MEMÓRIAS DEIXADAS POR JOAQUIM DO SANTOS LESSA Este local em que está colocado o Canindé pertencia a três moços de Jaguaribe, chegando aqui Francisco Xavier de Medeiros, como ignorasse a quem pertencia o dito terreno começou a construir a Igreja (hoje Matriz) com o designo de comprar se aparecesse dono, ou obter uma doação a favor de São Francisco. Quando estava com o serviço um pouco adiantado, chegaram dois oficiais de Justiça e embargaram. Medeiros escreveu a esse moços pedindo para que vendessem ou dessem para Patrimônio de São Francisco. Responderam que não vendiam e nem davam. Nesse mesmo tempo adoeceu um destes moços e morreu logo; alguns dias depois foi acometido o segundo e teve igual sorte. O terceiro finalmente foi acometido oito dias depois do mesmo mal (que se ignora), mas recorrendo à proteção de São Francisco melhorou e logo escreveu a Medeiros para que continuasse o serviço que restabelecendose vinha passar a doação. Esta Igreja começada por Medeiro sem 1792, ficaram os paredões na altura de oito palmos, parando o serviço por falta de viveres. Em 1796 terminou o serviço de pedreiro. No mesmo ano de 1796 chegou São Francisco oferecido pelo Coronel Jeronimo Machado, tendo custado 80$000. Senhora Sant´Ana custou 60$000 dada pelo Capitão Antônio dos Santos Lessa. As outras imagens ignoram-se o custo e quem deu. O 1° Capelão foi João José Vieira. Em 1797 chegou aqui frei Vidal da Penha, fez missões e nesse mesmo tempo levantou o cruzeiro em frente da Matriz e disse que faziam 12 anos que pregava nesta Província. Três fatos notáveis deram-se naquelas épocas e são considerados como os primeiros milagres de São Francisco neste lugar (Canindé). São 1° Antônio Maciel, um dos operários escapulindo de um andaime com uma tábua debaixo do braço, segurou-se em um tijolo que a pouco se havia pregado a cal. Madeiros, que estava em baixo em frente a janela invocava a proteção de São Francisco, e dizia: lacem o homem pela cintura e puxem no carretel e assim foi salvo. O mesmo Maciel relatou este fato sendo lhe perguntado. 2° Por ocasião de subirem as tesouras o que se fazia por um carretel, estando Medeiros sentado em uma cadeira aconteceu escapulir uma tesoura e pegou-lhe uma coxa. Todos supuseram que ficaria arrebentada, e logo o levaram para sua casa. À vista do desastre consideraram que a obra seria interrompida por algum tempo, mas no dia seguinte apresentou-se Medeiros e continuou o serviço. 3° Por ocasião de abrirem o caixão em que acabara de chegar São Francisco, saiu um ratinho e estando por ai muitas pessoas, por mais diligências que fizessem para o pegar não conseguiram. Tendo o ratinho ocultando-se debaixo do altar de São Francisco, disse Medeiros: deixem o ratinho, sabem lá que mistério é esse; pois vindo de tão longe não ofendeu a Imagem. História relatada por um irmão de Joaquim dos Santos que assistiu abrir o caixão. Este território onde está colocado o Canindé pertencia a uma grande fazenda ainda hoje conhecida com o nome de Renguengue, cuja fazenda em 1791 apanhou 1000 bezerros e em 1793 1 - Assim Xinoaque que naquele ano apanhou mais de mil, nesta apanhou 3. História relatada por Antônio Gomes residente na Melada. Assim como também em 1816 que Joaquim dos Santos teve 322 bezerros e Simão Barboza 1000 e em 1817 aquele teve 11 e este 60. São estas as notas deixadas por Joaquim dos Santos. Vou deixar também alguns apontamentos para meus filhos agora sem nenhum valor porém mais tarde terão. Medeiro e Simão Barbosa moravam em Baturité. Medeiro trabalhava na Igreja (hoje Matriz), por causa de um desgosto que teve, convidou a Simão para morarem em Canindé e aí construíram a Igreja (hoje Matriz) o que Simão aceitou e vieram para o Canindé e aí depois de
construída Medeiro convidou a Simão para irem construir outra Igreja na Uruburetama, mas ele negou-se dizendo: que sua família já estava crescida e era necessário trabalhar para ela. Em 1818 passou o Canindé a freguesia sendo seu 1° vigário o Pe. Francisco de Paula Barros. Em 1828 houve uma seca na qual acabaram-se as criações e morreu muita gente de fome, falo nesta seca pelo que dizem meus antepassados. Em 1845 também houve seca da qual tenho ideias vagas, porém sei por dizerem meus antepassados que houve muito prejuízo e até morreu muita gente de fome e consta que os rios Putiyí re Aracoyaba secaram e houve grande falta de água, a até potável. Em 1846 esteve aqui Frei Serafphim e fez missões em dias de novembro, já tendo pregado em Baturité e em mais pontos. Em 1852 houve um tiroteio por ocasião de uma eleição na qual morreram Manoel Mendes Joaquim Alfaiate e Benavinuto e mais alguns ferimentos. Em 1861 foi reformado o entalhe desta matriz sendo o altar môr e mais capela forrada a estuque a mandado do Procurador Capitão Manoel Luiz de Magalhães sendo o entalhador o Português João Francisco de Oliveira. Em 1862 o Padre Agostinho fez missões aqui. Nesse mesmo ano apareceu o cólera entre nós, porém houve poucos casos; nesse mesmo ano chegou Dom Luiz 1° Bispo do Ceará. Em 1864 foi feito o entalhe dos dois altares colaterais a mandado também do Procurador Capitão Luiz de Magalhães pelo mestre João Pareira, também fez nesse mesmo tempo o forro da sacristia vindo Dom Luiz pela 1a. Vez a Canindé. Em 1870 estiveram aqui os Padres Guilherme e Freitas, fizeram missões e em memória deixaram um cruzeiro em frente as casas dos romeiros. Em 1872 veio o relógio que existe na matriz de Canindé oferecido pelo Capitão Manoel Luiz de Magalhães e Major José Barboza Cordeiro, no valor de 1:000$000 o qual chegando na Capital o Capitão Manoel Luiz de Magalhães mandou seu filho Francisco com condução para vir o relógio e vir um mestre para assentá-lo; sendo, à custa de São Francisco o mestre José Flamino veio por 200$000 com condução de vinda e volta a custa de São Francisco e também a condução do relógio até a cruz, e dai até Canindé, as custas correram por conta do Capitão Manuel L. de Magalhães. Neste mesmo ano foi feito e levantado o novo cruzeiro por um oficial de nome João Antônio. Em 1877 houve uma grande seca que acabaram-se quase todos os bens, sendo poucos os que salvaram suas criações, e morreu muita gente de fome, porém a mortandade maior foi porque o Presidente do Ceará, chamou o povo para a Capital, fazendo assim reunir todo o povo de modos que empestou de bexiga e chegou a sepultar-se mais de mil pessoas por dia. Neste mesmo ano começaram a Igreja das Dores e casa de caridade ficando esta coberta e aquela na primeira arqueada; em 1885 começaram-se os serviços da Igreja, deixando em branco, em 1886 veio aqui pela primeira vez Dom Joaquim José Vieira 2° Bispo do Ceará. E nessa ocasião mandou arrancar o antigo cruzeiro deixado por Frei Vidal o qual foi guardado na sacristia da Igreja das Dores. Em 1888 foi também seco e morreu muita gente de fome e perdeu-se muitos bens. Neste mesmo ano quiseram passar as Imagens para a Igreja das Dores, para arquiar a Matriz, porém o povo com os Padres Coelho e Joaquim Cordeiro da Rocha se o paz, houve conflitos de pouca gravidade. Em seguida vieram dois Padres Franciscanos Cassiano e Clemente, fizeram missões e demoravam-se 27 dias, mandaram fazer o arqueamento da Matriz e reformar o pico das torres sem que as imagens saíssem e deixaram por memória um cruzeiro em frente a Igreja das Dores, fazendo neste tempo um procissão de penitência, conduzindo-se o antigo cruzeiro pelas ruas e em seguida entregaram ao povo que o cortou em pequenas parte e levaram como relíquia. Neste ano veio a imagem de São José oferecida por José Barboza Cordeiro de Magalhães a qual custou 70$000 e chegando em casa de sua residência vieram os missionários como o povo, benzeram e levaram em procissão para a Igreja das Dores. Em 1896 a irmandade de São Francisco que dirigia os bens do patrimônio, tiveram uma questão com o Bispo, afim de impedirem que o Bispo chamasse o dinheiro que sobrasse das despesas; alguns homens sensatos que faziam parte da irmandade, não se envolveram nela, fazendo suas declarações pelos jornais, e essa oposição foi alimentada pelo Padre Leitão, afinal a irmandade desistiu da questão quando ele mandou que
desistisse. Em 1898 houve seca e muitos prejuízos, mas creio que não morreu gente de fome. Nesse ano o Bispo conseguiu estabelecer na casa da caridade um convento de Franciscanos para dirigirem os bens e os dinheiros de São Francisco e estabeleceu um colégio de internatos e externatos, sendo os internatos órfãos que são educados à custa da casa; os externatos com ensino grátis. Em 1899 houve um grande inverno que foi quase uma seca porque carregou todas as plantações e enterrou outras de forma que houve muito pouco legume. Em 1900 houve uma grande seca; em Cachoeira e Quixeramobim houve muito grande prejuízo, ao passo que aqui em Canindé, a pastagem no ano anterior foi com tanta abundância que deu para salvar os gados com pouco prejuízo: a população emigrou em grande quantidade, neste ano adoeceu muita gente de febre e inchação, porém o mal principal era a fome. Em 1902 o inverno foi tão pouco que não deu para segurar o legume, apenas houve pastagem e legume nada; a felicidade nestes dois anos foi segurar o legume nas serras de Baturité, Machado e outras. Em 1904, também foi escasso e não houve legume. Em 1905 houve inverno que segurou os legumes e encheu os açudes. Em 1906 também foi bom de inverno.