prestes a destilar uma observação ácida ou bem-humorada sobre questões locais, nacionais e internacionais. Elas participaram de Copas do Mundo, Olimpíadas, assistiram a morte de Michael Jackson e a eleição de Barack Obama. Em 2013, ano em que completou 20 anos de carreira, Erasmo tirou as Capivaras do papel jornal e as transformou em livro. No mesmo ano, as capivaras ganharam uma mostra paralela ao 40º Salão Internacional de Humor, no Museu Histórico Prudente de Moraes e, em 2014, na biblioteca da Fumep (Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba).

Hoje, as Capivaras estampam camisetas e aparecem em diferentes contextos, remetendo a artistas como Raul Seixas, Charles Chaplin, Freddie Mercury e David Bowie, ou mesmo atravessando a faixa de pedestres da rua Moraes Barros, em direção à centenária Árvore Sapucaia (a exemplo dos Beatles, na Abbey Road, em Londres). Erasmo estima ter produzido no Jornal de Piracicaba 11 mil tiras das Capivaras, de 2003 a 2014. O SALÃO É em 1994 que Erasmo tem o primeiro trabalho selecionado para o Salão Internacional de Humor de Piracicaba: um cartum sobre a aposentadoria, também detentor da Menção Honrosa. Em 2006, na 33a edição do Salão, recebeu nova Menção Honrosa, por um cartum sobre a criminalidade infantil. Garantiu premiações nos salões de humor das cidades de Caratinga, Amazônia e Belo Horizonte, além do EcoCartoon. No Salão de Piracicaba, sua produção ganhou destaque nos livros “Os Quinze de Piracicaba”, lançado em 2003 pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo sobre 15 humoristas gráficos piracicabanos, e “Balas não Matam Ideias”, de 2013, organizado por Adolpho Queiroz e Letícia Hernandez Ciasi. Organizou, com Adolpho Queiroz e Evaldo Vicente, o livro “Folclore Político e outras Plagas”, em 2014, pela Editora Nova Consciência. O chargista participou ainda do projeto “Humor na Sala de Aula”, em palestras nas escolas da rede estadual para professores e estudantes, estimulando os mais jovens a conhecerem a linguagem do humor gráfico e a se inscreverem no Salãozinho de Humor. Em 2014, ano em que desenhou o cartaz da 41º Salão, recebeu o convite para integrar a equipe do Cedhu Piracicaba. Na 44a edição (2017), Erasmo se juntou a um grupo de artistas da cidade para o “Pira Parade”, exposição itinerante que comemorou os 250 anos de Piracicaba, com peixes customizados em fibras de vidro. Quando indagado sobre o principal prêmio da carreira, Erasmo é enfático ao afirmar: o convite para dirigir, a partir de julho de 2017, o Cedhu Piracicaba, órgão responsável pela organização do Salão Internacional de Humor.


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SOBRE OS AUTORES ADOLPHO CARLOS FRANÇOSO QUEIROZ, é formado em publicidade e propaganda pela Universidade Metodista de Piracicaba; com mestrado na Universidade de Brasília; doutorado na Metodista de São Paulo e pós-doutorado na Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro. Atualmente é professor do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara d´Oeste. É um dos fundadores do Salão Internacional de Humor de Piracicaba; tendo participado de várias das 45 edições já realizadas na condição de membro de comissões organizadoras, presidente de comissões, júri de premiação e mais recentemente na condição de presidente e membro do Conselho Consultivo do mesmo Salão. Autor de vários livros sobre o salão como “1973, quando tudo começou, a história do I Salão de Humor do Brasil na Universidade Mackenzie”, “Balas não matam ideias”, “Cáxara de forfe”, “Risadaria no salão de humor de Piracicaba”. Preside atualmente a AHA, Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, que editou os livros “Batom, Lápis e TPM”, de Camila Lellis e “Um incêndio na lógica, os 25 anos do salão universitário de humor da UNIMEP”, entre outras colaborações para jornais e revistas especializadas. Apresentou a comunicação científica “As origens do salão de humor de Piracicaba” na IAMCR, International Association for Mídia Comunication Research, em Montreal no Canadá em 2015 e foi um dos responsáveis pela primeira exposição do salão em Roma, na Itália, no ano de 2016. Um dos curadores da exposição “O humor gráfico nos jornais do mundo”, realizada pela AHA e CEDHU em 2017 na estação rodoviária de Piracicaba. Um dos idealizadores da I Feira de Quadrinhos e Humor Gráfico, como atividade paralela do Salão de Humor de Piracicaba. Um dos idealizadores da mostra “Homenagem aos cartunistas de Piracicaba”, a ser realizada no período de agosto a dezembro de 2018 por ocasião do 45º Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

EDSON RONTANI JUNIOR é graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo, ambos com titulação conferida pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Atua como jornalista desde 1979, como editor da página infantil do Jornal do Povo Piracicabano, redator da Central Difusora de Jornalismo, coordenador de jornalismo da Rádio Alvorada de Piracicaba e colaborador dos jornais A Tribuna Piracicabana, Jornal de Piracicaba, O Diário de Piracicaba, entre outros. Foi membro da Comissão de Seleção do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (2011) e presidente do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (2012). É vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP) no qual atua como diretor-secretário, preside o Núcleo Voluntários de Piracicaba de estudos sobre a Revolução de 1932, membro da Academia Piracicabana de Letras e é vice-presidente da AHA. Atua desde 1994 como assessor de entidades odontológicas dentre elas Uniodonto Piracicaba, Uniodonto São Paulo, ASSENDO/FOP-Unicamp e Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas Regional Piracicaba. Tem dois livros publicados e várias outras obras em coletâneas.


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MARIA LUZIANO é formada em Publicidade e Propaganda e em Design Gráfico pela UNIMEP. Foi designer gráfica e ilustradora do Jornal de Piracicaba e revista Arraso por mais de oito anos, sendo responsável pelas ilustrações editoriais diárias do matutino e edições mensais da Revista Arraso. É criadora da página @mariasaidalata no Instagram com mais de 20 mil seguidores onde compartilha fatos do cotidiano feminino recheados de bom e mau humor. É diretora artística da AHA - Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Já participou de várias exposições coletivas em Piracicaba, como a Batom, Lápis e TPM, exposição composta exclusivamente por artistas mulheres. Participou do Casa Cor São Paulo em 2013, com o quadro Monalisa no Lounge Gourmet por Gustavo Calazans. Em 2014, seu desenho ‘Frida Kahlo’ foi publicado no livro “Latidos Visuales, Las mejores ilustraciones latinoamericanas”, pela Universidad de Palermo na Argentina. Publicou o livro “Piracicaba que eu adoro tanto colorir” em parceria com o Jornal de Piracicaba, em 2015. Realizou a mostra individual ‘Maria Sai da Lata’, composta por cerca de 50 ilustrações, no Museu Prudente de Moraes – Piracicaba, em parceria com o Salão de Humor de Piracicaba em 2016 e em 2017, a exposição individual “Caricaturas de Maria Luziano”, no Terminal Rodoviário de Piracicaba e a exposição “Maria Sai da Lata” paralela ao Salão Universitário de Humor na Unimep. Em 2018 participou da exposição coletiva Humorosas no Museu de Arte Contemporânea de Campinas – MACC.

VICTOR KRAIDE CORTE REAL é formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), é mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Trabalha com design, criação e produção gráfica desde 1995. É proprietário da Agência Royale, uma consultoria de comunicação integrada e marketing. É professor extensionista e diretor do curso de graduação em Design Digital do Centro de Linguagem e Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). É membro da diretoria da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa de Piracicaba e atua como diretor de projetos na AHA – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.


espaço para as manifestações dos nossos artistas gráficos. Que este livro venha a enriquecer a bibliografia que vimos construindo nos últimos anos sobre o Salão de Humor.

ISBN 978-85-53156-14-6

NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

Este livro foi possível graças ao Fundo de Apoio à Cultura - FAC da Secretaria Municipal de Ação Cultural e Turismo de Piracicaba e do Conselho Municipal de Cultura - COMCULT, organismos ligados à Prefeitura do Município de Piracicaba. Expressamos nossa gratidão aos cartunistas e ilustradores envolvidos neste projeto, bem como aos jornalistas e pesquisadores brasileiros, que se AGRADECIMENTOS AOS APOIADORES dispuseram a colaborar conosco na elaboração deste livro. Depois de 45 anos de existência do Salão Internacional Humor Este livro foi possível graças ao de Fundo de Apoiode à Cultura - FAC da Secretaria Municipalgerações de Ação Cultural de Piracicaba Piracicaba, uma justa homenagem às várias dee Turismo artistas do e do Conselho Municipal de Cultura - COMCULT, organismos ligados à Prefeitura do cartum, da charge, das caricaturas, Município dos quadrinhos de Piracicaba. e das ilustrações que Expressamos nossa gratidão aos cartunistas e ilustradores envolvidos precederam o nosso Salão ou foram por ele estimulados. neste projeto, bem como aos jornalistas e pesquisadores brasileiros, que se Nossa homenagem igualmente aos jornais e conosco revistas impressas da dispuseram a colaborar na elaboração deste livro. de 45 anos de este existência do Salãoabrindo Internacional de Humor de cidade de Piracicaba, que desde sempreDepois prestigiaram campo, Piracicaba, uma justa homenagem às várias gerações de artistas do espaço para as manifestações dos nossos artistas gráficos. cartum, da charge, das caricaturas, dos quadrinhos e das ilustrações que precederam o nosso Salãoque ou foram por ele estimulados. Que este livro venha a enriquecer a bibliografia vimos construinNossa homenagem igualmente aos jornais e revistas impressas da do nos últimos anos sobre o Salão de Humor. cidade de Piracicaba, que desde sempre prestigiaram este campo, abrindo

HOMENAGEM A 32 CARTUNISTAS HOMENAGEM EPIRACICABA ILUSTRADORES A 32 CARTUNISTAS E ILUSTRADORES DE DE NOS 45 ANOS DO PIRACICABA SALÃO DE HUMOR

AGRADECIMENTOS AOS APOIADORES

CARTUM CARTUM — 1ª edição —

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[ Projeto realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura ]

Coleção AHA de Humor Gráfico

Coleção AHA de Humor Gráfico

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HOMENAGEM A CARTUNISTAS E ILUSTRADORES DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR

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HOMENAGEM A CARTUNISTAS E ILUSTRADORES DE PIRACICABA NOS 45 ANOS DO SALÃO DE HUMOR Organizadores: Adolpho QUEIROZ, Edson RONTANI Junior, Maria LUZIANO e Victor CORTE REAL

Coleção AHA de Humor Gráfico

Organizadores: Adolpho QUEIROZ, Edson RONTANI Junior, Maria LUZIANO e Victor CORTE REAL

Coleção AHA de Humor Gráfico


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