Revista CRAS

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CAMILA DA SILVA | EDUARDA COLAFERRI | EDUARDO GUEDES | FERNANDO SIMÕES | GIULIA VOLODKA | PATRICIA GRAU | SAMYAH KASSISSE

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CRAS: “amanhã em latim”. Somos um novo conceito

de revista. Desenvolvida em torno de temas novos e atuais com teor crítico e questionador: apresentamos a Revista Cras. Nesta primeira edição, a matéria de capa traz um diálogo com a 32ª Bienal de Arte de São Paulo. Por meio da relação com a videoinstalação de Grada Kilomba, “The Desire Project”, é criado um paralelo com a imagem da mulher em um ensaio fotográfico. As frases da artista foram redigidas em corpos femininos com o objetivo de ampliar a temática da Bienal e abordar de forma diferente esse assunto tão atual. Não deixamos de lado o debate sobre cidade e ressignificação de espaços urbanos com uma matéria sobre a cultura underground eletrônica e outra relacionando o novo filme de Kleber Mendonça Filho, Aquarius, com a memória da cidade. A quebra de paradigma da arte também está muito bem representada pelas matérias sobre a cultura drag e sobre o coletivo Low Life. Ainda seguindo esse recorte, a formação da identidade brasileira é mostrada através da capoeira e da cultura afro-brasileira. Por fim, apresentamos um panorama sobre as galerias de arte de São Paulo, revelando os destaques da arte contemporânea a partir das galerias Carbono e Nara Roesler. Desejamos uma excelente leitura e esperamos que, ao final, você esteja mais incerto de suas certezas.

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10 CAPOEIRA 13 A CIDADE E A MEMÓRIA - ITALO CALVINO 16 A INCERTEZA DO DIÁLOGO 29 TIRINHA 30 LOWLIFE COLLECTIVE 32 AQUARIUS E A MEMÓRIA DA CIDADE 36 A CENA ELETRÔNICA UNDERGROUND 40 DRAG: SHANTAY, YOU STAY 50 A NOVA ERA DA ARTE 56 AGRADECIMENTOS

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CAPOEIRA

por Camila da Silva

Já pensou em praticar Capoeira? Descobrir mais sobre a nossa cultura? Então, Existem três tipos de capoeira: a capoeira Angola, que foi criada no período da escravidão e se identifica por ritmo musical lenWto, malícia e golpes jogados mais baixos; o segundo é o estilo regional que junta a malícia da capoeira Angola como jogo de movimentos rápidos, e golpes secos e rápidos; o terceiro tipo é o contemporâneo, unindo um pouco dos dois primeiros estilos, e também é o mais praticado na atualidade. No século XVI, quando o Brasil era uma colônia portuguesa, nasce a história da capoeira, uma luta com instrumentos marcantes e dança. A mão-de-obra escrava foi um marco na história de nosso país, que era utilizada principalmente em engenhos do Nordeste brasileiro. Diversos escravos vinham da Angola, e lá eles faziam muita dança ao som de músicas. Quando chegaram ao Brasil, os escravos perceberam que precisavam desenvolver uma forma de proteção contra a violência dos colonizadores. Sempre eram alvos de castigos e práticas violentas dos senhores de engenho. Os senhores de engenho não permitiam que os escravos praticassem qualquer tipo de luta. Assim, utilizando o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, começaram a adaptar um tipo de luta, a capoeira, que é uma arte

marcial disfarçada de dança. Foi de extrema importância para a resistência cultural e física dos escravos africanos e brasileiros. Os escravos praticavam essa luta nas senzalas, para aliviar o estresse do trabalho e para a manutenção da cultura e da saúde física. A luta acontecia também em campos com pequenos arbustos, que era chamado de capoeira ou capoeirão, assim, o nome desse lugar se tornou o nome da luta. Até o ano de 1930 a capoeira era proibida no Brasil, a polícia recebia ordens para prender os praticantes da arte marcial. Mas neste mesmo ano, o mestre Bimba, um importante capoeirista apresentou a luta para o presidente Getúlio Vargas, que gostou muito dessa arte e acabou transformando-a em um esporte nacional brasileiro. Na capoeira Angola existem 6 diferentes tipos de instrumentos: o berimbau, ele é composto por uma verga de biriba, corda de aço, cabeça raspada, courão e caro, é tocado com uma baqueta o dobrão (que é uma peça de metal); Caxixi, que é um pequeno cesto com sementes, é usado com o berimbau; Atabaque, com uso tradicional nos rituais de candomblé e também é usado na capoeira Angola; Pandeiro, na capoeia a batida do pandeiro acompanha o som do caxixi; Agogô, origem africana, contra ponto rítmico aos berimbaus e ao atabaque; Reco-reco, tem a percussão fina e enriquece um conjunto com detalhes variedade sonora. A capoeira não foi a única cultura afrobrasileira a se manifestar, mas temos também a

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partir do século XX rituais, manifestações e costumes africanos começaram a ser aceitos e celebrados como expressões artísticas e nacionais. O país com a maior população de origem africana, fora da África é o Brasil e, por isso, nossa cultura recebe uma grande influencia da cultura africana. A influencia musical africana no Brasil é o samba. Gerou-se diversos subgêneros, e da ritmo a maior festa brasileira, o Carnaval. A África é o continente que mais diferentes tipos de religião no mundo. Na época da escravidão no Brasil, os escravos eram batizados e obrigados a seguir o catolicismo, mas na pratica eles continuavam com a sua religião de origem e fazendo seus rituais escondidos em florestas e quilombos. Na África, o culto caracterizava-se por ser família e exclusivo de uma linhagem, mas no Brasil foi diferente

por causa das separações de famílias, então essa estrutura de rito acabou fragmentando-se. As religiões afro-brasileiras são relativamente recentes na história do nosso país. A mais tradicional e africana é o Candomblé, que se originou na Bahia. E também temos a Umbanda, com raízes africanas e se originou no Rio de Janeiro. Uma parte importante da cultura afro-brasileira que tem um destaque especial no Nordeste é a culinária. Pratos principais como: o Acarajé, que é um bolo de feijão-macaça temperada e moída com camarão seco, sal e cebola, frito com azeite de dendê; o Vatapá, uma papa de farinha de mandioca com azeite de dendê e pimenta, servido com peixe; e o Caruru, é feito a base de quiabo cortado, fervido e temperado com camarões secos, azeite de dendê, cebola e pimenta. Entre outros pratos típicos como o cuscuz, mungunzá, abará, arroz-de-hauçá, bobó e quibebe.

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A CIDADE E A MEMÓRIA por Ítalo Calvino

Inutilmente, magnânimo Kublai, tentarei descrever a cidade de Zaíra dos altos bastiões. Poderia falar de quantos degraus são feitas as ruas em forma de escada, da circunferência dos arcos dos pórticos, de quais lâminas de zinco são recobertos os tetos; mas sei que seria o mesmo que não dizer nada. A cidade não é feita disso, mas das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado: a distância do solo até um lampião e os pés pendentes de um usurpador enforcado; o fio esticado do lampião à balaustrada em frente e os festões que empavesavam o percurso do cortejo nupcial da rainha; a altura daquela balaustrada e o salto do adúltero que foge de madrugada; a inclinação de um canal que escoa a água das chuvas e o passo majestoso de um gato que se introduz numa janela; a linha de tiro da canhoneira que surge inesperadamente atrás do cabo e a bomba que destrói o canal; os rasgos nas redes de pesca e os três velhos remendando as redes que, sentados no molhe, contam pela milésima vez a história da canhoneira do usurpador, que dizem ser o filho ilegítimo da rainha, abandonado de cueiro ali sobre o molhe. A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.

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A INCERTEZA DO DIÁLOGO

por Giulia Volodka e Samyah Kassisse

“Incerteza viva. A incerteza é o meio em que nos movemos, é quem produz a energia que nos faz avançar. Na dúvida, avançamos. Na incerteza, criamos” – Juca Ferreira, Sociólogo, Ministro de Estado da Cultura.

O tema da 32ª Bienal de São Paulo acerta perfeitamente o contexto atual. Os artistas trabalham de maneira brilhante com as novas estratégias oferecidas pela arte e trazem questionamentos sobre temáticas latentes. A bienal perpassa 4 principais temas relacionando a incerteza à narrativa, cosmologia, educação e ecologia. Dessa forma, trabalha seu caráter pedagógico e educador para além das formas tradicionais de ensino e arte, de forma acessível e aberta ao público. É de extrema importância e acarretou em uma grande diferença no resultado final a participação do setor educativo da Bienal ter trabalhado em conjunto a curadoria no processo de construção da exposição. Dessa forma, o caráter educativo e pedagógico está incutido em todas as entrelinhas e apresenta um panorama rico de questionamento acerca do tema. A incerteza deixa de ser ignorada e repudiada, para ser o centro de um dos maiores encontros de arte contemporânea. Segundo o curador Jochen Volz é preciso desvincular a incerteza do medo. A incerteza é necessária para construir novas soluções e possibilitar o entendimento – ou não – dos

problemas da sociedade contemporânea. A esfera da incerteza é ampla e abre caminho para diversas interpretações. Dentre elas, a opressão, injustiça e tristeza dialogam com a temática principal questionando o que há de errado com o sistema da sociedade. Em princípio, cada um observa e percebe o mundo a sua maneira, produzindo sua própria perspectiva e interpretação dos fatos e circunstâncias. Às vezes, quando possível, algumas pessoas conseguem sair da sua zona de conforto e procuram entender perspectivas diferentes. No entanto, segundo Michelle Fine - psicóloga, pesquisadora e feminista – defende que existe um processo de “violência epistemológica” no qual algumas perspectivas são evidenciadas em detrimento de outras, causando deterioramento e opressão. Michelle coloca que quanto maior a opressão uma pessoa sofre, mais ela sabe sobre a opressão. E, mesmo que esta não possua uma linguagem exata para transmitir esse sentimento, internamente se questiona sobre a lógica de funcionamento social. Dentro disso, a questão da vida das mulheres e corpos femininos é um debate que vem sendo levantado constantemente nos últimos tempos e é um tema forte sobre incerteza e medo. Grada Kilomba é uma das artistas expositoras da 32ª bienal e dialoga com a temática de opressões, trabalhando questões de gênero, raça e classe. Com seus trabalhos políticos e teóricos recentes, a artista toma uma posição importante internacional na luta pela ressignificação de alguns paradigmas impostos na sociedade. Escritora, teórica e artista, coloca a palavra como principal elemento visual de sua vídeo-instalação “The Desire Project” (2015-16) [O Projeto Desejo]. A obra é dividida em três atos que relatam um sujeito silenciado: “While I Speak”, “While I Write” e “While I Walk” [Enquanto eu falo, enquanto eu escrevo, enquanto eu ando]. O formato da exposição da artista reflete o mundo digital e tecnológico e contrasta com o restante da bienal. O ambiente inteiro preto, com três telas simultâneas é impactante associado à trilha sonora. O ritmo dos escritos e da batida de fundo é muito bem trabalhado e dão o tom da leitura dos vídeos. “The Desire Project”, através de uma experiência pessoal, consegue provocar uma inquietude interna no expectador que pode vir a revisar seus conceitos e mudar sua forma de

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pensar. A arte nesse sentido possui um papel fundamental de questionamento e transformação. Para Volz, “A arte promove uma troca ativa entre pessoas, reconhecendo as incertezas como sistemas de orientação geradores e construtivos”. A partir dessa temática, a Revista CRAS criou um diálogo com a Incerteza Viva da 32ª Bienal de São Paulo e a obra de Grada Kilomba a partir de um ensaio fotográfico que trabalha a imagem e o corpo da mulher. As frases escritas nos corpos das modelos foram selecionadas do vídeo “While I Write” da artista e fazem referência à diversas situações da luta feminina por igualdade e visibilidade. A relação da escrita de Grada Kilomba com os corpos trabalham elementos de estereótipos, repressão e diminuição da voz feminina. O ensaio aborda o tema do corpo como expressão, tendo como inspiração o movimento Riot Grrrl, com ênfase na imagem feminina. As frases escritas em maquiagem pelo corpo das modelos, dão voz à atual posição das mulheres na sociedade e a luta contra repressão. A maquiagem traz a ideologia de padrão de beleza, deixando subentendido o protesto contra a beleza imposta e a imagem ultrapassada da mulher frágil e disposta ao estilo de vida voltado a agradar ao lar. Realizado pela fotógrafa Giulia Sperandio, estudante da instituição Belas Artes, captura a sua emoção e das modelos em seu estilo. De uma curva ao olhar, sempre tenta demonstrar algum sentimento presente no ambiente. A liberdade que foi tida para a criação de um diálogo com Grada Kilomba provém da linha central questionadora e pedagógica que a 32ª Bienal possui. Com caráter convidativo, incentiva não só a apreciação da arte como algo inatingível, mas também as pessoas criarem e dialogarem com suas incertezas internas. Convidamos nossos leitores e visitantes da Bienal a fazerem suas traduções de obras e trabalharem com seu processo de incerteza e de medo assim como foi feito neste ensaio fotográfico. m com seu processo de incerteza e de medo assim como foi feito neste ensaio fotográfico.

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‘While I write” By Grada Kilomba Sometimes, I fear writing. Writing turns into fear, for I cannot scape so many colonial constructions. In this world, I am seen as a body, that cannot produce knowledge. As a body ‘outside’ place. I know that while I write, each word I choose will be examined, and maybe even invalidated. So, why do I write? I have to. I am embedded in a history of imposed silences, tortured voices, disrupted languages, forced idioms and, interrupted speeches. And I am surrounded by white spaces I can hardly enter or stay. So, why do I write? I write, almost as and obligation, to find myself. While I write, I am not the ‘Other’, but the self, not the object, but the subject. I become the describer, and not the described. I become the author, and the authority on my own history. I become the absolute opposition of what the colonial project has preditermined. I become me.


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Foto: Thays Bittar

Foto: Vitor Zanirato

Foto: Patrick Joust

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LOWLIFE COLLECTIVE por Fernando Simões

Os coletivos culturaissão organizações de indivíduos que promovem e realizam atividades culturais como festas, exposições, bazares, shows. O LowLife Collective é um exemplo desses coletivos. Os amigos do ABC paulista, mais especificamente de Santo André são um deles. O coletivo começou com o jornalista Vitor Zanirato e o advogado Lucas Cimatti no começo de 2014, entre março e abril segundo Vitor. EM pouco tempo os dois fizeram uma parceriacom a produtora de filmes Babuíno, do jornalista Paulo Gadioli e pouco tempo depois, com o apoio e algumas parcerias em eventos, com o Estúdio Eiffel, do também advogado e produtor Marco Antônio, ambos também de Santo André. O LowLife é um coletivo independente de produção de conteúdo relacionado a skate, fotografia, filmes, música, viagens e tudo o que tenha ver com um estilo de vida de quem quer fazer o que gosta sem necessariamente ser um escravo do trabalho. Como no próprio site diz: “Evidenciamos um estilo de vida livre de rótulos, produzindo um conteúdo de vanguarda sobre temas que nos interessam sem necessariamente sermos especialistas em nada disso.. Pensamos assim e tentamos representar isso em artigos, fotos e filmes. Não queremos nos especializar em nada e, sim, experienciar.Viver. Afinal, para que pensar na finalidade se podemos focar no caminho.” Isso não fica apenas no discurso,as produções do coletivo tem qualidade excepcional e ilustram muito bem isso que eles próprio dizem, um exemplo disso são as produções da Babuíno filmes. Um trabalho que deixa bem clara toda essa pega do coletivo, de outubro de 2015, é o short film acompanhado de um breve texto sobre o tatuador, ilustrado e designer gráfico Marcus Filiputti, que nos diz além de como ele se tornou um tatuador, mas também um pouco do processo criativo dele e onde ele busca refeências pro estilo de tatuagem dele. As tatuagens que o artista faz tem uma identidade típica dele, ele se utiliza de uma técnica conhecida como pontilhismo e não faz tatuagens coloridas

Outro exemplo de life style é a sessão de fotos da modelo Mariana Mazzi clicada pela fotógrafa Thays Bittar, a sessão de fotos esteticamente já traduz muito bem esse instinto mais hedonista do coletivo e vem acompanhdo por um texto que é concluído que traduz exatamente todo o espíritodo LowLife: “Então voe, realize todos os seus sonhos e busque sempre a felicidade plena. Eu vejo ela entre os seus sorrisos.”. As fotos retratam a idéia desse trecho contando com cores bem claras e suaves em poses que misturam delicadeza e sensualidade. Outro fotógrafo que conversou e mostrou o tolento em parceria com o coletivo foi o artista americano Patrick Joust. Em suas caminhadas com sua câmera analógica a mão Patrick transmite toda a harmonia com o objeto de interesse em suas fotografias, no caso a cidade de Baltimore onde mora captando um lado B da cidade com uma visão bem particular. Além dessa relação particular que o fotógrafo tem com o ambiente urbano dá pra perceber a identidade do fotógrafo bem latente na sua obra com uma pegada bem solitária em desarmonia na interação com o cenário, bastante dessa estética se dá devido ao uso das camêras analógicas para fazer essas fotos. Em parceria com a Babuíno filmes e o Estúdio Eiffel o coletivo organiza eventos voltados para a música chamados de LOW / LIVE. Como os próprios membros do coletivo dizem: “O projeto surge como um meio de divulgação multimídia de todos esses parceiros, e o projeto nada mais édo que a materialização de nossos valores e objetivos, uma forma de criar e experienciar simultaneamente e socialmente, além de fortalecer e estimular o cenário musical e cultural do nosso entorno.”. Apenas dois desses eventos ocorreram, o mais recente teve a participação da dupla carioca gorduratrans. O impacto que Felipe Aguiar (guitarra/ voz) e Luiz Felipe Marinha (bateria/ voz) foi o que estimulou os amigos de Santo André a convidarem a dupla fluminense para essa edição, além da intensidade da composição das letras.

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www.lowlifecollective.com


AQUARIUS E A MEMÓRIA DA CIDADE por Samyah Kassisse Livros. Discos. Móveis. Músicas. Cheiros. Caminhos. Nossa memória é construída dia a dia em cada experiência vivida. Um apartamento repleto dessas recordações é onde vive Clara, a protagonista do mais novo filme de Kleber Mendonça, Aquarius. O roteiro encaixa detalhes representativos de lembranças e solidão. A personagem de Clara encara grandes perdas, sobrevive a um câncer e aos poucos vai alimentando suas lembranças como forma de reparo a seus grandes danos emocionais. Acompanha de uma trilha emocionante e afetiva, a direção de arte e a fotografia trabalham em um conjunto harmônico. Na cena inicial do filme, nos anos 80, é perceptível as alterações de figurino, paleta de cores, música e cortes de imagens. Quando o filme nos trás ao período mais atual, o tom sépia se desfaz em claridade e leveza, ganhando tons de azul e branco. A atriz, Sonia Braga, interpreta de uma maneira envolvente. Criando hábitos como o de prender e soltar os cabelos conforme seu sentimento e as expressões de nostalgia que chegam quase a delírios durante o filme. Ao mesmo tempo, a artista convive com cenas de afeto e família com seus netos e amigas paralelo a uma narrativa sexual que trabalha a independência da mulher desde o início do filme. A câmera acompanha os sons e faz caminhos na cena. Os barulho alheios ao que está sendo representado permite que seja criado um paralelo de imagens na cabeça e duas cenas se passam simultaneamente. De forma precisa, cria-se uma atmosfera de

observação de Clara, assim como em um aquário. Em uma atmosfera de solidão e tensão, a personagem passa por momentos críticos ao mesmo tempo que resiste contra a expansão imobiliária para que não apaguem sua memória. A trama do filme apresenta algo que está no cotidiano das grandes cidades, nas grandes destruições e reconstruções. A preservação da memória de uma rua, de um bairro e de uma cidade não são mais importantes diante da cultura do novo, do desperdício e da renovação constante. Os mesmos prédios chegam a dar tédio e não suprem mais as necessidades tecnológicas. Seria um egoísmo de Clara resistir contra esse fluxo? A história da sociedade é construída em cima de ruínas de cidades passadas. Cada geração construiu sua própria identidade e suas características deixando marcas físicas e rastros visíveis de momentos vividos. Aos poucos, as cidades vão ganhando contornos humanos e vivências próprias de caráter marcante e vívido. Mas a importância da coletividade para o suporte dessa lembrança não é mais resistente que o avanço do meio urbano e das relações contemporâneas. É comum ao andar na rua se deparar com tapumes, barulhos de obras, transformações no trânsito e lojas. Talvez essa sonoridade e alteração constante seja a característica da nossa sociedade atual. No entanto, os índices de depressão estão cada vez mais altos e a “solidão na multidão” cada vez mais comum. As cidades criam memórias sonoras, olfativas e sensoriais para além do visual. Elas definem nossos caminhos e traçam nossos dias com aberturas e fechamentos inesperados, praças escondidas, texturas surpreendentes e cheiros reconfortantes. A sensação de pertencimento é uma das coisas mais importantes para o ser humano e a partir da percepção do espaço é possível obter organização mental e segurança. No entanto, vivemos em um espírito diário de transformação e resistência para sobreviver a esses impulsos migratórios

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constantes que nos movem de forma descontrolada pelas cidades provocando desenraizamento e perda de identidade. Não temos como reencontrar nosso caminho familiar. As pessoas não se encontram mais nelas mesmas, nem nas suas cidades. Não possuem um enraizamento ativo e saudável. São retiradas diariamente de sua zona amigável para serem jogadas em um ritmo frenético e compulsivo como o das britadeiras. Por isso, o conceito passado por Kleber Mendonça Filho é tão impactante e atual. Precisamos recuperar a dimensão humana dos espaços urbanos e lembrar que as cidades são feitas para pessoas. As cidades brasileiras não parecem valorizar seu patrimônio rico e cultural, definidor de gerações e importante para o futuro da identidade brasileira. Clara luta contra um câncer afetivo e a destruição de histórias, assim como todos nós lutamos. Todos os dias.

AQUARIUS 141min

Clara, 65 anos, mora de frente para o mar no Aquarius, último prédio de estilo antigo da Av. Boa Viagem, Recife. Jornalista e escritora, viúva e mãe de três filhos adultos, ela irá enfrentar as investidas de uma construtora que quer ver o Aquarius demolido para dar lugar a um novo empreendimento. Dona do seu passado, presente e futuro, Clara irá encontrar nesse conflito uma energia nova e incomum na sua vida. Fonte: Globo Filmes Direção: Kleber Mendonça Filho Elenco: Sonia Braga, Maeve Jinkings, Irandhir Santos, Humberto Carrão. Gêneros: Drama, Suspense Nacionalidades: Brasil, França

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ANDRÉ LADAGA CASAL BELALUGOSI: SUSANA HADDAD E ANDERSON LOKI

LUAR VIANA FRANZINE

ANDRÉ TORQUATO

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A CENA ELETRÔNICA UNDERGROUND por Patrícia Grau

A cena eletrônica está cada vez maior e, com isso, as pessoas estão se interessando por novas descobertas dessa vertente. O underground, para quem não sabe, é uma expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia. Também conhecido como Cultura Underground ou Movimento Underground, para designar toda produção cultural com estas características, ou Cena Underground, usado para nomear a produção de cultura underground em um determinado período e local. Há não muito tempo, pessoas que se consideravam alternativas em seu modo de vida, costumavam se unir em festas para praticar tal estilo, na qual muitas delas eram eletrônicas. Estas festas eram pouco frequentes e não divulgadas, sendo necessário o convite boca a boca para participar, hoje, já está diferente e ela está cada vez mais conhecida, mas alguns frequentadores antigos não reagem bem a essa expansão, pois não se identificam com o antigo movimento e buscam uma constante reinvenção desta cena. Algumas festas como Caps Lock, Mamba Negra, Odd Roger e Vampire Haus estão cada vez maiores e com mais frequentadores de todas as tribos, mas mesmo com o crescimento elas não deixaram sua essência para trás, os locais são divulgados apenas no dia da festa e sempre são em locais incomuns e excêntricos como por exemplo uma fábrica de leite desativada. Luar Viana Franzine, 21, frequentador de festas underground há três anos e produtor da festa Sonido Trópico, aponta como o cenário underground emergiu: “Essa cena foi mudando na questão da sonoridade e até na forma das pessoas se vestirem. Essa transformação foi acontecendo de maneira natural até pelas referências que foram surgindo internacionais e nacionais com as novas gerações”. Outros frequentadores mais antigos, como André Ladaga, 31, frequentador há 13 anos, contrapõem os eventos underground com as festas em clubes: “A cena underground teve uma grande evolução se baseando na cidade de São Paulo. Com festas em praças, lugares abandonados e ocupações tem atraído um grande público carente da cena undergrounds e tirando um pouco o foco de somente encontrar música de qualidade nas baladas”.

A relação dos artistas com o público nas festas se torna mais direta, por conta da intervenção dos clubes que acaba por encarar os frequentadores como meros consumidores, enquanto nas festas underground o line (lista de Djs que se apresentarão durante a festa) segue a rigor a proposta e o estilo do evento. Susana Haddad, organizadora e residente da Vampire Haus reforça a ideia de aproximação com o público: “A relação entre nós artistas e o público é completamente a quebra da barreira, porque a festa é nossa e as pessoas que estão nela é o resultado da interação de tudo o que está acontecendo ali e nós artistas temos o controle de tudo, afinal a festa é tudo o que expomos, mas ao mesmo tempo é um resultado interessante por quem está expondo e quem está frequentando, então as pessoas acabam por ser agentes principais e não só meros consumidores e existe a barreira enorme entre dj, dono de casa e frequentador.”. Apesar dessas festas terem público cativo e atraírem cada vez mais frequentadores, produtores e artistas demonstram preocupação com a segurança dos locais. O produtor André Torquato, 40, afirma: “São as festas ilegais com “rótulo” de pseudo alternativas, mas que geram ótimo lucro, porém sem a responsabilidade sobre a segurança das pessoas que frequentam”. No mesmo sentido, falou Susana: “Nós somos ilegais, nós achamos um galpão, fazemos uma festa e não temos alvará para o local funcionar como festa e fornecimento de serviço e, isso é muito ruim porque a qualquer momento a prefeitura pode parar a festa, por isso não anunciamos o local antecipadamente e anunciamos no dia para não dar espaço, existe sim um risco muito grande dos caras noturnos ferrarem a gente e a própria prefeitura ser severa, porque hoje ela faz vista grossa, e corremos o risco de perder tudo e ter que nos reinventar e sair dos clubes pela liberdade e pela mesmice e talvez tenhamos que seguir o mesmo caminho, mas isso a gente ainda não sabe”. Ainda assim, frequentadores e produtores enxergam o cenário como em evolução, como afirma Luar: “A cena underground existe desde a época dos nossos pais, só foi se transformando com o tempo. Antigamente o rock fazia parte dessa cena, é assim foi surgindo a música eletrônica que também foi mudando. Não acho que é momentânea, apenas evolui. ”, e o produtor André complementa: “Houve o aumento de produtores fazendo música com qualidade. E alguns até com “assinatura” e identidade”. Logo, percebemos que esta cena está em constante amadurecimento e cada vez mais atrai público do país inteiro, e até mesmo do mundo inteiro e São Paulo tende a se tornar referência para quem busca inovações dessa tribo.

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Restaurante, bar e estudio

Alameda Lorena, 208 - Jardim Paulista - SĂŁo Paulo www.bossarestaurantebarestudio.com.br Reservas: (11) 3064.4757 38


Camila da Silva

Eduarda Colaferri

Eduardo Guedes

Patricia Grau

Samyah Kassisse

VIDA EDITADA inspirado em “O Alienista”

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DRAG: SHANTAY, YOU STAY por Eduardo Guedes

Não é há pouco tempo que o mundo conhece a cultura drag. Ainda no século XIX, o termo era usado para designar homens que se vestiam de mulher com objetivos puramente teatrais, contudo, as queens desabrocharam e tomaram cada vez mais espaço. Mesmo assim, o meio deixa, ainda, imagens que se desenvolvem negativamente e tornam-se estereótipos. “Coisa de ‘bicha’ que quer tentar ser mulher”, “bizarrice” e “nova identidade de gênero” são alguns dos tabus formados em torno do tema, no entanto, além de preconceituosas, tais ideias passam um conceito fora da área da cultura drag. Entre a arte e entretenimento, os artistas performáticos que atuam como drag queens são, em maioria, homens homossexuais, o que, não exatamente, forma uma regra: como apresentado por uma das queens mais conhecidas da atualidade, RuPaul Charles, “Todos nascemos nus, e o resto é drag”, logo, ser drag independe de identidade de gênero e orientação sexual. Drag é arte. É inovação. É criar uma nova personalidade para se expressar e ir além. É celebrar a liberdade de poder ser quem quiser ser. Esses performers, conhecidos principalmente pelo humor (variando entre

o ácido – conhecido na área como shade – e o delicado) e pela animação, protagonizam cada vez mais filmes, programas, séries e propagandas – provavelmente por causa do fortalecimento de minorias, inclusive da sociedade LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) que, como já dito, representa enorme parcela do meio drag e seu público. O exagero nas maquiagens, roupas e atitudes figuram o comportamento e aparência das drag queens, o que é responsável pela visão de “bizarrice” em torno desse universo. No entanto, apenas aqueles que apreciam essa arte conseguem enxergar o conceito por trás da imagem: existe melhor jeito de expôr ideais e pedir espaço do que chamando atenção e ampliando aquilo que conseguem fazer de melhor? Basicamente, drag também é arte por isso. A pintura no rosto e no corpo somada à moda e criação de novas formas corporais através de técnicas como o padding (que consiste em preencher o corpo com espuma para criar maiores quadris e coxas) casam-se com a expressão de sentimentos e personalidade que a cultura permite criar, resultando em pura arte. Em São Paulo, baladas e casas noturnas como Blue Space, Hot Hot, Anexo B e Yacht Club têm tido seus públicos cada vez mais ampliados devido ao oferecimento de performances, shows e setlists comandadas pelas queens locais. A drag Slovakia Císařský é uma performer que atua há um ano e meio na capital paulista e, através de seu estilo ímpar e inúmeros cosplays, afirmou: “ser drag é criar uma persona que transcende a barreira de gêneros! É fazer uso das experiências que eu tive pra trazer à tona e

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parte de mim!”. Em seguida, ao ser indagada pela Revista CRAS sobre como a cultura drag se relaciona com a arte, respondeu: “drag se relaciona com a arte no sentido de que eu faço isso como uma forma de me expressar e, para mim, arte é expressão! Eu acho que em algum momento eu vi que já tinha esse universo da “Slovakia” dentro de mim, fruto de experiências passadas, de livros que eu li, de filmes que assisti, de artistas que me atraem, de clipes, etc. É uma sedimentação de experiências que me fomentaram a vontade de criar essa persona, fazendo uso inclusive de diversas formas de expressar a arte, seja com a música, a pintura, a interpretação ou a produção de imagens”. Outras capitais brasileiras também têm tido crescente participação dessa profissão nas noites. Em Florianópolis, por exemplo, a queen Suzaninha Richthofen aposta na caricatura de uma síndica de prédio que, aos 74 anos (enquanto seu intérprete, Arthur, tem 20), carrega – e muito – nas maquiagens e na personalidade. Para ela, “ser drag é um ato de resistência, é romper com essa linearidade da sociedade enquanto figura masculina e mostrar a arte para o mundo como uma forma de militância, ato político e afrontamento”. O mesmo questionamento sobre como drag relaciona-se com a arte foi feito a ela, que respondeu: “é tudo ligado à performance e ao estado da drag, afinal, a gente nao ‘faz drag queen’, a gente é drag queen. A drag é puramente a arte pela forma como surgem essas figuras na sociedade: a maioria vem da cena teatral, dos palcos e da rua. É na base da performance, do show e do entretenimento inteligente”. Não há, então, mais como dizer que arte limita-se a pinturas, esculturas e outros objetos expostos em museus. O universo artístico é mais complexo do que imaginamos e tem se tornado cada vez mais múltiplo, abrangendo até mesmo tabus como a cultura drag. A forma como as performances e montações são feitas representam de maneira significativa a mudança dos paradigmas impostos ao redor do conceito de arte, e, assim, deixa-o cada vez mais amplo. 41


RuPaul é cantora, modelo, atriz e apresentadora do RuPaul’s Drag Race. É uma das queens mais influentes da atualidade, além de ser criadora dos bordões “Shantay, you stay” e “Sashay away”, usados em todos os episódios de seu reality no momento de eliminação das participantes. 42


No Brasil, poucas drags superam a fama e influência de Silvetty Montilla.Há quase 30 anos como drag queen, Silvetty não impressiona apenas por sua história, mas também por sua versatilidade, visto que é atriz, apresentadora, cantora, bailarina e destaca-se como humorista. 43


Adore Delano é uma das drags de maior destaque da área. Apesar de não ter sido vencedora da temporada de RuPaul’s Drag Race da qual participou, a queen destacou-se principalmente por sua voz, o que a deixou no Top 3 da competição. Hoje, Adore é a drag mais seguida no Instagram, com quase 900 mil seguidores. 44


Alaska Thunderfuck também foi participante do programa de RuPaul. Participou pela primeira vez na quinta temporada, na qual ficou no Top 3, e pela segunda vez no All Stars, quando conquistou a coroa. Conhecida por suas músicas e seu humor incomparável, Alaska conta com quase 700 mil seguidores no Instagram. 45


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Da esquerda para a direita, Amanda Sparks, Penelopy Jean e Tiffany Bradshaw. Juntas, compunham o Trio Milano, que anunciou seu fim em março de 2016. O grupo, com suas performances e setlists, foi um dos pioneiros da cultura drag nas noites de São Paulo. 47


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A NOVA ERA DA ARTE

por Eduarda Colaferri

arte do mundo. Foi também a primeira galeria brasileira a abrir um espaço em New York, representando importantes artistas brasileiros como, por exemplo, Vik Muniz, Antonio Dias , Abraham Palatnik, e nomes internacionais como o de Julio le parc. O conceito desta galeria se diferencia por estimular os artistas a cima de tudo e por compreender e apoiar a arte de diversas formas. A galeria é, com certeza, um destaque no mundo da arte. A Carbono, conhecida por oferecer edições exclusivas de arte contemporânea de artistas consagrados, é uma galeria de arte de origem paulista, que foca na expansão do mercado artístico. Fundada pelas empresárias Renata Castro e Silva e Ana Lucia Serra, o espaço é conhecido pela consolidação de obras e ideias e, principalmente, pelo seu acervo exclusivo. Localizada em São Paulo, no bairro Jardim Paulistano, a galeria, que é parceira de múltiplos editores de grandes nomes internacionais, tem uma maneira diferente de lidar com a arte. Lançando novas edições a cada curadoria, em diversas categorias como esculturas, fotografias, gravuras, etc, a Carbono visa oferecer arte de qualidade por valores mais acessíveis, defendendo o pensamento dos artistas contemporâneos.

A cidade de São Paulo está cada vez mais envolvida do mundo da arte contemporânea. Isto se deve ao crescimento do interesse do cidadão em geral. A cidade não é mais somente a capital da empreendedorismo brasileiro, é também um polo artístico. São Paulo respira cultura, respira arte, respira inovação. Com isso e por isso, a cidade passou a ser um lugar onde as pessoas têm fome por novas informações e horizontes. O cotidiano não é suficiente para os cidadãos paulistas e isso traz um novo paralelo do mundo artístico para a capital. Nos últimos tempos, novas galerias de arte contemporânea foram surgindo na megalópole. Entre elas estão a Galeria Carbono que visa a diferenciação e a vontade de destaque em um nível global. Além disso, galerias tradicionais, como a Nara Roesler (no mercado há mais de 25 anos), também enriquecem o cenário artístico. A Galeria Nara Roesler, umas das mais prestigiosas galerias de arte contemporânea brasileiras, foi inaugurada no ano de 1989 com o intuito de explorar a arte em geral por meios de exposições. Nara, proprietária da galeria junto com seus sócios Alexandre Castro e Silva e Daniel Castro e Silva, começou em Recife representando um artista recifense chamado José Claudio. A galeria foi crescendo e resolveu se mudar para São Paulo, se estabelecendo na Avenida Europa, local de onde nunca mais saiu. A Galeria Nara Roesler é super consolidada e representa artistas renomados. A galeria, que tem espaços situados em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova Iorque, está presente no mundo artístico desde colaborações com outros espaços que buscam os mesmos objetivos artísticos até as maiores feiras de Cao Guimarães Reratos #6 | Galeria Nara Roesler 50


Auto-sustentável Celina Portela | Galeria Carbono

Maxwell Agachado Gustavo Rezende | Galeria Carbono

Orixá, da série esperiência sustentável Carlos Mélo | Galeria Carbono

Olho Carnívoro Adriana Varejão | Galeria Carbono

Galeria Carbono | carbonogaleria.com.br 51


Galeria Nara Roesler, NY

Galeria Nara Roesler, NY

Galeria Nara Roesler, SP 52


CONVERSANDO SOBRE ARTE... O que te motivou a querer abrir uma galeria de artes contemporâneas ?

O que a arte te inspira?

Renata Castro e Silva: “A arte tem o poder de nos levar a um lugar que nunca fomos antes. Ela provoca reflexões, questiona aspectos sociais, políticos, ambientais, todas as formas de presença da vida do homem. Nesse sentido, ela nos abre possibilidades de uma forma livre, pois nada mais liberto que o pensamento do artista. O prazer de conviver com a arte vai além do sentido estético. Alimenta a alma e nos faz pensar diferente.”

Alexandre Roesler: “Na verdade a Galeria Nara Roesler foi fundada no Recife a mais de 40 anos pela minha mãe (Nara), que tinha por objetivo educar o olhar da população e difundir a arte contemporânea no país. Inicialmente o objetivo da galeria era mostrar no Recife o que estava acontecendo no cenário do sudeste com exposições de artistas como Tomie Ohtake, Iberê Camargo, Emmanuel Araújo e outros e no sentido oposto, divulgar os artistas pernambucanos como Francisco Brennand, José Cláudio, Gil Vicente. Uma idéia de unir esses dois Brasís tão diferentes. Em seguida a galeria mudou pra SP e esse objetivo foi ampliado, com a internacionalização da arte brasileira. Acho que desde pequeno fui infectado pelo virus da arte e depois de ter trabalhado em diversos setores completamente diferentes, me rendi e me juntei como sócio da galeria com outro irmão e com o objetivo de dar continuidade nesse projeto iniciado pela minha mãe. ”

Qual é a influência das galerias no sucesso de um artista? R.C.S.:“Eu acredito que o artista precisa de uma galeria. Porque ele precisa morar, comer, pagar a escola dos filhos, enfim, viver como todos nós. Se o artista precisa se preocupar com o lado comercial, isso pode prejudicar seu trabalho. A galeria tem o papel não só de vender as obras, mas de impulsionar a carreira dele através de relações com instituições, promovendo exposições, acesso aos colecionadores, documentando sua trajetória com livros e publicações. Isso permite a liberdade que todo artista busca.”

O que voce olha em um artista ?

A.R.:“Olhamos principalmente a paixão e criatividade do artista e sua determinação em seguir essa carreira tão dura mas muito interessante onde existem vários artistas extremamente talentosos, mas onde poucos realmente alcançam o merecido sucesso.”

Você enxerga relação entre tendências de arte contemporânea com outras do cotidiano, como por exemplo, a moda?

R.C.S.:“É difícil ver “tendência” na arte contemporânea, pois são questões que atravessam um tempo muito mais extenso que o da moda, por exemplo. O que acredito é que a moda, a propaganda, a arquitetura e outros segmentos onde a criatividade é fundamental, pode e deve beber da fonte inesgotável de referências e sentidos que a arte oferece.”

Sua curadoria acaba sendo voltada para o talento do artista ou sua capacidade comercial ?

A.R.:“A capacidade comercial é uma consequência da qualidade e consistência da carreira do artista, sua participação em importantes exposições, Bienais, interesse de instituições e curadores. Um bom artista com uma carreira sólida e constante eventualmente vai se estabelecer como um artista com sucesso comercial. Um artista apenas comercial pode até vender bem no inicio mas fatalmente vai ser esquecido se não desenvolver uma carreira sólida. Logo, o importante é escolher artistas talentosos e ajudá-los no decorrer da carreira a atingir os objetivos necessários a consolidar sua carreira. A venda é consequencia de uma carreira bem sucedida.”

Alexandre Roesler Galeria Nara Roesler 53

Renata Castro e Silva Galeria Carbono


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DESENCONTRÁRIOS por Paulo Leminski

Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. Parecia fora de si, a sílaba silenciosa. Mandei a frase sonhar, e ela se foi num labirinto. Fazer poesia, eu sinto, apenas isso. Dar ordens a um exército, para conquistar um império extinto.

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Agradecimentos Silvana Novaes Ferreira Boddah Motion Graphics Giulia Sperandio Slovakia Císařský Suzaninha Richthofen Renata Castro e Silva Alexandre Roesler Low Life Collective

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