Paulista Aberta Lab - Fachadas

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PAULISTA ABERTA LAB fachadas


FICHA TÉCNICA Publicação: Outubro 2020 Análise: Janeiro e Fevereiro de 2020 Realização: SampaPé! Coordenação: Leticia Sabino e Nara Rosetto Participantes: Alana Lima de Jesus, Ana Clara Corsi, Camila Motoike Paim, Gabriel Alves Tunes, Lucas Chiconi, Thomas Li e Wans Spiess Diagramação: Alana Lima de Jesus e Gabriel Alves Tunes Apresentação dos resultados: video

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ÍNDICE

O que é o Paulista Aberta Lab ……………...04 Por quê Fachadas? ……………………..………...06 O Processo …………………………………………..08 Hipóteses levantadas …………………………..14 Hipóteses em foco ……………………………….21 Glossário ……………………………………………..22 Resumo dos resultados ………………………..28 Melhores achados ………………………………..56 Indagações………………………….………………..66


O que é o Paulista Aberta Lab? O Paulista Aberta Lab é um laboratório de análises e experimentações a partir do espaço e dinâmicas da Paulista Aberta. Ele tem como objetivo estudar e divulgar como a Paulista Aberta transformou e transforma as dinâmicas urbanas e a vida na cidade. Criado em 2020, ano que a Paulista Aberta completa 5 anos, pretende apoiar futuras transformações para melhorar a convivência e promover mais ressignificações de ruas e espaços nas cidades.


O Lab pretende explorar os temas de forma qualitativa e transverssal para ajudar a entender e acrescentar densidades e complexidades no viver e produzir cidade. O resultado que apresentamos hoje foi construído a 9 pares de mãos e pés e abre caminho para os demais estudos para os próximos anos.


Por que Fachadas? As fachadas no nível da rua compõe a esfera do espaço público impactando na qualidade, interações e acessos às pessoas. Porém, são definidas e executadas pelos donos dos lotes, dentro de limites e estímulos de legislação vigente. As fachadas tem alto grau de modificação e inevitavelmente proporciona a interação de diversos atores - desde a sua criação. As fachadas transformam a atividade nas ruas e as atividades nas ruas transformam as fachadas em um processo contínuo.


Dessa forma, olhar para as fachadas da avenida Paulista no nível da rua depois de 5 anos da avenida ser espaço de reunião de pessoas nas mais diversas manifestações socio-culturais todos os domingos e feriados, é conhecer como as pessoas e a estrutura se afetam e se modificam mutuamente. A seguir, apresentamos como foram realizadas as observações e análises das fachadas e os resultados.


O Processo Para fazer a definição da metodologia, o levantamento das fachadas e análises, foram realizados 5 encontros que representaram cada um dos passo da realização:

1

2

3

TEORIA

HIPÓTESES E METODOLOGIA

CAMPO E PESQUISA

4

5

DISCUSSÕES

TABULAÇÕES E ANÁLISES


1 TEORIA

Discussão teórica sobre fachadas no nível das ruas: conceitos de “Fachada Ativa” conforme legislação de São Paulo (PDE 2014), teorias urbanísticas e métodos para avaliação de ruas com base na interação com as fachadas lindeiras (GEHL; STIPO).


Definição de teses sobre mudanças 2 e dinâmicas das fachadas e como diagnosticar em campo: em grupos HIPÓTESES E METODOLOGIA discutiu-se os aspectos que se gostaria de avaliar em campo, a partir das memórias e vivências das pessoas participantes na Paulista Aberta. Da mesma forma, foi definido de forma conjunta como tais questões seriam levantadas em campo.

O grupo foi dividido em três trios e cada um deles ficou com a extensão de ⅓ da Av. Paulista (aproximadamente 800m).


Levantamento e observação em 3 campo, complementado com pesquisas anteriores e posteriores CAMPO E ao campo, utilizando o Google Street PESQUISA View, para verificar as mudanças ocorridas de 2015 até 2020. Os achados foram registrados em fichas de campo elaboradas previamente a partir de discussões anteriores.


4 DISCUSSÕES

Discussões, tabulações e definição de como expor informações encontradas: os trios apresentaram os principais pontos observados em campo, a partir dos quais foram definidos os resultados mais relevantes para apresentação.


5 TABULAÇÃO E ANÁLISES

Análises do material levantado e planejamento para expor esses achados: sistematização dos dados e organização da apresentação final.

metros fachadas trecho 1

1420

trecho 2

1574.1

trecho 3 total de fachadas

% fachadas ativas x % fachadas inativas ativas

4536.95

1542.85

inativas

2342.94

4536.95

% fachadas inativas

Estabelecime Estabelecime Resultados ntos de ntos com alimentação balcão

51.64%

não existiam antes de 2015

% dos Estabeleci mentos com balcão

Trecho 1

14

8

7

57.14%

Trecho 2

11

1

5

9.09%

Trecho 3

18

4

6

22.22%

TOTAL

43

13

18

88.46%


Hipรณteses


Hipóteses levantadas Partiu-se da formulação de 8 hipóteses do que poderia ter alterado nas fachadas e suas dinâmicas a partir da Paulista Aberta. Destas foi decidido avaliar em campo, mapear e fazer levantamento fotográfico de 6 delas. Após avaliação em campo olhamos com maior profundidade para 4 hipóteses , e ainda levantamos algumas informações pontuais e casos.


Hipóteses levantadas A princípio, essas foram as hipóteses levantadas:

_ Aumento de espaços de alimentação Avaliar o fenômeno da "balconização" e lugares de alimentação antes e depois

_ Aumentos de painéis artísticos e preocupação estética fachadas Avaliar se as fachadas são "instagramáveis" e como eram antes

_ Aumento de estabelecimentos na fachada Elencar menores fachadas da Paulista e avaliar se houve "quebra" de lotes


Hipóteses levantadas _ Ocupação fachadas inativas (temporária) Identificar por meio de fotografias e observação como são utilizadas

_ Aumento de enclausuramento de alguns espaços Identificar por meio de fotografias, observação e pesquisa de como é antes ou outros dias

_ Cidade Limpa Fachadas Flexibilização dentro dos lotes para "aparecer" mais


Hipóteses levantadas _ Diversidade de oferta e preço (comércio), mais popular e acessível Pesquisa de preços, de tipo de comércio e público

_ Tornou-se mais popular (acessível) Identificar por meio de fotografias e pesquisa

_ Diminuição de entradas de estacionamento Contagem, mapeamento, fotografias e avaliar antes e depois


Hipóteses levantadas As fichas de campo e a metodologia de levantamento foi realizada com foco em 6 hipóteses, sendo descartada a Cidade Limpa, pela complexidade dos resgates, modelos, e não ter efetiva relação com as dinâmicas da Paulista Aberta e também a questão de preços e popularização dos comércios na avenida, uma vez que era necessário fazer pesquisa de preços e considerar vendas em ambulantes.


Hipóteses levantadas Após a visita de campo, a hipótese “Instagramável” foi retirada devido observação da prática das fotos na avenida não estarem vinculadas às fachadas no nível da rua. Foi observado que, em geral, as pessoas preferem fotografar no meio da via e muitas entram em edifícios culturais para obterem vistas superiores da avenida. Outra hipótese descartada foi a de “estacionamentos”, devido aos acessos para estacionamento de veículos serem espaços ainda fortemente relacionados aos projetos das edificações e com difícil possibilidades de alteração de forma permanente, mas com muitas reocupações temporárias.


Hipóteses em foco _ Aumento de espaços de alimentação e balcões para venda _ Ocupação e ativação fachadas inativas (temporária) _ Aumento de estabelecimentos na fachada (com diminuição de área de cada estabelecimento) _ Aumento de estruturas e materiais para "enclausuramento" de espaços de acesso


Glossรกrio


PAULISTA ABERTA Paulista Aberta é o nome do programa que abre o espaço viário da avenida paulista, aos domingos e feriados, para as pessoas circularem, usufruírem, ocuparem a rua de forma lúdica e livre. Esse programa acontece desde 2015, graças a mobilização de ONGs, coletivos e sociedade civil , liderada pelo SampaPé!. E teve como inspiração a abertura de ruas em várias cidades na América Latina, que em espanhol são conhecidas por "ciclovias recreativas" e em inglês "open streets".


FACHADA INATIVA Fachada inativa se refere às fachadas no nível da rua que estão bloqueadas para o acesso e que a interface com o espaço público é por meios de materiais de restrição e obstrução, como por exemplo, muros, grades, lojas fechadas, entre outras. São fachadas ativasas aquelas que apresentam vitrines abertas, portas e/ou acessos a prédios, vsita de parques, equipamentos, galerias abertas, entre outras possibilidades.


“BALCONIZAÇÃO” Se refere ao processo em que estabelecimentos, principalmente de alimentação, alteram sua fachada ou se instalam em pequenos lotes, e tenham um dos seus principais pontos de vendas um balcão voltado para a rua, com interface para a calçada e as pessoas que passam a pé.


OCUPAÇÃO EFÊMERA São consideradas efêmeras as ocupações e ressignificações temporárias nas fachadas inativas como a presença de comércio ambulantes, de shows e intervenções de forma geral - que acontecem durante a Paulista Aberta, por ampliar as possibilidades de ressignificação desses espaços que se não fossem ocupadas de forma efêmera não teriam interações com os transeuntes.


FRUIÇÃO Trata-se da promoção de espaço de circulação de pessoas a pé no térreo das edificações. Há bloqueio ou obstrução na fruição quando posiciona-se elementos para qque impedem a passagem das pessoas, como, por exemplo, cones, correntes, grades, entre outros.


Resumo dos resultados


As quatro hipóteses analisadas divididas em duas categorias:

dinâmicas materiais

foram

dinâmicas imateriais

Em dinâmicas materiais foram reunidos os dados referentes à estrutura física das fachadas e seus usos. Dessa forma, ficou evidente que as mudanças nas fachadas mais relevantes relacionadas a Paulista Aberta são o aumento de estabelecimentos de alimentação e a "balconização" das fachadas que é a transformação da área de interface com a rua e de demarcação do espaço privado em balcões para vender comidas diretamente para as pessoas nas calçadas.


Enquanto em dinâmicas imateriais foram reunidas as análises referentes a reocupação por elementos temporários em frente as fachadas, no nível da rua. O que se dá, justamente, pela quantidade de fachadas que são "inativas" aos domingos, ou seja, que estão fechadas, bloqueadas, ou que são muros, portas de estacionamentos e grades. Essas fachadas materialmente compostas por barreiras de acesso, e às vezes barreiras visuais, são ativadas de forma efêmera por vendedores e artistas aos domingos durante a Paulista Aberta. Por outro lado, alguns elementos que bloqueiam áreas de passagem e acesso como galerias e escadarias para sentar também são temporários, para evitar a relação com o público da avenida aberta.


Caminhar e comer, comer e caminhar Na Paulista há 43 estabelecimentos de alimentação nas fachadas no nível da rua abertos aos domingos, durante a Paulista Aberta. O que significa ao menos 1 por quadra. Destes, aproximadamente ⅓ (especificamente 13 ) contam com balcão voltado ao atendimento direto na calçada.

SORVETE PARA TODOS OS BOLSOS O principal produto com venda direta na calçada através de balcão é sorvete. Com variação de preços de R$1,50 a R$28,50 por uma quantidade similar.


As cafeterias são a maioria na categoria alimentação com 11 lojas no total, sendo: Starbucks (3), Benjamin (3), Fran's Café (1), Kop Koffee (1), Casa Bauducco (1), Café Vovó Palmirinha (1) e Café Impresso (1). As redes de fast food são a segunda categoria com maior presença nas fachadas da avenida. São sete lojas sendo: McDonald's (3), Burger King (2), Bob's (1) e Ragazzo (1). São sete lojas e a grande maioria vende com um balcão direto para a calçada. Entre elas: McDonald's (2), Burger King (2), Bacio di Latte (2) e Bob's (1).


De todos os 43 estabelecimentos, 18 deles foram abertos nos últimos 5 anos, ou seja, 40% dos estabelecimentos.

40%

Esquina com Rua Padre João Manuel

roupas

sapatos

sorvetes

pastéis

junho 2015 Esquina com Avenida Brigadeiro Luís Antônio banco

fast-food

janeiro 2015

fevereiro 2018

Esquina com Alameda Joaquim Eugênio de Lima entrada de estacionamento

loja de departamento

loja de roupas íntima feminina biscoitos e sorvetes

dezembro 2014

junho 2019


Balcões em destaque

Ainda foi observado que a mesma trasnformação ocorreu em ruas perpendiculares à avenida, que seguem como área de extensão do uso e dinâmicas, muitas também livres para a circulação de pessoas. abril/2015 Rua Padre João Manuel

roupas e acessórios

Janeiro /2018

hamburgueria, sorveteria, doceria portuguesa


Ver e ser visto Os estabelecimentos de comida que não tem balcão estabelecem outras relações com as calçadas como: mesas externas para sentar, vitrines para contato visual ou fazer ativações nas ruas.

Mesas para sentar na calçada.


Ativação na rua: cavalete informativo.

Fachada de vidro para contato visual.


Tamanho não é documento As menores fachadas são do Mr. Cheney com 2,0 metros e do Pastel da Maria com 2,4 metros. A diminuição das fachadas está atrelada a adaptação dos estabelecimentos ao fluxo a pé que aumenta a diversidade e a atratividade em caminhar.


Em reportagem para a Veja São Paulo em fevereiro de 2019 temos a informação de que “o local, apesar de pequeno, tem faturamento que oscila entre 12 000 e 25 000 reais”.


Usos efêmeros: fachadas ativadas A Avenida Paulista possui 4.536,95 metros de fachadas em toda sua extensão, mas 51,62% delas são fachadas inativas aos domingos. Ou seja, são 2.342 metros de fachadas fechadas ou barradas e sem uso: grades e portões de vidro de edifícios residenciais, edifícios de bancos com barreiras como gradis ou cordões e até mesmo galerias comerciais com portões fechados. Fato este que muitos ambulantes usam para apresentar seu artesanato e vender seus produtos: dessas fachadas inativas foi possível identificar que 55% estavam ativadas de forma efêmeras - ou seja, quase 1.300 metros.


Os bolsões de ativação principais são as quadras do lado par entre a Rua Pamplona e a Alameda Casa Branca, onde mesas exibem bijuterias de palha, pequenas esculturas em madeira e alguns livros, compartilhando com os muros das fachadas camisetas, quadros e até imãs de geladeira.


cerca de 52% das fachadas ďŹ cam inativadas aos domingos, mas cerca de metade delas sĂŁo ativadas de forma efĂŞmera


sĂŁo quase 1.300 metros de fachadas inativas ativadas aos domingos temporariamente


Das fachadas que são “ativadas”, identificamos três tipos de ativação:

_ usos dos frequentadores: crianças brincando e pessoas utilizando essas frentes desativadas como área de descanso/espera; _ apresentações de artistas de rua; _ comércio: bares e cafés com mesas na calçada e comércio ambulante. Nos dois primeiros casos, portões de enrolar de estabelecimentos fechados são o principal “fundo” para as novas atividades. No caso de bares e cafés, observamos que a maioria dos que tinham mesas na


calçada ocupam esse espaço também durante a semana, porém, aos domingos estes ampliam a área ocupada, utilizando espaços em frente aos acessos inativos de lojas e edifícios comerciais. O comércio ambulante se apropria de diversas formas das fachadas inativas: Muitos comerciantes montam suas mesas e barracas em frente à essas fachadas, conformando nova área de interação com as calçadas, fachadas “ativadas”.


Verificamos diferentes formas de interação entre o comércio ambulante e as fachadas existentes. Dependendo do suporte físico que compõe tais fachadas e do tipo de produto que é vendido, foi possível identificar diferentes tipos de “ativação”: GRADIS: frequentemente utilizados como suporte para pendurar produtos como roupas, redes e tapetes, desenhos e gravuras e até mesmo livros. Os muros baixos que são associados com pequenas grades também servem de suporte para pendurar produtos.


MUROS, MURETAS E ESCADARIAS: são utilizados principalmente como apoio para exposição de quadros e livros. Produtos que são expostos em suportes verticais trazidos pelos vendedores, como bijuterias e ímãs de geladeira também foram vistos apoiados neste tipo de elemento das construções.


TAPUMES: os tapumes de edifícios em construção também são utilizados para exposição de quadros. Outras soluções criativas foram levantadas em campo: ANDAIMES utilizados como suporte para pendurar roupas; FACHADAS DE VIDRO com produtos pendurados por ganchos e varais improvisados pelo comerciante. Quadros, desenhos e caricaturas fixados nas paredes dos edifícios que dão direto para a calçada (sem recuos).


O que restam são 1.042 metros de fachadas inativas sem nenhuma ativação, em sua maioria que estão defronte à bancos com acesso aos seus caixas eletrônicos abertos aos domingos onde a presença de seguranças vigia o pequeno espaço de entrada na fachada.


Tem prédio que tem medo de gente Paulista Aberta significa rua aberta, pessoas circulando, usufruindo, ocupando, usando os espaços. Ironicamente, é muito comum presenciar o grande medo que os edifícios particulares têm das pessoas. São vários os exemplos de fachadas completamente bloqueadas, impedindo as possibilidades de usos em seus espaços livres. Rua aberta, fachadas fechadas.


Identificamos diversos tipos de bloqueio de fruição e acesso (do mais físico e fixo para o menos): _ portões metálicos instalados; _ gradil metálico removível; _ fitas e correntes plásticas zebradas; _ seguranças. E estão bloqueando: _ galerias comerciais que tem fruição; _ escadas e banquetas que poderiam ser usadas para sentar; _ acesso a vãos e áreas livres nos térreos.


Cetenco Plaza antes, aberto à livre circulação.

Um dos conjuntos mais interessantes da avenida, o Cetenco Plaza é um ótimo exemplo de como não dialogar com a Paulista Aberta. Seu espaço livre foi totalmente fechado por pesados portões, tornou-se enclausurado e hostil.

Cetenco Plaza depois, com os portões.


A esquina mais badalada da Avenida Paulista, é no cruzamento com a Rua Augusta, também o endereço do Banco Safra. Seu recuo frontal com muitas possibilidades de uso é impedido pelo fechamento feito por grades instaladas aos fins de semana e durante a noite.


Nem somente bloqueios físicos o medo de gente levantam. No número 2424 da avenida está o IMS, um dos únicos espaços culturais do trecho próximo à Consolação, conta com um ótimo vão livre em seu térreo. Porém, a presença marcante de funcionários de segurança representa um bloqueio imaterial de acesso do prédio.


O edifício da Gazeta foi considerado uma das fachadas mais “complexas” da avenida, pois dá acesso ao cinema Reserva Cultural, à faculdade Cásper Líbero e ao cursinho Objetivo, além da própria rede Gazeta.


A emblemática escadaria, que ocupa praticamente metade da fachada, espaço com enorme potencial de integração com a Paulista Aberta (poderia ser banco, espaço de descanso e estar, ou ainda se transformar em grande arquibancada para os usos da via aos domingos) tem seu acesso bloqueado aos domingos por grades móveis. O acesso ao cinema também é mais restrito aos domingos. Embora sua entrada seja recuada, na lateral do edifício, organizadores de fila são colocados em toda sua extensão até o encontro com a calçada. O pequeno “respiro” que proporciona ao menos interação visual com os transeuntes é a vitrine que dá para o café da Reserva Cultural.


Melhores achados


O caso Decathlon e Mr. Cheney Uma das maiores transformações de fachadas no nível da rua, com foco no fluxo a pé aconteceu no Top Center, shopping localizado no número 854 da avenida, esquina com a rua Joaquim Eugênio de Lima. Antes de junho de 2015, quando houveram os primeiros testes da Paulista Aberta, o local onde atualmente estão o acesso à loja de artigos esportivos e a loja de cookie correspondiam à entrada de veículos para acessar o estacionamento do shopping.


A modificação não apenas representa a substituição do foco nos veículos para um foco das pessoas caminhando, como também são de dois casos muito emblemáticos. O primeiro pois a Decathlon historicamente é uma loja grande de departamento e subúrbios cercada de estacionamentos, com uma lógica completamente oposta a essa implantação na cidade ao se instalar em uma das avenidas com mais fluxo a pé e adaptada a isso. E o Mr. Cheney por ser a menor fachada da avenida, em que muitas vezes nem mesmo o/a funcionário/a fica no espaço interno da loja, a qual só foi possível a existência por ser no modelo balcão vendendo para as pessoas que estão circulando nas calçadas.


Sai carro, entra mais comércio Além da fachada da Decathlon que era a entrada do estacionamento, o Shopping Veneza, no número 486, também possuía uma entrada de estacionamento e foi transformada junto com a reforma da fachada em espaço comercial voltado para a calçada.


Quando o riso substitui o dinheiro No número 329 da avenida há uma agência do banco Bradesco, que fica fechada aos domingos. Aproveitando-se do cenário pronto, o portão de ferro preto transforma-se em fundo de palco e o espaço generoso à frente serve de platéia para o público. Ali observamos uma apresentação teatral da trupe de palhaços, como se aquele local tivesse sido feito para eles. Os artistas iniciam a montagem do cenário enquanto interagem com as pessoas que passam e a fachada da instituição financeira, aos domingos, dá espaço ao riso livre e grátis.


O restaurante secreto Há uma hamburgueria quase secreta localizada dentro de uma galeria que não funciona aos domingos, porém esta começou a abrir única e exclusivamente por pedido da proprietária do restaurante, visando o potencial de clientela aos domingos. Na entrada discreta, os proprietários da hamburgueria posicionaram um pequeno cavalete no sentido de quem caminha na calçada, convidando a conhecer os sabores ali oferecidos.


O polêmico Méqui 1000 Na esquina onde morou o Ministro Rocha Azevedo, que dá nome a rua, foi construído o casarão nos anos 40, como conhecemos até hoje, da família síria Hannud - com 748 m2 de área construída em um terreno de 1.428 m2, com onze cômodos. Depois de 1995 virou banco e uma das esquinas mais tradicionais de decoração natalina.


A modificação do uso para um restaurante de fast-food com batatas gigantes na fachada, gera polêmica, mas por outro lado atrai público que normalmente não teriam como conhecer o casarão em outras circunstâncias. Isso somado a outras várias atrações já o tornou em um ponto turístico popular e com muitas filas. Como adendo criaram um balcão do lado de fora para sorvetes, mas na "contramão" da transformação da avenida o estabelecimento conta com drive thru.


A expansão do pastel da Maria A "Maria" na verdade se chama Kuniko Yohana e nasceu em Osaka, a sua marca e negócio foi estabelecido em 1979 em uma barraca de feira no Pacaembu. Agora, apenas na avenida Paulista, existem 3 estabelecimentos de "Pastel da Maria". Todo mundo que caminha por lá conhece ou já viu. Tornou-se símbolo gastronômico da avenida, que multiplicou consideravelmente a quantidade de unidades na região.


Um shopping do artesanato ao ar livre Entre a Alameda Casa Branca e a Alameda Campinas temos uma galeria ao ar livre de ambulantes de artes e artesanatos defronte à muros de vidro ou grades e às muretas ajardinadas de edifícios empresariais, onde são expostos camisetas e quadro. Cria-se um corredor de mesas que expõem pequenas esculturas ou objetos decorativos e as fachadas que viram vitrines improvisadas por eles, que tem pausa apenas na frente no Shopping Cidade de São Paulo .


Indagações


Para levantamento _ Houve flexibilização da lei cidade limpa nas fachadas dos estabelecimentos a partir da Paulista Aberta, porque ver e ser visto se tornou mais importante? _ Aumento de academias na avenida tem relação? _ Aumento de mini mercados? _ E aumento e modificação de dinâmica das fachadas?


Desdobramentos _ O quanto as vendas na Paulista Aberta representa nas vendas totais dos estabelecimentos? _ Ter mais fast-food na via é um reflexo da popularização e democratização do acesso? _ Há tamanho mínimo regulado para um posto de venda de comida? _ Há políticas públicas em outras cidades que incentivam e/ou regulam os balcões e o usos da calçadas como espaço de fila dos estabelecimentos?


_ Qual a relação entre descartáveis e vendas em balcões, como os estabelecimentos se responsabilizam por isso e como diminuir os impactos gerados? _ Como o uso efêmero se regula? Como avaliar a diversidade? _ Como as pessoas que vendem na rua chegam a avenida com suas mercadorias? Usam carros? Qual o impacto deste deslocamento? _ Como estimular o uso efêmero de algumas áreas mais "vazias"?


E fomos surpreendidos com a pandemia, considerações posteriores É importante refletir sobre este levantamento a partir da nova situação decorrente da pandemia da COVID-19 em 2020. Em março, após este levantamento, foi alterada drasticamente as relações na cidade e o programa da Paulista Aberta ficou suspendido por muitos meses. Entretanto, passou-se a recomendar mais consumo e passeios ao ar livre, assim como venda por meio de balcões com interface para as ruas. Assim, o levantamento aqui apresentado deve também apoiar políticas e reflexões futuras da cidade de como a abertura de ruas proporciona oportunidades para um modelo de cidade mais resiliente, quando ampliado a territórios diversos.


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