Brasil na Europa #21

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Brasil FEV 2016 // #21

NA EUROPA

FORRÓ IN LONDON A capital inglesa acolhe um dos maiores eventos da Europa dedicados ao forró

CULTURA

EVENTOS

TURISMO

PERSONALIDADES

Uma revista para inspirar os brasileiros que vivem longe de casa.


KELVINGROVE Museu e Galeria de Arte

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Escócia by Revila Martins

A

s belezas da Escócia nem sempre são o plano principal de quem deseja um passeio em um dia chuvoso. Na cidade de Glasgow, que também é famosa por ser um importante polo cultural, uma boa dica de passeio gratuito e rico em beleza e informação é o Museu e Galeria de Arte de Kelvingrove, situado na parte oeste da cidade. O museu, inaugurado em 1901, é um dos mais antigos da Escócia, alem de ser o mais visitado do Reino Unido fora da Capital Inglesa Londres. Kelvingrove tem dois andares e conta com 22 galerias temáticas que exibem aproximadamente 8000 objetos. Os fãs de arquitetura poderão aproveitar o próprio edifício, que foi construído em um estilo barroco espanhol. No passeio você vai descobrir o mundo natural e os artefatos antigos. Veja o Sir Roger, a estátua de um elefante asiático trazida da Índia no final de 1800. Conheça o caixão egípcio encontrado próximo ao rio Nilo. Olhe para cima e veja um avião da Segunda Guerra Mundial suspenso no teto.

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A exposição “Floating Head” retrata diversas expressões cotidianas, indo da extrema felicidade ao desespero.

No andar inferior sempre ocorre alguma exposição temporária, vale a pena conferir. Já para quem vai com as crianças, não deixe de fora do passeios as exposições de insetos e animais, são as favoritas do público infantil. Em cada canto do museu os pequenos vão se encantar com as informações interativas, onde é possível usar todos os sentidos para tornar o passeio muito mais interessante e divertido. 4


Enquanto estiver lá, confira o órgão construído em 1901 para a Exposição Internacional de Glasgow, e ouça o recital de 30 minutos que ocorre diariamente. No segundo andar você vai encontrar obras de artistas europeus. As obras famosas incluem Cristo de São João da Cruz de Salvador Dali e A Anunciação de Sandro Botticelli. Procure pela presa de um elefante com um conto de uma encarnação de Buda gravado. Aprecie e se encante com as cabeças voadoras, obra da artista Sophie Cave, a exposição “Floating Head” retrata diversas expressões cotidianas, indo da extrema felicidade ao desespero. O Kelvingrove Art Gallery and Museum abre diariamente, exceto nos dias 25 e 26 de dezembro e 1 e 2 de janeiro. É administrado pelo Conselho da Cidade de Glasgow e a entrada é gratuita. Confira o site do museu para saber sobre todos os detalhes das exposições temporárias e o horário dos recitais de órgão.

Confira o órgão construído em 1901 para a Exposição Internacional de Glasgow, e ouça o recital de 30 minutos que ocorre diariamente.

Localizado em Kelvingrove Park, o museu fica a 10 minutos de carro do centro da cidade de Glasgow. Há estacionamento gratuito disponível, mas as vagas são limitadas. Os ônibus são uma opção mais acessível. O museu fica a 30 minutos de caminhada da George Square. O Kelvingrove fica as margens do rio Kelvin, proximo ao campus da Universidade de Glasgow, dentro do Kelvingrove Park. O museu tem entrada gratuita, alem de ser de facil acesso utilizando o transporte publico a estação de metro mais próxima é a Kelvinhall, a apenas duas quadras de caminhada.

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CAIÇARA sentir, viver, ser

by Ana Pavão

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C ultura

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upinambá significa “mais antigo” e não é um nome ao acaso, era o povo que por volta do século XVI, antes da chegada dos Portugueses, habitava duas regiões da costa brasileira: a primeira ia desde a margem direita do Rio São Francisco até o Recôncavo Baiano, a segunda ia do Cabo de São Tomé, no atual estado do Rio de Janeiro, até São Sebastião, no atual estado de São Paulo. Este segundo grupo também era chamado de tamoio. Era um povo de aparência atraente, guerreiro, curioso e observador. “Gente bonita de corpo

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e estatura, homens e mulheres igualmente [...], são queimados do sol pois ainda andam todos nus, moços e velhos...” assim os descreveu Hans Staden em 1554. Os tupinambás viviam em harmonia com a natureza, retirando dela somente o necessário para sua existência, em suma, era um povo admirável, que infelizmente foi praticamente aniquilado durante a colonização no Brasil. Há quem diga que não restou nenhum para contar a história, mas esse é um ledo engano, o Tupinambá ainda vive, só que agora no sangue e hábitos do povo caiçara.


Quando os índios foram derrotados em um verdadeiro massacre durante a colonização, os camponeses migraram para as regiões antes pertencentes aos índios. O caiçara é o povo que se originou através da junção desse camponês com o índio que sobreviveu, por fuga ou escravizado. Mais tarde juntou-se a essa miscigenação também o negro. Essa mistura de raças e culturas culminou em uma ótima relação de interação com a natureza através de um profundo conhecimento do meio. Sabia-se quando era melhor plantar, caçar e pescar, havia todo um ritual, períodos certos, até mesmo a lua certa. O homem estava em equilí-

brio com o meio ambiente. Todo esse conhecimento foi passado de pai para filho durante gerações. O sustento provinha da terra, de uma agricultura de subsistência (apenas para consumo da sociedade local). As crianças aprendiam desde cedo a trabalhar na roça. As moradias eram casas de pau a pique, de chão de terra batida e iluminadas pela luz de lampiões. A cultura que nasceu tornouse rica em danças, músicas e vocabulário de palavras locais. Mas muito mais do que isso, ser caiçara representava um compartilhamento do saber, preciosos conhecimentos fruto de adaptações as difíceis condições de vida eram um bem de toda a comunidade.

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C ultura Fato é que a vida era sofrida, mas também muito alegre, já que esse sempre foi um povo muito feliz e festeiro. Festa era o que não faltava. A maioria das celebrações eram datas católicas, como a festa de São Pedro Pescador e a do Divino Espírito Santo. Na época, durante essas ocasiões, ninguém trabalhava e a alegria tomava conta de todos. As músicas e as danças folclóricas como a xiba, bate pé, folia de reis, ciranda, fandango e a dança da fita eram a animação do evento e os jovens se preparavam para namorar a distância apenas trocando olhares. Íntimo da natureza, o caiçara esteve sempre ligado com o vento, o céu, a lua e o mar. Através desses fatores dizem como será o tempo do dia seguinte, e conforme o rumo do vento já profetizam: “vai chover”. E chove mesmo. Atualmente não restam muitos caiçaras tradicionais no Brasil, e as comunidades que existem (e persistem) sofrem com dificuldades. Muitos foram privados de realizar a caça e manter a agricultura, além disso grande parte foi retirada das terras que ocupavam. Já a pesca, que antes era abundante, hoje é escassa. 9

Íntimo da natureza, o caiçara esteve sempre ligado com o vento, o céu, a lua e o mar. mesmo.

Que fique guardada a lembrança e difundido o conhecimento dos mais velhos para as próximas gerações dessa incrível filosofia de vida que, acima de tudo, é caracterizada pelo respeito e a intimidade com a natureza. O caiçara não é apenas ser. É principalmente viver e sentir.


CAIÇARA Culinária Tradicional

by Monica Chiste

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culinária é uma das ex- sua cultura e o modo de vida. pressões mais naturais, Receitas regionais são conheinfluentes e transfor- cidas e valorizadas por comporem madora de uma socie- os hábitos alimentares nativos,

dade ou comunidade. A cultura caiçara da região praiana do Brasil é fruto de uma miscigenação de europeus, indígenas e escravos africanos, mesclados a um mar generoso, uma Mata Atlântica riquíssima. Manguezais, estuários, costões, restingas, rios e riachos com toda a sorte de ingredientes disponíveis, que na prática definiram esse estilo culinário. A cozinha caiçara é representada por peixe, mandioca (principalmente a farinha) e as frutas abundantes da Mata Atlântica, como a pitanga, o coco e a banana. Alimentos retirados da terra e da água para suas preparações, os

sendo elaboradas com os ingredientes disponíveis na região e preparados com técnicas transmitidas de geração a geração. A preservação ou reinvenção das gastronomias regionais, tem o papel significativo e que uma vez garantida a preparação de receitas e rituais alimentares, permitiremos que gerações futuras tenham acesso a ancestralidade e a herança cultural da nação, garantindo uma perpetuação da memória e identidade de uma comunidade. Na europa é possível matar a saudade do Brasil recriando um pouco desse sabor. Um dica de

quais retratam não apenas o am- prato simples e muito saboroso é biente no qual o caiçara se inse- a moqueca de peixe com banana. riu, mas também a junção desde a Confira a receita:

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C ulinária 1,5 kg de peixe cortad o em postas 1 cebola cortada em rodelas 4 dentes de alho am assados 1 tomate maduro co rtado em rodelas 1 pimentão verde co rtado em rodelas Sal e pimenta-do-re ino a gosto Suco de 1 limão 2 pimentas dedo-demoça inteiras (opcio nal) 2 bananas da terra co rtadas no sentido do comprimento 1/4 de xícara de azei te de dendê 1/2 xícara de leite de coco 1/2 xícara de coentro 1/2 xícara de cebolin ha MODO DE PREPARO Lave muito bem o pe ixe com bastante lim ão. Tempere com o alho , a pimenta-do- eino e o suco de limão. Arrume as postas na panela, coloque por de tomate, de cebola ci e de pimentão, as ba ma as rodelas agregue o leite e o az eite (se achar pouco nanas fatiadas e pode colocar mais). Dei xe descansar por 1 hora e leve ao fogo . Quando as bananas e o peixe estiverem mac minutos em fogo alto ), coloque por cima o ios (cerca de 20 linha picadinhos. coentro e a ceboDei xe por mais 2 min ut e farinha de mandioc os no fogo e sirva com arroz branco a.

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CAJAÍBA Baia da

by Ana Pavão

A simplicidade de um paraíso em estilo caiçara 12


Brasil Tudo muito rústico, mas para quem aprecias as coisas simples da vida, é absolutamente perfeito.

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ica perto da agitação do Rio de Janeiro e de São Paulo. Quase na divisa entre os dois principais estados brasileiros, mas ao mesmo tempo fica demasiado longe de estradas, de televisão, de internet e até da luz elétrica. Sinal de celular? Bem difícil. Estar na região da Cajaíba é como entrar em uma outra dimensão, um paraíso remoto, tão perto e ao mes-

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mo tempo, tão distante. Praias desertas, areia transparente, sombras de árvores, montanhas cobertas pela mata atlântica e uma pequena população tradicional de pescadores. O peixe totalmente fresco faz parte da rotina. A vida por ali parece que passa mais devagar. Tudo muito rústico, mas para quem aprecias as coisas simples da vida, é absolutamente perfeito.


A região de Cajaíba, fica em Paraty e faz parte da área de proteção ambiental do Cairuçu. É composta por 7 belas praias selvagens: Pouso da Cajaíba, Galhetas, Ipanema, Calhaus, Itaóca, Praia Grande e Praia Deserta. Todas elas são interligadas por trilhas, o que torna interessante separar alguns dias para estar na região, com o fim de conhecer e, principalmente, vivenciar o lugar. Apesar de estar no continente, a sensação que temos ali é de estarmos “ilhados”. Talvez pelo motivo de que chegar lá não é tão fácil: Somente através de uma longa trilha, que é feita apenas pelos mais aventureiros, ou então pela água, a opção comumente mais utilizada. O tempo da viagem pelo mar depende do tipo de embarcação. Uma pedida interessante é utilizar como taxi um dos barquinhos de pescadores locais, os chamados “teco-tecos”. Com eles a viagem leva em torno de 1h30. É uma boa, pois dá pra ir curtindo a paisagem e aproveitar para conversar um pouco com o pescador,

que sempre tem dicas e histórias interessantes pra contar. As praias são de águas calmas, o mar abrigado, excelente para a prática de snorkeling, tem uma intensa vida marinha. Vale conversar com os locais para descobrir cantinhos e lugares maravilhosos. Perto da Praia Grande, por exemplo, há uma linda cachoeira, acessível por uma pequena trilha que começa atrás do quiosque do início da praia. As trilhas entre as praias são um pouco longas (em torno de 40 minutos de uma praia a outra) e por diversos momentos não são fáceis, mas valem totalmente a pena para quem aprecia um contato maior com a natureza e uma gostosa dose de aventura. Sem energia elétrica, a típica comunidade caiçara toca o dia a dia a base de geradores, energia solar, velas e gelo. Os moradores, após a descoberta do turismo, passaram a ceder suas casas para aluguéis de temporada, sendo essa mais uma renda para a comunidade local. Eles recebem os visitantes sempre com muita gentileza e simplicidade.


Ao estar em um local como esse, redobre a atenção e o respeito. Cuidar do lixo produzido e se preocupar em gerar o mínimo de resíduos, zelar pelas casas e pela vegetação. Muitas árvores frutíferas, hortas e coqueiros são plantadas e cuidadas pelas mãos de moradores, então nada de chegar pegando sem perguntar ou pedir permissão ao possível dono. São poucos e bem rústicos, mas há por ali alguns quiosques que servem pratos feitos e porções. Para o turista é a chance de comer o peixe mais fresco do ano, recém tirado do mar, de

As praias são de águas calmas, o mar abrigado, excelente para a prática de snorkeling, tem uma intensa vida marinha. 15

frente para uma paisagem estonteante. Depois, um mergulho em águas cristalinas. E olhando para os lados, talvez perceba que só você está no mar. Em volta somente beleza e paz. Uma simplicidade preciosa, rara e deliciosa. Vale aproveitar, cuidar e, principalmente, respeitar.


FORRÓ

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Capa

IN LONDON A capital inglesa acolhe um dos maiores eventos da Europa dedicados ao forró

by Estela Viana

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e Cubatão, São Paulo, para as principais cidades europeias, onde organiza um dos mais importantes festivais do gênero. Este é um pouco o resumo da história de Carlos André de Souza, produtor cultural e o responsável pelo Festival de Forró de Londres, que este ano está na 5ª edição e acontece dos dias 25 a 28 de fevereiro. Foi em 1999 quando ele saiu do Brasil para não voltar tão cedo. Pelo menos, a curto prazo, não existe um projeto de morar lá novamente. Depois de quase duas décadas fora, agora ele só regressa ao país para receber prêmios. Sim, Carlos André é um fenômeno nesse meio. Em 2010 e 2011, foi eleito pelos alunos da comunidade brasileira o vencedor do “Best UK Forró teacher” , todo um reconhecimento ao seu trabalho de ensino. O primeiro reconhecimento veio justamente quando levou o compositor, cantor e violinista pernambucano Geraldo Azevedo para se apresentar em Londres. Na sua terra natal, o seu trabalho também não passa inadvertido. Este ano, ele foi indicado ao Troféu Gonzagão da Paraíba, considerado o Oscar do Forró, e, na sua cidade, será homenageado pela Câmara Municipal.

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Tamanho respeito conquistado no universo do forró veio um pouco por acaso. Carlos André de Souza conta que foi escolhido pelo forró e não ao contrário. “Quando cheguei em Londres, não tinha nenhuma intenção de viver do forró e tudo começou com um convite de um amigo para ir a um show no Guanabara”. Da noite na boate brasileira a dar aulas foi um pulo. “O forró me abraçou. Foi ele que me escolheu” , sentencia. Começou de forma amadora, mas pouco a pouco decidiu que queria se dedicar àquilo e, quando percebeu, já estava organizando o primeiro festival e atualmente vive totalmente do forró, um estilo de vida, mais que um estilo de dança. “Onde quer que eu vá, vou ser forrozeiro”. Em 2015, fez 35 viagens relacionadas unicamente com o forró. Seu trabalho vem, portanto, se consolidando e por isso ele espera que 2016 seja um ano pesado de trabalho. Para esse professor que é um dos que mais viajou pela Europa nos últimos anos para abrir novos mercados, isso não é nenhum problema. Carlos

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Capa

André de Souza encara o forró como uma missão. Os tempos de office boy, despachante e instrutor de autoescola ficaram para trás. Agora, o organizador do Festival de Forró de Londres está voltado à divulgação desse estilo musical pelo mundo

e aos seus alunos. Em uma cidade cosmopolita como Londres, seus aprendizes são de diversas nacionalidades, como ingleses, indianos, italianos, portugueses, poloneses e de idades variadas, entre os 20 e os 50 anos.

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Como é que o Festival de Forró de Londres tem tanto fôlego para ser a quinta vez que vai acontecer? André: É um trabalho que tem sido feito há algum tempo em algumas cidades da Europa. Na verdade, os forrozeiros que queriam espaço para dançar foram os que começaram a ensinar algumas pessoas e isso foi crescendo e indo para a noite até virar um festival. O de Londres, para continuar com esse fôlego, requer um esforço anual. Eu, por exemplo, dou aulas na Inglaterra três vezes por semana e viajo bastante no fim de semana, então com isso estamos em contato com mais pessoas e vemos o movimento crescer. Especificamente em Londres, como eu trabalho em outras cidades, como Bristol, Birmingham e Oxford, quando o evento é feito em Londres, a resposta é bem grande. Falando em números, no ano passado, tivemos 250 pessoas durante o dia, nas oficinas. Este é o limite para as aulas, porém de noite tivemos um pico de 700 pessoas. Quantos professores participam? André: São 14 professores, sendo três que vêm diretamente do Brasil, outros são brasileiros que vivem na Europa e também temos professores estrangeiros, como uma francesa que dá aula e trabalha com a cultura brasileira há um bom tempo. Além dos próprios forrozeiros, quais são as outras ferramentas de divulgação do evento? As redes sociais têm sido importantes? André: Nos últimos anos, venho trabalhando somente com o Facebook, apesar de que no ano passado percebi que só ele não era suficiente, porque também é cansativo receber essas chamadas para eventos, que são tão frequentes hoje em dia. É por isso que este ano conto com a ajuda de uma empresa de marketing para captar novas pessoas, principalmente aquelas que têm um vínculo com o Brasil, que admiram e conhecem a cultura e que costumam participar nos eventos relacionados com o país. A comunidade brasileira também ajuda, embora no forró ela seja minoria. 20


Capa

São 14 professores, sendo três que vêm diretamente do Brasil, outros são brasileiros que vivem na Europa e também temos professores estrangeiros

A presença de brasileiros é minoritária no evento ou na cena musical? André: Os músicos são todos brasileiros, porém dançando são poucos. Muitas vezes, o brasileiro prefere o sertanejo ou um outro tipo de música. Não sei se é porque antigamente o forró tinha fama de ser violento. Mas o bom é que esse estigma está acabando. Eu já posso dizer que a situação é melhor e que atualmente 30% do público do forró europeu é formado por brasileiros.

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No caso dos workshops, a proporção de brasileiros também é a mesma? André: Não, aí o número diminui bastante. Dos 250 participantes, eu diria que no máximo 20 são brasileiros. O festival é um conjunto de atividades culturais, com exposição de vídeos e de fotos, aulas de forró e de teatro e oficinas, além das festas. Existe uma série de atividades que não consistem só em aprender. É também o convívio entre pessoas que vêm de diversas partes do mundo. Já nas festas, o número de brasileiros aumenta bastante, junto com outros que já dançam e acham que não precisam participar no evento. Imagino que muitos dos que participam do festival em Londres devem circular nos outros eventos que acontecem em Berlim, Paris, Munique, Lisboa e Barcelona. André: Você tem razão, tem pessoas que participam de quase todos

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Capa no mesmo ano ou que já estiveram em outras ocasiões em outros. Em Berlim, algumas pessoas me perguntaram sobre o festival de Londres ou diretamente contaram que já tinham comprado entrada. Antes, quando eram menos festivais, por volta de uns cinco por ano, as pessoas iam a todos. Mas com a explosão de eventos, um por mês, o forró se tornou a dança da moda. Não é que seja a dança mais conhecida na Europa, está longe de ser, mas vem crescendo muitíssimo, com um número bom de forrozeiros espalhados por várias cidades da França, da Alemanha, da Inglaterra, inclusive na Sibéria, Rússia, então isso levou a um maior número de eventos e muitos forrozeiros acabam indo aos principais, como o de Londres.

O festival é um conjunto de atividades culturais, com exposição de vídeos e de fotos, aulas de forró e de teatro e oficinas, além das festas.

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Tem gente que nem andava direito e de repente vê como a vida muda. É forró-terapia.

É curioso como o forró chegou aos lugares mais improváveis. André: É verdade. Tem uma cidade que é muito pequena, na Finlândia, que praticamente nem tem espaço, mas tem forró! Como isso é possível? André: De várias formas. Às vezes tem algum brasileiro que está estudando ou trabalhando na cidade ou então tem um grupo de capoeira, o que acaba levando à criação de público e, consequentemente, à realização do festival. Se há algum lugar com alguém dando aula, já existe um público. Porque é importante ter alguém ensinando, não basta só a música. Mas também se existir só a dança, sem uma festa, aí o forró acaba. O importante é ter pessoas dispostas a trabalhar. No meu caso, eu comecei a levar o forró a Oslo, Noruega, em 2009. Ia duas vezes por mês, fazia shows, festas, dava aulas e oficinas. Essa insistência e trabalho firme é que fazem o forró crescer onde quer que seja. O que o forró ensina aos alunos? André: Autoestima. Em qualquer grande cidade, como Londres ou São Paulo, ou até mesmo em cidades pequenas, as pessoas costumam estar acuadas em seu mundo. E não são só as aulas, são as viagens, onde você aumenta o número de amigos. Tem gente que nem andava direito e de repente vê como a vida muda. É forró-terapia (risos). 24


WWW. FORRO.CO.UK


BRASILEIRAS em destaque

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S uíça by Heloisa Marques

G

leide Kummili é brasileira, natural do Rio de Janeiro. Mais uma entre tantas as brasileiras heroínas, que além de mãe e esposa também é empreendera, fazendo uso de muita criatividade, no melhor estilo brasileiro de ser, Gleide é uma lutadora, acredita, batalha e vai atrás dos seus sonhos. Agradando tanto a brasileiros quanto europeus, Gleide comercializa acessórios, roupas, decoração e artesanatos brasileiros, provenientes principalmente do Rio de Janeiro. A carioca participa com bazares em feiras e eventos e já esteve com seus produtos na Suíça, Alemanha e Itália. Atualmente Gleide está ampliando sua gama de produtos, buscando também fornecedores em mais regiões brasileiras, valorizando assim a arte e a cultura verde e amarela como um todo.

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www.brasilnaeuropa.eu

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