Cachorro grande em noite de lua cheia Era roça pequena, lá para os lados do garimpo do Sossego. Tinha uma casinha aqui, outra acolá, o resto era tudo mata. Maria das Chagas morava sozinha mais seus meninos. Certa feita, tarde da noite, ela acordou sobressaltada com o rebuliço dos cachorros da casa latindo, tudo de uma vez. Dali a pouco, foram os dois jumentos que relincharam, amarrados na estaca da varanda. Maria pensou “Meu Deus, o que será isso?” O gado ficava bem pertinho do poço onde a família apanhava água para beber. Os bois do lado de dentro da cerca e o poço do lado de fora. A lua muito clara. Maria foi lá conferir se estava tudo bem.
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Nessa hora, ela ouviu um “rizuído”. Era rizuído assim grosso, podia ser cachorro. O jumento rinchou foi de novo. Maria apurou os ouvidos, parecia que algum bicho ou pessoa entrava no cercado das vacas. O caminho para o poço tinha aquelas frestinhas das folhas, por onde a luz da lua, que estava bonita, vinha. Maria passou a enxergar um reflexo. Chega que vinha brilhando. Devagarzinho, devagarzinho. Novamente ela pensa: “Meu Deus, o que é isso? Que cachorro grande”. Ainda bem que Deus deu o pensamento de que era um cachorro, porque, se tivesse imaginado que era
onça, ela tinha era corrido, gritado e feito movimento brusco. O que não teria sido nada bom.
Deu tempo e sorte dela chegar na soleira da porta. Foi então que pensando afugentar um cão, bateu o pé no chão.
Pelo certo ou incerto, Maria tomou a decisão de ir se afastando e voltando para casa. Ia andando de costas, para poder seguir conferindo se nada dela se aproximava. Nunca vinha na lembrança que era uma onça, embora cachorro do tamanho da sombra que a lua projetava Maria nunca tivesse visto por lá.
Quando foi no dia seguinte Maria contou a história para o vizinho. E ele: “Irmã, você teve sorte. Você quase foi comida por uma onça!”. Nessa chegou à mente de Maria das Chagas tudinho. E ela foi ficar com medo da onça, depois que a bicha já tinha se ido embora.
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