Ministério do Turismo e Maha Energy apresentam
Caderno de Experiências & Ações Leitoras Espaço, acervo e mediação para a formação de leitores
Caderno do Professor
1. Concepção de Infância
• Em que criança acreditamos? Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura... Alberto Caeiro (Um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa)
Vocês já pararam para pensar sobre isso? Como vocês vêem as crianças com quem trabalham? Se compreendemos a criança apenas como alguém que recebe informações e imagens, sem pensar sobre elas, sem refletir sobre o mundo que a cerca e sem agir sobre ele, escolheremos um tipo específico de literatura: aquela que abre pouco espaço para reflexões e para a imaginação, que busca sempre apresentar um ensinamento direto, que é “feita para”, sempre com uma finalidade prática. Se, ao contrário, acreditamos na criança com toda a sua potência, criatividade e sensibilidade, se a ela damos a chance da palavra, e se nos colocamos em uma verdadeira troca com ela, escolheremos outro tipo de literatura, e a leitura e todo o processo educativo adquirem novos e mais ricos sentidos. 3
Não há como ignorar o conhecimento que a criança traz consigo, pois ela também possui uma história e, por isso, não pode ser vista apenas como um receptáculo que absorve imagens de forma acrítica. Ela constrói conhecimento e, por isso, é preciso que seja ouvida. Se a ela for dada a possibilidade de fala e representação, certamente a experiência do homem contemporâneo, tão marcada pelo empobrecimento de relações verdadeiramente significativas, irá enriquecer-se. Solange Jobim e Souza (Psicóloga e Professora Doutora)
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• Como a criança é Acho que a criança é mais poeta porque ignora as receitas. (...) Essas ignorâncias subtraem as crianças dos regulamentos, do sério. A criança está disponível para a poesia. Ao ponto do poema [...] Ainda não sabe o comportamento das coisas. E pode inventar. Manoel de Barros (Poeta mato-grossense)
Essa criança, como diz a educadora Lydia Hortélio, é um ser humano novo no mundo. Seu olhar, também novo, está aberto para as surpresas e o encantamento. O poeta Manoel de Barros dizia, de um jeito muito bonito, que as crianças estão “ao ponto do poema”. 5
Assim, se nos colocamos neste lugar de conversa e troca verdadeiras, podemos formar um time muito rico com elas. Nós, com a nossa experiência leitora maior pelos anos vividos, com a responsabilidade de apresentar às crianças-leitoras esse esplêndido patrimônio cultural que é a literatura, e as crianças, com a sua abertura para a vida, o novo, com seu olhar brilhante, sempre buscando descobertas e aprendizados. E é exatamente nessa troca, onde adulto e criança juntos recriam o que leem, que o encantamento acontece. Estes momentos de partilha criam brechas para que juntos possamos refletir e conversar sobre tudo o que nos inquieta, nos alegra e emociona. É evidente que o melhor público é um time de adultos e crianças reunidos, cada um oferecendo seus pontos fortes especiais. Maria Nikolajeva e Carole Scott (Autoras de Livro Ilustrado: Palavras e Imagens)
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2. Leitura e Literatura É possível ensinar a experiência essencial da literatura: ou seja, seu poder para revelarmos sentidos ocultos e secretos; para nos comover, nos assustar, nos abalar, nos nomear e nos fazer rir ou tremer, e para falar de tudo aquilo que não se diz para as visitas. Yolanda Reyes (Educadora colombiana, especializada em Literatura)
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• Escrever e ler*¹ As crianças estão imersas no mundo da palavra escrita desde que começam a olhar para o mundo ao redor. E as palavras ditas estão desde sempre com elas: antes mesmo do nascimento, as crianças são nomeadas e ouvem as palavras que vêm de fora, dirigidas a elas, e outras mais.
A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade daquela. Paulo Freire (Educador brasileiro)
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A passagem da oralidade para a escrita se dá em um processo contínuo.
A escrita é um sistema complexo. Existem etapas do processo leitor, pelo qual a criança passa ao desenvolver a leitura, sempre à serviço da compreensão: 1. Decodificar - há a independência do significado / esta etapa não traz sentido 2. Antecipar - há a busca de compreensão / a criança utiliza conhecimentos prévios 3. Inferir - aquilo que a criança, enquanto leitora, acrescenta ao texto sem estar escrito / o que não está 4. Selecionar - dentre algumas opções, quais são possíveis 5. Verificar Aleksandra Franco (Professora e orientadora pedagógica)
Ler envolve compreensão e criação de significado; e quando entendemos a função social da leitura e da escrita, todo o processo ganha um novo e mais profundo olhar. 9
• Letramento literário Nas bibliotecas, salas e espaços de leitura*, uma série de ações relacionadas ao letramento literário contribui para ajudar a criança a entrar neste mundo letrado e a fazer parte dele, compreendendo como e por que ler. Três “Cs” fazem parte deste letramento, como diz o professor, escritor e Doutor em Letras, Rildo Cosson: Conhecer, Criar e Compartilhar. Conhecer - aqui estão todas as atividades relacionadas à apresentação de livros, temas, autores e ilustradores, conversas ou trocas de mensagens com estes, listas temáticas e outras, murais informativos etc. - O que nos faz mergulhar no mundo da Literatura! Criar - aqui, as oficinas de produção de texto, de livros, de imagens, de arte e cultura em geral. - A leitura se desdobrando em produções escritas, literárias e artísticas. Compartilhar - aqui, as rodas de conversa, a divulgação de listas (de livros premiados, novidades que chegaram), os espaços virtuais (sites, padlets, Instagram etc)... - Tudo o que faz a leitura e os espaços de leitura e as bibliotecas irem mais longe! * Neste caderno para a Rede de Leitura, chamaremos de espaços de leitura os espaços com livros nas escolas.
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Receber as crianças de forma acolhedora, mostrando que o espaço de leitura é delas também, e não um espaço frio e distante, de silêncio absoluto, é um primeiro passo. Apresentar como o espaço foi organizado, como os livros foram arrumados nas estantes e como acessá-los; conversar sobre as regras de uso deste local; apresentar livros, autores e autoras, ilustradores e ilustradoras, temas, gêneros literários; promover encontros, feiras e rodas de leitura, conversar sobre as leituras e ouvir o que as crianças têm a dizer sobre o que leram e ouviram, dentre outras ações, são partes fundamentais do processo de imersão neste mundo leitor, onde elas compreendem o papel social da leitura e da escrita, passando a fazer parte de uma comunidade leitora maior. Acreditando no potencial criativo das crianças, não leremos só para elas, mas também com elas, num contínuo processo de troca e aprendizagem, onde círculos vão se alargando e todos saem enriquecidos.
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• Por que ler literatura? Para que serve a ficção? Todos nós, homens e mulheres, vamos ao dicionário para saber sobre as palavras, aos livros de ciência para saber sobre ciência, aos jornais e às revistas para ler notícias da atualidade e aos cartazes de cinema para saber os filmes que estão passando. Mas para onde vamos quando queremos saber sobre nós mesmos? María Teresa Andruetto (Autora e formadora de professores argentina)
A Literatura tem o poder de criar pontes e abrir espaços de pensamento e crítica. Ao ler, refletir e conversar sobre o que lemos, nos formamos como pessoas. A obra literária é manifestação artística e cultural que pode abrir espaços de reflexão e de imaginação. Os livros nos ajudam a pensar o mundo. A leitura literária, diferente de outras leituras que fazemos cotidianamente nas redes sociais e na Internet, exige mais tempo, permite um mergulho, um aprofundamento em questões que nos encantam e, também, que nos assombram. 12
A leitura de Literatura nos torna mais empáticos e críticos. Nós, adultos, lemos por muitos motivos: para viajar, para nos divertir, nos encantar, lemos para fantasiar e criar, lemos para nos formar, transformar, para sermos críticos, lemos para saber, aprender, compreender, lemos porque há falta, para buscar transcendência, beleza, para nos reconhecermos como humanos e para aprendermos a sermos humanos… As crianças também leem por todos estes motivos. Lendo, experimentam o mundo, experimentam a empatia e se tornam também leitores mais compreensivos, menos preconceituosos. Leitores de livros e de mundo. E vão se formando como pessoas, construindo suas subjetividades.
Ler livros para ler melhor a vida! A Leitura e a Literatura são como ensaios de vida para as crianças. Márcia Leite (Autora e editora brasileira)
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• E a Literatura de qualidade? Os bons livros não são criados com um único propósito, mas eles carregam uma grande multiplicidade de sentidos María Teresa Andruetto (Poeta, pensadora e escritora argentina)
Para a premiada autora Tatiana Belinky, as características louváveis de uma boa obra são: ética, estética e emoção. Ela contava que a sua neta uma vez lhe disse: “Ai, vó, um livro que não dá pra rir, não dá pra chorar, não dá pra ter medo, nem pra ter raiva, não serve pra nada, né?”
Formamos leitores quando compreendemos a obra literária como manifestação artística e cultural e não como uma finalidade. Editora Pulo do Gato
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Todos os assuntos cabem em um livro infantil. Bons livros emocionam e falam de perto para e com as crianças. Abrem espaço para múltiplas interpretações, não fecham caminhos, ao contrário, são janelas para o mundo. Bons livros ilustrados*² e livros com ilustrações são aqueles que trazem a união de texto, imagens e projeto gráfico de qualidade.
Atenção
O que observar! Texto de Qualidade • • •
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Riqueza de imagens literárias Vocabulário rico Texto que desperta o imaginário, a criatividade, a curiosidade Que abre espaço para múltiplas interpretações
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Ilustração / Imagem De Qualidade • • • • •
Técnicas Composição das imagens nas páginas Traço não estereotipado, a surpresa O uso de cores, linhas, ângulos Diálogo imagem-texto
Projeto Gráfico / Design de Qualidade • • • • • • • • •
Formato Tamanho Capa e contracapa Guardas Fontes Folhas simples e folhas duplas Dobras e abas Qualidade de impressão Tipo de papel
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3. Bibliotecas, Espaços de Leitura e formação de leitores Sempre imaginei o paraíso como uma espécie de biblioteca. Jorge Luis Borges (Escritor argentino)
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Gostamos de pensar nas bibliotecas e nos espaços de leitura escolares como o “coração da escola”. Coração que pulsa e emociona, que bombeia fazendo circular livros e ideias, deixando a escola viva. Para este coração bater é preciso cuidar de seu acervo e espaço. E pensar na mediação de leitura, pois de nada adianta termos livros nas estantes se eles não forem abertos, e um belo espaço sem gente, conversas e trocas acontecendo nele.
• Acervo Só quando conhecemos as histórias uns dos outros é que aceitamos nossa humanidade. Quando conheço as histórias do meu povo e da minha cultura, é então que me torno humano. Rudine Sims Bishop (Professora emérita da Ohio State University, referida como a “mãe” da literatura infantil multicultural por sua pesquisa inovadora de literatura infantil americana)
Escolhemos diferentes livros, com tamanhos, formatos, tipos e textos diversos para os espaços de leitura. 18
O conceito por trás desta escolha foi o da bibliodiversidade: livros de autores e autoras, ilustradores e ilustradoras, estéticas, gêneros, linguagens e temas variados, indo para além do cânone* ocidental, predominantemente branco e masculino. *³ Importante também dizer que nos pautamos no que observamos em nossa prática, pensando no que crianças desta faixa etária gostam. Nosso cânone também é formado pelo que elas escolhem. Se tivermos em mente, uma vez mais, a ideia de um cânone que escute os leitores, reconheceremos que há muito que aprender com os modos pelos quais as crianças escolhem e com as noções sobre a cultura que estão presentes nesse gesto. Cecilia Bajour (Crítica literária argentina de livros para crianças e jovens, com formação em Letras)
*Cânone = Cânone é um termo que deriva do grego “kanón”, utilizado para designar uma vara que servia de referência como unidade de medida. Na Língua Portuguesa, o termo adquiriu o significado geral de regra, preceito ou norma. Em determinados contextos, a palavra cânone pode ter significados mais específicos. Na literatura, é um conjunto de livros considerados como referência num determinado período, estilo ou cultura. Retirado de: https://www.significados.com.br/canone/
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Mas isso não quer dizer que haja apenas um tipo de livro para uma idade específica, leitores de uma mesma idade podem ter fôlego de leitura e gostos muito diferentes. A dica aqui é experimentar, ouvir o que seus leitores têm a dizer, escutar preferências, mas também mostrar novidades e outras opções que ampliem estas preferências. Trouxemos livros de diferentes lugares, autores clássicos e também livros para pensar uma educação antirracista, livros que conversam sobre sustentabilidade, livros de autores e autoras negras, indígenas, livros de cultura popular… Enfim, livros que representam a nossa rica e múltipla cultura e que vão além. Como disse Rudine Sims Bishop, já citada acima: “Os livros às vezes são janelas, oferecendo visões de mundos que podem ser reais ou imaginárias, familiares ou estranhas. Essas janelas também são portas de vidro corrediças, e os leitores só precisam caminhar por elas na imaginação para se tornar parte de qualquer mundo que tenha sido criado e recriado pelo autor. Quando as condições de iluminação são adequadas, no entanto, uma janela também pode ser um espelho. A literatura transforma a experiência humana e a reflete de volta para nós, e nessa reflexão podemos ver nossas próprias vidas e experiências como parte da experiência humana mais ampla. Ler, então, torna-se um meio de autoafirmação, e os leitores muitas vezes procuram seus espelhos nos livros.” 20
• Espaço Um espaço flexível: Espaço para ler, para pesquisar e estudar, espaço para trocar e conversar, espaço para criar
Em uma biblioteca, o trabalho dos mediadores começa com a organização do espaço. Em termos físicos, o espaço deve ser acolhedor, confortável, tranquilo e arejado. É importante que o acervo esteja ao alcance das mãos das crianças para facilitar encontros e descobertas. Bibliotecas são mundos e é preciso se sentir à vontade e seguro para explorar esse espaço. Lúcia Calderón (Educadora, Especialista em Educação Infantil e Mediadora de leitura de biblioteca do Ensino Fundamental 1)
Podemos organizar o espaço de forma flexível, de acordo com as diferentes dinâmicas e os diferentes momentos do trabalho com as crianças. Ler é um ato individual, mas também coletivo.
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Para os momentos de leitura silenciosa, individual, e de pesquisa e estudo, precisamos de um espaço com mais tranquilidade, onde seja possível ler em mesas, ou almofadas e tapetes, na posição mais confortável para cada um. Para os momentos de contação e leitura de histórias e troca em rodas de conversa, o ideal é que se sentem em círculo, onde possam se ver e compartilhar o que pensam a respeito do que foi lido ou contado. Ainda podemos também usar as mesas, que podem ser dispostas separadamente ou formando uma grande mesa, para produzir textos escritos, fazer diferentes trabalhos e realizar oficinas! Assim, dependendo do objetivo do encontro, o espaço pode ser arrumado de diferentes formas, com caráter mais dinâmico e criativo.
Não esqueçam que o espaço de leitura pode ir para além dele mesmo - em histórias lidas e contadas do lado de fora e em espaços virtuais, se houver a possibilidade. Assim os livros e as trocas podem chegar mais longe! 22
Com relação à disposição dos livros nas estantes, sugerimos que para as crianças menores e mesmo para os alunos mais velhos do 1º ciclo do Ensino Fundamental, os livros sejam dispostos nas prateleiras com as capas viradas para frente, para que eles possam enxergar as ilustrações e títulos e possam manuseá-los, explorando-os um a um. Os livros ainda podem ser colocados em cestos em cima das mesas, destacando temas diferentes que podem ser trocados de tempos em tempos, em displays ou varais. Mudar constantemente estes destaques,“arejam” as estantes e fazem a biblioteca ficar dinâmica e convidativa. E ainda vale lembrar que o espaço de leitura é um espaço de cultura, de convergência de linguagens. Então, separar um local para exposições de autores ou ilustradores, livros de determinados temas, trabalhos de arte das crianças e poemas preferidos, por exemplo, é uma ótima ideia!
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• Murais e mais Os murais podem ser de diferentes tipos, de acordo com os objetivos de cada um deles. Podemos fazer murais de publicação de algum trabalho realizado ou murais-convite para alguma ação que vai acontecer no espaço, murais informativos contando sobre livros, autores e ilustradores ou outros temas pertinentes e ainda murais interativos, onde convidamos as crianças a participar e a refletir sobre algum assunto. Todos eles podem ser feitos com a colaboração dos profissionais que usam o espaço e/ou também das crianças.
Sugerimos que as informações práticas a respeito do funcionamento do espaço de leitura estejam bem visíveis, logo na entrada. Mas consideramos fundamental que essas regras de uso sejam discutidas e elaboradas com as crianças.
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• Mediação É possível ensinar a experiência essencial da literatura: ou seja, seu poder para revelarmos sentidos ocultos e secretos; para nos comover, nos assustar, nos abalar, nos nomear e nos fazer rir ou tremer, e para falar de tudo aquilo que não se diz para as visitas. Yolanda Reyes (Educadora colombiana, especializada em Literatura)
O Mediador de Leitura é um profissional cuja ação deve ser intencional, planejada e fundamentada em conhecimentos específicos para aproximar as crianças do universo literário, orientando e acompanhando as escolhas de livros e conduzindoas a experiências leitoras significativas que desafiem suas competências de forma a ampliar sua visão de mundo e conhecimento, e desenvolver sua sensibilidade estética, ética e o espírito crítico. Lúcia Calderón (Educadora, Especialista em Educação Infantil e Mediadora de leitura de biblioteca do Ensino Fundamental 1)
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Como dissemos anteriormente, se estamos inteiros no ato da leitura com as crianças, e não apenas lendo para elas, criamos um espaço de muito afeto e importância. Lendo com as crianças, abrimos lugar para a conversa e a troca, e, se realmente as ouvimos, compartilhamos não só significados, mas sentimentos; e acolhemos as crianças-leitoras. Nosso papel fundamental é o de mediar as leituras, o de ser mediadores-ponte entre os livros e as crianças, trazendo todo o nosso encantamento e a nossa emoção junto. *4
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• Receber as crianças Podemos ir até o espaço de leitura junto com elas ou recebêlas logo na entrada. Podemos espalhar pistas que as levem até lá, traçar um risco com giz no chão, guiando o caminho delas ao nosso encontro ou o que mais vier na cabeça. É importante preparar o espaço! Pode ser de um jeito diferente, apagando as luzes, com uma música ou barulho de fundo, montando cabanas com pedaços de tecido, pendurando livros em varais… Antes da entrada, podemos conversar um pouquinho sobre como será o encontro ou abrir a porta com um poema, um sorriso e uma surpresa. O importante é não deixar que os encontros caiam na rotina, sigam uma “receita de bolo”. Surpreender e encantar fazem parte do processo!
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CONHECER
• Como orientar as crianças na hora de escolher um livro? – Orientação para a criação de um percurso leitor Um professor de leitura é, simplesmente, uma voz que conta; uma mão que abre portas e traça caminhos entre a alma dos textos e a alma dos leitores. Yolanda Reyes (Educadora colombiana, especializada em Literatura)
É preciso investir em uma relação de afeto e confiança que permitirá a orientação de leituras a partir de uma relação que valoriza a escuta como meio de conhecer o leitor e assim conseguir aproximá-lo dos livros de seu interesse. Nessa relação o mediador tem o papel de sugerir leituras, sem com isso tirar a liberdade de escolha do leitor em sua busca. Lúcia Calderón
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O respeito à liberdade de escolha não tira do mediador a sua responsabilidade em ampliar o universo cultural dos leitores e torna seu trabalho mais complexo e minucioso, pois deve estar atento para as possibilidades de brechas para apresentar obras em conversas, em contação de histórias, filmes, saraus e outras atividades culturais relacionadas à literatura. À medida que o vínculo com o leitor se fortalece, vai ficando mais fácil a orientação para leituras mais complexas, ampliando seu conhecimento com relação aos gêneros, complexidade do texto, interesses, estética. E, assim, os leitores vão caminhando com mais autonomia. Assim como na vida, o percurso de formar-se leitor é particular e deve seguir por toda a vida. A cada leitor deve ser permitido experimentar, errar e acertar na busca por livros que satisfaçam as suas necessidades, preencham vazios e os façam se sentir parte da humanidade, enxergando nos personagens e enredos dos livros semelhanças e diferenças nas formas de viver e de responder às questões fundamentais da vida. Lúcia Calderón
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E, importante: em uma biblioteca, a vivência do tempo deve ser outra. É preciso tentar proporcionar a experiência de um espaço onde o relógio parece correr mais lento. A experiência literária do mediador será fundamental para as conversas com os leitores. Por isso é fundamental que nós também sigamos nosso percurso leitor, ampliando e aprofundando nossas leituras. E, para além das leituras pessoais, os mediadores precisam conhecer os livros do acervo. Para poderem orientar sobre o que ler, é importante que o mediador tenha horas de trabalho destinadas à leitura dessas obras para avaliar a qualidade, conhecer a autoria, conhecer o tema e complexidade do texto. Lúcia Calderón (Educadora, Especialista em Educação Infantil e Mediadora de leitura de biblioteca do Ensino Fundamental 1)
É muito importante que vocês, mediadores e mediadoras de leitura, conheçam o livro que vão ler. Olhem as opções, leiam sinopses e resenhas, conheçam os lançamentos e pesquisem sobre prêmios e feiras importantes. *5 30
Leiam o livro escolhido mais de uma vez. O que chama a atenção de vocês?! O formato do livro, as fontes usadas? A ilustração ou algum detalhe dela, a forma como o texto foi escrito, o diálogo entre ilustração e texto verbal? Alguma característica marcante dos autores e ilustradores? O tema ou algo mais? Estas respostas vão ajudar vocês a descobrirem quais são as perguntas que podem funcionar como “chave de leitura” para cada livro, guiando vocês e as crianças neste percurso. Este conceito de “chave de leitura” foi cunhado pela pesquisadora argentina Cecilia Bajour. Estas “chaves” nos ajudam a abrir as portas para esse universo tão vasto que pode ser cada livro. E ajudam a ler e a conversar sobre o que foi lido. É importante também que pesquisem sobre autores/ autoras e ilustradores/ilustradoras. Quem são? Qual a marca dos seus trabalhos? Vocês podem encontrar essas informações nos próprios livros, no início, ao final, em orelhas e contracapas, ou em sites dos autores, blogs de literatura etc. E ainda, mas não menos importante, vale pensarem por que escolheram aquele livro. O que emocionou vocês na leitura, o que chamou a atenção?…
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Os espaços de leitura foram montados com muito cuidado e carinho. A gente espera que, dentro deles, vocês encontrem livros com os quais se identifiquem, livros que gostem e que levem por caminhos ricos e plurais!
• Contação e Leitura: O que ler e contar? E como? (...) a infância é uma fase extremamente lúdica da vida e, nesse momento da experiência humana, a gente faz festa mesmo é com uma boa história bem contada. Ana Maria Machado (Escritora brasileira. Membro da Academia Brasileira de Letras)
Ler é diferente de contar. Os dois exigem boas dicção e entonação, altura adequada de voz e um bom ritmo. Lendo, temos o livro entre nós e nossos leitores, por isso é importante cuidarmos da nossa postura, segurando o livro de frente para as crianças, passando as páginas sem pressa, para que possam observar todos os detalhes das ilustrações, se houver. 32
Já ao contar, podemos usar todo o nosso corpo - a voz e o olhar são fundamentais. Histórias passadas oralmente ao longo dos tempos sempre tiveram a função de unir quem conta e ouve, de trocar experiências, passar o que se considera importante para a comunidade, perpetuando a arte de narrar. Sentando-se em roda, todos podem se olhar. Mas também vale sentar como se as crianças estivessem em um teatro ou cinema, de frente para quem conta; contar embaixo de árvores, do lado de fora, ou de outras formas que puderem inventar. Podemos usar fantoches, dedoches, recortes, panos e o que mais nossa imaginação e habilidade permitir. Podemos ainda contar usando um palquinho de teatro de fantoches, teatro de sombras, projeção na parede… Ou seja, há um sem-fim de maneiras de contarmos histórias! Mas há também o simples contar, que precisa apenas da nossa imaginação, memória, corpo e voz. Uma história bem contada deixa marcas profundas nas crianças. E elas, com certeza, guardarão e contarão o que ouviram, compartilhando contos e memórias pela vida afora. 33
Sugerimos que histórias autorais sejam lidas, para a gente não mudar a escrita dos autores e autoras e as palavras tão bem escolhidas por eles e elas. Já as histórias de Cultura Popular se prestam a serem contadas.Aliás, elas sobrevivem no repertório popular assim, sendo passadas, de boca em boca, há muitos e muitos anos.
Vocês sabem o que é um conto popular? Segundo Câmara Cascudo o que torna um conto “popular” é o fato de ele ser: • • • •
Antigo na memória do povo Persistente no repertório popular Anônimo em sua autoria Divulgado em seu conhecimento
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Então, vamos lá! Que tal uma leitura ou contação por dia?! Pode ser conto popular contado, histórias autorais lidas, poesias…O importante é ler e contar histórias. Muitas e variadas. Como diria um ditado popular, “Comer, coçar e contar… é só começar!”
• Rodas de leitura, apreciação e conversa No fundo, os livros são isto: conversas sobre a vida. E é urgente, sobretudo, aprender a conversar. Yolanda Reyes
As rodas são momentos para: • Ler por fruição • Apresentar e conversar sobre diferentes tipos de livros, autores e autoras, ilustradores e ilustradoras, editoras, designers, temas, gêneros... • Conversar sobre emoções e memórias, imagens que vêm à cabeça – o que é diferente de perguntar o que é “certo ou errado” no texto. • Dizer por que escolhemos este ou aquele livro • Contextualizar a obra no tempo e no espaço • Valorizar a importância da escuta e da conversa 35
CRIAR Ao ouvirmos uma história lida ou contada, nossa imaginação viaja, e já começamos a criar um abrigo para a nossa imaginação, uma aventura ou lugares novos imaginados, uma palavra inventada!...
• Oficinas de criação de texto, imagens, personagens… Para além da imaginação, que pode viajar solta, e das conversas mediadas, as leituras podem ser desdobradas em oficinas variadas. Oficinas de Poesia, Livro ilustrado, Criação de personagens são algumas delas. *6
COMPARTILHAR
• No espaço de leitura Fazem parte de “compartilhar” todas as atividades que acontecem no espaço de leitura que estão relacionadas a trocas: rodas de conversa, apreciação e opiniões, cartazes feitos pelas crianças com resenhas e dicas, clubes de leitura - que são uma ótima ideia! - e mais. 36
• Para além deste – Formando uma comunidade leitora É muito importante contar com a participação da Comunidade escolar, das Famílias. Pensar em ações que envolvam pais, responsáveis e funcionários da escola é fundamental! O acervo do espaço de leitura é responsabilidade dos educadores, professores e mediadores de leitura que trabalham neles, mas é também responsabilidade de todos. É importante que haja o compromisso de cada um e cada uma para que os livros possam ser lidos, cuidados e para que continuem a circular por muito tempo. Podemos fazer rodas de leitura e contação para estes “convidados”, pedir que leitores compartilhem o que estão lendo ou falem sobre leituras ou histórias ouvidas que marcaram as suas vidas, criar inventários, nos quais as crianças “possam se narrar”*7, convidar para feiras literárias, compartilhar a produção escrita das crianças e as dicas de leitura de adultos e delas, e tudo o mais que puder acontecer para manter o espaço vivo e pulsante! 37
Vale fazer “pé de livros” em árvores do quintal da escola, espalhar poemas e frases de livros pelos corredores, lê-los em voz alta, fazer entradas surpresa, invasões poéticas e literárias nas turmas, ou nos horários de recreio, estimular saraus de poesia, fazer rodas de leitura e conversa do lado de fora, em locais abertos… E, lembrando que os espaços de leitura são espaços de convergência de linguagens e espaços de cultura, chamem a comunidade escolar para ajudar a montar exposições*8, fazer saraus, apresentações culturais etc. Nestes tempos atuais, também podemos ir além virtualmente, quando houver a possibilidade, criando podcasts, áudios, vídeos de contação de histórias de cultura popular e apresentação de autores/ilustradores/livros… Uma ideia muito rica é criar um espaço virtual para o espaço de leitura. Pode ser um site, uma página no Instagram ou Facebook, um canal de Youtube, um agregador de podcasts ou um mural padlet. *9 Nestes espaços,como nos murais físicos,vocês podem publicar trabalhos realizados, dar dicas de leitura, dicas culturais, como exposições virtuais, peças e filmes on-line, anexar oficinas, áudios e vídeos e o que mais a criatividade permitir. A dica é pensar no espaço virtual criado como uma janela do espaço de leitura de vocês para o mundo. 38
Vocês conhecem bibliotecas virtuais?! Que tal visitarem estas?! Biblioteca Nacional
https://bndigital.bn.gov.br/
Acesse o site
Rede SP Leituras
É possível fazer carteirinha e ler gratuitamente os livros das plataformas virtuais de leitura destas bibliotecas! https://bsp.org.br/ https://bvl.org.br/
Cadastro para carteirinha
Acesse a plataforma BSP Digital Acesse a plataforma TocaLivros
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British Library
https://www.bl.uk/
Acesse o site
Biblioteca Virtual del Banco de la República
https://www.banrepcultural.org/biblioteca-virtual
Acesse o site
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4. Deixando Janelas e portas abertas
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Por aqui fechamos esse caderno de experiências e ações leitoras, imaginando que deixamos nossas janelas e portas abertas. Abertas para ouvir vocês e as novas histórias e vivências que terão para contar após esse rico caminhar que é o trabalho com a mediação de leitura. Janelas e portas abertas para trocas, conversas e para a curiosidade, a imaginação e a criatividade correrem livres. Assim esperamos! Inês De Biase é pedagoga formada pela PUC-Rio e especialista em Leitura. É professora da oficina literária O Curso das histórias para crianças do Ensino Fundamental 1, há mais de trinta anos, e professora de formação de professores. Desde 2008 é coordenadora dos Projetos de Leitura das Bibliotecas da Escola Parque, escola particular de Educação Infantil a Ensino Médio, no Rio de Janeiro. Em 2014, coordenou a escrita de Bibliotecas Infantis - Um programa para pequenos leitores - Caderno de referência para mediadores de leitura, educadores e bibliotecários das Bibliotecas Parque do Estado do Rio de Janeiro
Acesse o instagram @ocursodashistorias
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EQUIPE PROJETO REDE DE LEITURA Coordenadora:
Daniela Chindler há 25 anos, se dedica à área da educação, principalmente em projetos de incentivo à leitura e mediação em museus. É autora do projeto de visitas teatralizadas elaborado para o centenário Academia Brasileira de Letras que alcançou tamanho sucesso que ficou 15 anos em cartaz. Foi curadora da programação infantojuvenil de várias edições da Bienal do Livro no Rio de Janeiro, e da Bienal do Amazonas e da Bahia. Daniela escreveu sobre pintores, viagens, folclore e bibliotecas. Dentre seus livros publicados, está “Bibliotecas do Mundo”, considerado o melhor livro informativo de 2012, pelo Prêmio Malba Tahan da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). É autora de inúmeros projetos de difusão da literatura que promovem a mediação de leitura em praças, presídios femininos, comunidade, museu como “Oficina de Histórias no Vidigal”, “Manhã de Histórias nas praças”, “Histórias além muros” e “Livro Vivo”. Acesse o instagram @sapotiprojetosculturais Acesse o site da Sapoti Projetos Culturais 43
Produtora:
Flavia Rocha é bacharel em Português Literaturas pela Faculdade de Letras - UFRJ, foi produtora cultural da Sapoti Projetos Culturais de 2001 a 2016, e é contadora de histórias há quase 20 anos. Flavia adora pensar formas de explicar as coisas, procurar palavras que deixem uma ideia complicada mais clara, criando imagens que podem ser “vistas” por todos.
Acesse o instagram @historiaemfamilia
Mediadora de Leitura:
Adriana Bertolucci trabalha em mediação de livros há anos. Participou do projeto “Roedores de livros”, do escritor premiado Tino de Freitas e foi educadora do Programa Educativo do CCBB. Hoje trabalha com mediação em escolas. Acesse o instagram @adriana.livros Acesse o canal Marandubinhas no Youtube 44
APENDICE
*1 Para saber mais sobre a diferença entre alfabetização e letramento:
Acesse o Brasil Escola Dica de leitura sobre este assunto:
*² Livro ilustrado é diferente de Livro com ilustrações, que normalmente tem mais texto e menos ilustrações. O ilustrador e autor Odilon Moraes costuma dizer que o Livro Ilustrado é aquele que não pode ser lido sem as imagens. *³ Dica de leitura!
Acesse o quindim.com.br 45
*4 Dicas de A taba - Leitura em rede - blog que vale conhecerem!
Acesse A taba • • • • •
Não se preocupe com o que a criança ‘entendeu’ do livro. Os bons livros não se encerram em uma leitura; Desfrute o momento. Se ler é bom, ler junto é demais! Escolha livros que desafiem a curiosidade, encantem, inquietem, causem vontade de conversar sobre o que acabaram de ler; Nada melhor que uma novidade para começar uma boa conversa; E por fim, conversar é também ouvir!
Dica de leitura:
Amostras dos livros 46
*5 Alguns prêmios e feiras que são fundamentais! - ALMA (Astrid Lindgren Memorial Award), Hans Christian Andersen, Selo Altamente Recomendável da FNLIJ, Selo da Cátedra UNESCO/ PUC -RJ de Leitura, Prêmio Jabuti, Melhores do ano da Revista Crescer, Feira de Bologna, Feira da FNLIJ, Flipinha. *6 Dica! No blog de A Taba Leitura em rede é possível baixar o Guia de brincadeiras: Um encontro entre o brincar e a literatura, com sugestões muito criativas!
Acesse a taba
*7 *8 Vale pesquisar o rico trabalho da autora, jornalista e pesquisadora Gabriela Romeu que fala sobre “inventários” e conhecer o Projeto Infâncias, criado por ela e pela também jornalista Marlene Peret, e olhar essas dicas de belas exposições!
Acesse o Projeto Infancias
Acesse as exposições do Projeto Infancias
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*9 Tutorial sobre como fazer um mural padlet:
Acesse o site Um padlet da Biblioteca da Escola Parque, no Rio de Janeiro:
Acesse o site
*10
Google Arts
Instituto Moreira Salles
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Mais dicas de páginas do Instagram, blogs e sites que precisam conhecer: Revista e Instituto Emilia: • https://emilia.org.br/ A Taba Leitura em rede: • https://blog.ataba.com.br/ Lunetas: • https://lunetas.com.br/ Instituto Quindim: • https://www.institutoquindim.com.br/ Projetos: • https://www.casadas5pedrinhas.com.br/home • https://mapadobrincar.folha.com.br/ • https://projetoinfancias.com.br/site/o-que-e/ • http://www.tecendosaberes.com/projeto/ Instagram - Literatura: • https://www.instagram.com/clarissabrito_/ • https://www.instagram.com/julianapadua81/ • https://www.instagram.com/biblioteca_amarela/ • https://www.instagram.com/nacordabamba/ • https://www.instagram.com/veredasnoinsta/ • https://www.instagram.com/bibliotecaescolaparque/ • https://www.instagram.com/julianapadua81/ • https://www.instagram.com/bibliotecavila/
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Algumas editoras e livrarias brasileiras e estrangeiras: • • • • • • • • • • •
https://www.instagram.com/companhiadasletrinhas/ https://www.instagram.com/pequenazahar/ https://www.instagram.com/peiropolis/ https://www.instagram.com/editorapulodogato/ https://www.instagram.com/mazzaedicoes/ https://www.instagram.com/pallaseditora/ https://linktr.ee/escolaantirracista https://www.instagram.com/livraria_malasartes/ https://www.instagram.com/fazdeconto/ https://www.instagram.com/orfeunegroeditora/ https://www.instagram.com/planetatangerina/
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produção
patrocínio
marketing cultural
apoio
realização
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