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A Torá
é o livro central do judaísmo, mas, diferente de um livro com páginas de papel, tem o formato de um rolo feito com pergaminho de couro animal, montada artesanalmente e do mesmo jeito há muito tempo. Um escriba, que em hebraico é chamado de sofer ou soferet (se for uma mulher), escreve o texto bíblico à mão em pedaços de pergaminho, que depois são costurados lado a lado, formando um único rolo bem comprido. Esse rolo é protegido por uma capa, de um tecido nobre – como veludo ou linho –com bonitos bordados. Depois a Torá é guardada em um estojo de madeira ou metal. Ela sempre tem uma coroa, como uma rainha.
Torá significa ensinamento. Os rolos da Torá reúnem os cincos primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
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O livro sagrado para o judaísmo está escrito em hebraico e, segundo a tradição, foi entregue por Deus a Moisés. Nesse idioma, a escrita e a leitura são feitas da direita para a esquerda. A Torá tem mais de 300 mil letras. São exatamente 304.805 letras.
Imagina o trabalho para escrevê-la!
Várias culturas e religiões têm rituais de iniciação, como a primeira comunhão na religião católica e a cerimônia Hetohoky entre os Karajá. No judaísmo, uma data muito importante é a primeira vez que o jovem lê a Torá em público.
Essa cerimônia é chamada de Bar Mitzvá para os meninos e de Bat Mitzvá para as meninas.
Esses nomes significam Filho e Filha do mandamento divino.
Toda semana lemos uma parte da Torá. Ao terminarmos a leitura, fazemos uma grande festa chamada de Simchá Torá.
Nesse dia, um costume é desenrolar o rolo inteiro da Torá. Como ela fica comprida! E aí é hora de começar sua leitura, do início, outra vez.
O rabino é aquele que realiza as cerimônias judaicas e conhece profundamente o texto bíblico e as leis da religião. Ele usa uma quipá sobre a cabeça para lembrar sempre que Deus está acima de nós. Alguns rabinos usam casaco preto e chapéu, pois existem diversas maneiras de ser um judeu religioso.
Há alguns grupos que mantêm, por tradição, as roupas usadas no passado na fria Europa.
Nos dias de hoje, nós, mulheres, podemos ser presidentes, juízas, comentaristas de futebol, cientistas, deputadas e atuar em tantas outras profissões que antes eram apenas exercidas por homens. E, desde 1935, existem mulheres rabinas em algumas correntes do judaísmo. Meu nome, Débora, foi dado em homenagem a uma juíza e guerreira, presente em uma das passagens mais antigas da Bíblia.
Em Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, está escrito que Deus fez o mundo em seis dias. Ele criou a luz, o céu, a terra, os mares, as plantas, os animais aquáticos e os seres alados. Depois criou os animais que vivem na terra e, finalmente, criou o homem e a mulher, à sua imagem e semelhança. No sétimo dia, Deus terminou a sua obra, e abençoou esse dia. Então, ele descansou. É por isso que o sábado é o dia do descanso no judaísmo.
Shabat quer dizer “descanso” , em hebraico. Ao pôr de sol da sexta-feira, acendemos duas velas para marcar seu começo, antes de aparecerem as primeiras estrelas no céu. Na Bíblia, está escrito: Foi noite, foi dia. Um novo dia, no calendário judaico, começa ao anoitecer.
No sábado, posso andar de skate, passear, ler um livro e, quando aparecem as primeiras estrelas no céu, o Shabat termina Para marcar o fim desse dia, novamente acendemos velas. E colocamos especiarias como cravo e canela em um recipiente chamado Bessamim. Desejamos que esse perfume nos acompanhe por toda a semana, até que um próximo Shabat chegue.
O judaísmo surgiu há cerca de 4 mil anos. Todos os povos e religiões têm uma forma de marcar o tempo e comemorar suas festas. Você já pensou por que estamos no século 21?
O calendário gregoriano começa a sua contagem com o nascimento de Jesus. O ano zero do calendário judaico é a criação de Adão e Eva. Segundo o judaísmo, já estamos em mais de 5.700 anos.
São as estações do ano e as fases da lua que determinam as datas das nossas comemorações.
Na lua nova, do mês judaico de Tishrei, que normalmente cai em setembro, os judeus festejam a chegada de um novo ano em Rosh Hashaná, que, em hebraico, é cabeça do ano
Eu mando cartões para pessoas que eu gosto, desejando que o ano novo seja doce como o mel.
Nessa data, ouvimos os toques do shofar, um instrumento milenar que pode ser feito com o chifre de carneiro, de antílope, da gazela ou de bode. Quando eu escuto o toque do shofar, eu penso em coisas boas.
E quando a primavera chega ao hemisfério Norte, onde fica Israel, celebramos
Pessach.
Nessa festa, os judeus se lembram do tempo em que seus antepassados eram escravizados pelo faraó.
Na fuga do Egito, não houve tempo de fermentar o pão que estava sendo assado e ele não cresceu. E é por isso que, durante os oito dias de Pessach, comemos um pão não fermentado, chamado matsá.
Além da matsá, existem outros símbolos que marcam a saída do Egito, colocados em uma bandeja adornada que se chama Keara. Uma erva amarga relembra o sofrimento; uma mistura de maçãs, nozes e vinho lembra a cor dos tijolos carregados naquela época; e o ovo simboliza as voltas que a vida dá.
Um pote com água salgada recorda as lágrimas das pessoas que foram escravizadas.
A mesa arrumada nos leva para o passado, em busca das memórias do meu povo, trazendo o desejo de que todos os povos sejam livres.
Quando viajamos, conhecemos as comidas daquela região e provamos vários sabores diferentes. Assim também aconteceu com aqueles que viajaram para cá. Os judeus vieram da Europa, outros, do norte da África, do Oriente Médio, mas todos trouxeram suas receitas familiares que até hoje ligam as pessoas ao judaísmo.
Cada lugar tem a sua característica, o clima, por exemplo, faz que os pratos de cada região sejam bem diferentes. As famílias que vieram de países árabes têm receitas de quibe, bolinhos de grão de bico e charutinhos de folhas de uva enroladas com recheio de carne moída. Muito diferentes dos meus bisavós que vieram da Europa.
Na Rússia, faz muito frio, várias receitas são preparadas com vegetais que, protegidos debaixo da terra, resistem até a neve. Como as batatas, as cenouras, as cebolas e as beterrabas.
Borscht é uma sopa roxa feita com beterrabas, que pode ser servida com uma colherada de creme de leite. Meu bisavô dizia que as sopas, o chá e as lareiras esquentavam o corpo e a alma quando, do lado de fora da janela, o vento frio soprava, durante o rigoroso inverno da Europa Oriental.
No museu, eu vi um samovar, um utensílio bem incomum. É parecido com um bule, mas também lembra um filtro de água, porque é bem maior do que a chaleira onde se ferve a água para fazer o chá.
Nunca como batata frita na casa da minha avó. As batatas, aqui, estão no recheio das massas, chamadas varenikes, que são enfeitadas com cebolas fritas adocicadas. Delícia!
E, em dias de festas, minha avó prepara guefilte fish
Na terra dos meus bisavôs, nos rios de águas frias, nadavam carpas e traíras. A minha bisavó comprava o peixe na feira, moía e o cozinhava com muitos temperos. Depois, com a massa, fazia bolinhos cozidos. Quando ela chegou ao Brasil, queria seguir fazendo tudo tal e qual era feito na Rússia. Mas, naquele tempo, quase ninguém tinha geladeira em casa. Para garantir que o peixe estivesse fresco, minha bisa punha as carpas e traíras vivas na banheira, aqui no bairro do Bom Retiro. Acredita?
Klezmer é um estilo musical que surgiu nos povoados judeus da Europa Central e Oriental. Lembra as divertidas canções ciganas. Na internet, dá para fazer uma pesquisa e encontrar músicas de ritmos bem diferentes, umas mais animadas e outras mais melancólicas. Minha avó diz que sente saudade de ouvir as melodias que aprendeu e ouviu na sua infância.
Existem pessoas que se conectam com o judaísmo por meio de tradições familiares, ou trazem seu judaísmo por meio da cultura.
Quando alguém diz que é judeu, não necessariamente está dizendo que é religioso. Até existem aqueles que não acreditam em Deus, mas, mesmo assim, continuam sendo judeus.
Talvez você possa se perguntar: então, o que os judeus têm em comum?
Há quem diga que os judeus se sentem parte de um grupo, de uma comunidade, e que compartilham uma origem e uma história.
Adorei contar um pouco da cultura judaica para você; se quiser conhecer mais, convide seus familiares e amigos para uma visita ao Museu Judaico de São Paulo, que está de portas abertas, cheio de histórias, aguardando a sua visita.
O Museu Judaico de São Paulo, inaugurado em 2021, é um espaço de cultivo das diversas expressões judaicas. Nele, você vai mergulhar em uma cultura milenar e fascinante, aprendendo sobre as tradições, os valores e as histórias do povo judeu. Além disso, tem a chance de conhecer por dentro uma antiga sinagoga, visitar exposições, pesquisar o acervo da biblioteca, participar de ações educativas, oficinas, debates, encontros literários, concertos e muitas outras atividades que criam diálogos entre a cultura judaica e a diversidade cultural brasileira. Sem contar que no museu há sempre um cafezinho e um bom papo no fim da visita. Esperamos você com sua família, seus amigos e suas histórias.