uma cidade, um arquiteto

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A arquitetura preside os destinos da cidade. Ela ordena a estrutura da moradia, célula essencial do tecido urbano, cuja salubridade, alegria, harmonia são subordinadas às suas decisões. Ela reúne as moradias em unidades habitacionais cujo êxito dependerá da justeza de seus cálculos. Elas reserva de antemão os espaços livres em meio aos quais se erguerão os volumes edificados em proporção harmoniosa. Ela organiza os prolongamentos da moradia, os locais de trabalho, as áreas consagradas ao entretenimento. Ela estabelece a rede de circulação que colocará em contato as diversas zonas. A arquitetura é responsável pelo bem-estar e pela beleza da cidade. É ela que se encarrega de sua criação ou sua melhoria, e é ela que está incumbida da escolha e da distribuição dos diferentes elementos cuja proporção feliz constituirá uma obra harmoniosa e duradoura. A arquitetura é a chave de tudo. (LE CORBUSIER, 1943)

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Le Corbusier e Paris um arquiteto, uma cidade Monografia apresentada à disciplina Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo Modernos II Prof. Carlos R. M. Andrade, Prof. Paulo Fujioka, Prof. Tomás Moreira Dezembro 2015 Beatriz Costa | 8503093 Brunieli Mori | 8503155 Juliana Oliveira | 8503221 Juliana Santana | 8503089 Rafaella Amarante | 8595920 Samyah Kassisse | 8503068

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RESUMO Le Corbusier, com sua obra, deixa um legado para a humanidade. Seu trabalho é um ponto de virada na história da arquitetura, urbanismo e artes plásticas. Ele desenvolve meios e equipamentos para a produção de obras que permanece até os dias de hoje. Essa monografia condensa um pouco de todos os aspectos da sua produção. Permeando a vida do arquiteto, com suas influências até chegar em seus fundamentos principais, e passando pela construção da célula humana e dos conjuntos habitacionais. Evidencia-se a ação projetual da Villa Savoye, uma vez que ela constitui a síntese de seu trabalho. Por fim, a cidade moderna e Paris entram na análise mostrando os estudos em sua maior escala, desenvolvida a partir das medidas do homem. Em suma, o trabalho perpassa pelos principais aspectos do trabalho de Le Corbusier seguindo uma lógica escalonar partindo do arquiteto - o homem - e chegando na cidade.

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IMAGEM1. Le Corbusier


SUMÁRIO 004 RESUMO 006 SUMÁRIO 008 INTRODUÇÃO 010 A CIDADE E O ARQUITETO 014 DESENVOLVIMENTO 014 O ARQUITETO 016 A VIDA DO ARQUITETO 022 A ARQUITETURA DE LE CORBUSIER 026 CRIAÇÃO DE VALORES ETERNOS 034 MODULOR 040 A CÉLULA HUMANA 042 A COMPOSIÇÃO DE UMA CÉLULA 044 O EQUIPAMENTO DOMÉSTICO 048 UNIDADES DE HABITAÇÃO 050 CONJUNTOS HABITACIONAIS 054 VILLA SAVOYE 056 A CASA MODERNA 059 A VILLA 070 ACESSO 072 VOLUME PRINCIPAL 074 COBERTURA 076 UMA LINGUAGEM UNIVERSAL 082 PARIS, A ESCALA DA CIDADE 084 A CONSTRUÇÃO DE UM CENÁRIO 090 A CIDADE MODERNA 098 REFLEXOS DOS CIAM’S 100 HABITAR 106 TRABALHAR 108 RECREAR 110 CIRCULAR 114 URBANISMO COMO EQUIPAMENTO 120 OS TRÊS ESTABELECIMENTOS HUMANOS 126 RESSONÂNCIAS 128 DISSEMINANDO CONCEITOS 136 BRASIL

144 CONCLUSÃO 148 CRONOLOGIA 154 LISTA DE ILUSTRAÇÕES 162 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IMAGEM 2. テ田ulos

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“A época maquinista perturbou tudo:

comunicações, interpenetração, aniquilamento das culturas regionais, mobilidade súbita, ruptura brutal com os costumes seculares, modo de pensar. As três grandes bases do urbanismo entraram neste jogo:

o sociológico, o econômico, o político. Adotamos novos costumes, aspiramos a uma nova ética, procuramos uma nova estética, E, para tudo isto, que espécie de autoridade! Resta-nos uma constante: o homem, Com sua razão e suas paixões, seu espírito e seu coração e, nesta questão da arquitetura, o homem com suas dimensões.” (LE CORBUSIER, 1930, p.41)

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A CIDADE E O ARQUITETO Arquitetos, desde pensar as primeiras cidades até os dias atuais, entram no confronto de compreender o que é a cidade. Quais os seus problemas? Como enfrentá-los? Esse levantamento, apesar de numeroso, pode ser facilmente elencado, mas a sua compreensão e análise não é tão objetiva, depende de uma sobreposição de um cenário físico com a realidade política, financeira e social de uma região. Um cálculo ou solução homogênea ainda não foram encontrados para tal questão, mas há heranças de trabalhos significantes de alguns arquitetos e pensadores que se mostram como mestres até os dias de hoje. A arquitetura de Le Corbusier é considerada como a confluência de vários princípios não restritos apenas a arquitetura. Muito disso, pode ser associado a noções colocadas desde a Antiguidade. Vitrúvio colocou que a arquitetura tem que ser completa, deve tratar de conhecimentos de literatura, desenho, geometria, aritmética. Para Le Corbusier não foi diferente, tudo deveria ser visto como convém: em conjunto. O cuidado com a proporção de cada parte que compõe uma obra aparece no Tratado de Vitrúvio, e posteriormente em Le Corbusier. O conceito de simetria de Vitrúvio pode ser dividido em uma parte que deriva do corpo humano e a outra da medida da coluna da edificação, à simetria como um sistema coordenado de medidas numéricas (modulação) que organiza o controle dimensional das partes. L.C. cria um sistema modular, que se preocupa com a integração entre as dimensões do homem, dos espaços e da estética de cada aposento. A cidade não seja mais do que uma grande casa, e que a casa seja uma pequena cidade .(PALLADIO, 1570)

A análise entre o homem e seu meio sempre foi valorizada por Le Corbusier, arquiteto que buscava uma harmonia entre esses para que se chegasse a um esplendor novo. Para ele, devíamos nos aproximar dos conceitos racionais para melhorar o caos que havia sido implantado.

Meu dever, minha busca, é tentar colocar este homem de hoje fora da infelicidade e da catástrofe; é coloca-lo na felicidade, na alegria cotidiana, na harmonia. Trata-se particularmente de restabelecer ou estabelecer a harmonia entre o homem e seu meio. (LE CORBUSIER, 1930, p.7)

Marshall Berman, em “Tudo que é sólido se desmancha no ar”, faz uma reflexão sobre o mundo na época em que Le Corbusier vivia. Essa “segunda fase” do modernismo foi protagonizada por um público moderno que partilhava do sentimento de viver em uma comunidade inovadora e revolucionária, mas que ainda se lembra do é uma vida material e espiritual em um mundo ainda não dominado pelos novos princípios. O modernismo, nesse momento, caminhava para a sua expansão

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plena enquanto o público moderno se multiplicava imensamente e passava a se fragmentar, perde a nitidez e a capacidade de organizar e dar sentido à vida das pessoas. O arquiteto, não diferente disso, percebe no mundo moderno infelicidade e catástrofe. Transtornos de saúde e transformações econômicas, sociais e religiosas protagonizavam a civilização maquinista que estava nascendo. David Harvey aponta mudanças na compreensão tempo-espaço e seus impactos diretos na vida social: a reestruturação do sistema de comunicações, a mudança da duração do tempo, aniquilamento de tradições, intensa mobilidade e efemeridade. Tudo se torna cada vez mais rápido e junto a isso há uma redução da complexidade geográfica do mundo. As pessoas estão mais próximas espacial e culturalmente, e isso causa um efeito direto na ordenação das pessoas em suas cidades e vidas. Não há mais uma identidade de lugar, ou uma âncora que dê segurança e confiança para a sociedade, e o público começa a buscar uma identidade coletiva ou pessoal, a procura de comportamentos seguros num mundo de transformações. Não sabemos para onde ir porque não sabemos de onde viemos. Temos necessidade de um diagnóstico e de uma linha de conduta. (LE CORBUSIER, 1930, p.145)

IMAGEM 3. Série Modulor

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A cidade? Ela é a soma de todos esses acontecimentos. A união dos elementos desapropriados, dominada pela tristeza e pelo equívoco. O arquiteto, enxergando a cidade como um caos, busca o reajuste de conceitos morais e sociais, criando um padrão que as pessoas do “tipo certo” devem se enquadrar. Nessa nova cidade que se constrói, a função do arquiteto e urbanista é fundamental, deve unir a técnica e o lirismo. A técnica, evidenciada pela razão e fatos, nos conduzirá à ordem, perfeição, pureza e liberdade. O lirismo, formado pela criação individual e os valores dos homens, tocará a humanidade ao longo de todos os séculos.

Arquitetura é um acontecimento inegável que surge em determinado instante da criação, no qual o espírito, preocupado em assegurar a solidez da obra, em apaziguar os desejos do conforto, encontra-se animado por uma intenção mais elevada que a de simplesmente servir e tende a manifestar as potencias líricas que nos animam e nos dão alegria. (LE CORBUSIER, 1930, p.214)

Le Corbusier desenvolve uma pesquisa científica, em que se detecta os problemas da vida moderna e busca meios racionais para solucioná-los. Assim, desenvolve desde premissas fundamentais para a construção - como cinco pontos de arquitetura e o modulor -, até classificações urbanas - como os três estabelecimentos humanos,- e diretrizes conceituais - como máquina de morar e o equipamento doméstico (mobiliário). “uma ruptura brutal, rápida... dos usos seculares, dos hábitos de pensar. Tudo é falso, não diz mais nada, precisa ser reajustado: os conceitos morais, os conceitos sociais...” (LE CORBUSIER, 1930, p.40)

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IMAGEM 4. Estudos Modulor

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O ARQUITETO A VIDA DO ARQUITETO A ARQUITETURA DE LE CORBUSIER CRIAÇÃO DE VALORES ETERNOS MODULOR

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A VIDA DO ARQUITETO Le Corbusier, cujo nome verdadeiro era Charles-Édouard Jeanneret, nasceu em 1887 na cidade La Chaux-de-Fonds, na Suíça. Filho de Edouard Jeanneret, pintor de uma famosa industria de relógios, e Madame Jeannerret- Perret, professora de música e piano. Aos 13 anos, deixou a escola para seguir os passos de seu pai, ou seja, a gravura e esmaltagem de rostos de relógio. Dois anos mais tarde, recebeu um prêmio da Escola de Artes Decorativas de Turim pelo desenho de um relógio. Foi nessa escola que ele aprendeu sobre desenho e história da arte pelo influente Charles L’Eplattenier, e após três anos, decide que deve se tornar um arquiteto. Depois de completar sua primeira casa, Villa Fallet, em 1905, Le Corbusier partiu em uma série de viagens pela Europa (1907-11). No ano seguinte do início de sua viagem, passou a trabalhar em Paris, no escritório de Auguste Perret, pioneiro do concreto armado. Esse tempo passado em Paris deu a Le Corbusier uma nova forma de compreender aspectos da vida e arquitetura modernas: “além da formação básica em concreto armado, a capital ofereceu-lhe a oportunidade de aumentar seus conhecimentos da cultura francesa clássica , graças a visitas a museus, bibliotecas e salas de conferência.” (FRAMPTON, 2008, p. 180) Em 1910 faz uma viagem à Alemanha, onde trabalhou como desenhista no estúdio de Peter Behrens, outro pioneiro da construção moderna. Foi nesse período que conheceu Mies van der Rohe e Walter Gropius, bem como outros membros do Deutscher Werkbund. Suas viagens se concluíram com uma “Viagem ao Oriente” através do Balcãs e da Europa Oriental, que culminou com uma visita à Acrópole. Foi durante essas viagens que Le Corbusier descobriu as proporções clássicas da Grécia (Panteão), bem como as renascentistas, usadas por Andrea Palladio (1508- 1580). Le Corbusier aceitou disciplinas e princípios clássicos como base de trabalho e passou a adaptá-las, na medida em que precisou atender as necessidades da época. Para ele, “a tradição não era entrave ao progresso; era um repositório de saber e experiência, a que podia recorrer quando necessário”. (GARDINER, 1974, p.16) Entre 1912 e 1914 participou, como professor, de uma nova seção da Escola de Chaux-deFonds, criada nos moldes da Bauhaus, projetando casas para industriais da região. Neste mesmo período, realizou o projeto de uma cidade-jardim para sua cidade natal, assim como o de um sistema para a reconstrução das cidades francesas destruídas pela Primeira Guerra Mundial., Também desenvolve, com engenheiro suíço Max du Bois, duas idéias que aprofundaria ao longo da década de 1920 – a Maison Dom-Ino e as Villes Pilotis, uma cidade projetada para ser construída sobre pilotis. Em outubro de 1916, Le Corbusier mudou-se para Paris, onde trabalhou como arquiteto em estruturas de concreto na Sociedade de Aplicação do Concreto Armado. Durante esse período, dedicou a maior parte de seus esforços para a disciplina de pintura. Em Paris, foi apresentado ao

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pintor Amédé Ozenfant, com quem publicou Après le cubisme (1918), manifesto que iniciou o Purismo. “Baseado na filosofia neoplatônica, o Purismo ampliava seu discurso de modo a abranger todas as formas de expressão plastica, da pintura de salão ao design de produtos e à arquitetura. Não era nada menos que uma abrangente teoria da civilização que pregava diligentemente o refinamento consciente de todos os estilos existentes.” (FRAMPTON, 2008, p. 182)

O movimento purista defendia a estrutura rigorosa dos objetos, a clareza das composições e o espírito de profunda racionalidade. As declarações dos puristas eram veiculadas na revista de vanguarda L’Esprit Nouveau, que expunha teorias de uma nova arquitetura, impulsionando o funcionalismo, e elogiando as inovações tecnológicas. Artigos de Le Corbusier na revista pediam uma transformação da sociedade urbana, com uma arquitetura funcional progressiva, a fim de afastar a ameaça de revolução.Ele defendia a utilização de métodos de construção e materiais modernos, os quais deveriam ser produzidos em massa. A fim de distinguir sua obra como pintor de seus trabalho como crítico e teórico, Ozenfant e Jeanneret assumiram pseudônimos a partir de seus nomes de família maternos. Jeanneret adota Lecorbésier. Ao separar o Le, o restante do nome soava como um “objeto-tipo” o que sugeria o perfil do arquiteto. Também, le corbeau, o corvo, ave não muito exuberante, como ele desejava ver sua arquitetura. Le Corbusier passa também a adotar um novo estilo como um personagem, utilizando traje de gravata borboleta, colarinho engomado, e chapéu. Muitos de seus artigos foram reunidos e publicados em seu livro “Por uma arquitetura” em 1923. Le Corbusier escreveu durante toda sua vida, embora muitos de seus conceitos básicos e ideias tenham se mantido inalterados ao longo de sua carreira. Entre suas publicações mais famosas estão: Urbanismo (1925), The City of Tomorrow (1929), Precisões (1930), A Carta de Atenas (1943), Os Três Estabelecimentos Humanos (1944) e O Modulor (1948) . Aos 35 anos, Le Corbusier fundou um estúdio em Paris, localizado no corredor de um antigo mosteiro jesuíta, na rue de Sèvres, com seu primo Pierre Jeanneret. Seus trabalhos iniciais, eram principalmente casas unifamiliares ou moradias, com formas geométricas intransigentes e fachadas simples. No final do mesmo ano, 1922, expôs a “Citrohan House” e a “Ville Contemporaine” , no Salon d’Automne, a primeira, fazia referência ao carro, e nela incorporou grande parte de sua arquitetura básica moderna; a segunda, consistia em uma projeto de cidade para 3 milhões de habitantes. Outros exemplos de Villas incluem aquelas construídos para: Ozenfant (1922), Raoul La Roche (1923), Villa Lipchitz (1924), Maison Cook (1926), Maison Planeix (1928), e sua obra-prima Villa Savoye (1929) em Poissy. Na Exposição Internacional de Artes Decorativas, em Paris, 1925, o arquiteto apresentou um projeto da unidade Immeuble-Villa para o Pavilhão de L’Esprit Nouveau.

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Imagem 5 Le Corbusier trabalhando

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Imagem 6 Le Corbusier apresentando sua escultura Femme

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Em 1927, Le Corbusier e seu primo participaram do concurso para a sede da Liga das Nações, em Genebra. Esse foi o primeiro projeto em larga escala que eles criaram. A polêmica eliminação da dupla teve repercussão positiva para eles, pois seu nome ficou identificado com a arquitetura de vanguarda. O projeto para o concurso também marcou a crise da primeira fase da carreira de Le Corbusier. Logo após, realizou diversos projetos que incluem o edifício Centrosoyus, em Moscou; a Casa da Suíça, na cidade universitária de Paris; e a sede do Ministério da Educação e Cultura (atual palácio Gustavo Capanema), no Rio de Janeiro, que contou com a colaboração de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Le Corbusier participou, em 1928, da formação do CIAM (Congresso Internacional da Arquitetura Moderna), cujos membros incluíam S. Giedion, Walter Gropius e Le Corbusier, e suas principais áreas de preocupação eram a relação da arquitetura nas esferas econômicas e políticas. Durante o IV CIAM, em 1933, em um barco que iria para a Acrópole, Le Corbusier produziu a Carta de Atenas, um documento sobre urbanismo publicado em 1943, que serviu como base para o planejamento das cidades nas duas décadas seguintes. Em 1930, Charles-Édouard Jeanneret obteve sua cidadania francesa. Casou-se com Yvonne Gallis, uma ex-modelo nascida em Mônaco. Dois anos depois, influenciado pela Villa Contemporaine, Le Corbusier desenvolveu a Ville Radieuse, a qual consistia em uma cidade linar, baseada na abstração do corpo humano, formada por blocos altos de moradia, livre circulação e espaços verdes abundantes, no entanto o projeto nunca foi executado. Embora a cidade radiante nunca se tenha concretizado, sua influência como modelo evolutivo sobre o desenvolvimento urbano do pós-guerra na Europa e em outros lugares foi bastante grande. Além dos inúmeros esquemas de conjuntos habitacionais, a organização específica de duas novas capitais ficou claramente em dívida com as idéias contidas na Ville Radieuse: o plano piloto de Le Corbusier para Chandigardh, de 1950, e o projeto de Lúcio Costa para Brasília, em 1957. (FRAMPTON, 2008, p. 220)

Durante a guerra, as dificuldades no campo da construção permitiram o arquiteto conceber e formular novas ideias, incluindo o seu conceito “Modulor” , baseado na razão áurea e na Sequência Fibonacci - uma escala de medidas que atreladas elementos construtivos na proporção de um ser humano. Ele considerava seu sistema como uma continuação da tradição clássica do arquiteto romano Vitrúvio. O sistema de Le Corbusier era, pois semelhante ao método clássico pelo fato de basear-se nas dimensões da figura humana; mas também representava o ser humano em movimento dentro do espaço por ele ocupado. Este era o modulor. (GARDINER, 1974, p.74)

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Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1946, Le Corbusier, a pedidos do Ministério da Reconstrução, desenvolveu planos e supervisionou a construção de um complexo residencial em Marselha, sua primeira unidade habitacional. Composta principalmente de habitação, também inclui até a metade seus níveis de dezessete, escritórios e diversos serviços comerciais. Este edifício, representou a concretização de sua visão do ambiente social, no qual ele aplicou seus princípios de arquitetura para uma nova forma de cidade. Entre 1950 e 1955 construiu a célebre capela de Notre-Dame-du-Haut, em Ronchamp, sua primeira obra religiosa. Mais tarde, Le Corbusier recebeu várias encomendas de trabalhos urbanísticos fora da França. Em 1951 deu início à construção da cidade de Chandigarh, nova capital do estado indiano do Punjab, onde teve oportunidade de aplicar seus princípios sobre planejamento urbano em maior escala. Outras de suas construções notáveis foram o Museu Nacional de Arte Ocidental, em Tóquio, e o Carpenter Visual Arts Center, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Le Corbusier morreu em 27 agosto de 1965, com 77 anos, após um ataque cardíaco ocorrido enquanto nadava no Mediterrâneo Roquebrune-Cap-Martin.

Imagem 7 Guitarra Vertical, Le Corbusier, 1920

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A ARQUITETURA DE LE CORBUSIER

O homem não se encaixa mais no mundo em que vive, portanto a forma de pensamento deve ser alterada. O academicismo não deve mais ser colocado em prática, ele não reage às relações, apenas admite formas, métodos e conceitos simplesmente porque eles existem, sem se perguntar o porquê. O academicismo não tem como dar continuidade ao seu processo, mas a multidão ainda pensa de forma conservadora.

Aquilo que, no mundo inteiro, foi produzido no início da época da máquina não passa do fruto de uma convulsão do espírito e é o efeito de um equívoco. Penso friamente que tudo isso deverá desaparecer. A força de onde surgiram monstros – nossas cidades ditas “modernas” – essa força que seu próprio elã aumentou poderosamente, em breve saberá expulsar a incoerência, destruir as primeiras ferramentas que usou e, ao substituí-las, introduzirá a ordem, expulsará o desperdício, imporá a eficácia, produzirá beleza! (LE CORBUSIER, 1930, p.36) A necessidade de se desvencilhar do academicismo é enfatizada em Precisões quando Le Corbusier passa a construir princípios de arquitetura e urbanismo, voltados à nova sociedade que estava se formando. Ao mesmo tempo que faz um diálogo entre as potencialidades técnicas da civilização maquinista e a esfera de criação, sistematiza uma teoria da sensação arquitetural paralela ao esforço teórico do purismo.

O purismo e L’Esprit Nouveau foram até certo ponto o resultado da vontade de desenvolver uma teoria que levasse a uma racionalidade de composição, relevante tanto para a pintura como para a arquitetura, e as semelhanças de técnica são evidentes na obra de Le Corbusier em ambos os campos. (BAKER, 1998, p. 332) Sempre procurando estabelecer diretrizes quanto à seleção e organização dos elementos, o equilíbrio era o que Le Corbusier buscava em cada parte de sua obra, seja na arquitetura ou na pintura. Em seus quadros puristas, aplicava um contraste dinâmico entre composições de elementos horizontais e verticais, elementos do primeiro e segundo plano ou elementos curvos e retilíneos. Conciliava a expressão do espírito do tempo e a busca da perenidade, condição essencial da arte. O entrelaçamento entre esses elementos que compõe a pintura, podem ser encontrados também em seus projetos arquitetônicos, de forma tridimensional. Seja pela relação entre lareira, escada e sala, ou pela composição de paredes curvas de vidro com o entorno da casa. O contraste era uma ferramenta muito utilizada, como ponto de partida para o desenvolvimento do projeto.

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Imagem 8 Le Corbusier em 1961

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As diretrizes para essa composição eram dadas por uma malha ortogonal preestabelecida no projeto que “acomodava os órgãos da casa”, incluindo os elementos de circulação, que eram facilmente encaixados no enquadramento estrutural. Tanto nas pinturas, como na arquitetura, as curvas tensionadas contra uma malha ortogonal eram a principal expressão de lirismo. O objetivo geral, portanto, era vincular a técnica e a estrutura à uma afirmação escultórica de impacto sensorial, que poderia ser sentida através do percurso pela casa, o Promenade Architecturale. O “passeio arquitetural” se dava a partir do controle dos elementos de circulação, direcionando o percurso do indivíduo em direção ao edifício e seu interior e proporcionando uma sequência de sensações. Os elementos de circulação eram fundamentais para dinamizar o projeto. Tinham um papel muito claro, de transportar a força vital – os usuários do edifício – de ambiente para ambiente. Acima de tudo, esse padrão de percurso proporcionava a base para a organização das atividades dentro do edifício.

Imagem 9. Enquadramento Estrutural

Villa Savoye 1929-31

Villa em Garches 1927

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Villa Shodan 1952-56


Le Corbusier usa formas para projetar significado, e estas guardam uma dimensão simbólica que não pode ser identificada com precisão, aberta à interpretação individual. (BAKER, 1998, p.360) Entretanto, em um segundo momento de sua obra, pode se observar uma perda dessa precisão da expressão arquitetônica dada pelo efeito cúbico. A arquitetura “dura” baseada em elementos rígidos, apresentava alguns entraves na sua aplicação. A falta de controle da temperatura, especialmente em locais muito quentes, era um defeito para os projetos com grandes fachadas envidraçadas e cortinas de vidro, e acabaram por dar origem à um novo elemento, o brise soleil. O brise “atua como um filtro, criando uma película permeável ao redor do edifício que permite a penetração no espaço interno e suaviza o impacto da forma”. Esse novo elemento estrutura a segunda fase de sua obra, entre os exemplos de projetos que utilizaram dessa técnica estão o Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, e as Unités d’Habitation. Podemos dividir a obra de Le Corbusier em dois grandes períodos: o primeiro, mais racionalista, abstrato, cartesiano e maquinista, no qual se encaixa o projeto da Villa Savoye, em 1929; o segundo, brutalista, poético, expressivo, evocador do primitivo ou do arcaico, que se dá no período entre a unidade de habitação em Marseille, 1946 e os últimos monumentos de Chandigarh. Em ambos os momentos, a procura por uma “unidade do sistema arquitetural” é presente e intensa, um dos principais objetivos da obra de Le Corbusier. Segundo Carlos A. Ferreira Martins, o arquiteto sempre seguiu o imperativo ético, de “servir a uma intenção elevada” e buscar emoções dadas pelas “relações matemáticas harmônicas”, que, de forma alguma, devem estar subordinadas à funcionalidade. O imperativo ético busca “atender em nova escala à necessidade de buscar o máximo rendimento – funcional e emocional – da casa”.

“(...) Le Corbusier talvez não pretendesse de fato projetar a cidade moderna, consciente que esse era um trabalho coletivo, que envolvia engenheiros (isto é, todo o quadro dos técnicos modernos), e necessariamente se subordinava, na definição do seu mecanismo, aos aspectos contingentes do cálculo, o artista-poeta-construtor antes buscaria construir as Acrópoles da civilização maquinista, aquilo que define a alma das cidades e atinge o objetivo maior da Arte: a perenidade.” (MARTINS, 2004)

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CRIAÇÃO DE VALORES ETERNOS

Assim como já evidenciado, Le Corbusier dedicou grande parte de seu trabalho em busca de ordenamentos e soluções para a vida e a cidade moderna. Para ele, toda a nova arquitetura deveria se basear na circulação – grande problema das cidades globais.

Veremos que hoje a arquitetura está coberta por uma camada apodrecida que pertence ao ontem ou antes de ontem. (LE CORBUSIER, 1930, p.49) Primeiramente, uma análise do sistema estrutural das casas de pedra que eram construídas até então. A começar pelo subsolo, com paredes espessas e iluminação escassa, a casa de pedra se apresenta estagnada em relação ao solo e local de aproveitamento do espaço limitado.(Imagem) Os pisos construídos acima, térreo e primeiro andar, devem, irredutivelmente, ter exatamente as mesmas paredes do subsolo, portanto, deve seguir as mesmas dimensões, proporcionando uma grande perda de espaço e cômodos com dimensões inapropriadas. A arquitetura de pedra é a expressão de um sistema construtivo puro. A casa moderna, de ferro ou concreto armado, chega e propõe uma revolução na maneira de se construir e de viver. O subsolo passa a ser livre e desimpedido, liberado para a circulação de pessoas e carros.

Apreciem este valor formidável e inteiramente novo da arquitetura: a linha impecável da parte de baixo da construção. A construção apresenta-se como um objeto de vitrina sem algo que o apoie, ela se lê inteira. (LE CORBUSIER, 1930, p.68) O uso de pilotis exige uma menor fundação e abre o espaço para outros usos, além de deixar a planta dos andares de cima livre. As novas técnicas permitem também a supressão das paredes com abertura de janelas, permitindo a entrada livre de luz e ar. Além disso, as paredes livres permitem uma superfície justamente proporcionada para cada função da casa. Por fim, o teto também deve ser aproveitado: plano, com inclinação quase imperceptível, pode ser instalado um jardim que protege a casa de dilatações muito intensas.

O terreno, sob a casa, ficou desimpedido; o teto foi reconquistado; a fachada está inteiramente livre e, assim, não estou mais paralisado.(LE CORBUSIER, 1930, p.52)

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Imagem 10 Anรกlise Comparativa Casa de Pedra x Casa de Concreto

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Imagem 11 Le Corbusier em 1937

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A partir dessas novas premissas para a casa moderna, cria também princípios para o urbanismo moderno. Tudo aquilo que está no solo dirá respeito à circulação e à mobilidade, tudo que está no “ar” será destinado ao trabalho e atividades imóveis. A rua estará independente da casa, elas passam a ser rios de circulação. Com esses princípios, critica o esquema organizativo das cidades atuais, que impedem a circulação de ar, carros e pessoas. Uma cidade infeliz e sem funcionamento. (Imagem)

Antes de mais nada a arquitetura: Os pilotis sustentam as massas sensíveis da casa acima do solo, no ar. A vista da casa é uma vista categórica, sem ligação com o solo. Então os senhores avaliarão a importância que as proporções assumem e as dimensões do cubo suportado pelos pilotis. O centro de gravidade da composição arquitetônica elevou-se. Já não é mais aquele das antigas arquiteturas de pedra que estabeleciam com o solo uma certa ligação ótica. O teto-jardim é um novo recurso com usos encantadores. O projeto de destinação dos cômodos, no interior da casa, pode ser modificado. Novas alegrias acolhem o morador. A janela corrida e, finalmente, o pano de vidro, trouxeram-nos algo que nada tem a ver com o passado. Com o pano de vidro modifica-se a escala da arquitetura. Os meios de composição são tão novos e, para dizer a verdade, parecem tão reduzidos, até o nada, que, aterrorizados, nos perguntamos: mas para onde vai a arquitetura?” (LE CORBUSIER, 1930, p.66) Le Corbusier também se ocupa em analisar a relação entre os arquitetos e os engenheiros. Em Por uma Arquitetura discorre sobre a estética do engenheiro e a arquitetura como duas coisas solidárias, mas que se desenvolvem em ritmos diferentes. Conduzido pelo cálculo e pelas leis gerais do universo e da economia, o engenheiro atinge a harmonia. Já o arquiteto tem uma incumbência mais profunda; a de ordenar as formas, exteriorizando a pura criação de seu espírito. A função dessas formas é abalar intensamente os sentidos, provocando as “emoções plásticas”, e através das relações que cria, nos traz uma medida de ordem e determina nossos sentimentos, é assim que somos capazes de sentir a beleza. A fim de criar essas relações, L.C. abrevia sua arquitetura em três conceitos principais: o volume, a superfície e a planta. As formas primárias, por serem mais claramente interpretadas, seriam as formas verdadeiramente belas.

A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes reunidos sob a luz. (LE CORBUSIER, 1923, p.13).

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É através do volume e da superfície que a arquitetura se manifesta, e estes, por sua vez, são determinados pela planta. É possível reconhecer esse tipo de arquitetura baseada nas formas primárias em diversos períodos; as pirâmides egípcias, o Parthenon grego ou a Villa Adriana romana são apenas alguns exemplos citados. Há também a crítica a arquitetura gótica, que por ser “subjetiva” deixa de ser uma obra plástica e passa a representar uma ordem sentimental. Já a superfície é a responsável por envolver o volume, assim, o arquiteto deve fazer viver essas superfícies sem que elas absorvam esse volume. A planta é a geradora, sem ela não há ordem. A casa e a cidade moderna precisavam de uma nova maneira de se pensar a planta, a vida moderna pedia uma nova planta. É ela que traz coerência, ritmo ordem e grandeza ao volume. Mas para que a planta cumpra sua função, é necessário disciplina e imaginação. A Cidade Industrial de Tony Garnier é um exemplo de ordenação e soluções plásticas que surgiram como consequências de uma planta bem estruturada. Assim como as Cidades Torres de Auguste Perret. Para construir bem, o homem primitivo admitiu um módulo, regulou seu trabalho, introduziu a ordem, pois a floresta em sua volta estava em desordem. Esse espírito ordenador, pregado por Le Corbusier como a solução também para os problemas da vida moderna, exigiam traçados reguladores, como garantia contra tudo aquilo que era arbitrário.

Há um espírito novo: é um espírito de construção e de síntese guiado por uma concepção clara. (LE CORBUSIER,1923, p.59) Dessa forma, as construções afirmam a cada dia uma estética industrial. Assim como as máquinas, se afirmam como proporções que constituem a produção geral da época. A partir dessa padronização, gerada pelas indústrias, cria um novo estilo que se difere de tudo já visto. A arquitetura, que vinha sendo produzida até então, não respondia mais às necessidades de um mundo que se transformava com o avanço da indústria. No entanto, a arquitetura tem um outro significado além de responder às necessidades práticas do homem, a arquitetura é arte. L.C. apresenta um Manual da Habitação, no qual expõe algumas de suas ideias de como uma casa deve ser para que cumpra suas funções. O banheiro, por exemplo, deve ser amplo e possuir uma boa iluminação, deve existir uma parede toda de janelas que se abram para um terraço e vários espaços vazios. Uma casa só é habitável quando tem luz em abundância, e as paredes e pisos são claros. Dessa forma, ele conclui que em todo homem moderno há um sentimento de mecânica, que é motivado pela vida cotidiana.

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Imagem 12 Cidades Torres


Na sua concepção, era necessário que esses padrões fossem estabelecidos para que se pudesse enfrentar os problemas da vida moderna. Se o problema da habitação fosse estudado como os automóveis, veríamos nossas casas se transformarem como em uma linha de produção. Portanto, se as casas fossem construídas industrialmente, a estética se formularia com uma alta precisão. A determinação de padrões tem origem na organização de elementos precisos seguindo uma linha de pensamento igualmente racional. O padrão, imposto por uma seleção, é uma necessidade econômica e social. As casas em série também são uma questão de estabelecimento de padrões. Em uma época de renovação de valores, a revisão dos elementos constitutivos da casa é essencial para a arquitetura, e o equilíbrio da sociedade depende disso. A busca pela padronização de casas em série implica em traçados mais amplos, substituição de materiais naturais por materiais fixos, homogêneos, industriais, ou seja, a unidade dos elementos construtivos é a garantia da qualidade da construção. Um conjunto habitacional com um loteamento bem definido e com casas em série bem construídas transmitiria uma sensação de ordem, calma e limpeza, além de impor mais facilmente disciplina aos habitantes. É necessário considerar a casa como uma máquina de morar. Essas questões construtivas, de uma arquitetura industrializada e eficiente, tendem a trazer o equilíbrio que a sociedade moderna precisa, e seriam a única maneira de evitar uma revolução de classes. É nesse ponto que o arquiteto formula sua célebre frase “Arquitetura ou revolução”. A história da arquitetura evoluiu lentamente através dos séculos, mas em 50 anos, as inovações industriais, o ferro e o cimento, contribuíram imensamente para o avanço da construção e para a transformação dos códigos arquitetônicos vigentes. Em comparação ao passado, houve revolução. Consciente ou inconscientemente as pessoas tomaram conhecimento dessas mudanças e assim foram nascendo novas necessidades. Um grande desacordo reina entre um estado de espírito moderno que é uma injunção e um estoque asfixiante de detritos seculares. A sociedade deseja fortemente uma coisa que ela obterá ou não. Tudo está ai, tudo depende do esforço que se fará e da atenção que se concederá a esses sintomas alarmantes. Arquitetura ou revolução? Podemos evitar a revolução. (LE CORBUSIER, 1923, p.205).

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Imagem 13 Vista do Conjunto Habitacional

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MODULOR

Desde a antiguidade, o homem segue em uma busca incessante - através de ordem e relações entre números e combinações - para entender como o ser humano e os elementos da natureza apresentam harmonia e proporção. Nessa discussão, o número áureo é um assunto constante, que pode ser atrelado à arte, arquitetura e natureza. A partir dele, as coisas se tornam agradáveis aos olhos do ser humano e encontra-se a harmonia das formas. O retângulo áureo é um elemento que possui regularidade e harmonia, constituindo-se uma base para arte, arquitetura e natureza. Este, possui relação direta com a sequência de Fibonacci - sequência cuja soma dos termos adjacentes equivale ao termo seguinte -, além de formar uma progressão divina, pois o quociente entre o sucessor e o antecessor se aproxima do número ouro. Com esta sequência, é possível formar um retângulo áureo. No campo da arte, grandes nomes vem à cabeça quando falamos do estudo de proporções e razões harmônicas, entre eles Mondrian, Portinari, Michelangelo, Dalí, Dürer, Da Vinci, etc. Estes, usaram de cálculos e razões para lhes conferir harmonia em suas criações artísticas. Na arquitetura, esses elementos também foram utilizados para salientar harmonia e beleza aos projetos. A partir de Phídeas, um dos mais importantes arquitetos da Grécia Antiga, responsável pela construção do Parthenon. O arquiteto utilizou do retângulo áureo para ajustar sua estrutura. Mais recentemente, Le Corbusier apresenta esses estudos ao analisar novas formas de se fazer arquitetura. Com base na medida harmônica e na escala do homem, ele desenvolve o modulor, sistema baseado nas dimensões médias do corpo humano, usando o retângulo áureo e a sequência de Fibonacci. O sistema de medidas foi aplicado em diversos projetos, em especial na Chapel de Notre Dame du Haut. Le Corbusier foi um dos raros arquitetos que se propôs a fazer essa análise de proporções e demonstrou como foi aplicado em seus projetos. Em sua obra, podemos encontrar diretrizes racionalistas e disciplinadoras, que talvez, encontre sua plena expressão, em termo de proporções no seu sistema denominado de Modulor. O modulor é um aparato de medida fundamentado na estatura humana e na matemática. Um homem com o braço levantado dá os pontos determinantes de ocupação do espaço: o pé, o plexo solar, a cabeça e a ponta dos dedos com o braço levantado – três intervalos que definem uma série de secções áureas de Fibonacci; e ainda por outra parte, a matemática, que oferece a variação mais imediata e significativa de um valor: o simples, o dobro e as duas seções áureas (LE CORBUSIER, 1948, p.52 )

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Imagem 14 Modulor


Tome um homem com o braço levantado com 2,20m de altura, inscreva-o em dois quadrados superpostos de 1,10m, coloque-o a cavalo sobre os dois quadrados e um terceiro quadrado resultante lhe dará uma solução. O lugar do ‘ângulo reto’ deve poder ajudá-lo a colocar o terceiro quadrado. Com este enredado, regido por um homem instalado no seu interior, estou seguro que chegará a uma série de medidas que poderão colocar de acordo a estatura humana (o braço levantado) e a Matemática (LE CORBUSIER, 1948, p.35 )

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Imagem 15 Le Corbusier e o Modulor


A palavra modulor tem origem na junção de “module”, ou seja, módulo, unidade de medida, e “section d’or”, ou seção de ouro (a divisão de uma reta de modo que o segmento menor é proporcional ao maior do mesmo modo que o maior é proporcional ao todo). O sistema criado visa um proporcionamento do espaço arquitetônico baseado em um critério geométrico. As dimensões medianas estão relacionadas com o corpo humano, as extremas aplicam-se à objetos de pequena escala e à projetos de planejamento urbano de grande escala.

“O modulor rege as longitudes, as superfícies e os volumes mantendo sempre a escala humana, pretando-se a infinitas combinações e assegurando a unidade na diversidade: benefício inestimável, milagre dos números” (LE CORBUSIER, 1948, p.88 ) A música influencia muito o processo de concepção do sistema de medidas, já que Le Corbusier, por influência da família, sempre teve muito contato. Ele percebia que o som poderia ser fragmentado e compreendido através de pequenas parcelas estabelecidas proporcionalmente, e que elas se desenvolviam no espaço e tempo dependendo de sua medida, assim como a arquitetura. Para ele, a sensação arquitetônica se dava com base na reação humana às coisas geométricas. O fazer arquitetônico, ao estruturar, abrir portas e janelas, era resolver uma equação, e por isso, acreditava que um utensílio que tratasse essas proporções de forma visual ajudaria a construção e facilitaria a composição arquitetônica. Entendendo que os parthenons, templos indianos e catedrais de todos os tempos sempre seguiram fundamentos de uma unidade essencial. Assim, Le Corbusier se demonstra nada menos clássico que Palladio ou Alberti, ao retomar um controle projetual geométrico rígido e tão essencialmente renascentista.

“A invenção das proporções, a escolha dos cheios e dos vazios, a fixação da altura em relação a uma largura imposta pelas limitações do terreno, tem a ver com a própria criação lírica. Tal é a obra resultante de um profundo estoque de conhecimento adquiridos de experiências e de potência criadora individual.” (LE CORBUSIER, 1930, p.80) A necessidade de um sistema de medidas que satisfaria questões racionais e ordenasse os cálculos à escala humana era evidente. A grande indústria deveria produzir em série os elementos da casa, e tudo deveria seguir esse espírito: habitar em série, conceber casas em série, construir casas em série. E é aí que o sistema regulador se torna tão útil e fundamental.

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De início, Le Corbusier propõe que a altura média da visão do observador é 1,60m de altura, variando as percepções a cada momento. A partir daí surge o primeiro traçado, em 1943, com bastantes incoerências. Este, é revisto mais tarde e depois de diversas tentativas chegam a um traçado rigoroso e preciso em todos os sentidos. O segundo modelo é construído em colaboração à dois jovens, e é relatado no livro Modulor 2, a partir de duas séries: a vermelha e a azul. O modulor despertou um grande interesse no ambiente profissional e acadêmico. Vários estudiosos da época comentaram e ajudaram no processo de construção do Modulor, entre eles, Neufert, apontou algumas críticas em A industrialização das construções:

(…) é importante que um arquiteto de tanta popularidade como Le Corbusier tenha dedicado sua atenção ao problema das medidas na construção e que tenha colocado em seu primeiro plano de necessidades arquitetônicas que haviam sido deixadas de lado, como pouco acertadas, substituídas por normatizadores mecânicos e exclusivistas. Não menos importante é o fato de que para desenvolver as construções se possa jogar com proporções baseadas na seção áurea.(NEUFERT, in Industrialização das construções, p. 35.)

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Imagem 16 Medidas Humanas

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A CÉLULA HUMANA A COMPOSIÇÃO DE UMA CÉLULA 0 EQUIPAMENTO DOMÉSTICO UNIDADES DE HABITAÇÃO CONJUNTOS HABITACIONAIS

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A COMPOSIÇÃO DE UMA CÉLULA “O problema que assume um caráter de urgência, em todos os países, é o da construção de casas

necessárias ao alojamento das multidões que o fenômeno maquinista concentrou nas grandes cidades. A descrição é inútil. Os fatos aí estão. Colocou-se o problema da quantidade. Além do mais, impõe-se uma rigorosa economia e sabemos o motivo”. (LE CORBUSIER, 1930, p.93)

A revolução do cotidiano criou novas necessidades para a habitação. Multidões desalojadas estavam se formando nas cidades ao passo que a economia não permitia construções de casas a um custo compatível. O arquiteto, responsável pela construção dessas residências, deveria desenvolver uma nova forma de habitar que assegurasse: pisos iluminados, abrigo contra intrusos (pessoas, frio, calor, etc), circulação, objetos da casa. Pensando dessa forma, a arquitetura estaria à margem aos métodos do maquinismo. Le Corbusier começa a sua análise do novo modo de habitar a partir das instalações de um navio. (Imagem 40-43) Qualquer “passageiro” de um navio não possui empregados exclusivos, ele diz que estava usufruindo de frações dos serviços. Essa análise foi colocada junto à crise dos empregados domésticos que estava se iniciando. Os serviços, quando compartilhados, diminuíam o custo de vida e o espaço gasto. O arquiteto também compara o deck do navio a um bulevar, onde as pessoas circulam e se encontram. Estamos diante de um novo dimensionamento da casa. Uma nova forma de construir e de habitar. A moradia agora deve relacionar seus métodos com o espírito da época maquinista, eliminando a pequena construção privada, e passando a construir grandes conjuntos, nos quais a circulação e os serviços seriam compartilhados. (Imagem 88, 93) O arquiteto pensa a unidade de habitação como uma célula, que garanta ao homem a possibilidade de realizar todas as atividades domésticas de sua vida cotidiana - lavar-se, alimentar-se, descansar - pensando em uma planta livre que permita uma circulação rápida entre os cômodos e esteja nas proporções humanas. “Aquilo que denomino pesquisar uma célula na escala humana significa esquecer todas as moradias existentes, todo o código de habitação em vigor, todos os hábitos ou tradições. É estudar, com sangue frio, as novas condições sob as quais transcorre nossa existência. É ousar analisar e saber sintetizar. É sentir, atrás de si, o apoio das técnicas modernas e, diante de si, a fatal evolução das técnicas construtivas em direção a métodos sensatos. É aspirar a satisfazer o coração de um homem da época maquinista e não a acalentar alguns romancistas caducos, que assistiram, sem mesmo se dar conta do fato e tangendo o alaúde, a dissolução da raça, o desencorajamento da cidade e a letargia do país” (LE CORBUSIER, 1930, p.110)

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Le Corbusier projeta um paradigma da habitação, a máquina de morar, onde as funções da vida diária tornam-se fundamentais para o projeto. A expressão utilizada provocou muitas discussões na época, uma vez que une a noção de funcionamento, rendimento, trabalho e produto à um termo que representa status, organização da existência, sobre os quais há muito desacordo.

Imagem 17 Construindo uma célula

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O EQUIPAMENTO DOMÉSTICO

Os novos meios de construir foram pensados. A nova forma de morar foi concebida. A célula humana foi configurada. Tudo se baseando na única constante existente no mundo moderno: o homem. Mas, os instrumentos necessários para a vida cotidiana, o mobiliário, também deve ser pensado e encaixado em proporções. A partir do método científico adotado na arquitetura moderna, inicia-se um processo que vai do detalhe ao geral. Cada objeto deve ser decomposto em seus elementos simples e depois recomposto associado de maneira nova e racionalizada. “Partir do zero e imaginar um mundo novo” como apontou Benévolo (1988), e dessa forma, os arquitetos são levados a analisar cada um dos problemas urbanos a partir dos mínimos elementos que o compõem. Isto é, encontrar as combinações mais simples e funcionais, adequadas à solução daquele problema. Ou seja, para definir as melhores formas de habitação, é necessário partir de um conjunto coerente de mobiliário, depois de planta, de forma a obter uma habitação que realmente funcione na cidade:

“ Só poderemos abordar com eficácia a renovação da planta da casa moderna após explorarmos a questão do mobiliário. Temos aí um nó górdio. É preciso cortá-lo, caso contrário toda a busca de uma ideia moderna será inútil. Precisamos dar uma “guinada”: uma época maquinista sucedeu a época pré-maquinista; um espírito novo substituiu um espírito antigo”. (LE CORBUSIER, 1930, p.111) Os móveis não devem ter apenas uma finalidade estética, se tornando assim muitas vezes um estorvo, precisam exercer também sua função de atender as necessidades humanas. Le Corbusier define o mobiliário em suas funções constantes, cotidianas e regulares: mesas para trabalhar e comer, cadeiras para trabalhar e comer, poltronas para descansar, prateleiras para guardar. Para ele, todas as funções e necessidades do mundo moderno são padronizadas, logo, os objetos e dimensões poderiam seguir um padrão também. As paredes podem ser ocupadas de armários, ou até mesmo um armário pode ser uma parede! As mesas, podem ser várias que se justapõem dependendo da necessidade. As cadeiras devem respeitar nossas diversas maneiras de sentar ao longo do dia, elas são máquinas de descansar. O mobiliário antigo é ineficaz, possui finalidade apenas estética, deixando de lado a funcionalidade e circulação interna.

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Imagem 18 A planta da casa e o mobiliรกrio

Imagem 19 Diversas maneiras de sentar

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Ora, a maior parte do tempo esses armários são mal dimensionados e de utilização precária; denuncio aqui o desperdício. Vou acossar o inimigo em suas trincheiras e procurar saber para que servem verdadeiramente esses móveis.(LE CORBUSIER,, 1930, p.115) A nova indústria, no entanto, consegue produzir armários precisos, com utilidades definidas. O resultado disso? Ganho de tempo e espaço. (Imagem 99) Agora os móveis podem seguir a proporção dos nossos membros e objetos. Tem-se uma escala comum, um módulo, que pode ser repetido nas casas, nos conjuntos habitacionais, nos bairros e nas cidades. Tudo relacionado a medida de todas as coisas, o homem. A noção de mobiliário agora desaparece para ser substituída por um novo termo, o equipamento doméstico. A proposta da Arquitetura Moderna é a produção de um mobiliário adequado, mas também que ele fosse antes de tudo, de baixo custo. AA industrialização permitiria esse processo, produção em série e uso de materiais menos nobres como o tubo, foram formas de produzir mobiliários com custos mais baixos para a produção. Entretanto, o que foi idealizado para ser de habitação popular, virou mobiliário de alto luxo, e é vendido hoje por valores abusivos. Isso é uma traição total as ideias do Movimento Moderno.

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Imagem 20 O equipamento e a casa


UNIDADES DE HABITAÇÃO A célula estará na base de tudo. Multiplicando-as horizontalmente e sobrepondo esse conjunto em diversos andares. Esses andares serão unidos pelas “ruas no ar” - circulação horizontal para qual cada célula se abrirá. Cada “rua” estará ligada ao conjunto de de escadas e elevadores que farão o contato com o solo e também com a cobertura, formando uma unidade de habitação. Elevadas do solo, sob pilotis, com um teto verde, fachada contínua, estrutura independente e planta livre, cada unidade traduzirá os cinco pontos da nova arquitetura expressos por Le Corbusier. Com um tamanho apropriado, as unidades de habitação verticais proporcionarão uma grande densidade populacional, ocupando uma pequena parte do solo: “a densidade é de 400 habitantes por hectare para uma unidade de habitação, ao invés de 50 para as pequenas casas.” (LE CORBUSIER,1944 1944, p.30)

(...) o empreendimento da construção deve harmonizar seus métodos com o espírito da época mecanista por meio da eliminação da pequena construção privada. A casa não deve mais ser feito por metros, mas por quilometro. (LE CORBUSIER, 1930, p.107)

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Imagem 21Estudo da Unidade

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CONJUNTOS HABITACIONAIS A busca dos elementos funcionais constitutivos não acaba na escala da moradia. Todos os elementos da cidade - seja serviços, áreas de lazer, ruas - devem ser colocados segundo a relação com as moradias, tornando-se subordinados a elas e criando um número limitado de ordenações funcionais. Desse modo, esses elementos junto às unidades habitacionais, permite a definição da estrutura da cidade moderna. As unidades de habitação - que poderão estar dispostas de diversas maneiras no solo, em forma de lâmina, de “Y”, de escada - distribuídas pelo seu tamanho, trará a escala humana para a cidade, retomando as condições da natureza a cidade se tornaria um grande parque.

A hipótese das unidades de habitação- que formam uma gradação contínua da unidade mínima às maiores e em perspectiva até a cidade- perde o controle arquitetônico a uma escala muito maior. De fato, a forma da cidade resulta extremamente diversa, mas deriva de um número limitado de combinações e ligações, cujas consequências técnicas e visuais já se conhecem. A cidade tradicional é formada por muitos lotes pequenos, ocupados por edifícios independentes entre si, suas combinações são demasiado numerosas para serem previstas e controladas, e sua sucessão muito aproximada produz, ao fim, uma impressão de monotonia. Ao contrário, a cidade moderna pode ser formada por elementos muito maiores, cada um projetado como uma composição construtiva unitária; as combinações entre estes elementos podem ser coordenadas por antecipação, portanto o quadro de conjunto pode tornar-se ao mesmo tempo variado e ordenado. (BENÉVOLO, p.644)

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Imagem 22 Estudos de Fachada

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Imagem 23 Unidades de Habitação


Imagem 24 Fachada

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VILLA SAVOYE A CASA MODERNA A VILLA ACESSO VOLUME PRINCIPAL COBERTURA UMA LINGUAGEM UNIVERSAL

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A CASA MODERNA

A casa moderna sofreu uma revolução arquitetônica que permeia: classificação, dimensionamento, circulação, composição e proporcionalidade. Classificamos a partir da junção da utilidade e da sensação, a emoção arquitetônica. Dimensionamos da maneira que bem quisermos, maior diversidade de cômodos, sem preocupações com a sobreposição de andares. Circulação, o grande termo moderno. Proporcionalidade, a composição arquitetônica deve ser geométrica. “O arquiteto, ordenando formas, realiza uma ordem que é uma pura criação de seu espírito; pelas formas afeta intensamente nossos sentidos... pelas relações que cria, ele desperta em nós ressonâncias profundas, nos dá a medida de uma ordem que sentimos em consonância com a ordem do mundo, determina movimentos diversos do nosso espírito e de nossos sentimentos; é então que sentimos a beleza.” (LE CORBUSIER, 1923, p. 29)

Dentre a ressignificação de todos esses pontos, Le Corbusier discute quatro sistemas básicos de articulação em plantas de casas, que exemplificam diferentes problemas de projeto e suas respectivas soluções. O primeiro, evidenciado na residência La Roche – Jeanneret, pode ser classificado como pitoresco, de difícil manejamento já que seus elementos podem ser classificados hierarquicamente. “(...) cada órgão surgindo ao lado do seu vizinho, de acordo com um motivo orgânico: o interior alarga seu espaço e empurra para o exterior, que forma diversas saliências. Composição piramidal.” (LE CORBUSIER, 1930) O segundo tipo possui um envoltório mais rígido, como pode ser visto na residência Garches. Le Corbusier apresentou como um problema difícil já que não é simples obter satisfação estética com uma forma tão sintética. No terceiro tipo, esse problema é simplificado, já que tem a possibilidade de se ligar à outras formas. “(...) esqueleto aparente, envoltório simples, claro e transparente. Permite que se instalem diversamente, em cada andar, os volumes úteis dos quartos, em forma e quantidade. É um tipo engenhoso, apropriado a certos climas, composição fácil e plena de recursos”. LE CORBUSIER, 1930) Esse tipo pode ser observado na Villa em Cartago. Por fim, o tipo que Le Corbusier considera uma expressão arquitetônica positiva, devido à facilidade de se dispor de maneira correta as necessidades funcionais internas de forma que seja conveniente às outras partes do projeto. Podendo ser visto na Villa Savoye, o quarto tipo, “(...) atinge, no que se refere ao exterior, aquela forma puta do segundo tipo, no interior, comporta as vantagens e qualidades do primeiro e do terceiro. Tipo puro, muito generoso, também repleto de qualidades.” LE CORBUSIER, 1930)

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Imagem 25 Os quatro tipos de casa

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Imagem 26 Villa Savoye


A VILLA

A casa de fim de semana que Corbusier projeta em Poissy para o empresário do ramo de seguros, Pierre, Savoye (1929-31), é uma das obras mais canônicas do século XX. Esta obra representa um momento único na produção de Le Corbusier e concretiza integralmente suas proposições sobre os cinco pontos da nova arquitetura. O terreno era localizado fora do perímetro da cidade, rodeado de árvores e com vista para norte e oeste. Inspirado na localização de um outeiro, a implantação da casa é centralizada, permitindo uma contemplação prolongada não apenas do projeto, mas dos quatro horizontes. Esse tipo de concepção retoma a villa palladiana Capra, que possuía sua planta em cruz, formada por quadrados. Quatro pórticos completavam a planta de onde se tinha uma bela vista das quatro fachadas. Le Corbusier estende essa ideia e coloca as janelas contínuas e horizontais para se manter uma vista constante além de um solário e um pátio que permitem a vista para o céu também. Contudo, se nota um forte vínculo com os preceitos clássicos. A villa foi resultado de conclusões tiradas a partir de três projetos, La Roche, Stein e Stuttgart, onde já aparecem os primeiros estudos sobre os cinco pontos da nova arquitetura. Entretanto, diversas restrições como dimensões reduzidas ou complexidade de programa acabaram por barrar a concretude dos princípios. O próprio arquiteto reconhece a villa Savoye como síntese de seu trabalho e que aglutina soluções desenvolvidas em projetos anteriores. Ele pretendia colocar o homem como protagonista no projeto, pretendia elevar um volume cúbico no espaço, evidenciando a geometria do homem. Um de seus maiores princípios no projeto era um plano livre e aberto que se molda-se a partir do movimento dos usuários. Inclusive, o promenade architecturale, é essencial para o entendimento do projeto.

A arquitetura árabe nos dá um ensinamento precioso. Ela é apreciada no percurso a pé; é caminhando, se deslocando que se vê desenvolverem as ordenações da arquitetura. Trata-se de um princípio contrário à arquitetura barroca que é concebida sobre o papel, ao redor de um ponto teórico fixo. Eu prefiro o ensinamento da arquitetura árabe. (LE CORBUSIER, Oeuvre Complète 1929-1934, p.24) O passeio arquitetural é determinado a partir de um sequência de sensações provocadas pelos espaços e formas da villa e a sucessão desses eventos é que forma o eixo condutor que estrutura o projeto. Diversas relações entre os elementos do projeto são percebidos ao longo do percurso, e o contraste é o elemento fundamentador dessas percepções. Planos abertos e fechados, transparências e opacidade, curvas e linhas retas, formas leves e pesadas. Todo o percurso cria

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um dinamismo para o entendimento do projeto, dando sentido de continuidade e linearidade que contrasta com a simetria estática do volume cúbico suspenso – imagem dominante da villa. O percurso tem dimensão temporal e potencia que pode ser ampliada pela sequência do movimento do homem.

“Após o impacto inicial da forma, experimentam-se sensações sucessivas na zona de transição externa, quando o percurso passa primeiro por baixo da caixa; a entrada cerimonial é seguida pela zona de transição interna do volume da entrada, a qual preserva o contato com o exterior e onde não há sentido algum de repouso, uma vez que a rampa exerce uma forte atração direcional. Espaços retilíneos estáveis criam uma zona de retenção no piano nobile e o percurso é concluído pelos espaços parcialmente fechados do terraço da cobertura. A continuidade é mantida pela abertura que enquadra a paisagem distante” (BAKER, 1998, p.211) Acima de tudo, a plástica do projeto deve ser consequência da técnica. Todo o projeto se encaixa em uma malha ortogonal não direcional que é quebrada algumas vezes por curvas tensionadas, como é no volume de acesso e na cobertura, que exploram a tensão contra o sistema ortogonal, mas sempre respondendo à exigências simbólicas do projeto. O volume principal, a zona de estar, é instalada na malha ortogonal e estabelece uma relação com o eixo longitudinal proporcionado pela rampa. Tudo na villa está sob o controle dessa malha dominante que garante a serenidade e unidade à obra, enfatiza mais uma vez a padronização da tecnologia moderna. Por fim, a busca por uma relação do volume geométrico ao seu entorno natural e a busca por uma desmaterialização da forma e do espaço, garantem ao homem um novo tipo de liberdade.

“As superfícies duras e a pureza geométrica da villa reforçam as implicações racionais e intelectuais da simbologia de Le Corbusier. Ordem e clareza eram fundamentais para sua arquitetura neste período, refletindo uma atitude idealista quanto à forma a qual era vista como análoga à precisão e eficiência das máquinas” (BAKER, 1998, p.212) Para o arquiteto, a circulação era um dos elementos principais de um projeto. Ao pensar uma habitação, deve-se considerar circulação de pessoas, ar e luz. Essa premissa é evidente por todo o projeto, quando ele rompe com a forma do cubo e a luz se revela pelos meios de circulação, seja pela rampa ou pela escada espiralar. A continuidade espacial permite variações de fechamento e exposição.

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Não há dúvidas da importância e magnetismo da Villa Savoye. Ela representa todos os princípios da primeira fase do arquiteto, derruba preconceitos e espalha seu princípio por toda a Europa e o mundo. Le Corbusier a concebe “como um poema, tal como o poeta ou o pintor, ele nos mostra uma maneira até então desconhecida de ver as coisas, a arquitetura é como um quadro, mas um quadro através do qual de caminha” (GARDINER, 1977, p.30)

Imagem 27 O entorno da villa

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Imagem 28 Composição Geométrica

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Imagem 29 Eixos

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Imagem 30 Passeio Arquitetural

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Imagem 31 Eixo Vertical

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Imagem 32 Perspectiva Explodida


ACESSO

Como se dará o acesso a um volume elevado? A forma do bloco da entrada mostra claramente o tensionamento contra a dinâmica ortogonal do projeto. O raio de curvatura é dado pelo arco mínimo de um carro reforçando a ideia de liberação do solo para circulação. A contraposição do vidro curvo da zona de acesso e a laje densa e ortogonal que recobre esse espaço retoma a ideia de contraste sempre colocada por Le Corbusier. Esse espaço de transição entre o interior e o exterior garante a relação efetiva com o entorno do projeto, sendo espaço aberto e iluminado, mas coberto e sombreado pela casa. Além disso, a disposição das lajotas do piso em diagonal garantem um sentido radial de contato interno e externo. O ponto de entrada é marcado pelo eixo dominante de uma estrutura em “T” formado por um par de pilares e uma viga. Uma entrada cerimonial é garantida pela subida gradual proporcionada pela rampa, que já conduz o usuário por seu promenade architecturale. A escada, por sua vez, pontua o espaço verticalmente mantendo as curvas propostas pelo volume de fechamento. Ambos elementos, rampa e escada, são considerados perfeitos pelo arquiteto. Fundamentais para a compreensão do espaço, tomam função escultórica e estruturadora. Enquanto a rampa apresenta uma organização simétrica para quem entra pela face principal, a escada, colocada na direção contrária junto ao hall assimétrico contrariam a expectativa de organização sugerida pelos volumes externos. A inversão de sentidos desses dois elementos evidenciam o conceito de passeio arquitetural, ou seja, a multiplicidade de direções que o caminho pode ser feito torna o percurso complexo e com diversificadas experiências. A relação entre espaço e tempo também é trabalhada no interior da residência.

Imagem 33 Volume Flutuante

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Imagem 34 Planta de Acesso

Imagem 36 Eixo de Acesso

Imagem 35 Fluxos

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VOLUME PRINCIPAL

As exigências de uso dão a complexidade do espaço interior. Variações sutis na configuração das fachadas e o tratamento heterogêneo dos elementos estruturais – explícitos ou ocultos – são exemplos dessa complexidade. O conceito de planta livre é amplamente explorado pela manipulação de estrutura e vedação criando ambientes de diversos usos. Essa variação também é presente nos espaços de circulação que variam quanto à profundidade, largura e superfícies retilíneas e curvas.

Essa disposição dos espaços, conferindo aos diversos aposentos gradações sutis de abertura e fechamento, expressando graus distintos nas relações entre espaços públicos e privados, entre individualidade e coletividade, é fundamental para a compreensão dessa arquitetura como um instrumento que regula as práticas sociais do ser humano, podendo portanto ser entendida como um artefato ético, mais que estético. (MACIEL, 2002) Em conjunto da composição de abertura e fechamento para criação dos cômodos, o binômio individualidade e coletividade são colocados no projeto. Há um eixo diagonal que divide a casa em espaços públicos e privados separados pela rampa. A localização centralizada da circulação permite, através do passeio arquitetural, sensações distintas à medida que se transpassa de um local confinado para a expansão espacial do terraço. O controle da interpenetração espacial é dado através dos fechamentos que permitem a compartimentação da área íntima e integridade das áreas sociais. O fechamento de vidro do salão na área coletiva gera a continuidade com o terraço aberto.

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Imagem 37 Perspectiva Volume Principal

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COBERTURA

O promenade architecturale tem fim no terraço. Talvez o local mais lírico da criação de Le Corbusier, os painéis criam um comentário sobre a natureza da villa e lembram à um frontão grego onde a composição escultórica transmite a mensagem da obra. Os painéis curvos remetem à uma construção naval, reforçada por seu guarda corpo, mas ao mesmo tempo proclamam a liberdade presente no projeto. A curva é rasgada por uma abertura que enquadra a paisagem e revela a espessura do painel. Ao mesmo tempo, ele funciona como um anteparo e evidencia a ética da saúde ao trazer para o projeto sol, ar e limpeza.

Imagem 38 Perspectiva Cobertura

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Imagem 39 Rampa


UMA LINGUAGEM UNIVERSAL

A villa é a concretização dos princípios técnicos e filosóficos desenvolvidos por Le Corbusier até a década de 30. Uma linguagem universal se forma através da construção de elementos funcionais perfeitos, itens padronizados e a força perceptiva dos volumes primários. Essas características remetem novamente à villa renascentista que possuía uma forma centralizada e cúbica, com um andar principal, o piano nobile e utilizava de uma linguagem padronizada. A utilização dos pilotis evidenciam também as referências a outros momentos da história da arquitetura, assim como as colunatas clássicas, os pilotis também representam uma disciplina estrutural. Nessa casa, o arquiteto reúne toda sua vivência e inspiração, desde o diagrama de proporções até a utilização da tecnologia moderna. Entretanto, muitas vezes essa linguagem criada por Le Corbusier é entendida de forma superficial e sem o aprofundamento de articulações formais e tecnológicas. Os cinco pontos da nova arquitetura permitiram que as novas casas projetadas fossem realmente ‘uma casa para ser habitada’. A villa se torna um manifesto na forma de viver no mundo que articula as funções e se apropria do conceito de promenade architecturale . A atitude de repensar cada elemento da casa da obra à um caráter atual para os tempos de hoje.

A Villa Savoye aponta para a possibilidade de que a arquitetura, através dos seus elementos tectônicos, possa regular as relações humanas e, mais importante, atingir um grau de invenção arquitetural na medida em que promove deslocamentos em todas as demandas que interagem na criação e na realização do edifício, o que sugere uma reinvenção dos modos tradicionais de mediação dessas relações e interações entre os homens, ou seja, uma reinvenção da finalidade a que a arquitetura deve atender. É manifesto, ainda hoje, por uma arquitetura que se realize para responder às demandas impostas pela vida cotidiana, sem recorrer a argumentos ou estratégias alienígenas aos aspectos imanentes ao fazer arquitetônico. (MACIEL, 2002)

Imagem 40 Zoneamento da Villa

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Imagem 41 Linguagem Universal

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Imagem 42 Modelo Digital

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Imagem 43 Modelo Digital


Imagem 44 Modelo Digital

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Imagem 45 Relação da Villa com o Entorno


Imagem 46 Integração Interior e Exterior

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PARIS, A ESCALA DA CIDADE A CONSTRUÇÃO DE UM CENÁRIO A CIDADE MODERNA REFLEXOS DOS CIAM’S HABITAR TRABALHAR RECREAR CIRCULAR URBANISMO COMO EQUIPAMENTO OS TRÊS ESTABELECIMENTOS HUMANOS

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A CONSTRUÇÃO DE UM CENÁRIO “Sinto que o mundo inteiro tem os olhos voltados para Paris, espera de Paris o gesto que comanda, cria e eleva na ordem, o acontecimento arquitetônico que iluminará todas as outras cidades. Acredito em Paris. Tenho esperança em Paris. Suplico a Paris que faça hoje, novamente, este gesto de sua história: continuar!” (LE CORBUSIER, 1930, p. 174) A Paris da Idade Média é composta por três partes: a cité, na ilha onde foi fundada a primeira aldeia gaulesa; a université na margem esquerda, onde os romanos haviam construído a colônia de Lutétia, e onde, em 1210, Abelardo e seus colegas fundam a célebre universidade; e, na margem direita do Rio Sena, a ville, onde residem as corporações comerciais e o governo municipal. Nesse período, as três partes foram cercadas de muros por Carlos V. Os reis da França vão se estabelecer em Paris quando Francisco I começa a reconstruir o velho Castelo do Louvre na margem direita, em 1528. No século XVI, Paris se desenvolve ainda mais, ultrapassa os muros e chega talvez a 200.000 ou 300.000 habitantes; mas as guerras danificam gravemente a cidade. Apesar da cidade medieval ter essas divisões tão claras do espaço e sendo uma cidade enclausurada e voltada para si, é frequente arquitetos procurarem referências na cidade medieval em busca do “segredo do espaço cívico”, o segredo da convivência comunitária. Por ser a capital, Paris passou por programas de obras públicas, o primeiro foi em 1610, realizado por Henrique IV, que realizou: ampliação dos muros, reorganização das ruas e das instalações (arquedutos e esgotos), abertura de algumas novas praças, ampliação do Paço do Louvre entre outros que tinham a intenção de requalificar e reafirmar a capital. A cidade cresce rapidamente, e na primeira metade do século chega a 400.000 habitantes; Luís XIII, Richelieu e Mazzarino estão empenhados numa série de guerras, e não conseguem manter um programa contínuo de obras públicas. Dessa forma, a iniciativa passa para os especuladores particulares, que irão construir bairros inteiros. Durante o século XVII, a França passa por um período marcado por uma nova cultura artística e literária do “Grande Século”. A proteção e o estímulo à cultura já tinham começado antes do reinado de Luís XIV. Richelieu fundara a Academia Francesa (1635); Mazarino criou as Academias de Pintura e Escultura; Colbert, as de Ciências e Música. Época de retomada dos modelos antigos greco-romanos, classicismo com o predomínio da razão sobre o sentimento. O termo “jardim à francesa” surge desse período, onde era uma paisagem completa, simétrica e regular até a linha do horizonte.

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Imagem 47 “O desastre contemporâneo, ou a liberdade da organização espacial?” Luís XIV, em seu longo reinado (de 1661 a 1715), prossegue com uma série de intervenções importantes em Paris e nos arredores. Apesar de ainda representar novos edifícios arquitetônicos um pouco isolados no tecido já construído, as ações do Rei Sol levam a formação de uma nova periferia, descontínua e misturada com o campo. De fato, as antigas fortificações são derrubadas, e em seu lugar é traçada uma coroa de avenidas arborizadas (os boulevards). Paris se torna uma cidade aberta; um sistema de zonas construídas e de zonas verdes, livremente articulado no campo. A população atinge cerca de 500.000 habitantes. Esse modelo irá influenciar outras cortes da Europa. O território ao redor da cidade, vazio e sem obstáculos, pode ser efetivamente transformado segundo os novos princípios de simetria e regularidade. De fato, o rei e os outros grandes personagens fixam sua morada no campo; Luís XIV abandona o Louvre e transporta a corte para sua nova residência de Versailles, que é progressivamente aumentada até tornar-se uma pequena capital artificial. Nessa época, Versailles é quase tão grande quanto o organismo de Paris. Nele o Rei Sol dispôs todos os edifícios necessários para o funcionamento da corte, e cria um ambiente perfeitamente regular. A frente do castelo, as antigas ruas de acesso são ligadas por um sistema de três avenidas, ao redor das quais irão se estabelecer os funcionários da corte, criando uma nova cidade. Dessa forma, obtém-se uma cidade fragmentada, em que os espaços não se ligam em um sistema coerente, e essas transformações não incidem sobre a cidade já existente.

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Essa cidade que vai se construindo, passa por mudanças fundamentais principalmente com o ambiente da Revolução Industrial. Há um inchaço da população, o que eleva as demandas por alimentação, moradias, infra estrutura. Aumento dos bens e dos serviços produzidos pela agricultura, pela indústria e pelas atividades terciárias, por efeito do progresso tecnológico e do desenvolvimento econômico. A população passa a ocupar outros lugares da cidade, em consequência do aumento demográfico e das necessidades geradas a partir das novas formas de produção. Os desenvolvimento dos meios de comunicação é primordial para gerar uma mobilidade antes impensável. A rapidez e o caráter aberto destas transformações, que se desenvolvem em poucos décadas, levam a um desequilíbrio estável, mas deixam prever outras transformações cada vez mais profundas e mais rápidas. Por conta das tendências do pensamento político de controle público do ambiente construído, que são considerados sobrevivências do antigo regime; surgem propostas como a de Adam Smith, que buscam corrigir o caos que se tornaram as cidades. É desse fluxo de transformações que a iniciativa privada encontra liberdade de aproveitar a desordem urbana para atuar sem sofrer muitas consequências. Esse crescimento rápido das cidades na época industrial produz novas formas de inserção no espaço construído e novas formas de vida. Os centros contém os principais monumentos - igrejas, palácios- que muitas vezes dominam ainda o panorama da cidade, ao redor deste núcleo, há uma nova faixa construída: a periferia. Benévolo (1988) reforça: “as ruas demasiado estreitas para conter o trânsito em aumento, as casas são demasiado diminutas e compactas para hospedar sem inconvenientes uma população mais densa. Assim, as classes abastadas abandonam gradualmente o centro e se estabelecem na periferia”. As zonas verdes compreendidas no organismo são ocupadas por novas construções, casas e barracões industriais. Os especuladores se encarregam de construir estas casas buscando apenas obter o lucro máximo, e não alguma qualidade na construção. As casas são amontoadas eliminando os espaços livres. Ao longo das ruas correm os esgotos descobertos, se acumulam imundices, e nos mesmos espaços circula as pessoas e os veículos, vagueiam os animais, brincam as crianças. As novas fábricas perturbam as casas com as fumaças e ruídos. Este ambiente desordenado e inabitável -que denomina-se de cidade liberal- é o resultado da superposição de muitas iniciativas públicas e particulares, não reguladas e não coordenadas. A liberdade individual, exigida como condição para o desenvolvimento da economia industrial, revela-se insuficiente para regular as transformações de construção e urbanismo, produzidas justamente pelo desenvolvimento econômico. (BENÉVOLO, 1988: p567)

Frente a essa realidade, a desordem faz com que graves problemas assolem as cidades. Doenças como a cólera se espalham pela Europa por volta de 1830. O excesso e as péssimas condições em que os operários trabalham e vivem agravam essa situação. É nesse período que começam a elaborar teorias utópicas para formação de cidades mais organizadas e saudáveis. Robert Owen,

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Charles Fourier, Ebenezer Howard, entre outros, passam a pensar a cidade como um instrumento de ordenação.

Estes modelos- irrealizáveis na primeira metade do século XIX, e superados pelo debate político da segunda metade do seculo- são o contrário teórico da cidade liberal; de fato, deslocam o acento da liberdade individual para a organização coletiva, e têm em vista resolver de forma pública todos ou quase todos os aspectos da vida familiar e social. Nascem do protesto pelas condições inaceitáveis da cidade existente, e procuram pela primeira vez romper seus vínculos recorrendo à análise e à programação racional: são máquinas calculadas para aliviar o homem do peso da organização física tradicional, que retarda as transformações políticas e defende o sistema dos interesses existentes. Antecipam, portanto- como tentativas isoladas- a pesquisa coletiva da Arquitetura Moderna que terá início do século seguinte. (BENÉVOLO,1988 p568)

Imagem 48 A construção da Periferia na Cidade

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Ao mesmo tempo em que as cidades passam a reproduzir edifícios sem nenhuma qualidade arquitetônica e produzir uma cidade desconexa e desigual, a qualidade dos produtos industriais vão decaindo devido a conveniência econômica e a execução técnica. A experiência da beleza se torna uma exceção, e as obras de arte são consideradas uma espécie separada de manufaturados. Esse processo acentua a distinção entre técnicos e artistas. Os técnicos que atuam na cidade ficam subordinados as decisões políticas empregadas pelos órgãos públicos ou acatar as ordens dos que possuem a propriedade. Vê-se uma cidade onde os mecanismos urbanos estão sempre congestionados, porque os aparelhamentos públicos- ruas, instalações, serviços- são sempre insuficientes, ao passo que a exploração dos terrenos particulares alcança ou supera os máximos fixados pelos regulamentos. Ao assumir de 1851 a 1870, o Imperador Napoleão III promove transformações profundas em Paris, neste contexto de cidade pós-liberal, com as primeiras leis de “higienização” da cidade. Na gestão do prefeito Hausssmann ocorre o sucesso da gestão pós liberal: novas ruas são traçadas no conjunto habitacional existente e na faixa periférica, elas cortam em todos os sentidos o organismo medieval; são implementados novos serviços primários: aqueduto, esgoto, instalação da iluminação a gás, rede de transporte público com ônibus puxados a cavalo; novos serviços secundários: escolas, hospitais, colégios, quartéis, prisões, e sobretudo, parques públicos. Haussmann procura enobrecer o novo ambiente urbano com os instrumentos urbanísticos tradicionais: a busca da regularidade, a escolha de um edifício monumental antigo (como num museu ao ar livre) ou moderno como pano de fundo de cada nova rua, a obrigação de manter uniforme a arquitetura das fachadas nas praças e nas ruas mais importantes. Com ele o urbanismo tornou-se prático, suntuoso, proporcionando mais qualidade. As técnicas também se desenvolveram e passaram a permitir construções mais altas. Haussmann propôs como solução do problema das grandes cidades, a concentração dos negócios, encurtando as distâncias, tornando as movimentações mais rápidas, a jornada de trabalho mais harmoniosa. Para isso, através de uma operação coordenada e do uso da autoridade, levou a expropriação de todo o centro de Paris. “É por meio da reclassificação e da valorização que se resolverá o problema contemporâneo”. (LE CORBUSIER, 1930, p186). Essas operações levaram um processo de valorização do solo, o que altera as formas de ocupação da cidade e acentua desigualdade. Estas reformas acabaram por beneficiar apenas uma parte da população: os burgueses. É nesse contexto que surge uma sensibilidade nova, a noção de metrópole, a sensação de estar sozinho na multidão, que muitos artistas e filósofos vão se esforçar para compreender - Flaubert, Zola, Monet, Pissarro. A sociedade europeia está fascinada e perturbada por este ambiente novo, contraditório. “A técnica moderna produziu, finalmente, uma nova cidade, mas em vez de resolver os antigos problemas, abriu outros, inesperados”. (BENÉVOLO, 1988, p598).

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Nenhuma cidade europeia sofreu tantas transformaçþes como Paris, o organismo antigo determina em ampla medida a fisionomia da cidade moderna, por isso, essa monografia pretende entender alguns dos processos históricos ocorridos nessa cidade, para compreender os desdobramentos dela.

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Imagem 49 Vista AĂŠrea de Paris


CIDADE MODERNA

“Paris, lar espiritual do mundo, Paris, centro dos negócios da França, Sede do governo de um país, Paris viverá? Ou se extinguirá suavemente, lentamente na miragem de sua força adquirida, na contemplação beata daquilo que foi, mas já não é mais: aquela energia organizadora que venceu todos os obstáculos e colocou a cidade no diapasão de todas as novas circunstâncias; o espírito construtivo, que sempre foi revolucionário, sempre nas barricadas; o românico, o gótico, o Renascimento, os grandes Reis, Haussmann e Eiffel. Paris viverá por meio da retomada de suas tradições seculares? Essa era nossa pergunta em 1925.” (LE CORBUSIER, 1930,p. 188)

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Imagem 50 Paris

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Diante desse contexto, a Arquitetura Moderna é vista como uma busca por um novo modelo de cidade, que fuja do tradicional. Para isso propõe um novo método de trabalho que consiste na libertação das divisões institucionais anteriores e, coloca “artistas” e “técnicos” para colaborarem com a gestão da cidade pós-liberal. Assim, o objetivo de alcançar o equilíbrio do ambiente construído faz com que a arte e a técnica sejam indivisíveis para constituir um método moderno em que as questões práticas e plásticas se equilibrem: “é preciso, ao contrário, abandonar a divisão setorial da técnica e a dispersão arbitrária das escolhas artísticas”; a nova arquitetura propõe um trabalho coletivo, em que as proposições dos arquitetos, “artistas de vanguarda”, se somem e construam um resultado final de qualidade: O ambiente e a vida cotidiana são falhos, em seu estado imperfeito e em sua árida necessidade. Assim, a arte se torna um refúgio. Na arte, procura-se a beleza, a harmonia, que faltam ou que se perseguem em vão na vida e no ambiente. Assim, beleza e harmonia se tornaram um ideal irrealizável: colocadas na arte, foram excluídos da vida e do ambiente.

Amanhã ao contrário, a realização do equilíbrio plástico na realidade concreta de nosso ambiente substituirá a obra de arte. Então, não mais teremos necessidade de pinturas e esculturas, porque iremos viver na arte realizada. A arte é somente um sucedâneo, ao passo que a beleza da vida é insuficiente; irá desaparecer à medida que a vida ganhar em equilíbrio (MONDRIAN, apud BENÉVOLO, 1988, p618) Esses processos de desdobramento da modernidade arquitetônica encontram em alguns arquitetos a sua máxima expressão. Em 1936, Nikolaus Pevsner identificou, além de Le Corbusier, como pioneiro do movimento moderno Walter Gropius (1883-1969) e Mies van der Rohe (18861969). A busca apaixonada desses e de outros diversos arquitetos por essa arquitetura racional, era justificada por razões construtivas, funcionais e/ou econômicas. O culto ao “International Style”, divulgado em Nova York em 1932, simboliza a busca coletiva por um novo “estilo”. Que não seria viável caso não estivesse em curso um processo mais profundo de modernização, como resposta as necessidades sociais sem precedentes e como difusão de novas técnicas construtivas. O período entre a exposição Universal de 1889, em Paris, e a Primeira Guerra Mundial corresponde ao auge do imperialismo britânico e francês, à expansão tardia, porém vigorosa, da Alemanha e ao surgimento dos Estados Unidos no cenário mundial. Essas hegemonias nacionais em crescente disputa de poder, exerciam influências contraditórias sobre os arquitetos, impondo a reformulação de suas estratégias.

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Imagem 51 A cidade moderna

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Imagem 52 A reconstrução das cidades


O ensino da arquitetura sofreu diversas alterações com a Primeira Guerra Mundial. O trânsito de alunos e professores entre as escolas facilitavam a dispersão de informações e ofereciam um aprendizado receptivo às promessas modernas. Foi principalmente na Alemanha que se desenvolveu a pesquisa mais intensa sobre esses novos métodos de formação, o programa mais inovador foi lançado em Weimar em 1919.

“O propósito último, ainda que distante, da Bauhaus é a obra de arte total – o grande edifício – na qual não há distinção entre a arte monumental e a arte decorativa”. (GROPIUS. 1919, p.1.) O período pós Primeira Guerra Mundial foi muito relevante para a arquitetura e o urbanismo, porque foi o momento em que se consolidava na Europa o Movimento Moderno. O déficit habitacional gerado pela guerra, e todo o trabalho de reconstrução das cidades destruídas, fez com que grandes obras fossem encomendas pelo Estado para os arquitetos, entre elas projetos de conjuntos habitacionais, de legislação urbanística e de cidade. Com a oportunidade de realizar novas pesquisas, e utilizando as inovações tecnológicas acumuladas até o momento, novas soluções arquitetônicas e urbanísticas surgem, mas muitas vezes ainda vinculadas à hegemonia do academicismo e subordinadas aos interessentes privados. As cidades transformam-se sem levar em consideração preceitos de urbanismo e as questões de cunho social, mostrando um desequilíbrio entre as forças econômicas e as entidades administrativas. Observando o que vinha sendo apresentado nas exposições internacionais, os arquitetos modernos passam a realizar uma série de pesquisas, propostas de leituras da cidade para compreender melhor os problemas urbanos a serem enfrentados e desenvolverem diversas soluções na procura da que responda melhor às exigências do momento, sempre levando para conhecimento público as soluções encontradas. Criaram em 1928, sob a liderança de Le Corbusier, os CIAMs Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, nos quais as cidades modernas passam por uma análise das funções que nela se desenvolvem. A maioria dessas cidades mostravam a imagem do caos colocada pela desordem da era do maquinismo, uma crise de humanidade se instaurava nas cidades, elas já não mais correspondiam a sua função de abrigar os homens. “Em todas essas cidades o homem é molestado. Tudo que o cerca sufoca-o e esmaga-o. Nada que é necessário a sua saúde física e moral é salvaguardado ou organizado.” (LE CORBUSIER, 1943)

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“Nascera a civilização da maquina. Frutos amargos: as grandes guerras modernas, estas destruidoras da quietude, essas galeras aventurescas que arrancam e desenraízam, produzem escombros, instituem os dramas do amanhã, pedindo ao gênio dos homens que a vida não se extinga em prazos tão curtos como podem, as vezes, ser propostos as sociedades e que bastam para fazer morrer de fome, frio e desespero.” (LE CORBUSIER, P 15) A partir de 1941, as exigências reconstrutivas da guerra, tornaram as cidades verdadeiros canteiros de obras, dos quais os arquitetos se tornam responsáveis, e tomam o conhecimento do urbanismo na prática. No entanto, ainda presa ao academicismo, a França acreditava na capacidade de seus artesãos para a reconstrução, porém, esses já não se viam mais na condição de reerguer a nova cidade. Então, o esforço de reconstrução teria que vir dos arquitetos, que se tornariam urbanistas ao almejar uma cidade nova e que atendesse às necessidades da vida moderna. Novos pontos de vistas também iam surgindo. A falta de respostas da técnica e das invenções em relação ao atual caos, resultou em uma busca de uma outra maneira de enxergar o mundo, a fim de achar um equilíbrio entre o homem e seu meio, através da espiritualidade, da sensibilidade. Consequentemente se impôs uma dualidade, entre a materialidade e a espiritualidade.

Apelaram para a sensibilidade e apresentaram-na como maltratada, perturbada, traumatizada pelos produtos da tecnicidade. Dispuseram-nas uma e outra como adversários - técnica contra sensibilidade, técnica contra espiritualidade. (LE CORBUSIER, 1925, p. 21) Esse novo conceito, que se estendia em todos os campos da vida, e mudava a situação, teve contudo, um impacto positivo sobre a técnica, a qual passou a incorporam um pouco mas da sensibilidade em seu desenvolvimento. “A técnica não é antagonista do espiritual. É uma de seus forma mais pronunciadas: a que vem do lado absoluto do raciocínio, das deduções logicas, e das fatalidades matemáticas e geométricas. O espiritual ocupa uma posição mais desligada dos fatos, das experiencias ou das matérias. Situa-se, por meio de julgamento, da apreciação da medida “em relação a”, mais perto da consciência. Entre esses dois polos, caminha, naturalmente, a vida, na continuidade, na contiguidade, na sequencia, no contato e não na ruptura, na conformidade e não na oposição.” (LE CORBUSIER, P 23)

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As novas relações geradas pelo contato entre a espiritualidade e a materialidade também resultaram em duas decisões, a primeira um “ apelo a todas as potências técnicas para a formação de uma aparelhagem de acordo com o novo estágio franqueado pela humanidade”; a segunda, um “apelo aos valores que antes de serem regionais ou locais, são humanos” e ainda a finalidade de uma sociedade em buscar a alegria de viver.

“Todos os recursos das técnicas e todos os valores espirituais, reunidos em leque, coerentes e contíguos, e partindo, todos eles, desse centro que só ele nos preocupa - o homem. O homem corporal e o homem espiritual, tanto o que raciocina como o sensível. Aí esta a saída desejável para um absurdo conflito de pontos de vista entre o técnico e o espiritual.”(LE CORBUSIER, P 24)

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REFLEXOS DOS CIAM’S Os resultados obtidos nos CIAM’s foram reunidos na “Carta de Atenas”, a qual foi organizada e publicada anonimamente por Le Corbusier, refletindo nela a sua maneira de pensar. Expressando os ideais de Urbanismo Funcionalista propunha uma cidade organizada nas funções: habitar, trabalhar, recrear e circular, as quais seriam as “chaves do urbanismo” regidos pela medida natural do homem na escala das medidas, na escala das distâncias e na escala do tempo determinado pelo trajeto cotidiano do sol que rege a vida humana. Propõe também um espaço homogêneo, sem uma análise de diferenças de classes, eliminando preconceitos e ideologias clássicas impostas na sociedade durante um longo tempo. Le Corbusier pontua o privilégio das funções produtivas na cidade pós-liberal, em que todas as outras funções são sacrificadas para o lucro, então, nessa nova classificação estabelece como ponto de partida para reorganizar a cidade a habitação, pois a nova arquitetura se propõe reconstruir a cidade segundo a exigência dos habitantes. É o local onde as pessoas passam a maior parte do dia apesar de inseparável dos serviços que formam seus complementos imediatos, as “prolongações das moradas”.

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Imagem 53 Le Corbusier

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HABITAR A era do maquinismo, em um ritmo muito veloz, desorganizou as condições de vida do homem. As moradias constituindo os cortiços nos subúrbios tornam-se insalubres, com insuficiência de recursos sanitários, ausência de iluminação solar e uma grande densidade - lugares miseráveis, proliferadores de doença, decadência e revolta. Quanto mais a cidade cresce, mais os elemento vitais a vida humana, as “condições da natureza” - sol, espaço, vegetação - que deveriam estar presentes na habitação são perdidos. Os bairros mais densos são localizados próximos as industrias, sendo invadidos pelos danos advindos da mesma - barulho, poeira, gases - apenas algumas habitações, pertencentes a classe alta são localizadas em zonas favorecidas que provem dessas condições. Mas se a força das coisas diferencia a habitação rica da habitação modesta, não se tem o direito de transgredir regras que deveriam ser sagradas, reservando só para alguns favorecidos da sorte o benefício das condições necessárias para uma vida sadia e ordenada. É urgente e necessário modificar certos usos. É preciso tornar acessível para todos, por meio de uma legislação implacável, uma certa qualidade de bem-estar, independente de qualquer questão de dinheiro. É preciso impedir, para sempre, por uma rigorosa regulamentação urbana, que famílias inteiras sejam privadas de luz, ar e de espaço. (LE CORBUSIER, 1943)

A cidade pós liberal é fundamentada na relação entre o a propriedade particular e o espaço público, que se confundem a todo momento, colocando serviços públicos a serviço do que é de interesse particular. A arquitetura moderna quebraria, justamente, essa lógica ao colocar a cidade pensada a partir da habitação e não dos interesses de proprietários. Porém, como se sabe, esse desejo de uma cidade acessível à todos não foi alcançado. Os subúrbios, um dos grandes males do século, organizados sem regra e sem ligação com a cidade comprometem o crescimento ordenado da mesma: “o subúrbio é um erro urbanístico” (LE CORBUSIER, 1943). Tentarão então criar as cidades-jardins, para retomar as condições da natureza perdidas, porém elas são uma ilusão, com suas imensas dimensões não atinge seu objetivo e causam uma desarticulação do fenômeno urbano. (...) cidade-jardim horizontal. Um dia, estas serão abandonadas porque se reconhecerá sua fórmula obsoleta e suas vantagens ilusórias; serão substituídas por torres, e haverá uma decadência de esplêndidos volumes arquitetônicos bem distantes um dos outros. (LE CORBUSIER, 1944, p. 153)

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Imagem 54 Habitar

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Imagem 55 As condiçþes da Natureza Retomadas


Para Le Corbusier a unidade de morar deveria ser um continente que corresponderia a relações líricas e biológicas do ser humano. Estando ele imóvel ou circulante, cada ambiente deve ter o tamanho e altura apropriado a seus gestos. Sendo complementada por necessidades biológicas como sol, vegetação, luz, ar, silêncio. Somente as condições oferecidas pela morada não são suficientes. Por isso existiriam os “prolongamentos das moradas”. Não são seu local de moradia, mas são vitais a existência do homem moderno. Portanto, o alcance destas extensões devem ser os menores possíveis, de modo que se estes se localizarem muito longe causariam desgaste, fadiga, desencadeando algumas crises sociais. Estes prolongamentos são marcados por serviços em geral, mercados, serviços domésticos, e até mesmo escolas, hospitais. Tal sensibilidade dos distanciamentos dos prolongamentos podem ter consequências diferentes, e são influenciados pela insuficiência de meios de transporte. As casas individuais aumentam essa sensibilidade, pois usam um espaço muito maior do solo distanciando ainda mais os serviços. Mal que os homens modernos presenciam no seu cotidiano, fruto de reformas efetuadas por muitas cidades jardins. Paris, Londres, Moscou e Rio de Janeiro são apenas alguns exemplos deste fenômeno. Le Corbusier via como resolução a este problema de tempo-distância, que tanto afetava a vida social do homem moderno (e ainda afeta), a aglomeração das edificações: cidades jardins verticais, seguindo as propostas da Carta de Atenas. As moradas verticais liberaram uma extensa área do solo, tendo a sua volta um grande espaço de respiro e circundada por uma secunda área arborizada, permitiria aos moradores uma observação do horizonte. Com o solo natural sendo utilizado da melhor maneira possível, a área livre dividirá o seu espaço com carros e pedestres, com caminhos muito bem demarcados. “restabelecimento possível das condições naturais (sol, espaço, vegetação); a separação do pedestre e do automóvel; a criação dos dispositivos qualificados de prolongamento do lar. O todo permite precisamente imaginar, construir e realizar uma organização do equipamento social contemporâneo que se torne expressão harmoniosa de uma civilização da maquina, dotada, enfim após um seculo de gestação, de equipamentos conformes à sua própria natureza e , após um período difícil, reinstale o homem em sua supremacia e dignidade”. (LE CORBUSIER, 1925, p. 31)

Essa nova solução, deverá ordenar o caos gerado pelo crescimento das cidades abrigando um número maior da população em um espaço menor do solo. As melhores localizações no espaço, levando em consideração a topografia, o clima e a insolação favorável, devera ser reservado para os bairros habitacionais; a densidade desses bairros poderá variar, mas deverá ser razoável; as habitações não poderão estar alinhadas ao longo de vias de circulação entre 50 a 100km, as vias

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de velocidades mecânicas; e ainda todas as moradias deverão ser concebidas com um número mínimo de insolação diária.

O problema da moradia, da habitação, prevalece sobre todos. (LE CORBUSIER, 1943)

Para além desta área arborizada e dos caminhos teria uma terceira área, destinada aos serviços, especialmente para os de uso diário, como áreas de lazer e esporte, hortas individuais. Não muito distante também se localizariam serviços de abastecimento domésticos e de hotelaria, assim como os equipamentos de saúde, que para Le Corbusier não se manifestavam apenas como hospitais, mas também como uma medicina preventiva. Portanto seriam locais com espaço para hidroterapias, cultura física. A forma construída elaborada pelo conjunto de prédios não seria necessariamente simétrica, pois obedeceria a ordens mais orgânicas, por exemplo: trajeto do sol, de extrema importância para as moradias, assim como a ventilação.

Nota-se, acima de tudo, que esse volumes construídos, concebidos como verdadeiras ferramentas, oferecem poder, riqueza, beleza e esplendor arquiteturais. Obedecendo tais regras, as zonas de habitação apresentarão um espetáculo de clareza, graça, ordem e elegância. (LE CORBUSIER, 1925, p. 72)

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TRABALHAR

No momento em que a habitação mediante adaptações decisivas encontra sua condição de natureza, o trabalho o faz também, sem por isso provocar o menor incomodo, acarretar a menor perda. Ao contrário. – (LE CORBUSIER, 1944, p.136)

A segunda função elencada é trabalhar, que corresponde as atividades produtivas. Anteriormente, a moradia e a oficina estavam localizadas uma próxima a outra, porém a crescente implantação de indústrias de forma rápida e desordenada ou disposta em local estratégico de guerra, rompeu com essa tradição histórica, transformando a implantação dessas cidades. Ora localizadas dentro dos bairros habitacionais, transformando essas áreas em um caos; Ora localizadas na periferia, fazendo surgir apressadamente cidades suburbanas compostas por cortiços ou impondo aos trabalhadores percorrerem longas distâncias cansativas até o local de trabalho; Tem se então um outro grande mal, o nomadismo da população operária, “nomadismo que coloca a família numa precariedade ameaçadora para seu desenvolvimento natural”. (LE CORBUSIER, 1944, p.148) Além do trabalho desumano, o deslocamento entre a habitação e o trabalho, consome o tempo que poderia ser destinado ao descanso, no entanto, acaba sendo perdido dentro dos transportes coletivos lotados, gerando um cansaço extra. Entramos então em uma contradição: “fazer viver os transportes ou fazer viver bem os usuários dos transportes? É preciso escolher! Umas supõem a redução e outras o aumento do diâmetro das cidades.” (LE CORBUSIER, 1943) Uma nova distribuição deve ser proposta, a distância entre o trabalho e a habitação deve ser reduzida. As industrias devem estar alinhadas ao longo das vias fluviais, rodoviais e férreas e se tornarão naturalmente um centro linear. Na medida em que o centro industrial se torna linear, poderá alinhar a si o seu setor habitacional, mantendo uma proximidade que proteja a moradia dos males da industria e ao mesmo tempo garanta uma distância apropriada para sua locomoção. O artesanato, diferindo dos meios de produção da industria, poderá ocupar locais no interior da cidade, próximas as habitações. Unidades de trabalho englobam inúmeros serviços para o autor, de fábricas oficinas que necessitam de matérias primas a lojas, armazéns, escritórios, assim como o próprio trabalho agrícola para garantir o abastecimento da cidade e das fábricas. Nestes locais seria indispensável em primeira instância garantir a higiene, uma vez que além de assegurar saúde aos próprios trabalhadores, a qualidade e confiabilidades dos produtos produzidos nas fábricas. Sendo essa a primeira medida, a segunda seria a garantia de felicidade no trabalho. Em um ambiente agradável de trabalho, o poder de imaginação e cooperação no meio tornam-se muitos mais fluidos, obtendo-se um melhor desempenho.

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Para garantia deste espaço agradável, seria indispensável a intervenção de arquitetos e paisagistas para produzirem um local arborizado, ventilado e que proporcionasse tais sensações. Em específico para áreas de escritórios, os quais estão conectado com muitos instrumentos tecnológicos e de comunicação e inevitavelmente devem estar nos núcleos das cidades, onde os contatos são facilitados. Para facilitar este contato ele propunha a unidade de escritórios, uma área dentro da cidade, - com edifícios limitados ou não, dependendo de seu tamanho - específica para a alocação destes escritórios, intitulado como o centro de negócios da cidade. Assim como nas unidades de morar, os escritórios, para melhor eficiência, também deviam seguir as ordens orgânicas: insolação, iluminação, ventilação, relação entre espaços, para a maior harmonização do local de trabalho.

Imagem 56 Oficinas, manufaturas e fábricas

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RECREAR As áreas livres eram situadas para atender uma população privilegiada, as praças e jardins estavam próximas as casas burguesas e aos palácios. As poucas áreas livres dispostas na cidade moderna estão mal situadas, sendo assim pouco utilizadas, não tendo influencia sob a vida cotidiana da população; em outros casos em que são limitadas para uma parcela dos habitantes, a sua função principal de prolongamento das moradias se perde, servindo apenas para o embelezamento. As atividades recreativas requerem espaços livres apropriados que devem ser reavaliados, as quais antes estavam relacionadas a uma noção de cidade tradicional onde praças e parques eram pensadas de forma isoladas e agora recebem uma nova proposta dentro da cidade moderna, onde estão integradas a um sistema de zonas verdes. A cidade se torna um parque aparelhado para as várias funções urbanas, dessa forma, permite que o lazer seja perto das casas, criando um lugar coletivo que deverá ser orientado pelo “estatuto do solo”.

Contrariamente ao que ocorre nas cidades-jardins, as superfícies verdes não serão compartimentadas em pequenos elementos de uso privado, mas consagradas ao desenvolvimento das diversas atividades comuns que formam o prolongamento da moradia (LE CORBUSIER, 1943)

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Imagem 57 Prolongamento das Moradias

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CIRCULAR

Na era do automóvel e do caminhão, os leitos de circulação exigem projetos em proporção. A velocidade simples do cavalo é substituída pela velocidade vinte ou trinta vezes maior da mecânica. – (LE CORBUSIER, 1944, p.205)

A circulação, para Le Corbusier foi com o passar do tempo se tornando cada vez mais caótica, pois as cidades sofreram um processo de concentração de pessoas e mercadorias que transitam e se estabelecem, principalmente no centro. A eletricidade e o surgimento do automóvel,intensificaram ainda mais essas relações. Ele propõe uma reelaboração da forma tradicional, simbolizada pela abolição da rua corredor, onde todas as formas de circulação se misturam e na qual é impossível adaptar as novas velocidades mecânicas. Os pedestres andam inseguros, os carros são obrigados a frear frequentemente, vários conflitos são gerados. Portanto, devem ser substituídas por um sistema de percursos separados para pedestres, bicicletas, veículos lentos e velozes, traçado livremente no espaço contínuo da cidade, isto é, a velocidade natural (caminhar do homem) e a velocidade mecânica, por isso seus nomes também deveriam ser: caminho de pedestres e pista de automóveis. Para isso, “é preciso matar a rua-corredor” (LE CORBUSIER, 1930, p.169)

A rua pode conter seu drama humano. Ela pode refulgir, sob o novo brilho das luzes. Ela pode sorrir, graças à sua variegada aparência. É a rua do pedestre milenar; é um resíduo dos séculos; é um órgão inoperante, decaído. A rua nos usa. Ela nos causa aversão! Mas então por que perdura? (LE CORBUSIER, 1930, p.195) A circulação, “uma operação das mais complexas” (LE CORBUSIER, 1943), é uma função essencial e deve ser classificada segundo a sua finalidade sendo elas ruas residenciais, de passeio, de trânsito ou principais. Define-se, assim, suas características específicas: dimensionamento, largura da calçada, tipo de leito, cruzamentos e interligações. As ruas residênciais devem transmitir às moradias a calma e paz necessária, estando os veículos mecânicos nas ruas de trânsito, interligadas com as residênciais em apenas alguns pontos. Cabe às vias principais articular todo o território. As vias destinadas a tráfegos intensos serão organizadas em uma circulação contínua, por meio de mudanças de níveis para assegurar o seu melhor rendimento, e não tendo nenhuma razão para se aproximarem das construções, poderão ser circundadas por cortinas de vegetação.

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Imagem 58 Sistemas de Circulação

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Em locais de intensa utilização, como áreas de lazer e grandes serviços públicos, o passeio do cidadão deveria ser priorizado, fazendo com que a velocidade de automóveis diminua para que se aproxime da do caminhar. O paisagismo e o planejamento do local também ajudariam essa compreensão de espaço: ruas mais largas, muito arborizadas, estabelecimentos no mesmo nível dos passeios, carros e pedestres juntos. Como garantia de mais lugares verdes, apreciáveis e de lazer, Le Corbusier apostava nas edificações verticais, de modo que em um breve cálculo e questão de escolha, uma cidade que utiliza a locomoção vertical, além de diminuir distancias entre áreas de morar e trabalhar horizontalmente, liberariam o solo para a contemplação. Seriam as vantagens das cidades concentradas, que ao contrário das dispersas, economizariam em transportes, em horas para circulação, encanamento, água e manutenção de todos estes equipamentos.

É, portanto, oportuno inventariar o capital-natureza disponível, fazer a contabilidade dos estoques-natureza: a natureza intervém de modo essencial na função de habitar (sol, espaço, vegetação). Está presente, também, na função de trabalhar (vegetação e céu). Desempenha papel importante na função de cultivar o corpo e o espírito (locais e paisagens). Acompanha a circulação (locais e paisagens). (LE CORBUSIER, 1925, p.91) A natureza é vista como estruturadora de espaços, no caso da circulação, ela permite traçar caminhos e olhares, transforma a forma de vivência da cidade, promove surpresas, aparições e outras experiências. Ela também delimita a forma do volume construído. “Um local ou uma paisagem só existe por intermédio do olhar” (LE CORBUSIER, 1925, p.91) (imagem urbanismo 1)

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Imagem 59 As vias de Circulação

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O URBANISMO COMO EQUIPAMENTO

(...) havia ordem, espaço, facilidade de comunicação, ar, sol, relva e árvores. Esses foram os princípios que governaram o projeto e que deviam, a todo custo, ser mantidos. Le Corbusier sabia exatamente o que fazia como urbanista, porquanto sabia o que as linhas significavam quando as traçava. (GARDINER, 1977, p.106)

Na era moderna, as cidades crescem exponencialmente e sem doutrina. O único urbanismo praticado na época, segundo Le Corbusier, é o estético, que busca apenas o embelezamento. Ao contrário disso, Le Corbusier acredita que o urbanismo deveria ser um equipamento para a melhoria das cidades contemporâneas: o aparelhamento da cidade influenciaria diretamente no desenvolvimento econômico do país, quanto melhor sua organização, melhor seu funcionamento. Uma cidade mal aparelhada é triste, pobre e desanimada.

“O urbanismo é uma questão de equipamento, de instrumento. Quem diz instrumento diz bom funcionamento, rendimento, eficiência. O urbanismo não é uma questão estética senão sincronicamente com a questão da organização biológica, da organização social, e da organização financeira. O urbanismo estético custa caro, acarreta imensas despesas, é uma carga terrível para o contribuinte. Ele é tanto mais deslocado, ou inconsciente, na medida em que não socorre a vida na cidade. O verdadeiro urbanismo encontra nas técnicas modernas o meio de contribuir com uma solução para a crise. Nos problemas econômicos que constitui sua essência, ele encontra seu próprio financiamento.”(LE CORBUSIER, 1930, p.153) O urbanismo por muito tempo teria se limitado a um único problema, o da circulação, porém ele tem quatro funções primordiais: proporcionar as moradias as três condições essenciais da natureza - ar puro, sol e espaço; acomodar os locais de trabalho de modo a melhorar as condições humanas; prever locais e espaço culturais para uso coletivo em horas livres, destinadas ao lazer; e por fim estabelecer o contato entre essas diversas funções. Nessas condições todas as funções vitais do homem, regulamentadas pela jornada solar de 24 horas serão consideradas, e o desenvolvimento urbano das cidades será pleno. A formação das cidades contemporâneas deve ser estudada para que se possa ter uma base sobre urbanismo. Em Precisões, Le Corbusier faz esse estudo de forma ilustrada, começando a partir de um primeiro povoado que se instala em torno de um rio. Aos poucos, muralhas vão se formando em torno dessa comunidade em busca de maior segurança.

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Atualmente, não existem mais essas muralhas, mas se o centro das cidades modernas é o mesmo centro das cidades dos tempos romanos, não haveria uma dificuldade de circulação? Uma falta de compatibilidade espacial? O caminho que liga a cidade se tornou uma grande artéria urbana de circulação. Com a revolução industrial e a implementação de ferrovias, o disco da cidade se torna cada vez maior, as estações despejam multidões no coração da cidade. Agora é possível a criação de um “subúrbio habitacional” e um “centro de negócios”, porque as pessoas se deslocam mais facilmente: um sistema radial gere a movimentação dentro das cidades que atendem a um núcleo principal. Em seguida, Le Corbusier desenha cortes das cidades. O primeiro, um corte côncavo, com a periferia arejada e alta, e o centro deprimido e apertado. O segundo, um perfil convexo, que ilustra a fisionomia da cidade contemporânea da era do automóvel: ruas largas ao centro, penetrações dos bairros afastados; ruas menos largas na periferia e em seguida, áreas verdes. É visível que a escala da cidade precisa ser mudada.

“O urbanismo é um fenômeno sintético de composição sobre o solo e acima do solo. O que fez com que muitas soluções abortassem foi o fato de que se pensou no plano e não sinteticamente, em extensão e em elevação, isto é, num solo que se deve sulcar com todos os instrumentos da velocidade e em cubos de construções que vão se encher de homens, em condições ótimas de saúde e alegria.” (LE CORBUSIER, 1930, p. 156) Através da reestruturação racional do coletivo, o urbanismo moderno deve libertar o indivíduo. É preciso, acima de tudo, muita organização ao se repensar as cidades. A nova cidade global que está se formando é o escritório de negócios do mundo além da sede social da grande sociedade anônima de interesses. A causa? O maquinismo. O efeito? Perturbação. O meio? Livrar-se do espírito acadêmico e criar a própria felicidade. E fazer tudo isso a partir do homem, que nos dará dimensões, razão e paixão. Trazer ele como unidade arquitetônica que se estende para a cidade: o homem em coletividade na cidade.

“Urbanizar não é gastar dinheiro, Urbanizar é ganhar dinheiro Urbanizar é fazer dinheiro” (LE CORBUSIER, 1930, 178)

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Imagem 60 ASCORAL

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Em seu livro, Planejamento Urbano, Le Corbusier busca enfrentar a desordem que se encontra a sociedade da “máquina” por meio de uma visão técnica. Busca colocar as cidades dentro das condições de vida atuais, por isso propõe repensar e organizar o centro, as estruturas de circulação, os estabelecimentos humanos. Cria regras para lidar com o domínio construído, porém, “não se trata de ideias feitas”, trata-se de invenções possíveis e aplicáveis hoje. Faz uma crítica vigorosa aqueles que pregam discursos, muitas vezes, cheio de equívocos por desconhecerem as pesquisas que estão sendo realizadas. Porque o hábito determina noção acadêmica de valores, que nos vale, a todos os momentos, esta tremenda desordem resultante da improvisação (ou da recusa de ver). Nada pode ser fixado em nome de usos; é preciso deixar nascerem e se desenvolverem novos organismos que respondam à nova exigência das funções (que podem perfeitamente ser de natureza permanente). O que estamos no direito de solicitar é a saúde -as soluções sadias. Infelizmente, as paixões (para colocar aqui rótulo nobre) - na realidade, a sensilidade e a esterilidade- não hesitam em urdir crimes contra a sociedade (crimes contra o pensamento, contra a técnica, contra o sonho e a poesia). As vítimas são os humildes. Egoísmos abomináveis, interesses vorazes levantam rumores, instigam ambientes, alimentam uma literatura especial, regida por “trovadores” humildemente ligados ao seu trabalho quotidiano no jornal, gentes da pena que não conhecem o assunto sobre o qual escrevem, de forma alguma desejosos de pesquisa ou de informação real, decididos a nada modificar de um ponto de vista que constitui a própria base de seu ganha pão. ( LE CORBUSIER, p126)

Além disso, ele acredita que os técnicos devem trabalhar em conjunto na sociedade mecanizada. Da mesma forma que a arte e a técnica estão ligadas, os técnicos devem buscar novas soluções em conjunto. Para ele, o futuro das cidades estavam nas mãos desses técnicos, por isso, cria em 1942 uma associação de construtores que visam uma renovação arquitetônica, a ASCORAL (Assembleia de Construtores para uma Renovação Arquitetônica). Esse conjunto de técnicos de diferentes disciplinas se propõem a examinar as diversas extensões das cidades e posteriormente, estabelecer uma doutrina coerente que responda às quatro funções: habitar, trabalhar, cultivar o corpo e o espírito, circular. A doutrina se baseia em uma tarefa sem precedentes: ajustar seu domínio construído às realidades de uma civilização mecanizada através da Arquitetura e Urbanismo.

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No entanto, logo soará a hora da construção geral: o arquiteto, que antigamente era o chefe, deve, em seus novos deveres, introduzidos pela civilização da máquina, admitir à sua direita e à sua esquerda a presença de duas fontes de conhecimento: o urbanista e o engenheiro. Arquiteto, urbanista, engenheiro, trilogia que pede um estatuto unitário. ( LE CORBUSIER, p128)


Dessa forma, a ASCORAL funciona como uma manifestação da sociedade que define suas produções e empreedimentos, e traça formas de realizá-los. As pesquisas partem do interior para o exterior, começar de problemas individuais para as soluções coletivas e, por intermédio de seus técnicos, saber que são aplicáveis todas as soluções pensadas. “Trata-se de estabelecer um método geral de estudo, de dar exemplos de sua aplicação e instituir as regras que, desde já, parecem impor-se e oferecer, assim, os elementos concretos de uma doutrina coerente que sairá enriquecida de cada uma de suas aplicações posteriores”. ( LE CORBUSIER, p174)

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OS TRÊS ESTABELECIMENTOS HUMANOS

“Hoje, porém, coloca-se um problema para nós: a terra é mal ocupada pelos homens. Ela é até mesmo despovoada em grande parte. Nela surgiram monstros, são as cidades tentaculares, cânceres de nossos ajuntamentos. Quem cuida delas, quem se preocupa com elas, quem consegue perceber com clareza o que está acontecendo? Ainda não se dispõe de um método a ser adotado, ainda não existem especialistas devidamente formados. Os problemas modernos são de tal modo densos, interdependentes, imbricados, solidários, que sua leitura e tratamento são impossíveis. As soluções dependem uma das outras, entrelaçam-se, são indissociáveis.” (LE CORBUSIER, 1930, p.8)

As conclusões do trabalho realizado pela Ascoral foram reunidos no livro “Os três estabelecimentos humanos”. Com o foco na ocupação do solo e o nos problemas de circulação, determina posições no espaço para que tudo esteja em equilíbrio, usando como instrumento de medida a felicidade. E assim despertar no homem um interesse pelo trabalho e deixei de encarar-lo como castigo para que se tenha prazer em se dedicar a ele.

(...) músculos, cérebro e sentidos são feitos para funcionar e não para uma vida vegetativa. Mas não é só isso: eles são feitos para funcionar em harmonia com toda a natureza e particularmente com este grande regulador de toda a vida que é o sol – (LE CORBUSIER, 1944, p.68) A cada dia um ciclo do homem se completa: casa, trabalho e recuperação ou casa, trabalho e qualificação. O principal elemento responsável pela recuperação é o sono, os outros são assegurados pela natureza: caminhar, correr, entre outras atividades que eram propiciadas ao homem naturalmente e o colocava sempre em estado de recuperação. Porém o trabalho durante modernidade trouxe consigo o sedentarismo, diminuindo as atividades físicas e aumentando os gestos repetitivos. Cabe a arquitetura e ao urbanismo trazer de volta as condições materiais, as quais agem sobre o físico e a moral, para o cotidiano, retomando as condições naturais. O urbanismo é a expressão da vida de uma sociedade, manifestada nas obras do domínio edificado. Ele é, portanto, o espelho de uma civilização. “O que pode uma civilização, o urbanismo o mostrará”. (LE CORBUSIER, 1944, p.76) As condições materiais entre o trabalho do campo e o da indústria se diferem em diversos pontos. No campo o serviço é realizado na maior parte do tempo apenas por uma pessoa, na industria mesmo se o trabalho for individual se tem companhia: “solidão na lavoura, sociabilidade na

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oficina”. (LE CORBUSIER, 1944, p.76). O trabalho industrial é cansativo, repetitivo, regido ao regulamento diário de 24 horas; o do campo apesar de ter condições mais favoráveis, não deixa de ser exaustivo e duro, regido pela lei anual, pela lei das quatro estações e também pela lei diária. Reconhecendo as novas necessidades e as formas da civilização mecanicista, propõem-se que a terra receberá uma nova unidade de exploração agrícola, e a indústria uma forma de centro linear, e nos cruzamentos das grandes estradas as cidades radioconcêntricas de trocas, têm-se os “estabelecimentos humanos”, distribuídos pelos solo, ocupando seus locais específicos. As velocidades da era maquinista alteraram o trabalho na produção agrícola com um efeito positivo, o trabalho duro do camponês pôde ser facilitado com a introdução de máquinas. As novas unidades de exploração agrícola serão compostas por um centro cooperativo, instrumento moderno inseridos nas aldeias, além do clube, do silo, da casa, da escola, da oficina e da fazenda. As indústrias não mais estarão localizadas nas cidades radioconcêntricas, elas estarão alinhadas pelos três tipos de vias de circulação: hidrovia, ferrovia e rodovia, local de passagem de matéria prima e mercadoria. Estarão ainda divididas e alinhadas segundo quatro grupos: as indústrias de base, instaladas no subsolo; as de transformação, alinhadas ao longo das vias; as de acabamento, também alinhadas com as vias de passagem; e as auxiliares, que poderão estar no próprio centro de consumo.

O centro linear segue portanto uma pista inscrita na geografia. De onde parte, para onde vai? No momento pouco importa. Seu princípio é de alinhar e não de dispersar. Questão de principio essencial dos tempos presentes onde os infortunos sociais dobrados pelos riscos da guerra incitaram os mestres da indústria a encarar uma mudança em forma de dispersão: dispersão da indústria nos campo. (LE CORBUSIER, 1944, p.126) O estabelecimento industrial será composto pelas três vias de chegada de matéria-prima, ocupando apenas um dos dois lados das vias para que elas sejam contínuas; pela entrada principal feita pelo lado oposto, adivinda dos setores de habitação que limitam os territórios agrícolas; e pelos edifícios de fabricação, que deverão ser construídos e concebidos como fábrica verde, colocando as “condições da natureza” no ambiente de trabalho. As fábricas transformam-se então, em espaços arquitetônicos e paisagísticos. O trabalho torna-se digno, executado em um ambiente projetado e com a presença da natureza. Não será mais considerado um castigo trabalhar, agora o sentimento de prazer e felicidade naquilo que se faz, prevalecerá.

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Imagem 61 Os trĂŞs estabelecimentos humanos

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Imagem 62 Os trĂŞs estabelecimentos humanos

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O centro industrial linear une-se as cidades radioconcêntricas - transformadas em locais trocas através de cruzamentos das grandes vias de passagem, que conectam os bairros habitacionais. O ciclo mecanicista trouxe à estas cidades grandes congestionamentos, porém não é preciso que elas sejam destruídas, e sim que sejam requalificadas, pois conservam o esplendor das estradas romanas, o centro industrial linear trará novas questões à ela mas ainda sim continuará tendo a sua força na tradição.

Este encontro de duas cidades faz pressagiar a violência nascida de princípios tão diferentes arraigados numa e noutra. Intensidade, este será o produto. - (LE CORBUSIER, 1944, p.127)

Imagem 63 A cidade radioconcêntrica de trocas

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Imagem 64 A relação dos três estabelecimentos

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RESSONÂNCIAS DISSEMINANDO CONCEITOS BRASIL

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DISSEMINANDO CONCEITOS

Uma grande época acaba de começar. Existe um espírito novo. (LE CORBUSIER, 1920) Desde o início da produção de materiais sobre o trabalho de arquitetos, é possível perceber a enorme importância que as viagens têm para os artistas e para a produção de seus trabalhos. Exemplos não faltam ao longo da história, as viagens registradas nos cadernos de Palladio, a viagem de Alberti à Roma, de Goethe à Itália, e assim por diante. Vivenciar a arquitetura e tê-la como uma experiência pessoal parece ser um objetivo da maioria desses artistas, quase como se aquilo que lhes foi transmitido por diversos meios só fizesse sentido no momento em que se tem contato direto com o objeto de estudo. Essa condição não se altera com as inovações no sistema de comunicação. No caso de Le Corbusier, de formação autodidata e heterodoxa, as viagens são significativas, tanto para sua própria formação e absorção de novos conceitos, quanto para a difusão de suas ideias por diversos países. A partir de 1907, suas concepções passam a receber diversas influências com as viagens à Viena e Itália, nesta teve contato com o Mosteiro de Galluzzo em Florença que alterou suas percepções sobre a casa. Em Viena, o contato com Josef Hoffmann lhe introduziu as ideias de Adolf Loos. Em 1908, durante sua viagem à Paris, conhece Auguste Perret, com quem trabalha até 1909; em Munique se relaciona com Theodor Fisher e Peter Behrens, onde lança seu Etude sur L’Art Décoratif en Allemagne. Para além da Europa, a viagem ao Oriente em 1911 foi fundamental para a sua formação. Antes de se estabelecer em Paris em 1916, encerrando essa fase de viagens formativas, entra em contato com as ideias de Tony Garnier em Lion. A partir desse momento, suas viagens mudam de caráter, e têm como objetivo difundir suas ideias pelo mundo, através da realização de palestras e conferências. Acabei descobrindo um grande consolo na profissão de conferencista ambulante improvisado; tenho vivido durante seu exercício momentos agudos de lucidez de cristalização do pensamento. Ante vocês há um auditório numeroso e hostil... há que expor-lhes uns sistemas claros indiscutíveis, até fulminantes. Quando se está no próprio trabalho cotidiano, nada nos obriga a essas cristalizações instantâneas. (LE CORBUSIER, 1978, p.36-37) Depois de cruzar toda a Europa nos anos seguintes, em 1929 Le Corbusier é convidado à proferir conferências na América, trazendo para ele a oportunidade de obter algo mais do que a simples exteriorização de suas ideias. A América do Sul marca de forma profunda as reflexões que vinha desenvolvendo sobre a produção da arquitetura e do urbanismo, afirmando o início de uma

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Imagem 65 Disseminando Conceitos

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nova fase em sua carreira. A revolução arquitetural, anunciada desde Vers une Architecture (1923), estava realizada e as novas técnicas de construção disseminadas. Sua atuação no Brasil e na América Latina como um todo é sem dúvidas uma questão muito importante para os arquitetos, essencialmente por saber que a arquitetura moderna desses países foi profundamente influenciada por sua doutrina. Mas até que ponto de fato conhecemos o significado dessa sua maciça presença, tão constante a ponto de ela nos parecer óbvia? O que nos restará dizer depois de repetirmos uma reduzida coleção de clichês –os cinco pontos, a Carta de Atenas, o jogo sábio das formas sob a luz? O certo é que, ainda hoje, subjaz no traço, na postura, no discurso e no pensar de nossos arquitetos – até os das novas gerações – muito mais dessa contribuição do que nos damos conta ou admitimos, seja de nosso bom ou mau grado. (Ruth Verde Zein - Revista Projeto, n°102 – 1987) Os princípios de Le Corbusier são tão replicados na arquitetura e no urbanismo desses países que são praticamente tomados como algo natural. Suas características são vistas por toda parte através de elementos como pilotis, planta livre, teto-jardim, janelas em fita, espaços verdes, e sistemas viários de fluxo intenso e rápido, normalmente separados do movimento de pedestres. Porém, por mais que essas influências sejam claramente distinguíveis, elas não são plenamente aceitas. Muitos críticos de arquitetura consideram que esses princípios, aplicados sem muito critério, podem vir a gerar um ambiente urbano negativo, que trazem uma ideia de solidão, como em Brasília, uma espécie de “sinfonia branca”. É também na América Latina que suas experiências em escala urbanísticas são aplicadas pela primeira vez. São exemplos os estudos urbanísticos de Buenos Aires (1929) e Rio de Janeiro (1936), além da Cidade Universitária do Rio, juntamente com o plano piloto para Bogotá em 1950. A questão fundamental na obra de Le Corbusier é sua aflição europeia diante da modernidade. É notável o olhar que dedicou à Índia, África mediterrânea e América e as cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires, entre outras. Nessa previsão do artista inaugurava-se um mundo novo: para Le Corbusier as esperanças estavam nessas regiões. (Depoimento de Paulo Mendes da Rocha à Maria Inês de Camargo - Revista Projeto, n°102 – 1987).

As viagens ao Brasil influenciaram não apenas o arquiteto, mas também o artista plástico Le Corbusier. O “tema brasileiro” é reconhecido em diversos croquis que compõem os cadernos de desenho, tanto dos relevos das paisagens paulistas e cariocas quanto dos estudos de tipos humanos, que se fundem às suas impressões. A série de desenhos publicados na Obra Completa (1910) expõe a construção progressiva do diálogo entre os espaços habitados e a natureza, tomando a paisagem do Rio de Janeiro como ideal.

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Imagem 66 Projeto da Cidade Universitรกria no Rio de Janeiro

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Imagem 67 Rio de Janeiro De volta à Europa, as influências sobre Le Corbusier não são somente de cunho ideológico, mas também quanto ao uso de materiais. O concreto, por exemplo, é considerado germânico, e com a ajuda do engenheiro Max du Bois, desenvolveu o sistema da Maison Dom-ino, constituída por pilares e lajes horizontais que possibilitam uma infinidade de plantas e fachadas, exemplo mais notável de sua arquitetura baseada na estrutura. O desenvolvimento da imprensa ilustrada trouxe ao arquiteto a oportunidade de expor ao mundo o seu posicionamento estético, e assim atingir mais pessoas com os seus pensamentos. Dessa forma, em 1927, Le Corbusier expõe seus “cinco pontos da arquitetura moderna”, assim como em 1932, Hitchcock e Philip Johnson, listam os “três princípios” do Estilo Internacional. Esse “novo arquiteto” tem que atuar em um espaço organizado internacionalmente, e ser capaz de propagar e defender suas ideias de maneira firme e concisa, e isso L.C. sabia como fazer. “Neste momento em que ocorre uma interpenetração geral e técnicas científicas internacionais, proponho: uma única casa para todos os países e todos os climas, uma casa que ofereça a respiração exata.” (LE CORBUSIER, 1930, p.74) Juntamente com Paul Dermée e Amédée Ozenfant, que Jeanneret havia conhecido por intermédio de Perret, fundou em 1920 a L’Esprit Nouveau – declarada como a “revista internacional ilustrada da atividade contemporânea” - que até 1925 seria a revista responsável por difundir as teorias deles. A relação com Ozenfant vinha desde 1918, quando haviam publicado o manifesto purista Depois do Cubismo, o qual refletia sobre a influência grega na arte e na arquitetura moderna. As escolas de arte e arquitetura também eram essenciais para a difusão das novas ideias, principalmente as escolas europeias, que acolhiam visões por vezes antagônicas. No Rio de Janeiro, no ensino da Escola Nacional de Belas Artes (fundada por franceses no início do séc. XIX) é instaurado o modernismo em 1930, por Lúcio Costa, influenciado pelas conferências de L.C. em 1929.

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Alguns dos fatos mais relevantes para a exposição de suas teorias foram o quinto Congresso Internacional da Arquitetura Moderna, realizado em Paris em 1937, tendo como tema “habitação e lazer”, e, em 1943, a publicação da Carta de Atenas. O crítico Sigfried Giedion, levando em conta principalmente as diretrizes de Le Corbusier e Walter Gropius, estabeleceu o “manual do movimento moderno” em 1941, com a publicação de Espaço, tempo e arquitetura. Nenhum outro arquiteto em Paris havia conseguido provocar tantas controvérsias com suas inovações quanto Le Corbusier, que em alguns pontos, opunha-se até ao seu mentor, Perret. Talvez por isso, suas ressonâncias tenham sido tão profundas. Uma das obras corbusianas que mais gerou derivações foi L’Unité d’Habitation de Marseille, cujos elementos foram dimensionados utilizando o modulor. Os arquitetos do Great London Council estudaram a obra em cada detalhe, e os blocos de apartamentos em Roehampton (1959) pretendiam ser reduções dessa tipologia; é possível encontrar variações da Unité também em Moscou e em Berlim. Imagem 68 Casa Dom-ino

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Há também aqueles exemplos que são uma fusão entre os elementos da Unité e da Cidade de Três Milhões de Habitantes, com ruas elevadas que se estendem de edifício a edifício, como o Conjunto Habitacional Park Hill (1953) em Sheffield, de Lewis Womersley, e do primeiro núcleo do bairro de Le Mirail (1962), em Tolouse, de George Candilis, Alexis Josic e Shadrach Woods. Por mais distantes que sejam do modelo original, esses exemplos reforçavam o fato de que Le Corbusier era a inspiração dominante quando se tratava dos complexos habitacionais em altura. Um outro tipo corbusianismo se manifestou independente de uma obra em específico. As texturas dos materiais utilizadas, por exemplo, na Unité d’Habitation (marcações da madeira das formas para o concreto) e La Tourette (revelando o granulado grosseiro dos acabamentos), se tornaram símbolos da modernidade após a Segunda Guerra Mundial. O chamado “novo brutalismo” britânico explorou o uso de materiais industriais e essa ausência de acabamentos e continuou a explorar essas técnicas. Sua influência vai além da Europa e da América. Junzo Sakakura, formado na École des Beaux-Arts, trabalhou como desenhista no escritório de Le Corbusier, e coube a ele formular uma arquitetura que unisse os preceitos modernistas aos elementos tradicionais da cultura japonesa das casas de chá e dos jardins de Kyoto. Os planos urbanísticos de Obus (1931) – descrito como o projeto civilizador da França em direção à África -, Chandirgarh (1951) e as inegáveis produções corbusianas em Casablanca e Tel Aviv, demonstram que as fronteiras foram diluídas através das propostas visionárias do arquiteto.

Conforme a situação, Le Corbusier sabia como se renovar por completo ou reelaborar soluções de trabalhos anteriores e, quaisquer que fossem, os tipos, temas e texturas que inventava inevitavelmente recebiam grande atenção, findando por frutificar e se disseminar. (COHEN, Jean Louis. 1889. p.326)

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Imagem 69 Unidade de Habitação de Marseille


BRASIL

A partir de 1929, as teorias de Corbusier em torno da “Civilização Maquinista” passam a ser mais amplamente difundidas no Brasil, e vêm dar corpo aos debates entre a tradição e a modernidade. É nesse universo conceitual em divergência entre a herança cultural e os valores universais dessa sociedade industrial, que alguns arquitetos e estudantes brasileiros entram em contato com as suas ideias. A série de conferências que realiza em São Paulo (1929) e Rio de Janeiro (1929 e 1936) se tornam peças centrais nas discussões de arquitetura e urbanismo, sendo tidas como referências obrigatórias. Cristalizando os processos de ruptura que já estavam se iniciando, a figura do arquiteto francês surge como condutora do nascimento de uma arquitetura moderna que reivindica sua “brasilidade”. Ao se confundir com mais de quarenta anos de relações de Le Corbusier com o Brasil, esse novo pensar e fazer arquitetura assimila suas ideias, porém, a incorporação do conjunto uniforme e homogêneo das propostas muitas vezes não levava em conta as diferenças e especificidades do próprio país. Antes de serem modernas, suas ideias tinham um caráter ideológico de construção de cidades diferentes, melhores do que aquelas que já existiam. Desde sua colonização o Brasil é assimilado a um paraíso tropical, onde a busca de uma utopia seria possível. Em um mundo inteiramente novo seria factível criar uma sociedade ideal, habitando cidades ideais, essa noção de modernização proposta por Le Corbusier reforça esse projeto utópico. Esse desejo de construir uma nova sociedade vem acompanhado da denúncia sobre a necessidade de reformas, e do papel da arquitetura como a “manifestação da dignidade do homem”. Assim, a arquitetura e o urbanismo são instrumentos de um projeto social. Nesse sentido, o Brasil, como uma nação “livre de compromissos com o passado”, garante às ideias renovadoras de Le Corbusier a possibilidade máxima de floração. De forma concreta, as inovações no Brasil passam a significar a possibilidade de realizar sua proposta de Uma Cidade Contemporânea de Três Milhões de Habitantes, a nova capital do país, Planaltina.

O urbanismo deve se projetar para o futuro, em direção a soluções inteiramente novas – construções que são sistemas sociais, econômicos, inclusive políticos, trazendo uma nova harmonia à sociedade. (RODRIGUES, Cecília; CAMPOS, Margareth; VERIANO, Romão; CALDEIRA, Vasco. 1987 p.13).

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Imagem 70 O plano do Rio de Janeiro

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Nas duas conferências realizadas em São Paulo, uma sobre arquitetura e outra sobre urbanismo, o arquiteto discorre sobre as consequências do acelerado processo de crescimento da cidade e do papel do Estado como regulador da urbanização. Temas que também serão desenvolvidos durante as conferências do Rio de Janeiro, enfocando em ambos os casos os diversos problemas gerados por esse processo. Durante essa temporada, desenvolve soluções urbanísticas para estas e outras cidades, como Montevidéu, que dão origem ao plano de Argel. Essas soluções preconizam a valorização do solo através da construção de autoestradas elevadas. Ao mesmo tempo em que a América se impregnava das propostas de Le Corbusier, o estimulava nas suas próprias formulações. Ainda saindo do Rio de Janeiro, escreveria o livro Précisions sur un état présent de l’architecture et de l’urbanisme, onde condensa suas experiências, observações e conferências dessa viagem. Com a publicação de Précisions, em 1930, e dos croquis para Buenos Aires, Montevidéu, Rio de Janeiro e São Paulo, sua produção passa a dar enfoque às novas preocupações com as grandes realizações da arquitetura, do urbanismo e do equipamento da cidade industrial. A sistematização das soluções estudadas para essas cidades e para as demais reflexões a respeito de outros planos urbanos estão reunidas no livro La Ville Radieuse (1935), como princípios da doutrina urbanística proposta por ele. Le Corbusier planejou uma cidade considerada utópica, como a Ville Redieuse, que poderia ser executada pelos meios técnicos da época mas não pelos meios políticos e administrativos. Decorria sobre uma cidade linear, na forma do corpo humano (cabeça, coluna, membros), com habitações em altura, abrindo maiores espaços livres no solo possibilitando maiores espações verdes. Esta vila nunca chegou a ser construída, mas seus princípios culminaram no projeto das primeiras unité d’habitation assim como nos principais pontos da carta de atenas. Anteriormente, a idealização das cidades ocorria através de uma abstração total do contexto, tanto social/cultural e político quanto topográfico, e as propostas de renovação urbana ou de criação de novas cidades eram restritas ou possuíam um caráter de embelezamento. O “mundo novo” introduz novas questões, novas temáticas, com as quais o arquiteto tem que lidar. Na América do Sul, advém a “descoberta” de um outro lado das contingências no centro das quais são estabelecidos os planos. Contingências que já não são apenas os recursos universais oferecidos pelas técnicas modernas; contingências que, literalmente, ganham corpo: as regiões, as raças, as culturas, as topografias, os climas. (RODRIGUES, Cecília; CAMPOS, Margareth; VERIANO, Romão; CALDEIRA, Vasco. 1987, p.18). No que tange essas novas questões que a América Latina apresenta, é interessante salientar que a partir da paisagem do Rio de Janeiro, Le Corbusier reconstrói seu ideal urbano como o de uma “cidade radiosamente verde”. Porém, essa atenção voltada à natureza se difere daquela

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romântica de Rousseau, e também das ideias de cidade jardim de Howard, é uma natureza com a função de reforçar o estatuto urbano. Mesmo que a arquitetura moderna brasileira tivesse outras fontes de influências como Gropius e Mies Van der Rohe, o grupo de arquitetos que faziam parte da vanguarda intelectual carioca, reunidos em torno de Lúcio Costa, encontrava maior identificação com os princípios e ideais de Le Corbusier, identificação dada principalmente pela forma que seu discurso tinha adquirido ao longo dos anos. Discurso esse que, principalmente após a Revolução de 1930, ganha mais força por pregar um novo projeto social através da renovação da arquitetura e do urbanismo. Lúcio Costa surge nesse contexto, como o personagem mais relevante, por compreender que a arquitetura do francês possuía um sentido muito mais amplo do que uma arquitetura limitada a si mesma, e também por sentir a necessidade de dar às tendências de renovações que começavam a surgir, um sentido mais profundo. Unindo as teorias corbusianas às novas condições sociais, que se impunham no nosso país, inerentes à era industrial, era possível vislumbrar reformas e um futuro promissor. Dessa forma, a arquitetura assume o papel de transformador social, noção essencial nesse momento de “construção nacional”. Nessa conjuntura, se concretizam como símbolos modernizadores: Brasília e o Ministério da Educação do Rio de Janeiro. Esse protagonismo fica mais evidente a partir de 1939 com o Pavilhão do Brasil, projetado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, na Feira Mundial de Nova Iorque, onde a pluralidade das expressões modernas do Brasil começa a ser reconhecida pela crítica internacional, assim, se sobressai a arquitetura original em desenvolvimento. Em 1943, o MOMA (Museum of Modern Art of New York) amplia essa exteriorização da produção brasileira com a exposição Brazil Builds. As relações de L. C. com os arquitetos brasileiros, tanto ideológicas quanto práticas, persistiram durante muitos anos, porém, o prestígio que estes possuíam junto ao governo brasileiro eram negados à Le Corbusier, na França. É somente durante o período do pós-guerra, que o arquiteto francês estabelece uma relação com o governo, que começa em 1945 com o contrato para a realização da Unidade de habitação de Marselha. Um dos exemplos dessa interação do governo brasileiro com a arquitetura em desenvolvimento foi no ano de 1934, quando Getúlio Vargas cria o Ministério da Educação e Saúde e nomeia o Ministro Gustavo Capanema. No ano seguinte é convocado um concurso para a construção de uma sede para o Ministério. Depois que o primeiro projeto do concurso foi recusado pelo ministro, Lúcio Costa foi convocado para realizar um novo projeto. O grupo reunido em torno de Costa contava com nomes como Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e Oscar Niemeyer. A elaboração do projeto contou com a participação de Le Corbusier como consultor, que viu a oportunidade de expressar sua arquitetura. O projeto final incorporou muitos de seus preceitos racionais, com o uso de pilotis liberando o térreo para a integração dos espaços internos e externos, uso de

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brises-soleil, cortinas de vidro, planta livre, terraço jardim e uso de ventilação e iluminação naturais. O vínculo entre Lúcio e Le Corbusier reaparece em 1953 com a construção da Casa do Brasil na Cidade Universitária de Paris, marcando o fim de uma fase de quase trinta anos com o Brasil, repleta de projetos negados. Com anteprojeto de Lúcio Costa, a obra apresentou diversos problemas. Algumas divergências de concepção de projeto ficaram evidentes durante os anos de construção da Casa do Brasil, e Le Corbusier tratava algumas dessas divergências com certa ironia, como se quisesse lembrar ao “discípulo” os fundamentos do “mestre”. Inaugurado em 1959, a concepção inicial do edifício retomava a tipologia do Pavilhão Suíço, na mesma cidade universitária, e portanto a arquitetura purista do arquiteto francês, porém ao introduzir os dois corpos ao andar térreo, lajes e paredes com diferentes inclinações enquadradas por marquises curvilíneas, Lúcio Costa procurava mostrar o caminho original percorrido pelos arquitetos modernos brasileiros, após uma fase inicial de formação corbusiana. O anteprojeto que fiz – quando participava da dita comissão dos cinco, na Unesco – serviu apenas de base para a elaboração do projeto definitivo... o novo projeto, assim como a direção do canteiro, ficou a cargo do famoso atelier da Rue de sèvres, nº 35, e seu autor e responsável técnico e artístico foi o próprio Le corbusier, com a colaboração inicial de andré Wogenscky, então chefe do atelier, de Maisonnier e de Michel, ficando o canteiro, muito a propósito, confiado a Gardien. (LUCIO COSTA, 1953 p. 290). Le Corbusier modifica totalmente essa proposta, retomando suas próprias concepções: as janelas corridas são substituídas pelos balcões brise-soleil, utilizados na Unidade de Habitação de Marselha; o esquema estrutural é radicalmente modificado perdendo sua leveza inicial para se impor numa vista geral do edifício; a fachada posterior recebe uma modulação definida na própria forma de concreto. A aparência brutalista que o projeto final adquiriu faz com que Lúcio Costa não se reconheça mais na obra e abra mão de sua autoria. Simultaneamente à construção da Casa do Brasil, L.C. começa a ser procurado no sentido de ligar seu nome ao projeto de uma nova capital federal, retomando assim o início de suas perspectivas em relação ao Brasil, a Cidade de Três Milhões de Habitantes ou Planaltina, agora Brasília. A recomendação de Le Corbusier como consultor de projeto teria sido feita pela Comissão para a Nova Capital, com membros como Reidy e Burle Marx – que já haviam tido contato com o arquiteto francês durante a elaboração do Ministério da Educação. Porém, alguns arquitetos brasileiros, convictos da maturidade que a arquitetura nacional havia alcançado, consideravam inaceitável a “interferência externa” em um projeto dessa magnitude, fazendo com que L. C. fosse excluído do projeto.

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Imagem 71 Planta e Vista da Maison du BrĂŠsiil


Em 1956, Juscelino Kubitschek apressa as medidas para a construção de Brasília. Com Oscar Niemeyer como Diretor do Departamento de Arquitetura da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (NOVACAP), organiza-se um concurso nacional para a elaboração do projeto, cujo prêmio é conferido a Lúcio Costa. Ou seja, apesar da anulação da participação de L.C., o fato de o plano estar nas mãos de Oscar Niemeyer e Lucio Costa era uma garantia de que os princípios teóricos corbusianos seriam respeitados. Nesse momento, a importância de Le Corbusier no cenário arquitetônico brasileiro era mais evidente do que nunca, uma vez que, em praticamente todos os projetos apresentados no concurso, as concepções urbanísticas e os princípios da Carta de Atenas apareciam como norteadores do projeto, sendo o principal modelo para uma “cidade do futuro”. Nos dois últimos anos de sua vida, L.C. presencia o fracasso de mais três de suas iniciativas. O projeto para o museu de Brasília é protelado devido à dificuldades financeiras, a Casa da Cultura da França também não tem continuidade e o governo francês não vê validade no projeto da Embaixada, demonstrando assim a enorme incompreensão de seu trabalho e seus problemas com o Estado como cliente. É com esse “vazio de realizações”, que o arquiteto finaliza sua carreira no Brasil. O que pode ser considerado o resumo da conturbada relação de Le Corbusier com o Brasil é uma carta a Lucio Costa, que consta nos arquivos de sua fundação. Em sua última correspondência com o país, considerada uma declaração de amizade à Costa e ao Brasil, é também um depoimento do desejo de ver realizado seu projeto de Embaixada Francesa para Brasília, e no final resigna-se a parabenizar seus melhores alunos, que souberam tirar proveito de suas ideias e que poderiam levar adiante seus ideais.

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Imagem 72 BrasĂ­lia


CONCLUSÃO

Penso que os aspectos ideológicos e sensoriais da obra dele são de fato cativantes, o humanismo com que desenvolve suas plantas, a maneira como ele começa a pensar qualquer espaço como se ele fosse inteiramente novo. Mas mesmo naquela época, me preocupava, me causava certa angústia o autoritarismo de Le Corbusier. A radicalidade dele me fascinava por um lado e me preocupava por outro. Se bem que nesse tempo eu também andasse à procura de formas sociais, salvadoras, que sempre acabam desembocando numa figura máxima de Estado, protetor e poderoso, o que me daria uma tendência para compreender e aceitar esse autoritarismo. (Entrevista de Joaquim Guedes a Ruth Verde Zein - Revista Projeto, n°102 – 1987). Le Corbusier, com sua obra, deixa um legado para a humanidade. Seu trabalho é um ponto de virada na história da arquitetura, urbanismo e artes plásticas. Ele desenvolve meios e equipamentos para a produção de obras que permanece até os dias de hoje. É possível ver como as viagens, conferências e cidades que ele passou tiveram repercussão no desenvolver de seus projetos. Os resultados da pesquisa arquitetônica moderna foram em parte aceitos e em parte rejeitados pela sociedade contemporânea. Em Paris, por exemplo, não foi eliminado os mecanismos da cidade burguesa que ainda são predominantes, porém, muitas vezes, buscou se realizar de maneira concreta outro tipo de cidade, experimentando as propostas da pesquisa teórica buscando melhorá-la gradativamente. Sobretudo, a união de seus principais conceitos pode ser encontrada de forma concretizada na Villa Savoye. Ela é a exacerbação de princípios que os arquitetos buscavam para uma solução única de moradia. Os cinco pontos da nova arquitetura permitiram que as novas casas projetadas fossem realmente ‘uma casa para ser habitada’. A villa se torna um manifesto na forma de viver no mundo que articula as funções e se apropria do conceito de promenade architecturale . A atitude de repensar cada elemento da casa da obra à um caráter atual para os tempos de hoje. Buscando o reajuste de conceitos morais e sociais, cria um padrão que as pessoas do “tipo certo” devem se enquadrar. A pesquisa dos problemas do ambiente construído faz parte da cultura científica, indispensável ao desenvolvimento da sociedade moderna. Entretanto, assim como os demais arquitetos modernos, suas técnicas acabaram por desconsiderar alguns pontos da problemática urbana. A profundidade da cidade não é abordada como um todo, podendo caracterizar o planejamento moderno um tanto quanto superficial. O planejamento racional desenvolvido pelo arquiteto ignora o contexto em que o projeto será inserido. Admite o ponto de partida um espaço inteiramente novo.

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Imagem 73 Le Corbusier


Um dos principais motivos para que seus estudos não tenham encontrado efetividade total é que nenhum regime político soube renunciar os instrumentos de privilégio em detrimento dos novos conceitos de cidade. Para que eles fossem aplicados, todas as classes sociais deveriam estar em equilíbrio, já que compartilhariam serviços e circulação. O arquiteto, por sua vez, acaba ignorando essas discussões para dar prosseguimento ao seu trabalho. Por esses motivos, os planos elaborados por L.C. não podem ser considerados utópicos, eles não ocorreram porque o sistema político vigente não permite. A Arquitetura Moderna nasceu com um programa para superar as discriminações sociais da cidade pós liberal, e para dar a todos os cidadãos os benefícios de um ambiente cientificamente estudado. As propostas da arquitetura moderna foram aceitas em parte e com atraso, pelas resistências dos interesses e das instituições fundadas sobre o engenho da cidade pós liberal. [...] Mas, entrementes, a cidade regularizada- pos liberal ou moderna- não mais está disponível para todos, e a maioria da população mundial se aglomera, ao contrário, na cidade irregular, que reproduz- em escala muito maior, os estabelecimentos “liberais” do primeiro período industrial. (Benévolo, 1988: p725).

O maior exemplo disso é Brasília, a cidade construída. Nada havia naquele local, não havia um contexto a ser trabalhado. Mas, ao mesmo tempo, ele acaba por não pensar nas pessoas que viveriam lá e as relações delas com a cidade. Muitos críticos de arquitetura consideram que esses princípios, aplicados sem muito critério, podem vir a gerar um ambiente urbano negativo, que trazem uma ideia de solidão, como em Brasília, uma espécie de “sinfonia branca”. Além disso, outra questão relevante é no fato de que os planos reguladores distinguiram as zonas a fim de reduzir os inconvenientes provindos da mistura das funções na cidade tradicional. Porém a primazia da moradia, o desenvolvimento das zonas de recreação até formar um espaço verde unitário, a separação da rede de ruas para pedestres da rede para tráfego de carros, preconizada por Le Corbusier e outros arquitetos modernos, tenta ser implementada sem mudar, de fato, a hegemonia das funções terciárias (produção) que produz: o aumento da densidade da periferia para o centro, o sacrifício da residência, o congestionamento do tráfego etc. Ou seja, sem essa reestruturação mais profunda da sociedade, a lógica de organização racionalizada proposta pela Arquitetura Moderna está findada ao fracasso. Em grande parte dos casos em que a Arquitetura moderna foi construída, existe a formação de uma cidade regular, ao lado regular. Isso obriga a considerar de outra maneira o desenvolvimento da arquitetura moderna, como a teoria de tábula rasa que Otília Arantes (1998) discorre. Sobretudo, por mais que a arquitetura de Le Corbusier não tenha perdurado, foi a partir dela que outros

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pensamentos surgiram para pensar novas soluções. Esse ambiente propício para a formação de novas sensibilidades é a razão da mudança na maneira de pensar. O pensamento pós-moderno vem com o intuito de ruptura brutal com a ideia de que o planejamento e desenvolvimento urbano devem concentrar-se em planos de larga escala sustentados por uma arquitetura discreta. O planejamento urbano modernista trabalha quase sempre com o zoneamento monofuncional, resultando na circulação de pessoas entre zonas por meio de artérias artificiais. O novo pensamento trás o conceito de tecido urbano fragmentado, com uma colagem de usos correntes e efêmeros, buscando descobrir maneiras de exprimir a estética da diversidade. Enquanto os modernistas veem o espaço como algo a ser moldado para os propósitos sociais e, portanto, sempre subserviente à construção de um projeto social, os pós-modernistas o veem como coisa independente e autônoma a ser moldada segundo objetivos e princípios estéticos que não têm necessariamente nenhuma relação com algum objetivo social abrangente, salvo, talvez, a consecução da intemporalidade e da beleza ‘desinteressada’ como fins em si mesmas. (HARVEY, 1992, P.69)

As experiências pós-modernas nos permitem perceber a arquitetura de Le Corbusier como uma ilusão. Em busca de trazer tudo para a escala do homem, perde a essência. Pensa o homem apenas como medida e não como humano.

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CRONOLOGIA 1887 - 5/10: nascimento de Charles Edouard Jeanneret-Gris, em La Chaux-de-Fonds, Suíça. 1900 - Entrada na Escola de Arte de La Chaux-de-Fonds. 1902 – Diploma de honra da Exposição Internacional de Artes Decorativas de Turim, Itália. 1904 – Uma casa e seu equipamento interior, 1904 – 1906, e cinco outras de 1908 a 1916. 1907 – Viagem a Budapeste e a Viena, onde, durante seis meses, trabalha no ateliê de Joseh Hofmann. 1908 – Começa a trabalhar com Auguste Perret. 1910 – Enviado pela escola de La Chaux-de-Fonds vai estudar na Alemanha evolução da arte decorativa. Reside em Munique e frequenta durante alguns meses, em Berlim, o ateliê de Peter Behrens, onde conhece Mies van der Rohe. 1912 – Publicação do livro Estudo do Movimento da Arte Decorativa na Alemanha. 1913 – Professor da arte arquitetural em La Chaux-de-Fonds, segundo as normas de uma nova associação fundada por L’Eplattenier. Numa entrevista americana descobre a obra de Frank Lloyd Wright. 1914 – Maison Dom-Ino, 1914-1915. 1915 – Ponte Butin. Genebra. 1916 – Residência à beira-mar. Projeto para Paul Poiret.

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1918 – Perda da visão do olho esquerdo devido a deslocamento de retina. Realiza, com Ozenfant, a exposição “O Purismo”. Ainda com Ozenfant publica Depois do Cubismo. 1919 – Fundação de L’Esprit Nouveau. Em Troyes, casas em cimento líquido e sólido. 1920 – Maison Citrohan. Primeiros projetos. Nessa ocasião adota o pseudônimo de Le Corbusier, tirado do nome de um de seus antepassados. 1922 – Projeto para uma Cidade de Três Milhões de Habitantes. Centro comercial, bairro residencial, edifícios, casa. Aparecimento dos pilotis. Casa do Artista. Casas em série para artesãos. Projeto de residência em Auteuil. Casa para fim de semana em Rambouille. Começa sua colaboração com o primo Pierre Jeanneret e instala um ateliê na rue de Sèvres, 35. 1923 – Princípio da amizade com Walter Gropius. Residência à margem do lago Léman para seus pais. Duas propriedades particulares em Auteuil. Sugere a policromia arquitetural. Realização do teto jardim e de exposição “Efort Moderne”. Publicação de Vers une Architecture, agrupando artigos publicados em L’Esprit Nouveau. 1924 – Maisons Lipchitz-Miestschaninoff, em Boulogne-sur-Seine. 1925 – Loteamento de Audincourt. Cidade universitária para estudantes. Publica Urbanisme , Art Décoratif d’Aujourd’hui e La Peinture Moderne, este último em colaboração com Ozenfant. 1927 – Princípio da colaboração com Charlotte Perriand para equipamento mobiliário. Publicação dos “Cinco Pontos”. 1928 – Pavilhão Nestlé. Residência em Cartago, Tunísia. Palácio Centrosoyuz, em Moscou. Princípio da respiração exata e das paredes neutralizantes. Publicação do livro Une Maison – un Palais. 1929 – Maison Savoye. Viagem à América do Sul, com estudo de urbanismo para São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires.

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1930 – Primeiros desenhos para a Cidade Radiosa (Ville Radieuse). Publica Précisions sur un Etait Présent de l’Architecture et de l’Urbanisme, e colabora na revista Plans, de 1930 até 1933. Naturaliza-se cidadão francês. 1931 – Museu de Arte Contemporânea, em Paris, Museu do Século XX, museu sem fachadas com crescimento limitado. 1932 – Plano Marcia para a urbanização de Barcelona, Espanha. Aplicação do princípio da respiração exata. Primeiro mural fotográfico no Pavilhão Suíço da Cidade Universitária de Paris. Publica Croisade – Le Crépuscule des Académies. 1933 – Edifício na Porte Molitor. Planos de urbanismo em Genebra e de melhorias na margem esquerda do rio Escalda, Bélgica. Urbanização de Argel. 1934 – Cidade do cooperativismo, reorganização agrária, estudos com o agricultor Norbert Bezard. Construção do Bastion Kellermam, unidade modelo de habitação. Urbanização da cidade de Nemours. Viagem à África do Norte. 1935 – Maquete parcial da Cidade Radiosa. Projeto de um plano regulador para os museus de Paris. Na Exposição Internacional de Bruxelas, participa com os projetos de apartamento para um rapaz e casa de campo perto de Paris. Viagem aos Estados Unidos. 1936 – No Rio de Janeiro, participa da elaboração dos planos do Ministério da Educação e Saúde, realizado por Costa, Niemeyer, Reidy, Leão, Moreira e Vasconcelos. Primeira aplicação do brise-soleil. No Rio de Janeiro, participa da elaboração da Cidade Universitária, com Lucio Costa e Oscar Niemeyer. 1937 – Na Exposição Internacional de Paris apresenta projetos para Vincennes-Kellermann e Centro Contemporâneo de Estética. Quinto Congresso do CIAM. 1938 – Urbanização da Ponte de Saint-Cloude. Projeto de um monumento em Valliant-Couturie. Publica Des Canons, des munitions? Merci! Des logis S.V.P.

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1939 – Pavilhão francês para São Francisco ou Liege, Bélgica. Projeta o museu com o crescimento ilimitado para a cidade de Philippeville, África do norte. Publica Le lyrisme des temps nouveaux et l’urbanisme. Terceiro volume das Obras Completas. 1940 – Mural exterior do atelier Des Jeunesses. Com Jean Prouvé Gouaches, faz as escolas volantes para refugiados. 1942 – Publica La Maison des Hommes. Plano diretor da Argélia. 1943 – Começo das pesquisas para o modulor: grades de proporções estabelecidas juntamente com Hannieng e Elisa Maillard. Funda a Assembleia dos Construtores para uma renovação arquitetural. Publica a Carta de Atenas. Publica Entretien avec les etudiants de ecoles d’Architecture. 1944 – Publica Les Trois Etablissements Humains. Projeta unidade de habitação transitória. 1945 – Urbanização de Saint-Gaudens e La Rochelle-Pallice. Primeiro projeto da unidade de habitação de tamanho médio em Marselha. Exposição de pinturas e esculturas em Nova York. 1946 – Projeto e execução para habitações em Marselha, França, tendo Wogenscky como adjunto e Bodiansky como engenheiro. Publica Manièri de penser l’urbanisme e Propos d’urbanisme. 1947 – Palácio da ONU em Nova York. Projeto de urbanização de Bogotá e Marselha. Exposição em Amsterdam e sexto congresso do CIAM. Unité d’Habitation, Marsellha. 1948 – Projeto, juntamente com Edouard Trouin, para Saint-Baume. Mural no pavilhão suíço da Cidade Universitária de Paris. Tapeçarias em Aubusson. Conferências em Bogotá, Paris e Milão. Publica New world of space. 1949 – Construção de residência na Argentina. Publica Le modulor 1948.

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1950 – Plano de urbanismo para Bogotá, em colaboração com José Luis Sert e Paul Lester Wiener. Projeto Porte Maillot 50, em Paris. Publica Poésies sur alger e L’Unité d’Habitation de Marseille. 1951 – Plano de urbanismo de Marselha e Chandigarh, capital do Punjab. Nesta, elabora projetos para o Supremo Tribunal e Palácio do Governo. 1953 – Realização da Unidade de Habitação de Nantes-Rezé. Termino do edifício do Capitólio em Chandigarh. Estudos para o convento Sainte-Marie de La Tourette, em Lyon, França. Exposição no Museu de Arte Moderna de Paris e na galeria Samleren, de Estocolmo. Estudos sobre problemas de habitação humana. Casa do Brasil, Cidade Universitária de Paris. Quinto volume das Obras Completas. 1954 – Encomenda do Centro Cultural de Tóquio em colaboração com Maekawa e Sakakura. Projeto para o Palácio dos Tecelões em Ahmedabad. Publica Une Petite Maison. 1955 – Nomeado Conselheiro Técnico para a represa de Bhakra. Conferências em Berlim. Publica Le modulor 2 e Le poème de l’angle droit. 1956 - Projetos para unidades habitacionais em Meaux. Em Largnih, loteamento de casas rurais e metálicas, juntamente com Jean Prouvé. Estudos para o estádio esportivo de Bagdá, em colaboração com Georges Présenté. Tapeçaria para o Teatro Nacional de Tóquio. Unidade habitacional em Berlim. 1957 – Morte de sua mulher. Unidade habitacional em Briey-en-Forêt. Casa do Brasil na Cidade Universitária de Paris, com primeiro projeto de Lucio Costa e projeto de execução do atelier Le Corbusier, em colaboração com Lucio Costa e decoração de Charlotte Perriand. Sexto volume das Obras Completas. Publica Ronchamp. 1958 – Projeto para as comportas de Kembs-Niffer. Projeto de urbanismo para Berlim. Publica Le poème electronique Le Corbusier.

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1959 – Inauguração do Palácio da Assembleia de Chandigarh. Inauguração do museu de Tóquio. Termino do Pavilhão do Brasil na Cidade Universitária de Paris. Termino do convento Sainte-Marie de La Tourette. 1960 – 15/12: Morte de sua mãe. Inauguração do Museu do Conhecimento de Chandigarh. Segundo projeto para a casa dos jovens em Firminy. 1961 – Projeto do Centro de Artes Visuais, em Cambridge, Estados Unidos, cuja execução é confiada a José Luis Sert e seus associados. Projeto para um centro de cultura em Orsay – Paris. Concurso internacional de urbanismo em Berlim. Projeto para o centro de cálculos eletrônicos Olivette, em Milão, Itália. 1962 – Projeto para o Pavilhão da Exposição em Estocolmo. Portal em aço esmaltado para o Palácio da Assembleia em Chandigarh. 1963 – Nomeado Grande Oficial da Ordem da Legião de Honra da França. Projeto para uma igreja em Firminy-Vert e um centro internacional de arte. 1964 - Projeto para a Embaixada da França em Brasília. Pavilhão de Exposições em Zurique. Projetos para o Palácio do Congresso em Estrasburgo, França, e o novo hospital de Veneza, Itália. 1965 – Sétimo e último volume das Obras Completas. Pedra inaugural da unidade de habitação em Firminy. 27/09 – Morte de Le Corbusier em Cap Martin.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 1. Le Corbusier in <http://www.mckinleyburkart.com/blog/2015/10/7/anniversaries-happy-birthday-le-corbusier> Acessado em 30/11/2015 Imagem 2. Óculos in < https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcSVOB_-kYJxxumllnVI0Pnc5Xmoh6qDjN8jR0FFh4An40LFrd_F> Acessado em 30/11/2015 Imagem 3. Série Modulor in < http://www.robertlpeters.com/.../wp.../uploads/modulor. jpg> Acessado em 30/11/2015 Imagem 4. Estudos Modulor in <https://41.media.tumblr.com/82ccde1ed6108091c2d0f8d833b73424/tumblr_mt0k7g5Yzc1qfx0k0o1_500.jpg> Acessado em 30/11/2015 Imagem 5. Le Corbusier trabalhando. Imagem @FLC, ADAGP, Paris, 2015 Imagem 6. Le Corbusier apresentando sua escultura Femme Imagem @FLC, ADAGP, Paris, 2015 Imagem 7 Guitarra Vertical, Le Corbusier, 1920 Imagem @FLC, ADAGP, Paris, 2015 Imagem 8. Le Corbusier em 1961 Le Corbusier em 1961 foto Gisèle Freund Imagem cortesia do Centre Pompidou Imagem 9. Enquadramento Estrutural Le Corbusier, uma análise da forma. 1998 Imagem 10 Análise Comparativa Casa de Pedra x Casa de Concreto Precisões. 1930

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Imagem 11 Le Corbusier em 1937 Imagem cortesia do Centre Pompidou Imagem 12 Cidades Torres Le Corbusier e Pierre Jeanneret, Œuvre complète 1910-1929, 1937, p. 117 Imagem 13 Vista Conjunto Habitacional Por uma arquitetura 1924 Imagem 14 Modulor Imagem @FLC, ADAGP, Paris, 2015 Imagem 15 Le Corbusier e o Modulor Imagem @FLC, ADAGP, Paris, 2015 in <http://mamo.fr/historique/ > acessado em 30/11/2015 Imagem 16 Medidas Humanas in < http://www.metalocus.es/content/es/blog/le-corbusier-medidas-humanas> Acessado em 30/11/2015 Imagem 17 Construindo uma célula Precisões 1930 Imagem 18 A planta da casa e o mobiliário Precisões, 1930 Imagem 19 Diversas maneiras de sentar Precisões, 1930 Imagem 20 O equipamento e a casa fonte: https://www.pinterest.com/pin/327918416587989490/

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Imagem 21 Estudo da unidade http://www.notesontheroad.com/Ying-s-Links/Today-s-Birthday-in-Art-and-Architecture-Le-Corbusier.html Imagem 22 Estudos de Fachada Unité d’Habitacion de Le Corbusier, 1944 Imagem @FLC, ADAGP, Paris, 2015 Imagem 23 Unidades de Habitação (LE CORBUSIER, Os três estabelecimentos humanos, 1944, p.34) Imagem 24 Fachada in < fonte: https://www.pinterest.com/pin/17592254764521106/> Acessado em 30/11/2015 Imagem 25 Os quatro tipos de casa Le Corbusier, uma análise da forma, 1998. Imagem 26 Villa Savoye In < https://www.pinterest.com/pin/462111611742661443/> Acessado em 30/11/2015 Imagem 27 O entorno da villa Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 28 Composição geométrica Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 29 Eixos Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 30 Passeio Arquitetural Le Corbusier, uma análise da forma, 1998

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Imagem 31 Eixo Vertical Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 32 Perspectiva Explodida in < https://www.pinterest.com/ pin/294282156875723081/> Acessado em 30/11/2015 Imagem 33 Volume Flutuante Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 34 Planta de acesso Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 35 Fluxos Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 36 Eixo de Acesso Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 37 Perspectiva Volume Principal Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 38 Perspectiva Cobertura Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 39 Rampa In < https://www.pinterest.com/pin/462111611742661443/ > acessado em 30/11/2015 Imagem 40 Zoneamento da Villa Le Corbusier, uma análise da forma, 1998

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Imagem 41 Linguagem Universal Le Corbusier, uma análise da forma, 1998 Imagem 42 Modelo Digital Imagem 43 Modelo Digital Imagem 44 Modelo Digital Imagem 45 Relação da Villa com o Entorno Foto por Samyah Kassisse, 2015 Imagem 46 Integração Interior e Exterior Foto por Samyah Kassisse, 2015 Imagem 47 “O desastre contemporâneo, ou a liberdade da organização espacial?”; A alternativa indicada pela arquitetura moderna, desenho de Le Corbusier, executado no segundo após-guerra, (História da Cidade, 1988) Imagem 48 A construção da Periferia na Cidade História da Cidade, 1988 Imagem 49 Vista Aérea de Paris História da Cidade, 1988 Imagem 50 Paris I < https://br.pinterest.com/pin/293367363205115640/> acessado em 02/12/2015 Imagem 51 A cidade Moderna http://www.herancacultural.com.br/blog/2013/10/ville-radieuse-le-corbusier/

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Imagem 52 A reconstrução das cidades In < http://www.anicursor.com/colpicwar.html> acessado em 01/12/2015 Imagem 53 Le Corbusier In < http://3.bp.blogspot.com/-Hj1-hymEwlA/UObOMtnwLRI/AAAAAAAAAIc/P2dRncz5LdI/ s1600/LeCorbusier.jpg> acessado em 02/12/2015 Imagem 54 Habitar LE CORBUSIER, Planejamento Urbano, 1925, p.69 Imagem 55 As condições da natureza retomadas - (LE CORBUSIER, Os três estabelecimentos humanos, 1944, p.40) Imagem 56 Oficinas, manufaturas e fábricas (LE CORBUSIER, Planejamento Urbano, 1925, p.74) Imagem 57 Prolongamentos das moradias - (LE CORBUSIER, Os três estabelecimentos humanos, 1944, p.50) Imagem 58 Sistemas de circulação (LE CORBUSIER, Planejamento Urbano, 1925, p.84) Imagem 59 As vias de circulação - (LE CORBUSIER, Os três estabelecimentos humanos, 1944, p.49) Imagem 60 ASCORAL - (LE CORBUSIER, Os três estabelecimentos humanos, 1944, p.124) Imagem 61 Os três estabelecimentos humanos (LE CORBUSIER, Os três estabelecimentos humanos, 1944, p.86)

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Imagem 62 Os três estabelecimentos humanos - (LE CORBUSIER, Os três estabelecimentos humanos, 1944, p.162) Imagem 63 A cidade radioconcêntrica de trocas - (LE CORBUSIER, Os três estabelecimentos humanos, 1944, p.124) Imagem 64 A relação dos três estabelecimento humanos - (LE CORBUSIER, Os três estabelecimentos humanos, 1944, p.152) Imagem 65 Disseminando conceitos in < fonte:http://rhingarc.tumblr.com > acessado em 30/11/2015 Imagem 66 Projeto da Cidade Universitária do Rio de Janeiro. Obra Completa 34-38, p.43) Imagem 67 Rio de Janeiro (RODRIGUES, Cecília; CAMPOS, Margareth; VERIANO, Romão; CALDEIRA, Vasco. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo, 1987) Imagem 68 Casa Dom-Ino (RODRIGUES, Cecília; CAMPOS, Margareth; VERIANO, Romão; CALDEIRA, Vasco. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo, 1987) Imagem 69 Unidade de Habitação Marseille in <fonte: http://www.heathershimmin.com/ le-corbusier> acessado em 30/11/2015 Imagem 70 O plano do Rio de Janeiro Precisões, 1930 Imagem 71 Planta e vista do conjunto da Casa do Brasil (PUPPI, Marcelo. Espaços inacabados: Le Corbusier,, Lucio Costa e a saga da casa do Brasil 1953-56. 2008. p.174.)

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Imagem 72 Brasilia (RODRIGUES, Cecília; CAMPOS, Margareth; VERIANO, Romão; CALDEIRA, Vasco. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo, 1987) Imagem 73 Le Corbusier In <http://3.bp.blogspot.com/-e2nMBmS0Qew/T19b1AtxJHI/AAAAAAAAA48/StleujMrnjI/ s1600/Le-Corbusier.jpg> acessado em 02/12/2015 Imagem 74 Le Corbusier In http://3.bp.blogspot.cowm/-auA8qlZsWXs/TgGKS9YQAeI/AAAAAAAABgE/_ WXW543r07E/s1600/a+bunda+do+corbu.jpg > acessado em 02/12/2015

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENÉVOLO, Leonardo. História da cidade, 1988. GARDINER, Stephen. Le Corbusier. ed. Cultrix Ltda, 1977. FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. trad. Jefferson Luiz Camargo. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. CORBUSIER, Le. Por uma arquitetura. ed. Perspectiva, 2013. COHEN, Jean Louis. O futuro da arquitetura desde 1889. Cosac Naify, 2013. Revista Projeto, Rio de Janeiro, n°102 – 1987. RODRIGUES, Cecília; CAMPOS, Margareth; VERIANO, Romão; CALDEIRA, Vasco. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo, 1987. Artigo “Villa Savoye: arquitetura e manifesto”, de Carlos Alberto Maciel, maio de 2002. In http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.024/785 Acessado em 23/11/2015 Artigo “Uma Leitura Crítica”, de Carlos A. Ferreira Martins, 2004. In Precisões, Le Corbusier. Livro: Le Corbusier, uma análise da forma. Geoffrey H. Baker, 1998. Artigo “O número de outro na arte, arquitetura e natureza: beleza e harmonia”, Joseane Vieira Ferrer Artigo O MODULADOR DE LE CORBUSIER: FORMA, PROPORÇÃO E MEDIDA DA ARQUITETURA Ennio Possebon

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CORBUSIER, Le. Carta de Atenas. Trad. Rebeca Scherer. São Paulo: Hucitec/ Edusp, s/d. CORBUSIER, Le. Os três estabelecimentos humanos. ed. Perspectiva, 1976. CORBUSIER, Le. Precisiones , Ed. Poseidón, Buenos Aires, 1978. COSTA, Lucio “Casa do Brasil em Paris”, em Sobre arquitetura,1953. GROPIUS, Walter. Programm des Staatlichen Bauhauses in Weimar. 1919. CORBUSIER, Le. Urbanismo, ed Perspectiva, 1925

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Imagem 74 Le Corbusier


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