Fusquinha da alegria Maria Edilazir chegou ao Pará com a ideia de passar só alguns meses. Canaã dos Carajás ainda não tinha nome de cidade, era só CEDERE II. Não tinha nome, hospital nem supermercado. Mesmo quem possuía dinheiro passava apertado para comprar alguma coisa. Escola também não existia, mas prestes a ser inaugurada. A moça mal chegou e logo ensinava meninos de 9 aos 15 anos. Nada era fácil, mas difícil mesmo era receber o salário: a agência de banco mais próxima ficava em Parauapebas, a mais de duas horas de distância. Nesse período, uma ou outra caminhonete fazia o trajeto e toda a gente ia na carroceria. Estrada
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de terra, vento e poeira, uma combinação perfeita: chegava todo mundo com os cabelos vermelhos, parecendo curupira. Às vezes, o carro quebrava na estrada e o povo aproveitava para entrar nas matas para colher o ouriço da castanha-do-pará.
Depois que Parauapebas se emancipou de Marabá e veio o primeiro governo da região, o tratamento passou a ser “VIP”. Aí, o almoço começou a ser oferecido pela prefeitura num restaurante bom à beça, um tal de Mineiro. A comida era ajeitada, mas o pessoal continuava descendo do carro com o cabelo sujo do pó da estrada. Quem via aquele grupo de cabelo vermelho, já sabia que era o povo de Canaã.
Passou o tempo e finalmente o pagamento veio até os trabalhadores. Mas banco seguia não existindo. O dinheiro agora chegava num fusca, conduzido pelo seu Gonzaga. Era o “Fusquinha da Alegria”. Uma curiosidade: as notas tinham cheiro de pão! É que seu Gonzaga, com medo de ser assaltado, comprava pães e punha o dinheiro ali escondido.
Um dos motoristas da caminhonete era um homem que a turma só conhecia como Fogoió. Ele tinha um combinado de, mais ou menos na metade do caminho, parar na venda do Juquito, para o povo lanchar e esticar as pernas. Tinha quem trouxesse a farofa de casa, para economizar.
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