Fábio Baroli - Deitei para repousar e ele mexeu comigo | CCBB Educativo 2015

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Percurso da Experiência • CCBB EDUCATIVO 2015 FABio Baroli

Ministério da Cultura apresenta Banco do Brasil apresenta e patrocina


DEITEI PARA REPOUSAR e ELE MEXEU COMIGO FAbio Baroli

28/10 a 21/12 de 2015 ccbb de brasilia


“A partir de hoje, a pintura está morta!” – anunciou o pintor Paul Delaroche, no século XIX, ao conhecer a invenção que permitiu a primeira fotografia, o daguerreótipo. Ele funcionava como uma câmara escura: uma caixa de madeira com um orifício por onde a luz entra e reflete a imagem externa invertida. No fundo da caixa, uma placa de cobre com uma fina camada de prata, material sensível à luz quando em contato com o iodo, registrava as formas de luz e sombra.................................................. Na época, eram pintados retratos, cenas históricas, mitológicas e religiosas que seguiam regras da Academia de Artes. Mas surgia em Paris um novo movimento, o Realismo, que trazia para as telas personagens do povo, como camponeses e trabalhadores urbanos. Pela primeira vez, figuras comuns do mundo passam a fazer parte do repertório da pintura, antes só ocupado por nobres, burgueses abastados ou religiosos....................... Com a fotografia, o retrato agora podia ser produzido sem pincéis, pela câmara escura, abrindo novos caminhos para que os artistas apostassem nas características próprias da pintura, como a pincelada, a composição e as cores. Não é mais nos estúdios que a obra vai ser idealizada e ganhará forma, as tintas industriais permitem ao pintor estar ao ar livre. As pinceladas rápidas tinham o objetivo de captar a luz e as cores de uma paisagem em um preciso momento. Por isso, um crítico de arte apelidou-os de impressionistas, debochadamente, após ver o quadro Impressão, sol nascente, de Monet, e disse que se tratava apenas de borrões. Em seguida, vieram movimentos como o Expressionismo e a Abstração Lírica, que não mais olhavam para o mundo natural ao redor. Eles traziam o gestual, a expressão e o sentimento do artista, assim como a Abstração Geométrica, que explorava as formas geométricas, sem que necessariamente precisasse existir uma figura representada na tela.......................................... Se, à primeira vista, a fotografia copiava as composições da pintura, a partir do século XX, a fotografia se torna referência para muitos artistas. As duas linguagens artísticas passaram a conversar de igual para igual. Fábio Baroli incorpora a fotografia em sua poética. Os gêneros tradicionais estão lá: o retrato, a paisagem, a natureza-morta. Seus quadros parecem editados em montagens, colagens e intervenções vindas de programas digitais, mas que, ao mesmo tempo, revelam o gesto, suas pinceladas, modo como ele revela as possibilidades discursivas da pintura contemporânea. O Centro Cultural Banco do Brasil convida todos a partilhar a obra desse artista na exposição Deitei para repousar e ele mexeu comigo. Boa visita!...................................................... Centro Cultural Banco do Brasil...........................................................


MATUTO Definicoes opostas? Matuto é um adjetivo empregado com característica negativa para designar a pessoa que vive no campo e não tem traquejo social ou instrução, sinônimo de jeca e caipira. Mas o verbo matutar significa pensar sobre algo, meditar, arquitetar, refletir e planejar. Então, matuto também se pode dizer do indivíduo que é dado a matutar, que é pensativo e planeja. Como pode a mesma palavra ser usada por uns como um elogio e por outros como uma crítica? Nascido no interior de Minas Gerais, Fábio Baroli busca esse olhar que não apressa o tempo das coisas. Para o artista, o matuto é sábio, porque observa a vida com toda calma e parcimônia, sendo conhecedor das entrelinhas.


Sem título, 2013 Óleo sobre tela (tríptico) 150 x 260 cm Série “Meu Matuto Predileto” Coleção: Sérgio Carvalho, DF

Pintando o Brasil Na segunda metade do século XIX, os pintores brasileiros pintavam paisagens e retratos como se estivéssemos na Europa. A paleta de cores copiada dos pintores europeus tinha tons do clima temperado do Norte, e não a luz tropical, assim como não figuravam nossos costumes. Fábio Baroli estudou e inspirou-se na obra de Almeida Júnior, pioneiro na representação do homem genuinamente brasileiro trazido para suas telas nos gestos e nas expressões corporais e também em sua relação com a paisagem. Almeida Júnior retratou o caipira em seu ambiente pobre e simples, sem nunca menosprezá-lo ou transformá-lo em personagem pitoresco, como nas obras “As Lavadeiras" (1875), "Caipiras Negaceando" (1888), "Caipira Picando Fumo" (1893) e "Violeiro" (1899).

Baroli pinta sobre fotografia. A fotografia congela o instante e capta o cotidiano; já a pintura evidencia gestos e expressões, buscando a observação mais profunda da realidade.


JO

DO

O G

Sem título, 2015 Óleo sobre tela 30 x 30 cm Série “Quando a seca entra” Acervo: Galeria Superfície

OLHAR


COMPOSICAO

Os artistas usam os elementos da composição, como enquadramento, formato, cor, luz, sombra, escala, ritmo e harmonia, para criar uma narrativa visual. Fábio Baroli sobrepõe enquadramentos: o da tela inteira e o da "fotografia" pintada.

O retângulo menor Esta área marrom esverdeada na tela lembra uma parede

mostra parte de uma fotografia de uma estrada com um automóvel.

desgastada pelo

Você consegue identificar

tempo, não acha?

qual a marca desse carro? E a época?

Por que será que o artista escolheu cortar parte dessa fotografia?


MARCAS DO TEMPO Algumas paredes, quando ficam velhas, costumam ter manchas e arranhĂľes de desgaste ou abandono.

VESTIGIO Essa mancha na parede talvez nos mostre que algo foi arrancado? Parece resquĂ­cio de fita ou cola?


Quando nos localizamos diante de uma rua comprida e reta, vemos que as duas calçadas parecem se tocar lá no fundo, na linha do horizonte. Os artistas renascentistas perceberam que o espaço poderia ser calculado a partir de um único ponto, estimado para que toda a composição se aproxime da imagem vista pelo olho humano. É como se pudéssemos enxergar uma imagem tridimensional — ou seja, com profundidade — em uma superfície plana. O mais interessante é que, com o passar do tempo, essa técnica foi se aprimorando, e os artistas passaram a criar quadros com dois ou mais pontos de fuga, diversificando os possíveis pontos de vista que poderiam ser criados..................................................................... Neste momento, nosso olhar é levado para fora do quadro. O artista escolhe enquadrar apenas parte da cena na pintura, acentuando a necessidade de pensar sobre o que está além dos limites da imagem.

DIREÇÃO DAS PINCELADAS Perceba que as pinceladas acompanham as linhas imaginárias que traçamos para entender a perspectiva. Essa repetição dá a impressão de movimento?

RITMO NA PINTURA

PRA ONDE VAI SEU OLHAR?

Para entender melhor o que é perspectiva, vamos traçar algumas linhas imaginárias nessa imagem. Se seguirmos cada uma dessas linhas, encontraremos um ponto que une todo o espaço, este é chamado de ponto de fuga. Ele é o responsável por dar a ilusão de profundidade. Essa técnica foi desenvolvida por artistas renascentistas...................

Assim como na música, a pintura e a escultura precisam ter ritmo. As

marcas

do

pincel

e

outras

intervenções, muitas vezes, têm a intenção Nessa

de

conduzir

imagem,

por

seu

olhar.

exemplo,

as

marcas verticais foram raspadas na pintura

e

dirigem

sua

atenção

para onde antes havia algo que foi arrancado, o que agora é vazio.


PALETA DE CORES Observe que tanto nesta tela quanto na anterior o artista usa uma paleta de cores muito reduzida, apenas tons escuros e terrosos. Talvez, com essa tonalidade, ele quisesse nos levar a uma época passada, como se fosse a sépia de uma fotografia antiga.

O nome da cor amarronzada vem do molusco marinho sépia (parente da lula), que fabrica uma tinta escura guardada numa bolsa (tinteiro) localizada no interior do corpo. Quando atacados por predadores, esses animais soltam jatos de tinta que tingem a água. Assim, eles podem fugir sem serem caçados. Na revelação da fotografia nas primeiras décadas do século XX, para que as fotos ficassem mais resistentes ao tempo, o enxofre era usado na composição química dos reagentes, deixando as imagens pretas e brancas com uma coloração amarronzada.

Nessa obra, Baroli acrescenta um detalhe de cor mais viva, o vermelho, que chama nossa atenção para a figura do gatinho. Repare como o artista faz parecer que o felino é uma figura recortada e colada, porque propositalmente pinta manchas brancas como “rebarbas” do recorte e uma mancha que parece o borrão da cola. Baroli cria um ambiente de fotografia antiga e insere o cinza azulado no corpo do animal e o vermelho do laçarote, relembrando quando as fotografias eram coloridas manualmente e só havia o filme preto e branco.

rebarba de recorte ponto de cor mais vivo mancha que parece borrão de cola


É comum a assinatura dos pintores estar no canto inferior direito das telas. Neste quadro, tem um escrito que remete a uma assinatura. É do pintor?

O retângulo amarelado lembra um cartão. Baroli cria essa ilusão, trabalhando a sombra, como se existisse um espaço entre o cartão e a parede.

Sem título, 2015 Óleo sobre tela 25 x 25 cm Série “Quando a seca entra” Acervo: Luciana Caravello, RJ


Voce ja viu uma

“A terra do rebu na casa do caralho”, 2014 Óleo sobre tela (políptico) 260 x 400 cm Acervo do artista, MG


cena parecida? Na exposição, esta tela fica em uma sala escura, chamada de sala de projeção. Por quê? O que estamos vendo aconteceu? Uma pintura figurativa com teor realista, não é real: é pintura. O que é verdade, o que é projeção? Nessa mesma galeria, estão pequenas pinturas que são como frames de um filme. As pessoas estão carregando ferramentas de plantio, como foices e pás, tochas e até um explosivo. O carro e a catedral estão em chamas. Há uma fogueira, uns homens mascarados

de

touros

e

uma

figura

derrubada no chão................................... O título da obra é uma expressão que significa um lugar muito longe. Mas disputas pela ocupação do solo, desigualdade social e intransigência religiosa são ações que, de fato, estão distantes?..............................


Voce esta dentro do quadro? Convidado a entrar no movimento? Onde você está quando observa esta tela? Baroli nos coloca junto às figuras humanas no primeiro plano. Como ele faz isso? Trabalhando com a escala, ou seja, o que está próximo do espectador é maior, o que está distante é menor.

Compare o tamanho dos homens que trazem as ferramentas com o dos homens que estão próximos ao carro e dos edifícios ao fundo.

O ponto de fuga da perspectiva contribui para inserir o espectador na manifestação.


Veja, ao lado, o esquema das divisões da tela. Neste livro, a imagem tem 28 centímetros de lagura e 18 centímetros de altura. Mas a original, exposta na galeria, tem 4 metros de largura e 2,60 metros de altura. Quanto você mede? Muitos detalhes você não vai conseguir enxergar nessa reprodução do livro, apenas ao vivo.................................................. A dimensão dessa obra é outro recurso que o artista usou para nos inserir dentro dela...........................................

Apesar dessas divisões, nós enxergamos os acontecimentos como uma única cena, pois todo o quadro está num plano frontal e tem uma perspectiva clara. Mas você sente algum estranhamento? O artista nos confunde de novo, pois fragmenta a ação com tons e cores.

PLANO DE COR Veja, no detalhe, como o céu da construção amarela tem dois tons diferentes. Essa mudança cria uma divisão da tela, mas repare que o edifício atravessa essa fronteira.

VAMOS FALAR DE RITMO DE NOVO? Em toda a parte superior do quadro, temos uma verticalidade, marcada por prédios, palmeiras e monumentos, que estão no limite da tela, contrapondo-se à cena da parte inferior, que é onde a narrativa se desenrola.........................


Quantas hisTOrias ESTA

?

Pintura conta

onde esta o sol neste ceu? pense na resposta observando as sombras.

E se pudéssemos falar em temperatura? O artista usa uma paleta de cores em um primeiro momento frias, mas, olhando com atenção, vemos a inserção de tons avermelhados entre as folhagens, no tom da

pele

da

senhora,

no

galo

e

na

terra.

Assim,

ele

consegue

transmitir calor e nos nos remete a um sol de fim de tarde.............. O efeito das dobras do tecido é resultado das sombras e da descontinuidade de sua estampa.

Voce sabia que as cores tem esse poder?

As cores frias seriam aquelas que acalmam e reduzem nossa temperatura corporal, como os tons de azul, verde e violeta. Já as cores quentes nos excitam e aumentam a temperatura do corpo, como os tons amarelos, vermelhos e laranjas.


Sem título, 2013 Óleo sobre tela 150 x 110 cm Série “Quando a seca entra”


Estes retratos dizem muito a respeito de quem sao estas pessoas. Alguns detalhes para você pesquisar na galeria: Roupas – Observe o desenho das estampas. Os modelos de calças, biquínis, sungas e vestidos são atuais ou lembram roupas de outras épocas? O uniforme das fotos escolares parece com o seu? O que mais o modo de vestir pode revelar sobre estas pessoas? Calçados – Nós, brasileiros, calçamos sandálias de borracha em muitas ocasiões. Só de curiosidade, conte quantas pessoas estão com chinelos nas imagens da galeria. Brinquedos – procure o pião, o velotrol, a bicicleta e a boia feita com câmara de pneu de caminhão. Repare no corte de cabelo e no penteado das pessoas retratadas. Você conhece os carros que aparecem nas pinturas? Será que alguns modelos são da época da inauguração de Brasília?

Onde estávamos e o que vestíamos estão documentados no momento do clique. As expressões também falam muito das pessoas fotografadas. Baroli é um observador perspicaz, atento à linguagem corporal. A forma como nos mexemos, sentamos e repousamos revela quem somos.............................


Obras sem título, 2015 Óleo sobre tela Série “Quando a seca entra” Acervos: Luciana Caravello, Galeria Superfície, do artista


PATROCÍNIO Banco do Brasil REALIZAÇÃO Centro Cultural Banco do Brasil PROJETO EDUCATIVO Sapoti Projetos Culturais COORDENAÇÃO-GERAL Daniela Chindler COORDENAÇÃO-GERAL DE PRODUÇÃO Fernanda Saul Flavia Rocha Gabriela da Fonseca COORDENAÇÃO-GERAL ADMINISTRATIVA Fernanda Galvão ESTAGIÁRIA DE ADMINISTRAÇÃO Juliana Campello COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Karen Montija COODERNAÇÃO DE PRODUÇÃO Natália Vinhal CONSULTORIA PEDAGÓGICA GRAVIOLA Rafael Tursi COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO GRAVIOLA Angélica Beatriz ESTAGIÁRIA DE PRODUÇÃO Laura Poffo EDUCADORES GRAVIOLA Camila Pires Luciellen de Castro Maysa Carvalho INTÉRPRETE DE LIBRAS Tatiana Elizabeth ESTAGIÁRIOS Bianca Vieira Bruna Araújo Camilla Antunes Carolina Almeida Danilo Negraes Djallys Ferreira Gabriela Antun Karla Gomes Marina Maia Marina Paes Paulo Inácio Coelho Stefane Nunes Thiago Pinheiro

CADERNO DE MEDIAÇÃO Imagem na capa “Deitei para repousar e ele mexeu comigo” (detalhe), 2014 Óleo sobre tela (políptico) 230 x 300 x 15 cm Série “Meu matuto predileto” REDAÇÃO Daniela Chindler COLABORAÇÃO Gabriela da Fonseca Nathalie Peixoto PESQUISA Camila Oliveira Camila Pires Camilla Antunes REVISÃO DE CONTEÚDO Luciana Chen REVISÃO Marcela Lima PROJETO GRÁFICO Nathalie Peixoto EXPOSIÇÃO Deitei para repousar e ele mexeu comigo, pinturas de Fábio Baroli 28 de outubro a 21 de dezembro de 2015 CURADORIA Renata Azambuja COORDENAÇÃO Gladstone Menezes PRODUÇÃO EXECUTIVA Bruna Neiva ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO Marina Lima EMPRESA Enzima Cultural Centro Cultural Banco do Brasil SCES, Trecho 2 Brasília/DF Informações (61) 3108-7600 Ônibus gratuito. Verifique horários e locais de saída. Agendamento de grupos: (61) 3108-7623 ou 3108-7624 Nos termos da Portaria 3.083, de 25.09.2013, do Ministério da Justiça, informamos que a Licença de Funcionamento deste CCBB tem número 00340/2011, com prazo de validade indeterminado. LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS

Produção

Central de Atendimento BB SAC 4004 0001 ou 0800 729 0001 0800 729 0722

Realização

Deficiente Auditivo ou de Fala

0800 729 0088

Ouvidoria 0800 7295678

ou acesse

bb.com.br

@ccbb_df /ccbb.brasilia


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