ALBUM ILUSTRADO DA PARÓQUIA DE CANINDÉ COMEMORATIVO DO 7° CENTENÁRIO DA MORTE DE SÃO FRANCISCO TIPOGRAFIA DA CASA DE SÃO FRANCISCO CANINDÉ – CEARÁ GLORIOSA MORTE DE SÃO FRANCISCO, EM ASSIS – ITÁLIA (4 de Outubro de 1226) 1226 – 1926 HOMENAGEM DE JUSTA GRATIDÃO E RESPEITO DA PARÓQUIA DE CANINDÉ AO SEU MILAGROSO PADROEIRO SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS, POR OCASIÃO DO JUBILEU DO VII CENTENÁRIO DE SUA GLORIOSA MORTE, EM ASSIS. 1ª PARTE MOVIMENTO DO ANO FRANCISCANO EM CANINDÉ DUAS PALAVRAS Todo o Estado do Ceará, mais: todo o norte do Brasil está participando das glórias de Canindé, onde São Francisco das Chagas não se limita a alcançar para os seus devotos, simples graças dentro da ordem das coisas naturais, mas onde, por sua intercessão, com frequência, se registram fatos tão surpreendentes, tão acima dos recursos humanos que aos lábios das testemunhas se arranca um espontâneo: “milagre!” Sim, milagre. A Igreja ainda não falou. Fica ela com o direito de confirmar, ou não, a expressão do povo, de pessoas simples e de homens cultos que, para avultado número de casos, outro termo não encontram senão o de “milagre”. Bendito o “Album” que, elaborado por uma das testemunhas da intervenção do Santo, vem contar-nos, em palavras e gravuras, mais alguma coisa do abençoado Santuário de São Francisco das Chagas. Fortaleza, 31.V.1927 Frei Pedro Sinzig, O.F.M. Pag. 8 O ANO FRANCISCANO EM CANINDÉ Foi grande e entusiástico o movimento mundial católico em homenagem ao Ano Franciscano, comemorativo do VII Centenário da morte de São Francisco de Assis, cuja abertura solene teve lugar no dia 2 de Agosto de 1926, festa da Porciúncula. Nunca se viu tanto entusiasmo e fervor, como se há notado em torno deste querido Centenário em que se comemorou o triunfo do ideal franciscano tão perfeitamente identificado no espírito luminoso do imortal Patriarca de Assis. Parece que se estabeleceu entre as nações católicas um santo e edificante desafio a ver quem mais dignamente homenageara a glória imperecível do grande restaurador da sociedade medieval, que, abandonando a nobreza da família, as riquezas da herança paterna, se ofereceu, qual outro Cristo, vítima do amor ao próximo e da caridade pelos que sofrem as lutas e os trabalhos da vida. As academias científicas, literárias e históricas, espalhadas nos centros de cultura da Europa e das Américas, fizeram em homenagem ao grande Traumaturgo, notáveis séries de conferências onde se estudaram as místicas feições de seu caráter, as variadas modulações de seu gênio artístico, as ternas manifestações de sua índole pacífica e alegre, tantas vezes, desenhadas pelos mágicos pinceis da arte, descritas pelas lúcidas projeções da inteligência e elevadas pelas belas inspirações da poesia. A análise retrospectiva do que foi realmente a humilde existência e o abnegado sentimento do amado Trovador da Úmbria, faz refulgir mais viva e penetrante a lembrança da sua imagem alcançadora de virtudes e do seu coração abrasado em contínuo amor de Deus, restaurando o 1
verdadeiro espírito de fraternidade cristã entre indivíduos e povos de hoje, mais que nunca, se degladiam sob os vis e mesquinhos interesses das riquezas, dos prazeres e do domínio absoluto. As academias científicas saudaram no aurifulgente ciclo do VII Centenário Franciscano, a alvorada fecundante das universidades do século XIII, sob o influxo dos sublimes ideais de São Francisco. As sociedades literárias brindaram no meigo cantor da natureza, o místico Trovador da Úmbria que foi o berço da poesia italiana. As associações econômicas estudaram na vida democrática e singular do humilde Pobrezinho de Assis, o espírito fraterno e compassivo do amigo inseperável da pobreza, do expansivo expurgante das misérias sociais, do paladino ardente da fraternidade universal. A ciência, a literatura e a economia social se congraçaram para exaltar o gênio incomensurável do insigne Apóstolo da caridade e patentear a beleza radiante de sua abnegação inimitável na conquista das almas selvagens para o seio da civilização cristã. Além destas manifestações de ordem científica, outras homenagens foram realizadas à memória do atraente Evangelizador dos povos infiéis; outras demonstrações de afeto e simpatia ao heróico defensor da liberdade, efetuaram-se nas peregrinações organizadas em diversos países, para visitar a Basílica franciscana de Assis, onde São Francisco operou prodígios e alcançou copiosas graças em favor das almas feridas do pecado. Canindé, a celebrizada cidade cearense que se ufana de possuir o maior Santuário de São Francisco no mundo, se alegrou na sua imensa felicidade, se transformou na sua glória perene de abrigar no seu coração o vulto sublime do genial Santo, que se abismara no amor e na caridade, conciliando o mundo com Cristo. E sentindo palpitante esta celestial prerrogativa que lhe outorga os extraordinários méritos, os magníficos encantos e maravilhas sobrenaturais que se irradiam da insigne santidade do seu glorioso Padroeiro, com indizível júbilo comemorou fervorosamente a soleníssima passagem do VII Centenário da morte de São Francisco, recebendo as honrosas visitas de piedosas peregrinações que de longínquas paragens nordestinas vieram trazer reverentes ao seráfico Patriarca, as prendas de seus afetos e de suas devoções (Do “Santuário de São Francisco”). Pag. 11 BULA PONTIFÍCIA ELEVANDO A IGREJA DE CANINDÉ À BASÍLICA PIO P.P.XI, para perpétua memória. Por carta gratíssima do Arcebispo de Fortaleza soubemos que na cidade de Canindé, da Arquidiocese de Fortaleza, existe um Santuário dedicado a São Francisco de Assis, frequentado pelos fiéis e clero não só da Arquidiocese e do Estado do Ceará, mas de outros Estados setentrionais do Brasil. A este Santuário acodem, já individualmente, já em turmas, à maneira de peregrinos, cidadãos de todas as classes, até de regiões longínquas, implorar a intercessão de São Francisco, todos os anos, principalmente nos meses de Setembro e Outubro. Este Santuário ainda que sob a jurisdição do Arcebispo ou do Ordinário de Fortaleza, está entregue aos cuidados dos Frades Menores da Ordem de São Francisco, que, sob o governo de um superior próprio, se ocupam diligentemente no exercício do sagrado ministério. Além disso, os mesmos Frades menores dirigem uma Escola Apostólica, anexa ao Santuário, para formação de alunos de ordens sacras, e, juntamente, um dos dois orfanatos constituídos para educação de órfãos de um e outro sexo, em prédios aptos e contíguos ao Santuário. Os fiéis, porém, que pio e devotamente afluem continuamente ao dito templo não só concorrem generosamente com os seus donativos para o decoro e magnificência do Santuário, de forma que se encontra largamente provido de o necessário e conveniente, mas também ajudam e providenciam abundantemente a sustentação das mesmas casas de caridade. Por isso, como o atual Arcebispo da Arquidiocese de Fortaleza, traduzindo plenamente os desejos do seu clero e do seu povo, dirigiu-nos instantes súplicas para que honrássemos a Igreja ou o Santuário mencionado com o título e privilégios de “Basílica Menor”, Nós seguindo os passos dos nossos predecessores, e tendo em grande apreço o aumento do decoro das igrejas, anuímos livre e espontaneamente a estas preces; Assim 2
consultados nosso venerável Irmão Antonio Vico, cardeal da S.E.R., Bispo Portuense e de S. Rufino, Prefeito da Sagrada Congregação dos ritos, com nossa Apostólica autoridade em força das presentes Letras e de um modo perpétuo elevamos a Igreja ou Santuário em honra de São Francisco de Assis, sito na cidade de Canindé, no território da Arquidiocese de Fortaleza, ao título e dignidade de “Basílica Menor” e lhe concedemos todos os privilégios e honra que segundo o costume competem às “Basílicas Menores” de Roma. Ficam revogados todos os decretos em contrário. Isto concedemos determinando que as presentes Letras sejam e permaneçam firmes, válidas e eficazes, e que produzam e obtenham todos os seus efeitos, e aproveitem àqueles a quem interessam ou podem interessar agora e para o futuro, e assim decretamos e definimos e fica anulado desde agora, e sem valor tudo que sobre isto for atentado em contrário, por qualquer, com qualquer autoridade, ciente ou ignorantemente. Dado em Roma junto de São Pedro, sob o anel do Pescador, no dia XXX do mês de Novembro no ano MCMXXXV, Quarto do nosso Pontificado. S. CARDEAL GASPARRI – Secretário de Estado Pag 13 O ANO FRANCISCANO PEREGRINAÇÃO DA PARÓQUIA DE BATURITÉ À BASÍLICA DE SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS São Francisco de Assis, abraçando a cruz do Redentor levantou sobre seu pedestal a árvore gigantesca de suas três ordens, conseguindo estabelecer na terra um paraíso de almas escolhidas. A sua sede insaciável de difundir os sãos princípios do Evangelho, restaurando o reino de Jesus Cristo sobre o mundo, impulsionou o seu zelo admirável pelo bem do próximo, fazendo-se sentir desde logo os influxos benéficos de uma regeneração mundial. Fecundada pelas bênçãos de Deus, esta semente nasceu e, setecentos anos depois, vicejante como frondosa árvore, estende os seus ramos protetores, abrigando todos os que nela se refugiam, tal qual verdadeira âncora de salvação. Ela constitue por excelência o expoente máximo da santidade de um homem quem abrazado no amor de Deus e do próximo, se entregou de coração ao nobre ideal de regenerar a sociedade pelos laços da fraternidade cristã. Afirmando, ainda hoje, a grandeza e o triunfo dos nobres ideais franciscanos, os povos se harmonizam, as nações se congraçam para celebrar as glórias imortais de São Francisco de Assis, enaltecendo sua memória rica de sublime virtudes, o seu nome aureolado de luminosos exemplos, de prodígios estupendos, que atravessam os séculos cada vez mais gloriosos e admirados por todos que estudam com amor a vida edificante do fiel e perfeito imitador de Jesus Cristo. Com o elevado fim de homenagear a grandiosa memória de São Francisco de Assis e assistir a avertura do Ano Franciscano, organizou-se uma peregrinação da Ordem Terceira e de distintos católicos da paróquia de Baturité à Basílica de São Francisco das Chagas, em Canindé. Já avisada dessa piedosa romaria da família católica baturiteense, a população canindeense aguardava com satisfação a vinda dos distintos romeiros que, em trem especial, partiram de Baturité na manhã do dia 1º de Agosto, desembarcando na estação de Itaúna. Dali a Canindé, a viagem foi vencida em dezesseis autos e quatro auto-caminhões, que, não obstante às más condições da estrada, fizeram o percurso em regular e perfeita comodidade. Às 12 horas do mesmo dia, os peregrinos baturiteenses chegaram a esta cidade, sendo recebidos pelo revmo. Vigário Frei Lucas e grande multidão de povo, que, na rua 25 de Março e imediações dos Hotéis Globo e Pensão Familiar, aguardavam a passagem dos romeiros que, em harmonioso coro, entravam cantando o tradicional bendito “Salve Oh! Francisco!”, percorrendo vários pontos da cidade e estacionando na praça da Basílica. A devota romaria compunha-se de 102 peregrinos acompanhados pelos revmos. Mons. Manuel Cândido dos Santos, vigário de Baturité e diretor da peregrinação, Mons. José Alves de Lima, vigário de Cedro e Pe. Edgar Saraiva, que se hospedaram na Casa de São Francisco, tomando os romeiros hospedagem nos hotéis da cidade. 3
Às 15 horas, a Ordem Terceira desta paróquia, tendo a frente o seu estandarte, veio ao encontro da sua Irmã de Baturité, que, reunida no Hotel Globo, aguardava o momento para fazer a sua entrada triunfal na Basílica de São Francisco. Formando um imponente cortejo, as duas fraternidades franciscanas, entoando hinos religiosos, se dirigiam à Basílica, que se achava repleta de numerosa concorrência de povo para assistir a solene abertura do Ano Franciscano e do jubileu da Porciúncula. Antes dessa cerimônia, o nosso recmo. Vigário Frei Lucas, em eloquente sermão saudou os peregrinos, especialmente, os Terceiros franciscanos promotores da piedosa romaria, fazendo um belo panegrírico sobre o imortal Patriarca de Assis. Depois da bênção do Santíssimo Sacramento, os peregrinos, incorporados, foram em visita ao Colégio de Santa Clara e à Casa de São Francisco, percorrendo todas as suas dependências e oficinas. À noite, no vasto salão da Escola Paroquial teve lugar uma sessão lítero-musical em homenagem à peregrinação franciscana, falando em nome da Ordem Terceira de Canindé, o nosso ilustre conterrâneo Cel. Joaquim Magalhães que, em eloquente discurso, saudou os seus consócios da Ordem Terceira de Baturité. Em seguida, os alunos e alunas dos colégios encenaram interessantes bailados e lindas fantasias, sobresaindo a “Serenata”, representada por três garridas crianças. Foi levada a comédia “Médico em apuros”, terminando o festival com o Hino Nacional. No dia seguinte, às 6 horas, foi distribuída a sagrada comunhão a mais de mil pessoas, seguindo-se a Missa solene, celebrada pelo vigário desta paróquia, revmo. Frei Lucas, acolitado pelos revmo. Mons. José de Lima e Pe. Edgar Saraiva. Ao Evangelho, subiu ao púlpito o revmo. Mons. Manuel Cândido dos Santos que dissertou sobre o texto Imitatores met estote, apresentando São Francisco como verdadeiro imitador de Jesus Cristo, na humildade e no desprezo das vaidades do mundo. Após a santa Missa foi dada a bênção papal e absolvição geral aos terceiros franciscanos. Mais tarde, os peregrinos visitaram a Basílica e a Casa dos Ex-votos, entoando hinos religiosos, e ali permaneceram em exercícios piedosos para ganharem as indulgências do Perdão de Assis. Às 12 horas, todos reunidos, foram visitar a Igreja de Nossa Senhora das Dores e depois voltaram à Basílica, onde se fotografaram. Em seguida, formaram um lindo cortejo de automóveis e dirigiam-se à artística Ermida do Monte, em honra e glória ao Sagradoj Coração de Jesus, e de regresso assistiram à bençâo do Santíssimo Sacramento como chave de ouro desta edificante peregrinação. Pag. 16 ROMARIA DAS FRATERNIDADES DA ORDEM III FRANCISCANA DA PARAÍBA À BASÍLICA DE SÃO FRANCISCO, EM CANINDÉ São Francisco de Assis, o grande sol resplandecente que nos albores do século XIII brilhou no azuleu céu de Assis, espargindo seus raios luminosos sobre as trevas do erro e da anarquia social, no decorrer de sete séculos, após a sua gloriosa transição para a eterna bem-aventurança, continua ainda a iluminar com a sua luz vivificante o proceloso céu do mundo social. A sua figura maravilhosa tem atravessado os tempos imortalizada pelos edificantes exemplos de sua vida apostólica, atraindo as almas pela candura de seu coração feito todo amor e sacrifício; pela bondade de seu gênio sempre alegre, abnegado e humilde, conquistou muitos corações impedernidos no pecado, vivendo em completo desprendimento de si mesmo, só para servir os seus irmãos presos de moléstias, perigos e infortúnios. É o grande coração do Pobrezinho de Assis, que ainda perdura no mundo atual, amando as gerações, atraindo as multidões para a posse da verdadeira fé, inspirada nos sãos princípios do Evangelho.
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E, ao admirar esta realidade permanecente do amor sublime e da caridade heróica do grandioso Serafim de Assis, quem não sente seu coração enlevado a honrar sua memória no concerto da sociedade, com o entusiástico tributo de sua adesão e simpatia? Com efeito, nem a incúria dos tempos tem podido eclipsar nem reduzir ao esquecimento a glória que enche a precisosa vida do imortal Patriarca, desde que despontou a aurora de sua santidade até as últimas culminâncias do seu glorioso acaso. É justo, portanto, que a sociedade humana filiada às justas ideias da doutrina de Cristo, manifeste expontânea os afetos de sua gratidão, desperte em seu espírito as efusões do seu unânime entusiasmo, para cantar, debaixo da imensa abobada da Igreja Católica, hinos de glória e louvor a São Francisco. No louvável propósito de cantar as glórias imortais de São Francisco, os revmo. Padres Franciscanos do Convento de São Pedro Gonçalves, da capital da Paraíba, promoveram, com a bênção dos colendos Superiores e dos exmos. Senhores Prelados das dioceses desse Estado, esta solene romaria à Basílica de São Francisco das Chagas de Canindé. O fim dessa solene romaria fora dar um protesto público de filial amor ao grande Patriarca de Assis, no VII Centenário jubilar de sua gloriosa morte, participando do mesmo, somente os irmãos e irmãs da Ordem Terceira franciscana e os revmos. Sacerdotes residentes no Estado da Paraíba. O programa, publicado no Santuário, foi cumprido in totum com admirável regularidade e edificante devoção por parte de todos os peregrinos, deixando a população canindeense a mais grata impressão pelos nobres sentimentos de fé e amor de Deus que demonstravam em todos os atos religiosos, na abnegação de suas ações meritórias, no trato delicado e caridoso entre si, assim como, na expansiva cordialidade que manifestaram junto às famílias e ao povo de Canindé, nos curtos dias que permaneceram nesta cidade. Enfim, a distinta peregrinação paraibana, é justo que se diga, deixou entre nós sinceras provas de simpatia e afeição, que perdurarão indeléveis no seio de nossa sociedade, como significativa demonstração de estima. Conforme já fora anunciado no programa publicado, a peregrinação franciscana da Paraíba havia partido na manhã de 18 de Agosto da cidade de Souza, chegando nesta cidade na tarde e noite do dia seguinte, sendo o transporte da estação de Itaúna a Canindé feito em automóveis e auto-caminhões. A devota romaria, que de tão longínquas paragens veio prestar homenagens ao glorioso São Francisco das Chagas, compunha-se de 186 peregrinos, dirigidos pelos revmos. Franciscanos Frei Martinho e Frei Fabiano, acompanhados de 12 sacerdotes seculares, sob a presidência dos exmos. Senhores prelados Dom Moisés Coelho, bispo de Cajazeiras e Dom Joaquim Almeida, bisbo titular de Lari. No dia 20, pela manhã, houve a visita particular da peregrinação à Basílica de São Francisco, que, reunida, assistiu a santa Missa, celebrada pelo exmo. Senhor Bispo de Cajazeiras, recebendo a sagrada Comunhão. À tarde do mesmo dia, realizou-se a entrada solene de todos os peregrinos na Basílica. As fraternidades da Ordem Terceira de 16 paróquias da Arquidiocese da Paraíba, empunhando os seus artísticos estandartes, formaram, com a Ordem Terceira desta paróquia, um imponente préstito que, presidido pelo exmo. Senhor Dom Moisés, se dirigiu para a Basílica, fazendo a sua entrada triunfal. Seguiu-se a solene cerimônia da profissão e recepção do hábito franciscano de distintos membros da peregrinação. Logo depois, o revmo. Frei Martinho fez notável sermão, falando sobre o reinado social de Jesus Cristo, terminando-se as solenidades com a bênção do Santíssimo Sacramento. Dia 21, às 6 horas, houve missa e comunhão geral dos peregrinos. Às 13 horas, os peregrinos reunidos em congresso na Basílica assistiram a conferência pronunciada pelo eloquente orador sacro Frei Martinho, que durante largo espaço de tempo falou sobre a divina Eucaristia e a sublimidade do sacerdócio. Às 17 horas, realizou-se o tríduo solene e a bênção do Santíssimo Sacramento com a assistência dos romeiros e de grande massa de povo. 5
Dia 22, às 6 horas, celebrou-se a Missa e comunhão geral. Às 9 horas, com grandiosa concorrência dos fiéis, teve lugar a solene Missa Pontifical, cantada à grande orquestra, celebrando o exmo. Revmo. Dom Moisés, acolitado pelo revmo. Frei Lucas – presbítero assistente, servindo como diácono e sub-diácono do solio os revmos. Cônego Vicente Rodas e José Bethamio, diácono e sub-diácono da Missa, Frei Fabiano e Pe, Theodomiro de Queiroz, e mestre de cerimônia, cônego Firmino Cavalcante. Ao Evangelho, pregou o exmo.senhor Dom Joaquim de Almeida, bispo titular de Lari, eloquente e substancioso sermão sobre o triunfo de Jesus Cristo e sua Igreja sobre os seus inimigos, discorrendo acerca de diversas passagens da Bíblia Sagrada, provando com os fatos a verdade do tema do seu belo discurso. Após a missa pontifical, os peregrinos reunidos à grande multidão de fiéis que estavam presentes ao ato, acompanharam o exmo. Senhor Bispo, seguidos da Filarmônica local, que durante o trajeto executou várias peças. Às 17 horas, como encerramento das solenes ceremônias da piedosa romaria franciscana, realizou-se a imponentíssima procissão de triunfo de Jesus Hóstia, que, compondo-se de incalculável número de fiéis, percorreu, com absoluta ordem e respeito, as ruas e praças desta cidade que se achavam ornadas de bandeirinhas e arcos festivos, nos quais se liam piedosos dísticos referentes ao sublime mistério da divinha Eucaristia. Ao solene préstito compareceu o exmo. Senhor Dom Moisés Coelho, levando sob o pálio o sagrado Ostensório, todo clero secular e regular, acompanhando todas as fraternidades franciscanas da peregrinação com os seus lindos estandartes, e as associações religiosas desta paróquia, colégios São Francisco e Santa Clara, Grupo Escolar, Catecismo Paroquial e grande multidão de povo. Depois de percorrer toda a cidade, a magnificente procissão recolheu-se à Basílica, onde foi cantado pelo exmo.senhor Bispo e todos os remos. Sacerdotes presentes, o Te Deum Laudemus, como brilhante remate da grandiosa festa do 1º Congresso das Ordens Terceiras de dezesseis paróquias da Arquidiocese da Paraíba. Em todos os tempos se acham intensamente conjugados os dois gênios da Religião e da Pátria. Ora vêde! O primeiro deslocou das longínquas regiões da Paraíba uma cruzada gloriosa de peregrinos, que vieram em romaria à plácida morada de São Francisco em Canindé; o segundo, saturando aqueles mesmos peregrinos e palmilhando com eles as regiões áridas que nos separam do Estado amigo, vem reatar, consolidando-os, nos laços de solidariedade que devem sempre jungir os filhos do opulento Brasil. Assistiu, exultante, a nossa urbs, nos três ditosos dias: sexta, sábado e domingo (20,21 e 22 de Agosto), ao congraçamento de ambos os elementos nacionais: cearenses e paraibanos, uma comunhão de língua e religião. A par do sentimento religioso, vibrou igualmente, e com nobreza, o civismo das multidões. Haja vista a imponência de que se revestiu o festival da noite de sextafeira, 20 do mês transato, às 20 horas, já se achava repleto o vasto edifício da “Casa Paroquial”: as famílias de Canindé ao lado dos peregrinos compareceram todos ao ato. Não faltou a presença dos senhores Bispos Dom Moisés e Dom Joaquim, e bem assim a dos numerosos sacerdotes de Paraíba vindo em romaria com os seus paroquianos. Serviu de prólogo ao festival uma ligeira saudação, feita pelo prof. José de Alcântara, aos dignos hóspedes que o Canindé ora acolhia hospitaleiro. Não quis a mocidade canindeense que lhe levassem outros as lampas, a pregaram uma festa de peso, organizando um programa dividido em 4 partes, correspondente a 4 corporações; 1) meninos do Catecismo 2) Colégio Santa Clara, 3) Sociedade de São Luiz, 4) Colégio de Santo Antonio. A primeira parte do programa, preencheram-na lindas marchas, canções e cançonetas. Na segunda parte, destacou-se o lindo canto “As 3 serenatistas”, em que a voz de uma pequerrucha tilintava no ar cristalinamente. A Sociedade de São Luiz também teve o seu brilharetur com a bela saudação aos senhores Bispos, uma poesia e uma cançoneta. 6
Mas de todo o programa, a parte mais agradável, a mais imponente foi, sem dúvida, a última, a em que representaram os meninos do Colégio Santo Antonio. Uma saudação à Bandeira, ao nosso lindo pavilhão nacional, reavivou no peito de todos os ouvintes a chama do patriotismo. “O deputado” (cançoneta) e “O Latinista” (monólogo) precederam a “Questão do bigode”, que provocou risos na plateia. Encerrou-se a parte dos alunos do colégio com o vibrante Hino Nacional, entoado com emoção e alegria, e ouvido reverente. Fez-se silêncio alguns instantes. Ergueu-se Dom Moisés e, depois de agradecer em nome do seu rebanho, o festival que tão espontaneamente lhe dedicara a juventude de Canindé, exortou aos que o escutavam a conservarem sempre vivamente acesas na alma as duas piras da Religião e da Pátria, únicas divisas próprias de uma nacionalidade valorosa. Lugares da Paraíba de onde vieram as fraternidades franciscanas e os sacerdotes que as acompanharam: CAJAZEIRAS - Dom Moisés Coelho, bispo, e Dom Joaquim de Almeida, bispo titular de Lari; ALAGOA GRANDE E PARAÍBA (Capital) – Cônego Firmino Cavalcante, vigário dessa paróquia e respresentante do senhor Arcebispo da Paraíba, o subdiácono Abdon Pereira, representante do Seminário da capital, Frei Martinho e Frei Fabiano, do convento de São Pedro; MISERICÓRDIA – Pe. Joaquim Diniz; PRINCESA – Cônego Florentino Floro Diniz; SÃO JOÃO DO RIO DO PEIXE, Souza – Pe. José Neves; PATOS – Pe. José Vianna; CATOLÉ DO ROCHA, TAPEROÁ, TEIXEIRA – Cônego Vicente Rodas; ESPERANÇA – Pe. José Borges; SOLEDADE – Cônego José Bethamio; ITABAIANA – Pe. José Trigueiro; BANANEIRAS, MALTA, POMBAL – Pe. Theodomiro de Queiroz, vigário de Pilões, Pe. Nicolau Leite, residente em Conceição e Pe. Francisco Sampaio, residente em Guarabira. Telegramas enviados: “Franciscanos, Paraíba – Terceiros franciscanos Paraíba enviam saudosos cumprimentos. – D. Moisés, Bispo Cajazeiras, D. Joaquim de Almeida. - “Arcebispo D. Manuel, Senador Popeu – Terceiros franciscanos romaria Canindé carinhosa saudação vos mandam, pedindo bênção. – D. Moisés, Bispo Cajazeiras, D. Joaquim de Almeida”. - “Provincial Franciscano, Recife – 14 padres, 180 romeiros reunidos Santuário Canindé apresentam carinhosa saudação – D. Moisés, Bispo Cajazeiras, D. Joaquim Almeida”. - “Encarregado Nunciatura Apostólica, Rio de Jeneiro – Primeiro Congresso regional Terceiros franciscanos Estado Paraíba, reunido Canindé, Ceará, homenageando em vossa excelência representante carinhoso Pai Cristandade protesta veneração filial, pede bênção – D. Moisés, Bispo Cajazeiras, D. Joaquim, Bispo titular Lari”. - “Arcebispo Metropolitano, Paraíba – Primeiro Congresso regional Terceiros franciscanos Estado Paraíba, reunido Canindé saúda respeitosamente sincero admirador Patriarca seráfico, pedindo bênção. – D. Moisés, Bispo Cajazeiras, D. Joaquim Almeida”. -“ Ministro Viação, Rio – Peregrinação oficial paraibana visita Santuário Canindé Ceará felicitando Vossa cia cativante gentileza Administração Estrada Ferro Baturité pede encarecidamente patrocinar palpitante necessidade construção rodoviária Itaúna Canindé. – D. Moisés, Bispo Cajazeiras, D. Joaquim, Bispo de Lari, 14 Vigários, 180 romeiros”. - Aos diversos lugares de onde vieram as fraternidades: “ Todos saúde, satisfeitos – Martinho”. Respostas recebidas: “Paraiba, 21 hs, 12,20 – Agradeço penhorado saudações primeiro congresso regional terceiros franciscanos Estado Paraíba com as melhores bênçãos votos. Adauto, Arcebispo”. - “Olinda, 21, hs 15 – Grato retribuindo carinhosas saudações eminentes prelados caríssimos irmãos reunidos Santuário peço rogarem seráfico Padre abençoe filhos seus outras ordens – Provincial”. - Paraiba, 21 hs. 15 – Arcebispo, provincial, cabido, clero, seminário, terceiros franciscanos, carmelitas, associações, religiosas capital, Vicentinos, União dos Moços Católicos, congratulamse romeiros vinculados íntima união Eucarística almejando abundantíssima bênção celestial. – Frei Joaquim”. 7
Bemaventurado aquele que, quando louvado e glorificado pelos homens, não se estima mais nem menos do que quando é por eles amesquinhado e desprezado, o homem é só o que é aos olhos de Deus, e nada mais. São Francisco Pag. 24 PEREGRINAÇÃO DA ORDEM TERCEIRA DE FORTALEZA À BASÍLICA DE SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS DE CANINDÉ Realizou-se, sábado próximo passado, a anunciada romaria dos Terceiros Franciscanos desta capital à suntuosa Basílica de São Francisco de Assis em Canindé. Incontestavelmente aquela romaria constituiu uma nota eloquente e edificante dos sentimentos católicos da família cearense. Pelas 5 horas, mais ou menos, após a santa missa, celebrada na Igreja do Coração de Jesus, pelo reverendo Frei Silvério, os peregrinos em número de trezentos, com o espírito alimentado com o pão eucarístico, partiram alegremente em demanda daquela aprazível cidade sertaneja, onde foram levar ao grande Santo o testemunho inequívoco de sua veneração e amor filial. Conduzidos por possantes caminhões e automóveis, foi deveras edificante esse majestoso préstito constituído de pessoas de todas as classes sociais, irmanadas pelos mesmos sentimentos, atravessando as ruas da nossa capital rumo ao longínquo Canindé, sem o menor respeito humano, a rezarem, a entoarem entusiásticos cânticos religiosos, espalhando assim, pelas estradas em fora, perfume das flores do precioso jardim da sua Fé. Em diversos pontos do longo trajeto, os peregrinos foram alvos de significativas manifestações de carinho de pessoas residentes à margem da estrada, as quais fizeram atapetar de ramos verdes e pétalas de flores alguns trechos do caminho, saudando os peregrinos com vibrantes vivas. Aquem de Canindé, poucos quilómetros, reuniram-se quase todos os autos afim de entrarem incorporados na pinturesca cidade, onde chegaram pouco depois das 13 horas. Após a refeição, feita nos diversos hotéis adrede preparados para isto, cerca de 16 horas os peregrinos, reunidos em frente à “Pensão Familiar”, dirigiam-se em visita à Basílica, onde foram recebidos e saudados pelo respectivo vigário, Frei Lucas Vonnegut que, em seguida, deu a bênção do Santíssimo Sacramento. Depois desta ceremônia, visitaram a Casa de São Francisco e o Convento das Clarissas, percorrendo todas as suas importantes dependências. Às 19 horas realizou-se, como início dos exercícios religiosos em homenagem ao grande patriarca, a imponente procissão do Painel do glorioso orago da freguesia a qual percorreu algumas ruas. A essa bela solenidade compareceram quase todos os peregrinos. No dia seguinte, por ocasião da primeira missa que foi celebrada pelo reverendíssimo Capuchinho Frei Silvério que fez parte da grande romaria, no caráter de seu diretor, comungaram os membros da peregrinação. Ao Evangelho, Frei Silvério fez eloquente prática alusiva à romaria dos católicos desta cidade. Dois outros sacerdotes, os reverendos Monsenhor João Dantas e padre Luís Rocha, zeloso cura da Sé, também fizeram parte da romaria. Os peregrinos visitaram também a casa dos milagres e a Igreja de Nossa Senhora das Dores. Às 12 horas, no vasto edifício da Escola Paroquial, foram os peregrinos recepcionados solenemente pela Ordem Terceira de Canindé. Após a sessão, os peregrinos voltaram à Basílica, onde assistiram à bênção do Santíssimo Sacramento, tomando em seguida os respectivos carros, de regresso à esta capital, onde começaram a chegar às 18 ½ horas, felizmente sem o mínimo incidente. 8
Tanto na ida como durante a estadia em Canindé e na volta, reinou a mais franca e expansiva fraternidade e a mais admirável ordem entre todos os membros da peregrinação, os quais devem guardar gratíssima lembrança dessa feliz romaria. - Da aplicação das quotas recebidas para as despesas com a peregrinação resultou um saldo de 1:327$000, que foi recolhido ao Crédito Popular São José à disposição da Ordem Terceira. - Os retratos de flagrantes da peregrinação podem ser procurados na “Casa Alemã”. (Do Nordeste). -------A serena alegria de São Francisco, seu admirável amor pelas criaturas, sua fraternidade universal continua ainda hoje a dominar o mundo, formando em torno de sua venerável imagem uma multidão de admiradores que, com ardor amoroso a inflamar-lhes o coração, correm pressurosos a tributar-lhe honras e louvores. Neste concerto harmonioso de vozes onisonas pra cantar as glórias imortais do Pobrezinho de Assis, tomou parte entusiástica a família católica de Fortaleza, que, no dia 18 do mês findo, veio em peregrinação à Basílica de S. Francisco em Canindé. A numerosa romaria franciscana compunha-se da piedosa Ordem Terceira e de outras associações religiosas das paróquias de São José, Nossa Senhora do Carmo e Patrocínio, da capital, que vieram render sua homenagem ao glorioso Santo e participar das indulgências do jubileu do Sétimo Centenário de sua morte. Conforme o programa, a peregrinação partiu de Fortaleza em doze possantes caminhões e dezessete automóveis, conduzindo 300 romeiros que chegaram nesta cidade à 1 hora desse dia. Depois do almoço, os peregrinos fizeram sua entrada triunfal na Basílica, assistindo o tríduo solene e a bênção do Santíssimo Sacramento. Mais tarde, às 20 horas, os peregrinos incorporados acompanharam a procissão do rico painel de São Francisco, que percorreu todas as nossas ruas e praças. No dia seguinte, pela manhã teve lugar, na Basílica, a missa solene celebrada pelos reverendo Padre Luíz Carvalho e cantada por um harmonioso coro a quatro vozes. Ao Evangelho pregou o reverendo Capuchinho frei Silvério de Milão, que falou sobre a humildade e pobreza voluntária de São Francisco. Ao meio dia, ralizou-se na Escola Paroquial um sessão lítero-musical em homenagem aos distintos peregrinos que foi promovida pelos alunos do Colégio de São Francisco. Às 15 horas, após a bênção do Santíssimo Sacramento, os peregrinos regressaram à Fortaleza. (Do “Santuário de São Francisco”) - Bemaventurado o servo que entrega todos os seus bens ao Senhor, seu Deus! Pois se reserva alguma coisa para si mesmo, esconde prata alheia e o que ele crê possuir ser-lhe-á tirado. A glória do mundo e toda a pompa da Terra desprezei por amor ao meu Senhor Jesus Cristo! SÃO FRANCISCO Pag. 28 FESTAS COMEMORATIVAS DO 7º CENTENÁRIO DA MORTE DE SÃO FRANCISCO Apesar da crítica situação financeira que atrofia o comércio e a agricultura, causando desânimo nas populações deste Estado e dos Estados vizinhos, e sobretudo as mentirosas notícias que espíritos malévolos espalharam, de achar-se esta cidade contaminada de varíola, as festas comemorativas do sétimo centenário franciscano realizaram-se com bastante concorrência de devotos e admiradores das virtudes do glorioso Patriarca de Assis. As solenes novenas em honra de São Francisco das Chagas, querido padroeiro desta paróquia, tiveram início no dia 24 de Setembro e se prolongaram até o dia 3 de Outubro, notandose grande afluência de povo que, durante alguns dias, movimentou esta cidade, dando-lhe um aspecto alegre e brilhante.
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Durante nove dias consecutivos os reverendíssimos Padres Franciscanos celebraram na Basílica de São Francisco solene novenário em honra do milagroso Santo, pregando ilustres oradores, que da tribuna sagrada falaram sobre a vida edificante do Pobrezinho de Assis e sua admirável missão apostólica sobre a terra. Todas as noites, em frente à Basílica, feericamente iluminada de lâmpadas elétricas, eram exibidos lindo fogos de artifício, assistidos pela multidão, ao som harmonioso de duas bandas de música. As procissões noturnas denominadas “bandeiras”, levando em triunfo o rico painel da venerável Imagem do glorioso Santo, percorriam diariamente as ruas e praças desta cidade, sendo o tradicional cortejo formado por grande massa de romeiros. Nos últimos dias dos animados festejos, a concorrência dos assistentes tornou-se mais avultada, aumentando consideravelmente o movimento de automóveis que entravam por diversos pontos desta cidade, repletos de romeiros que vinham participar das festas centenárias. Logo no começo da festa, Canindé teve a honra de hospedar o exmo. Sr. Presidente do Estado, que veio a passeio a esta cidade, visitando a Basílica de São Francisco e os colégios de Santo Antonio e Santa Clara, sendo recebido com digna manifestação de apreço, em que tomaram parte todas as autoridades e a maioria da população da cidade. Conforme era esperado, chegou no dia 30 de Setembro o nosso amado Arcebispo Dom Manuel da Silva Gomes, vindo da vizinha paróquia de Boa Viagem, no sul da Arquidiocese, onde se encontrava há meses em visita pastoral. Acompanharam a sua excelência reverendíssima diversos padres e Frei Casimiro, missionário franciscano, sendo recebidos pelo reverendo Vigário e ilustres cavalheiros que foram ao encontro do eminente prelado arquidiocesano. Nos dias 2 e 3 de Outubro, aumentou extraordinariamente a concorrência do povo; os automóveis e auto-caminhões, em número aproximado de cem, chegavam constantemente de diferentes paragens, trazendo distintas famílias, cavalheiros, que em peregrinação vinham assistir às festas comemorativas do Centenário e admirar a célebre Basílica de São Francisco, que acabava de passar por uma artística reforma de arte decorativa. Em torno da Basílica apresentava-se mais intenso o movimento de romeiros, cumprindo as suas promessas e em fervorosas preces demoravam-se prolongadas horas a contemplarem absortos a imagem do seu milagroso Protetor. No sábado, 2 de Outubro, pela manhã, o exmo. Sr. Arcebispo deu a nova bênção ao altarmór da Basílica e em seguida celebrou a santa missa, tendo grande assistência de fiéis. À tarde desse dia, chegaram a esta cidade os exmos. Srs. Bispos das dioceses de Crato e de Sobral, que se hospedaram no convento de São Francisco. Suas excs. Revmas. vieram a convite do exmo.sr. Arcebispo, dar mais solenidade às ceremônias religiosas do sétimo centenário franciscano. No dia 3, às 9 horas, houve missa solene, celebrada por s.exc.revma. que concedeu ordens de diácono e menores aos clérigos José Solon e Antonio Alves. Ao romper da aurora do 4 de Outubro, data duplamente gloriosa para o Canindé, comemorativa da passagem triunfante de São Francisco em 1226 e da liberdade dos escravos deste município em 1885, a Filharmónica local em festivas harmonias saudou este dia radiante de glórias e triunfos. Às 8 horas, partiu da Casa de São Francisco solene cortejo religioso para acompanhar o exmo.sr. Arcebispo até a Basílica, que ostentava grandioso aspecto de imponência, tamanha era a multidão que se aglomerava no interior e exterior do templo. Às 9 horas, realizou-se a missa pontifical, celebrada solenemente pelo exmo. Sr. Arcebispo, assistida dos sólios pelos exmos.srs. Bispos do Crato e Sobral e vinte cinco sacerdotes. Ao Evangelho Dom Manuel pregou extenso sermão, explicando aos fiéis como deve ser feito o culto de São Francisco, leu a bula do Santo Padre Pio XI, levando o Santuário do nosso Padroeiro à categoria de Basílica Menor, e mostrando também as vantagens espirituais dessa honrosa distinção eclesiástica. Ao meio dia, teve lugar na Casa de São Francisco lauto almoço, oferecido aos exmos.
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Srs. Arcebispo Dom Manuel e Bispos Dom Quintino e Dom José Tupinambá, aos remos. Sacerdotes e distintas pessoas desta cidade. Às 16 horas, percorreu as ruas e praças de nossa urbs a soleníssima procissão do encerramento das festas, acompanhada por umas 20 mil pessoas, desfilando o imponente préstito religioso, durante 2 horas, que levou em triunfo as veneráveis imagens de São Francisco, Nossa Senhora das Dores, Santo Antonio, São José e Imaculada Conceição, tendo à frente as insígnias da Basílica, que ficarão expostas perpetuamente no altar-mór. Após a grandiosa procissão teve lugar o solene “Te Deum” e bênção do Santíssimo Sacramento, celebrada em ação de graças pela feliz realização do Centenário. Do “Santuário de São Francisco” de 1-11-926. Pag. 31 SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS Abstraindo da Itália, terra natal de São Francisco de Assis, nenhum país tem um santuário de São Francisco que, em importância, possa rivalizar com o de Canindé, que honra o Estado do Ceará e lhe traz inúmeros benefícios espirituais. É justo que atendamos a esta circunstância, referindo-nos, mais frequentemente, ao grande Protetor da nossa terra e, em particular, às graças que, em Canindé, os seus inúmeros devotos estão alcançando. Repitamos, hoje, em transcrição do “Jornal do Brasil”, do Rio, de 16 de Abril próximo passado, estes tópicos de um artigo do Conde de Afonso Celso, sob o título: “Vitórias Católicas”: “Para esta recrudescência do sentimento católico até em países cujo governo e população ainda lhe é em magna parte hostil, concorreu a universal e magnífica celebração do centenário de São Francisco de Assis. Entre os muitos benefícios resultados das solenidades que tanto dignificaram o ano transato, avulta o da fundação de uma quarta ordem de São Francisco, com a denominação de Ordem dos franciscanizantes. Procurará a nova associação religiosa, conforme a descreve um redator de Le Figaro, diferenciar-se de todas as já existentes por especiais caracteres de desinteressada nobreza. Esforçando-se por atingir na terra o supremo bem moral, parecerá talvez ingênuo anacronismo às turbas modernas, saturadas de princípios e métodos práticos e realistas. Mas, de há muito, as mais errantes e límpidas, forças espirituais esparsas pelo mundo desejavam achar, fora das suas disciplinas locais, um divino ponto de apoio que as sustentasse, sem se agregar. Pensamento posto em comum, saboreado sem obrigação, satisfará para o doce patriarca umbriano, mas que não poderam alistar-se na fraternidade da renúncia e da penitência. A ordem primeira dos Irmãos Menores e a segunda das Clarissas são, a vários aspectos, o exército ativo do campo de Deus, sob a égide do Pater Seraphicus. Já a Ordem Terceira forma uma milícia auxiliar. Todos esses vivem, em pleno céu de Assis, mas, na sombra circula uma porção da humanidade que, permanecendo afastada dos ritos obrigatórios, quer também ela fazer parte integrante da família franciscana. Em face do encarniçamento humano, das lutas insensatas, das divisões incompreensíveis do século, erguem-se todos os homens de boa vontade que a ideia divina inspira e o sentimento de ordem dirige. São os amigos de São Francisco: os franciscanizantes. Ninguém em consciência desconhecerá as vantagens imateriais mas eficientíssimas de tal organização, que marcará, como o seu ponto de partida, o Sermão da Montanha. É aí que deverá ser fixado o marco miliar de ouro dessa encruzilhada de caminhos que levam a todas as partes do mundo.
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A vida dos francisnanizantes não sofrerá nenhuma modificação aparente, nenhuma outra mortificação lhes será imposta senão a de repudiarem a heresia do Eu. Serão acolhidos todos aqueles a quem atormenta o desejo de perfazer o noviciado do coração e de considerar o próximo não mais como o inimigo que se resgata, porém como verdadeiro e querido irmão. Essa humilde pequena sociedade das nações franciscanas adotou Assis como sede universal. Um dos votos mais vivos da Quarta Ordem é reunir, numa das grandes capiais do globo, todos os livros consagrados às instituições devidas a São Francisco que soube fazer o que nenhuam dos grandes potentados ainda conseguiu: uma obra que permanece intacta há sete séculos”. Afonso Celso --------------------------------------------------------------------------Não nos tendo chegado notícia oficial da aprovação da IV Ordem de São Francisco, reproduzimos, não obstante, tópicos do brilhante artigo de eminente escritor Afonso Celso, para expor o pensamento de uma seita protestante da Alemanha. Prova evidente de quanto São Francisco é digno de ser imitado, tanto que no campo adversário propagam as suas ideias. Quizera que, no ponto principal – obediência à Santa Igreja - sigam também o seu exemplo e pela imitação das virtudes de São Francisco, consigam adquirir a verdadeira fé da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. – A Redação. ------------------------------------------------------------------------------Feliz o homem que suporta as fraquezas do seu próximo, assim como ele quher que os outros supotem as suas. Bem-aventurado o servo de Deus que ama e respeita o seu irmão, tanto quando ele está longe, como em sua companhia, e que dele nada disse às ocultas que lhe não pudesse dar a entender afetuosamente. SÃO FRANCISCO Pag. 33 SÃO FRANCISCO DE ASSIS – O APÓSTOLO DO BÉM
São Francisco de Assis!!! Como este nome é digno dos nossos respeitos, como lembra ele a virtude na sua mais alta manifestação! É o exemplo modelar o mais bem acabado da abnegação e da penitência. De suas palavras e de suas ideias jorravam fontes de luz; nos seus sentimentos altruísticos lá estava o germe frutificador de muitas ações, que só visavam balsaminar dores e desventuras, infortúnios e desesperos. Viver para o Bem, viver para os outros, tal a célula mater a exornar a sua doutrina, que a corporificou nas muitas instituições espalhadas pelo mundo para fazer triunfar os encantos do Cristianismo. Aí está por toda a parte a sua obra admirável a merecer os aplausos da Humanidade. E esta obra consta de conventos, hospícios, noviciados e colégios. Que mais belas provas de maiores serviços podem ser oferecidas aos olhos do mundo? Valiosíssimos institutos como estes atestam brilhantemente o trabalho e os sacrifícios de muitos heróis a cuidarem das crianças, a fundarem em suas almas os grandes ensinamentos do Evangelho. E porque se meça toda a extensão desse labor continuado na Ordem dos Franciscanos, e porque se compreenda o valor desse trabalho é que, ainda hoje, toda a Humanidade sente pelo seu fundador, São Francisco de Assis, essa admiração que se não apaga, esse amor que não diminue, essa devoção que se não extingue. 12
Vêde-o ali, lá está ele em contínua oração; vêde-o além, na penitência, na privação, no martírio, lançando as suas vistas só para Deus, como que pedindo o auxiliasse nas empresas que ia fundar pela Orbe, e que as queria – tivessem elas o brilho das coisas santas. E esse brilho que soube emprestar aos úteis estabelecimentos ainda se conserva hoje em plena intensidade, na refulgência de suas glórias, pelo zelo e pela dedicação dos seus abnegados continuadores. Era um Apóstolo do Bem. Era a figura majestosa do seu tempo. Quando a morte, a ceifadora cruel, o colheu aos quarenta e quatro anos, ferindo-o desapiedadamente, e atirando-o aos mistérios do túmulo e às regiões do Além, que é um x indecifrável para umas mentes humanas, o seu nome, agasalhado e, todos os corações e disseminado em todas as bocas em expressões as mais lisonjeiras, já estava aureolado com o diadema de glórias; já tinha ultrapassado as fronteiras das nações; já os povos lhe haviam dado o passaporte para a imortalidade. Que digo eu? Não, ele não morreu. Permanece inteiro, em toda a plenitude, do seu valor no cibório dos nossos corações, que é o templo dos nossos mais elevados afetos. Ele vive imortal nesses cultos universais, nessas apoteoses, todo o fervor ds nossas crenças. E na culminância luminosa em que se projeta radiante e se divulga inteiriça toda a sua figura a olhar para todos os infindos horizontes, onde se desdobram os benefícios muitos de sua ação prolífera e benfazeja, ele há de ver que aqueles sentimentos a exalçarem o seu bondoso coração, ideais que lhe vinham à mente tão clara e tão lúcida, tiveram correspondência a mais fervorosa, concretização a mais positiva nos mantenedores de sua doutrina, nesses Franciscanos que fazem a honra de uma Ordem mui digna e mui respeitada. Que lhe cubram sempre as bênçãos da Humanidade, agradecida; que a sua obra se perpetue pelos séculos porvindouros para felicidade dos povos, para os brilhos do progresso, para garbo, honra e glória de todas as Civilizações. ANTONIO THEODORICO DA COSTA Pag. 36 A ORIGEM DOS PRESÉPIOS São Francisco de Assis, o grande Patriarca Seráfico, depois de ter visitado a Palestina, onde trabalhou, sofreu e morreu o Salvador, depois de ter venerado, de um modo particular, a Gruta de Belém, onde nasceu o Divino Infante, São Francisco ficou possuído de amor peculiar para com o Menino Jesus e a festa do Natal. Aproximando-se o Natal de 1223, São Francisco queria festeja-lo de uma maneira até aí completamente desconhecida, conforme no-la relata o lente catedrático de Copenhaguen, João Joergensen, em seu magnífico livro, otimamente documentado, intitulado: Vida de São Francisco de Assis. Por isso, saindo de Roma, onde propusera ao Papa seus projetos, São Francisco dirigiu-se a Greccio, pequena vila da Umbria, Itália, onde um nobre benfeitor, chamado João Velita, lhe tivera feito a doação de um terreno montanhoso e solitário. Alcançada a vila, São Francisco fez vir à sua presença o generoso amigo expondo-lhe, em sua simplicidade columbina o seguinte: - Ouça, bom amigo, a ideia de que modo pretendo solenizar o Natal, este ano. No alto do morro, que nos ofereceste, encontra-se uma gruta, semelhante a de Belém. Falta só o cocho com o feno. Peço que m´os arranjes. Na véspera do Natal, toda-via, conduzirás ao morro um boi e um jumento e os amarrarás dentro da gruta, tal que se deu na noite santa de Belém. O resto fica a meu cargo. O benfeitor prontificou-se a tudo.
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Veio, por fim, a noite do Natal. Subiu o morro São Francisco e os seus confrades, empunhando todos círios acesos. Os habitantes da região, avisados da novidade, acorreram em massa, trazendo por seu turno, tochas ardentes, de sorte que a escuridão daquela noite se iluminava e a solidão do bosque regorgitava de povo e o silêncio da mata era perturbado pelos cânticos do povo, cujas melodias se iam perder nas quebradas da montanha!... Armado o altar, São Francisco incumbiu a um sacerdote de cantar a missa, à meia noite, servindo ele de diácono. Ao Evangelho, da altura de um rochedo, púlpito improvisado, Francisco fez uma alocução ao povo. Calmo ao princípio, seu olhar começa a brilhar, o rosto a se afoguear e o pregador deixase, por fim, empolgar pela solenidade do ato que explica ao auditório. Ele discorre do Menino Jesus que em Belém, não nascera num palácio, nem no meio de púrpuras; cujo berço não tivera o brilho do ouro nem do marfim polido que refletissem a alvura das sedas e das rendas nem das pérolas refulgentes, nem os requintes do luxo – e sim, que vira a luz do mundo, longe das comodidades da riqueza, numa manjedoura, numa gruta fria, deitando sobre palhas úmidas, aquecido pelo hálito de dois irracionais. Durante essas calorosas palavras, eis que o povo, já desvia sua atenção; concentram-se todos os olhares sobre o cocho entro da gruta; acotovelam-se, aglomeram-se na boca da gruta. E, qual o motivo. Todos queriam ver de perto um formoso menino que apparecera reclinado nas palhas da mangedoura. São Francisco, transbordando de alegria, ajoelha-se diante da criança, em que vê representado o Menino Jesus, toma-a em seus braços e mostra-a ao povo. Logo depois desapareceu o Menino, continuando a missa sobre a maior devoção. E quando os primeiros albôres da aurora colorizavam o horizonte, todos desceram da montanha, cantando almos louvores. A lembrança, porém, daquela solenidade, tão nova e tão deslumbrante, gravou-se profunda, na memória de todos, mormente de São Francisco e seus confrades, de sorte que, no correr dos anos, se esforçaram por reproduzí-la, não na solidão dos bosques, e sim, nas Igrejas pertencentes às Ordens Franciscanas. Daí originaram-se os nossos presépios que, mau grado suas figuras inanimadas, não deixam de falar, eloquentes, da memorável noite do santo Natal, na gruta de Belém, noite aquela para sempre bendita que marco ao mundo nova éra , a éra cristã!... JOSÉ MARIA DE ASSIS _________________________________________________________ ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO Grande Deus, cheio de glória, e Vós, meu Senhor Jesus Cristo, eu Vos rogo iluminai as trevas do meu espírito. Dai-me uma fé pura, uma firme esperança e uma caridade perfeita. Fazei, ó meu Deus que eu Vos conheça tão bem que tudo faça pela vossa luz conforme a vossa vontade. Bemaventurados os que tem considerações benévolas com o próximo nas suas faltas e lhes testemunham tanta compaixão e indulgência, quanto o seu próximo tem o dever de lh´a testemunhar. SÃO FRANCISCO Pag. 38 SÃO FRANCISCO E A NATUREZA O amor de São Francisco pela naturza estava muito longe do panteísmo moderno. Ele voltava-se com predileção para tudo o que a existência tem de belo e de luminoso: para a luz e o fogo, para a água límpida e corrente, para as flores e os pássaros. Sua contemplação da natureza era simbólica. Amava a água, porque ela se assemelha à santa penitência, por meio da qual se purificam os homens a também porque era o instrumento do batismo. E daí lhe vinha tão profunda veneração pela água, que quando lavava as mãos escolhia um lugar, onde as gotas caindo de suas mãos, não pudessem ser pisadas. Era sempre com infinitas precauções que punha os pés sobre as pedras e rochas, pois pensava na pedra simbólica da Igreja. Quando um irmão 14
derrubava lenha no mato, pedia-lhe que conservasse uma parte de cada árvore, afim de poder conservar a esperança, de vê-la reverdecer, em lembrança da cruz, feita duma árvore. Mas a este simbolismo juntava-se um verdadeiro e puro amor, da natureza. O fogo e a luz tinham a seus olhos tanta beleza que nunca viu apagar uma lâmpada de boa vontade. Além dos legumes destinados à cozinha, queria que nos conventos se plantassem flores cheirosas, e que se dessem também lugar a “nossas irmãs flores” afim de que cada um considerando sua beleza se sentisse excitado a mais amar a Deus. Em Greccio, viam no inclinar-se ternamente sobre os filhinhos do “nosso irmão pinta roxo”, e em Sena ele próprio fazia ninho para as rolinhas. Quando em seu caminho encontrava vermes que rastejavam miseravelmente, tinha o cuidado de amanhá-los e pó-los de lado para que não fossem esmagados. E no inverno nunca deixava de levar mel aos cortiços das abelhas. Cada criatura era para ele uma palavra viva de Deus. O aspecto duma flor frescura matinal, ou os biquinhos abertos, com ingênua confiança, num ninho de passarinhos, tudo isto lhe revelava a pureza e a bondade de Deus, assim como a ternura infinita do coração divino do qual brotavam todas essas coisas. Mas acima de tudo, Francisco era reconhecido a Deus pela criação do sol e do fogo, pois somos todos cegos de nascença, mas Deus nos empresta sua luz por intermédio desses dois irmãos. JOHANNES JEORGENSEN Pag. 39 AS FESTAS DO VII CENTENÁRIO DE SÃO FRANCISCO CELEBRADAS EM ASSIS Com intenso entusiasmo em todo o mundo católico se tem celebrado o sétimo Centenário da morte do Povorello de Assis. Era de supor que a pátria que o viu nascer e conserva o seu sepulcro, se excedesse a si mesma e desse uma prova eloquente do grande amor que professa a seu cidadão insigne, glória imarcescível de Assis, a mais pura da Itália e uma das mais populares da Igreja católica. À Assis correm os povos e os Franciscanos dos diversos ramos e à Assis nos dirigimos também nós na tarde de 1º de Outubro, ávidos de contemplar esta terra bendita, berço de nossa Ordem, impreganada do misticismo seráfico que renovou a sociedade do século XIII. No trem não as fala senão de São Francisco e de sua obra e todos os trens vão repletos de peregrinos e de turistas que se dirigem à Assis para tomar parte nas grandiosas festas centenárias. Chegamos à Assis, à Santa Maria dos Anjos, em plena festa, no momento solene da função vespertina, do 1º dia do tríduo, em que oficiou o Cardeal Aleixo Ascalesi, Arcebispo de Nápoles, que veio à frente de uma peregrinação napolitana. A igreja parece um só corpo de fogo. A Basílica imensa, em cujo centro se acha a Capela da Porciúncula, está envolta em um nimbo de luz vivíssima, cada arcada, cada capitel, cada linha arquitetônica está marcada por um foco de luz deslumbrador, de luz que eclipsa. No coro ouvem-se os écos de um coro de vozes afinadíssimas que transporta com suas melodias nossa alma ao infinito. Sobre o altar, nimbado de novens iluminadas, aparece a imagem de São Francisco, tem a sensação de estar no céu contemplando a apoteóse do nosso Seráfico Pai, que engrandece a palavra eloquente do Bispo de Teoni. Entramos no convento. É um vai-vem de religiosos de diversas Províncias e da Cúria generalícia, tendo no meio o Revdmo. Ministro Geral Padre Bernardino Klumper. Amanhece explêndido o dia 2 de Outubro, segundo do tríduo. Oficia pontificalmente o Emmo. Cardeal Dom Boaventura Ceretti, que também preside às Vésperas e dá a bênção com o Santíssimo. Prega o afamado orador P. Bovenzi O.F.M. Aumenta o concurso de peregrinos que afluem da Itália e do estrangeiro. No dia 3 de Outubro, oficia a missa pontifical o Emmo. Cardeal João Bonzano, Protetor da Ordem Seráfica e Delegado Pontifício, Ordinário da Basílica de Santa Maria dos Anjos da
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Porciúncula. De tarde as vésperas são oficiadas por Mr. Dom Jacyntho Tonizza, Vigário Apostólico da Lybia. Nesta mesma tarde realizou-se o ato mais imponente, Pelas três horas chegou o Cardeal Legado para as festras centenárias, o Cardeal Merry del Val, representando o Summo Pontífice. Sua Eminência fez a viagem de Roma a Assis em triunfo em trem papal posto a sua disposição pelo Governo da Itália. Uma multidão imensa acolhe o representante do Papa na estação e o acompanha a Santa Maria dos Anjos, onde é esperado pela comunidade, que forma cordão entre duas alas de fiéis. Os Cardeais Bonzano e Granito de Belmonte, protetores respectivamente dos Menores e Capuchinhos, com as Cúrias Generalícias dessas duas Ordens recebem o Cardeal Legado à porta da Basílica. Avança este, debaixo do pálio, com capa magna, para o interior, todo brilhante de luz no alto e repleto de fiéis em baixo, dando a todos a bênção, enquanto repercutem pelas imensas abobadas do templo os cânticos da capela musical como um coro de angélicos concertos. Detem-se o cortejo no altar do Santíssimo e, depois de entrar o Cardeal na capelinha da Porciúncula e na cela em que morreu São Francisco, soube ao altar mór e senta-se no trono pontifício reservado ao Papa. Terminado o cântico do Ecce Sacerdos, o Cardeal Bonzano dirigiu uma saudação ao Legado do Papa, congratuland-se com a sua presença e o acerto da sua escolha da parte do Summo Pontífice, respondendo o Legado com palavras vibrantes e comovidas. De Santa Maria dos Anjos subiu o Legado com toda a comitiva a Assis, entrando na igreja que guarda o corpo de São Francisco. Aqui a recepção não foi menos solene. O povo enche os arredores e o interior da tríplice Basílica trecentista, ideada por Frei Elias e embelezada pelos frescos de Giotto e Cimabue. Uma atmosfera de sol, uma sombra misteriosa envolve as arcadas, as colunas, a cripta, sombra que rompe somente a luz do sol que bate sobre os vitrais e as pálidas luzinhas de algumas lâmpadas. O Cardeal sobe ao trono Papal e é lido o Brece pontifício que o acredita como Legado do Papa dirige-lhe algumas palavras de saudação o Geral dos Conventuais, a que responde o Cardeal realçando a importância desta festa e que converge a atenção de todo o mundo católico. Na hora de se pôr o sol, hora em que expirou o Seráfico Padre, o Cardeal desceu de novo de Assis com todo o séquito e o povo para a solene ceremônia do trânsito em Santa Maria dos Anjos. O ato foi solene e comovedor, de intensa comoção. O Cardeal Legado foi recebido pelos Cardeais Cerreti, Granito de Belmonte, Bonzano e Laurenti, depois de chegar com grande pompa, escoltado por um piquete de carabinieri a cavalo, entre as aclamações do povo que enchoa as praças e a igreja. Na ceremônia oficiou o Cadeal Bonzanno, assistito por Mr. Bressan e Fabri. Teceu o Cardeal oficiante um bel panegírico do Santo, enaltecendo sua glória e santidade do seu trânsito glorioso da terra ao céu no mesmo lugar em que nos achávamos. Seguiu o canto do salmo e as antífonas do Trânsito, durante o qual o Cardeal oficiante estava com os Ministros na pequena cela que recolheu o último alento de São Francisco. Às cinco em ponto da tarde, ao se cantarem as palavras que pronunciou São Francisco ao falecer, ressoou o som de uma trombeta, prolongado, vibrante, argentino, que descendo do alto da cúpula invadiu todas as almas, penetrou no fundo de todos os espíritos e prostou a todos os assistentes de joelhos como dominados por profundo êxtase paradisíaco, permanecendo por alguns minutos em devota oração como para acompanhar a alma de Francisco no seu ingresso na glória. Foi esse momento de intensa emoção que tomou os povos da Itália, pois naquela mesma hora os sinos de todo o país anunciavam o momento soleníssimo. Depois desse tempo de profunda adoração, o Cardeal deu ao povo a benção com a relíquia do Santo e o Cardeal Legado a bênção papal. Durante a noite a gigantesca cúpula de Santa Maria dos Anjos, o sacro Convento de São Francsico e os edifícios públicos ofereciam iluminações esplêndidas. Por todos os caminhos o povo se dirigia às duas igrejas franciscanas para assistir às Matinas e em seguida à Missa que em Santa Maria dos Anjos foi cantada pelo Minstro Geral e em São Francisco rezada pelo Geral dos Conventuais, recebendo os fiéis em número extraordinário a santa Comunhão. No dia da festa, 4 de Outubro, celebrou o Cardeal Legado solene Pontifical em São Francisco, usando por concessão de Pio XI o magnífico trono papal. Faziam coroa ao Legado do Papa, 4 Cardeais, 8 Bispos das dioceses vizinhas, os Gerais dos três ramos da Ordem franciscana 16
com seus Definitórios, o Ministro da instrução pública, representando o Governo, as Autoridades da cidade e da província e inúmera multidão de povo que enchia a cripta, as duas igrejas e se ramificava pelas ruas da cidade até Santa Maria dos Anjos na planície. A Missa foi grandiosa, o sermão do Cardeal Legado uma alocução cheia de fé, de fervor e de entusiasmo para com o Povorello de Assis, cuja humildade e piedade dignamente enalteceu. Durou a Missa Pontifical várias horas até depois de meio dia, em que o sol brilhava em todo o seu esplendor sobre o formoso céu de Assis, que nos parecia, nesses momentos, céu do paraiso. Pela tarde houve vésperas cantadas e bênção em ambas as Basílicas, esplêndida iluminação e uma audição musical na Catedral de São Rufino em que Francisco foi batizado. Tratava-se do Tríptico Franciscano musicado pelo maestro Licinio Recife, uma espécie de oratório, que é uma verdadeira obra de arte e foi ouvido durante três largas horas até meia noite por seleto auditória, no qual se destacava o Ministro do Governo senhor Fidele. Tais são em poucas linhas as festas de Assis no VII Centenário da morte do Seráfico Patriarca. Dificilmente se apagará na memória de quantos tivemos a dita de presenciá-las a comoção experimentada nestes dias, principalmente, ao contemplar a fé de tantos milhares de peregrinos que com piedade se aproximavam dos Santos Sacramentos e, chorando, se prostraram diante do túmulo de São Francisco e na Capela da Porciúncula. Queira Deus que em todas as partes sejam copiosos os benefícios espirituais deste VII Centenário. Assis, Outubro de 1926 FREI ANTONIO ARACIL O.F.M. Pag. 41 HINO DE SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS Música de Waldemar de Oliveira Letra de José Elesbão de Castro Bahia CORO: Quanta glória, porque te consagras Ó cearense tão culto na fé Ao querido Francisco das Chagas Da formosa e feliz Canindé Não se ufana quem vive no fausto E as virtudes cristãs abomina Sem ouvir os soluços do exausto Peregrino na agreste campina Entretanto, o cansado romeiro Que nas graças eternas porfia Avistando de longe o Cruzeiro Nalma sente a mais doce alegria Pela Terra da Luz muitos crentes Com fervor a bondade doutrinam -São os raios do sol mais ardentes Quando as chagas do Santo iluminam Da sagrada cidade a bandeira - Diz um hino, talvez o mais novoÉ o painel que recorda a primeira Devoção deste próspero povo.
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ENCERRAMENTO DO ANO FRANCISCANO O AMOR SERÁFICO PEREGRINAÇÕES FRANCISCANAS DE FORTALEZA, BATURITÉ E MARANGUAPE Solenidades religiosas celebradas na Basílica de São Francisco das Chagas O grande poeta italiano Dante compendiou, com rara felicidade, a grandeza espiritual de São Francisco, quando no Paraíso – canto XI, v. 37, disse que era “todo seráfico no ardor”, isto é, um serafim no amor de Deus. O povo cristão há séculos que conhece o Pobrezinho de Assis sob o título que equivale a um verdadeiros panegírico: O Serafim de Assis. O grande preceito do amor foi compreendido por Francisco na sua grandeza, na sua extensão e graduação: Deus, os homens e a natureza. Desde o dia em que na sua alma penetrou a voz do Senhor que o convidava à conquista do amor, Francisco só alimentou um anhelo, um suspiro: amar a seu Deus, amá-lo cada vez mais, até poder pronunciar com toda a verdade a sua característica sentença: “O meu Deus é o meu tudo!” Nem era possível conceber em Francisco um coração que não estivesse incendiado do divino amor. Sua alma, desapegada completamente de todo o interesse terreno, enriquecera-se da mais acendrada santidade; seu corpo, sob a ação benéfica da dor e do sofrimento estava inteiramente transformado, espiritualizado, e a graça do céu havia nele estabelecido seu remanso e seu altar. Tamanho era o ardor amoroso a inflamar-lhe o coração que, como diz Tomás Celano, apenas o nosso Santo ouvia falar do amor de Deus, se excitava, se comovia, se abrasava em afetos como se aquela voz externa lhe houvesse tangido as fibras mais íntimas do coração. São Boaventura assemelha o Santo Patriarca a um carvão aceso, todo envolvido pela chama do amor divino. Compadecido da miséria decaída dos nossos primeiros pais, Deus misericordioso, para se tornar mais amável, para viver mais perto de nós, para fazer-nos ouvir melhor os palpites amorosos do seu divino coração, baixou do céu, veio morar entre os mortais e se chamou Jesus. Jesus foi o objeto mais terno do amor de Francisco. São Boaventura afirma que o seráfico Patriarca amava a Jesus com tão ardoroso afeto, e Jesus lhe correspondia com o amor de tamanha familiaridade, que parecia que Francisco gozasse continuamente da presença sensível do Redentor. Este amor seráfico de Francisco para com Jesus se manifestava de um modo prático, pois sabemos que a sua primeira intenção, seu principal desejo, foi o de guardar em tudo e por tudo o Santo Evangelho e de seguir perfeitamente com todo ardor da mente e fervor do coração, os preceitos sublimes da doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo e imitar os seus sagrados exemplos. Essa chama viva do amor de Deus que abrazou o terníssimo coração de São Francisco de Assis, também, em nossos dias, incendeia os ternos corações de muitos dos seus filhos e filhas, que, desprezando as vaidades, os prazeres e o egoísmo do mundo, se entregam às místicas contemplações do amor divino sob as belas inspirações dos preceitos evangélicos, tão bem definidos nas regras das ordens de São Francisco. Por toda a parte, a sua memória aureolada de bênçãos se aviva nos corações dos povos; seu santo nome pronunciado com respeito e gratidão, enternece as almas agradecidas que encontraram na ternura de sua caridade o alívio para as suas dores, o consolo para as suas amarguras e a paz para as suras inquietações da vida. É assim, que, setecentos anos depois do seu trânsito glorioso, o prestígio do seu nome glorificado pela graça divina imortalizou-se no decorrer dos séculos, perdurando na tradição dos povos como um símbolo de paz e consolação aos peregrinos da vida terrena que, acossados pelas ondas revoltas das desventuras e sofrimentos, se abrigam ao porto sereno e benéfico da proteção do Seráfico Patriarca. Em todas as nações civilizadas dos continentes erguem-se monumentos, estimulam-se instituições pias, congregam-se sentimentos e ideias em torno do vulto insigne, da imagem grandiosa do Pobrezinho de Assis, relembrando o heroísmo de suas virtudes, proclamando as
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abnegações de sua vida humilde, as modulantes inspirações do seu gênio poético, enfim, os doces encantos de suas venturosas e sadias aspirações, tendo como supremo ideal – Deus. A comemoração do 7º centenário de sua gloriosa morte abalou o orbe católico, despertando um entusiástico movimento de solidariedade entre os seus grandes admiradores e filhos diletíssimos, para honrar e glorificar a indelével memória do seráfico pai, tão rica de belos ensinamentos e doces consolações espirituais. Como a ditosa Assis, pátria querida de São Francisco, onde através dos monumentos sete vezes seculares, se sente as recordações ternas dos lugares santificados pela vida santa e morte gloriosa do meigo e simples Povorello, Canindé, a humilde cidade sertaneja banhada pela luz ofuscante de um sol abrasador, reviveu muitos dias de alegrias festivas, de suaves harmonias espirituais, cantando louvores, celebrando homenagens em honra do seu querido padroeiro São Francisco das Chagas, que, pelos seus extraordinários favores e graças espirituais concedidas aos seus fiéis devotos, atrai ao seu vestuto templo milhares de peregrinos de longínquas paragens do Norte e Nordeste do Brasil. Durante o Ano Franciscano, muitas peregrinações de fraternidades da Ordem Terceira visitaram a Basílica de São Francisco, distinguindo-se, há um ano, a importante Peregrinação de Paraíba, que, pelo seu caráter regional e distinção dos seus ilustres diretores e piedade dos seus numerosos membros, deixou entre nós edificantes exemplos. Não menos impressão deixou-nos as distintas peregrinaçãos de Baturité e Fortaleza que, pela segunda vez, visitaram a Basílica de São Francisco, assistindo as solenidades de abertura e do encerramento do Ano Franciscano. Ambas compunham-se de piedosos elementos das fraternidades da Ordem Terceira dessas cidades, acompanhados de distintas famílias religiosas devotas ao culto do glorioso Santo. Raiou, finalmente, o dia 1º de Agosto, véspera da prodigiosa festa do Perdão de Assis ou da Porciúncula, dias de graças e favores alcançados por intercessão de São Francisco em benefício dos pobres pecadores arrependidos. O aspecto maravilhoso de Santa Maria dos Anjos em Assis se patenteou na Basílica de São Francisco em Canindé. As estradas e caminhos se encheram de peregrinos, confiantes nas promessas do imortal Patriarca. A cidade tomou desde logo um ambiente festivo e encantador e os seus habitantes se prepararam para receber as peregrinações anisiosamente esperadas. Às 10 horas, começaram a chegar os primeiros autos e, mais tarde, diversoso autocaminhões repletos de peregrinos de Fortaleza, que vieram acompanhados dos reverendos Frei Pedro Sinzig, O.F.M.e Frei Cirilo de Bergamo. O.F.M.cap. Duas horas depois, chegaram também, em automóveis e auto-caminhões, os peregrinos de Baturité, que vieram dirigidos pelo virtuoso ministro da Ordem Terceira, senhor Coronel Ananias Arruda, redator proprietário do semanário católico “A Verdade”, e o reverendo Padre Pinheiro S.J. De Maranguape, Sobral, Boa Viagem, Quixeramobim, Quixadá, Crateús, Santa Quitéria e outros municípios vieram grupos de peregrinos em auto-caminhões, a cavalos e outros, mais huimildes, palmilharam, a pés, longas e esfalfantes caminhadas; todos se dirigiram à Canindé, inspirados pela fé e confiados na caridade do Serafim do Amor, em busca do perdão para suas culpas, amparo para as suas necessidades e feliz êxito para as suas nobres aspirações. A Basílica de São Francisco em Canindé transformou-se numa sagrada piscina de graças e favores, onde os tíbios da alma e do corpo vem buscar fortaleza e saúde; onde os amargurados e desditosos vão procurar suavidade e paz para seus corações atribuladas nas lutas e penas da existência. Às 15 horas, as peregrinações, em procissão, conduzindo os seus estandartes, ao som de harmoniosos hinos sacros, fizeram a sua entrada triunfal na Basílica de São Francisco, sendo recebidas pela Ordem Terceira desta cidade, pregando no ato solene o nosso digno Vigário rrverendo Frei Lucas Vonnegut, que dissertou sobre a grandiosa festividade. Após o sermão, teve lugar a bênção do Santíssimo Sacramento, que foi assistido por notável número de fiéis.
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Logo depois, os peregrinos visitaram a Casa dos Milagres e a igreja de Nossa Senhora das Dores. Às 16 horas, realizou-se na Basílica de São Francisco a solene ceremônia da abertura da Porciúncula, que foi assistida por todos os peregrinos e grande multidão de povo. À noite, no salão da Escola Paroquial, os alunos e alunas dos Colégios de São Francisco e de Santa Clara promoveram uma sessão lítero-musical em homenagem às peregrinações, que tebe notável comparecimento dos peregrinos e distintas famílias. No dia 2, às 6 horas, houve missa cantada pelo coro do Colégio de São Francisco, celebrando solenemente o reverendo Frei Pedro Sinzig, servindo de diácono e subdiácono, os reverendos Frei Cirilo de Bergamo e Frei Romualdo Krumpelmann. Ao Evangelho, pregou e reverendo Frei Cirilo, que em entusiástico sermão falou sobre a personalidade de São Francisco de Assis. À mesa eucarística compareceu grande número de devotos do amado Taumaturgo de Assis, implorando as graças do Perdão de Assis. Logo ao terminar a missa solene, os peregrinos visitaram a Casa de São Francisco e os Colégios dos órfãos. Às 13 horas, celebrou-se na Basílica a bênção do Santíssimo Sacramento, assistida pelas peregrinações, pregando o reverendo Padre Pinheiro S.J. Em seguida, os peregrinos se dirigiam aos hotéis Globo, Familiar e São Francisco, e se prepararam para a viagem de regresso aos seus lares, que teve lugar às 14 horas, após uma ligeira despedida pela cidade. Às 18 horas, realizou-se na Basílica o solene Te Deum e a bênção do Santíssimo, como encerramento da festa da Porciúncula e do Ano Franciscano.
2ª PARTE A IGREJA CATÓLICA NO CEARÁ DIVISÃO ECLESIÁSTICA DO CEARÁ Pag. 51 Sob a jurisdição da Diocese do Maranhão esteve o Ceará nos tempos primitivos e depois, sob a de Pernambuco, desde que dele se apoderou o domínio holandês. Desmembrado de Pernambuco pela Lei n. 693 de 10 de Agosto de 1853, e pela Bula – Pro animarum salute, de 6 de junho de 1854, foi criado o Bispado do Ceará, que foi elevado a Arcebispado Metroipolitano pela Bula – Catholica Religionis Bonum, de 10 de Novembro de 1915. No Governo eclesiástico do Ceará, de 1854 até o presente, tem se sucedido os seguintes prelados: 1º Dom Luiz Antonio dos Santos, apresentado pelo Governo Imperial a 28 de Fevereiro de 1859, e confirmado pela Santa Sé a 28 de Setembro de 1860, e sagrado em Marianna a 14 de Abril de 1861. 2º Dom Joaquim José Vieira, apresentado pelo Governo Imperial a 3 de Fevereiro de 1883, e confirmado pela Santa Sé a 9 de Agosto do mesmo ano, sagrado na cidade de Campinas, São Paulo, a 9 de Dezembro de 1883. 3º Dom Manuel da Silva Gomes, nomeado pela Santa Sé , bispo titular de Mopsuestia e auxiliar do Ceará, a 11 de Abril de 1911, e sagrado na Bahia a 29 de Outubro do mesmo ano. Pag. 52 DOM LUÍS ANTONIO DOS SANTOS
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1º Bispo do Ceará, nasceu em Angra dos Reis, Estado do Rio, a 3 de Março de 1817, foi aluno do Seminário de Jacuacanga da dita cidade e, mais do de Caraça em Minas Gerais, sendo ordenado presbíterio a 21 de Setembro de 1841. Criado o Bispado do Ceará em 1854, foi nomeado Bispo desta diocese em 1859, sendo sagrado em Marianna em Abril de 1861. Inaugurado o novo Bispado a 16 de Junho de 1861, tomou posse como seu legítimo procurador o Cônego Antonio Pinto de Mendonça, assumindo Dom Luís a administração da Diocese, a 29 de Setembro do mesmo ano, celebrando a sua 1ª Missa Pontifical a 8 de Dezembro de 1861. Nomeado Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, por decreto de 15 de Novembro de 1879, que foi confirmado no consistório de 13 de Maio do ano seguinte, passou o governo da Diocese a 11 de Agosto desse ano, ao Vigário Capitular Hipólito Gomes Brasil. Em 1888, foi agraciado com o título de Marques de Monte Pascoal, falecendo a 11 de Março de 1891. DOM JOAQUIM JOSÉ VIEIRA 2º Bispo do Ceará, nasceu a 17 de Janeiro de 1831 em Itapetininga, São Paulo, e ordenouse presbítero a 25 de Março de 1860. Nomeado bispo desta diocese a 9 de Agosto de 1883, chegou a Fortaleza a 24 de Fevereiro de 1884, recebendo o governo eclesiástico das mãos do Vigário Capitular Monsenhor Hipólito Gomes Brasil, que, como seu procurador, tomara posse do bispado a 22 de Novembro de 1883. Em 1908, devido a sua avançada idade e ao seu precário estado de saúde, teve como coadjutor no governo da diocese, Dom Manuel de Oliveira Lopes, bispo titular de Tabes, que, pouco tempo depois, foi transferido para a diocese de Maceió. Não podendo administrar regularmente a diocese, pediu novo auxiliar para auciliá-lo no seu ministério apostólico. Sendo nomeado Dom Manuel da Silva Gomes, bispo titular de Mopsuestia, que foi sagrado em Abril de 1911. Alquebrado de forças pelos sofrimentos de sua velhice, resignou a diocese e seguiu para a cidade de Campinas, São Paulo, a 19 de Abril de 1914, depois de haver governado com o máximo brilho esta diocese durante 25 anos, todos empregados em assinalados serviços e inestimáveis obras em favor do bem espiritual das almas. Em santa resignação este virtuoso e estimado prelado, faleceu na Santa Casa de Campinas, a 8 de Dezembro de 1917. Pag. 53 DOM MANUAL DA SILVA GOMES 3º Bispo, Arcebispo Metropolitano do Ceará, nasceu na cidade de São Salvador, da Bahia, a 14 de Março de 1874, sendo os seus pais, Juvêncio da Silva Gomes e dona Elvira Pinto da Silva Gomes, ambos já falecidos. Entrou para o Seminário da Bahia em Fevereiro de 1886, recebendo o prebiterato a 15 de Novembro de 1896. Foi lente desse Seminário durante alguns anos, ocupando também o cargo de Capelão da igreja do Sagrado Coração de Jesus da Catedral da Bahia quando foi nomeado bispo titular de Mopsuestia e coadjutor da diocese do Ceará, em Abril de 1911. Em 1912, com a resignação de Dom Joaquim, tomou posse da diocese do Ceará, que, pela Bula de 10 de Novembro de 1915, foi elevada a categoria de Arcebispado Metropolitano, compreendo os bispados do Crato e Sobral. Durante os 15 anos do seu operoso apostolado no Ceará, Dom Manuel tem fundado notáveis obras sociais católicas, cuja ação vem trazendo admiráveis benefícios morais e materiais na Arquidiocese. Sob a influência de sua abnegação apostólica, foram fundadas diversas sociedades católicas, como sejam: Círculo Católico de Operários, Liga das Senhoras Católicas, Patronato das Moças Pobres, Liga das Vocações Sacerdotais, União dos Moços Católicos, Beneficência da Santa Casa de Misericórdia, Instituto Bom Pastor, Banco Popuar São José e o diário católico “O 21
Nordeste”, e mais algumas escolas primárias para meninos pobres, e colégios de ensino primário e superior para educação da mocidade. A ação tenacíssima de Dom Manuel, não esmorece e nem distrai-se do seu objetivo máximo que é beneficiar moral e materialmente a sua Arquidiocese. Ainda no ano de 1925 a excia. Rvdma. esteve em Roma, em visita ad limina, à Santa Sé, no nobre intuito de expor a Sua Santidade Papa Pio XI, as necessidades de seu ministério apostólico, procurando obter os meios precisos ao seu contínuo desenvolvimento. Nessa missão apostólica, sua excia. Rvdma. encontrou bons auxiliares nas pessoas dos rvds. Monsenhores Joaquim Mello e Antonio Tabosa Braga, que tem sido incansáveis nos seus elevados encargos de monistros esforçados e virtuosos. Nessa visita Sua. Excia. Rvdma. , no zeloso intuito de obter maiores favores espirituais em benefício dos numerosos peregrinos que visitam anualmente ao célebre Santuário de São Francisco das Chagas, suplicou e alcançou da Santa Sé a graça especial de conceder à Igreja Matriz da paróquia de Canindé o título e dignidade de Basílica Menor com os mesmos privilégios e honra que, segundo o costume, competem às Basílicas Menores de Roma. A pobreza é a nossa herança, ganha e deixada a nós por Jesus Cristo Nosso Senhor, a nós e a todos os que, à imitação dele, querem viver na santa pobreza. São Francisco Pag 55 DOM QUINTINO R. DE OLIVEIRA 1º Bispo da diocese do Crato, nasceu na freguesia de Quixerambim a 31 de Outubro de 1863, e ordenou-se a 1º de Junho de 1887. Foi coadjutor da paróquia de Missão Velha (1887), Vigário da paróquia de Iguatu (1889), passando pouco tempo depois, a trabalhar no Seminário menor de Crato, onde dedicou-se com esmero à formação de novos levitas para o ministério sagrado da Igreja. Em Maio de 1900, substituiu a Monsnhor Antonio Alexandrino de Alencar, como vigário da paróquia de Crato e nesse posto permaneceu longos anos, quando a 10 de Maio de 1915, foi escolhido bispo da Diocese do Crato, sendo sagrado na Catedral da Bahia, a 31 de Outubro do mesmo ano, tomando posse de sua diocese a 1º de Janeiro de 1916. Desta data até hoje, sua excia.rvdma. tem sido dedicado impulsor do progresso do Crato. A custa de muita energia e abnegação, sua excia. tem conseguido muitos melhoramentos úteis aos seus diocesanos. A sua ação esforçada para fazer5 sempre o bem, tem produzido inestimáveis obras sociais destinadas à instrução e educação da mocidade. Entre as quais destacam-se: po Colégio Diocesano, o Seminário Menor, o Colégio Santa Tereza de Jesus, a Congregação das Filhas de Santa Tereza, Ordem diocesana para direção do mesmo Colégio, o “Banco Agrícola do Cariri”, o semanário católico “A Região” e o “Boletim”, órgão da diocese. Pag 56 DOM JOSÉ TUPINAMBÁ DA FROTA 1º Bispo da diocese de Sobral, nasceu na cidade do mesmo nome, a 10 de Setembro de 1882. Feitos os seus estudos preparatórios no Seminário da Bahia, seguiu para Roma e entrou no Colégio Pio Latino Americano, onde fez os estudos superiores, ordenando-se presbítero em 1906. Na capela daquele Colégio celebrou a sua primeira Santa Missa a 30 de Outubro de 1906. Logo depois, entrou na Universidade Gregoriana. Doutorando-se em Filosofia em 1902 e em Teologia em 1905. Depois de alguns meses de demora em São Paulo, voltou ao Ceará, recebendo a 10 de Fevereiro de 1908, a provisão de Vigário da Paróquia de Sobral, em cuja zelosa e sforçada direção permaneceu muitos anos, empenhando-se em notáveis trabalhos necessários ao desenvolvimento moral, intelectual e material de sua florescente paróquia, quando mfoi escolhido para bispo dessa 22
nova diocese. Eleito a 20 de Janeiro de 1916, foi sagrado na Catedral da Bahia a 29 de junho, tomando posse da sua diocese a 22 de Julho do mesmo ano. Sua Excia. Rvdm., que é doutor em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana, é um dos espíritos mais brilhantes e mais cultos do clero nacional. A sua operosa hestão na diocese de Sobral tem sido bastante proveitosa e fecunda em diversas obras sociais de caridade, instrução e educação religiosa. Sob os auspícios da benemérita proteção de sua excia. rvdma. foi fundado o Colégio de Nossa Senhora da Assunção, para a instrução e educação de meninas e moças; foram criadas várias associações católicas, como sejam: Círculo Católico de Operários, Ordem Terceira Franciscana, Apostolado da Oração, Senhoras de Caridade, Liga das Vocações Sacerdotais e a União de Moços Católicos. Como representante da boa imprensa, mantém o semanário católico “Correio da Semana”, que tem prestado relevantes serviços na defesa dos direitos da Igreja. Ultimamente, a excia. rvdma., animado de abnegado ardor de caridade em favor de seus diocesanos, fez construir um magnífico prédio, onde instalou uma bem organizada Santa Casa, que está confiada à direção das piedosas Irmãs de Sant´Ana. Por último, construiu um magnífico prédio para sede do palácio espiscopal que é considerado o mais importante do Norte do Brasil. Ciente da urgente necessidade de párocos em diversas paróquias de sua Diocese, sua excia. Rvdma, construiu no subúrbio Betânia, próximo à cidade de Sobral, um excelente prédio onde funciona há 3 anos o Seminário Diocesano, com grande proveito para as vocações sacerdotais de seus queridos diocesanos. ARCEBISPADO METROPOLITANO FE FORTALEZA O antigo Bispado do Ceará, criado pela Lei Estadual n. 693, de 10 de Agosto de 1853, e confirmado pela Bula - pro animarum salute , de 6 de junho de 1854, foi elevado a Arcebispado Metropolitano, pela Bula – Catholica Religionis Bonum, de 10 de Novembro de 1915, tendo como dioceses sufragâneas os bispados do Crato e Sobral. Arcebispo Metropolitano – Dom Manuel da Silva Gomes. Vigário Geral – Monsenhor Antonio Tabosa Braga, Protonotário Apostólico. Conselheiros Arquidiocesanos – Monsenhor Antonio Tabosa Braga, Liberato Dyonísio da Costa, Cônego Climério Chaves, padres José Barosa de Magalhães, Octávio de Castro e o Monsenhor João Alfredo Furtado. ----CÚRIA METROPOLITANA Secretário: - Padre Raymundo Hermes Monteiro Promotor: - Monsenhor João Dantas Ferreira Lima Escrivão: - Francisco de Assis Guimarães Examinadores pro-synodais: - Monsenhor Manuel Cândido dos Santos, padres João Augusto da Frota e Dr. Misael G. da Silva. Párocos Consultores: - Monsenhor Manuel Cândido dos Santos, padres Joaquim Rosa, Rodolpho Ferreira da Cunha e Luiz de Carvalho Rocha. Vigários Forâneos: - Monsenhor Manuel Cândido dos Santos, Bruno Rodrigues de Figueiredo, José Cândido Queiroz Lima e Caião Porfírio Sampaio. Pag. 58 ARQUIDIOCESE DE FORTALEZA A Diocese do Ceará, criada por lei do Governo Imperial número 693, de 10 de Agosto de 1853, e confirmada pela Bulla – Po animarum salute, de 6 de Junho de 1854, foi elevada à 23
Arquidiocese pela Bulla Catholica Religionis Bonum, de 10 de Novembro de 1915, desmembradas de seu território as dioceses de Sobral e Crato, suas sufragâneas. A população da Arquidiocese é aproximadamente, segundo os dados do último recenseamento civil, seiscentosmil habitantes, mais ou menos a metade do Estado. Tem 40 paróquias, sendo destas três na Capital. A Arquidiocese tem o seu Seminário próprio, edifício de estilo moderno, com dois andares, muito confortável e dotado de todas as exigências da higiene. Foi edificado em 1864 pelo 1º Bispo Dom Luiz Antonio dos Santos, auxiliado pelo Padre Pedro A. Chevalier, seu 1º reitor, e pelo cel. José Albano – o Barão de Aratanha. A direção do Seminário foi, desde o seu início, confiada aos sacerdotes da Missão, os padres lazaristas, os quais são sempre auxiliados por sacerdotes seculares da Arquidiocese. A matrícula tem sido sempre grande, atingindo, às vezes, mais de cem alunos, compreendendo os dois cursos teológico e preparatório. Há na Fortaleza, três pensionatos dirigidos por religiosos: um para jovens, o Colégio Cearense dos Irmãos Maristas, com a matrícula de 300 alunos; e dois para meninas e moças, Imaculada Conceição, dirigido pelas Irmãs da Caridade e o de Nossa Senhora do Sagrado Coração, das Irmãs Doroteas, ambos equiparados à Escola Normal Oficial do Governo. Todos estes educandários recebem alunos internos, semi internos e externos. O Colégio da Imaculada Conceição, o mais antigo do Ceará, mantém um orfanato interno, uma Escola Dominical e mais um Externato diário para crianças pobres. Existem ainda outros estabelecimentos de ensino sob os auspícios do Arcebispado como sejam: Escoila PioX, seção noturna, dirigida pelso revcerendos padres Capuchinhos Lombardos e Terceiros Franciscanos, com ensino gratuito para meninos e moços, com a matrícula de 650 alunos; e seção diuna para meninas, dirigida pelas Terceiras Franciscanas, com a matrícula de 320 alunas. Está instalado em prédio próprio, de edificação moderna, mantendo no andar térreo, um magnífico salão com teatro e cinema, muito frequentado pelas famílias católicas de Fortaleza. A Escola da Sagrada Família, dirigida pelas Irmãs da Caridade. Tem prédio próprio com edificação elegante e vasta, fundada por Dom Joaquim J. Vieira, 3º Bispo do Ceará, de saudosa memória. A escola São Geraldo, mantida pela Arquidiocese em prédio próprio, dirigida por senhoras piedosas para ensino de meninos e meninas pobres. A do Instituto “Epitácio Pessoa”, escola noturna para adultos, mantida pela Arquidiocese e dirigida pela Associação de Moços Católicos Cavalheiros de Cristo, funcionando em prédio recentemente construído pelo povo do Ceará em homenagem de gratidão ao insigne brasileiro Dr. Epitácio Pessoa e oferecido à Arquidiocese. A do Círculo de Operários e Trabalhadores Católicos São José, escola naturna dirigida pelos sócios operários mais instruídos com a assistência do reverendo padre Gumercindo Sampaio, professor do Seminário. Esta sociedade católica mantém ainda oficinas de sapataria e carpintaria, um excelente cinema e teatro que funcionam num grande prédio de construção moderna, construído na praça Cristo Redentor, onde foi erigida uma grande cluna com a imagem do Redentor, em vomemoração do Centenário da nossa Independência. Esta coluna comemorativa mede 34 metros de altura, tendo no alto um grande relógio e foi levantada por iniciativa dos Operários do Círculo com a cooperativa do povo do Ceará. O “Patronato Maria Auxiliadora”, das operárias e mocinhas pobres, mantém uma escola de aprendizagem de trabalhos domésticos, dirigida pelas Irmãs de Caridade da Santa Casa de Misericórdia sob os auspícios do Arcebispo de Fortaleza. _____ OBRAS DE ASSISTÊNCIA PÚBLICA
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A “Santa Casa de Misericória”, Instituição leiga dirigida pelas Irmãs de Caridade, mantida pela caridade pública e subvencionada pelo Governo do Estado, tendo como Provedor perpétuo o exmo. Revmo. Senhor Arcebispo de Fortaleza. As “Senhoras de Caridade”, que levam o socorro à casa do doente e do necessitado, tem a sua sede no edifício da Escola da Sagrada Família, sob a direção do reverendo padre Guilherme Waessen. Constitue esta associação um poderoso elemento de assistência aos pobres envergonhados e é constituída por mais de 400 senhoras da elite social de Fortaleza. O “Asilo de Alienados”, dependente da Santa Casa, funciona num grande prédio em Porangaba, subúrbio da Capital, também dirigido pelas Irmãs de Caridade. O “Dispensário dos Pobres”, abnegada instituição católica sob a direção das Irmãs de Caridade, socorrendo a milhares de pobres, mantida pela caridade pública. À Liga das Senhoras Católicas se deve a construção de 40 casinhas para pobres que nelas moram gratuitamente. O “Asilo do Bom Pastor”, edifício novo edificado pela caridosa benemerência de um distinto católico que o ofereceu ao patrimônio do Arcebispado, dirigido pelas Irmãs do Bom Pastor destinado a acolher mulheres decaídas que arrependidas de sua vida desairosa se recolhem para fazer penitência. A “Maternidade”, instituição leiga que funcionava numa dependência da Santa Casa. Hoje, já funciona em edifício próprio. A sua direção é confiada a religiosas e mantida pela caridade pública. A “Assistência a Infância Desvalida”, instituição leiga que funciona em prédio próprio mantida pela caridade pública e dirigida pelas Irmãs Capuchinhas. O “Asilo de Mendicidade”, instituição leiga com assistência religiosa, mantida pela caridade pública e dirigida por um administrador nomeado pela mesa regedora, dedicado ao abrigo da velhice indigente e desamparada. OBRAS DE AÇÃO CATÓLICA A Arquidiocese mantém o “Boletim Arquidiocesano”, o jornal de informações para o Clero, no qual saem publicados os atos da Santa Sé e do Governo Arquidiocesano. A “Empresa Editora São Francisco das Chagas”, recentemente fundada, que é mantida por círculos de cooperadores católicos, associações religiosas e o ilustre clero da Arquidiocese e Dioceses do Estado. É dirigida pelo senhor Ananias Frota mantém uma importante livraria para venda de livros ascéticos, romances de boa leitura, devocionários, objetos do culto religioso e artigos para presentes e escritório. A Empresa adquiriu o diário “O Nordeste”, dando-lhe melhor orientação e desenvolvimento em duas edições diárias, de modo a servir melhor os seus numerosos leitores. Esta folha que tem grande circulação no Estado, é redacionado pelos distintos católicos doutores Andrade Furtado , José Martins Rodrigues, Luiz Sucupira e Vasco M. Furtado. O “Crédito Popular São José”, Banco Católico Cooperativo, fundado sobre os auspícios da Arquidiocese, pelo senhor Antonio Ildefonso de Araújo. Esta instituição econômica, com 6 anos de existência, tem tido um desenvolvimento animador. Instalada com 22 contos de réis apenas, apresenta atualmente um admirável desenvolvimento superior a 3 mil contos. Desde o seu início tem dado um dividendo superior a 18%. Felizmente tem correspondido os intuitos dos seus fundadores, emprestando dinheiro às classes pobres a 3% ao ano, elebando-se no máximo a 12%, a taxa dos grandes empréstimos. Fundou uma vila operária, chamada “Vila Dom Manuel”, composta de 40 casinhas, destinadas aos operários do “Círculo São José”, que, a troco de um pequeno aluguel, passam de inquilinos a proprietários no espaço e 8 a 9 anos. Já começou a edificar casas melhores para funcionários públicos, no mesmo sistema de pagamento. O “Patronato” das operárias e mocinhas pobres, dirigido pelas Irmãs de Caridade e mantido pela “Liga das Senhoras Católicas”, com a matrícula de mais de 400 mocinhas externas que frequentam este estabelecimento, recebendo o ensino de trabalhos manuais e economia doméstica.
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Esta instituição tem assistência médica gratuita exercida pelo Dr. Ancelmo Nogueira, distinto católico que presta também seus serviços médicos gratuitamente na redação do “O Nordeste”. A “Associação dos Moços Católicos Cavalheiros de Cristo” há 4 anos fundada pelo zeloso apóstolo do Bem, reverendo Monsenhor Antonio Tabosa, digníssimo Vigário Geral da Arquidiocese, funciona no 2º andar do elegante prédio do “Instituto Epitácio Pessoa”. Esta associação continua em franco progresso e vai realizando notável ação social católica, inaugurando ultimamente um curso de apologética regido pelo ilustrado franciscano reverendo Frei Pedro Sinzig, O.F.M. O “Círculo de Operários e Trabalhadores Católicos São José” fundado em 1915, pelo virtuoso lazarista reverendo padre Guilherme Waessen, com mais de 800 sócios, mantendo uma escola primária para ensino dos seus filhos, uma mutualidade, uma cooperativa em benefício de seus associados e uma regular banda de música. A “União do Clero”, sociedade beneficente constituída de sacerdotes e clérigos, fundada em 1884, funciuonando em prédio próprio. Os fins da sociedade são: prestar apoio moral aos associados; manter uma sala de leitura e palestra, onde os sócios possam alargar os seus conhecimentos e encontrar diversões; socorrer os sócios indigentes, privados de uso de ordens por doença ou velhice; dar hospedagem aos sócios itinerantes e conveniente asilo aos sócios que se acharem na indigência. Cada sócio é obrigado a celebrar uma missa pelo que faleceu e a sociedade manda celebrar mais dez. A “União” abrange o clero da Arquidiocese e das Dioceses do Crato e Sobral. -----ESCOLA PIO X A Escola Pio X destina-se à instrução e educação dos pobres filhos do povo cearense. Foi inaugurada no dia 3 de Agosto de 1908, pelo Exmo. Rvmdo. Senhor Dom Jeronymo Thomé da Silva, saudoso Arcebispo Primaz da Bahia, constando então de um edifício vasto e arejado, porém, tosco e humilde. Mesmo assim, custou aos reverendos padres Capuchinhos de Fortaleza inúmeros sacrifícios pecuniários e morais, pois, a família cearense muito generosamente os auxiliou;tiveram eles que lutar contra a má vontade de alguns que não queriam compreender o alcance da benemérito instituição. Na Escola Pio X funcionam duas aulas, diurna e noturna, para meninas e meninos, e nestas aulas encoinam-se noções de Catecismo e rudimentos de ciência e inúmeras das mais desvalidas crianças. Nos 17 anos de sua existência já matriculou 9.215 alunos e 4.972 alunas! Realizou milhares e milhares de primeiras comunhões! Graças aos esforços heroicos do Reverendíssimo Frei Marcelino de Milão, o prédio da Escola Pio X está hoje reformado, apresentando aspecto moderno e confortável. A ação da Escola Pio X dilatou-se mais, ou antes dilatou-se extraordinariamente. Possue agora um ótimo aparelho de cinematografia, e assim, além de proporcionar aos habitantes de Fortaleza diversões lícitas, proporciona também aos seus alunos ótimas sessões catequistas com projeções luminosas, tornando muito atraente e proveitoso o ensino religioso. Para o bom resultado deste ensino está organizada para os professores e professoras uma Congregação de Doutrina Cristã, que funciona regularmente, com grande proveito para a piedade, pois promove comunhões mensais, e até mais frequentes entre os meninos e meninas. A Escola Pio X é a sede do Grêmio Pio X, sociedade composta quase exclusivamente de Terceiros Franciscanos que tomaram a peito a representação de comédias e dramas moralizadores e cristãos. Tem tido o mais franco êxito o Grêmio Pio X. Protegida pelo Exmo. Senhor Arcebispo, pelo Governo do Estado, que sempre lhe tem dispensado carinhoso amparo, auxiliada principalmente pela generosidade proverbial da família cearense, a Escola Pio X tem promovido um bem imenso nas classes pobres de Fortaleza. Fornece aos seus alunos e alunas, livros, penas, papel, tinta, roupa muitas vezes, e algumas vezes sapatos. Organiza festas recreativas e dramáticas, passeios anuais, merendas, leilões de
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prendas. Até possue uma pequena mutuária que auxilia os mais necessitados, quando doentes e quando morrem. E todo esse bem se realiza sob a direção dos Padres Capuchinhos de Fortaleza, coadjuvados por professores e professoras que gratuitamente prestam seus serviços aos pobres. São deveras abnegados estes professores e professoras, pois não é pequeno sacrifício instruir e educar crianças desasseiadas, rudes, ingratas muitas vezes. Tudo se faz, porém, por amor de Deus, e com as bênçãos de São Francisco de Assis. Até agora foram diretores da Escola Pio X, os Reverendíssimos Frei Miguel Origgio, Frei Roberto de Castellanza, Frei Silvério de Milão, Frei Cherubim Maria e Frei Marcelino de Milão. Atualmente, Frei Marcelino de Milão está sendo substituído pelo reverendíssimo Frei Mansueto de Peveranza. EXTRAORDINÁRIO DESENVOLVIMENTO DAS UNIÕES DE MOÇOS CATÓLICOS NO BRASIL Solicita-nos o “Centro da Boa Imprensa” a publicação da nota que se segue, sobre o desenvolvimento das Uniões de Moços Católicos: Os jornais católicos noticiaram a fundação no Rio de Janeiro, de duas Uniões de Moços Católicos. Que vem a ser isso? Um fenômeno responderíamos .... Foi em Novembro de 1915, que surgiu em Belo Horizonte a União dos Moços Católicos, tendo uma origem muito semelhante à das Conferências Vicentinas, quanto à modéstia que envolveu a sua gênese. Ozanam, para fundar as Conferências, contou com três companheiros: Olyntho Orsini de Castro, para fundar as Uniões, contou com quatro. Já foi melhor... Também nunca entre nós uma instituição católica se desenvolveu com tamanha repidez. Hoje, dez anos decorridos, as Uniões dos Moços Católicos são cento e dez, e agrupam cerca de doze mil jovens. Mas, que são elas? Uma instituição de “ação social” tendo por campo de atividade a juventude estudiosa. É composta de estudantes a maioria de seus membros, o que lhe dá um cunho acentuado de intelectualidade. As suas sessões elevam; os moços em vez de fugir delas, aguardam-nas com ânsia. Manteem ótimas bibliotecas, salões de jogos lícitos, departamento de ginástica e guardam, no Brasil, o campeonato da Imprensa católica. Visto como já fundaram, em breve espaço de tempo, nada menos de doze jornais. A elas pertencem homens como o ex-ministro da Justiça, o atual presidente de Minas Gerais, etc. Existindo já em quase todos Estados, faltava o seu ingresso na capital da República, oq eu se deu agora, graças aos esforços incansáveis do seu fundador e principal mantenedor, Dr. Olyntho Orsini de Castro, médico e professor da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. As Uniões de Moços Católicos tem transformado o aspecto religioso das localidades inde se fundam e, quase sempre, se transformam em braços diretos dos vigários, pata tudo quanto diz respeito à ação social católica. O seu prodigioso desenvolvimento e vitalidade constituem, sem dúvida, o fato preponderante da vida católica destes últimos anos no Brasil. O PROGRAMA DA UNIÃO DE MOÇOS CATÓLICOS NO CEARÁ – A União de Moços Católicos de Fortaleza A União de Moços Católicos de Fortaleza foi fundada em 1924, pelo virtuoso e abnegado sacerdote reverendo senhor monsenhor Antonio Tabosa Braga, digníssimo Vigário Geral desta Arquidiocese, e que continua atualmente à frente da sua direção espiritual, prestando-lhe relevantes serviços ao seu notável progresso. A sede desta futurosa e patriótica sociedade, está instalada no magnífico edifício, denominado, “Instituto Epitácio Pessoa”, prédio moderno e artístico, construído em justa homenagem ao ilustre Nordestino, que, na presidência da República, prodigalizou valiosos benefícios à população nordestina.
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A DIREÇÃO ELEITA PARA O ANO DE 1926 Presidente: - Alfredo Eugênio de Souza Vice-Presidente: - Oseas Rodrigues da Silva Secretários: - Antonio da Silva Farijós e João B. Menescal Tesoureiros: - Ananias F. Vasconcelos e José G. Valente Oradores: - Lincol Mourão Mattos e Manuel A. Santos Bibliotecários: - José C. Bastos e Demosthenes G. Moraes Comissão de Sindicância: - Pedro de Castro Menezes, Arlindo Moreira da Silva e Antonio Assis Távora Comissão de Finanças: - Antonio Banhos Sobreira, Coriolano Barbosa Ramos e Gervásio Ferreira de Araújo Número de sócios em 28 de Fevereiro de 1926: 320 sócios efetivos, 26 benfeitores, 2 beneméritos e 5 aspirantes. Sessões Ordinárias: - Há duas sessões gerais por mês: aos primeiros e terceiros domingos, às 15 horas e uma sessão da Diretoria, aos segundos sábados e uma aula de Apoligética aos domingos. A frequência dos sócios é animadorea, sobe algumas vezes a 120 moços. OBRAS MANTIDAS PELA SOCIEDADE A sociedade mantém as seguintes obras: Tem uma biblioteca com 300 volumes, cuja frequência dos sócios é bastante regular. Mantém uma seção de diversões lícitas, uma aula de religião ministrada pelo seu assistente eclesiástico e sustenta a “Escola Sagrado Coração de Jesus”, gratuita para rapazes pobres, cuja matrícula sobe a 120 alunos. PAÓQUIAS DA ARQUIDIOCESE DE FORTALEZA I – Fortaleza, Paróquia de São José: Pároco Padre Luiz de Carvalho Rocha II – Fortaleza, Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio: Pároco Padre Geminiano Bezerra III – Fortaleza, Paróquia de Nossa Senhora do Carmo. Pároco Monsenhor Antonio Tabosa Braga IV – Areias: Anexada à paróquia de União, Padre Antonio da Graça Martins V – Aquiraz: Pároco Padre Dr. Eduardo Araripe VI – Aracati: Pároco Monsenhor Bruno Rodrigues da Silva Figueoredo VII – Araciaba> Pároco Padre Francisco Lima VIII – Beberibe: Pároco Padre Antonio Pereira da Graça Martins IX – Baturité: Pároco Monsenhor Manuel Cândido dos Santos X – Boa Viagem: Pároco Monsenhor José C. de Queiroz Lima XI – Cachoeira: Pároco Padre Francisco de Assis Monteiro XII – Canindé: Pároco Frei Lucas Vonnegut O.F.M. XIII – Coité: Pároco Padre Paulino S.J. XIV – Conceição da Serra: Anexada à Paróquia de Pacoti XV – Cascavel: Pároco Padre José Bruno XVI – Itapipoca: Pároco Padre Aureliano Matos XVII – Jaguaribe-Mirim: Pároco Padre Isaac Antero Soares XVIII – Limoeiro: Pároco Padre Vital Gurgel Guedes XIX – Morada Nova: Pároco Padre Manuel de Lucena XX – Maranguape: Pároco Padre Joaquim Rosa XXI – Maria Pereira: Pároco Padre Pedro Leão P. de Andrade XXII – Messejana: Pároco Padre José J. Severiano de Vasconcelos XXIII – Mulungu: Paroco Padre Alexandre Monteiro XXIV – Pacatuba: Pároco Frei Cirilo de Bérgamo O.F.M.cap XXV – Pentecoste: Anexada à Paróquia de Arraial XXVI – Porangaba: Pároco Padre Rodolfo Ferreira da Cunha 28
XXVII – Pereiro: Pároco Padre Miguel Xavier de Moraes XXVIII – Pacoti: Pároco Padre José de Lima Ferreira XXIX – Pedra Branca: Anexada à Paróquia de Senador Pompeu XXX- Quixadá: Pároco Padre João Lucas Heuser XXXI – Quixeramobim: Pároco Padre Dr. Aureliano Mota XXXII – Redenção: Pároco Padre João Saraiva Leão XXXIII – Riacho do Sangue: Anexada à Paróquia de Cachoeira XXXIV – São Bento da Amontada: Pároco Padre Geral do P. Broders XXXV – São Bernardo de Russas: Pároco Padre Raymundo H. Monteiro XXXVI – São Francisco de Uruburetama: Pároco Monsenhor Catão Sampaio XXXVII – São João do Arraial: Pároco Padre José Solon XXXVIII – Senador Pompeu: Pároco Padre Francisco Lino Aderaldo XXXIX – Souré: Pároco Padre José Romualdo de Souza XL – Telha: Pároco Padre Godofredo Cândido dos Santos XLI – Trairi: Pároco Padre Edgar Saraiva Leão XLII – União: Paroco Padre Marcondes Cavalcante DIOCESE DE CRATO Criada pela bula Catholica Ecclesia, de 20 de Outubro de 1914, na cidade do Crato. Bispo: - Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva Vigário Geral: - Monsenhor Vicente de Alencar, pronotário apostólico e Camareiro do Papa. Promotor do Vínculo: - Padre Azarias Sobreira Lobo Secretário do Bispado: - Padre Joviniano Barreto Escrivão da Câmara: - Padre Manuel Feitosa Consultores Diocesanos: Monsenhor Vicente Sother de Alencar. Monsenhor Manuel Francisco da Frota, Cônego Climério Correia de Macêdo, Padre Emílio Leite Álvares Cabral. Párocos Consultores: - Monsenhor Francisco de Assis Feitosa, padres: Antonio Jatahy de Souza, Augusto Barbosa de Menezes, Horácio Texeira, José Coelho de Figueiredo Rocha e Miguel Tavares Campos. Censores Eclesiásticos: - padres Joviniano Barreto e Manuel Feitosa. PARÓQUIAS DA DIOCESE DE CRATO I – Curato da Sé – Crato: 29.774 hanitantes, Pároco: Monsenhor Francisco de Assis Feitosa, Sacerdotes rsidentes: Monsenhor Vicente Sother de Alencar, Monsenhor Joviniano Barreto, padres: Juvenal Collares Maia, Manuel Feitosa, Azarias Sobreira, Emílio Cabral, Francisco Pitta, Emygdio Lemos e Lauro Pitta. II – Araripe: 18.430 habitantes, pároco Padre Miguel T. Campos III – Assaré: 13.519 habitantes, pároco Padre José Correia Lima IV – Arneiroz: 7.952 habitantes, pároco Padre José Francisco de Oliveira V – Aurora: 12.453 habitantes, pároco Padre Vicente Augusto Bezerra VI – Barbalha: 19.000 habitantes, pároco Padre Antonio Jatahy de Souza VII – Bom Jesus de Quixelô: pároco Padre José Coelho de Figueiredo VIII – Cedro: 8.202 habitantes, pároco Padre Francisco Rosa IX – Icó: 15.065 habitantes, pároco Padre Raimundo Rolim de Moraes, Sacerdotes residentes: Monsenhor Manuel Francisco da Frota, Padre Dr. Francisco Anthero, Padre Manuel Hermes Monteiro. X – Iguatu: 19.108 habitantes, pároco Padre José Coelho de Figueiredo Rocha XI – Jardim: 12.979 habitantes, pároco Padre Manuel de Alcântara XII – Joazeiro: 32.050 habitantes, pároco Monsenhor José Alves de Lima, Sacerdotes residentes: Padre Cícero Romão Baptista e Cônego Climério Macêdo 29
XIII – Lages de Afonso Pena: 8.402 habitantes, pároco Padre Leopoldo Augusto Rolim XIV – Lavras: 16.350 habitantes, pároco Padre Raymundo Augusto Bezerra XV – Milagres: 23.350 habitantes: pároco Padre Alzir Sampaio XVI – Missão Velha: 16.425 habitantes, pároco Padre Horacio Texeira XVII – Saboeiro: 4.739 habitantes, pároco Padre José Francisco de Oliveira XVIII – Brejo dos Santos: 11.797 habitantes, pároco Padre Manuel Raymundo Nonato Pitta XIX – Cococy: 1.258 habitantes, pároco Padre José Ferreira Lobo XX – Flores: 2.346 habitantes, anexada à Paróquia de Cococy XXI – Sant´Anna do Cariri: 16.155 habitantes, pároco Padre José Correia Lima XXII – São Mateus: 16.477 habitantes, pároco Padre Pio Pinho de Oliveira XXIII – São Pedro do Cariri: 9.845 habitantes, pároco Padre Augusto Barbosa de Menezes XXIV – Tauá: 10.150 habitantes, pároco Padre José F. Ferreira Lobo XXV – Umary: 6.590 habitantes, pároco Padre Manuel Carlos de Moraes XXVI – Várzea Alegre: 10.350 habitantes: pároco Padre Raymundo Monteiro Dias. DIOCESE DE SOBRAL Criada por Sua Santidade Bento XV, pela bula Catholicae Religionis Bonum, de 10 de Novembro de 1915. Bispo: - Dom José Tupinambá da Frota Promotor do Bispado: Monsenhor Antonio Lyra Pessoa Martins População do Bispado: 500.000 habitantes, média de batizados anualmente: 16.000, média de casamentos 3.500. Seminário Menor – fundado em 1915, se acha instaladonum prédio novo em local apropriado e higiênico. Reitor: Padre Olavo Passos. O curso dos diversos anos de preparatório é frequentado por 35 alunos. Fazem curso de filosofia e teologia no Seminário de Fortaleza, 6 candidatos ao Sacerdócio. O Palácio Episcopal acaba de ser construído. PARÓQUIAS DA DIOCESE DE SOBRAL São 21, sendo duas na sede da Diocese e 19 no interior. I – Acaraú: pároco Padre José Arteiro Soares II – Aracati-Assú: vaga, encarregado Padre José Geraldo F. Gomes III – Camocim: pároco Padre José Augusto da Silva IV – Campo Grande: pároco Padre Nelson Mota V – Crateús: pároco Padre José Juvêncio de Andrade VI – Granja: pároco Padre Vicente Martins da Costa VII – Ibiapina: pároco Padre Antonio Cândido de Melo VIII – Independência: pároco Padre Francisco Felipe Fontenelle IX – Ipú: pároco Padre Gonçao de Oliveira Lima X – Ipueiras: pároco Padre Luiz Franzoni XI – Massapê: pároco Padre José Joaquim C. da Frota XII – Meruoca: pároco Padre Joaquim de Sales XIII – Palma: pároco Padre Januário Campos XIV – Sant´Anna: pároco Padre Francisco Araken da Forta XV – São Benedito: pároco Padre Luiz Firmino Nogueira XVI – Sant´Anna: pároco Padre Antonio Thomaz XVII – Tamboril: pároco Padre Manuel Vitorino de Oliveira XVIII – Tianguá: vaga, encarregado Padre José Carneiro da Cunha XIX – Viçosa: pároco Padre José Carneiro da Cunha 30
XX – Sobral, Curato da Sé: Cura Padre José Geraldo F. Gomes XXI – Sobral, Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio: pároco Padre Leopoldo Fernandes O QUE É A SOCIEDADE EDITORA SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS? Não faltava, na Arquidiocese de Fortaleza, um jornal genuinamente católico. Era “O Nordeste”, sob a direção do Dr. Andrade Furtado, auxiliado por companheiros qu seguiam a mesma orientação. “O Nordeste”. Porém, era empresa particular, não podendo, como tal, interessar tão largamente quanto era para desejar. Foi por isso que, com as bênçãos e a orientação de Dom Manuel da Silva Gomes, digníssimo Arcebispo de Fortaleza, se organizou a “Sociedade Editora São Francisco das Chagas Ltda”, tomando conta do dito jornal que passou a sair duas vezes por dia, da “Livraria Selecta” e do “Apostolado da Imprensa”, cujos membros divididos em círculos, propagam a ideia da imprensa católica e auxiliam a obra com um óbulo mensal de 200 reis para cima. A iniciativa de Dom Manuel foi acompanhada de visíveis bênçãos de Deus. “O Nordeste” conquistou lugar de primazia, sendo um dos pouquíssimos jornais no Brasil – ou talvez o único – com duas edições por dia. A “Livraria Selecta”, bem sortida, soube impor-se. Centenas de pessoas de ambos os sexos, compreendendo o alcance do jornal católico, passaram a fundar um “Círculo do Apostolado da Imprensa”, inscrevendo nele a quem quisesse rezar, todos os dias, uma Ave Maria pela obra. E contribuir, mensalmente, com a quantia ínfima de 200 reis, dando o Círculo por completo quando as contribuições chegarem a 5$000 por mês. É o administrador da “Sociedade Editora São Francisco das Chagas Ltda” que guarda o registro geral dos círculos, a quem, portanto, os nomes dos sócios são comunicados e quem, pela festa de São Francisco (4 de Outubro) distribue a todos os membros dos círculos um brinde anual. A obra das edições ficará para depois de novos melhoramentos do diário e da reorganização da tipografia, carecedora de novas máquinas. Contudo, além de postais de São Francisco, reproduzindo obras de arte brasileira, as edições foram inicadas com a publicação do excelente “Catecismo em Cânticos”, versos de Amélia Rodrigues e música de João Brasil, seguindo-se-lhe o livro apologético de E. Duplessy: “Os amigos de Agenor Madruga”, na versão de Justino Mendes. “O Nordeste”, hoje, é o “nosso jornal”, isto é, à plena disposição do elemento católico; (pag. 72 – A PARÓQUIA DE SÂO FRANCISCO DE CANINDÉ HISTÓRIA DO SANTUÁRIO Sobre o célebre e bem conhecido Santuário de São Francisco das Chagas de Canindé, além das notas históricas colecionadas pelo illustre cronologista Dr. Barão de Studart, sairam à luz da publicidade também dois pequenos fascículos: um com o título “Capela Milagrosa”, pelo illustre poeta cearense Álvaro Martins, editado em 1882, esboçando em resumidas páginas os pricipais fatos históricos do aludido Santuário. O outro opúsculo, publicado em 1900, intitula-se: “Santuario de São Francisco”, e devemólo à pena do nosso saudoso conterrâneo Prof. Augusto Rocha, que, em línguagem fluente, descreve em traços mais amplos os principais acontecimentos sobre a origem da devoção ao glorioso Patriarca São Francisco das Chagas, trazendo importantes documentos sobre a administração do mesmo Santuário, desde a sua fundação até a gestão dos Frades Capuchinhos. A leitura atenciosa que fizemos nesses dois fascículos, e em algumas notas informativas publicadas pelo abnegado capuchinho Frei Cirilo de Bergamo, no jornal “Santuario de São Francisco”, desta cidade, nos animou a refundir as memórias já existentes, completando-as com outras notícias posteriores, para publicá-las no “Album Comemorativo do 7º Centenario da Morte
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de São Francisco”, que, confiado na indulgência dos doutos, resolvemos publicar este ano, em homenagem ao imortal Patriarca de Assis. CANINDÉ, ORIGEM DO SANTUÁRIO Canindé, a bela e progressista cidade sertaneja, situada à margem esquerda do rio do mesmo nome, em 1775, era apenas um simples arraial, onde fora estabelecido anteriormente uma missão de indios denominados Canindés que, então, povoavam os sertões ocidentais do aldeiamento de Monte-Mor, o Novo da America, hoje municipio de Baturité. Ninguém poderia imaginar que aquele humilde lugarejo, situado no meio do sertão inculto, povoado apenas por algumas fazendas de criadores vindos da ribeira do Jaguaribe, podesse um dia transformar-se na cidade que hoje se ergue majestosa, atestando a lei da evolução e do progresso; e, depois de um século, nesta terra reclusa nos sertões do Ceará, viesse surgir uma piscina de bençãos e regeneração espiritual. Foi, portanto, neste lugar modesto e pobre, que São Francisco de Assis escolheu para espalhar os prodígios de sua caridade e de seu amor à pobreza. A gloriosa virtude do grande servo de Deus quis patentear o poder de sua proteção e misericórdia, fazendo nascer, ali, uma fonte de graças e favores espirituais, impulsionadas pela fé que emana do Cristianismo, fator grandioso do progresso humano. E, 1775, o portugues Francisco Xavier de Medeiros situou a sua fazenda à margem esquerda do rio Canindé, a pouca distancia do local, onde depois se começou os fundamentos da antiga Capela de São Francisco das Chagas. Xavier de Medeiros, que tanto concorreu para o desenvolvimento da colonia, construindo diversas capelas pelos sertões do Ceará, nunca imaginou que a edificação da aludida capela, fosse destinada pela Providência, a perpetuar pelos séculos futuros o maravilhoso poder de São Francisco das Chagas. Devoto do grande Santo Patriarca, inspirado, talvez, nos insondáveis desígnios de Deus, fez votos de erigir, proximo à sua rústica morada, uma capela consagrada ao glorioso S. Francisco das Chagas. ERECÃO DA CAPELA Os trabalhos daquela edificação vinham sendo feitos desde o ano de 1785, tendo sido suspensos em 1792, por causa de uma grande seca que naquela época assolou a Capitania do Ceará. Em 1795, passando o terrivel flagelo que devastou os sertões cearenses durante trez longos anos, voltando a bonança dos tempos, Xavier de Medeiros poude reencetar a construcção da capela que, finalmente, foi verdadeiramente concluida no ano de 1796. Bem se pode imaginar a consolação que sentiu Xavier de Medeiros ao ver concluída a modesta ermida, erguendo-se airosa no pequeno arraial, testemunhando o valor da vontade firme que tem a alma fortalecida na Fé. Todos os moradores do nascente arraial e das fazendas vizinhas, com os corações a transbordar de santa alegria, vendo erguida a modesta capelinha dedicada ao Seráfico Patriarca de Assis, atraídos pelas sublimes inspirações de suas crenças cristãs, começaram a elevar suas fervorosas preces ao trono do Altíssimo, suplicando a proteção de São Francisco das Chagas, para a nova povoação. Logo aos primeiros anos em que o novo templo foi aberto à devoção pública, quando os devotos abrasados pela fé ardente recorriam à intervenção de São Francisco das Chagas, que, em breve, a fama deste portento de favores celestiais, se propagou em todo o Ceará, e transpondo os seus limites, já ecoava também nos Estados vizinhos. Desde então, tiveram início as romarias que, aumentando de ano em ano, traziam muitos óbulos ao milagroso Santo, enriquecendo bastante o seu Patrimônio, considerado alguns anos depois, um dos mais ricos do Estado. PATRIMONIO DO SANTUÁRIO Em 1804, o reverendo Padre João José Vieira, numa prestação de contas ao Ouvidor Geral da vila do Ceará Grande, hoje, cidade de Fortaleza, fez menção de uma légua de terra doada a São 32
Francisco das Chagas, no lugar denominado Salgado, tendo os limites seguintes: Começando de onde desaguam águas do riacho Salgado, no lugar denominado Boqueirão, tendo um pau com o ferro da Capela, (cortado violentamente por um tal Thomé Alves). Sua largura prinicipia em um serrote chamado Salgado, que fica meia légua distante da casa da fazenda do mesmo nome; um outro lado, para a parte do Sul, em que fica compreendida uma lagoa, pela estrada que vai para o lugar Batoque; da parte do Oeste e Nascente, com o rio Canindé, pegando da Ipueira da Boa Vista até o lugar chamado Caiçarinha, hoje Barrocas. (Liv. Tombo, pag. 56). Disto se deduz que a Capela de S. Francisco das Chagas de Canindé, desde a sua inauguração possuia o referido Patrimônio, reconhecido pelas autoridades competentes. Além das terras acima mencionadas, legalmente demarcadas, em 1787, o capitão Antonio Alves Bezerra fez doação das terras Santa Rosa, hoje São Paulo, como se vê de uma escritura original e de uma pública forma transcrita no Livro de Tombo da Paróquia. Em 1801, o rico proprietário senhor Francisco Rego Barros, doou ao Patrimônio de São Francisco, o sitio Araticum ou Brejo, situado na serra de Baturité. No anno de 1900, o reverendo Frei Davi de Dezenzano, administrador da Casa de São Francisco, autorizado pelo exmo. rvdmo. Senhor Bispo Diocesano, comprou ao senhor coronel Raymundo José de Araujo, o sitio São Sebastião, próximo da vila de Mulungu, pela quantia de 30:000:000 sendo vinte contos em moeda e mais o sitio Araticum, como consta da escritura copiada do Livro de Tombo. Pertencem ainda ao Patrimônio de São Francisco, seis prédios situados na área urbana de Canindé, chamados Casas dos Romeiros, por serem reservadas à hospedagem dos romeiros que visitam o Santuário. Além destes bens, existem outros predios construídos nas administrações posteriores, como sejam: um bem construido palacete chamado Casa dos Ex Votos, um vasto edificio denominado Casa de São Francisco, destinado à residência da Administração, a localização do Colegio de Órfãos e das oficinas de artes; um outro menor, onde está o Colegio de Santa Clara; e mais outros denominados: Escola Paroquial, Banheiros, Olaria; e depositos de capitais, percebendo juros em diversos bancos da praça de Fortaleza. ADMINISTRAÇÃO DA PARÓQUIA E DO SANTUÁRIO DE SÃO FRANCISCO Não podemos coligir dados precisos que asseverassem os rendimentos da antiga Capela de São Francisco, assim como, a relação nominal dos seus administradores no seculo XVIII. Em 1904, foi administrador do Patrimônio, o Padre João J. Vieira, que fez a descrição dos bens patrimoniais em um inventário, e prestou contas ao Ouvidor Geral, procurador de capelas, Luiz Manuel de Moura Cabral, em Fortaleza, então vila da capitania. Em 1812, faleceu o Padre Vieira, que administrou até aquela data. No ano de 1813, o reverendo Padre Francisco de Paula Barros, foi nomeado Capelão da Igreja de São Francisco, da qual, foi mais tarde o seu primeiro vigário. Em 1817, o virtuoso prelado Dom Frei Antonio de São José, bispo de Pernambuco, elevou a capela de São Francisco de Canindé, à Matriz colada, em conformidade ao Alvará d´El-Rei D. João VI, de 30 de Outubro daquele mesmo ano, sendo logo feito a nomeação do Vigário. Aquela nomeação foi feita por apresentação da Carta Régia de 10 de Junho de 1817, e foi confirmada a 1 de Agosto do mesmo ano, tendo sido nomeado Vigário da nova paróquia o reverendo Padre Francisco de Paula Barros, que já exercia o lugar de Capelão da referida Igreja. Neste espinhoso posto, o reverendo Padre Paula Barros (primeiro vigário desta paróquia,) conservou-se muitos anos, trabalhando sempre em prol da nascente Paróquia e do pequeno rebanho que lhe fora confiado. Desde a administração paroquial do padre Barros, o livro de receitas, e depesas passou a ser legalmente examinado pela autoridade civil do Reino, havendo prestação de contas anualmente. Desde, então, os rendimentos e bens do Patrimônio passaram a serem administrados por procuradores civis que prestavam suas contas ao juiz de Capelas. Em vista desta lei, assumiu a direção dos bens do Patrimônio de São Francisco das Chagas, o major Manuel Barbosa Cordeiro, ocupando o cargo de administrador até o ano de 1854.
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Ao rrvereno Padr. Paula Barros, sucedeu entre os anos de 1832 a 1834, o segundo Vigário, reverendo Padre Manuel Thomaz Rodrigues Campelo; que exerceu o cargo até 5 de Julho de 1860, quando faleceu. No mesmo ano, substituiu-lhe o reverendo Padre Ernesto José Cavalcante, que esteve à frente da Paróquia até 1866, sendo substituido pelo reverendo Manuel Antonio de Jesus, que deixou a freguezia em 15 de Junho de 1869, por se achar gravemente doente. Foi o seu successor, o reverendo Padre Pedro de Araujo, que tomou posse no mesmo ano, e permaneceu no posto de Vigário até 12 de Julho de 1876. Ao reverendo Padre Pedro de Araujo, sucedeu o reverendo Padre José Laurindo dos Santos, que tomou posse da Paróquia, no dia 16 de Julho do mesmo ano, e permaneceu da direção até o ano de 1884. Por provisão de 22 de Outubro do dito ano, foi removido para esta freguezia, o Vigário de Riacho do Sangue, o Reverendíssimo Padre Alexandre Correia de Araujo Melo, em substituição ao Padre José Laurindo, exonerado a pedido. O Reverendíssimo Padre Alexandre governou a freguezia até 1888, quando, consternado pelo conflito suscitado pela Irmandade Regedora do Patrimônio de São Francisco, que provocou enérgicas medidas da parte do Exmo. Reverendíssimo Senhor Bispo Diocesano, pediu a sua exoneração. A administração desses bens foi sempre feita por procuradores até 13 de Fevereiro de 1871, quando se instalou a Confraria de S. Francisco, criada pela lei n. 1379 de 28 de Novembro de 1870. A referida confraria ficou incumbida de administrar os bens do patrimônio de São Francsico, a qual se regia por estatutos aprovados pela autoridade competente. Entre os membros da confraria, era anualmente eleita uma mesa regedora que superintendia os negócios realizados pela mesma, e fazia as depesas de acordo com um orçamento aprovado pela maioria da mesa que prestava suas contas ao Juiz de Capelas. A 20 de Abril deste mesmo ano, foi nomeado vigario da Paróquia, o Revdmo. Pe. Manuel Cordeiro da Cruz, que tomou posse do seu ministerio na igreja de Nossa Senhoa das Dores, para onde fora transferida a sede da Matriz, por se achar a mesma em reconstrução. Sua Reverendíssima durante a sua gestão como pároco de Canindé, teve que sustentar porfiada luta com os membros da confraria depositária dos bens e administração do patromônio de São Francisco que, arbitrariamente, desobedeceu às decisões do Bispo diocesano Dom Joaquim José Vieira, de saudosa memória, chegando a ser processado e chamado a juizo por ter defendido os legítimos direitos da autoridade diocesana, que neste mesmo ano dissolveu a confraria e mesa regedora dos bens do Santuário, entregando a direção dos mesmos aos reverendos Padres Capuchinhos Lombardos, que tomaram posse em Outubro de 1898. O Reverendíssimo Padre Manuel Cordeiro da Cruz, exerceu o cargo de Vigário até 5 de Outubro de 1898, tendo como coadjutor e Capelão do Santuário, o Reverendíssimo Padre Luiz de Souza Leitão, que, no ano seguinte, retirou-se para o Estado do Pará, fixando residência na Paróquia de Castanhal, ocupando ali o cargo de Vigário, onde faleceu. A questão que acima aludimos, foi provocada por graves acusações feitas contra a mesa regedora à autoridade diocesana que, tomando em consideração a denúncia, resolveu adiar a eleição da nova mesa que havia de funcionar no futuro exercício de 1896 a 1897. Esta, não se conformando com a decisão episcopal, oficiou pedindo a reconsideração do seu ato até que se justificasse das acusações a si atribuídas, afim de executar a questão no foro civil e apurar o direito que se lhe dizia assistir. No intuito de salvaguardar os interesses do Patrimônio o exmo. rrverendíssimo senhor Bispo diocesano, constituiu advogado para defender o seu direito na questão proposta pela mesa regedora que ,havia sido suspensa de suas atribuições e substituída por uma comissão de cinco cidadãos encarregados de reger provisoriamente os bens do referido patrimônio. Em vista da comissão não aceitar a aludida gestão, e exmo. reverendíssimo senhor Bispo diocesano, oficiou à mesa regedora que entregasse os bens de São Francisco ao Vigário da Paróquia.
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RECONSTRUÇÃO DO SANTUÁRIO Com a continuação dos tempos e o acentuado aumento das tradicionais peregrinações ao celebrizado Santuário de São Francisco das Chagas, grandes melhoramentos foram feitos na antiga capela, de modo que, no meiado do século XIX, nada existia do antigo templo. Em 1888, foram iniciados os trabalhos de remodelação do interior do Santuário de São Francisco das Chagas, sendo preciso para se efetuarem as construções de arcadas e altares da capela-mór, retirar a imagem de São Francisco para a Igreja de Nossa Senhora das Dores, ao que se opos à mão armada, parte da população explorada na sua ignorância e fanatismo por certos indivíduos a serviço da política dominante, inimiga acérrima do juiz da Capela Dr. Elpidio J. de Carvalho e Souza. A confraria de São Francisco encarregada dessa reconstrução, encontrando formidável oposição não conseguiu o seu justo intento, tendo de voltar a imagem de São Francisco para o seu altar, depois de já estar no andor em que devia ser trasladada para a referida igreja. Nesse ano, o missionario capuchinho Frei Cassiano de Comachio, que se achava em missão nesta Paróquia, vendo a necessidade de dar à antiga igreja uma feição mais artística, começou a sua reconstrução, que foi executada sob a administração do Procurador do patrimônio, capitão Clementino Finéas Jucá, de saudosa memória, em cujos trabalhos foram gastos cerca de 40:000$000. Concluidos os trabalhos em 1889, ficou completamente transformado o antigo Santuário num belo e suntuoso templo que, apesar de sua simplicidade extrerna, oferecia no interior ricas decorações em madeira com artistícos desenhos a ouro, sendo visto como um dos mais ricos e bem construídos do Ceará. PROCURADORIA DO SANTUÁRIO Em razão da determinação legislativa que ordenava que os bens patrimoniais fossem administrados por procuradores civis, em 1825, e Reverendíssimo Padre Francisco de Paula Barros entregou a administração dos bens de São Francisco das Chagas ao procurador nomeado, Senhor Major Manuel Barbosa Cordeiro, que ficou a frente da administração até o ano de 1854. Em 1855, foi nomeado procurador do patrimônio, o capitão Manuel Luiz de Magalhães, administrando até o ano de 1868, apresentando anualmente as suas contas ao Juiz de Capelas, aparecendo sempre saldos a favor do cofre do Santuário, de forma que ao entregar a Procuradoria ao seu sucessor Jerónimo José de Almeida Junior, fez a entrega dum saldo de 15:712$205. Jerónimo de Almeida occupou o cargo de Procurador até 1871, sendo demitido, pela Mesa Regedora do Patrimônio que, em 1870, havia sido eleita para administrar os bens do Santuário. Após a demissão de Jerónimo de Almeida, foi ainda nomeado Procurador o capitão Manuel Luiz de Magalhães, sendo confiada a tesouraria do Santuário ao capitão Antonio Francisco Magalhães, que, em 1872, apresentou um saldo de 12:788$600. O capitão Magalhães, dirigiu com zelosa honestidade os bens do Patrimônio; durante a sua gestão apresentou sempre saldos e em 1887, quando deixou o cargo, entregou a importância de 18:637$820. Em 1887, o Juiz de Direito da Comarca, nomeou provisoriamente tesoureiro a José Jacyntho Mendes Machado, que entregou depois este cargo ao coronel João Pinto Damasceno, o qual, por sua vez, passou-o ao tesoureiro nomeado cpronel Antonio M. Junior. Em 1888, foi nomeado Procurador, o capitão Clementino Finéas Jucá, incumbido de administrar os serviços de reconstrução do Santuário de São Francisco. De 1891 em diante, as contas passaram a serem apresentadas à autoridade Diocesana, pelo procurador das Mesa Regedora da Confraria de São Francisco das Chagas, instituída na Matriz de Canindé, e aprovada pela Provisão Eclesiástica do Exmo. Rvdmo. Senhor Dom Joaquim José Vieira, bispo diocesano, datada em 19 de Dezembro de 1893. A referida provisão tratava da reforma do compromisso, cujo objetivo principal era manter religiosamente, com todo decoro e 35
esplendor possíveis o Santuário e o Altar da Imagem do Santo Padroeiro. A Confraria administradora dos bens e zeladora do culto da Igreja Matriz da Freguezia de Canindé, exerceu a sua regência até o ano de 1896, quando, por questões suscitadas contra a autoridade Diocesana, foi dissolvida pelo Exmo. Revdmo. Senhor Bispo diocesano, sendo entregue provisoriamente a administração ao Reverendíssimo Vigário da Paróquia, Padre Manuel Cordeiro da Cruz. ADMINISTRAÇÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS Em virtude de um contrato celebrado entre o exmo. reverendíssimo senhor Dom Joaquim José Vieira, Bispo do Ceraá, e o reverndíssimo Superior Regular da Missão Capuchinha Lombarda da provincia de São Carlos em Milão, a administração da Paróquia e do Patrimônio de São Francisco das Chagas de Canindé, foi confiada aos reverendos Padres Capuchinhos Lombardos, que, em número de oito religiosos, chegaram em Canindé no mes de Setembro de 1898, trazendo como superior o reverendo Frei Davi de Dezenzano, já nomeado Vigário desta paróquia, e que foi empossado pelo exmo. reverendíssimo senhor Bispo da Diocese, a 4 de Outubro do mesmo ano. O novo Vigário e administrador do Patrimônio, iniciou logo a remodelação do antigo edificio, chamado `Casa de Caridade` que devia servir de convento para habitação dos Religiosos capuchinhos, ampliando-o ainda, afim de poder acolher um pequeno Orfanato de meninos pobres. ADMINISTRAÇÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS LOMBARDOS Conforme já vimos na página anterior, os reverendos Padres Capuchinhos tomaram posse da administração dos bens do Patrimônio de São Francisco e da direção espiritual da Paróquia de Canindé, em Outubro de 1989. O vigário da paróquia, rvd. Frei David de Dezenzano, zeloso no seu ministério sacerdotal deu começo à sua gestão paroquial, organizando as associações e irmandades religiosas, reformando diversas capelas da paróquia, que se encontravam abandonadas e algumas quase em ruínas, enviando em desobriga um padre coadjuctor para prestar os socorros espirituais aos seus paroquianos, celebrando os santos sacramentos, missas e pregando a palavra de Deus nas capelas, de modo a difundir a instrução religiosa entre as populações que habitavam longe da séde da Matriz e que, por motivo justo, não podiam frequentá-la assiduamente. O ORFANATO DE SANTO ANTONIO Foi instalado em 1900 no edifício acima sob a regência do Reverendo Frei Agostinho de Milão, ilustre a notável orador sacro, que muitos serviços prestou ao nascente Orfanato e à administração da Paróquia. O Reverendo Frei Davi, foi substituído na gestão de Vigário, pelo Reverendo Frei João Pedro de Sexto, em Março de 1901, o qual administrou até 31 de Março de 1902. Em Abril do mesmo ano, assumiu a direção da paróquia e a administração do Patrimônio de São Francisco, o reverendo Frei Matias de Ponteranica, que, com grande zelo dirigiu este pesado cargo até Fevereiro de 1913, quando, por motivo de doença, retirou-se para a Itália. Nesses onze anos de administração operosa, o gênio empreendedor e a esforçada energia de Frei Matias, desenvolveu uma grandiosa ação moral e material na paróquia, realizando notáveis melhoramentos nas Capelas da Freguezia, e ampliando completamente a edificação do enorme prédio, hoje, denominado “Casa de São Francisco”, deixando-o em condições favoráveis de acomodar suficientemente a Família Religiosa, de acolher maior número de órfãos, e oferecer local próprio à instalação de Oficinas de Artes e Ofícios, fundadas no nobre intuito de ensinar aos alunos órfãos que não quizessem seguir o árduo tirocínio dos estudos superiores.
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COLÉGIO DE SANTO ANTONIO Nessa próspera gestão, o Colégio de Santo Antonio, teve notável desenvolvimento intelectual e moral, sendo aberto, além das classes primárias, um bem organisado Curso Superior (com 1,2,3,4 anos de preparatórios), chamado “Seminário Menor”, cujo principal fim era aproveitar alguns alunos para o sacerdócio católico. Esta boa ideia colheu os seus abençoados frutos, pois, alguns anos depois, foram ordenados no Seminário Episcopal de Fortaleza, os reverendos Padres Manuel Alves Feitosa, Manuel Soares Neto, José Alves de Lima. Francisco de Assis Monteiro, Azarias Sobreira Lobo, Eurico Magalhães, Geminiano Bezerra, José F. Lobo e Francisco Ferreira Lima, que antes haviam feito os seus preparatórios no Seminário Menor do Colégio de Santo Antonio em Canindé, com justa alegria de suas distintas famílias e honroso conceito deste estabelecimento de ensino que, nessa época, fora tido como um dos mais prósperos do Ceará. A infatigável ação do revereno Frei Matias, não se cingiu sómente às grandes construções da Casa de São Francisco; a sua esclarecida visão percebeu também as necessidades morais dos seus paroquianos, procurando logo os meios adequados para realizar as suas nobres aspirações. Prestigiado pela autoridade diocesana deu começo a construção de uma Escola Paroquial, em cuja edificação foi mui bem auxiliado pelo reverendo Frei Davi, que, vindo da Itália, demorou-se aqui alguns meses. Após a conclusão dos serviços do referido prédio, foi instalado ali um moderno aparelho cinematográfico para servir de diversões lícitas e instrutivas das familias e do povo. O fim principal a que fora destinado este edifício, estava na instrução religiosa, civil e literária da infância e da mocidade, servindo, ao mesmo tempo, de centro de reuniões, ensino de catecismo, e local util às seções dramáticas, recepções e comemorações cívicas. A gestão de Frei Matias, na direção espiritual da Paróquia, não foi menos frutuosa; fundou diversas associações católicas, como sejam: Catecismo da Doutrina Cristã, Santos Anjos, Filhas de Maria, Mães Cristãs, Círculo Católico de Operários, etc. A estas associações sempre dedicou especial atenção, observando, com admirável pontualidade e energia, os seus deveres de diretor espiritual, amparando-as sempre com a firmeza de sua vontade e incansável zelo. Ainda no elevado empenho de ampliar e a formosear o Santuário de São Francisco, dotande-o de modernas reformas, obteve licença do exmo. reverendíssmo senhor Arcebispo de Fortaleza, para fazer a aludida reconstrução que foi iniciada em Outubro de 1910, deixando de concluir esta custosa obra, por ter resignado o cargo de Vigário da Paróquia. O substituto do reverendo Frei Mathas, foi o reverendo Frei Alfredo de Martinengo, que desempenhou o ministério paroquial e a administração do Patrimônio, até junho de 1914. Durante a sua gestão foram atacados os trabalhos da reconstrução do Santuário, que ficaram quase concluídos, estando na direção dos trabalhos de construção, o arquiteto senhor Antonio Mazzini. O novo Santuário, é uma moderna ampliação do antigo e artístico templo, diferindo muito no seu desenho arquitetônico. Apresenta um aspecto imponente e tem a forma de cruz grega, sustentando no centro uma magestosa cúpola de cobre, encimada por uma lanterna gótica que mede, até a agulha do para-raios, 35 metros de altura. A arquitetura exterior é de estilo gótico moderno e a do interior obedece as linhas simples do sobrio estilo toscano. As torres medem 32 metros, sendo rasgadas de janelas puramente góticas, ladeadas de torresinhas. O seu aspeto magestoso e grande faz lembrar a imponência suntuosa das célebres catedrais. É pena que o encarregado da construção não tenha tido o critério preciso para dar melhor desempenho ao desenho artístico de sua planta. Quando forem ultimados os trabalhos de pintura e decoração, realizando-se uma reforma geral no interior e exterior deste templo, o Santuário de São Francisco, virá a ser para o futuro um dos mais belos templos do Norte do Brasil.
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Em junho de 1914, o rvd. Frei Alfredo de Martinengo deixou o cargo de Vigário da Paróquia e Superior da Casa de São Francisco, por ter sido eleito Superior da Missão Capuchinha, succedendo-lhe na aludida gestão, o reverendo Frei Cirilo de Bergamo, que exerceu a sua administração, até Agosto de 1918. Em abril de 1915, na gestão deste abnegado capuchinho foram concluídos os trabalhos da reconstrução do Santuário, que se prolongaram durante 4 anos e 6 meses, tendo sido despendida a soma valiosa de 250:000$000. A inauguração solene do novo Santuário, teve lugar no dia 2 de Maio do mesmo ano. Neste dia de festivo e entusiástico regozijo, Canindé vestiu-se de pomposos enfeites, ostentando bela ornamentação de arcos verdejantes e bandeirinhas multicores, exprimindo a extraordinária satisfação do povo, pela trasladação da imagem de São Francisco das Chagas, para o seu novo templo, depois de uma triunfante procissão pelas ruas e praças desta cidade. Após este prestito de triunfo, realizou-se no Santuário uma solene Missa cantada em ação de graças, pronunciando brilhante alocução laudatória, o notável orador sacro reverendo Frei Marcelino de Milão, fazendo notar a glória de Canindé, tendo como Padroeiro o imortal Patriarca da Úmbria; em assemelhar-se a Assis, berço e túmulo do glorioso Santo, quem compadecido, ainda como outrora, das misérias do mundo, escolheu essa abençoada terra para derramar torrentes de graças e prodígios aos seus fervorosos devotos e admiradores. A árdua gestão do reverendo Frei Cirilo foi provada de grandes sacrificios pela tremenda seca que se declarou em Maio de 1915, estendendo sua nefasta devastação por todo o Ceará: de toda a parte se ouviam gemidos dolorosos oriundos da terrível catástrofe que se avizinhava dos lares, varrendo dos corações aflitos a última esperança de salvação. Este quadro dantesco de miséria e de fome que assolou os sertões combustos da terra de Iracema, veio refletir principalmente sobre a Casa de São Francisco, centro da caridade e abnegação, onde a pobreza implorava quotidianamente o lenitivo para todos os seus sofrimentos, e amparo generoso para não morrer de fome. Avalie-se a situação dificil do caridoso pároco, vendo os míseros cearenses implorarem em lágrimas o socorro para si e seus filhinhos, sem poder satisfazer plenamente os seus penosos rogos! As ruas e praças permaneciam cheias de retirantes, tanto do interior do município como dos municípios vizinhos, que se dirigiam a Canindé, onde julgavam encontrar socorros. O número de indigentes aumentava de contínuo, pois, do dia 20 de Junho ao fim do mes de Julho, já esmolavam à porta da Casa de São Francisco, a avultada soma de 4.636 pobres famintos. A calamidade augmentava em proporções assustadoras e as caravanas esqualidas surgiam de todos os lados em busca de Canindé; de forma que, de Julho a Agosto, já se somavam o numero de 10.754 flagellados, que, somados com os 4.635 do mes anterior, perfaziam a enorme soma de 15.390 socorridos no sexto mes da terrível seca, que continuava a assolar em quase todo o Nordeste. Muitas familias desterradas do alto sertão, e que passavam em trânsito para Fortaleza, recebiam logo uma esmola mais generosa para a viagem, entretanto, a maioria dos famintos continuava a esmolar pelas ruas, esperando os socorros prometidos pelo Governo Federal, que somente vieram chegar em Outubro de 1915. Tendo sido esgotados todos os recursos existentes, o reverendo Frei Cirilo de Bergamo recorreu ao exmo. senhor Arcebispo, que, por intermédio do reverendo Vigário Geral, enviou a quantia de 5:200$000, importância que foi empregada em favor dos infelizes indigentes incapacitados de se colocarem nos serviços públicos do açude “Salão”. Este socorro foi feito por meio de trabalhos executados na reforma do cemitério da Paróquia, e várias outras ocupações para mulheres, velhos e crianças, como foram: o aterro e calçamento do terraço construido atras do Santuário, e o remodelamento de pequenos açudes. É de justiça mencionar, aqui, a ação benemérita do nosso digno conterrâneo capitão Aristides Rabello Cruz, que, com abnegado esforço, obteve valiosas esmolas em prol dos flagelados, construindo um bem feito calçamento em diversos trechos das ruas desta cidade,
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(distribuindo ainda muitas esmolas aos incapacitados de trabalho, quer por doença ou invalidez), melhoramento de grande valor para nossa viação urbana, que hoje se acha quase toda calçada. Foi ainda na administração do reverendo Frei Cirilo, que a Paróquia de São Franacisco de Canindé, comemorou o Primeiro Centenário de sua fundação, realizando-se em Outubro de 1917, imponentes festas cívicas, solenidades religiosas e uma missão espiritual em todas as capelas da Freguezia, sendo erigidos diversos cruzeiros de madeira e alvenaria, como lembrança memorável dessa centenária comemoração. Às festas comemorativas compareceram os representantes de todas as capelas com os seus estandartes e de diversas paróquias, sendo honradas com a presença distinta dos exmos. Reverendíssimos senhores D. Manuel da Silva Gomes, Arcebispo de Fortaleza, D. José Tupinambá da Frota, Bispo de Sobral e o reverendo Padre Miguel Tavares, representante do exmo. reverendíssimo senhor Bispo do Crato. Por iniciativa do reverendo Frei Cirilo, que muito se esforçou pelo êxito dessa ideia, foi colocada solenemente na sala do Juri da Comarca, a sagrada imagem de Cristo, ceremônia que foi presidida pelos exmos. reverendíssimos senhoes Arcebispo de Fortaleza, Bispo de Sobral, representantes do Clero, tendo o comparecimento de todas as autoridades do município e de grande multidão de povo. Comemorando ainda a data do Centenário da Paróquia, inaugurou-se no salão do teatro do Colégio de São Francisco, uma notável exposição de produtos agrícolas, pecuários e industriais do Município, presidindo a solene reunião, o reverendíssimo senhor Bispo de Sobral, que abriu a sessão, dando a palavra ao reverendo Frei Cirilo, e ao Dr. Alfredo Benna, representante da Sociedade Nacional de Agricultura e da Escola Agrícola de Quixadá. Ao reverendo Frei Cirilo, sucedeu novamente, o reverendo Frei Alfredo de Martinengo, que tomou posse da Paróquia e da administração da Casa de São Francisco, a 4 de Agosto de 1918, ocupando o cargo até Agosto de 1919. Durante a segunda gestão deste ilustre capuchinho, foram realizadas diversos melhoramentos, entre os quais são dignos de registro: A construção de uma usina elétrica e instalação da mesma luz na Casa de São Francisco, Orfanato de Santa Clara, Escola Paroquial, Igreja de Nossa Senhora das Dores, Santuário de São Francisco, casas e principais ruas da cidade, mediante um contrato feito com a Prefeitura Muncipal e particulares. O esforço constante do rvd. Frei Alfredo e a boa vontade do senhor Prefeito, conseguiram a execução deste elevado intento de grande utilidade pública, solenemente inaugurado em Outubro de 1918, sob a direção do senhor Thomaz Barbosa. Ao reverendo Frei Alfredo, sucedeu o virtuoso capuchinho reverendo Frei Silvério de Milão, que tomou posse de Vigário desta Paróquia, no dia 17 de Setembro de 1919. A sua gestão na Paróquia, foi de grande proveito espiritual, sendo auxiliado pelo reverendo Frei Cirilo, que se encarregou de curar as capelas do interior, prestando relevantes serviços. A sua administração na Casa de São Francisco, foi pautada por atenta economia, fazendo alguns melhoramentos úteis entre os quais se destaca a construção do açude “São Paulo”, situado na fazendo do mesmo nome, pertencente ao Patrimônio de São Francisco, em cujos trabalhos foram gastos cerca de 80:000$000. O reverendo Frei Silvério teve como sucessor o reverendo Frei Matias de Ponteronica, que, pela segunda vez, assumiu a direção da Paróquia e da Casa de São Francisco, em Junho de 1921. A nova administração de Frei Matias, fora, como na primeira fase, dedicada a sucessivos melhoramentos materiais e morais em favor de Canindé. No intuito de melhorar as propriedades do Patrimônio, mandou construir na fazenda São Paulo, uma casa de tijolo e ao lado uma capelinha sob a invocação deste Santo Apóstolo, servindo assim às necessidades religiosas dos seus moradores e dos habitantes vizinhos. No louvável fim de facilitar os meios de transportes, abriu boas estradas carroçáveis em transito de automóveis e caminhões, para Itaúna e outros pontos do Municipio, concorrendo para o aumento das visitas dos romeiros ao Santuário de São Francisco. Na direção espiritual não foi inferior a atividade do virtuoso Vigário, que procurou organizar as associações religiosas, restaurando o Círculo Católico Pio X, que ainda se poude suster pelo seu notável empenho, vindo logo fenecer após a sua sentida ausência. 39
Na comemoração do Primeiro Centenário da Independência do Brasil em 1822, trabalhou para representar dignamente o Município e a Paróquia, preparando um artistico Album de Canindé, comemorativo da aludida festa centenária, se esforçando afim de que as Oficinas da casa de São Francisco, se representassem naquele grande certamen, enviando vários trabalhos artísticos para a Exposição aberta no Rio de Janeiro. Auxiliado pelo Círculo Católico Pio X, fez erigir em frente à Escola Paroquial, um imponente monumento comemorativo do Centenário da nossa Independência, que ficará implantado como uma digna e útil lembrança às gerações futuras. Ainda na sua gestão foram executadas varios outros melhoramentos, como sejam; Reforma da Escola Paroquial, da Igreja de Nossa Senhora das Dores e diversas outras construções necessárias ao asseio da Casa de São Francisco. RETIRADA DOS RVDS. PADRES CAPUCHINHOS Em obediencia às ordens dos seus Superiores, tendo terminado o contrato que tinham feito com a Autoridade Arquidiocesana, os reverendos Padres Capuchinhos entregaram a administração da Casa de São Francisco e a direção da Paróquia aos seus sucessores, os reverendos. Padres Franciscanos Menores da Província de Santo Antonio da Bahia. Depois de 25 anos de uma honesta e frutuosa administração, prodigalizando inestimáveis benefícios à Paróquia de Canindé, os reverendos Padres Capuchinhos deixaram definitivamente o Convento de São Francisco (sic) desta cidade e seguiram para a missão de catequese indígena nos sertões do Maranhão, sob a regência da nova Prelazia de São José de Grajaú, da qual foi nomeado Prelado o reverendo Dom Frei Roberto Júlio Colombo, de saudosa memória, virtuoso e abnegado apóstolo, auxiliado pelos seus devotados missionarios, que, imitando o exemplo do Serafico Patriarca de Assis, vão continar a pregar o Evangelho às populações distanciadas da verdadeira moral, chamando-as à observância da Lei de Deus, concorrendo deste modo para a civilização e progresso da querida terra brasileira. Domingo, 25 de Março de 1923, foi o dia da despedida dos abnegados missionários capuchinhos, que se despediram pela ultima vez do Canindé, onde residiram uns vinte e cinco anos, empregados em incessantes lutas e ingentes esforços pela glória de Deus e salvação das almas. Em frente à casa de São Francisco, uma multidão de povo se aglomerou, esperando a saída do reverendo Frei Mathas e de seus irmãos leigos Frei Bernardo e Frei João de Maria. Numa comoção de saudade e na angústia do triste momento, Frei Mathas recebia a todos que vinham lhe trazer o último adeus de despedida. O seu coração sensível a tamanhas provas de estima, não poude falar ao povo que estava ansioso pela sua palavra; a sua emoção profunda impediu de dirigir aos seus Paroquianos as últimas expressões de sua alma caridosa e bemfazeja, deixando assim escrita na sua última despedida: “Peço desculpa ao povo se sair sem falar, porque estou muito comovido pela demonstração carinhosa que quer me fazer. Diga, que abençoo a todos em nome de Deus, e imploro sobre todos as mais copiosas bençãos do Céu. Meus maiores desejos é poder ver e abraçar todos no Céu. Rezarei sempre para esta fim. Rezem tambem por mim”. Acompanhado do reverendíssimo Frei Lucas Vonnegut, novo vigário da Paróquia e de muitas pessoas amigas, Frei Matias de Ponteranica, deixou a Paróquia de Canindé, abrindo um vácuo impreenchível de sua dedicação contínua nos muitos anos de esforços inaúditos em favor do progresso de nossa Terra. A sua atuação benemérita e progressista deixou em Canindé traços indeléveis, exemplos edificantes, sinais patentes de sua energia rara, do seu amor intenso e sincero, do seu esforço másculo na formação de uma obra educativa e civilizadora, para o bem estar moral e o progresso da nossa modesta sociedade, que só a sua própria pessoa podia sustentar, desenvolver e frutificar.
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ADMINISTRAÇÃO DOS REVERENDÍSSIMOS PADRES FRANCISCANOS MENORES De acordo com o novo contrato firmado entre a Arquidiocese de Fortaleza, legitimamente representada pelo Exmo. Reverendíssimo Senhor Dom Manuel da Silva Gomes e o reverendo Padre Superior da Província Franciscana de Santo Antonio da Bahia, os Reverendíssimos Padres Franciscanos Menores, assumiram a administração do Patrimônio da Casa de São Francisco e a direção da Paróquia de Canindé, em Março de 1923, substituindo a Missão dos Reverendíssimos Padres Capuchinhos Lombardos, que, durante 25 anos, tiveram à frente dos trabalhos árduos dessa pesada gestão, empenhando-se com todo esforço e dedicação no desempenho dos seus afanosos ministérios. Na qualidade de administrador do Patrimônio e do elevado cargo de Vigário da Paróquia, foi nomeado por carta pastoral do Exmo. Reverendíssimo Senhor Arcebispo de Fortaleza, o Reverendo Frei Lucas Vonnegut, que tomou posse solene no Domingo da Ressurreição, de 7 de Abril de 1923. Após a leitura da carta arquiepiscopal, o novo Vigário, do altar da Santa Missa, dirigiu-se aos seus filhos espirituais em palavras justas e sinceras, apresentando o seu programa no desempenho do ministério sacerdotal. Em continuação pediu a todos se unissem ao Vigário, para auxiliá-lo a conduzir com mais firmeza a cruz pesada das responsabilidades que, perante Deus e a Igreja, contraira em bem das almas. Logo depois da missa, formou-se um honroso cortejo de todas as associações para acompanhar o novo Vigário até a Casa de São Francisco, onde, o nosso saudoso amigo Augusto Rocha, apresentou-lhe os parabens da família e do povo canindeense. Animado pela graça de Deus que preside os destinos da Santa Igreja, e a boa vontade de seus paroquianos, o Reverendíssimo Frei Lucas tem continuado à frente dos trabalhos paroquiais com dedicado empenho e necessária prudência, procurando conhecer pouco a pouco as expansões dos seus filhos espirituais educando pelo amor e corrigindo pela benevolência, conquistando deste modo a confiança e estima de todos. Para auxiliar o Reverendíssimo Frei Lucas, no ministério paroquial e na administração da Casa de São Francisco, vieram da Bahia, em Abril de 1923, os Reverendíssimos Franciscanos: Frei Estévão, Frei Paulo e Frei Maurício. A árdua tarefa requeria mais auxiliares, pelo que em Novembro, chegou o Reverendíssimo Frei Nicásio Kipshagen, que viera substituir o Reverndo Frei Maurício, ausentado para a Alemanha. No dia 26 do mesmo mes, chegaram a esta cidade as “Irmãs Clarissas da Ordem da Imaculada Conceição” que vieram substituir as “Irmãs Capuchinhas” na direção do Orfanato de Santa Clara, as quais, desde 1914, vinham prestando seus abnegados serviços na instrução e educação de meninas e moças. Para auxiliar o Reverendíssmo Frei Paulo na regência do Colégio de São Francisco, em janeiro de 1924, chegou a esta cidade o Reverendíssimo Frei Policarpo Cornélius, que muito tem auxiliado também no curato da Paróquia. Em Maio do mesmo ano, chegaram da Bahia, os Irmãos: Frei Camilo e Frei Edmundo, já tendo vindo antes, Frei Paulino, todos destinados ao Convnto de São Francisco de Canindé, como auxiliares da administração franciscana. VISTA CANÔNICA DO EMBAIXADOR DO VATICANO Em Novembro de 1924, a população católica de Canindé, recebeu com o máximo acatamento e merecida honra, a visita do ilustrado Embaixador do Vaticano, Dom Bento Lopez, que acompanhado do ilustre beneditino Dom Lourenço Lumini, demorou-se alguns dias nesta cidade, sendo-lhes prestadas condignas manifestações de apreço, pelas associações, irmandades religiosas, colégios e escolas públicas. Dom Bento Lopez, grato pelas demonstrações de estima que havia recebido desta Paróquia, em entusiástica alocução, agradeceu em nome do Santo Padre
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Pio XI, as homenagens respeitosas recebidas pelos esperançosos elementos católicos da Paróquia de Canindé, e terminando deu a benção papal às pessoas presentes na solene reunião. Na administração da Casa de São Francisco, o Reverendíssimo Frei Lucas tem procurado desenvolver a sua ação, no elevado intento de satisfazer as suas grandes responsabilidades, procurando os meis eficientes de melhorar a vida econômica e material do Patrimônio de São Francisco. Reconhecendo a utilidade da antiga e propalada ideia de tornar eficiente a ligação de Canindé a Fortaleza e ao interior do Estado, mandou fazer pelo Senhor Albergio Lobo, o estudo de reconhecimento do mais curto traçado do vantajoso projeto da Via-Férrea de Canindé a Itaúna, no benéfico desígnio de no futuro empreender a sua construção. Infelizmente, a gravidade da crise financeira que se alastrou por todo País, abalando o comércio, desvalorizando a fortuna pública, esmoreceu os ânimos entusiasmados dos que procuram trabalhar nas grandes iniciativas do progresso. A ideia nascente do grande e único melhoramento que há tantos anos aspira anciosa a população do município de Canindé, porque somente nela está o princípio gerador do seu desenvolvimento econômico, foi de novo amortecida no olvido dos seus filhos que esmoreceram diante às dificuldades dos tempos e a má vontade dos poderosos públicos. E, assim, mais uma vez, os habitantes do pobre município de Canindé, afogaram no desdouro do esquecimento as ilusões fagueiras da maior e mais antiga de suas aspirações de progresso – a construção de uma ViaFérrea que facilitando os seus transportes, trouxesse ao mesmo tempo – o desenvolvimento de sua agricultura, criação e do seu comércio. Agora, ante o malogro de tantas tentativas em favor desse desejado melhoramento, só nos resta esperar pela força operadora da evolução! Para dar maiores esclarecimentos sobre tão importante assunto, transcrevemos nesta parte o “Memorial” referente às vantagens da Estrada de Ferro Itaúna – Canindé. O ramal projetado é de grandes vantagens para a União, porque longe de trazer ônus ao País, aproveitamos 80 quilómetros de trilhos de 10 toneladas, encostados junto ao lado da Estrada de Ferro de Baturité: pontes metálicas em depósito, item máquinas menores de movimento, (como poderá informar o Ilustríssimo Senhor Diretor da estrada.) viria aumentar a sua renda nos tempos normais e evitar grandes despesas nos dias tristes de miséria para o povo em tempo de seca. Assim é que o referido ramal tem como objetivo aumentar as rendas federais, bem como o desenvolvimento industrial de uma zona fertilíssima, como poderoso dique aos efeitos do terrivelíssimo flagelo das secas. Sendo um dos ideais do governo federal a disseminação de estradas de ferro, ligando os pontos centrais do País, unindo os Estados pelos extremos do interior e, dest´arte, desenvolvendo o comércio, a indústria e a agricultura de todos, o ramal aludido vem oferecer margem aos intúitos patrióticos e acertados do Governo, maximé quando está empenhado em dar combate aos efeitos das secas do Nordeste. A Casa de São Francisco de Canindé, no intúito de auxiliar o Governo para alcançar tão justos e humanitários fins, fez estudar o trecho Itaúna-Canindé, afim de que fosse o começo de uma estrada de Ferro que, cortando o coração do Estado, ligasse com a capital os prósperos e fecundíssimos municípios de Boa Viagem, Independência, Tauá, Arneiroz, Campo Sales, ficando mais ou menos entre os de Baturité-Iguatú e Sobral-Crateús, ou procurasse por Santa Quitéria a ligação com esta última Estrada. Partindo o ramal da Estação de Itaúna, antigo Castro, iria em rumo do arraial Marés, passando por Palmatória e pouco a pouco se aproximando da parte sul da Serra de Baturité e suas ramificações: Serra dos Cajuais, Serrinha do Julião, Santo Antonio e Cajueiro, dando incremento à agricultura daquelas ricas regiões e fertilíssimas zonas, alargando prodigiosamente o cultivo nas referidas serras, onde já se encontra um núcleo cultural bem adiantado como que pedindo, rogando os meios para o seu maior desenvolvimento. Essa parte da Serra de Baturité é essencialmente agrícola, produzindo abundantemente algodão, borracha, café, rapadura e cereais. A primeira estação desse projetado ramal deveria ser incontestavelmente, no arraial Marés, ½ légua de distância da florescente vila de Coité, que demora sobre a Serra de Baturité. Esta estação havia de trazer prosperidade e engrandecimento 42
incalculáveis à vila serrana, abrindo-lhes largos horizontes de vida e movimento, triplicando o seu adiantado comércio e aumentando prodigiosamente sua cultura e indústria já bem desenvolvidas. Toda a serra produz café, algodão, cana de açucar, maniçoba, cereais e todas as espécies de frutas, possuindo cerca de 300 engenhos de moer cana, além da fortuna, ora sem o devido valor, em madeiras de lei. Distanto apenas ½ légua da estação futura possue um dos melhores climas do Ceará, escolhido pelo governo do Estado para a colonização de estrangeiros; guardando uma das melhores águas potáveis que temos no Estado. Em Marés, ao sopé da Serra, existe uma mina de ouro bem conhecida e ainda não explorada. Alem dos produtos dessa forma aproveitados, ocorre mais que a vila de Coité é o celeiro dos sertões vizinhos de Boa Viagem, parte de Quixadá e de Quixeramobim. Daí seguindo sem grandes cortes e sem pequenos aterros viria o ramal, passando pelas fazendas Feijão, Balança, sair em pleno sertão por chapadões planos até a fazenda Souza, passando sobre as únicas pontes de 20 a 30 metros nos rios Salão e Souza até Canindé. Pelo traçado se vê que o terreno é relativamente plano, havendo apenas 13 riachos a transpor, e quais serão transponíveis com pequenos pontilhões e boeiros. Pelo recenseamento do Brasil em 1920, consta Canindé ter 323 proprietários e Caridade, do mesmo município, 83. Muitos deles lutam com as maiores dificuldades em trazer as suas mercadorias à exportação, devido a falta de condução. Os animais hoje ocupados em levar e trazer mercadorias a Itaúna (ida e volta 20 léguas) ou a Maranguape (40 léguas ida e volta), poderiam ir às vizinhas serras trazer cereais, mandioca, algodão, que se estragam e que seriamente desanima o agricultor a fazer esforços maiores para conseguir mais abundantes colheitas com a previsão de prejuizos por falta de condução. ESTATISTICA DA PRODUCÇÃO AGRICOLA NO MUNICIPIO DE CANINDÉ Algodão Milho Arroz Feijão Farinha - M Povilho Rapadura Aguardente Fumo Couros Peles
160.000 40.000 5.000 20.000 50.000 5.000 1.000 60.000 10.000 20.000 100.000
Arroubas Alqueires Alqueires Alqueires Alqueires Alqueires Cargas Litros Arroubas
Pela completa exposição feita neste “Memorial” ficou bem definido e evidente a palpitante necessidade da construção da Estrada de Ferro de Itaúna a Canindé, que, pela economia de sua construção segundo o traçado já estudado, será uma nova fonte de renda para o país e um extraordinário melhoramento de efeito pronto e de vantagens indescutíveis. Infelizmente, a falta de recursos pecuniários para a formação de uma empresa capaz de realizar este grande projeto, transforma a evidência em quimericas idealizações e utopias injustificáveis. Aguardemos que a evolução dos tempos transforme em brilhante realidade esta futura rodovia, pondo em comunicação franca a zona mais central o os territórios mais flagelados pelas secas periódicas do Nordeste. Na direção da Paróquia, o Reverendíssimo Frei Lucas, procurou sempre desempenhar com prudência e justiça as suas obrigações de Pároco, pautando os seus atos levado pelos nobres sentimentos de amor e gratidão, resolvendo as questões com brandura e cordialidade, impondo-se mais pela benevolência de carinhoso pai, do que pela energia rigorosa de superior intransigente. 43
Apesar das grandes responsabilidades da administração da Casa de São Francisco, deu sempre a máxima importância ao tão desejado desenvolvimento religioso da paróquia, esforçandose para que as irmandades e associações religiosas conservassem o seu espírito de piedade e de fé, zelando pelo cumprimento dos seus estatutos, presidindo quase sempre as suas reuniões, de modo a incentivar os seus membros no desenvolvimento de suas aptidões, para os legítimos fins de suas ações meritórias em favor de nossa santa religião. Para a eficiente organização de suas forças sociais e definir a integridade moral do seu caráter, dividiu a direção de algumas associações entre os Reverendíssimos Sacerdotes, seus dignos auxiliares no ministério paroquial, afim de que tomassem sob seu zelo a benéfica influência dos exemplos edificantes a que se propõem como luminárias de virtudes heróicas e de sustentáculos da verdade. Assim prosperou e desenvolveu entre a mocidade cristã, a sociedade de São Luiz de Gonzaga, contando entre o seu esperançoso grêmio os fortes elementos da infância canindeense, educando-a nos princípios nobres da moral, e formando nas suas delicadas almas o caráter firme e sincero de bons cidadãos e amigos dedicados da Igreja. Para o equilíbrio de uma atuação espiritual no coração fragil da mulher, modificando os sentimentos pueris de sua imaginação desviada do bom senso e da moral cristã, transformando a sua condição de escravizada das paixões pela livre altivez da mulher forte e virtuosa, reorganizou a angélica associação da Pia União das Filhas de Maria, para ser na paróquia preferida e respeitada pela formosura celestial da virtude e pela mais sugestiva graciosidade, assinada pela força mágica e indefinível de um olhar brilhante de virgem pura, de uma delicada joia de que justa e merecidamente possa se ufanar a sociedade contemporânea. Na sua gestão atraiu a merecida confiança dos seus paroquianos, a venerável Ordem Terceira Franciscana, como uma viva centelha de luz do amor delirante do seu fundador – o imortal Patriarca de Assis. Com grande entusiasmo tomou partes nas festas comemorativas do 7º Centenário da Morte de São Francisco, confraternizando-se com outras fraternidades franciscanas que visitaram a Basílica de São Francisco das Chagas em Canindé. O Apostolado da Oração, a sublime devoção em honra ao Sagrado Coração de Jesus, com a valiosa cooperação dos seus paroquianos tem permanecido em franca prosperidade, comemorando as bodas de ouro da sua fundação, que teve lugar no ano de 1874 pelos Reverendíssimo Padre Francisco Fernandes Pinheiro, vindo comissionado de Fortaleza para a realização desta obra de piedade cristã. A Sociedade de São Vicente de Paulo, que nas obras de caridade e benemerência se salienta por toda a parte, há tido as mais lisongeiras esperanças de tornar-se brevemente como o centro principal do movimento religioso da paróquia de Canindé. PARÓQUIA DE SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS DE CANINDÉ Conforme já aludimos em outra parte deste livro a antiga Capela de São Francisco das Chagas, foi elevada à categoria de Matriz colada pelo virtuoso prelado Dom Frei Antonio de São José, Bispo de Pernambuco, em 10 de Junho de 1817, de conformidade com o Alvará d´El-Rei D. João VI. de 30 de outubro do mesmo ano, cuja justa concessão foi deferida em razão da necessidade inadiável que fizeram sentir os seus habitantes, em importante súplica dirigida ao Senado da Câmara da Vila de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, segundo “Documento Histórico” encontrado na “Coleção Studart”, Vol. II, pag. 596, que, com a devida licença do ilustre autor, transcrevemos para conhecimento dos nossos leitores: SÚPLICA DOS HABITANTES DA POVOAÇÃO DE CANINDÉ EM 1796 “Senhores do Nobre Senado da Camara da Villa de Fortaleza de N. S. d´ Assumpção. Suplicamos a V. Mes. os moradores desta Ribeira do Canindé, abaixo assignados, queirão V. Mes. por bem do serviço de Deus, e de Sua Mage Fma., representar á mesma Senhora a 44
necessidade e miseria em que vivemos na Longetude destes Sertões, cincoenta legoas, que tanto dista esta Ribeira desta Villa, sem ouvirmos missa senão de anno em anno quando vem o Parocho a desobriga quaresmal, vivendo e morrendo como se foramos ereges e a maior parte dos que enfermão sem os Sacramentos da Confissão e da hora da morte, e igualmente muitos dos noços filhos sem o baptismo, e porque nesta capitania e principalmente nesta Freguezia são poucos os sacerdotes secolares, e os que há são ocupados nas suas Parochias, e toda esta capitania sem utilidade alguma está dando esmola as Religiões de Pernambuco, rogamos a V. Mes. queirão propor esta Suplica a Sua Mage. Fma. e impetrar da mesma Soberana Senhora o Socorro para noças necessidades para que Seja Servida conceder para esta noça Frequezia hua casa Religiosa que dispersos pela Ribeira deste continente exercitem todos os officios de que tanto caricemos para o bem de noças almas, os quaes bem se podem manter e sem o menor incomodo das nossas esmolas, e porque temos levantado a noça custa hua boa Igreja distante da Matriz do forte cincoenta legoas com a invocação de São Francisco das Xagas, para nela sermos enterrados, o que de antes era no campo; nenhua outra religião nos poderá suavisar e acompanhar nos noços trabalhos do que a do mesmo Patriarcha; e quando não poça ser, ao menos queremos hum Parocho para nos admenistrar os Sacramentos; e como temos certeza por felicidade noça, vinda da mão da Divina Omnipotencia, de que a mesma Senhora como tão Pia e tão Catholica e Protectora da Igreja, e dos seus vassalos, hade remediar as noças aflições e as noças angustias a V. Mes. recorremos para que da noça parte sejão servidos por na mesma Augusta e Real Presença a noça mesma necessidade do que R. Mcê.” A nomeação do primeiro Vigário da nova paróquia foi feita de acordo com a apresentação da Carta Régia de 10 de Junho de 1817, confirmada a 1º de Agosto do mesmo ano, sendo nomeado o Reverendíssimo Padre Francisco de Paula Barros, que já ocupava o cargo de Capelão da antiga Capela de São Francisco das Chagas. RESUMO HISTÓRICO DAS CAPELAS DA PARÓQUIA DE CANINDÉ DE 1817 a 1917 A conveniência precisa de completar melhor a história da Paróquia de São Francisco das Chagas de Canindé, e ao mesmo tempo, mostrar o seu desenvolvimento religioso em diversas épocas, trouxe-nos a ideia oportuna de pesquisar os dados dos principais acontecimentos passados, para formar um “Resumo Histórico” de suas capelas espalhadas pela sua extensa área paroquial, oferecendo assim alguns conhecimentos úteis sobre a origem desses prósperos núcleos de populações sertanejas, que no futuro virão a ser desenvolvidos centros agrícolas, formando outras tantas vilas e povoações. Os acontecimentos primitivos de que vamos tratar na origem histórica das Capelas abaixo descritas, foram colhidos na arca precisa da tradição dos seus antigos habitantes e simultaneamente guardados pelos seus descendentes, que, não obstante as fantasias de suas lendas, não deixam de ter o seu valor histórico. CAPELA DA MADEIRA CORTADA Esta capela parece não ter razão de existir, em vista da pequena distância, de três quilómetros, a que se acha situada da Matriz de Canindé. Não obstante, este motivo tão evidente, os habitantes deste arraial, sendo bastante numerosos, formando uma grande colônia na mesma familia, quizeram erigir no meio de suas habitações uma bela ermida dedicada ao especial culto de Nossa Senhora da Conceição, afim de que os seus moradores podessem educar melhor os seus filhos no conhecimento de Deus, e oferecer os seus louvores à Santíssima Virgem. O nome deste arraial, segundo a tradição, se originou de um grande monte de madeiras que foi encontrada no referido lugar, tomando por isto a denominação de “ Madeira Cortada”. Não se pode afirmar ao certo, a data de sua situação, porém, parece ter sido logo depois da fundação de Canindé, sendo seu primeiro proprietário, o cerarense Antonio da Paz, que ali situou uma fazenda e deu começo a cultura das terras. 45
Esta pequena povoação está situada à margem do ribeiro Souza, próximo à sua confluência no rio Canindé. Devido ao esforço e atividade dos seus moradores tornou-se um lugar muito produtivo pelas pequenas barragens que refrescam as suas terras férteis, formando hoje frondosos sítios, cobertos de extensas culturas de cereais e árvores frutíferas. Este povo assaz trabalhador, animado pelos seus nobres sentimentos de fé, tendo a frente o virtuoso ancião, o srnhor Hermenegildo Joaquim da Rocha, deu início a construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição de Madeira Cortada, no ano de 1909. Concluídos os trabalhos da edificação em 1910, o Reverendíssmo Capuchinho Frei David de Dezenzano benzeu-a solenemente a 18 de março do mesmo ano, consagrando-a sob a invocação da Virgem da Conceição. O patrimônio que o senhor Hermenegildo Rocha, fabriqueiro da Capela, ofereceu à excelsa Padroeira, consta de 40 braças quadradas de terreno, compreendidas no lugar onde se acha edificada a elegante capelinha. Todos os anos no dia 8 de Dezembro, os habitantes deste povoado celebram a festa da Imaculada Conceição, com um solene novenário e missa festiva, havendo grande concorrência de fiéis. É costume também entre os moradores que frequentam a aludida capelinha festejar o Mes Mariano. Diante da premente necessidade de dar instrução aos filhos dos seus habitantes, o governo do Estado, atendendo ao justo apelo que lhe foi dirigido, criou uma escola pública mixta que regularmente tem funcionado até o presente. No dia 31 de Maio de 1925, faleceu o venerando fabriqueiro da referida Capela, Senhor Hermenegildo Joaquim da Rocha, substituindo-o seu filho João Hermenegildo Rocha, que ficou encarregado da administração e como procurador do patrimônio da Padroeira. CAPELA DOS VEADOS O nome que tomou este pequeno povoado onde se encontra hoje erigida uma pequena ermida sob a invocação de Nossa Senhora de Lourdes, foi dado pela tradição popular, motivada por uma interessante coincidência que passamos a narrar: - Conta-se que, andando pelos campos, uns vaqueiros ao chegarem nas vizinhanças da serrota “ Pinda”, casualmente, encontraram dois veados que juntos maiavam. É por esta simples razão, o povo começou a chamar o lugar com o nome de “Veados”. As terras desse arraial foram situadas, desde 1850, pelo senhor Vicente Holanda. Está situado numa região bastante acidentada e perdregosa, porém, muito fértil e ótima para agricultura, banhada de Sul a Norte, pelo rio “Souza” e de Norte a Leste, pelo riacho “Tiracanga”. Os lugares vizinhos: Cacimba do Meio, São Pedro e Barro Branco, que ficam à margem do mesmo rio são provas bem evidentes da fertilidade dessas terras. Os coqueirais e outras árvores frutíferas que ai vicejam com admirável desenvolvimento, produzem excelentes frutos, e se transformariam em ricos pomares, se fossem tratadas com o necessário cultivo as terras baixas e marginantes aos referidos riachos. A boa situação dessa zona agrícola chamou ali muitos pequenos lavradores que se localizaram às margens do rio “Souza”, formando um importante núcleo de população que, dia a dia, vai aumentando admiravelmente. No intuito de satisfazer facilmente as necessidades espirituais dos habitantes desse povoado, alguns moradores levantaram a ideia de erigirem uma pequena capela em honra a Nossa Senhora de Lourdes. O Reverendíssmo Frei Mathias de Ponteranica, então Vigário desta paróquia, acolheu com a máxima boa vontade a nobre ideia dos habitantes, e logo, generosamente, concorreu com os valiosos auxílios para a construção da aludida capela, que foi erigida no cimo de um pequeno morro denominado –Alto Bonito- sendo edificada pelos esforços dedicados do senhor Antonio Felix, já falecido, ajudado pela generosa cooperação dos moradores desse povoado. 46
O patrimônio da Capela foi doado pelo Senhor Dr. Manoel Peixoto de Alencar e Antonio Felix, ambos falecidos, constando de 50 braças quadradas de terreno no mesmo local onde se acha construída a pequena ermida que foi benta e inaugurada solenemente pelo Rrverendíssimo Vigário Frei Matias, no dia 12 de Fevereiro de 1912. Esta capela é sempre bem concorrida de fiéis nas missas que, por diversas vezes no ano se celebram com grande aproveitamento espiritual dos seus numerosos habitantes, que deviam ter ao menos todos os meses Missas com instrução de catecismo, para que haja por aí menos ignorância sobre as ceremônias de nossa Santa Religião. CAPELA DE GROSSOS Não se sabe atribuir qual o motivo deste nome dado a esse pequeno arraial. Talvez, que o seu primeiro morador, o Senhor Trajano de Souza Rico, situando-se ali no ano de 1870, fosse natural de Grossos do Rio Grande do Norte, e então, para perpetuar no Ceará a lembrança do seu torrão Natal, denominou assim o lugar de sua habitação. Isto porem não é verídico. Este pequeno núcleo de população acha-se espalhado na margem esquerda do ribeiro Camarão, que, tendo a sua nascente alguns quilómetros acima desse povoado, vai despejar as suas águas no rio Canindé. Os seus habitantes vivem da pequena agricultura e de resumida criação; alguns possuem plantações de coqueiros de que fazem pequeno comércio com as vilas serranas de Coité e Mulungú. A capela foi edificada de 1911 para 1912 e a 24 de junho do mesmo anno, foi benta e inaugurada solenemente pelos Reverendíssimos Frei Matias de Ponteranica, dignissimo Vigário, e Frei Ângelo de Vignola, coadjutor da paróquia, sendo escolhido para Padroeiro São João Batista. A sede da capela de São João Batista de Grossos está distante 4 léguas da Matriz paroquial de Canindé, ficando à beira da estrada que segue para serra de Baturité, rumo Mulungú. O seu patrimônio consta de 30 metros quadrados, terreno onde fica colocada a referida capelinha. O seu fabriqueiro é o Senhor João Galdino Saraiva Leão, que tem prestado grandes serviços e muito se empenhou para a criação da Capela, adquirindo donativos e dirigindo os trabalhos da construção. A Divina Providência consolou também este pobre povo, que lamenta a distância da Matriz para cumprir os seus deveres religiosos, sendo esta modesta ermida um amparo espiritual e um especial vínculo de união e reunião para os pobres agricultores que habitam nas demais fazendas circumvizinhas. Nos últimos anos tem havido Missa ali quasi todos os meses e muito frequentada. Funciona e floresce o Apostolado da Oração. É de grande necessidade aumentar a capela para melhor abrigar o povo, mas, as esmolas já arrecadadas, ainda não permitem começar os trabalhos. CAPELA AD-INSTAR DA FAZENDA SERROTE A duas léguas das vertentes ocidentais da serra do Baturité e cerca de quatro léguas distante desta cidade, está situada a bela e aprazível fazenda Serrote, rico patrimônio do Senhor Dr. Plácido de Pinho Pessoa e de sua distinta família. Dotada de ótimos campos de pastoreação, excelente água e bons cercados, esta grande fazenda possue uma casa confortável e higiênica, e de ótima comodidade para algumas famílias, tendo ao lado esquerdo uma bela capelinha contígua à mesma casa, onde a virtuosa família Pinho Pessoa sabe cumprir fervorosa os seus deveres religiosos. O nome desta fazenda proveio da vizinhança de um pequeno serrote que fica há dois quilómetros de distância.
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A sua fundação data do anno de 1750, sendo o seu fundador o seu antigo proprietário, o Tenente Coronel Simão Barbosa Cordeiro, tronco genealógico da familia Barbosa Cordeiro. O panorama que desta fazenda a nossa vista descortina para o lado do nascente é encantador e poético, pois que abrange naturalmente toda a faixa azul e soberba da fertilíssima Cordilheira de Baturité. Esta fazenda está situada à margem do riacho dos Coiros afluente do grande ribeiro Seriema, sendo colocada como uma grande fortaleza dominando os sertões que se estendem em todas as direções, oferece uma paisagem encantadora e um clima ameno. A familia Pinho Pessoa, verdadeiramente religiosa, praticando a sua crença com nobreza e critério, quis ter ao seu alcance um meio mais fácil para satisfazer os seus santos anseios de glorificar a Deus e honrar a Santíssima Virgem, construindo na sua fazenda uma linda e artística capelinha dedicada a Nossa Senhora da Conceição. CAPELA DE CARIDADE Em 1860, o Coronel Antonio Gaspar da Silveira situou este lugar à margem esquerda das nascentes do rio Macaco, elevando-se na sua vizinhança, ao leste, um pequeno serrote chamado Kágado, nome que tomou a nascente fazenda. A sua especial situação ao lado de mui transitada estrada dos sertões do interior para Maranguape e Fortaleza, aumentou depressa o seu desenvolvimento e em pouco tempo, de fazenda tornou-se um povoado importante pelo seu comércio e pela feira de gados transportados dos sertões criadores de Boa Viagem, Santa Quitéria e Inhamuns. Numa missão de penitência pregada pelo Rrverendíssimo Pe. José Thomaz, mais ou menos no anno de 1880, edificou-se uma capela sob o patrocínio de Santo Antonio de Lisboa, em cuja ocasião, o reverendíssimo missionário mudou o nome de povoação de Kágado para o de Caridade. O patrimônio da nova capela foi doado pelo Senhor Coronel Antonio Gaspar da Silveira, constando duma área de terreno de 500 metros de frente e 200 de fundo, até a base do referido serrote. A povoação sempre crescente pelo aumento de sua população e a prosperidade de seu comércio, depressa se desenvolveu, tornando-se a capela insuficiente para abrigar o povo que a frequentava; pelo que, os seus habitantes decidiram construir uma capela mais ampla e conveniente. Graças aos esforços abnegados do virtuoso sacerdote Padre José Antonio Cavalcante que, então, era o Capelão da Igreja, e louvável cooperação do Senhor Capitão Raimundo Lopes Ferreira e o concurso generoso dos habitantes da já nascente Vila, foi completamente reconstruída e aumentada a antiga capela, transformando-se numa Igreja bem regular e suficiente ao recolhimento dos fiéis. Concluídos os trabalhos de remodelamento da nova Capela, foi benta e solenemente inaugurada pelo Reverendíssimo Frei Cirilo de Bergamo, a 13 de Junho de 1917, por ocasião da festa do seu glorioso Padroeiro, sendo também erguido nesse tempo um Cruzeiro comemorativo do 1º centenario da paróquia de Canindé que ainda se vê erigido em frente do adro da referida Igreja. Essa importante solenidade foi realizada com grande entusiasmo e alegria da população, sendo distinguida com enorme concorrência dos seus numerosos habitantes e notável assistência de povo dos municípios vizinhos. Caridade foi elevada à categoria de vila no ano de 1914, distando da Matriz de Canindé, 25 quilómetros em direção Norte. A sua planta urbana é mui irregular, possue algumas casas boas, um pequeno mercado, sendo, porém, a igreja o seu melhor prédio. Atualmente é servida por uma importante estação telegráfica e telefónica, uma agência do correio, um poço tubular construido pela I. F. O. C. S. e um bem favorável açude público feito na
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seca de 1888, que presta benefício e utilíssimo auxílio aos habitantes da Vila, lhes fornecendo ótima água e saborosos frutos produzidos pelas suas refrescantes aguadas. Todos os anos se celebra a festa de Santo Antonio, a 13 de Junho, com muito concorrência, e edificante devoção ao Glorioso Padroeiro. CAPELA DA FAZENDA PEDRAS Esta Capela que está situada na antiga fazenda Pedras, encontra-se a 2 léguas de Canindé na direção do Norte. A capelinha que é dedicada à milagrosa Virgem do Perpétuo Socorro, está assentada no cimo de uma colina que oferece vista aprazível e deslumbrante, descortinando-se belas várzeas cobertas de verdejantes carnaúbas. Ao norte levanta-se como guarda sobranceiro o grande serrote das pedras que, na sua conformação gigantesca, dá a impressão de um castelo medieval. A fazenda Pedras foi situada no meiado do seculo passado, sendo o seu primeiro proprietário o venerando canindeense Capitão Antonio Francisco de Magalhães, passando por morte deste à família Cruz Magalhães e hoje, pertence à familia Magalhães Monteiro. A ideia da ereção da aludida Capela sob a invocação de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, foi iniciativa da Exma. Senhora Dona Amélia Cruz Saldanha, no nobre intuito de difundir entre os agregados e moradores vizinhos as belas práticas da religião. A sua construção foi realizada tão somente com os auxílios das famílias Cruz e Magalhães. Concluídos os trabalhos da Capela, a 27 de Maio, realizou-se a bênção solene da mesma, e, logo depois, a Missa, cantada pelo Rvdmo. Padre José Barbosa de Magalhães, acolitado pelos reverendíssimos padres capuchinhos, Frei Marcelino de Milão, diácono, e Frei Abrahão de Rescalda, subdiácono, assistindo ao ato solene grande número de pessoas, o qual foi abrilhantado pela banda de música “Lyra Canindeense” sob a dirção do inteligente e saudoso patrício Josias Gondim. O patrimônio da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro das Pedras, consta de 50 braças de terreno oferecido pelo Senhor Acúrcio Cruz Magalhães. Pela grande enchente de 1924, caiu a Capela, e sendo depois reconstruída pelo Sr. Antonio A . Monteiro, atual proprietário, 1927-1928. Tendo sido danificada, o atual proprietário da referida fazenda a reconstruiu em outro local, sendo benta e inaugurada pelo reverendo Frei Nicásio, no dia 19 de Julho de 1928. CAPELA DE SANT´ANA A povoação de Sant´Ana (antiga Santa Rosa), de um esperançoso futuro, está situada à margem esquerda do rio Canindé, distando 7 léguas da Matriz desta paróquia, na direção do Norte. As margens aprazíveis e férteis que o rio Canindé oferece neste lugar, alegra e suavisa o viajante fatigado por longa jornada. Essas várzeas são de uma fertilidade espantosa: cana de açucar, algodão, milho, feijão, arroz, batatas crescem ali exuberantes e valiosas colheitas. As árvores frutíferas como sejam: a mangueira, ateira, cajueiro, coqueiro, bananeira e muitas outras próprias do nosso clima, produziriam ali de maneira invencível, se os seus habitantes tivessem mais gosto e perseverança no seu rendoso cultivo. O comércio de Sant´Anna é bastante próspero e desenvolvido, e se tornaria mais animado se já houvesse construído boas estradas, facilitando os transportes dos seus produtos para os centros exportadores. A primeira situação desse lugar foi feita em 1862, pelo Senhor Joaquim Teixeira de Castro e dona Anna Maria de Castro, compreendendo as duas fazendas Santa Rosa e Humaitá. A extraordinária fertilidade de suas terras atraiu para ali numerosos moradores, de forma que, em breve, transformou-se numa arraial, perdendo o nome de Humaitá e ficando com o de Santa Rosa. 49
Os habitantes do novo arraial viviam satisfeitos e felizes, porém, achando-se bem distanciados da Matriz, com muita dificuldade podiam desempenhar as suas obrigações espirituais. Então, o Senhor Manoel Soares da Cruz, morador em Santa Rosa, atendendo os justos desejos dos moradores, pediu ao seu filho Gonçalo Soares da Cruz, para construir uma capelinha em honra de Nossa Senhora Sant´Ana, que foi concluída no ano de 1889, sendo benta pelo reverendíssimo Pe. José Antonio Cavalcante, no dia 24 de Dezembro do mesmo ano. Aumentando cada vez mais a povoação que já tomara o nome de Sant´Ana, em honra de sua santa padroeira, sendo a Capelinha pequena para comportar os fiéis, então o Senhor Coronel André Ferreira Lima, em 1900, mandou fazer uma grande reforma na referida Capela, ficando mais ampla e confortável. O aumento da população dessa povoação, tem aumentado admiravelmente de 1900 a esta parte, achando-se a Capela pequena e baixa. Pelo que no ano de 1920, havendo uma reunião dos principais proprietários das fazendas vizinhas, decidiram construir uma nova Capela ao lado direito do Cruzeiro comemorativo do Centenário da Paróquia. Para este fim o Senhor Capitão Raimundo Gomes, generosamente deu o terreno necessário que ficou fazendo parte do patrimônio. O patrimônio da Capela de Sant´Ana consta de 100 braças quadradas ficando a referida povoação edificada no terreno do aludido patrimônio, pagando os habitantes o foro correspondente ao espaço ocupado, pela sua serventia doméstica. O povoado de Sant´Ana, sendo a sua população servida por uma escola mixta, de instrução primária, e um poço tubular com catavento para aguada pública, agência do Correio e um posto telegráfico. Por ocasião da última visita pastoral, o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Manoel da Silva Gomes deu ordem para construir uma nova igreja, cujos serviços estão hoje bem adiantados e brevemente serão concluidos pela boa vontade dos seus habitante e o grande empenho do dirigente dos trabalhos. CAPELA DA PIEDADE O nome aplicado a esse lugar foi devido à formação do terreno que é geralmente bastante acidentado e pelos seus grandes declives não conserva humidade, permanecendo quase sempre árido até mesmo na estação invernosa, de maneira que a vegetação é raquítica. Na época do verão outrora era quase impossível encontrar água no subsolo dessa zona sertaneja que, parecia, estava condenada ao abandono, e justamente por isso inspirava piedade. Mas, a Providência dispos tudo de outra forma: da esterilidade fez surgir uma portentosa fertilidade. Situada em 1894, pelo Senhor José Justino Gomes, foi este lugar aos poucos se transformando mediante os esforços e sacrifícios do seu proprietário que, para melhor cultivo de suas terras, construiu um pequeno açude. E assim cultivando com esmero e constância as terras, antes tão estéris, transformou-as, anos depois, em roças férteis e amenas, causando mesmo surpresa aos que dantes as conheciam como improdutivas. E hoje, onde outrora, o viajante só encontrava ervas daninhas, acha belos canaviais, grandes roçados de mandioca, arroz, algodão e outros legumes; a esterilidade do terreno transformou-se em abundante fertilidade pela força do trabalho e a enérgica vontade aliada à firmeza e dedicação dos seus operosos habitantes. O arraial Piedade fica situado à margem esquerda do riacho Sítio, próximo a confluência deste com o volumoso ribeiro Piedade, distando 20 quilómetros da cidade de Canindé. Em 1910, o Sr. José Justino Gomes, proprietário da principal fazenda agrícola, homem trabalhador e sinceramente religioso, construiu um quarto especial para servir de oratório aos seus parentes e moradores circunvizinhos. Alguns anos depois, o Sr. José Justino Gomes, vontadoso de melhorar cada vez mais as condições materiais e o espírito religioso dos habitantes deste arraial, auxiliado pelos seu parentes 50
e amigos, construiu uma bem feita capelinha que foi benta e inaugurada, em 1919, pelo Rvdmo. Frei Lourenço de Alcantara, consagrando-a sob o patrocínio de Nossa Senhora da Conceição. Todos os melhoramentos realizados d´ai por diante na referida capela, deve-se à generosidade da família Justino Gomes, que doou como patrimônio da padroeira da referida capela, 20 metros quadrados de terreno no local onde foi construída. A Capela de Piedade é muito concorrida de fiéis e celebra a sua festa em Setembro, mes consagrado pela Igreja a Nossa Senhora da Piedade. Em 1924, a bela Capelinha passou por uma necessária reforma, com notáveis melhoramentos. CAPELA DO JATOBÁ O nome que tomou esse povoado origina-se, segundo uns, da abundância considerável de árvores denominadas vulgarmente Jatobás, que produzem frutos constituídos de uma massa comestível, bastante nutritiva e de excelente madeira para construção. Porem, a tradição mais admissível, é que a origem desse nome proveio de uma tribo de índios que aldeiados habitavam às encostas da serra do Jatobá, numa extensão de 7 léguas de comprimento e três de largura. As terras que a compõem conquanto mais secas do que as da Serra do Machado, contudo, são bastante férteis, intercaladas de baixas frescas e adubadas, excessivamente produtoras de mandioca, milho, algodão e outros legumes. A sua maior riqueza agrícola era outrora constituída pela maniçoba, que depois foi inteiramente abandonada, em vista da desvalorização deste produto que cresce expontâneamente nas matas secas da mencionada serra. A pequena população desse povoado vive exclusivamente da agricultura, fonte perene de sua parca subsistência. As suas matas e capoeiras são abundantes de caça e de mel de abelhas e também de belas madeiras de lei, constituindo uma grande riqueza econômica. A primeira capelinha existente nesse povoado foi edificada em 1877, mas devido o abandono ocasionado pela grande seca daquele ano, ficou completamente destruída. A Segunda Capela que ainda hoje existe quase em ruina, foi erigida em 1887, pelos antigos moradores Senhores Jerónimo José do Rego e Cosmo Lopes de Oliveira, sendo terminados os serviços em 1888, quando foi benta e inaugurada solenemente pelo então Vigario desta paróquia, reverendíssimo Padre Manoel Cordeiro da Cruz, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição. O patrimônio dessa humilde Capelinha é constituído de 25 braças quadradas, sendo doado pelo Senhor José Mecena, antigo proprietário do lugar. CAPELA DO TRAPIÁ O Viajante que se dirige para a Serra do Machado, após ter percorrido 8 léguas de enfadonha viagem através de sertões secos, de desfiladeiros íngremes e selvagens, chega enfim, no chapadão da Serra do Limoeiro, onde goza de uma aragem amena e confortante, ficando mais disposto para continuar a sua longa jornada. Ao transpor os desfiladeiros da serrania que se extende magestosamente espessa, o viajante encontra-se no amago de uma natureza encantadora e rica de frondosas matas, onde correm cristalinas fontes, trinam lindos pássaros e arrulham penosas juritis, deixando a sua alma presa das mais saudosas recordações. As paisagens pitorescas, que ali nos oferece o verdejante arvoredo da magestosa serrania, encantam a nossa vista com belissimos enfeites naturais, encurtando a caminhada de 6 longos quilómetros que ainda restam para alcançar o ubérrimo sítio Trapiá, onde está erigida a pequena Capelinha, situada num pequeno morro, cercado de verdes canaviais. Este pequeno povoado recebeu o nome de Trapiá, dizem, por causa de dois grandes trapiazeiros que antes existiam à entrada do sítio.
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A sua situação data do tempo dos primeiros exploradores da agrícola e fertilíssima Serra do Machado, que foi mais ou menos na era de 1760. Conhecedor da fertilidade do terreno deste sítio, o senhor coronel Leôncio Xavier Macambira comprou-o, transformando-o, depois de alguns persistentes trabalhos, numa valiosa propriedade. Indiciando largas culturas de cereais, legumes, cana de açucar, algodão e maniçoba, estabelecendo mais tarde maquinismos para beneficiar algodão e cana, formando assim um importante centro de agricultura e comércio. A situação agradável que este sítio oferece a quem o visita, cercado como se acha de abundante verdura e rara amenidade de clima, traz-nos à mente a ideia semelhante de um oasis encravado no deserto, em que a natureza caprichosa ostenta os ricos primores de sua fertilidade num verdadeiro contraste com a aridez dos sertões secos e descampados. A fertilidade prodigiosa das terras que se extendem deste povoado até ao sopé da Serra do Machado, formando um vale essencialmente agrícola, atraiu para ali grande número de famílias pobres, fundando-se mais tarde os pequenos arraiais: Oiti e Riacho Verde, que hoje formam um importante núcleo de pequenos agricultores, desenvolvendo bastante a produção e o comércio dessa zona. A distinta e virtuosa esposa do Senhor Coronel Leôncio Xavier Macambira, dona Emília Laura de Oliveira, de saudosa memória, na caridosa ideia de beneficiar também moralmente os moradores desse nascente povoado e dos arraiais circumvizinhos, obteve de seu esposo a ereção de uma capelinha, afim de que, ali, as riquezas da terra fossem irmanadas com as riquezas do Céu. De fato, em 1900, foi iniciada a construção da aludida capelinha que foi concluída no ano seguinte, sendo benta e consagrada sob a invocação de Nossa Senhora Sant´Ana, pelo reverendíssimo Padre Capuchinho Frei Hilarião de Lode, aos 25 de Junho de 1901, havendo um Tríduo solene e Missa cantada, que foram assistidos por notável concorrência de povo, distintas famílias e cavalheiros, vindos de Canindé. Em 1914, esta valiosa propriedade passou à posse dos irmãos Pedro e José Macambira, que muito melhoraram as terras, aumentando o cultivo da cana de açucar, da mandioca, dos cereais e legumes, construindo uma fábrica para produção de rapaduras e aguardentes e mais tarde, um bom açude para conservar sempre frescos os extensos baixios do sítio. Assim, o lugar prosperando materialmente, alcançou tambem o desenvolvimento espiritual, graças aos esforços das distitas senhoras dona Etelvina de Mesquita e dona Antonia Sales Macambira, virtuosas esposas dos proprietários. As necessidades mais palpitantes eram então o aumento da pequena Capela que não comportava nem a terça parte dos fiéis, e a fundação de uma escola rural para a instrução primária de grande número de meninos e meninas, filhos dos moradores dos arraiais Trapiá, Oiti e Riacho Verde. A reforma da Capela foi realizada em Dezembro de 1925. CAPELLA DE WALTIBURY Esta capella está situada no coração da Serra do Machado, sendo edificada em uma pequena colina realçada de verdejante e encantadeira vegetação, de onde se destacam fragosas serrranias cobertas de frondosas matas, oferencendo um ambiente agrádavel e sadio. Neste pitoresco recanto da Serra do Machado, onde os proprietários tiveram o cuidado de conservar as matas, existem hoje os melhores sítios de lavoura: Olha d ´Àgua, Waltibury e Jacú, que produzem bastante algodão, borracha, cereais, legumes, variadas frutas, ótimo café e cana de açucar. A primeira situação desta rica parte da Serra do Machado, data do ano 1795, feita pelo fazendeiro Antonio José de Souza, que explorou a parte nascente da Serra, edificando uma casa e fabricando um sítio que chamou São Gonçalo, por ter especial devoção a este Santo.
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Em princípios de 1805, o fundador do sítio edificou uma capela em honra do mesmo Santo e ofereceu como patrimônio o terreno existente no referido lugar. Tendo morrido mais tarde o Senhor Antonio José de Souza, foi constituído procurador da capela, o senhor José Antonio Veloso, que morava no sitio Olho d ´Àgua. Com a morte deste ultimo em 1879, não foram nomeados mais procuradores para o patromônio da Capela, que ficou em completo abandono. Dona Maria Romana de Souza, filha do antigo procurador senhor José Antonio Veloso, vendo o abandono em que era deixada a imagem de São Gonçalo na capela em ruínas, resolveu retirá-la e guardá-la no oratório de sua casa. Tendo, porém, adoecido gravemente fez uma promessa a São Gonçalo, para edificar no seu sitio Waltibury uma capela a entronizar a veneranda imagem. Tendo alcançada a graça, dona Maria Romana tratou logo de dar cumprimento à sua promessa, restaurando ali o culto de devoção a Sâo Gonçalo. A construção da nova Capela de Waltibury, foi iniciada em 1903, pelo seu digno esposo senhor capitão. João Chrisóstomo de Souza e concluída em 1904, sendo benta e inaugurada pelo Reverendíssmo Frei Matias de Ponteronica, zeloso vigario desta Paróquia. CAPELA DE BELÉM DO MACHADO O nome da aludida Capela foi dado tambem à povoação, por ter o seu Patrono, o Menino Deus, nascido em Belém de Judá. O povoado de Belém, onde se acha a capela, está situado na vertente oeste da Serra do Machado, distando 10 léguas da sede da Paróquia. A Serra, embora devastada nas suas frondosos matas pelas mãos destruidoras dos seus rústicos habitantes, contém ainda alguns sítios que conservam quase intactas as suas ricas madeiras de lei, cultivando bastante, o café, o algodão, os cereais, legumes e muitas frutas. Os primeiros exploradores dessas férteis serranias denominadas pelos indios – Serra da Samambaia, foram os portugueses Antonio Ferreira Braga e Jeronimo Machado, cujo nome foi doado ao lugar como memória do seu arrojado fundador. Em 1795, um morador da fazenda Tatajuba no sertão de Quixeramobim, chamado Antonio José de Souza situou ao nascente da Serra uma pequena posse, denominando-a sítio São Gonçalo, sendo ai edificada uma capelinha sob a proteção deste Santo. Com a morte do proprietário e a retirada dos habitantes na terrivel seca de 1852, a povoação nascente e a capelinha foram abandonadas e entregues à destruição do tempo. A imagem do Santo foi acolhida em casa particular do capitão João Chrisóstomo de Sousa, proprietário dos sítios Olho d´Água e Waltibury, achando-se hoje na Capelinha do último sítio. Com a decadência do povoado São Gonçalo, em 1825, anos depois, outros habitantes vieram se estabelecer na Serra do Machado, fundando novas situações. Em outros lugares, o senhor Antonio Alves Guerra situou em 1869, um sítio denominado São Pedro, de cuja propriedade ainda existem os alicerces. Vendo o senhor Antonio Alves Guerra, que a população da Serra aumentava com a chegada de novos moradores atraidos pela fertilidade das terras, teve a boa ideia de edificar uma capelinha afim de que o povo mais facilmente se reunisse em comércio, cumprindo mais a miudo os seus deveres religiosos, ante a grande distância que se achavam da Matriz. Com efeito no ano de 1870, estava concluída uma capela dedicada ao culto do Menino Deus, que foi benta e inaugurada no dia 23 de Dezembro do mesmo anno, pelo vigário interino da paróquia, Padre Manoel Carlos da Silva Peixoto, lente do Seminário Episcopal de Fortaleza e natural de Crato. O patrimônio da Capela de Belém, consta de um terreno de 200 braças quadradas, ao lado do Municipio de Canindé, doado por José Francisco de Brito e mais outras tantas braças ao lado do Municipio de Quixeramobim, doadas pelo senhor Antonio Alves Guerra, perfazendo o total de 400 braças quadradas justamente no local onde estão situados a Capela e o povoado de Belém.
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No decurso de 50 anos, apesar de ficar bastante distante das cidades de Canindé e Quixeramobim, a povoação tem feito algum progresso: edificaram-se muitas casas, varias fábricas de beneficiar algodão, destacando-se duas movidas a vapor que também beneficiam cana de açucar e mandioca, fabricando aguardente e farinha; uma grande e moderna situada no sitio Amargosa pertencente ao senhor Raimundo Cunha e a outra pequena situada no sitio São Lourenço, propriedade do senhor Antonio Sabino Guerra. Na povoação existe um arruado de casas todas habitadas, assim como várias lojas e mercearias bastante movimentadas na época da safra, principalmente, quando se valoriza o algodão e a borracha que são os principais produtos de sua lavoura. Existe próximo ao povoado um pequeno açude que, aumentado, prestaria grandes benefícios à sua população, mormente nos anos de seca. A povoação de Belém seria de um grande futuro se os poderes públicos lhe proporcionassem meios fáceis de transportes para o seu notável comércio de algodão, borracha, cereais, legumes, frutas e até mesmo café, que já alguns sítios produzem superior em qualidade ao mesmo produto da Serra de Baturité. Mas, infelizmente, a falta de estímulo e proteção ao pequeno agricultor e as grandes dificuldades de transporte, estorvam o soerguimento da agricultura que possue, ali, largas e fertilíssimas terras, para tornar-se um centro rico de producção agrícola como são as serras de Baturité e Uruburetama. CAPELA DO PARAISO Este lugar que antigamente era chamado Lagoa do Mato, e hoje se denomina “Paraiso”, fica situado no alto do sertão de Quixeramobim, mas eclesiasticamente, faz parte da paróquia de Canindé, As suas terras se limitam ao Norte, com a freguezia de Sta. Quitéria; ao Oeste, com a paróquia de Boa Viagem; e ao Sul e Leste se estendem até os sopés das serras do Machado e Mariana. Sendo a princípio quase desabitado, em 1889, o Senhor Antonio Honorato situou ali uma pequena fazenda agrícola e criadora, que teve pouca prosperidade, devido a incúria do proprietario. Os terrenos deste lugar são cobertos de matões secos e selvagens capoeiras, banhadas por pequenos riachos que secam logo no começo do verão; existe, uma grande lagoa situada no meio da “caatinga”, donde se originou o nome antigo de “Lagua do Mato”! Apesar de má colocação da Capela e da insipidez rústica desse arraial, o movimento religioso da Capela do Paraiso é bastante regular e consolador, porque nos terrenos limítrofes da referida Capela existem muitas fazendas férteis e bem habitadas, banhadas pelos ribeiros Santa Rosa, Tatajuba e Umarizeira, cujos proprietários e moradores afluem a esse modesto asilo espiritual. O Srnhor Antonio Honorato, cumprindo uma sua promessa a Nossa Senhora do Carmo, erigiu essa pequena Capela, prestando inestimáveis benefícios morais à numerosa população desses longíncuos sertões, que ali fazem anualmente as suas obrigações e preceito para com a santa Igreja Católica. No anno de 1901, o Reverendíssimo Padre Manoel Cordeiro, de saudosa memória, que durante muitos anos foi Vigário em Canindé, benzeu solenemente a aludida Capela com grande regozijo dos habitantes dessa região sertaneja. O patrimônio da capela de Nossa Senhora do Carmo foi oferecido pelo Sr. Antonio Honorato e consta de 100 braças de terrenos onde está edificada a Capela e se acha também o cemitério.
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CAPELA DE SÂO GONÇALO Quem vai da cidade de Canindé pela estrada que se dirige para a povoação Bandeira, no massiço da Serra da Mariana que serve de linha divisória das águas dos municípios de Canindé e Quixeramobim, avista ao longe um desfiladeiro de pequenos serrotes em pleno sertão como sequito de ramificações das serras do Machado, Serrinha e Mariana, já bastante danificadas em suas matas pelo braço inconciente dos seus rústicos moradores. Ali, nas adjacências desses secos outeiros, corre um caudaloso ribeiro de 6 léguas de curso, chamado São Gonçalo que dá o seu nome à animada povoação. Todas as terras marginantes desse riacho que nasce nas vertentes suleste da Serra do Machado, são admiravelmente produtivas de cereais, legumes e algodão, existindo também alguns canaviais nas terras úmidas. O nome São Gonçalo, segundo dizem os antigos moradores, precedeu também da situação de uma grande fazenda feita pelo srnhor José dos Santos Lessa no ano de 1820. Pela grande ferilidade das margens do referido ribeiro, grande número de famílias de pequenos agricultores se refugiaram neste abençoado lugar, estabelecendo um grande arruado de propriedades agrícolas e criadoras que se extendem em longos Zig-Zags, com bananeiras, mamões, cajueiros, dando um belo aspecto ao pequeno arraial. A origem desta capelinha nasceu de uma promessa que um filho do povoado, vindo do Pará, fez em honra de Nossa Senhora de Nazareth, sob cuja invocação foi benta e inaugurada. O patrimônio da referida Capelinha foi cedido pelo senhor Manoel Pereira da Silva e consta de 40 braças quadradas de terreno onde foi edificada. Em 1920, por ocasião das missões paroquiais foi bento um bem construído cemitério, cujo terreno tinha sido oferecido ao patrimônio da Capela pelo senhor Manoel Pereira da Silva, que foi um dos maiores benfeitores desses melhoramentos. Há evidente necessidade de uma escola rural neste arraial, onde vivem grande número de crianças de ambos os sexos necessitados de instrução primária. É muito justo que esses agricultores pagando impostos de renda e dízimos de criação e agricultura, tenham ao menos, em recompensa dos seus tributos pagos ao Estado, a generosa concessão deste inestimável benefício em favor dos seus filhos que estão abandonados ao mais triste estado de ignorância. CAPELA DO IPÚ O pequeno arraial “Ipú” fica situado ao Sul, distante 18 quilómetros da Matriz de Canindé. Colocado num fertilíssimo vale, este aprazível povoado apresenta um aspecto pitoresco e atraente, cercado como está de verdejantes bananais e frondosos coqueirais, ostentando nas suas várzeas onduladas de verduras uma natureza exuberante que afeiçoa e conforta ao viajante esfalfado de longa caminhada. Ipú é um verdadeiro oasis no adusto sertão de Canindé, banhado pelo caudeloso riacho “Vazantes” dando vida e beleza às extensas lavouras, indo depois despejar as suas águas no formoso rio Canindé, que também banha as suas exuberantes terras. Os fartalhantes coqueirais e os lindos arvoredos que circundam esse ameno povoado, parecem desafiar a canicula do sertão. Os frescos e viçosos bananais num rumor sombrio, oferecem abrigo suave e delicioso, festejado pelos maviosos gorgeios dos passarinhos que, nos seus harmoniosos trinados, louvam ao Criador por ter-lhes preparado uma morada tão deliciosa. Esta pequena e deliciosa povoação compõe-se de rústicas moradas semeadas às margens do rio Canindé e do riacho Vazantes, habitados por pequenos agricultores que, reconhecidos pelos abundantes favores da Providência, resolveram erigir no meio de suas modestas habitações um asilo espiritual para mais facilmente cumprirem os seus deveres religiosos. Animados pelo zeloso e esforçado Vigario Reverendíssmo Frei Matias, e auxiliados pela boa vontade do Sr. Estanislao Martins, combinaram em edificar uma bela capelinha dedicada à 55
devoção da Sagrada Familia de Nazareth, como símbolo de verdadeira união entre as familias ipuenses. Iniciados os trabalhos de construção em 1912, foram terminados em 1913, e aos 3 de Agosto do mesmo anno, o Reverendo Frei Ângelo de Vignola, deu a bênção solene ao novo templozinho, celebrado em seguida a festa do Padroeiro que foi assistida com grande alegria por numerosa concorrência de povo e distintas famílias vindas de Canindé. Em 1915, o Sr. Clovis Pinto ornamentou a capelinha, passando por grande reforma, sendo aumentada e erguida uma elegante torre, construindo-se tambem dois altares laterais consagrados ao Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora do Carmo. Nestes grandes melhoramentos trabalharam os senhores Estanislao Martins, Pedro Januário, João de Lima, Manoel Alves e Francisco de Lima, auxiliando com trabalhos, dinheiro e materiais de construção. O patrimônio da Capela foi cedido gratuitamente pelo Senhor Manoel Januário, constando de 30 palmos quadrados ocupados pelo local onde está edificada. Em 1923, a bela capelinha foi de novo reformada e ampliada, sendo reconstruído o altar-mór conforme o modelo do altar da Ermida do Sagrado Coração de Jesus em Canindé, sendo as despesas pagas pelo Apostolado da Oração e esmolas dos fiéis. A Capela tem três altares bem ornamentados. No altar-mór está entronizada a linda imagem da sagrada Familia. Tendo aos lados as pequenas imagens de Nossa Senhora das Dores e São Sebastião. Nos altares laterais estão entronizadas as imagens do Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora do Carmo. É digno de nota declarar que é a única Capela fora da Matriz que possue torre e tem espaço suficiente para abrigar os seus fiéis. CAPELA DE CAMPOS Quem de Canindé vai, sertão afora, pela estrada que se dirige para o município de Quixeramobim, após 5 léguas de enfadonha viagem, em meio de terrenos agrestes depara ao longe uma bela silhueta verde destacando-se bem visível do panorama triste que se desenha nas encostas das serrotes secas que circundam o alegre e aprazível denominado – Campos Elísios, outrora, conhecido pelo nome – Várzea da Carnauba. Os habitantes deste abençoado lugar onde o grande Servo de Deus, São Roque, se dignou estabelecer o seu trono sobre a terra, não obstante a falta de recursos económicos, vivem na sua maioria de sua pequena lavoura, que, infelizmente, no Ceará é inteiramente abandonada e entregue à rotina do pequeno agricultor do sertão, excessivamente pobre e perseguido por toda a sorte de insetos daninhos e inclemência da natureza do nosso solo. Em 1847, Campos era ainda deshabitada e inculto, mas dez anos mais tarde, em 1857, foi edicficada sua primeira casa. Apesar das intensas e amiúdas secas que assolam o Ceará, desde aquela remota época, este pequeno povoado teve admiravel progresso, contando hoje mais de 30 casas próximas, espalhadas pelas extensas várzeas que numa verdejante orla coberta de cereais e legumes, formam o perímetro da futurosa povoação. A humilde Capelinha está situada na margem do riacho Campos, que nasce na Serrinha e despeja as suas águas no rio Cangati. Antes da construção da referida Capela, em 1902, já existia um quarto de Oração na residência do senhor Raimundo Batista. Em 1906, foi inaugurada e benta uma nova capelinha consagrada a Deus, sob a invocação do milagroso São Roque, célebre pelas suas virtudes e penitências. O patrimônio da pequena Capela foi oferecido pelo Senhor Raimundo Batista, tendo quase uma légua de extensão, cujos limites são os seguintes: Ao Sul, o riacho dos Abreus; ao Norte, extremando com as terras de Francisco Souza; ao Nascente, pelas águas do serrote Guza; e ao Poente, pelas aguas do serrote “ Campos”.
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A festa do santo padroeiro, se celebra todos os anos em Agosto, sendo muito concorrida pelos moradores da povoação e habitantes dos lugares vizinhos, realizando-se na Capela um Tríduo solene em honra do glorioso Santo Padroeiro, que é encerrado pela Santa Missa, Comunhão geral e Benção do Santíssimo Sacramento. CAPELA DE CAIÇARINHA O nome que tomou esta decadente povoação, onde há muitos anos foi edificada uma bem construída Capella, é de origem indígena, e vem do termo Tupi – “Caiçara” que significa – trincheira. Narra a tradição que este antigo povoado tomou o nome de Caiçara, em alusão a uma pequena cerca de pau a pique, que, em 1840, construiu o seu primeiro morador, o antigo fazendeiro senhor Lycurgo Antonio de Menezes, em torno de sua antiga morada. Aquela humilde choupana de taipe, escondida entre os frondosos oiticicais que cobriam as margens fertílissmas do riacho “Santa Rosa”, alguns anos depois desaparecia, para dar lugar a uma rica povoação habitada por numerosos agricultores e criadores. O panorama natural que apresenta esta povoação, vista de lado do Nascente, é visivelmente agradável. Situada num belo planaltozinho que costeia as fescas margens do riacho “Santa Rosa”. De onde se observa os alcantilhados pincaros da Serra dos Teixeiras, com as suas fortes ondulações a descrever curvas alternadas e íngremes, onde se ergue um colossal pico de granito, atingindo 800 metros de altitude, conhecido pelo nome de “Espigão”. Prosseguindo ao Poente as suas ondulações, a pequena cordilheira forma mais adiante três altos serrotes denominados os “Tres Irmãos”, por se constituirem extremamente ligados pelas suas encostas. Ao Nascente se extendem várzeas cobertas de viçosos carnaubais e ricos terrenos agrícolas que são aproveitados pela atividade dos seus proprietários, produzindo abundante colheita de cereais, legumas, cana de açucar, mandioca e algodão. A prodigiosa fertilidade de suas terras fez convergir para ali uma numerosa população que vivia sem amparo espiritual da Religião, em vista da grande distância que a separa da Matriz da Paróquia de Canindé. Animados pela fé dos seus antepassados e desejosos de cumprirem os seus deveres de cristãos, os habitantes desse povoado e das fazendas vizinhas resolveram edificar uma modesta capela onde podessem elevar as suas fervorosas preces ao Criador. Com efeito, no ano de 1864, o senhor Francisco J. de Araújo, auxiliado pela generosidade e boa vontade do povo, poude concluir a referida Capela, que foi benta solenemente no mesmo ano, pelo Vigario da Paróquia, Reverendo Padre Ernesto José Cavalcante e dedicada à invocação do glorioso mártir São Sebastião. O patrimônio da Capela foi doado pelo senhor Lycurgo Antonio de Menezes, compreendendo o terreno onde está edificada a Capela e a parte Oeste da povoação, determinado pelos seguintes limites: ao Poente, o riacho do Meio; ao Sul a estrada de Quixadá; ao Norte, o riacho “Santa Rosa” com as terras dos herdeiros do Senhor Lycurgo Antonio de Menezes. Em 1925, foi restaurada a escola mixta primária, que havia sido suprimida por questões de somenos importância, estando portanto a povoação bem servida de instrução para os numerosos filhos dos seus habitantes, que, hoje, gozam dos favores da educação religiosa e civil, afastando dos lares as trevas espessas da ignorância. CAPELA DE IPUEIRAS DOS TARGINOS O nome Ipueiras dos Targinos, dado a antiga Ipueiras á margem do rio Cangati, veio em apelo com singela homenagem ao respeitável ancião – Coronel Targino José de Góes, então, proprietário daquela fazenda, que, em 1896, quando existia ai, apenas alguns casebres, houve por bem dotar Ipueiras com melhores casas, construindo a que demora ao sopé do morro, onde, mais tarde, veio a ser construida a capelinha do milagroso Santo Antonio, que os filhos daquele cidadão, de saudosa memória, fizeram construir arrostando com toda a sorte de sacrifícios, isto, 57
para conseguir e realizar a maior aspiração do varão extinto, católico prático, esposo e pai extremosíssmo. Outros moradores, a exemplo do Coronel Targino, construiram diversos prédios isolados, o que tem dado a Ipueiras dos Targinos um aspecto agradabilíssimo, dando a impressão de uma fazenda modelo. Mais tarde, construida a capelinha na parte superior do já referido morro, de onde se descortina belissimo panorama, a virtuosa matrona Dona Izabel Carlota Targino da Silveira, houve por bem, num rasgo de filantropia, dar ao venerável Santo Antonio de Pádua, 25 braças quadradas do terreno que serve de coroamento ao aprazível morro, achando-se atualmente a capela em via de uma remodelação redical, graças à boa vontade e ao espírito empreendedor de Frei Estévão, auxiliado pelos distintos cidadãos Ervencio Silveira Góes, Antonio Silveira Góes, Luiz d´Oliveira e Miguel Antõnio de Oliveira, que não tem poupado esforços afim de verem terminados os trabalhos já iniciados, e dest´arte, satisfeito o maior desejo do Coronel Targino – a criação de uma capela em Ipueiras, onde pensara findar seus dias e ali ser sepultado. Ipueiras dos Targinos, que dista 54 quilómetros ao sul desta cidade, fica à margem direita do rio Cangati, sendo considerado um dos centros mais produtores do Muncípio de Canindé. Ali, cultiva-se, o algodão, o milho, o feijão, o arroz e a mandioca. Eis, em síntese, o que é o povoado Ipueiras dos Targinos. NOTAS CRONOLÓGICAS DO MUNICÍPIO DE CANINDÉ RESUMO HISTÓRICO Canindé – Origem etimológica: teu mato? De-coa-mato e de indé-teu? – Martins. Gloss. Pags. 38 e 95; talvez, contração de Araracã-arara muito retinta, B. Caetano, vocab. pg. 67. Não podemos definitivamente determinar a origem indígena do nome Canindé, dado ao município e à cidade; entretanto, nos parece que este nome tenha tido a sua origem na grande abundância de canindés, (especie de arara de côr azul) que, em tempos mui remotos, viviam à margem do pequeno riacho, próximo ao lugar Canindezinho, a faziam seus ninhos no serrote pedregoso que, ainda hoje, existe proximo à fazenda Pedras. A tradição nos autoriza a afirmar que a primeira habitação levantada neste rústico sertão, foi edificada no referido Canindezinho, ainda no domínio holandes. Cremos que os índios Canindés e Genipapos, antigos habitantes dos aldeiamentos de Baturité e Canindé, eram divididos em duas tribus, uma habitando este sertão e a outra, povoando o território compreendendo da Serra de Baturité, às margens do rio Choró. Estamos de acordo com a opinião que aceita a origem do nome Canindé, dado ao sertão compreendido do sopé da Serra de Baturité às margens do rio Curú; e não originada da aldeia de indios Canindés, que, certamente, terão dado o seu nome à tribo dos mesmos índios. As tradicionais notas dos nossos antepassados dizem-nos que no fim do século XVIII, chegou a este inculto sertão, vindo da capitania de Pernambuco, o portugues Francisco Xavier de Medeiros, e aqui se estabeleceu no intuito de erigir uma capela em honra ao glorioso São Francisco das Chagas. Naquela época o sertão de Canindé era completamente selvagem e deshabitado o local onde está colocada esta cidade, era habitado por algumas rústicas cabanas e cerradas catingas. Francisco Xavier de Medeiros situou a sua fazenda à margem esquerda do rio Canindé, erigindo, em lugar proximo, uma pequena capela sob a invocação de São Francisco das Chagas. Á margem do rio Canindé, e em outros pontos mais centrais, existiam várias outras fazendas de criação, pertencentes a ricos proprietários naturais de Fortaleza, Jaguaribe e da vila de MonteMor, hoje Baturité. A construção da nova capela e os prodígios operados pelo seu milagroso Padroeiro, depressa atrairam a atenção das populações ribeirinhas e de outros pontos distantes, que desejosas de participarem também desses favores extraordinários, vinham estabelecer ali as suas moradas, de forma que, anos depois, na margem do rio e suas fazendas próximas, já existia um valioso núcleo de habitantes. 58
Com o aumento constante da agricultura e da criação, os moradores desta zona sertaneja começaram a entreterem comércio ativo com as populações vizinhas, de maneira quem pouco tempo depois, o povoado de Canindé estava conhecido em toda a Capitania do Ceará. FUNDAÇÃO DO MUNICÍPIO O constante aumento da população e o crescente desencolvimento da agricultura e criação na próspera e futurosa povoação, animaram o Governo da Província a constituí-la em município, categoria a que foi elevada pela Lei N. 365 de 29 de Julho de 1846, que, ao mesmo tempo, lhe concede o titulo de vila, sendo inaugurada a 5 de Julho de 1847. Vinte sete anos mais tarde, a Lei N. 1551 de 4 de Setembro de 1873, elevou o Município de Canindé à posição de Comarca, compreendendo o Termo de Pentecoste, que, em 1895, foi também criado freguezia desmembrada da Paróquia de Canindé. Desde o ano 1873 até o ano 1891, gozou o Município os fôros de comarca, sendo suprimida no Governo do senhor General José Clarindo de Queiroz, ficando, como dantes, reduzida ao estado de termo, pertencente à Comarca de Baturité. Este injusto ato daquele Governo, foi reparado na presidência do Senhor Dr. Antonio Pinto Nogueira Accioly, pelo Art. 2 da Lei n. 107 de 20 de Setembro de 1899, que novamente restaurou a Comarca de Canindé. Em 1920, no Governo do senhor Dr. João Thomé de Saboia e Silva, por questões da politica local, foi novamente suprimida a Comarca de Canindé, que voltou ao antigo estado de termo anexo à Comarca de Baturité por Lei n. 202 de 21 de Outubro de 1920. O saliente progresso do Município e as necessidades cada vez mais palpitantes de melhorar as condições da Justiça, exigem muito a restauração da comarca e que seria um ato justo da parte da Administração pública. NOTAS COROGRÁFICAS DO MUNICÍPIO DE CANINDÉ ASPECTO FÍSICO – O sertão de Canindé compõe-se na sua maioria de terrenos acidentados, entremeados de vales secos e pedregosos, destacando-se aqui e ali pequenos serrotes de massas graníticas e calcáreas, providos de vegetação agreste. Ao Sul e Oeste, destacam-se as serras da Mariana, Serrinha, Machado, São Pedro, Jatobá, Redonda e Imbuaranas, todas dotadas de fertilíssimas terras apropriadas ao plantio de cereais, legumes, algodão e mandioca, constituindose a riqueza do Município. Ao nascente destaca-se imponente a rica cordilheira de Baturité, importante pela sua riqueza natural e agrícola. POSIÇÃO GEOGRÁFICA – Canindé está situada a 180 quilómetros distante de Fortaleza, a 13o metros de altitude acima do nivel do mar, a 4.º 32´ de latitude Sul, a 4.º 28´ de longitude E. do Rio de Janeiro, a 38.º 28´de longitude O. do Observatório de Greenwich. LIMITES DO MUNICÍPIO – Os limites do Município são os seguintes: A Leste, limita-se com os municípios de Coité, Mulungú e Guaramiranga, até o sopé da serra de Baturité, que se extende a Leste, na distância de 36 quilómetros; ao Norte, com os municipios de Pacoti, Pentecoste e São Francisco de Uruburetema; ao Oeste, com os municípios de Santa Quitéria e Boa Viagem; ao Sul, com os municípios de Quixeramobim e Quixadá. SUPERFÍCIE E POPULAÇÃO A área do Município é avaliada em 18.000 quilómetros quadrados compreendidos nas regiões das serras e do sertão.
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A população do Município de Canindé, segundo o recenseamento de 1920, foi calculada em 18.500 habitantes, mas presume-se que atualmente esta soma se eleve ao número de 22.000 habitantes, incluindo o antigo município de Caridade, que foi suprimido e anexado ao de Canindé. CLIMA E SUAS VARIAÇÕES O Clima em geral é quente e seco; pelo verão durante o dia, o calor é sufocante e abrazador; contudo, as noites são frescas e agrádaveis. No inverno o clima é quente e úmido, com madrugadas bastante friorentas durante os meses de Maio, Junho e Julho. A temperatura média anual é de 22 gráos centígrados e a máxima é de 37 gráos a sombra. Nos meses de Junho, Julho, Agosto, Setembro e Outubro costuma haver pequenas variações de temperatura, tornando as manhãs mais amenas, caindo, às vezes, fortes neblinas, chamadas chuvas de cajú, isto é, necessárias para as boas colheitas desta fruta. LINEGRAFIA – LAGOAS A inclinação do solo do Ceará e o regime torrencial de suas águas durante a estação invernosa não permite a formação de grandes lagoas. As únicas existentes são quase todas formadas nas bocas dos rios por barragens de areias que os ventos acumulam. Neste Município existem algumas pequenas lagoas formadas pelo estravasamento de riachos. As principais são: Bom-Successo, próxima da fazenda do mesmo nome, Frade-e-Freira, Touro, Encantada, Pedra d´Agua, Varzea-Nova, Pedrez, Carnaubal, Caracará, Cruz, Pedras e Ariron. POTAMOGRAFHIA – RIOS O Ceará não possue rios na verdadeira significação da palavra, e sim, escoadouros de águas pluviais, que só correm na época do inverno. Os rios que banham este Município pertencem todos à Bacia do rio Curú, que deságua no Oceano Atlântico, formando um pequeno estuário, chamado Porto Parasinho ou Bacia do rio Curú. O Curú, nasce na Serra do Machado, corre em direção do Sul e S. Oeste para Norte , e Nordeste, banhando os municipios de Canindé e Pentecoste, e depois de um curso de mais de 250 quilómetros lança-se ao mar. Seus principais afluentes pela margem esquerda, são os riachos: Jatobá, Tatú, Fresco, Xinuaquê, Gerimum, Conceição, Pedras e Tegessuoca. Pela margem direita, os riachos: Olho d´Agua, São Pedro, Seco, São Serafim, Salvação e Feichado. O seu principal afluente na margem direita, é o rio Canindé, que nasce na serra da Mariana, com 120 quilómetros de curso, recebendo pela margem esquerda os seus tributários: Barra, Santo Antonio, Baixa Fria, Sipó, Vazantes, Arara, Salgado, Batoque, Nogueira, Pedrinhas, etc. Pela margem direita, recebe os riachos: Arueiras, Bacurinhos, Cabaças, Olaria, Salão, Souza, Seriema, e Capitão-Mor. O Salão, nasce na extremidade da serra da Mariana, no lugar chamado Balanço, onde se dá a divisão das águas do rio Canindé, Cangati e São Gonçalo no município de Quixeramobim. Recebe pela margem direita: O Baixa Fria, Gazia, Estreito, Pedra-Branca, Touro, Olaria, Poço-Barrento, Pitombeira. Pela margem esquerda, os riachos: Eugênia, Olho d´Agua, Seco e Saguim. O Souza, nasce na Serra Talhada, recebendo pela margem esquerda os riachos: Jacurutú e Tiracanga. Pela margem direita, outros riachos. O Batoque nasce na Serra do Limoeiro, correndo em direção do Norte; recebe pela margem direita, os riachos: Preguiça, Bonito, Olho d´Agua, Cercado, Caiçara. Pela margem esquerda: O Macarajá, José da Silva, Bom-Successo e Cachoeira.
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OROGRAFIA – MONTANHAS E SERRAS As serras do Município fazem parte dos cordões centrais do Estado, formando pequenas cordilheiras, ora unidas por desfiladeiros, ou destacadas em serrotas secas e pobres de vegetação. As principais montanhas que cruzam o municí pio são: A Serra do Baturité, que se extende a Leste, servindo de limites de Canindé com os municípios de Coité, Mulungú e Guaramiranga. É uma pequena cordilheira, de soberba vegetação, com clima delicioso e salubérrimo, dotada de terras fertilíssimas, produzindo: café, cana de açucar, frutas, cereais, legumes e mandioca, nas quebradas, onde os terrenos são próprios para esta cultura. A Leste a ao Sul, destacam-se ainda algumas serrotas secas, cujas principais são: Pindá, com muitas fontes de água e terras bastante agrícolas; São Pedro, muito pedregoso e árido; Negreiro, próximo da fazenda do mesmo nome; Jacurutú, Logradouro, Serra Talhada, Gazia, todas dotadas de terras próprias para a agricultura e abundantes caças silvestres. Serrotes: Santa Tereza, São Jerônimo, Poveiro e Campos, bastante secos e pedregosos, que se extendem em linha, quass ligados aos anteriores. Paralelos a estes, veem-se os chamados: Escuridão, Capim e Urubú. Ao Sul e Oeste, erguem-se os serrotes: Agudos, Pauapique, Arara, Santa Tereza e serrotas do Capim, Teima, Barra, Mariana, Serrinha e Limoeiro, que, unidas por contrafortes, formam uma pequena cordilheira, onde se cultiva bastante algodão, cereais, legumes, mandioca, e nas terras mais frescas, cana de açucar e frutas. Além, em direção, Oeste, se extende a maior cordilheira do municipio, sob a denominação Serra do Machado, que, se não fora a devastação criminosa feita em suas frondosas matas, poderia rivalizar com a Serra de Baturité, na produção de café, cana de açucar, frutas, porque na lavoura de legumes e cereais, algodão e mandioca, já a supera; pois, as suas terras são novas e fertilíssimas. Nos sítios, onde os proprietários proibiram a devastação das matas, há regular cultivo de Café, (de ótima qualidade) de frutas e cana de açucar. Em toda a serra cresce viçosos maniçobais, produtores de excelente borracha, considerada a melhor do Estado. Ao Norte da Serra do Machado, se bifurcam as serrotas de São Pedro, Amargoso, Jatobá, Imburanas, que serve de limites com o município de Santa Quitéria; e os serrotes do Feio, Parafuso, São Serafim, Branco e Arirão, que oferec um lindo panorama pela sua esquisita conformação e admirável altura. É de origem vulcânica, possuindo uma rica mina de ferro, cujo produto já foi examinado, contendo grande porcentagem do aludido metal. Ainda, ao Oeste, há 6 quilómetros desta cidade: erguem-se os serrotes Salgado, Cachoeira e Vermelho. Ao Oeste e Norte, os serrotes: Umari, Pedras, Camarão e Kágado. Ao Nascente, existem outros, destacando-se os denominados: Freio, Furnas, Cabras, e outros menos importantes. AÇUDES E REPRESAS O municipio possue apenas três açudes públicos; o “Salão” de notavel volume de água, construido pela Inspectoria Federal de Obras Contra Secas, nos anos de 1915 e 1916, com a capacidade de 8 milhões de metros cúbicos e a represa de 5 quilómetros, tendo custado à Nação cerca de 222:000$000. As terras que circundam a bacia e a represa deste reservatório de serventia pública foram desapropriadas pelo Governo e estão arrendadas a agricultores pobres, que, geralmente, pouco usufruem de suas lavouras, em vista de serem as terras muito salitrosas e fracas. Só com apropriado tamanho poderiam trazer vantajosa colheita, mas, infelizmente, eles não tem instrução nem recursos suficientes para realização deste intento. Além da produção agrícola, oferece a vantagem da pesca que se torna abundante nas épocas de seca; não só pelas necessidades do povo, como pelo abaixamento do nivel das águas, facilitando a pesca, e o plantio da forragem ótima para o trato das criações famintas, principalmente de animais. Na última seca de 1919, o açude “Salão” com os seus notáveis recursos de forragens, cereais e legumes, foi a tábua de salvação de grande parte dos agricultores e criadores ribeirinhos e dos 61
pobres que habitavam nas suas represas. A renda dessas produções foram estimadas em dezenas de contos de réis, salvando mais centenas de contos de réis avaliados em animais de toda a casta e a vida de muitos pobres agricultores, O segundo açude público é o São Francisco vulgo, Riacho Sujo, (impropriamente assim chamado, quando as suas águas são bem limpas), que está situado próximo a esta cidade, sendo de grande serventia pública, para lavagem de roupas da sua população, e utilização de pequenas represas na agricultura, feita por alguns moradores vizinhos. Abaixo de sua barragem, que foi reformada em 1919, floresce um bom sítio, regado pela sua vertente e sangradouro, com abundante cultura de cana de açucar, árvores frutíferas; tendo um engenho de ferro para fábrico de rapaduras. O referido sítio pertence ao Senhor João Militão de Magalhães, sendo as terras foreiras, pertencentes ao Patrimônio de São Francisco das Chagas de Canindé. O terceiro açude chama-se São Matéus, construido pela Comissão de Socorros na seca de 1888, sendo criminosamente arrombado pelo senhor Joaquim Braga, no inverno de 1899. É de grande serventia pública este pequeno reservatório contíguo como está à cidade e também à estrada de maior trânsito para os municípios de Quixeramobim, Boa-Viagem, Tamboril, Tauá e Crateús, servindo muito aos comboieiros e tangerinos de gados que vão para a feira de Porangaba. Açudes particulares, contam-se cerca de 30, dos quais os principais são: Jacurutú, Transval, Buriti, Santo Antonio na vila de Caridade, o “São Paulo”, com a capacidade de 3 milhões de metros cúbicos, situado na fazenda do mesmo nome, pertencente ao patrimônio de São Francisco das Chagas, tendo custado a soma de 80:000$000. O “Serra Branca”, na fazenda do mesmo nome, pertence ao senhor capitão Pedro Sampaio. AGRICULTURA – PRODUÇÕES A riqueza natural do município é medíocre, devido a constituição de seu solo, em geral, acidentado e pedregoso, pouco absorvente e encaliçado, fazendo com que as águas pluviais, caídas na estação invernosa, corram vertiginosas para os escoadouros, deixando escassa úmidade, logo absorvida pelos ardentes raios solares e pela forte ventania que sopra no fim do inverno. A sua agricultura é rotineira e pouco desenvolvida. Nos sertões a lavoura é feita em pequena escala as margens dos ribeiros e riachos, por serem as terras mais frescas e adubadas, acontecendo, porém, que sobrevindos grandes enchentes as plantações são devastadas, ficando o pobre agricultor entregue às míseras condições de uma nova calamidade que, nos últimos anos, tem afligido as populações do Ceará e quiçá de todo o Nordeste. Nas serras e serrotas a agricultura é mais desenvolvida e a produção mais abundante, porque as terras são na sua maioria férteis e úmidas e o tratamento das plantas menos despendioso e mais lucrativo. As terras em que a lavoura se desenvolve com maior incremento são as das serras do Machado, Mariana, Serrinha, Limoeiro, São Pedro, Jatobá e Imburanas, por serem bastante povoadas e extraordinariamente ubérrimas. As principais produções do município e que mais concorrem para a formação de sua vida econômica, são: a borracha que, quando valorizada, muito contribue para o aumento do comércio: o algodão que, do mesmo modo, aumenta a riqueza econômica dos lavradores, alargando cada vez mais as lavouras. Alem destes produções de exportação, produz tambem: milho, feijão, arroz, mandioca, batatas doces, cana de açucar, bananas, côcos, café (na serra do Machado), e muitas outras frutas tropicais, e bastante produção de fumo na ribeira do rio Curú. Existem ainda no município alguns frondosos carnaubais que dão cêra de carnaúba de boa qualidade, mas, injustificavelmente, há diminuta exploração desta indústria, que poderia ser melhor explorada, fazendo-se plantações nos terrenos apropriados, como fazem os agricultores de outros municípios. CRIAÇÃO E SUAS INDÚSTRIAS
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A criação do município está muito resumida, proveniente da horrivel mortandade havida nos anos de 1911, 1914 e 1915, ocasionada por moléstias epidêmicas, que dezimaram, sem exagero, 80% da criação do Estado. O município possue ótimas zonas criadoras para gados bovinos e cavalar; mas, a maior parte de seus campos presta-se admiravelmente para criação de caprinos e lanígeros. A temeridade das secas periódicas desanimaram os criadores a cuidarem melhor dos seus rebanhos, que poderiam ser raciados com notável proveito, para aumentar a produção de leite e carne. Além disso existe grande ignorância da parte dos nossos criadores sobre os variados conhecimentos da moderna pecuária, pois que, mui raros assinam as boas revistas que tratam a respeito desses úteis e palpitantes assuntos. Os melhores meios de bem desenvolver a criação dos nossos rebanhos estão no cruzamento das raças nacionais com as estrangeiras ou mesmo com espécimens raciados em outros Estados, e no preparo da fazendo no tocante às aguadas, alimentação e outros meios de defesa contra as episoetias, infecções e pestes parasitárias que em certas épocas atacam as criações. A constante valorização da carne em todos os mercados, devia ser um incentivo para que os nossos criadores dessem mais apreço a indústria pastoril, sem dúvida a mais lucrativa do Estado. Os meios naturais são apropriados em sumo à criação; só falta a ação clarividente e enérgica do homem para agir e conseguir resultados surpreendentes. Segundo os dados estatísticos oficiais, a indústria pecuária do muncípio está representada nas seguintes somas: 10.500 bovinos, 4.960 suinos, 8.950 ovinos, 12.579 caprimos, 2.500 equinos e 3.250 asininos e muares. INDÚSTRIAS A prosperidade industrial do municipio é bastante exígua, não somente pela absoluta falta de capitais, e mais, pela nenhuma iniciativa dos seus habitantes. Existe pequena indústria algodoeira e pastoril: esta é representada por pequeno fábrico de queijos e poucos cortumes de sola feitos em algumas fazendas; e aquela por algumas máquinas de beneficiar algodão movidas a motor ou a tração animal. Em diversas fazendas onde há os bons açudes, movem-se alguns engenhos de ferro e madeira para moagem de cana de açucar e fábrico de rapaduras e distilação de aguardente. Contudo, a maior indústria do município consiste no preparo da farinha de manidoca, feito pelo sistema colonial de sevadores e prensas manuais. A indústria de tecidos grossos seria certamente mui proveitosa e lucrativa, pois, a facilidade de obter a matéria prima – o algodão, e o modico preço, do operariado, dariam produtos baratos de facil colocação nos mercados do município, dos municípios vizinhos e mesmo de Fortaleza. COMÉRCIO O comércio do município vai em grande decadência, originada pela desvalorização do algodão e consequente escassez de numerário. A pequena atividade do comércio se desenvolve na compra e venda de gêneros de exportação de produtos manufaturados. O município exporta em pequena escala: algodão em caroço, pluma, couros, peles, solas, borracha, cereais, caroço de algodão, cera de carnaúba, milho e fumo. Devido à falta de organização de um sindicato agrícola aliado ao apoio das Caixas Rurais, para impréstimos aos agricultoes, a agricultura tem permanecido estacionária. VIA DE COMUNICAÇÕES O município se resente muito da grande falta que há de boas vias de comunicações, principalmente para o interior, onde, hoje, existem as antigas estradas sem a mínima conservação da parte dos proprietários das fazendas adjacentes. É realmente um grande desleixo que se nota
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nos habitantes do campo a respeito da conservação dos caminhos, que, logo após a estação invernosa ficam quase intransitáveis. O município é servido por algums estradas carroçaveis destacando-se as seguintes: »Canindé a Itaúna» Canindé a Maranguape e Fortaleza«, »Canindé a Caridade e Sant´Ana«, »Canindé a Campos e Serra do Machado« e »Santa Quitéria a Canindé«; todas precisas de novas reformas para melhorar cada vez mais os transportes dos carros e facilitar as comunicações. FLORA, FAUNA, RIQUEZAS MINERAIS A regular distribuição dos vegetais, animais e minerais, está de acordo com as condições climatológicas do lugar e constituições físicas do solo, porque eles vivem sob a influência direta e indireta desses agentes naturais. Portanto, cada país, estado ou município, tem os próprios de sua natureza climatérica e topográfica. Em pleno acordo com estas determinações básicas, o muncípio tem a sua flora e fauna próprias às variações climatéricas e topográficas do sertão e das serras. No sertão distingue-se a catinga, assinalada quase sempre pela escassa vegetação de árvores frondosas, mas, abundante de arbustos e ervas, que no inverno florescem viçosas se entrelaçando umas sobre as outras numa confusão de ondulações encantadoras de verduras paradisíacas. No verão, esta vegetação se estiola e morre sob a ação da canicula que comborisa os campos, sugando a pouca umidade restante à vida vegetativa das plantas. É um verdadeiro contraste da natureza sertaneja nestas opostas estações. Antes, se apresenta à nossa vista um panorama todo revestido de beleza e alegria, suavisado pela amenidade do clima e os encantos da passarada sempre jubilosa, gorgeiando nas moitas floridas numa harmoniosa orquestra que se confunde aos murmúrios soluçantes dos regatos, enchendo de viva satisfação as rudes habitações do sertão, onde vive e trabalha honestamente o lavrador e o criador, fatores preponderantes da vida da Nação. Meses depos, toda esta primavera de paisagens magníficas se transforma num descampado deserto, onde só reina a solidão e a tristeza, tostado de um sol de fogo e varrido por uma forte ventania, que na sua fúria indomita arrasta em redemoinho poeira, folhas e vegetais. Não se ouve mais o trinado melodioso dos pássaros nem o rumorejar cadenciado dos regatos; mas, sente-se o silencio da natureza morta, interrompido pelo grasnar fúnebre dos caracás em revoadas pela vastidão do azuleo ceu. E diante desta triste transformação, o forte sertanejo continua impavido a trabalhar com energia nas suas lavouras, sofrendo as agruras da temperatura causticante e os rigores de uma vida afanosa e periclitante. Nas serras, a natureza ostenta a vegetação multiforme das densas matas e frondosas capoeiras, numa associação arbórea mais desenvolvida e rica, apresentando grande variedade de belos espécimens da flora tropical, como: o cedro, o pau d´arco, o cumarú, a massaranduba, o jacarandá, o violête, o bálsamo, o pau branco louro, o jequitiá, o coração de negro, o angico, a aroeira, o jatobá, a andiroba, a copaiba e outros arbustos que se desenvolvem nas capoeiras. Ali, a vida do lavrador é mais confortável e sadia no verão, não só pela amenidade do clima delicioso, como pela variada alimentação e a fresca água dos arroios, oferecendo banhos higiênicos e tonificantes. No interior as matas vegetam bravios animais e lindas aves, entre outros: a cotia, o veado, a lebre; o guaxinin, o lobo brasileiro, a rapôsa, a feroz onça, o agil saguin e o travesso macaco; a tímida juriti, o estridente galo campina, o canoro sabiá, a sonora patativa e muitos outros alegres passarinhos de soberba plumagem e interessantes gorgeios. No sertão, ao rigor do verão, as árvores e os arbustos despem-se de sua verde folhagem, sobresaindo nas várzeas resequidas as copas verdejantes do joazeiro, da oiticica, da canafístula, e as palmas farfalhantes da carnaúba secular, tão proveitosa pelos seus variados productos. RIQUEZAS MINERAIS
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As riquezas mineraps do município estão realmente desconhecidas e inesperadas: são apenas conhecidas por tradição e pelas notas deixadas pelos nossos antepassados, assim como, pelos escritos cronológicos de épocas remotas, quando o Padre Feijó, e outros geólogos percorreram o território do Ceará. Portanto, supõe-se que existiam no território de Município as seguintes minas: Ouro, no lugar Marés; Ferro, no serrote Arirão e no vale do rio Curú; Salitre, no logar Tegessuoca; Plombagina, no rio Batoque, próximo a fazenda “Cacimba Nova”, na fazenda São Pedro; Cobre, na serra do Pindá; Christais de Rocha brancos e coloridos, nos lugares de São Luiz, Campos, Cachoeira e de Caridade; Cal, existem diversas minas, destacando-se a de Sant´Ana, cuja capacidade invencível é tão abundante que se eleva ao solo num enorme serrote negro; a de Oiticica, que se estende numa extensão de dezenas de quilómetros. ASPECTO DA CIDADE A cidade de Canindé, está colocada numa orla de terreno irregular à margem esquerda do rio do mesmo nome, cuja má situação topografica dá-lhe uma aspecto triste, antiestético e modorrento. O seu desenvolvimento material tem sido muito lento, mas de 1915 até o presente, vai em escala ascendente, sendo dotada de notáveis melhoramentos de utilidade pública, distinguindo-se o calçamento das principais ruas e praças da Basílica; iluminação elétrica de toda área urbana; construção de uma avenida; de dois poços artesianos com cataventos, para a guarda pública; e ultimamente, o nivelamento das calçadas dos edifícios da cidade. Entretanto, ela se resente de muitos melhoramentos necessários ao bem estar dos seus habitantes, entre os quais notamos: A construção de um mercado apropriado para venda de carne e peixe, com locais suficientes para o retalho de verduras, frutas, cereais e legumes, etc.; a edificação de um pequeno matadouro para abatimento de gados bovinos e suinos; a retirada do riacho que corre no centro da cidade, danificando os prédios particulares e constituindo um foco de miasmas contra a higiene pública; a arborização das praças e logradouros públicos; a construção de pontes na área urbana, consideradas de grande utilidade para o trânsito durante a estação invernosa; a edificação de prédios adequados ao funcionamento da câmara e prefeitura municipais, reclusão de presos correcionais e criminais e aquartelamento de forças militares. A má colocação da cidade impede expressamente o seu futuro desenvolvimento, havendo visível probabilidade que as futuras construções se estendam ao poente, onde existem algumas casas. A área urbana se há estendido em todas as direções, formando ruas acidentadas, sendo as pricipais: 4 de Outubro, 25 de Março, do Comercio e dos Romeiros; praças da Basílica, do Mercado, São Miguel, Padre Ernesto, onde atualmente se acha construída uma bem acabada avenida, com o nome do mesmo Sacerdote, antigo Vigário desta Paróquia; e a de Nossa Senhora das Dores. A cidade possue cerca de 300 prédios, destacando-se alguns de valor, mas, quase todos obedecendo ao antigo estilo colonial; contudo, alguns recentemente edificados, já vão se amoldando à estética da arquitetura moderna, melhorando assim o aspecto tristonho das nossas antigas habitações. Entre os edifícios mais notáveis enumera-se: A Matriz da Paróquia, conhecida pelo nome de Basílica de São Francisco, se bem que, evidente, apresente alguns defeitos de arquitetura, é realmente um templo magestoso e de formas elegantes, apesar de sua edificação grosseira e mal acabada. Está colocada na praça principal da cidade, sendo circundada por resistente gradil de ferro, compreendendo um vasto adro ladrilhado. O seu interior é simples e feichado de abobadas, tornando-o pouco arejado e excessivamente quente pela defeituosa disposição de suas janelas abertas em demasiada altura. Os seus corredores laterais são abertos em arcadas, formando aos lados duas pequenas capelas com altares pobres de arte. Agora, com as decorações e pinturas de quadros religiosos desenhados pelo artista alemão Jorge Kau, pintor celebrizado em assuntos de arte cristã, o Santuário de São Francisco, hoje, Basílica Menor, com mais algumas reformas nos seus altares, cúpula e cobertura, se transformará num dos mais belos templos do Norte do Brasil.
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Ao lado direito da Basílica, ergue-se um elegante palacete, denominado “Casa dos Exvotos”, a reprodução em madeira, cêra, fotografia e metal, dos prodígios alcançados por intercessão do milagroso Santo, e que os romeiros trazem para prova dos extraordinários favores e reconhecimento de sua gratidão. Ao poente da cidade, sobresai a igreja de Nossa Senhora das Dores, espaçoso e confortável templo de construção sólida; ao S. Oeste, a ermida do Sagrado Coração de Jesus, situada em uma elevada eminência, de onde, em belo panorama, se descortina a cidade e seus subúrbios. É uma capelinha de feitio moderno e elegante, com formas expressivas e artísticas, edificação sólida e cuidadosa, onde se alcançam a perícia e o fino gosto arquitetônico. Ali, se celebra anualmente com grande fervor e solenidade, a festa em honra do Sagrado Coração de Jesus. Ao Sul, a Escola Paroquial, para funcionamento das aulas de catecismo, reuniões das associações católicas da paróquia, recepções e festas patrióticas e religiosas, onde se acha instalado um cinematógrafo e palco para representações lítero-musicais. Ali, funcionaram aos domingos, sessões cinematrográficas muito concorridas pelas familias canindeenses, que passavam em agradável convivência algumas horas de diversões e alegres divagações sobre as cenas decorridas atraves dos filmes das grotescas fantasias americanas. Além, num pequeno planalto, destaca-se um enorme edifício, cercado de muralhas de alvenaria, denominado “Casa de São Francisco”, dividido em trez sessões: Convento dos religiosos Franciscanos, Colégio de orfãos e Oficinas de artes e ofícios, para a instrução profissional dos alunos. Este edifício foi construído desde o ano de 1899, sob a direção dos Reverendíssimos Frades Capuchinhos contratados pelo Exmo. Sr. Dom Joaquim, para dirigir o Patrimônio de São Francisco das Chagas, após a dissolução da antiga Confraria regedoura do aludido Patrimônio pelos mesmo Exmo. Rvd. Sr. Bispo da diocese de Fortaleza. Abaixo do planalto, paralelo à Casa de S. Francisco, está o Orfanato de Santa Clara, dirigido pelas Irmãs Clarissas, dedicado à educação de meninas e moças pobres, e que, devido as condições antihigiênicas de sua colocação, vai ser substituído por um prédio moderno a ser edificado ao lado esquerdo da igreja de Nossa Senhora das Dores. Existem ainda dois cemitérios, sendo o mais antigo fechado e o mais novo reconstruído em 1915, ficando maior e consentâneo com o desenvolvimento de nossa população e o aumento dos óbitos. INSTRUÇÃO PÚBLICA A instrução pública é ainda mui deficiente relativamente ao recenseamento escolar do município. Na cidade, é ministrada por um pequeno grupo escolar – Grupo Escolar Dr. Pompílio – Funcionando em prédio impróprio e anti-higiênico, sendo de imprescendivel necessidade a sua instalação num edifício vasto e higiênico. Em Janeiro de 1928, primeiro mes do ano escolar, a matrícula geral foi de 218 alunos, sendo 75 masculinos e 143 femeninos. Funcionam ainda dois Colégios particulares: Colégio de São Francisco e Orfanato Santo Antonio, dirigidos pelos Padres Franciscanos Menores, em 1928, para educação de órfãos e pensionistas, com a matrícula, em 1928, de 92 alunos, dando instrução primária, secundária e de artes e ofícios a jovens cearenses e de outros Estados; »Colégio de Santa Clara«, dirigido pelas Irmãs Clarissas, para a educação de meninas e moças pobres, com a matrícula de 43 alunas, distribuindo instrução primária e ensino de trabalhos domésticos e manuais de arte femenina. No interior do município, a instrução é mui exígua e difícil, pela quasei absoluta falta de escols rurais. Funcionam escolas mixtas primárias nos povoados – de Caridade, Sant´Ana, Belém do Machado e nos arraiais – Madeira Cortada, Caiçarinha e Veados. Estão ainda sem escolas os arraiais – Salão, Ipú, Campos, Ipueiras dos Targinos, e Ipueiras dos Gomes. ASSOCIAÇÕES Existem diversas de orientação e fins exclusivamente morais, notando-se a palpitante necessidade de outras sociedades com fins de utilidade pública, como sejam: Sociedade artística
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beneficiente; Sindicato de agricultores e criadores, com uma Caixa Agrícola sistema »Raiffeisen« ou Luzatti; Associação Comercial, unindo os comerciantes pelos seus interesses recíprocos, etc. Entre as associações católicas funcionam regularmente: Sociedade de São Vicente de Paulo, com uma Caixa mutuária denominada »Protetora Vicentina«: associações de São Luiz de Gonzaga, Ordem Terceira de São Francisco, Pia União das Filhas de Maria, Mães Cristãs, Apostolado da Oração e Missões Franciscanas dos Índios. IMPRENSA E TIPOGRAFIA O primeiro jornal surgido em Canindé, foi o “Canindé” em 1905, o “Correio de Canindé” em 1908, ambos dirigidos pelo ardoroso jornalista patrício Augusto Rocha, de saudosa memória. O “Sertanejo” em 1906, órgão da sociedade literária “Amor Eterno”, dirigido por Mozart Pinto. A “Imprensa” em 1912, bem redigido semanário sob a direção dos nossos ilustres conterrâneos – Cruz Filho e Gregoriano Cruz; o “Boletim Mensal” do Circulo Católico Pio X, em 1913, órgão desta sociedade; finalmente, o “Santuário de São Francisco”, órgão da Paróquia de Canindé, fundado em Janeiro de 1915, dirigido pelos reverendos Padres capuchinhos até Março de 1923, e dessa data em diante, passou à direção dos reverendos Padres Franciscanos Menores, até o presente – 1928. TIPOGRAFIA DA CASA DE SÂO FRANCISCO Fundada em 1911, pelo reverendo Frei Matias de Ponteranica, e inaugurada em Agosto do mesmo ano pelos reverendos Bispos Dom Frederico Costa e Dom Joaquim de Almeida, prelados resignatários do Amazonas e Piaui. É uma das oficinas mais bem montadas do interior, otimamente instalada na casa de São Francisco, possuindo além de variado sortimento de tipos, um prelo grande manual e adaptável a electricidade, com 75 x 50 de rama; 1 cortadeira de 2 laminas – “Krause”, 1 picotador, 1 grampadeira, 1 impressora pedal “Phoenix”, com contador automático, adaptável a electricidade, com 40 x 30 de rama; 1 dita pequena, com 28 x 18 de rama e 1 cortadeira de linhas. USINA ELÉTRICA E MÁQUINAS BENEFICIADORAS A Casa de São Francisco, tendo em vista prover melhor o Convento, Colegio de órfãos, oficinas de artes e suas demais dependências, assim como a Basílica e outras Igrejas da Paróquia, com uma iluminação profusa e econômica, em 1918, na administração do reverendo Frei Alfredo de Martinengo, instalou uma pequena usina elétrica com motor de 6 cavalos e dínamo de 55 ampéres. Mais tarde, em 1920, a “Casa São Francisco” entabulou com a Prefeitura Muncipal e proprietários, novo contrato para iluminação pública e das habitações, sendo preciso por isso aumentar a energia elétrica. Foi instalada então outra usina elétrica de maior capacidade com novo motor com força de 18 cavalos e dínamo de 110 ampéres, fornecendo abundante iluminação aos dois Colegios, Basílica de São Francisco, igreja de Nossa Senhora das Dores, Escola Paróquial, à maioria das casas, principais ruas e praças desta cidade. A usina fornece ainda energia a uma bateria de acumuladores de 40 ampéres, movendo máquinas de serrar madeiras, de beneficiar milho arroz, café, um torno mecânico, máquina de olaria e máquina para lavar roupas. HOTEIS E CAFÉS Canindé, a cidade dos milagres, que diariamente é visitada por distintas famílias, e inúmeras caravanas de romeiros vindos de Fortaleza, outras cidades, vilas e povoações do Ceará e de outros Estados do Norte, Nordeste e até do Sul do Brasil, em visita à Basílica do milagroso Taumaturgo São Francisco das Chagas, resente-se da falta de um hotel moderno, dotado de cômodos confortáveis para a boa hospedagem dos seus visitantes. Atualmente, existem algumas pensões simples, deficientes em hgiêne e conforto, faltando-lhes os necessários preparos para dar um abrigo agradável aos seus hóspedes. Contam-se as seguintes: “Pensão Canindeense” e “Hotel São Francisco”, instaladas à praça da Basílica, “Pensão Familiar” à rua 25 de Março, “Pensão Neco” e 67
“Pequeno Hotel” situadas do outro lado do rio Canindé, próximas à estrada carroçavel - “Canindé à Itaúna”. Na época da festa do Padroeiro, instalam-se muitas outras casas de refeição e barracas, que fornecem comedorias à grande multidão do povo, superior a 10.000 pessuas, que se reúne nesta cidade durante os 10 dias de animados festejos. FARMÁCIAS E ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS Não obstante, a falta de médico para assistir os casos de moléstias graves, a cidade está servida por duas boas farmácias – Farmácia Minerva de A. Sampaio & Cruz e Farmácia Nova de Francisco Amaral; ambas negociam com regular sortimento de drogas e preparados medicinais. De acordo com o Orçamento financeiro do Estado, no município existem 60 estabelecimentos comerciais, sendo 24 lojas de fazendas e miudezas, 6 casas de artigos religiosos, 16 mercearias sortidas e 20 quitandas. TELÉGRAFO NACIONAL A agencia telegráfica desta cidade é dirigida pelo zeloso funcionario senhor Raimundo R. Alcoforado. O seu movimento durante o ano de 1927 e 1º semestre de 1928, foi o seguinte: Telegramas transmitidos e recebidos do interior do Brasil – 1.365 com 24.319 palavras. No 1º semestre de 1928 – 471 telegramas com 7.958 palavras; 563 telegtamas com 9.577. ESTAÇÃO TELEGRAPHICA DE CARIDADE Esta estação funciona na vila de Caridade, dirigida pelo ativo funcionário Antonio R. Alcoforado, com serviço direto à Fortaleza, Canindé e Guaramiranga. O seu mocimento em 1927 e 1º semestre de 1928, foi de 635 telegramas com 11-025 palavras; 557 telegramas com 10.128 palavras, intermediário normal – 3.356 telegramas com 56.923 palavras. PREFEITURA E CÂMARA MUNICIPAIS Prefeito Coronel Nemésio Cordeiro; Presidente da Câmara Capitão José Ottonio Cordeiro de Magalhães; Vereadores José Pinto, Joaquim A. de Albuquerque, Antonio Magalhães, Aprígio Caetano, Antonio S. Filho, Francisco A. Martins, Fenelon V. Jucá e Raymundo A. Freitas. FATOS... E NÃO PALAVRAS É mui comum, entre nós, - na palestra, como em leitura de jornais, a afirmativa de que o Ceará é um Estado sem grandes possibilidades de progresso, devido: ora às condições de seu solo que, por derivação inclinatória para o oceano, torna-se demasiado seco, árido, não mantendo correntes abundantes, e, consequentemente, massas de água que venham a formar cúmulos, - nevoeiro, que, em dadas condições, constituem a causa das estações hibernais, ora ao desnudamento do mesmo solo, pelo desaparecimento, quase completo, das matas, que são devoradas, todos os anos, pela foice, pelo machado e pelo fogo, impiedosamente em preparo de roçados, pelos nossos obtusos campônios, sem rudimentares conhecimentos de processos técnicos d agricultura. Se a natureza, dada à primeira hipótese, nos aquinhou com esses indesejáveis predicados geofísicos, não nos devemos, por isso, abandonar-nos à ingrata sorte. Para todas as dificuldades, pata todos os grandes males, existem grandes remédios, - seus naturais específicos. Sabemos que a fertilização do solo se faz, quando necessária, por processos conhecidos, de inúmeras modalidades, no campo das ciências físico-químicas. Nosso solo é de uma fertilidade surpreendente, em elementos necessários à manutenção da organização vegetal. Vejamos: No verão, que medeia ordinariamente, de Julho a Dezembro, os campos de nossos sertões, se assemelham a um quase deserto, tal a escassez de vegetação, rareiada de árvores pouco desenvolvidas e de todo sem folhage, - verdadeiros espetros, a atestarem a ausência da seiva que lhes vai no organismo de pauperado. Findo o verão, e iniciado o inverno, às primeiras chuvas, a terra, como que despertando inoponadamente dum estado letárgico, cobre-se de luxuriosa 68
vegetação. Da grama à árvore mais corpolenta, tudo ressurge milagrosamente; tudo parece desafiar a inclemência da natureza, que, até poucos dias, nos parecia, caprichosamente, querer nos oferecer o problema insolúvel da dor, do desespero e da morte. O Ceará, digamos, portanto, - é um Estado de portentosas possibilidades, necessitando apenas de homens que o saibam olhar com interesse e carinho. Realizemos, por uma política sem egoísmo, quantas barragens de vulto comporte o Estado; cortemos este de estradas de ferro e rodovias, e estará resolvido o grande X de há muito cogitado por alguns filhos, - terrícolas deste solo abandonado. Como sabemos, tivemos à suprema direção do país, um Brasileiro nortista, de grande inteligência, profundo saber e ardente amor pátrio, que num gesto verdadeiramente nacional, pretendera salvar, das garras aduncas de impiedosas secas, este infeliz Estado. Que ocorrera então? Quase duzentos mil contos foram gastos, neste Estado e da Paraíba, em pura perda. Acusaram-no de haver contratado estrangeiros que, sedentos de ouro, o vieram sugar, absorver, quando, sequer não iniciaram os trabalhos da construção de barragens projetadas. A acusação é improcedente – porque, se a estrangeiros foram confiadas essas obras, é que, - entre nós, provavelmente, falharia a capacidade técnica para tão ciclópica obra; Quanto ao desaparecimento de grande parte da referida verba, que de modo algum, fora utilizada nesssa construções em projetos, relembremos o pandemônio, no período em que, as referidas construções estiveram sob a direção da técnica construtora dessas obras. Não acusemos, porém, tão somente aos estrangeiros, por essa latitudinária balburdia, porque, segundo corre, “de boca em boca”, foram nacionais que incentivaram, a esses estrabgeiros, a lesarem o sagrado patrimônio nacional. A verdade é que, nesse período negro, em vez de aúreo em dois Estados do nordeste brasileiro, se ergueram fortunas colossais, sem causa que as justificassem. Bendigamos, nós – os nordestinos, a passagem, pela alta administração do país, do grande Brasileiro, - o Exmo. Sr. Dr. Epitácio da Silva Pessoa, a quem devemos, de qualquer modo, grandes e determinados benefícios, que ficaram, em todo caso, dessas construções irrealizadas. O Ceará é, dentre os Estados do nordeste, o mais visado pelos fenômenos climatéricos a que, vulgarmente, chamamos seca, merecendo, por isso, ser visto com dilatado raio visual, pelos homens de responsabilidade político – administrativa, a quem cabe a direção dos públicos negócios do Estado e da União. Somos em absoluto, conhecedores dos meios precisos a combatê-la, dos quais, aliás, já tratamos no início deste desprentencioso trabalho. A estrada de ferro, que parte da capital, e se interna de sertão a dentro, atingiu ao extremo sul, - a maior fonte de produção do Estado. Vencemos assim a maior dificuldade das que nos trazem constantemente esses fenômenos climatéricos, que tem sido os grandes devastadores de nossa fortuna, - pública e privada. Para completar um plano de ataque a esses fenômenos, realizemos as construções acimas referidas, - de estradas de rodagens e ramais de estradas de ferro, ficando, por essa forma servidos por esses ramais, os centros mais populosos, comerciais e industriais, que, por suas locações, ficam afastados das suas únicas estradas de penetração que possuímos --- a Baturité e a Camocim à Sobral. Um ramal, que nos ligue à estrada de Baturité no povoado de Itaúna, é tão indispensável que se torna, não só indispensável, como constitue um delito de leza boa administração – quer federal, quer estadual. Canindé, sobre ser um município essencialmente criador, o é, do mesmo modo, agrícola. Sua produção, em qualquer desses dois ramos de atividade humana, concorre grandemente para o aumento da arrecadação realizada pelos exatores da Fazenda estadual e federal. Para que se veja que não se trata de simples hipótese a armar efeito, à semelhança de “Fogos de planta”, em festividades religiosas, passamos a dar um quadro dessa produção, segundo os dados colhidos na repartição administrativa de nossa comuna.
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Exemplifiquermos: Capacidade média produtora anual – Algodão em caroço – 1.200.000 hs.; fumo – 75.000 ks;borracha de maniçoba em época de valorização – 1.200.000 ks; feijão – 256.000 litros; milho – 512.000 litros; farinha de mandioca – 384.000 litros. Gados em geral –Vaccum, - mil crias, constatadas em época de “ferra”; caprino, total, cem mil;lanígeros, - quarenta mil total; suíno, -vinte mil. Couros-Vaccum, - cinco mil; caprinos – quarentra mil; lanígeros, - trinta mil. Esses produtos, à exeção de peles, naõ obstante à distância apenas de oiutenta quilómetros da capital do Estado e 60 de Itaúna, povoado à margem da estrada de ferro de Baturité, são desvalorizados, à falta de transporte próprio, que não os sobrecarregue em excesso, como sucede com o feito em costas de animais. Canindé, devido ao seráfico São Francisco de Assis, é uma cidade visitada durante o verão, por um número, na média, de 18.000 romeiros que vem de todos os Estados do norte e nordeste; e, muitas vezes, do sul do país. Atendendo às razões expstas, não se compreende, como é que esta ciadde já não esteja ligada à estrada de ferro de Baturité por um ramal que já fora projetado. Se esta justa preocupação dos canindeenses, lograsse êxito, ver-se-ia como esta cidade figuraria entre as melhores do Estado, dentro de pouco tempo, pela afluência de intensa gente nova, com capitais abundantes, que aqui viria provurar colocação. Devem os filhos desta terra se possuir de energia e altivez afim d epleitearem a realização desse meio de maior progresso de sua terra. Se não for possível conseguir do governo federal a realização desse nobre tentamem, há um meio seguro para chegar a esse fim, - sugestão que deixo aqui, como semente integral, aguardando apenas ser lançada à terra em condições de receber umidade e calor para germinar, crescer e frutificar. Demonstremos: As pessoas de responsabilidade do município, se congreguem, e tomem a si, depois de realizarem reuniões e comícios aos habitantes da cidade, como do campo, se entender com os governos do Estado e Federal, lhes apresentando o seguinte plano: O Governo federal fornecerá para realização do ramal que ligará esta cidade à Estrada de Ferro de Baturité, no povoado de Itaúna, todo material e pessoal técnico, ficando, manus opera, por conta do município. Para chegar a este desideratum, abrir-se-á uma cota per capta, anual, no município, complenatndo o que faltar, para o exercício financeiro, o Estado, a Casa de São Francisco e a Prefeitura local. Realizado o ramal, o governo federal o encampará, indenizando, com os juros legais, ao Município, ao Estado, à Casa de São Francisco e a todos aqueles que, na cota por capta, houverem concorrido com essa. É preciso agir com coragem, sem desvanecimento. Acima de tudo está a vontade, agindo intensamente, pois esta realiza prodígios surpreendentes. Alguém de grande vontade, sobrepuja em coragem e em capacidade de trabalho, a todos os demais habitantes de seu meio, se esses, porventura, estiverem influenciados pelo pessimismo, qie, em sua ação deletéria, desorganiza e aniquila o mais robusto organismo, individual ou social. Trabalhemos, portanto, empregando todas asa energias de que sejamos capazes, para conseguir o grande ideal de Canindé, ligando esta cidade, por um ramal ferro-viário, à estrada de Baturité. Canindé, 3-6-1927.
AOS NOSSOS LEITORES Ao deixar sair o ponto final sobre este desdourado opúsculo projetado em moldes mais aceitáveis, quer pela sua compleição material como por mais completa e variada leitura, e que não foi possível realizar em vista das grandes dificuldades do nosso meio, valemo-nos deste ensejo para trazer as nossas excusas aos distintos amigos que, tão de boa vontade, nos auxiliaram com as suas primorosas colaborações e valiosas notícias. Publicando este pequeno “Album” que oferecemos ao público, tivemos sobretudo a ideia de honrar dignamente a memória imortal do grande São Francisco das Vhagas, verdadeiro imitador
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de Jesus Cristo, colhendo algumas notas sobre as comemorações do 7º Centenário de sua gloriosa morte em Assis.
A MAIS BELA DAS SANTAS À memoria de minha irmã Neste último e radioso dia de setembro em que as ruas amanheceram duplamente illuminadas pelo ouro do sol e pelo rutilante sorriso das galantes vendeuses de rosas de Terezinha de Jesus – eu evoco entre admirado e commovido, essa doce figura de mulher e de santa que só depois de sua morte feriu de amor o coração dos homens. Terezinha do Menino Jesus, que há trinta anos na data de hoje, se despedia do mundo, para ir morar no Céu, deve ter sido um anjo disfarçado que Deus mandou à terra com a missão divina e nobre de amparar e acender a crença da humanidade. Sim, porque não é possível tanta castidade numa vida terrena. Ontem, depois de ler os jornais da tarde e de chorar um pouco, tive desejos de reler a história sedutora da suave taumaturga de Lisieux. E tanta foi a emoção que essas páginas me deixaram, que me senti mais consolado na minha instintiva melancolia. Diante dos meus olhos, consolados de ver a miséria humana, desfilaram, num halo de ternura e piedade cristã, passagens de uma vida soberanamente pura, que derramou, sobre as almas pecadoras, scentelhas de exemplos luminosos de perfeição e de bondade. Bela de corpo e alma, e possuindo, ainda, raras qualidades de escritora e artista, Terezinha passou pelo mundo como um lampejo de virtude. Criança ainda, e quando mal podia compreender as torpezas que se agitam neste infeliz planeta, ela manisfestou aos autores de seus dias o irresistível desejo de ser monja, para assim melhor servir ao Deus bondoso que a fizera imaculada. E aos quinze anos, depois de revelar, em atos magníficos de desambição e de piedade, o poder de sua vocação; depois de suplicar a proteção do grande papa Leão XIII, para o seu esplendido sonho místico; depois de lutar contra a má vontade dos que não queriam acreditar na sua extraordinária fé religiosa – aos quinze anos, Terezinha transpõe os umbrais da porta do claustro, para o qual levou toda a sua mocidade e seu beleza. Linda e jovem, e preferir a solidão do claustro à liberdade da vida mundana! Terezinha não quis que o amor do mundo lhe maculasse o coração. E voltou-se para o amor do Céu. Seu grande noivo foi Jesus, a quem se consagrou no mais empolgante e abnegado dos sacrifícios. Pelo Filho de Deus ela nasceu, por ele viveu e morreu. Os ardores de sua fé, a irradiação mística de sua vida vertiginosamente curta e fulgurantemente encantadora, tudo nela refletia esse aspeto transcendente que a santificou e a atraiu ao reino de Deus. Até sua própria tristeza - uma tristeza que não parecia humana, tão cheia de perfume divino se nos deparava – era um complemento desse afeto. Terezinha em vida era já uma santa. Uma santa formosa e gentil, diante de cuja pureza a alma profana do mundo, teve de curvar, respeitosa e assombrada. Por isso é que eu, lendo a notícia das comemorações do aniversário da morte da cândida freirinha, tive vontade de reler-lhe a história linda, que tantos eflúvios de consolo derrama sobre o nosso espírito pecador. E, relendo-a, evoquei a figura triste e sofredora da minha pobre irmã que há tres anos e meio deixou o mundo, vitimada pela mesma enfermidade implacável e cruel que sacrificou a vida da amorável e fragil carmelita de Lisieux. Minha irmã foi uma ardente devota da pequena e fervorosa monja, cujas virtudes imitou e cuja vida lhe alumiou o caminho tão breve que devia conduzí-la ao túmulo. Deus quis que até na morte ela se parecesse com a sua querida santa. E chamou-a ao Céu quasi na mesma idade daquela que tantas graças lhe concedera. Neste u último e radioso dia de setembro, em que as rosas de Terezinha do Menino Jesus florescem na lapela e no coração dos homens, eu, a despeito da beleza do tempo e da alegria dourada do sol, tenho os olhos úmidos de lágrimas e o coração emvolto em crepe pela saudade de minha irmã. Santa Terezinha do Menino Jesus, ensina-me o segredo da tua consolação. Rio, Setembro- 1927. Martins Capistrano.
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DFECRETO QUE CONCEDE INDULGÊNCIA PLENÁRIA EM FAVOR DO SANTUÁRIO DE SÃO FRANCISCO sito na cidade de Canindé, Ceará, dirigido pelos Frades Franciscanos da Província de Santo Antonio – Bahia HUMILDE SÚPLICA Beatíssimo Padre O Reitor do Santuário de São Francisco de Assis, situado na cidade de Canindé, Ceará, prostado aos pés de Vossa Santidade, pede humildemente indulgância plenária aplicável à alma de algum cristão que morreu na graça de Deus, a lucrarem uma vez no ano, os romeiros ao dito Santuário, no dia que confessados e comungados visitarem o supra dito Santuário e nele orarem segundo as intenções do Sumo Pontífice. E Deus, etc. BENIGNO DESPACHO Dia 20 de Fevereiro de 1919 O Santíssimo Padre Bento XV, Papa por divina Providência, pelas faculdades concedidas ao Senhor Cardeal Penitenciário Maior, benignamente consede por dez anos, a graça acima pedida. Não obstante quaiquer coisa em contrário. Por mandado do Senhor Cardeal Penitenciário Maior. B. COLOMBO, S.P.Reg. Visto Fortaleza, 30 de Maio de 1919 Dom Manoel, Arcebispo Metropolitano
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