Longevidade em Foco - Nº 7

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Atividade física em alta

Brasileiros estão se exercitando mais e de forma regular, mostra pesquisa

Educação médica continuada Grupo Longevidade Saudável completa 15 anos de atividades, com 3,1 mil médicos, de 32 diferentes especialidades, já formados

Combate à obesidade EUA adotam novas medidas para incentivar população a adotar uma alimentação saudável

Destaque no cenário mundial

ANO 3 – Nº 7 – 2015

8º Congresso Brasileiro de Fisiologia Hormonal e Longevidade confirma a excelência dos profissionais brasileiros



EDITORIAL

sumário

Caros amigos,

Cuidados com a pele nas diferentes etapas da vida

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Uma boa notícia para o país: os brasileiros estão fazendo mais

Como evitar a degeneração macular

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atividade física. Pesquisa do Ministério da Saúde mostra que atual-

Horários instáveis no trabalho e o cérebro

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mente em torno de 34% da população vem praticando algum tipo

Sexualidade e vida saudável

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Gastronomia e nutrição: casamento perfeito

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O melhor hotel do mundo fica no Brasil

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Federal. E a pesquisa traz ainda descobertas importantes, como o

Benefícios do riso para a saúde

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aumento no número de pessoas que preferem as academias para

Luz natural para mais produtividade

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se exercitarem. Diante da importância do tema, abrimos espaço

Crise, outra vez

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na revista Longevidade em Foco para falar dessa mudança de com-

Recorde de temperatura e os riscos para a saúde

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Alongamento para proteger articulações

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nhamento de um professor de Educação Física, que vai preparar

Queda hormonal e saúde bucal

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as aulas e coordenar os exercícios, para melhor aproveitamento do

Fórum Clínico Intensivo em Fisiologia Humana

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usuário nas atividades.

Parto normal ou cesariana?

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Outro tema de relevância nesta edição, que circula com 76 páginas,

Curso de Fisiologia da Longevidade Humana

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é a realização do 8º Congresso Brasileiro de Fisiologia Hormonal

Brasileiros estão se exercitando mais

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e Longevidade, que reuniu, em outubro último, em São Paulo, cerca

Livro Consensos Clínicos 41

de 400 médicos de todo o país. O evento teve como palestrantes

Dormir bem para ter boa saúde

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Inflamação (crônica) subclínica: o mal silencioso

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Cereja: o mais potente anti-inflamatório da natureza

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de atividade física regularmente. O índice alcançado é 12,6% maior que o registrado há cinco anos. Para se ter uma ideia, foram ouvidas no estudo 53 mil pessoas nas 26 capitais do país, mais o Distrito

portamento e também lembrar que, no caso das pessoas mais velhas, é importante que nas academias elas tenham o acompa-

alguns dos principais nomes do cenário nacional formado por especialistas que trabalham com a ciência da longevidade e fisiologia humana. E o alto nível dos temas apresentados demonstra que o Brasil já se tornou uma referência nessa área. Com certeza, o congresso superou as nossas expectativas em termos de público pre-

Brasil avança na área da Medicina da Longevidade 50

sente e mostrou que temos aqui no Brasil profissionais médicos e

Grupo LS: 15 anos oferecendo cursos e eventos de alto nível

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O desafio da longevidade saudável

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Depressão: um problema mental ou físico?

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pesquisadores tão bons quanto em outros países. Entre os demais assuntos abordados nas próximas páginas estão o trabalho do Grupo Longevidade Saudável, que completa 15 anos de atividades, com 3,1 mil médicos formados, e muitas novidades

EUA adotam novas medidas para conter obesidade 62

para 2015; o lançamento do novo Guia Alimentar da População Bra-

Ioga faz bem para o coração

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sileira; o grande poder anti-inflamatório das cerejas; a importância de

Doenças crônicas: uma epidemia global

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fazer alongamento e ter boa postura, ao ficar longas horas sentado durante o expediente de trabalho, para proteger as articulações;

Substâncias em protetor solar causam queda na fertilidade

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quando optar pelo parto normal ou pela cesariana; e a relação entre

Proteína na beterraba pode substituir o sangue

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Novo guia alimentar para brasileiros

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a queda hormonal e a saúde bucal. Boa leitura! Ítalo Rachid

EXPEDIENTE

III Advanced Physiology Course 73 Importante passo para desvendar a perda da memória

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Pele saudável e bonita nas diferentes fases da vida Cuidados como evitar o tabagismo e o sedentarismo e ter uma boa alimentação, além de limpar e hidratar, ajudam a evitar as marcas do tempo

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A herança genética pode ter influência no inevitável processo de envelhecimento da pele, assim como outros fatores, mas, para quem deseja ter uma pele bonita e saudável por mais tempo, existem cuidados que podem ser tomados para amenizar ou tentar retardar as marcas do tempo. A primeira dica de dermatologistas é evitar o cigarro, o estresse constante, o sedentarismo, banhos demorados e com água muito quente, além da exposição prolongada ao sol em determinadas horas do dia, sem proteção. Claro, bons hábitos à mesa não podem ser esquecidos. A alimentação balanceada é uma ótima aliada da pele, assim como o ritual diário de limpá-la, tonificá-la e hidratá-la, em todas as fases da vida. Mas, além dos cuidados gerais, cada faixa etária apresenta características próprias. Por isso, em cada fase da vida é preciso um cuidado específico. Como no caso de mulheres acima de 60 anos, por exemplo, que devem

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evitar se depilar usando lâminas. Isso porque, nessa idade, a pele, além de enrugada, fica mais fina e seca, o que aumenta os riscos de se machucar durante a depilação. Segundo o dermatologista Carlos Toledo (Cremerj 52761326), professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a partir dos 30 anos de idade, começamos a perder anualmente em torno de 1% de colágeno, proteína que, entre outras funções, dá sustentação às células, mantendo-as unidas. Com isso, a elasticidade começa a diminuir. No caso das mulheres, segundo o especialista, a perda ocorre mais rapidamente, em relação aos homens, como já foi demonstrado em estudos científicos. “Na pele, o colágeno forma uma matriz onde se alojam substâncias e células, sendo essencial para a manutenção da forma e integridade do tecido, promovendo elasticidade e

resistência à pele. No caso das mulheres, ocorre ainda outra complicação, por conta da queda de estrogênio, por volta dos 50 anos, com a menopausa. A redução hormonal faz com que haja uma diminuição da quantidade de fibroblastos, células responsáveis pela produção do colágeno, que, junto com a elastina, compõem a trama de sustentação da pele. Assim, a partir dessa idade, a perda do colágeno se torna mais acentuada”, explica. De acordo com o dermatologista, nos cinco primeiros anos após a menopausa, ocorre uma diminuição na


a região dos olhos e anti-idade para o rosto, cuidar também do pescoço, do colo e das mãos. Já entre os 50 e 60 anos, os cuidados devem ser mais intensos e os produtos mais indicados são aqueles com alto poder de hidratação e os antirrugas. A partir dos 61 anos, os sinais e as manchas se acentuam, a pele fica mais flácida e desidratada, as rugas e os sulcos se tornam mais profundos. Os tratamentos e cremes nessa faixa etária devem ser indicados por dermatologistas, que vão levar em conta a situação da pele.

taxa de colágeno de cerca de 30%, sendo que, depois dessa baixa acelerada, o declínio anual passa a ser de cerca de 2%. Toda essa mudança provoca a redução do fluxo de sangue pelos vasos e leva a uma menor capacidade de retenção de água pelas células, além de desacelerar a atividade das glândulas sebáceas e sudoríparas, que produzem a oleosidade que protege a pele. O especialista comenta ainda que, nessa fase da vida, outras alterações ocorrem no organismo, como a redução progressiva da concentração de ácido hialurônico, substância que atua na pele, preenchendo o espaço entre as células, o que a mantém lisa, elástica e bem hidratada. “Tudo isso resulta em perda do tecido conjuntivo e redução da elasticidade e

capacidade de cicatrização, além de mais rugas, flacidez e ressecamento”, salienta o Dr. Toledo.

Cuidados devem começar cedo E quais os cuidados a serem tomados para chegar à idade madura com uma pele saudável e mais bonita? De acordo com o dermatologista, os cuidados devem começar cedo, por volta dos 20 anos, com hidratação e limpeza diária. Já a partir dos 25 anos, pode-se começar a pensar em usar cremes anti-idade, pois a cútis passa a mostrar leves sinais de envelhecimento, como linhas de expressão. Além de hidratantes, nessa faixa etária, entram em cena os primeiros cremes para a região dos olhos. Já a partir dos 30 anos, a recomendação é, além de cremes para

“É importante lembrar que a pele precisa ser limpa diariamente; do contrário, as impurezas e secreções asfixiam os poros. Se a pele não estiver limpa, é inútil utilizar qualquer creme antienvelhecimento”, lembra o Dr. Toledo. Segundo o especialista, o ideal é reservar diariamente cinco minutos para limpar e hidratar a pele. Outra dica do dermatologista é com relação ao estilo de vida mais descontraído. “Levar a vida com menos seriedade, sorrir sempre e dar boas gargalhadas ajudam a rejuvenescer a pele, tanto quanto uma boa alimentação”, ensina o especialista, que lembra que, quando estamos mais tensos, a pele fica mais enrugada e com aspecto mais velho.

Alimentação e estética facial A boa notícia é que ter uma alimentação equilibrada pode ajudar a manter a beleza e saúde da pele. A nutricionista clínica funcional Aline Monteiro Labes (CRN 2000 100 386-5), da Clínica NutriPrime, no Rio de Janeiro, explica que nunca se pesquisou tanto – e com tantos resultados animadores – o poder de certos alimentos em relação à preservação da beleza e saúde do corpo e da pele.

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Para chegar à idade madura com uma pele saudável e mais bonita, os cuidados devem começar cedo, por volta dos 20 anos Segundo ela, estudos mostram que a alimentação equilibrada e o consumo de certos alimentos podem ajudar a elasticidade, hidratação e firmeza da pele, reduzindo o surgimento de rugas e manchas senis. Além disso, determinados componentes presentes em alguns alimentos são capazes de atuar na promoção e manutenção de uma pele saudável, ao neutralizarem os efeitos dos radicais livres, moléculas formadas no corpo que danificam as nossas células e contribuem para o envelhecimento precoce da pele e vários outros processos degenerativos.

“A alimentação mais saudável para a pele é aquela balanceada, rica em vegetais, de preferência crus e frescos, como as frutas e hortaliças, cereais integrais, carnes e laticínios magros”, comenta a especialista. De acordo com a nutricionista, além de possuir importantes vitaminas e minerais que neutralizam radicais livres, esse tipo de alimentação contém fibras que melhoram o funcionamento do intestino. “Quando o intestino funciona bem, a pele é capaz de refletir esse bem-estar”, explica.

Alimentos que contribuem para a pele saudável Segundo Aline, para formar colágeno e elastina, proteínas que sustentam a pele, a orientação é consumir alimentos nutritivos, ricos em vitaminas A e C, cobre, zinco e cálcio. Ainda segundo a especialista, outro alimento que traz benefícios à saúde da pele é a soja, que é rica em isoflavonas, um hormônio vegetal semelhante ao estrógeno.

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“Estudos mostram que a pele possui receptores para as isoflavonas, e elas são decisivas para evitar o ressecamento e melhorar a elasticidade”, comenta a especialista. Outra dica de alimento são as castanhas, nozes e amêndoas. Esses itens são fontes de selênio e zinco, que melhoram a elasticidade da pele, entre outros benefícios. Vale lembrar que o selênio ajuda a produção de glutationa, que combate os radicais livres, os quais podem levar à deterioração do colágeno e da elastina. Algumas frutas e vegetais também são eficientes aliados da beleza e saúde da pele, principalmente aqueles ricos em vitaminas C, E e carotenóides, que apresentam ação antioxidante capaz de neutralizar muitos danos ocasionados à pele ao longo da vida. Entre as frutas estão: amora, uvas roxas, morango, framboesa, laranja, mexerica, limão e cereja. Já entre os vegetais estão as verduras verde-escuras, brócolis, repolho e cenoura, ricos em antioxidantes. Esses alimentos também previnem o envelhecimento precoce das células, o excesso de oleosidade e a acne.


Como prevenir a degeneração macular ligada à idade

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Uma das doenças mais frequentes no processo de envelhecimento humano, a degeneração macular relacionada à idade pode ser evitada com uma dieta adequada. Comer agrião, espinafre, couve, milho, cenoura, ovo e laranja, entre outros alimentos amarelos ou verde-escuros, é uma estratégia eficiente para evitar o problema, segundo Renato Leça (CRM SP 58672), oftalmologista e doutor em Ciências da Saúde. O assunto foi tema de concorrida palestra durante o 8º Congresso Brasileiro de Fisiologia Hormonal e Longevidade, realizado em outubro, em São Paulo, pelo Grupo Longevidade Saudável. “Já se comprovou que a alimentação rica em luteína e zeaxantina previne a degeneração macular e, ainda, ajuda a evitar a progressão da doença nos pacientes que conseguiram diagnosticá-la logo nos primeiros sinais. Apresentei o tema no congresso por acreditar ser importante que médicos que trabalham com as questões da longevidade estejam atentos a esse tipo de problema, cada vez mais prevalente”, explica o médico. A degeneração macular é uma doença que afeta a mácula, pequena área no centro da retina, responsável por enxergarmos os detalhes e as cores. Com o envelhecimento, a região recebe menos oxigênio e, para compensar essa deficiência, os vasos sanguíneos começam a se reproduzir descontroladamente. Os pacientes perdem progressivamente a capacidade de visão central,

mantendo, contudo, a visão periférica. Não se sabe exatamente o que causa o problema, mas estudos mostram que há uma certa predisposição genética envolvida. Por isso, o Dr. Leça recomenda a suplementação de substâncias protetoras, como vitaminas C e E, betacaroteno, zinco, cobre e ômega 3, entre outras, para pessoas acima de 50 anos que tenham casos diagnosticados de degeneração macular na família. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença atinge especialmente pessoas com mais de 60 anos e pode levar à cegueira se não for tratada. Estima-se que aproximadamente 10% das pessoas entre 65 e 74 anos e cerca de 30% com mais de 75 anos sejam portadores da patologia no mundo. No Brasil, de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2,9 milhões de pessoas com mais de 65 anos sofrem com o problema.

Pesquisa americana Ainda que a origem da doença não tenha uma única causa conhecida, pesquisadores de vários países têm trabalhado para tentar descobrir como evitar o avanço da doença. Em estudo recentemente publicado no British Journal of Ophthalmology, cientistas americanos sugerem que pessoas com degeneração macular relacionada à idade devem seguir dietas ricas em ômega 3 e em alimentos com baixo índice glicêmico,

que liberam açúcar mais lentamente. As descobertas foram baseadas em exames feitos em quase 3 mil pessoas. Segundo os cientistas, o avanço de duas formas da doença, seca e úmida, foi 25% menor entre os que consumiram uma dieta rica em ácidos graxos, como o ômega 3. De acordo com o estudo, os ácidos graxos – encontrados em abundância em peixes, como salmão e cavalinha – podem desacelerar ou até frear o progresso da doença. A pesquisa também revelou que pessoas em estágio mais avançado da doença e que seguiam uma dieta de baixo consumo de açúcar acompanhada de suplementos de vitaminas e minerais antioxidantes, como vitamina C e zinco, tiveram redução da degeneração em até 50%. Pesquisas anteriores já tinham mostrado que a prevenção da doença está relacionada à ingestão de zinco e antioxidantes e à redução no consumo de alimentos gordurosos. A nova pesquisa concluiu que a suplementação é ainda mais eficaz quando associada à ingestão de alimentos que contêm ômega 3 e baixo índice glicêmico.

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Trabalhar em turnos alternados envelhece o cérebro

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Jornadas de trabalho em horários instáveis, como, cumprindo escalas alternadas, que envolvem períodos noturno e diurno, podem envelhecer de forma prematura o cérebro e diminuir a capacidade intelectual. A afirmação é de cientistas das universidades de Toulouse, na França, e de Swansea, no País de Gales. Os pesquisadores realizaram um estudo com 3 mil trabalhadores que, durante dez anos, cumpriram jornadas de trabalho instáveis. E chegaram à conclusão de que esse tipo de situação pode envelhecer o cérebro em mais de seis anos. A pesquisa foi publicada, recentemente, na revista Occupational and Environmental Medicine, e afirma ainda que, depois que as pessoas pararam de trabalhar em horários alternados, o cérebro conseguiu se recuperar, mas demorou cinco anos para voltar ao normal. Na verdade, diversas pesquisas anteriores já mostraram os efeitos nocivos de trabalhar contra o nosso relógio biológico, que é projetado para que as pessoas estejam ativas durante o dia e durmam à noite. O que esse estudo novo mostra é o impacto também sobre a mente. O cérebro naturalmente perde sua capacidade à medida que envelhecemos, mas, segundo os pesquisadores, trabalhar em turnos irregulares acelera o processo. Participaram do trabalho voluntários com idades entre 30 e 60 anos. A primeira avaliação foi feita em 1996, a segunda, cinco anos mais tarde, e a avaliação final ocorreu em 2006, quando foram feitas as comparações dos resultados obtidos, em testes de memória, velocidade de pensamento

e capacidade cognitiva. O resultado mostrou que quem havia trabalhado durante os dez anos em turnos instáveis obteve resultados comparáveis a uma pessoa seis anos mais velha, ou seja, um declínio cognitivo significativo.

Perda de função cerebral Philip Tucker, professor e doutor em Psicologia da Swansea University, que integrou a equipe de pesquisadores, diz que houve uma perda significativa na função cerebral daqueles que tinham turnos instáveis no trabalho. Segundo ele, a probabilidade de essas pessoas cometerem mais erros e deslizes, ao tentarem executar tarefas cognitivas complexas, é bem maior. “O trabalho em turnos traz prejuízo crônico para a cognição, com consequências potencialmente importantes de segurança não só para a pessoa, mas também para a sociedade”, escreveu o Dr. Tucker, que há anos trabalha com pesquisas sobre o impacto das horas de trabalho na saúde e segurança do trabalhador. Como a sociedade atual conta com serviços 24 horas, nas mais diferentes áreas, o que quer dizer que, enquanto a maioria dorme à noite, uma parcela da população está em plena atividade, o turno noturno é visto pelo especialista como um mal necessário. Para quem não pode escapar dos horários alternados no trabalho, uma das saídas para reduzir os efeitos negativos, de acordo com o pesquisador, é incluir nos exames médicos de rotina testes de desempenho cognitivo, para buscar possíveis sinais de declínio. “Vários estudos anteriores já haviam associado à falta de rotina do sono o aumento de problemas de saúde, como o surgimento de doenças cardiovasculares, úlceras, síndrome metabólica, câncer de mama e dificuldades reprodutivas. Nós fomos biologicamente programados para dormir à noite. A ausência de luz natural, a queda de temperatura do corpo e a secreção da melatonina, responsável por regular o sono, ocorrem nesse período e contribuem para o descanso. Pessoas que dormem durante o dia descansam menos e o sono tem menor qualidade”, explica o neurologista com habilitação em medicina do sono Leonardo Rodrigues de Almeida (Cremesp 14.0011).

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Vida sexual ativa para um coração mais feliz e protegido Médicos e órgãos de Saúde pública, como o NHS, da Inglaterra, recomendam exercícios sexuais como forma de prevenir doenças cardiovasculares

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Manter uma vida sexual ativa traz numerosos benefícios para a saúde. Diversos estudos já comprovaram que o sexo pode ajudar a aliviar o estresse, melhora a qualidade do sono, protege o sistema imunológico e o coração, além de afastar o risco de certos tipos de câncer. Não é à toa que cada vez mais médicos recomendam aos mais idosos que mantenham uma vida sexual ativa, como forma de manter não só a saúde física, mas mental. Na Inglaterra, por exemplo, o National Health Service (NHS, Serviço Nacional de Saúde), órgão similar ao nosso Sistema Único de Saúde, faz em seu site oficial recomendações para a prática de exercícios sexuais como forma de prevenir doenças cardiovasculares. O tema é tratado com bom humor e, em uma das páginas do endereço eletrônico, o órgão diz: “Além de um coração cheio de amor e um grande

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sorriso, o romance pode trazer alguns benefícios positivos. Estudos científicos sugerem que uma relação amorosa, o toque físico e o sexo podem trazer benefícios tanto para a saúde, como para a pressão arterial. É claro que nenhuma relação pode garantir saúde e felicidade, mas a seta do Cupido pode trazer-lhe algum aumento de saúde.” No site, o órgão indaga do internauta se quer ficar saudável e se divertir ao mesmo tempo e diz que sexercise (exercício sexual) pode diminuir os riscos de ataques cardíacos e ajudar as pessoas a viver mais. “As endorfinas liberadas durante o orgasmo estimulam as células do sistema autoimune”, diz o NHS, que ressalta que, durante a relação sexual, são usados todos os grupos musculares, o que faz com que coração e pulmões trabalhem duro e haja a queima de calorias.


O serviço também dá dicas de como otimizar a vida sexual. Sobre orgasmo, aconselha: “Passe algum tempo consigo mesmo para aprender o que o excita.” Mas o serviço britânico não é único na Europa a tratar do tema.

Batimentos cardíacos O Hospital Robert-Debre, em Paris, mantém uma unidade de ginecologia psicossomática, que é dirigida pelo ginecologista Sylvain Mimoun, autor de numerosos artigos científicos e livros sobre sexualidade. O especialista faz uma lista dos diversos benefícios da vida sexual ativa, entre eles exercitar o coração. De acordo com o ginecologista, o ritmo cardíaco sobe de 70/80 pulsações por minuto, no estado de repouso, para 100/160 pulsações por minuto, durante o orgasmo. Mas, como lembra o serviço de saúde inglês, estudos mostram que a frequência cardíaca máxima média no orgasmo é igual à obtida durante exercícios leves, como caminhar, o que não é o suficiente para manter a maioria em forma e saudável. E o cardiologista brasileiro Jairo Monson de Souza Filho (CRM RS-11922) concorda. “Durante a relação sexual, como ocorre em um exercício físico moderado, há um aumento temporário do trabalho cardíaco e da pressão arterial. Mas, para preservar as artérias, é preciso exercitar-se, no mínimo, 30 minutos por dia, cinco vezes por semana. Nem todos fazem sexo com essa duração e freqüência”, observa o especialista, que orienta somar à atividade sexual uma corrida ou caminhada no parque pela manhã, por exemplo.

Pessoas mais velhas tendem a pensar que o sexo pode aumentar o risco de acidentes vasculares cerebrais, mas isso raramente é o caso, comprovaram pesquisadores na Inglaterra Mitos e verdades Ainda com relação ao coração, Souza Filho lembra que pessoas mais velhas tendem a pensar que o sexo pode aumentar o risco de acidentes vasculares cerebrais, mas isso raramente é o caso, comprovaram pesquisadores na Inglaterra. “Esse estudo em questão foi publicado no Journal of Epidemiology and Community Health e mostrou que não há relação entre os dois eventos”, explica. Outro mito que o cardiologista desmente é que o sexo seja contraindicado para pessoas que sofreram infartos ou outras doenças cardíacas. De acordo com ele, a atividade sexual não faz mal, pois a quantidade de energia despendida não é muito grande. Em contrapartida, segundo o médico francês Mimoun, outro benefício do

ato sexual é desintoxicar o sangue. Isso porque, em estado de repouso, cada pessoa respira, em média, 15 vezes por minuto. Em estado de excitação, a media sobe para 40 vezes. Consequência: o corpo fica mais oxigenado, os resíduos de gás carbônico são eliminados e o sangue se regenera. Como ocorre ao correr.

Liberação de hormônios Outro ponto a favor é a produção extra dos hormônios femininos estrôgenio e progesterona, envolvida na relação sexual, que ajuda a manter os ossos e os músculos sadios. Mas esses não são as únicas substâncias liberadas durante o sexo e que fazem bem para a saúde. Segundo Souza Filho, as endorfinas são descarregadas para valer no organismo, no momento do orgasmo. “A substância é o maior analgésico do nosso corpo. E sua ação se prolonga após o ato sexual. Junto com a oxitocina, outro hormônio liberado na hora do orgasmo, a endorfina ajuda a aplacar dores crônicas”, diz o especialista. Ele ressalta ainda que, durante o orgasmo, nosso cérebro libera endorfinas e oxitocinas em quantidades até cinco vezes maiores do que em situações normais. Por isso, pode aliviar dores de cabeça, da artrite e da TPM, conforme estudo publicado no Bulletin of Experimental Biology and Medicine.

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Fora com o estresse Em seu site oficial, o NHS britânico lembra outro grande benefício da vida sexual ativa: acabar com o excesso de estresse. O órgão cita um estudo, envolvendo homens e mulheres, que mostrou que aqueles que não faziam sexo apresentavam os maiores níveis de estresse, em situações como falar em público e fazer contas de cabeça em voz alta. “Um dos grandes benefícios da atividade sexual é seu efeito na pressão arterial e na diminuição do hormônio cortisol, que fica elevado em situações estressantes”, confirma o cardiologista Souza Filho. De acordo com ele, um estudo escocês publicado na revista Biological Psychology mostrou que aqueles que fazem sexo antes de algum evento importante, como uma apresentação no trabalho, por exemplo, têm um desempenho melhor. O cardiologista lembra ainda que a atividade sexual diminui o nível de ansiedade. Já o cientista francês Mimoun diz que o sexo ajuda a melhorar a memória. Isso porque o hipotálamo, parte do cérebro onde ficam os

Em Campinas, pesquisadores da Unicamp descobriram que mulheres com idades entre 45 e 60 anos com maior prazer sexual sofrem menos com insônia 12 | Revista Longevidade em Foco

centros de memória e aprendizado, também é estimulado pelo prazer. Isso foi comprovado em uma pesquisa americana, envolvendo jovens estudantes, que mostrou que a masturbação durante períodos de provas favorece a concentração. Segundo os cientistas, isso ocorre porque a liberação de energia durante o orgasmo estimula o desejo de alcançar objetivos. Outro consenso entre cientistas e serviços de saúde: a atividade sexual melhora o sistema imunológico. Em seu site, o serviço de saúde inglês lembra que um estudo feito pela Wilkes University, nos Estados Unidos, mostrou que uma vida sexualmente ativa aumenta os níveis de Imunoglobulina A, anticorpo conhecido como IgA e responsável pela proteção do organismo contra infecções, gripes e resfriados. De acordo com o órgão, a pesquisa mostrou que o nível de IgA foi 30% maior entre aqueles que

tiveram relações sexuais, uma ou duas vezes por semana, do que naqueles que não tiveram sexo.

Melhora do sono Em Campinas, pesquisadores da Unicamp descobriram que mulheres com maior prazer sexual também apresentam menores índices de insônia. Os resultados foram alcançados por meio de um questionário feito com 378 mulheres com idades entre 40 e 65 anos, residentes em Belo Horizonte/Minas Gerais. De acordo com o estudo, além do relaxamento dos músculos e da liberação de endorfinas, o orgasmo também ativa neurotransmissores que fazem o cérebro e o organismo funcionarem melhor, interferindo diretamente na qualidade do nosso sono. E isso não é só nas noites de relação sexual – os benefícios são prolongados, proporcionando ótimas noites de sono todos os dias.



Gastronomia e Nutrição: um casamento perfeito Parceria entre as duas áreas permite valorizar a preparação de refeições balanceadas e saborosas, beneficiando a adesão do usuário à dieta

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Quem observar mais de perto a evolução da gastronomia pode perceber que os pratos servidos à mesa tomaram forma de arte, ao longo do tempo. E se hoje os chefes de cozinha se dedicam com afinco e possuem técnica apurada e elevada, que inclui não só a forma como os alimentos são preparados, mas também como são apresentados, conquistando o paladar, eles passaram a contar com uma ajuda extra: a de nutricionistas. Essa parceria entre a ciência da nutrição com a arte da gastronomia permite valorizar ainda mais a preparação de refeições balanceadas e saborosas, que beneficiam a adesão do usuário à dieta. Com variedade e criatividade, os pratos preparados para o dia a dia fazem toda a diferença no resultado final da intervenção nutricional. Ou seja: a atuação conjunta das duas áreas proporciona uma prática profissional completa, desde a prescrição até o prato pronto, saboroso, nutritivo e atraente na mesa

dos pacientes. Vale lembrar que diferentes estudos científicos em culinária e saúde mostram que os alimentos não têm efeito isolado no organismo. Eles agem em conjunto, resultando em efeitos diferentes, em comparação a consumi-los em separado. Isso porque, no organismo, eles interagem, facilitando a absorção de seus nutrientes e ajudando o tratamento de doenças como alergias, insônias e até alguns tipos de câncer. Assim, se antes comer bem era sinônimo de consumir alimentos saudáveis, como frutas, verduras, legumes, cereais integrais e carnes com pouca gordura, agora, os pesquisadores de alimentos afirmam que é preciso pensar em como combinar esses ingredientes. Ou seja: como montar seu prato.

Sinergia alimentar A Dra. Elaine Magee, nutricionista e professora da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e autora de 25 livros sobre nutrição, incluindo o Food Synergy (Sinergia da Comida, em tradução livre), afirma em seu trabalho que alguns componentes produzem grandes resultados quando consumidos juntos. E a boa notícia é que, para ampliar a potência de um nutriente, é simples: basta apostar em receitas que podem ser preparadas em casa, usando alimentos comuns à mesa do brasileiro, como alface, rúcula, tomate, laranja, ovos e peixes. Um dos exemplos de sinergia alimentar citados pela pesquisadora americana é relacionado com a prevenção do câncer. Segundo a especialista, tanto o tomate quanto o brócolis contêm substâncias que previnem a doença, mas, quando combinados em um mesmo prato, esses alimentos se tornam uma arma muito mais potente. Outro bom exemplo de sinergia alimentar é o resultado no organismo do consumo de maçãs e uvas pretas. O flavonoide antioxidante quercetina, presente nas maçãs, tem

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seu desempenho otimizado quando em conjunto com a catequina, encontrada nas uvas pretas. A dupla é recomendada para tratamento da agregação plaquetária, responsável pela formação de coágulos no sangue (que impedem a boa circulação e provocam problemas coronários). Na verdade, vários estudos já apontaram a importância da combinação entre alimentos, como uma forma simples de aproveitar melhor suas propriedades. Segundo pesquisadores, o consumo regular entre frutas e vegetais complementares está associado à maior absorção de substâncias antioxidantes, que combatem os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento das células. Um desses trabalhos, publicado recentemente no The Journal of Nutrition, menciona que a ingestão de entre 5 e 10 porções diárias de frutas e vegetais é uma estratégia apropriada para reduzir os riscos de doenças crônicas e atender às demandas de uma saúde ideal.

A arte de preparar determinadas iguarias Para quem não sabe, o termo gastronomia é de origem grega e é usado para designar um conjunto de conhecimentos e práticas vinculadas à cozinha. Melhor dizendo: com a arte de preparar determinadas iguarias. O termo também está relacionado com o estudo das relações existentes entre a comida e a cultura de uma determinada região, ou ainda de uma pessoa em particular. Assim, comer está relacionado com acontecimentos da vida, envolvendo o aspecto social e o aspecto psicológico. Por outro lado, a nutrição, enquanto ciência, vem para balancear as criações gastronômicas e oferecer encontros saborosos, saudáveis e também marcantes aos alimentos preparados. “A nutrição é um processo que tem início no momento em que o alimento entra em contato com o sistema fisiológico, podendo ser adequada ou não, dependendo da combinação e quantidade de alimentos escolhidos pelo indivíduo. São os nutrientes provenientes da alimentação que servirão de substrato para o bom funcionamento do organismo”, explica a nutricionista Renata Dutra Carvalho (CRN SP 2.187), especialista em Nutrição Clínica Funcional.

Gastronomia e nutrição são conceitos diferentes, mas que se complementam, dizem especialistas

Comer também é uma arte A especialista lembra que, para o indivíduo ter o desejo de se alimentar, é preciso existir qualidade nos alimentos, o que não se limita só ao aspecto nutricional, mas também ao higiênico-sanitário e ao sensorial, sendo que, neste último, o alimento deve provocar prazer, resultante de sensações visuais, táteis, gustativas e olfativas. “Assim, o conhecimento e a aplicação de técnicas gastronômicas corretas viabilizam e podem assegurar que as recomendações nutricionais sejam seguidas. Portanto, gastronomia e nutrição são conceitos diferentes, mas que, sem dúvida nenhuma, se complementam”, ressalta. Renata esclarece que não adianta o nutricionista desenvolver uma dieta absolutamente balanceada ao seu paciente, se esta não for atrativa e adaptada ao estilo de vida e aos padrões culturais da pessoa. “Se os alimentos não forem corretamente preparados e prazerosamente servidos e degustados, o paciente pode acabar desistindo da dieta”, explica. A especialista orienta procurar um equilíbrio nutricional na alimentação, buscando variedades de alimentos, sabores, perfumes e cores, que conferem um pequeno toque de liberdade às dietas e permitem conciliar rigor e fantasia. “O conhecimento da arte de cozinhar pode proporcionar um prazer maior a quem está fazendo a dieta, o que aumenta a aderência ao tratamento”, comenta. A nutricionista ressalta ainda que comer diferentes tipos de alimento e aprender a conhecer suas propriedades são estratégias simples, que podem ser adotadas por todos, no dia a dia, para fazer as combinações certas, que vão potencializar a absorção de nutrientes pelo organismo.

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TURISMO

O melhor hotel do mundo fica no Brasil Uxua Casa Hotel & Spa, em Trancoso, foi eleito em votação internacional, entre 950 hotéis de luxo espalhados pelo planeta

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Quantas vezes, folheando uma revista, nos deparamos com fotos de hotéis fantásticos, localizados em praias paradisíacas, porém distantes e pensamos: “Este bem poderia ser o destino das minhas próximas férias”? Bem, a boa notícia é que o melhor hotel do mundo está no Brasil, mais precisamente em Trancoso, na Bahia. O Uxua Casa Hotel & Spa recebeu o título em 2014 na premiação Smith Hotel Awards, publicação que é considerada referência mundial quando o assunto é hospedagem em hotéis de alto luxo em todo o mundo. Praias de areias brancas, águas cristalinas, muito verde e luxo. Esses são alguns dos motivos que levaram à escolha do hotel brasileiro, na votação internacional, que avaliou 950 hotéis-butique ao redor do mundo. A eleição contou com votos de um público e de experts, em 12 categorias especiais, que representam o Oscar da hospitalidade: Melhor Piscina, Melhor Serviço, Melhor Ambiente e o Prêmio de Melhor Hotel Smith, entre outros destaques.

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Os vencedores foram anunciados em novembro último. O prêmio é organizado pela empresa especializada Mr & Mrs Smith, que faz curadoria, booking e reservas dos melhores hotéis do setor em diversas regiões. Seus consultores são formadores de opinião no tema e visitam os endereços anonimamente para avaliarem cada aspecto das hospedagens e das experiências. Além da opinião dos mais de 30 mil viajantes, a votação contou com a avaliação de três experts no assunto: Ilse Crawford (Studioilse), guru do design que já criou alguns dos ambientes mais memoráveis do mundo; Stephen Bayley, consultor, colunista e designer renomado internacionalmente, além de Sophie Lam (do jornal The Independent), especialista em hotéis e viagens. Atrás do Uxua, apareceram em segundo e terceiro lugares na votação os hotéis Qualia Great Barrier Reef, na Austrália, e o Alila Villas Uluwatu, em Bali, na Indonésia.

Atrativos e estrutura se destacam E, para vencer o prêmio de melhor hotel, o hotel brasileiro teve diversos pontos avaliados, entre eles o spa, a gastronomia, os quartos e demais ambientes, além da estrutura, que foram considerados excepcionais pelos responsáveis pela votação. Esses diferenciais do local, que foi inaugurado em 2009, já haviam sido reconhecidos em outras importantes publicações internacionais, como as revistas National Geographic e a Vogue USA, que se referem ao spa do Uxua “como o melhor spa para uma escapada romântica”. Outra badalada atração do exótico hotel é sua piscina, em forma de lago.

Fernando Lombardi

Ela é totalmente revestida com 40 mil pedras de quartzo aventurino, um cristal verde que é nativo da Bahia e que muitos consideram estar entre os minerais com as mais altas propriedades terapêuticas do mundo.

Dependências bem exclusivas Projetado pelo designer holandês Wilbert Das, o Uxua Casa Hotel & Spa é um hotel cinco-estrelas que apresenta como opção para hospedagem 11 casas, com um, dois ou três quartos. Totalmente únicas, as residências se ajustam com perfeição ao centro histórico de Trancoso, uma pequena vila de pescadores localizada no idílico litoral do sul da Bahia. Quatro das casas são remanescentes do período colonial e, assim como a entrada do hotel, eram moradias de pescadores. As unidades foram restauradas, mas mantendo a arquitetura tradicional da região. As fachadas foram projetadas em direção ao Quadrado, uma área verde datada do século XVI e quase inalterada desde então. A praça tem 320 metros de comprimento e fica em um impressionante morro com vista para o mar. Cercado por árvores floridas e antigas casas de

pescadores coloridas, o Quadrado conta ainda com uma pequena igreja branca, também do século XVI, erguida em homenagem a São João Batista. Já as outras sete casas estão distribuídas por um exuberante jardim particular. Com exceção da Casa da Árvore, as demais residências contam com cozinhas, além de jardins privativos, salas de estar e banheiros a céu aberto. Algumas unidades incluem também piscinas privativas, jacuzzis e terraços suspensos. Vale lembrar que cada residência é única em seus detalhes, que reúnem antiguidades, arte baiana e mobiliário customizado artesanalmente. A Casa da Árvore chama particularmente atenção: suspensa sobre uma árvore em três níveis, tem as credenciais “verdes” da madeira reciclada que compõe suas paredes, um tradicional telhado de piaçava e materiais orgânicos espalhados em seu interior. Apesar da aparência rústica, ela oferece pequenos luxos e grandes surpresas, que se escondem por toda parte: ampla varanda coberta, sala de estar ao ar livre com rede e bar, chuveiro duplo no banheiro e ofurô no deck externo. A respeito das casas, o Mr & Mrs Smith disse, ao falar da escolha do Uxua como melhor hotel do mundo:

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Já a academia do hotel oferece ao hóspede diferentes opções de atividade física, como a capoeira, com aulas personalizadas, que permitem um exercício aeróbico espetacular e completo para o corpo. A dança de forró, típica do Nordeste brasileiro, é outra opção. A dança é ensinada em classes individuais, assim como as tradicionais ioga, pilates e outros treinos de fitness em geral.

“Elas englobam a essência de uma excelente estada Smith: um estilo elegante sem muito esforço, garantindo uma recepção calorosa e uma estada que permanece na memória por muito tempo depois que o hóspede vai embora. Os eleitores e nosso corpo de jurados concordam: o Uxua é uma das estadas mais especiais do mundo.”

Praia Bar Sem dúvida, a Bahia equivale a sol + areia + vegetação exuberante. E o Uxua concretiza essa equação com seu belo lounge à beira-mar, a apenas sete minutos de caminhada do Quadrado. O espaço conta com confortáveis sofás de madeira e almofadas e gazebos com teto plano, além de espreguiçadeiras feitas a partir de velhos barcos de pesca. Aliás, a reutilização de materiais é uma preocupação do hotel, que utiliza 100% de materiais locais e técnicas artesanais na confecção de seus exclusivos ambientes. O bar tem no cardápio criativas especialidades baianas e drinques. Para quem prefere atividades mais agitadas, uma opção é usar a área de vôlei de praia. Entre os serviços oferecidos aos hóspedes, sempre no estilo caloroso da Bahia, estão incluídos ainda dois restaurantes especializados em culinária baiana tradicional.

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A academia do Uxua foi inaugurada em novembro de 2012 e está equipada para os treinamentos mais avançados.

Spa em meio ao verde é outro atrativo Localizado na fronteira da Mata Atlântica, onde a floresta encontra o mar, um verdadeiro oásis é formado por um manguezal protegido, com uma biodiversidade espetacular.

Localização perfeita para criar os produtos usados nos tratamentos oferecidos aos hóspedes no spa do Uxua. Aliás, o laboratório orgânico, localizado na floresta, ao lado do Rio Caraiva, é outro espaço que atrai a atenção dos hóspedes. Em parceria com a Gahya, uma pequena empresa baiana sem fins lucrativos, que apoia o desenvolvimento de projetos ambientais relacionados à indústria da região, o Uxua oferece em seu spa tratamentos que usam uma linha própria de cosméticos orgânicos, elaborada a partir do óleo de alméscar – que é extraído das árvores de alméscar, típicas da Bahia e Amazônia. Entre os tratamentos oferecidos estão: massagem relaxante com óleo de alméscar, tratamento de reparação para a pele após exposição ao sol com óleo de coco extravirgem, reflexologia e massagem baiana com pedras quentes, entre outras técnicas relaxantes e revigorantes.

A piscina do Uxua é revestida com 40 mil pedras de quartzo aventurino, um cristal verde que é nativo da Bahia Fernando Lombardi



Dar boas risadas pode ser um santo remédio

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Que o bom humor e o pensamento positivo ajudam a manter a saúde física, muitos já sabem. Mas rir é tão importante para nossa vida quanto a inteligência ou a criatividade. A afirmativa é de Scott Weems, pesquisador da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos e PhD em Neurociência Cognitiva, o qual, há 12 anos, estuda o funcionamento do cérebro. Segundo o especialista, que no ano passado lançou o livro Ha! The Science of When We Laugh and Why (Há! A ciência de quando rimos e por quê, em tradução livre), a risada é a forma como nosso cérebro lida com informações contraditórias, na busca de respostas para trabalhar os desafios e conflitos. O neurocientista explica que o riso é o resultado da longa batalha cerebral entre emoções e pensamentos opostos. “Ao chegar ao ápice da confusão, sem nenhuma alternativa de solucioná-la, rimos. E, assim, não só reconciliamos as ideias contrárias, como também enxergamos as respostas”, comenta.

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De acordo com o Dr. Weems, esse mecanismo funciona como uma espécie de ginástica mental natural e também serve para revelar muito sobre nossa humanidade, sobre como pensamos, sentimos e nos relacionamos com as demais pessoas. O especialista esclarece que o bom humor favorece a cognição, pois acaba servindo como uma espécie de “aquecimento” para pensamentos mais profundos. “Os mesmos processos mentais que nos ajudam a sacar uma piada também estão envolvidos

em resolver problemas sociais e até filosóficos mais complicados. Assim, o humor parece estar ligado a vários outros fenômenos mentais importantes, como a criatividade, o insight e a solução de problemas”, diz.

Inserção social e saúde O neurologista Leonardo Silva (Cremesp 95975), mestre em Neurologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da World


Federation of Interventional and Therapeutic Neuroradiology (WFITN), explica que rir é um comportamento que nos insere socialmente, além de fazer bem para a saúde física e mental. “Para rir, gastamos energia e fazemos o cérebro e, consequentemente, o corpo trabalharem muito. Assim, uma boa risada só é possível graças às ações de circuitos neurais, dos sistemas sensorial, motor e límbico; cerebelo, hipocampo e lobo frontal, entre outros”, comenta. O especialista ressalta que não há um local único dedicado exclusivamente à função do riso no cérebro, pois o que temos são diversas regiões que participam desse comportamento. O especialista lembra ainda que um vasto estudo desenvolvido pela biomédica Silvia Helena Cardoso, do Núcleo de Informática Biomédica (NIB) da Unicamp, mostrou que o ser humano tem duas maneiras básicas de desencadear o riso: uma por motivos sociais (quando está em convívio com outros da mesma espécie) e a outra, por razões cognitivas (a capacidade de compreensão de piadas, filmes, etc, e de lembrar fatos). “Um outro estudo sobre humor, conduzido pelo psicólogo James Rotton, da Universidade Internacional da Flórida, mostrou que os pacientes que assistiam a filmes cômicos após uma cirurgia pediam 25% a menos de analgésicos. Todos esses trabalhos confirmam o benefício do riso para a saúde”, comenta.

Bem-estar físico Mas rir faz bem não só para a mente. Também é benéfico para o organismo. As contrações dos músculos da parede torácica, do abdome e do diafragma, ao se dar uma boa gargalhada, fazem aumentar o fluxo sanguíneo dos órgãos internos e isso pode causar uma sensação agradável durante

Além de fazer bem para a saúde física e mental, rir é um comportamento que nos insere socialmente o ato de rir. “É uma reação típica mexermos a barriga enquanto rimos. Alguns estudos sugerem que esse movimento é como uma massagem nos órgãos internos e, por isso, um dos lados beneficiados pelo riso é o fisiológico”, diz Sílva. Segundo ele, outro motivo de o riso dar ao corpo uma sensação de bem-estar e conforto é o fato de o sistema cardiovascular ser ativado enquanto rimos. “Ocorre o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Posteriormente, a vasodilatação das artérias causa uma queda da pressão, que é benéfica principalmente para pessoas hipertensas”, explica. O neurologista comenta que o riso é acompanhado de um considerável aumento da entrada de oxigênio e saída de dióxido de carbono do organismo. Por isso, é ideal que as vias aéreas estejam desobstruídas. “Como o cérebro já é programado para isso, as pessoas geralmente põem a cabeça para trás quando riem. Inconscientemente, elas estão trabalhando para liberar as vias respiratórias. Essas e outras reações inerentes ao ato de rir têm explicações científicas, biomédicas”, expõe. Quanto ao fato de algumas pessoas ficarem vermelhas quando riem, o especialista explica que o ato de rir provoca o aumento da vasodilatação. “A jugular fica parcialmente

bloqueada por uma forte contração dos músculos do pescoço e isso impede o retorno venoso. As artérias da face se dilatam, propiciando, então, uma abertura maior para o fluxo sanguíneo, o que é bom para o organismo”, comenta. Segundo Silva, vários estudos mostram que o riso se reflete até mesmo no melhor funcionamento do sistema imunológico, aumentando a produção de células que trabalham contra infecções e fazendo crescer a produção de endorfinas.

Sistema límbico Silva ressalta que a área cerebral responsável pelo humor faz parte do sistema límbico, que regula emoções primordiais, como o medo e a raiva. Sentimentos que, de acordo com o especialista, são essenciais para a sobrevivência. O neurologista diz ainda que o ato físico de rir é deflagrado por um mecanismo no tronco encefálico, que modifica a respiração, garantindo que os sons de uma boa risada sejam produzidos. “O curioso é que essa região, a mais antiga do sistema nervoso, regula funções fundamentais, o que nos leva a crer que rir foi fundamental para nossos ancestrais formarem grupos e, assim, terem mais chances de sobreviver”, diz. Segundo Silva, já o humor mais sutil e os jogos verbais requerem trabalho do lobo frontal e exames de ressonância magnética mostram que essa área se ilumina quando as pessoas acham uma piada engraçada, o que indica que a compreensão mais refinada do humor é de fato um sinal de evolução. Assim, segundo o especialista, o humor evoluiu e se tornou o que é hoje porque, provavelmente, em algumas situações, se não pudéssemos rir, teríamos entrado em conflito ou morrido. Dar risada é parte fundamental do que somos.

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Luz natural garante a saúde e a produtividade no trabalho

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O ambiente de trabalho é o lugar onde grande parte das pessoas passa a maior parte do dia. E para ter funcionários mais saudáveis e produtivos um passo importante é ter várias janelas para deixar a luz do sol entrar. A afirmativa é de pesquisadores das universidades de Northwestern, em Chicago, e de Illinois, ambas nos Estados Unidos. Em um estudo publicado recentemente no Journal of Clinical Sleep Medicine, os cientistas demonstraram que trabalhadores com maior exposição à luz natural, durante o horário de trabalho, dormem melhor à noite, fazem mais atividades físicas e têm mais qualidade de vida, em comparação com pessoas que trabalham em locais fechados, com iluminação artificial. De acordo com o estudo, aqueles que trabalhavam em escritórios com janelas receberam 173% mais luz e

dormiram uma média de 46 minutos a mais por noite do que os outros funcionários. O resultado também apontou que os funcionários de locais fechados relataram baixa qualidade de vida, relacionada a problemas físicos e distúrbios do sono em geral. “Há cada vez mais evidências de que a exposição à luz natural é benéfica para a saúde, por causa dos seus efeitos sobre o humor e o metabolismo” explicou Phyllis Zee, doutora e professora do Instituto de Neurociência da Northwestern University, uma das autoras do estudo. Segundo a especialista, a sincronização adequada dos nossos ritmos biológicos internos com a rotação diária da Terra tem se mostrado essencial para a saúde. E a luz é o agente de sincronização mais importante para o cérebro e para o corpo. “A luz natural está relacionada com uma boa qualidade de vida. É importante que as pessoas, mesmo dentro do escritório, durante o horário de trabalho, estejam em contato com a variação do clima externo e tenham a sensação psicológica do tempo”, diz a Dra. Zee. Participaram do estudo 27 pessoas que trabalhavam em locais sem janelas e 25 em locais de trabalho com janelas. O nível de qualidade de vida relacionada à saúde foi medido utilizando-se o Short Form-36 (SF-36) e a qualidade do sono foi avaliada com o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI). Outros trabalhos científicos também mostraram o impacto que o ambiente tem sobre a produtividade do trabalhador. E isso envolve a temperatura, a cor das paredes e o barulho ao redor. No caso da iluminação e acústica, esses fatores influenciam diretamente o conforto, a produtividade e a saúde dos profissionais.

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Pesquisa brasileira Outro estudo que demonstrou o benefício da luz natural no ambiente de trabalho foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). De acordo com a arquiteta Betina Martau, professora adjunta do Departamento de Arquitetura da UFRGS, uma das autoras do estudo, para o organismo realizar processos metabólicos, necessita de um mínimo de tempo diário em contato com iluminação natural intensa. “Nosso corpo produz hormônios dependendo de se estamos no claro ou no escuro. Produzimos cortisol pela manhã, para que estejamos preparados para as atividades por vir. Mas, no escuro, o organismo libera melatonina, hormônio responsável pelo controle do ritmo do organismo. Ou seja, ficar sob pouca luz durante o dia e por muito tempo à noite é, sim, prejudicial para o bem-estar e para a saúde”, diz. A pesquisa foi feita ao longo de cinco anos e publicada no jornal científico Chronobiology International. O estudo avaliou 20 mulheres, entre 18 e 60 anos, durante o expediente diurno de uma semana em um grande hospital. Metade delas trabalhou perto de janelas, enquanto a outra metade passou o tempo em espaços iluminados somente por luz artificial. Ao longo dos sete dias, todas as participantes estiveram equipadas com uma espécie de relógio para monitorar a quantidade de luz recebida e o ritmo do corpo em atividade e repouso. As taxas de melatonina e cortisol – hormônios que controlam os ciclos diários do organismo, como acordar e dormir – foram testadas, assim como a qualidade de sono, a estabilidade psicológica e a temperatura corporal. Com o fim do acompanhamento, as pesquisadoras constataram que o grupo sem contato à luz natural mostrou níveis mais altos do hormônio cortisol e menor liberação de melatonina à noite. Ou seja: trabalhar em um lugar sem janelas alterou o metabolismo das voluntárias. E a mudança foi relacionada à possibilidade de distúrbios psiquiátricos, sintomas depressivos e piora na qualidade do sono.

Iluminação e acústica influenciam diretamente o conforto, a produtividade e a saúde dos profissionais

Pausas durante a jornada Outro estudo a respeito de ambiente de trabalho, produtividade e saúde foi feito por cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá. Eles chegaram à conclusão de que os profissionais mais eficientes são aqueles que se concentram em uma tarefa, mas fazem uma parada. Ou seja: não trabalham oito horas seguidas, sem pausas durante a jornada. De acordo com o professor John Trougakos, um dos autores do estudo, isso ocorre porque o cérebro tem um estoque limitado de energia psicossocial. O especialista diz que os esforços para manter o foco em uma tarefa esgotam a fonte dessa energia. E uma vez esgotada, nos tornamos menos eficientes naquilo que fazemos. A pesquisa foi baseada em um mapeamento feito na empresa de redes sociais Draugiem Group. A partir de um aplicativo chamado DeskTime, que permite ver como os funcionários usam o tempo, os pesquisadores mapearam como as horas de trabalho eram gastas e quanto trabalho estava sendo realizado no período. E o resultado mostrou que as pessoas mais produtivas não trabalhavam mais do que as demais. Sequer completavam as oito horas diárias da jornada de trabalho. Elas faziam mais pausas. Mas não adianta usar esses minutos de folga para checar e-mails ou fazer outra coisa no computador. Para ser efetiva, a pausa precisa ser feita longe da mesa de trabalho, andando, tomando um café, lendo um livro ou conversando com colegas.

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Crise, outra vez Como transformar riscos em oportunidades e problemas em soluções

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Você já deve ter ouvido falar que 2015 vai ser difícil para os brasileiros. Fala-se em baixo crescimento econômico com inflação próxima do teto da meta. A expressão crise voltou a fazer parte do noticiário e do nosso dia a dia. Como nós, profissionais da saúde, podemos vencer a crise, transformando riscos em oportunidades e fazendo de 2015 o melhor ano de nossas vidas? A palavra crise veio do vocabulário médico e tem origem em Hipócrates. Representa o momento decisivo, em que uma doença evolui para o agravamento ou para a cura, definindo a morte ou a vida do doente, separando, assim, o ruim do bom. Só recentemente, no século XIX, a palavra crise passou a ser utilizada no vocabulário da economia. Crise quer dizer a ruptura do equilíbrio entre o meio interno organizacional e o meio externo. Se a velocidade das respostas do meio interno é menor que a velocidade das mudanças do meio externo, temos instalada a crise. No entanto, se a velocidade das respostas for igual ou maior que a velocidade das mudanças, superamos a crise, transformando riscos em oportunidades e problemas em soluções. O meio interno é o seu consultório ou clínica. O meio externo é o mercado. No mercado, temos o cliente potencial. O comportamento desse cliente é mudado por variáveis naturais, tecnológicas, sociais, culturais, políticas, legais, econômicas, demográficas e pela ação de novos concorrentes. O cliente, com o seu comportamento alterado e sendo muito mais exigente do que era anteriormente, procura você no seu consultório ou clínica. Se você o atender dentro dos padrões antigos, teremos instalada a crise, afetando os seus resultados. No entanto, se você o atender de forma diferenciada, coerente com o novo momento vivido por esse cliente, teremos a otimização dos seus resultados, vencendo a crise. Como responder de forma adequada às mudanças do mercado? Utilizando as modernas ferramentas de gestão, isto é, Produto, Pessoas, Ponto, Preço e Promoção. Produto – Qual é a sua especialidade? Quais são os procedimentos mais rentáveis e os menos rentáveis que você faz em seu consultório ou clínica? Foque os seus esforços nos procedimentos mais rentáveis e com melhores perspectivas futuras. Evite ter ociosidade ou fila de espera. Isso representa perda de dinheiro, de qualidade de vida e de prestígio social.

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(*) Por Dr. Roberto Caproni

Pessoas – Como é o atendimento dado pela sua equipe aos seus clientes? Em momentos de crise, não se aceita nada menos do que a excelência no atendimento. Atrasos no atendimento, gente mal preparada e mal-humorada são fontes de frustrações e de resultados medíocres. Ponto – Onde e como é fisicamente o seu consultório ou clínica? Ele facilita ou dificulta o acesso dos clientes? A decoração tem identidade com os clientes, gerando neles segurança, conforto físico e conforto psicológico? Preço – O preço é uma variável que não existe sozinha, isolada das outras variáveis. Preço é sempre relativo a alguma coisa. O cliente considera caro aquilo que não vale o que é cobrado. Se o serviço vale o que é cobrado, ele tem preço justo ou até mesmo é considerado barato pelo cliente. Valor é o que o cliente leva. Preço é o que você cobra. Em momentos de crise, o cliente busca mais valor do que preço baixo. Promoção quer dizer promover a ação através da comunicação. Como se comunicar com o mercado, trazendo para o seu consultório ou clínica os clientes certos? Cliente certo é aquele que percebe o valor agregado oferecido por você, que valoriza você e o que faz. Como vimos, a palavra crise veio da área da saúde. Ao longo dos tempos, o profissional da saúde se tornou um mestre em superar crises causadas por doenças de todos os tipos. Uma crise econômica não é diferente. Muito menos para esses profissionais que, de tantas crises superadas, cunharam o termo e o emprestaram para a economia e para o mundo. Já vivemos e já superamos muitas crises no passado e aprendemos com todas elas. Para quem já teve pneumonia, uma gripe não assusta, desde que se tenha os cuidados certos. A história se repete. Enquanto alguns choram, outros vendem lenços. (*) Dr. Roberto Caproni É graduado em Odontologia e em Administração de Empresas. Pós-graduado em Marketing e Psicologia. Especialista em franquias pela Franchising University. A reprodução dos textos de autoria de Roberto Caproni e colaboradores em jornais, revistas, boletins informativos, sites, fax, e-mail e outros veículos de divulgação é PERMITIDA desde que sejam citados o autor e o endereço www.grupocaproni.com



Planeta vive temperaturas recorde Relatórios apontam que 2014 foi o ano mais quente já registrado. e a consequência para nossa saúde?

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Você acha que este verão teve temperaturas elevadas? Pois saiba que 2014 foi o ano mais quente já registrado no planeta. A análise foi feita, separadamente, pela Nasa e pela Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), e apresentada em meados de janeiro último. Desde 1880, quando foi iniciada a medição, a temperatura média da Terra ficou 0,8 grau Celsius mais quente, uma tendência provocada em grande parte pelo aumento das emissões de dióxido de carbono e de outros gases pelas mãos do homem na atmosfera do planeta, segundo a Nasa. De acordo com as pesquisas, as temperaturas médias globais foram mais altas tanto sobre a terra quanto na superfície do mar. E dezembro foi o campeão do calor. O mês teve temperatura média, tanto na superfície da Terra quanto nos oceanos, sem precedentes nos últimos 134 anos, levando-se em conta o mesmo período em anos anteriores.

Ainda segundo o relatório apresentado pela Nasa e pelo NOAA, os recordes de calor no planeta foram registrados na Rússia, no oeste do Alasca, no ocidente dos Estados Unidos, em alguns países da América do Sul, incluindo o Brasil, no litoral da Austrália, no norte da África e em quase toda a Europa. Além disso, o primeiro semestre de 2014, quando foi inverno na Europa e em países como os Estados Unidos, registrou menos neve do que o considerado normal. Já o segundo semestre, quando foi o verão, porém, registrou mais do que a média. As descobertas da Nasa e NOAA foram divulgadas no último mês de janeiro e estão alinhadas com relatórios feitos

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anteriormente pela Agência Meteorológica Japonesa (JMA) e pelo Met Office, órgão do Reino Unido. Todos os estudos confirmam a elevação constante de temperaturas ao longo das últimas décadas. Para o cientista e professor de Ciências Atmosféricas da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, que em 2007 recebeu o Prêmio Nobel, por seu trabalho no Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima internacional, é possível dizer com segurança que 2014 foi o ano mais quente em 1.700 ou 2 mil anos. Ele lembra que, ao observar os relatórios anteriores, observa-se uma tendência de crescimento contínuo ao longo do século passado, que comprova a mudança climática do planeta. O especialista ressalta que o forte calor registrado no ano passado não foi consequência de um forte El Niño, fenômeno climático global conhecido por empurrar mais calor para a atmosfera. E alerta: mantendo-se a atual trajetória de elevação da temperatura, o mundo alcançará o aquecimento de 4 ou 5 graus Celsius nos próximos 85 anos, o que seria catastrófico para a vida humana.

Consequências para a saúde Como as mudanças climáticas podem causar impactos em nossa vida? Para começar, um dos maiores problemas pode estar relacionado à saúde do coração. Tanto o frio intenso quanto um calor recorde podem ocasionar problemas cardíacos. Prova disso é o resultado de um estudo publicado no British Medical Journal por pesquisadores ingleses. Eles concluíram que a queda de temperatura em 1 grau Celsius, em um único dia, no Reino Unido, pode resultar num aumento de 200 ataques cardíacos. E ondas de calor também geram efeito semelhante. Isso foi observado há quase 12 anos, quando mais de 11 mil pessoas morreram por complicações cardíacas durante a onda de calor que atingiu a França na primeira metade de agosto de 2003. Na época, a onda de calor atingiu toda a Europa, com as temperaturas subindo para mais de 40 graus Celsius. A França foi um dos países mais atingidos e o total de


mortos passou de 14 mil, em decorrência do calor. Vale lembrar que a maioria das vítimas tinha mais de 60 anos e sofreram ou hipertermia (quando o organismo não consegue manter ou baixar a temperatura interna) ou desidratação. “O corpo é capaz de manter sua temperatura, dentro de uma faixa razoavelmente estreita, apesar das alterações térmicas do ambiente, ou seja, mesmo que lá fora esteja muito quente ou mais frio. No caso de muito calor, a termorregulação é feita por meio da produção do suor e alterações no ritmo da respiração e variação do fluxo sanguíneo que chega à pele e aos órgãos internos. Contudo, a exposição a temperaturas muito elevadas pode interferir nessa habilidade de resfriamento do corpo. Nesse caso, pode ocorrer retenção de líquido e ter início um desequilíbrio de eletrólitos, o que faz com que os órgãos comecem a falhar nos casos graves”, explica Ricardo Peixoto (CRM RJ 5271733-9), doutor em Cardiologia. Segundo o especialista, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o risco de distúrbios aumenta quando a umidade está elevada e quando há esforço físico prolongado. “No caso da umidade no ar, ela diminui a evaporação do suor, evitando o efeito refrescante da sudorese. Já o esforço físico aumenta a quantidade de calor produzido pelos músculos”, explica. Um dos distúrbios relacionados às altas temperaturas é a exaustão pelo calor, resultado da perda excessiva de líquidos em decorrência da sudorese intensa. A condição tem como sintomas a fadiga e a queda da pressão arterial. Outro problema é a desidratação. Sem uma hidratação adequada, podem ocorrer sintomas como tonturas, desmaios, cansaço, palpitações, mal-estar e, em casos extremos, até a morte, principalmente entre crianças e idosos.

Estresse térmico De acordo com o cardiologista, a exposição às altas temperaturas também interfere na capacidade de produção do indivíduo em seu dia a dia. Ele explica que o organismo gera calor quando executa algum trabalho, e esse calor deve ser dissipado em igual proporção no ambiente, para não elevar ou diminuir a temperatura interna do corpo. Mas, se o ambiente está quente, pode ocorrer um desequilíbrio entre geração e dissipação do calor, o que pode levar a distúrbios como o estresse térmico.

Frio intenso ou calor em excesso podem ocasionar vários problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas

Outros estudos apontam para outros riscos para a saúde gerados pelo calor extremo provocado pelas massas de ar quente, fenômeno que, segundo a Nasa, vem acentuado na última década, em razão das mudanças climáticas. Exemplo disso é uma pesquisa recente publicada pela Faculdade de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos. O estudo mostrou que as temperaturas altas estão relacionadas ao aumento do número de internações hospitalares por falência renal e infecções do trato urinário, entre outras enfermidades. Durante a pesquisa, publicada no Journal of the American Medical Association (Jama, na sigla em inglês), os cientistas analisaram fichas de internação em decorrência de mais de 200 tipos de doença, durante o período de 1999 e 2010. Os pacientes, mais de 23 milhões de pessoas, são moradores de diferentes cidades americanas. Os dados das internações foram cruzados com os de 4 mil registros meteorológicos ao redor do país, no mesmo período. As estatísticas indicaram que os idosos têm duas vezes mais risco de internação por insolação durante ondas de calor extremo. Em relação ao restante da população, nessas ocasiões, a incidência de hospitalização dos mais velhos é 18% maior por desidratação, 14% mais alta devido à falência renal e 10% maior por infecções do trato urinário.

“O organismo precisa manter sua temperatura corporal praticamente constante, e esse desequilíbrio pode ocasionar sensações desconfortáveis e patologias que prejudicam a capacidade de trabalho”, comenta. Segundo o Dr. Peixoto, estudo publicado na revista científica Nature Climate Change sugere que o aumento da temperatura global nos últimos 60 anos já vem interferindo na capacidade de trabalho, que teria sido reduzida em 10%.

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Alongamento ajuda a proteger articulações Ortopedista recomenda alongar a musculatura diariamente para minimizar desgastes e lesões

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Quem nunca sofreu com dores nas costas, nos joelhos ou nos ombros? Muitas vezes, dores nessas regiões do corpo podem ser sinal de problema nas articulações. E engana-se quem pensa que isso ocorre apenas com pessoas mais idosas. Crianças, jovens e adultos também podem ser vítimas de dores nas articulações. Segundo especialistas, existem mais de 100 tipos de doença reumática (como são chamadas as doenças que afetam o sistema musculoesquelético). Algumas são mais frequentes em idosos, em razão de desgastes que resultam, por exemplo, na degeneração da cartilagem das articulações. Já outras, como a artrite reumatoide, que leva à deformidade e destruição das articulações por erosão do osso e da cartilagem nas articulações, resultando em diferentes graus de deficiência, surgem com mais frequência entre os 25 e 50 anos, mas podem aparecer também em pessoas mais jovens. Em geral, a doença afeta as pequenas articulações das mãos e dos pés, porém qualquer articulação pode ser afetada. Vale lembrar que tanto a artrite reumatoide quanto a artrose e a fibromialgia, outras duas doenças reumáticas que afetam milhares de brasileiros, podem ser causadas por inflamações, infecções ou traumas nas articulações.

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Segundo o ortopedista Marcelo Serrão (CRM RJ 557540), as articulações permitem os movimentos do corpo e, por serem exigidas o tempo todo, apresentam risco de sofrer desgastes ou lesões, que geram diferentes problemas. “Por isso, as dores articulares são muito comuns e podem até comprometer ou limitar os movimentos. Mas, alguns cuidados podem ajudar a prevenir o problema”, diz o especialista. O ortopedista, que é especialista em cirurgia de joelho, lembra que, quando dores e inflamações nas articulações não são tratadas, podem levar a doenças, como a osteoartrite, que se caracteriza pela degeneração das cartilagens e alterações das estruturas ósseas próximas, atingindo mãos, joelhos e coluna. De acordo com o médico, quanto mais as articulações são usadas, maior será sua lubrificação e sua eficiência. Por isso, o alongamento deve ser incorporado à rotina diária. “Pessoas que permanecem sentadas por longos períodos têm mais chances de sofrer dores nas articulações do corpo. E a coluna é a maior vítima das horas sentadas, em frente ao computador, no trabalho, por exemplo, sem se movimentar”, alerta.

Levante-se e mexa-se A sugestão do especialista é levantar-se de tempos em tempos para alongar e fazer pequenas caminhadas, se possível. O médico explica que o alongamento reduz a sobrecarga nas articulações e faz com que elas deslizem mais e melhor. O ortopedista ressalta que a maioria das pessoas alonga-se um pouco antes ou depois de uma atividade física, mas isso não é suficiente. “O ideal é fazer pausas durante o dia e alguns alongamentos, para manter o corpo flexível e as articulações mais saudáveis. Podem-se, por exemplo, fazer alguns alongamentos básicos em sua mesa de trabalho. Outra dica são as aulas de ioga e pilates, atividades que juntam alongamento e exercícios e também ajudam muito”. orienta o Dr. Serrão. O ortopedista lembra que pessoas que se movimentam mais tendem a ter músculos mais alongados, fator que ajuda a proteger as articulações. Outra forma de proteger as articulações é fazendo exercícios físicos. De acordo com o médico, os exercícios ajudam a melhorar o equilíbrio e controlar o excesso de peso. Além disso, exercícios que fortalecem os músculos diminuem a sobrecarga nas articulações e favorecem o alívio de dores.

Músculos mais fortes “Músculos fortes dão maior estabilidade ao corpo, tirando a tensão das articulações”, explica o ortopedista, que diz que o ideal é optar por exercícios de baixo impacto, como andar de bicicleta, caminhadas e natação, entre outros. “A prática de atividade

Permanecer sentado por longos períodos pode aumentar chances de sofrer dores nas articulações física e hábitos alimentares saudáveis é essencial para manter a saúde das articulações”, explica. Segundo o especialista, a prática de exercícios oferecidos por academias em piscinas, como hidrobike e hidrojump, é outra boa opção para proteger as articulações. “Essas atividades oferecem duas grandes vantagens: maior resistência e diminuição de impacto, o que ajuda a evitar lesões, uma vez que a pressão hidrostática permite mais estabilidade e controle das articulações. Além disso, esses exercícios oferecem os mesmos benefícios aeróbicos”, lembra. Com relação à alimentação, de acordo com o especialista, a ingestão de alimentos ricos em cálcio e vitamina D, como leite e seus derivados, couve e espinafre, é importante para manter a densidade dos ossos elevada, mantendo, assim, as articulações saudáveis. Para pessoas que passam muitas horas sentadas, o médico dá outra dica: manter-se atento à postura, que, segundo o Dr. Serrão, também pode ser um fator de risco para dores. Nesse caso, a orientação é por meio da reeducação postural global, o RPG, técnica que mostra a maneira correta de se posicionar ao longo do dia.

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Obesidade prejudica as articulações Outro hábito que pode ocasionar dores nas articulações é a obesidade. De acordo com o médico, o sobrepeso pode aumentar a sobrecarregar todas as articulações do corpo, especialmente as dos joelhos. O especialista alerta para o fato de o aumento de peso também poder alterar

a maneira de andar da pessoa, o que intensifica as dores. “Além disso, a obesidade normalmente está associada a hábitos sedentários e músculos menos tonificados, fatores que pioram a sobrecarga nas articulações”, comenta o Dr. Serrão. Segundo ele, entre as doenças articulares provocadas pelo excesso de peso estão a artrite e a artrose, que atingem, principalmente, joelhos, quadril e coluna. “A artrose é a doença reumática mais comum entre homens e mulheres a partir dos 40 anos. Ela é causada pelo desgaste das articulações, e, além da obesidade, existem outros fatores prejudiciais, como as condições de trabalho e os hábitos de vida”, lembra. Segundo o médico, no caso de pessoas obesas, é preciso primeiro perder peso, para depois praticar atividades físicas sem impacto, tais como andar de bicicleta, musculação, hidroginástica ou natação. E os alongamentos são fundamentais para o alívio das dores.

Protegendo os joelhos Para quem gosta de corridas, vale lembrar que a atividade está entre as que mais provocam lesões e desgastes articular e ósseo. Devido ao forte impacto quando os pés tocam o chão durante a corrida, nossos joelhos acabam sofrendo lesões. Entre as mais comuns estão o desgaste articular e a tendinite rotuliana (que aparece principalmente devido à sobrecarga de esforço, de correr em superfícies irregulares e muito íngremes). De acordo com o Dr. Serrão, articulações bem trabalhadas e fortes podem minimizar o aparecimento de lesões articulares em pessoas que costumam praticar corridas. “Existem exercícios específicos para o fortalecimento dos joelhos, que protegem as articulações”, lembra o especialista. Ele ressalta que o joelho não tem músculos, mas a articulação tem e está rodeada por tendões que asseguram a estabilidade do joelho. Por isso, é importante fortalecer os músculos e os tendões, para que suportem parte do estresse do impacto, protegendo a superfície articular. Outra dica para proteger as articulações é evitar correr em terrenos muito duros, como o asfalto. O ideal é fazê-lo, principalmente nos treinos mais intensos, em terrenos mais macios, como terra ou grama, pois, dessa forma, é possível reduzir a intensidade dos impactos nas articulações.

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A relação entre os hormônios sexuais e a saúde bucal

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A deficiência dos hormônios estradiol e testosterona pode causar uma série de consequências, inclusive na saúde bucal. Diversos estudos já mostraram que o estradiol mantém os dentes e as gengivas firmes, além de cuidar do equilíbrio das glândulas salivares. E com a queda da produção do hormônio, com o passar dos anos, nossa boca fica mais vulnerável a problemas, as gengivas ficam mais flácidas e os dentes mais suscetíveis a cáries. Também há um desgaste maior do esmalte dos dentes, entre outros problemas. Outros sintomas relatados, principalmente por mulheres na menopausa, são boca seca e mau hálito, além de alterações do paladar. Outro dado importante: o estrogênio é um grande protetor dos ossos. E com a queda da substância no organismo, aumenta o risco de desenvolver a osteoporose, o que também impacta a saúde dos dentes. A osteoporose pode afetar a densidade mineral óssea de diversas partes do corpo, inclusive dos ossos maxilares. A reabsorção óssea dos maxilares influencia diretamente a fixação dos dentes junto à mandíbula. Um grau severo de perda na densidade óssea pode levar à perda de dentes naturais e dificultar a fixação de próteses e implantes. Já no caso dos homens, a queda na produção de testosterona pode levar ao sobrepeso. E para a saúde bucal, a obesidade não faz nada bem. Ela está associada com um estado inflamatório crônico que

Níveis fisiológicos dos hormônios protegem contra a perda de dentes e ajudam a manter as gengivas livres de infecções 32 | Revista Longevidade em Foco

pode levar à periodontite. Isso porque o tecido adiposo funciona como um reservatório de citocinas, que regulam as respostas inflamatória e imunológica. A saída para homens e mulheres é a modulação hormonal, para menopausa e andropausa. Segundo a ginecologista Margarita Ubaldo, níveis fisiológicos de estradiol e de testosterona protegem contra a perda de dentes e ajudam a manter as gengivas livres de infecções. O assunto foi tema do 1º Encontro Brasileiro de Longevidade e Qualidade de Vida da Sociedade Brasileira para Estudos da Fisiologia (Sobraf), realizado durante o 8º Congresso Brasileiro de Fisiologia Hormonal e Longevidade, em São Paulo, nos dias 10 e 11 de outubro. “Os hormônios sexuais possuem mais de 400 funções metabólicas e de reparo. Estudos mostram que há receptores para essas substâncias no tecido gengival. Logo, sua função nas estruturas da boca é inquestionável”, afirma Margarita. Até os 45 anos, segundo a médica, cada mulher perde, em média, 3,5 dentes. Aos 60, um terço já não tem nenhum dente. As pacientes na menopausa e com osteoporose que não fazem reposição hormonal contabilizam menos 16,9 dentes, enquanto as mulheres na menopausa em reposição de estradiol exibem um sorriso com apenas menos 4,5 dentes.

Doenças cardiovasculares “A carência do hormônio sexual feminino também está relacionada à atrofia de gengiva, que leva à periodontite, que está diretamente ligada aos infartos. Hoje sabemos que os infartos são doenças de origem inflamatória e que a bactéria periodontal é capaz de provocar essa inflamação da parede das artérias”, alerta a especialista. Já para as mulheres jovens que utilizam contraceptivos orais, a atenção com a saúde bucal precisa ser redobrada. “O contraceptivo oral mimetiza o estado menopausal, ou seja, todos os hormônios da mulher se tornam iguais aos de uma vovó de 90 anos. Portanto, o uso do anticoncepcional pode influenciar as condições periodontais, independente do nível de acúmulo e da duração do tratamento”, finaliza.


evento

VII Fórum Clínico Intensivo em Fisiologia Humana

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Médicos de diferentes pontos do país estarão com a atenção voltada, no próximo mês de abril, para a realização de um dos mais importantes eventos do calendário anual do Grupo Longevidade Saudável: o VII Fórum Clínico Intensivo em Fisiologia Humana. Único evento com esse formato dentro da área médica nacional, o Fórum Clínico acontece nos dias 25 e 26 de abril, no Hotel Meliá Jardim Europa, localizado na Avenida Paulista, em São Paulo. O evento terá carga horária de 20 horas, período em que serão apresentados e discutidos em torno de 25 casos clínicos de alta complexidade. Vale lembrar que o Fórum Clínico tem como objetivo debater casos clínicos estrategicamente escolhidos e, a partir das experiências práticas relatadas, padronizar os protocolos clínicos para atendimento ao paciente, dentro da proposta da fisiologia hormonal e da fisiologia do envelhecimento. Dada a sua relevância para profissionais médicos que trabalham com a Medicina da Longevidade, o encontro científico tem atraído um número cada vez maior de participantes, ano a ano. Cerca de 170 casos clínicos foram abordados nas seis edições já realizadas do Fórum Clínico, que contaram com a participação de 600 médicos, de diversas especialidades, atuantes em diferentes pontos do país.

Atualização em Fisiologia Hormonal Importante ainda ressaltar que, além da discussão de casos clínicos e da troca de experiência prática entre os profissionais médicos, para definição de consensos de protocolos a serem seguidos no atendimento aos pacientes, a programação do Fórum Clínico Intensivo em Fisiologia Humana também conta com a participação do

ginecologista Ítalo Rachid (Cremesp 114612), diretor científico do Grupo Longevidade Saudável. O especialista é o responsável pela atualização teórica em Fisiologia Hormonal, que é realizada antes da formação das mesas de discussão dos casos apresentados. “Essa oportunidade de troca de experiências e de estabelecer consensos e condutas a serem adotados frente a novos casos que surjam nos consultórios é de grande importância para os profissionais médicos que participam do evento”, diz a diretora de Marketing e Relacionamento do Grupo Longevidade Saudável, Polliana Rachid. E um dos motivos do interesse de médicos de todo o país pelo evento é exatamente essa possibilidade de compartilhar conhecimento e trocar experiências, o que permite o aperfeiçoamento do atendimento aos pacientes, para a constante melhoria da prática médica em seus consultórios. “O Fórum Clínico atende a essa necessidade dos profissionais médicos. Muitos fazem questão de participar todos os anos do evento e essa adesão se deve à sua importância científica. O evento representa o ápice da atualização, revisão e padronização de protocolos clínicos em fisiologia hormonal”, lembra a diretora.

Para participar do VII Fórum Clínico Intensivo em Fisiologia Humana, é preciso ter concluído o curso Ciências da Longevidade Humana e Fisiologia Hormonal Aplicada, considerado introdutório à proposta de medicina preditiva do Grupo Longevidade Saudável. As inscrições para o Fórum Clínico já estão abertas e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 0800-001-1223 (ramal 4) ou através do e-mail contato@longevidadesaudavel.com.br.

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Parto normal ou cesariana? Médicos reconhecem que número de cesáreas no País é elevado, mas lembram que cada caso é um caso

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Nunca se discutiu tanto no Brasil a questão dos prós e contras do parto por meio de cesarianas. E não é para menos. O índice de cesáreas no Brasil é de 88% em hospitais particulares, enquanto na rede pública a taxa chega a 46%. Os números são bem altos quando comparados ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 15%. E o debate sobre o tema ganhou ainda mais destaque com a publicação, em janeiro, de novas regras por parte do Ministério da Saúde e da Agência Nacional da Saúde (ANS), que regula os convênios médicos, para incentivar as gestantes a optarem pelo parto normal, principalmente aquelas que terão seus bebês usando o plano de saúde. Apesar da polêmica em torno das medidas adotadas pelo governo, é consenso entre associações de classe e médicos que o número de cesarianas é elevado no país. Mas, para mamães e bebês, o que é melhor: o parto normal ou a cesariana? Para o ginecologista e diretor científico do Grupo Longevidade Saudável, Dr. Ítalo Rachid (Cremesp 114612), o melhor é aquele que preserva o bem-estar materno-fetal. “Cada caso é um caso. E deve ser analisado levando-se em conta a fisiologia materno-fetal. Em alguns casos, o parto normal é o mais indicado, mas existem situações que exigem a cesariana”, diz o especialista. Segundo o médico, em casos quando há a ruptura da bolsa de líquido amniótico, por exemplo, existe um prazo máximo de espera para que a mulher entre em trabalho de parto e o bebê nasça pela via vaginal. “Se passar muito tempo e não for feita uma cesariana, existe o risco de infecção materno-fetal”, lembra o Dr. Rachid.

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Outra situação em que a cesárea pode ser necessária, de acordo com o especialista, é no caso da macrossomia fetal, que se caracteriza, principalmente, pelo excesso de peso do bebê. A condição pode ser resultado, por exemplo, de a mãe ter diabetes ou apresentar um quadro de ganho excessivo de peso durante a gravidez.

Bem-estar para mãe e bebê “Existem diferentes situações e é preciso avaliar o que é melhor do ponto de vista do bem-estar da mãe e do bebê”, completa o Dr. Rachid, que ressalta ainda que o número de cesáreas realizadas hoje no país é realmente elevado, porém não basta criar novas regras para baixar esse número. A mesma opinião tem o professor titular de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, o Dr. Antônio Carlos Lopes. Em artigo sobre o tema, o especialista defende a tese de que o Brasil precisa mapear e buscar reduzir o número de cesarianas realizadas atualmente e diz que o índice registrado em hospitais privados denota exagero, particularmente se comparado com países do Primeiro Mundo, como França, Inglaterra e Estados Unidos. No entanto, é importante que seja levado em consideração que não temos a mesma malha social que esses países. “Claro que a gestante tem todo o direito de opinar sobre como quer dar à luz. Entretanto, é necessário ver se haverá mesmo condição mínima para o parto normal, ou se a conduta se tornará um risco à vida de mãe e bebê, e à própria prática segura da medicina”, diz em seu texto. Segundo o especialista, casos de descolamento da placenta, prolapso do cordão umbilical, sofrimento fetal e outros tantos justificam o procedimento cesariano. “Obviamente, não há regra, e a necessidade de fato depende de situação para situação”, comenta no artigo de sua autoria.


Cesariana eletiva O obstetra Arnaldo Fernandes de Oliveira (CRM 30926-7 RJ) concorda que a cesariana, de fato, salva muitas vidas, pois nem todo nascimento seria bem-sucedido de maneira natural, por limitações de saúde ou físicas da mãe, do bebê ou de ambos. No entanto, o especialista alerta para o fato de a escolha pela cesariana eletiva, aquela com hora marcada, sem levar em conta aspectos biológicos, psicológicos e técnicos, não ser boa para o bebê. “O melhor parto é aquele que preza a segurança da mãe e do bebê e garante um final feliz para todos, independentemente de ser normal ou uma cesariana”, diz. O especialista ressalta ainda que o maior número de cesáreas eletivas pode levar a um aumento de bebês prematuros, já que a idade gestacional pode não ser calculada com exatidão. “O risco é que o nascimento ocorra antes

das cerca de 40 semanas gestacionais, o que pode resultar em problemas respiratórios no bebê”, explica. Segundo o obstetra, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), boa parte das gestantes prefere fazer a cesárea por causa do medo de sentir dor. Mas, de acordo com o médico, hoje é possível dar à luz sem o sofrimento de décadas atrás, com a ajuda de analgésicos. Todavia, o medo é ainda muito comum entre as mulheres, como mostra um estudo da Fiocruz com dados de 24 mil gestantes de 266 maternidades públicas e privadas do país. Entre as gestantes que estavam sendo atendidas por hospitais públicos e que seriam mãe pela primeira vez, 83% disseram preferir a cesárea por medo da dor do parto normal. Já na rede privada, 69% disseram o mesmo.

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agende-se

Curso Ciências da Longevidade Humana e Fisiologia Hormonal Aplicada Evento, que chega à sua 75ª edição, com 3,1 mil médicos formados, acontece entre os dias 28 de abril e 3 de maio, em São Paulo

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Fundamentado na fisiologia do envelhecimento hormonal e no modelo das quedas hormonais humanas, o Curso de Ciências da Longevidade Humana e Fisiologia Hormonal Aplicada chega à sua 75ª edição. O evento, um dos mais importantes dentro do projeto de Educação Médica Continuada, desenvolvido pelo Grupo Longevidade Saudável, será realizado entre os dias 28 de abril e 3 de maio de 2015, no Hotel Meliá Jardim Europa, no Bairro Itaim, na Zona Sul da capital paulista. Com grande procura por parte de profissionais médicos de todo o país, o curso é considerado introdutório à proposta de medicina preditiva do LS e essa nova turma contará com 130 médicos participantes. Desde sua criação, em 2002, o curso já formou cerca de 3,1 mil médicos, de diferentes especialidades. Esses profissionais hoje atendem cerca de 600 mil pacientes. As aulas serão ministradas pelo ginecologista e diretor científico do Grupo Longevidade Saudável, Dr. Ítalo Rachid (Cremesp 114612). A diretora de Marketing e Relacionamento do Grupo LS, Polliana Rachid, lembra que o conteúdo apresentado é fundamentado na fisiologia do envelhecimento hormonal e no modelo das pausas hormonais em homens e mulheres, tendo como base o conhecimento científico e evidências clínicas comprovadas nos mais importantes centros de pesquisa avançada no mundo. “O curso possui sólido conteúdo teórico-prático e cumpre com o objetivo do Grupo Longevidade Saudável de oferecer ao participante o conhecimento e a prática adquirida ao longo de duas décadas de pesquisas e estudos em importantes instituições de renome internacional”, explica Polliana Rachid.

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De acordo com a diretora, uma das causas do grande interesse de médicos de diferentes especialidades pelo evento é a demanda constante hoje existente por mais conhecimento, informações e atualização profissional. Prova é que, na última edição do curso, 90 médicos participaram do evento. Vale lembrar que a participação no evento permite ao médico tornar-se um profissional completamente diferenciado e em condições de aplicar na sua prática diária os novos conhecimentos adquiridos, o que faz do conteúdo uma poderosa ferramenta geradora de resultados clínicos incomparáveis. O curso conta com carga horária de 80 horas/aula, e as inscrições já estão abertas. Entre os temas abordados no curso estão Longevidade Humana: Novos Paradigmas; A Visão de uma Nova Medicina; Introdução à Modulação Hormonal; Fisiologia do Envelhecimento Hormonal; Eletropausa; Melatopausa; Adrenopausa; Insulina e Síndrome Metabólica; Tireopausa; Síndrome da Fadiga Adrenal e Fisiologia do Trato Gastrointestinal, entre outros. Para participar do curso, é preciso ser médico, com CRM ativo. Os interessados podem obter outras informações enviando e-mail para contato@longevidadesaudavel.com.br ou pelo telefone 0800-001-1223 (ramal 4).



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Brasileiros estão se exercitando mais Atividade física mais popular é a caminhada, mas procura por aulas em academias também cresceu no País

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Os brasileiros adultos estão fazendo mais atividade física. É o que mostra pesquisa divulgada recentemente pelo Ministério da Saúde (MS). De acordo com o estudo Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), atualmente, em torno de 34% da população praticam algum tipo de atividade física regularmente. O índice alcançado é 12,6% maior que o registrado há cinco anos. A pesquisa, realizada em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP), ouviu 53 mil pessoas nas 26 capitais do país, mais o Distrito Federal. E traz algumas descobertas importantes, como o aumento no número de pessoas que preferem as academias para se exercitarem. Entre as atividades que se tornaram mais populares está a musculação. Segundo o MS, desde 2006, quando o estudo começou a ser realizado, houve um aumento de 50% no percentual de pessoas que dizem praticar a atividade. E não é só isso: em 2012 e 2013, o percentual de mulheres que fazem musculação superou o dos homens: a atividade é praticada por 19,56% das mulheres fisicamente ativas e por 18,46% dos homens. De acordo com o estudo, o futebol, ou a famosa “pelada”, aquela partida com os amigos, continua sendo o esporte preferido pelos homens. Cerca de

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27% da população masculina relatou jogar bola regularmente. As outras atividades preferidas por eles são caminhada e musculação.

Caminhada é a atividade mais popular Levando em conta respostas de homens e mulheres, a atividade física mais popular é a caminhada, com um percentual de 33,79% entre os entrevistados. Vale ressaltar que o público feminino é o mais fiel à prática do exercício: 43,98% das mulheres que se exercitam são adeptas da caminhada. A musculação aparece em segundo lugar, citada por 18,97% dos praticantes de atividades físicas. E, na terceira posição, o futebol, com 14,87% da preferência. O Ministério da Saúde avalia como positivo o resultado do estudo e interpreta o aumento da popularidade das academias como um maior interesse da população em ter mais saúde. Em entrevista, a diretora de Vigilância e Promoção da Saúde do MS, Deborah Malta, lembra que todas as evidências mostram que os benefícios da atividade física independem do tipo de exercício. “O que é importante é regularidade na prática”, defende. Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza como atividade física suficiente, pelo menos, 150 minutos semanais de exercícios de intensidade leve ou


moderada ou de, pelo menos, 75 minutos semanais de atividade física de intensidade vigorosa.

Idosos estão na contramão Se, por um lado, aumentou o número de pessoas que fazem atividades físicas no país, por outro lado, o percentual de praticantes vai diminuindo conforme a idade avança. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice chega a 35% entre jovens de 18 e 24 anos, mas o percentual cai para 18,3% na faixa etária de 40 a 59 anos, e depois para 13,6% entre as pessoas com 60 anos ou mais. “O número de idosos que praticam atividades físicas já foi bem menor. Há alguns anos, você não via pessoas com 60, 70 anos fazendo musculação em academias, como se vê hoje, por exemplo. É uma questão de cultura e vem sendo modificada gradualmente”, explica Paulo Henrique Lago (Confef SP 009277), professor de Educação Física e especialista em Fisiologia do Exercício. Álvaro Martins (CREF 045628-G/SP), também professor de Educação Física, com pós-graduação em Exercício e Condicionamento para grupos especiais, diz ainda que ser idoso não é motivo para não fazer atividade física. De acordo com ele, as restrições ocorrem apenas em casos específicos nessa faixa etária. O ideal, segundo o especialista, é que os mais velhos tenham o acompanhamento de um professor da academia, que vai preparar as aulas e coordenar os exercícios para evitar possíveis lesões, como por excesso de esforço. “As pessoas que já fazem exercícios, bem como as que têm interesse em iniciá-los, devem ter sempre um acompanhamento.

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Musculação associada ao alongamento melhora a flexibilidade, a força e o equilíbrio, reduzindo os riscos de problemas de saúde em idosos Nessa idade, é mais difícil adequar-se aos aparelhos, ao posicionamento dos bancos, aos ajustes das cargas e principalmente se preocupar com a execução do movimento”, explica.

Musculação e alongamento Já Gabriel Di Monaco (CREF 035051 G/SP), professor em Educação Física com pós-graduação em Musculação e Exercícios no Envelhecimento, lembra que a musculação associada ao alongamento melhora a flexibilidade, a força e o equilíbrio, reduzindo significativamente os riscos de problemas de saúde em idosos, como doenças cardíacas e quedas, além de ajudar a prevenir o sobrepeso e melhorar a postura e o condicionamento físico e psíquico. “O fortalecimento da cintura pélvica, para evitar fraturas de quadril, é outro benefício da musculação associada ao alongamento. Importante lembrar que são registradas, por ano, no país, 100 mil casos de fratura de quadril, fator que representa 50% dos casos de internações hospitalares de idosos”, lembra o especialista.

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Outro importante benefício do exercício é a prevenção da osteoporose. A doença enfraquece os ossos e os torna mais suscetíveis a fraturas. Esse tipo de problema afeta principalmente os idosos e lesiona com mais frequência a coluna vertebral e o quadril, causando a maioria dos casos de problemas de saúde nessa época da vida. De acordo com Martins, a força muscular sobre os ossos contribui para a manutenção e o aumento da massa óssea. “ Ossos mais firmes e espessos e músculos mais fortes proporcionam articulações mais estáveis, protegendo de lesões e impactos”, comenta Martins.

Melhor absorção hormonal E a prática supervisionada de atividades físicas também é uma medida que potencializa a modulação hormonal. “Através do batimento cardíaco elevado e da contração muscular, conseguimos aumentar a sensibilidade dos receptores presentes nas células para a absorção dos nutrientes, entre eles os hormônios”, explica Gabriel Di Monaco.

O especialista foi um dos palestrantes do 1º Encontro Brasileiro de Longevidade e Qualidade de Vida da Sociedade Brasileira para Estudos da Fisiologia (Sobraf), realizado durante o 8º Congresso Brasileiro de Fisiologia Hormonal e Longevidade, em outubro passado.

Exercícios na infância ajudam a vida adulta E a atividade física é algo que deve ser incorporado à rotina desde a infância, segundo médicos e profissionais de Educação Física, que alertam que desenvolver o hábito quando criança pode afastar o risco de doenças cardiovasculares na vida adulta. “Praticar exercícios ajuda o desenvolvimento neuropsicomotor e é um importante aliado para o desenvolvimento do sistema osteomuscular, entre outros benefícios”, explica o cardiologista e médico do esporte Aloísio Rocha (CRM SP 79144). Segundo o especialista, criar o hábito de uma vida saudável desde a infância afasta o sedentarismo na vida adulta e reduz as chances de doenças que podem prejudicar o coração.


SEU LIVRO

Consensos Clínicos

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O Grupo Longevidade Saudável lançou, recentemente, uma importante ferramenta de pesquisa para médicos que trabalham com o conceito de modulação hormonal homóloga humana: o livro Consensos Clínicos. A obra relata 120 casos clínicos selecionados, que foram apresentados e discutidos em seis edições do Fórum Clínico Intensivo em Fisiologia Humana, evento anual e de formato único no país, realizado pelo LS. O lançamento do livro, que leva a assinatura do médico Ítalo Rachid (Cremesp 114612), diretor científico do Grupo Longevidade Saudável e presidente da Sociedade Brasileira para Estudos da Fisiologia (Sobraf), ocorreu durante o 8º Congresso Brasileiro de Fisiologia Hormonal e Longevidade, realizado em outubro último, em São Paulo.

“O livro foi concebido com o objetivo de se tornar uma plataforma de consulta clínica para médicos que trabalham com a fisiologia humana e hormonal. Portanto, ele serve de ponto de apoio para abordagens de tratamento de casos que fogem à rotina, pela complexidade que apresentam”, explica o médico.

Atualização e conhecimento “A coletânea de casos oferece ao leitor uma fonte de consulta em Medicina da Longevidade. Vale lembrar que os casos são vistos sob a ótica multidisciplinar e que, por outro lado, o nível de complexidade e o consenso em relação à proposta terapêutica para cada situação mostram bem a evolução do Fórum Clínico Intensivo, assim como o ganho de experiência clínica para os médicos que participam desses eventos”, diz o Dr. Rachid. O diretor científico do Grupo Longevidade Saudável lembra que o Fórum Clínico Intensivo em Fisiologia Humana chega este ano à sua sétima edição, já tendo se tornado uma referência em termos de educação médica continuada. “E um dos resultados da evolução técnica e científica do Fórum, ao longo dos anos, é a qualificação de profissionais de nível comparável ao existente em outros países que adotaram

a Medicina da Longevidade antes mesmo que nós”, comenta. O médico explica que, durante o Fórum Clínico Intensivo em Fisiologia Humana, são debatidos os casos mais difíceis encontrados por médicos que trabalham com o modelo de medicina preventiva e integrativa. “Mensalmente, realizamos, em várias cidades do país, encontros em que são debatidos casos que se diferenciam. E os casos mais complexos apresentados nesses encontros são levados para o evento anual”, comenta. Já no Fórum Clínico, a partir dos debates e das experiências práticas relatadas pelos participantes, chega-se a um consenso quanto à proposta terapêutica para cada caso. Os protocolos clínicos passam posteriormente pelo crivo final da comissão científica da Sobraf.

Introdução à Medicina da Longevidade O livro Consensos Clínicos é o primeiro de uma série de obras que o Grupo Longevidade Saudável lançará. A coleção contará com outros quatro livros, sendo denominada Introdução à Medicina da Longevidade. O lançamento está previsto para este ano. As obras terão conteúdo atualizado e vão trazer assuntos segmentados, relacionados à Fisiologia Hormonal e à Fisiologia do Envelhecimento. “Nosso objetivo é que esses livros sirvam de referência de base para o tema, em termos de literatura portuguesa”, conclui o Dr. Rachid.

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Os malefícios das noites em claro Pessoas com distúrbios do sono, como insônia, estão sujeitas ao risco de desenvolver várias doenças, inclusive cardíacas

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Nada melhor do que uma boa noite de sono para recuperar a energia gasta durante as atividades do dia. Mas cada dia mais pessoas enfrentam problemas para dormir. Um estudo realizado na Universidade de Glasgow, na Escócia, envolvendo 12 mil adultos, mostrou que mais da metade dos entrevistados tinha dificuldades para adormecer ou permanecer dormindo. A pesquisa mostrou também que as consequências das noites em claro podem ir desde um simples mau humor passageiro até problemas cardíacos, além de outros problemas, como cansaço, sonolência, dificuldade para assimilar informações, falhas de memória e de raciocínio, por exemplo. O neurologista com habilitação em medicina do sono Leonardo de Almeida (Cremesp 14.0011) explica que o sono é um momento de repouso cardiovascular. Se a pessoa dorme com frequência menos do que precisa, pode desenvolver diversas doenças. “Dormir bem não é apenas gostoso e revigorante, mas faz bem para a saúde. Uma boa noite de sono está relacionada a bons níveis de pressão arterial e de diabetes. Isso porque o repouso adequado contribui para que a pessoa tenha menor resistência à insulina, ajudando o controle do diabetes”, comenta.

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De acordo com o especialista, é quando dormimos que o corpo estabiliza os índices glicêmicos. Uma boa noite de sono também ajuda a diminuir a possibilidade de ocorrer acidente vascular cerebral (AVC) e doenças cardiovasculares, pois equilibra a produção de hormônios e substâncias químicas no organismo. Outro benefício do sono é ajudar a prevenir a obesidade, pois, enquanto estamos dormindo, o organismo produz mais leptina, hormônio capaz de controlar a sensação de saciedade, e menos grelina, hormônio do apetite, contribuindo para a prevenção da obesidade.

Distúrbios do sono Existem três grandes grupos de distúrbios do sono: insônias, sonolência excessiva e comportamentos anormais durante o sono. Segundo o Dr. Almeida, a insônia é o problema de sono mais comum entre os brasileiros. Ela é caracterizada pela dificuldade em iniciar e manter o sono ou dormir de maneira

não reparadora, o que acarreta repercussão nas atividades diurnas. “Quando a pessoa demora mais de 30 minutos para pegar no sono ou acorda muitas vezes durante a noite ou, ainda, acorda à noite e tem dificuldade para retomar o sono, é considerado como insônia”, diz o neurologista. De acordo com o especialista, a maioria dos casos de insônia está relacionada a distúrbios, como ansiedade, estresse e depressão. “No caso do estresse, as preocupações, a correria


no dia a dia, problemas no trabalho, na família, no relacionamento. Tudo isso gera estresse e tem como consequência a insônia”, diz. A apneia obstrutiva do sono, a mioclonia noturna (contrações musculares involuntárias nas pernas) e doenças com dor crônica, como reumatismo e fibromialgia, e outras neurológicas, além do refluxo gastroeso-

fágico, são outras das causas da insônia. Segundo pesquisa feita pelo Instituto do Sono da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa, em São Paulo, a apneia atinge 33% da população brasileira. “Essa é uma das principais causas de sono ruim e ocorre quando há uma obstrução da passagem do ar, o que faz a pessoa acordar várias vezes durante a noite”, lembra o médico.

Hábitos que prejudicam uma boa noite de sono O especialista lembra que alguns hábitos também são vilões do sono. Entre eles estão: consumo excessivo de cafeína e de álcool perto do horário de dormir, horários irregulares para dormir e para acordar, cochilos prolongados durante o dia, refeições pesadas à noite e prática de atividades físicas próximo do horário de dormir. “Esses hábitos prejudicam o sono e, consequentemente, a saúde”, alerta. O neurologista explica que os resultados das noites em claro ou das reduzidas horas de sono podem ser sérios para a qualidade de vida. O estudo realizado na Universidade de Glasgoow, por exemplo, identificou que 55% dos adultos que tinham problemas para dormir

também apresentavam dificuldade de relacionamento, além de dificuldade em se concentrarem, queda de produção no trabalho, problemas de humor e falta de energia. Segundo o Dr. Almeida, a insônia pode provocar hipertensão, alterações hormonais e outros problemas, como dificuldade de crescimento em crianças. “Isso acontece porque, enquanto repousamos, o organismo libera boa parte do hormônio do crescimento, o GH, no organismo. O insone ainda tem dificuldade de concentração ou memorização, pode apresentar irritabilidade, sensação de fraqueza ou mal-estar e dor de cabeça. E as pessoas que dormem menos do que a necessidade biológica exige, estatisticamente, morrem mais cedo”, afirma. No caso da memória, segundo o especialista, uma boa noite de sono é importante para absorver melhor as informações obtidas durante o dia. Isso porque é durante o sono que ocorre a síntese de proteínas responsáveis pelas conexões neurais e o cérebro faz sua limpeza das impurezas produzidas pela atividade neuronal realizada durante o dia, além de consolidar as novas informações.

Estudo americano Estudo da Perelman School of Medicine da University of Pennsylvania, nos Estados Unidos, apontou que pessoas com distúrbios do sono, em pelo menos três noites por semana, em média, eram 54% mais propensas a ter diabetes, 98% mais propensas a apresentarem doença arterial coronariana, 80% mais propensas a ter um ataque cardíaco e 102% mais propensas a terem um acidente vascular cerebral. Além disso, os cientistas mostraram que a má qualidade do sono acelera

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o processo de envelhecimento. Isso acontece porque. sem o repouso adequado, o organismo fica em estado de estresse e, assim, aumenta a produção de radicais livres (moléculas formadas naturalmente no organismo e que degradam as células). Mas a insônia tem tratamento, que pode ser feito com uma simples mudança de hábito ou, se necessário, com medicação. “Alterações no comportamento e na alimentação, como a retirada do café ou de refrigerantes à base de cola e dormir na posição adequada, são mudanças que podem melhorar a qualidade do sono”, recomenda o neurologista. Quando o paciente não consegue resolver a insônia com a mudança de hábito, muitas vezes é necessário

o auxílio de psicoterapia ou de medicação. Existem medicamentos que podem ser úteis para o tratamento da insônia, quando adequadamente indicados, a maioria formada por medicamentos de prescrição controlada e que devem ser tomados sempre com acompanhamento médico.

Aparelho identifica problemas no sono Além do histórico clínico, para identificar problemas de sono do paciente, os especialistas também usam um exame chamado polissonografia. Durante a realização do exame, é feito o registro simultâneo de variáveis eletrofisiológicas, como a atividade elétrica cerebral

Pessoas que dormem pouco podem desenvolver resistência à insulina, condição que leva ao aumento da concentração de glicose no sangue e ao diabetes 44 | Revista Longevidade em Foco

(eletroencefalograma), movimento dos olhos (eletro-oculograma), atividade dos músculos (eletromiograma), frequência cardíaca, fluxo e esforço respiratório, oxigenação do sangue (oximetria), ronco e posição corpórea. “O objetivo é fornecer ao médico dados precisos em relação ao sono, como a incidência de roncos, de distúrbios respiratórios, movimentos e comportamentos anormais”, explica o Dr. Almeida. Para realizar o exame, o paciente dorme em um ambiente confortável e é monitorado por aparelhos que permitem testar os potenciais elétricos da atividade cerebral e dos batimentos cardíacos, os movimentos dos olhos, a atividade muscular, o esforço respiratório e os movimentos das pernas, além de outros parâmetros. “Com esse exame, o especialista consegue monitorar o paciente e apontar se ele tem sono superficial ou profundo, se acorda várias vezes à noite ou se apresenta algum outro problema que atrapalha o sono”, diz o neurologista.



artigo

Inflamação (crônica) subclínica: o mal silencioso

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Quando falamos em inflamação, pensamos em dor, calor, rubor e edema, que são os sinais clássicos de uma inflamação aguda. Essa é a inflamação que nós vemos. Esse tipo de inflamação é benéfico e precisamos dele para sobreviver. No entanto, as descobertas científicas têm apontado que esse mecanismo pode perder o controle e se voltar contra nós mesmos. Nesse contexto, a inflamação crônica é de baixo grau e sistêmica, frequentemente danifica silenciosamente os tecidos durante um longo período (chamada de assassino silencioso). Tal processo pode durar décadas sem que a pessoa perceba, até que os sintomas da doença ocorram subitamente muito tempo depois e um dano, geralmente, irreversível, apareça. Assim, diante do conhecimento científico atual, seria impossível falar de uma longevidade saudável sem dar atenção a um dos principais vilões do ser humano na vida moderna: a inflamação crônica subclínica. Nos últimos anos, têm ocorrido mudanças expressivas na compreensão dos riscos e da patogênese de uma série de doenças crônicas com inflamação subclínica, entre elas a obesidade, o diabetes e as doenças cardiovasculares aterotrombóticas, que, juntas, constituem uma crescente causa da mortalidade em todo o mundo. A semelhança notável dos fatores de risco para essas doenças estimulou investigações que elucidassem uma patofisiologia comum para tais condições. Dessa forma, pesquisas vêm sendo realizadas com o intuito de entender o conjunto dos fatores de risco em indivíduos, com o propósito de estabelecer alvos potenciais de terapia na prevenção ou no tratamento dessas doenças e de suas complicações. A reação de inflamação induzida pelos fatores de risco e a resposta imunológica associada são os principais eventos que conduzem ao processo de aterogênese conjuntamente com a síndrome metabólica. Portanto, os marcadores de inflamação são também alvos potenciais de terapia na prevenção ou no tratamento da aterosclerose e suas complicações.

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Dra. Míriam Chaves Schultz*

Nesse contexto, novos biomarcadores inflamatórios vêm sendo estudados e caracterizados. Esses marcadores vêm ganhando papel de destaque, pois estão sendo consagrados como preditores (são indutores dos marcadores já conhecidos) de riscos metabólicos e cardiovasculares. Esses novos marcadores associados com a inflamação são: 1) citocinas pró-inflamatórias; 2) citocinas anti-inflamatórias; 3) adipocinas; 4) enzimas.

1) Citocinas pró-inflamatórias As citocinas pró-inflamatórias de maior relevância são: a interleucina-6 (IL-6), o fator de necrose tumoral-α (TNF-α) e a interleucina-1β (IL-1β). Interleucina-6 (IL-6) A IL-6 é mediadora central da resposta de fase aguda e a principal citocina pró-coagulante, pois determina a produção e a elevação das concentrações plasmáticas estimuladas pelo fígado de fibrinogênio, proteína amiloide sérica A (SAA), e, em especial, da proteína C reativa (PCR). Em indivíduos com doença cardíaca, os níveis séricos aumentaram de modo bem expressivo. Pacientes com falência cardíaca crônica, que tinham níveis séricos de IL-6 no maior quartil, apresentaram risco relativo de 2,11 para óbito dentro de 24 meses. Dessa forma, níveis dessa citocina podem predizer morbidade em pessoas saudáveis e mortalidade em pessoas que já apresentaram algum evento cardiovascular. Fator de Necrose Tumoral-α (TNF-α) Por causa de sua atividade biológica pleiotrópica, essa citocina está envolvida no processo de inflamação, pois desempenha um papel principal na cascata das citocinas e estimula a síntese de outras citocinas. Assim como a IL-6, o TNF-α é mediadora central da resposta de fase aguda, pois também determina a produção e a elevação das concentrações plasmáticas estimuladas pelo fígado


de fibrinogênio, SAA, inibidor do ativador de plasminogênio-1 (PAI-1) e, em especial, da PCR. Estudos científicos têm demonstrado correlações significantes entre o TNF-α e os componentes da síndrome metabólica (SM): triacilglicerol, HDL-colesterol e pressão arterial sistólica, além das correlações entre TNF-α e IMC, sensibilidade à insulina e PAI-1. Visto que o TNF-α está correlacionado com os componentes da SM, pode predizer risco para doenças cardiovasculares e infarto. Em indivíduos com presença de doença cardíaca, seus níveis aumentaram de maneira bem expressiva. Ainda, tem sido demonstrado que o TNT-α é um marcador independente para infarto do miocárdio. Interleucina-1β (IL-1β) A IL-1β, conjuntamente com o TNF-α, estimula a produção de IL-6 por células musculares lisas e aumenta a expressão de macrófagos, fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e fator de crescimento de fibroblastos (FGF), associados com a progressão do processo inflamatório da aterosclerose.

2) Citocinas anti-inflamatórias Interleucina 10 (IL-10) A IL-10 é uma citocina que possui propriedades anti-inflamatórias, cuja principal função é a regulação do sistema imune, pois inibe de maneira potente a expressão e/ou a produção de citocinas pró-inflamatórias. A IL-10 parece inibir, de maneira continuada, a produção das citocinas pró-inflamatórias por meio de feedback negativo. Por causa dessa propriedade regulatória do sistema imune, sua relação com a SM foi recentemente estudada. Indivíduos que não apresentaram SM tinham maiores valores de IL-10, quando comparados com indivíduos com SM. Os níveis de IL-10 foram correlacionados com a SM, além da correlação com a PCR e adiponectina.

3) Adipocinas Adiponectina Pelas suas propriedades anti-inflamatórias, estudos demonstraram que esse hormônio é um marcador da SM, pois seus níveis diminuídos foram correlacionados com a elevação das citocinas pró-inflamatórias IL-6, TNF-α e PCR. Por outro lado, a adiponectina aumenta a expressão da citocina anti-inflamatória IL-10 em macrófagos humanos.

Um estudo demonstrou, pela primeira vez, que mulheres sem SM possuem aumento dos níveis de adiponectina e IL-10 (efeito anti-inflamatório), ao mesmo tempo que possuem diminuição dos níveis de PCR e IL-6 séricos (efeito pró-inflamatório). Já mulheres com SM possuem diminuição dos níveis de adiponectina e IL-10, ao mesmo tempo que possuem aumento dos níveis de PCR e IL-6 séricos.

4) lipoproteína associada à fosfolipase-A2 (LP-PLA2) No plasma, 80% da LP-PLA2 estão ligados à LDL, especialmente às partículas pequenas e densas de LDL, e 20% estão associadas com o HDL. Níveis elevados de LP-PLA2 foram relatados em pacientes com hipercolesterolemia. Dessa forma, uma elevada atividade de LP-PLA2 no soro está associada à função prejudicada da vasodilatação endotelial sistêmica em pacientes com doenças cardiovasculares. A identificação sérica de LP-PLA2 é um novo preditor independente de disfunção endotelial e proporciona um importante indício para fazer associação entre marcadores inflamatórios e doença aterosclerótica coronariana. Verificamos, então, que o processo inflamatório é uma reação muito complexa, na qual os marcadores mencionados parecem nos dar uma luz de como podemos avaliar, com maior rapidez e confiabilidade, transtornos metabólicos recentes pela possibilidade de um monitoramento de um marcador em separado ou marcadores em conjunto que possam predizer risco de doença com segurança. Contudo, não devemos nos esquecer de que cada indivíduo deve ser avaliado detalhadamente em relação à presença e extensão de inflamação “oculta”. Isso requer, portanto, uma história clinica pormenorizada, avaliação de hábitos alimentares e antecedentes clínicos. Mais pesquisas são necessárias no intuito de identificar novos marcadores inflamatórios, níveis de referência e de risco e pontos de corte, em especial para a população brasileira. * Dra. Míriam Chaves Schultz Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1987. Mestra e doutora em Bioquímica e Imunologia pela UFMG. Atualmente é professora associada nível 4 na UFMG e sócia da empresa In Vitro Cells – Pesquisa Toxicológica S.A. Tem experiência na área de Bioquímica e uma patente depositada no INPI, referente à utilização da sinalização celular como ferramenta para o estudo de toxicidade de moléculas.

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Cereja:

o mais potente anti-inflamatório da natureza

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Para quem gosta de cerejas, uma ótima notícia: além de combater os radicais livres no organismo, entre outros benefícios, a fruta é o mais poderoso anti-inflamatório encontrado na natureza. A afirmativa é de cientistas da Oregon Health & Science University, na cidade de Portland, nos Estados Unidos, que apresentaram sua pesquisa no American College of Sports Conferência Medicine (ACSM). Segundo os pesquisadores, a substância responsável pela potência terapêutica das cerejas são as antocianinas, uma classe especial de flavanoides, substância que, além da coloração característica da cereja, traz diversos benefícios para a saúde. Os pesquisadores fizeram o estudo em mulheres com idades entre 40 a 70 que tinham osteoartrite, doença das articulações que se caracteriza pela degeneração das cartilagens, acompanhada de alterações das estruturas ósseas vizinhas às articulações. E chegaram à conclusão que ingerir suco de cereja duas vezes por dia, durante três semanas, pode levar a reduções significativas nos marcadores de inflamação importantes, especialmente entre aquelas que tinham os mais altos níveis de inflamação no início da pesquisa.

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No entanto, as informações a respeito do potencial benéfico das cerejas para o organismo não param por aí. Estudos demonstram que a fruta não só é rica em antocianinas, mas também apresenta uma grande variedade desse composto, além de outros fitonutrientes poderosos que trabalham em conjunto para proporcionar maior potência terapêutica. Vale lembrar que existem outros alimentos ricos em antocianinas, como mirtilos, ameixas, uva, framboesas, morangos, maçã vermelha, rabanete, tomate, repolho roxo e berinjela, entre outros. Porém, num teste levando-se em conta seis tipos diferentes de antocianina, incluindo a cianidina e a peonidina, foi possível descobrir que apenas a cereja continha todos os compostos, enquanto a maçã vermelha continha um, morangos continham dois e as uvas continham três compostos. E o que isso significa? Significa que a cereja pode prevenir e ajudar a tratar diferentes tipos de doença. E a cada dia novas pesquisas vêm sendo feitas nesse sentido, com cientistas testando terapias de consumo com diferentes quantidades, de diversas variedades de cereja, em quase todas as formas, de suco a pílula.

Doença da Gota Um desses estudos foi realizado por pesquisadores da Universidade de Boston Medical Center, envolvendo 633 pacientes, com idade média de 54 anos, com doença da gota, um tipo de artrite que é decorrência do acúmulo de ácido úrico no sangue, que causa inflamação nas articulações. De acordo com o resultado da pesquisa, publicado na revista Arthritis & Rheumatism, comer, pelo menos, dez cerejas por dia pode proteger crises recorrentes da doença. Um dos autores do estudo, o reumatologista, professor e doutor Hyon K. Choi, diz no artigo publicado que a ingestão da fruta foi associada a um risco 37% menor de novas crises. Os participantes da pesquisa foram acompanhados pelo período de um ano e foram orientados a anotar as informações sobre as crises, incluindo sintomas, medicamentos utilizados e os alimentos e bebidas consumidos nos dois dias anteriores ao


o Dr. Choi. “Se com cerejas tivermos grandes estudos que revelem a eficácia do consumo de cereja, elas poderiam fornecer uma opção segura, não farmacológica, para prevenir ataques de gota recorrentes”, diz o especialista.

Alívio para osteoartrite

ataque, incluindo se haviam consumido uma porção de dez cerejas ou extrato de cereja (em cápsulas ou líquido). Durante o período do estudo, quase metade dos pacientes consumiu a fruta e apresentou 37% menos risco de novas crises, em relação àqueles que não consumiram cerejas. E alguns cientistas já dizem que consumir extrato de cereja, encontrado em lojas de produtos naturais, parece fornecer os mesmos benefícios para pacientes com gota. Em um estudo retrospectivo de 24 pacientes apresentados na reunião anual da Liga Europeia contra o Reumatismo, em 2010, pesquisadores da Robert Wood Johnson Medical School, em New Brunswick, em New Jersey, perceberam uma redução de 50% em sintomas como o ardor, quando os pacientes consumiam uma colher de sopa de extrato de cereja, dose equivalente a algo entre 45 e 60 cerejas, duas vezes por dia, durante quatro meses. “Esse é definitivamente um assunto que merece mais investigação”, diz

Outros estudos interessantes sobre o tema sugerem que as cerejas podem também ajudar a reduzir os sintomas de osteoartrite. Pesquisadores do Centro Médico de Philadelphia avaliaram 53 pacientes com o problema no joelho, que consumiam duas garrafas (o equivalente a cerca de 45 cerejas) de suco de cereja por dia. Todos relataram uma melhora significativa na dor, rigidez e função física após seis semanas. Porém, perderam esses ganhos quando pararam de beber o suco. Segundo o líder da pesquisa, o doutor H. Ralph Schumacher, o consumo ajuda a aliviar os sintomas, porém não cura a doença, embora seja um importante avanço. Os resultados do trabalho foram publicados também na revista Arthritis & Rheumatism. Mas pílulas de cereja também podem melhorar a dor e a rigidez associadas à osteoartrite. Em um estudo piloto no Instituto de Pesquisa Baylor, em Dallas, no Texas, mais da metade dos 20 pacientes envolvidos relataram melhora da dor e da função depois de tomar uma cápsula de cereja por dia durante oito semanas. Cada cápsula continha 100 miligramas (mg) de antocianinas. Pesquisa anterior sobre o assunto, conduzida por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Baylor, já havia descoberto que uma dose diária de extrato de cereja ajudou a reduzir a dor da osteoartrite, em mais de 20%, para a maioria dos homens e

mulheres participantes. E agora, estuda-se se os compostos encontrados na fruta podem trazer benefícios para atletas. O objetivo é saber se as substâncias podem ajudar a aliviar a dor muscular e articular. O diretor de Nutrição Esportiva na Universidade da Pensilvânia Medical Center for Sports Medicine, Leslie Bonci, por exemplo, incorporou cerejas no menu de atletas profissionais atendidos por ele, bem como para seus demais pacientes, com o objetivo de controlar a dor.

Outros benefícios A nutricionista Priscila Machado Gusela, mestra em Bioquímica Nutricional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que as cerejas são potentes agentes anti-inflamatórios, bloqueando a ação da ciclooxigenase 1. “Essa característica associada ao seu potente efeito no combate às espécies reativas de oxigênio torna a fruta famosa”, comenta. A especialista, que é a nutricionista da Confederação Brasileira de Triathlon, lembra que, quando se fala dos efeitos terapêuticos das cerejas, indiretamente estamos nos referindo aos princípios ativos ou constituintes químicos ativos que exercem efeitos fisiológicos. “A utilidade das frutas para o organismo, assim como em outras plantas medicinais, é determinada em função do tipo e da concentração de princípios ativos presentes. No caso das cerejas, os potentes antioxidantes, como as antocianinas”, explica. Priscila ressalta ainda que a fruta também é rica em outras substâncias: luteína, zeaxantina e beta-caroteno. Vale lembrar que a luteína é uma poderosa arma antioxidante contra o fotoenvelhecimento cutâneo, causado pela ação dos radicais livres.

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Brasil avança na área da Medicina da Longevidade Temas apresentados no 8º Congresso Brasileiro de Fisiologia Hormonal e Longevidade confirmam que País tem médicos e pesquisadores de alto nível

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Cerca de 400 médicos de todo o país participaram do 8º Congresso Brasileiro de Fisiologia Hormonal e Longevidade, evento que teve como palestrantes alguns dos principais nomes do cenário nacional formado por especialistas que trabalham com a ciência da longevidade e fisiologia humana. O alto nível dos temas apresentados demonstra que o Brasil já se tornou uma referência nessa área. “O congresso superou as nossas expectativas em termos de público presente e mostrou que temos aqui no Brasil profissionais médicos e pesquisadores tão bons quanto em outros países”, confirma o Dr. Ítalo Rachid (Cremesp 114612), médico e diretor científico do Grupo Longevidade Saudável.

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Realizado nos dias 10 e 11 de outubro passado, no Amcham Business Center, em São Paulo, o congresso promoveu a troca de experiência e a atualização de médicos de diferentes especialidades a respeito dos mais relevantes temas ligados à medicina preventiva. Foram dois dias de intenso aprendizado, que, com certeza, ajudou a contribuir para uma prática médica cada vez mais comprometida com a prevenção de doenças, para mais qualidade de vida. A abertura do evento contou com uma concorrida palestra do Dr. Ítalo Rachid, que apresentou as indicações terapêuticas de seis hormônios – vasopressina, aldosterona, PTH, calcitonina, ocitocina e MSH – pouco presentes nas rotinas


O tema inflamação crônica foi abordado também por Míriam Chaves Schultz, doutora em Bioquímica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A especialista falou sobre a importância do combate ao estresse oxidativo, que reduz os instrumentos de defesa do organismo contra doenças e promove o envelhecimento precoce das células. A especialista mostrou ainda como adequar a alimentação é fundamental para vencer os radicais livres. “Alimentos anti-inflamatórios oferecem suporte para que o estresse oxidativo seja combatido. Podemos destacar aqueles ricos nas vitaminas A, E e C, selênio e zinco”, orientou.

clínicas dos médicos. O especialista também falou sobre o perigo das prescrições medicamentosas desnecessárias. Outro ponto alto do congresso foi o Simpósio Multidisciplinar sobre o uso de vitamina D para prevenção e tratamento de doenças crônico-degenerativas, ministrado pelo neurologista e professor doutor Cícero Galli Coimbra, do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Durante mais de quatro horas, o especialista apresentou aspectos teóricos e práticos sobre o uso da vitamina, com estudo de casos. “Pesquisa publicada, em 2012, no periódico Human Molecular Genetics, mostra: todas as células do nosso corpo têm receptores para a vitamina D. São 4,5 mil locais em cada célula onde a substância se liga para produzir efeitos biológicos. Imaginem o distúrbio que a sua deficiência ocasiona”, alertou o pesquisador.

Inflamação crônica Outra concorrida palestra foi apresentada pelo presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia Endócrina (Sobrage), Dr. Hugo Maia Filho, que falou sobre a reposição androgênica pulsátil por via vaginal e os seus efeitos anti-inflamatórios. “A absorção vaginal promove um aumento rápido da concentração em algumas horas, sem efeito hiperandrogênico. Você tem uma absorção excelente e sem excesso. Na mulher, a testosterona diminui o colesterol total, a glicemia e a proteína C reativa, que é marcadora da inflamação crônica”, pontuou o médico.

Outro tema discutido durante o evento foi a importância da Nutrigenética e da Nutrigenômica como ferramentas para prever a reação dos pacientes aos tratamentos, otimizando as abordagens terapêuticas por meio da alimentação. “Muitas vezes, os pacientes não respondem ao tratamento. Outros evoluem bem e há, ainda, aqueles que têm uma reação totalmente oposta à desejada. Por meio da avaliação dos perfis genéticos, é possível evitar essas surpresas”, explicou o biólogo Marcelo Ladeira, pós-doutor em Genética.

Outros palestrantes presentes Outro palestrante presente ao evento foi o médico, professor e pesquisador Arnoldo Velloso, que abordou os riscos da deficiência de magnésio no organismo, especialmente a partir dos 50 anos. Entre as novidades apresentadas pelo especialista, esteve o cloreto de magnésio hexa-hidratado – uma forma de suplementação do mineral por meio de aplicações em spray sobre a pele. “Tenho relatos clínicos de colegas que utilizaram essa formulação com sucesso, por exemplo, para insuficiência cardíaca”, contou o médico. Já o ginecologista Marcelo Matos falou sobre os problemas de saúde ligados ao consumo de adoçantes. O especialista fez uma ampla revisão da literatura sobre o assunto, lembrando ainda que o Brasil é hoje o segundo maior consumidor de edulcorantes no mundo. “Uma pesquisa recente publicada na revista Nature mostra que todos os adoçantes alteram a microbiota intestinal, podendo levar à resistência insulínica e ao diabetes. Mesmo a estévia não foi aprovada como adoçante nos EUA e na Europa. O Inca (Instituto Nacional de Câncer) alertou em estudo que houve alteração de DNA em ratos durante testes de laboratório com a substância. Contudo, no Brasil, ela é liberada”, afirmou. O especialista também deu dicas para um consumo mais consciente do produto, com exemplos da quantidade

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Modulação com hormônios homólogos humanos, inflamação subclínica e deficiência de vitamina D e magnésio foram alguns dos temas abordados

máxima de cada substância que pode ser ingerida diariamente. “O profissional de saúde precisa explicar ao paciente tudo o que pode acarretar o uso de adoçantes. Defendo que, para prescrição dessas substâncias, o paciente assine um termo de consentimento livre e esclarecido, como é feito em cirurgias, por exemplo”, opinou.

Modulação hormonal O tema modulação hormonal foi abordado pelos ginecologistas Elsimar Coutinho e José Bento, que defendeu a terapêutica com o uso de hormônios homólogos humanos durante a menopausa. “Quando você inicia a modulação, as pacientes ficam animadas, percebem um grande bem-estar. Os resultados são visíveis no brilho dos olhos, na pele, na vitalidade. Alguns sintomas ainda podem aparecer, mas é como uma orquestra: você vai afinando os instrumentos”, ressaltou o médico. Já o Dr. Coutinho lembrou que centenas de estudos já foram feitos e mostraram que a reposição hormonal não aumenta o risco de câncer de mama em mulheres. “Pelo contrário: mulheres em reposição de 5 a 10 anos têm menor incidência da doença. Com 10 a 20 anos de tratamento, a prevalência é igual entre os dois grupos”, afirmou o médico.

Encontro de Qualidade de Vida Paralelamente ao 8º Congresso Brasileiro de Fisiologia Hormonal e Longevidade, ocorreu um evento com modelo inédito: o I Encontro de Qualidade de Vida. Especialistas

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de áreas distintas, incluindo médicos, nutricionistas e fisiologistas do esporte, falaram diretamente com o público leigo. Um dos temas apresentados no evento, realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos da Fisiologia (Sobraf), foi a prática supervisionada de atividades físicas como medida potencializadora da modulação hormonal. “Através do batimento cardíaco elevado e da contração muscular, conseguimos aumentar a sensibilidade dos receptores presentes nas células para a absorção dos nutrientes, entre eles os hormônios”, explicou o fisiologista do esporte Gabriel di Monaco. A importância dos exercícios como parte de um trabalho multidisciplinar também foi tema de palestra no 3º Workshop de Nutrição Bioquímica-Fisiológica, outro evento paralelo ao congresso. O fisiologista Álvaro Martins, a nutricionista e coordenadora do Workshop, Priscila Machado e o médico Idílio Miragaia Dias abordaram as vantagens de uma atuação em equipe.

Congresso LatinoAmericano da WOSAAM Em outubro, médicos e outros profissionais da área da Saúde estarão com a atenção voltada para o IV Congresso Latino-Americano da WOSAAM. O evento, que contará com palestrantes brasileiros e estrangeiros, será realizado entre os dias 16 e 18 de outubro de 2015, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. Juntamente com o IV Congresso Latino-Americano da WOSAAM, serão realizados o II Congresso Internacional da Sociedade Brasileira para Estudos da Fisiologia (Sobraf), o IX Simpósio Internacional de Fisiologia Hormonal e Longevidade e o IV Workshop de Nutrição Bioquímico-Fisiológica.



15 anos de atuação oferecendo o que há de melhor em cursos e eventos Nesse período, o Grupo Longevidade Saudável já formou 3,1 mil médicos, de 32 diferentes especialidades, que, juntos, atendem a mais de 600 mil pacientes de todo o País

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O Grupo Longevidade Saudável completa 15 anos de atividades, cumprindo com sua missão de gerar e difundir conhecimento científico acerca da fisiologia humana e hormonal, tendo como objetivo disseminar um modelo de saúde e bem-estar, promovendo a cultura de um envelhecimento saudável para os milhares de pacientes hoje atendidos por médicos que já incorporaram à medicina preventiva da longevidade à prática diária em seus consultórios. Desde que começou a atuar, em 2000, o grupo já formou 3,1 mil médicos, de 32 diferentes especialidades, que, juntos, atendem a mais de 600 mil pacientes de todo o país. Para se ter uma ideia, graças a esse trabalho no campo da educação médica continuada, o Brasil já é visto hoje como excelente berço de conhecimento nas áreas da fisiologia humana e modulação hormonal homóloga humana. O segredo desse sucesso? A qualidade e seriedade dos cursos e eventos realizados a cada ano pelo grupo, que, assim, tem possibilitado

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aos médicos brasileiros o acesso a farto conteúdo em termos de conhecimento técnico-científico atualizado. Nesses 15 anos de atividades, foram criados o Curso de Ciências da Longevidade Humana e o de Fisiologia Hormonal Aplicada, considerados introdutórios à proposta de medicina preditiva do LS; o Fórum Clínico Intensivo em Fisiologia Humana; o curso de Pós-graduação Lato Sensu – Master em Ciências da Fisiologia Humana, com conteúdo validado internacionalmente; e o Advanced Physiology Course, entre outros. Cada um desses eventos, assim como outros, a exemplo dos congressos internacionais e nacionais realizados anualmente, mais os cursos à distância (EAD) online – ferramenta de informação para médicos e outros profissionais da área de saúde –, contribuiu para que o grupo fosse reconhecido, no país e no exterior, como centro de referência e excelência em educação continuada nas áreas de saúde e bem-estar.

Ponte entre produção científica e prática clínica “Ao longo desses anos, temos trabalhado com a proposta de difundir recentes avanços no conhecimento científico obtidos em importantes instituições, de renome internacional, em relação à prevenção da saúde e da qualidade de vida. Podemos dizer que o Grupo Longevidade Saudável tem atuado como ponte, entre a produção científica em outros países e a aplicação clínica desse conhecimento entre médicos brasileiros”, explica o diretor executivo do LS, Carlos Avellar. Além de apresentar o que há de mais novo em termos de pesquisas científicas e práticas clínicas comprovadas, o conteúdo dos eventos realizados pelo grupo é também o mais adequado ao perfil clínico dos pacientes acompanhados pelos médi-


cos que participam desses programas de treinamento e atualização científica, tudo sempre respeitando as normas que regulamentam a prática da Medicina no Brasil. “Trabalhamos sempre no sentido de respeitar a autonomia médica no exercício da profissão, respeitando também seus pacientes e as regras estabelecidas pelas entidades médicas, mas com o objetivo de ‘traduzir e facilitar’ o conhecimento gerado lá fora para os médicos que participam dos nossos eventos. Assim, antecipamos informações que talvez levassem anos para chegar a esses profissionais, que, em sua maioria, fazem suas atualizações científicas e educacionais em congressos médicos nacionais e internacionais, construídos e formatados pelas sociedades médicas, com o apoio logístico do segmento industrial farmacêutico, sendo natural, portanto, que os temas discutidos girem muitas vezes em torno de propostas terapêuticas envolvendo novos medicamentos. Reside aí a grande diferença do que trazemos em nossos programas educacionais, em que focamos o que pode e deve ser feito ‘antes’ da terapia medicamentosa, quando esta ainda não se faz necessária. E quando o medicamento é necessário, como melhorar sua ação e reduzir seus riscos a partir de melhorias orgânicas e metabólicas advindas de algumas suplementações, reordenamento nutricional e mudança de estilo de vida, sempre sob orientação médica e de outros profissionais de saúde, pois se trata de um modelo multidisciplinar. São métodos complementares, cada qual com sua abordagem específica e sua importância, uma vez que disseminamos um modelo de prevenção e saúde,”, comenta Avellar. Hoje, o Grupo LS oferece mais de 500 horas/aulas anuais em cursos, sendo que o de Pós-graduação Lato Sensu hoje conta com quatro turmas,

Inovação em ciência tecnológica Uma das marcas do Grupo Longevidade Saudável, desde sua criação, sempre foi estar à frente de seu tempo. Dentro dessa perspectiva, o grupo tornou-se, há dois anos, parceiro na empresa de base tecnológica IVC Health Diagnósticos, que tem como fundadores professores da Universidade Federal de Minas Gerais das áreas de Toxicologia e Bioquímica. A empresa está situada na Incubadora de Empresas Habitat, gerida pela Biominas Brasil. Na IVC Health, são realizados o diagnóstico de perfil inflamatório (Inflamograma) e perfil metabólico, que faz a avaliação do estresse oxidativo gerado por suplementos proteicos e vitaminas e da idade biológica metabólica, além da análise precoce de doenças relacionadas ao envelhecimento. Já os Inflamogramas avaliam a existência e o grau da inflamação crônica subclínica, antes que surjam as doenças a ela associadas. Para tanto, são usados alguns biomarcadores inflamatórios, entre as interleucinas, a lipoproteina fosfolipase A2, a lipoproteina A o fator de necrose tumoral alfa. “Os biomarcadores inflamatórios são importantes e valiosas ferramentas de aplicação clínica, sendo usados não só na identificação precoce de diversas doenças relacionadas ao envelhecimento, mas também no prognóstico evolutivo e no seu controle, muitas vezes podendo evitar ou reduzir desfechos mais graves”, ressalta Carlos Avellar. Vale lembrar que a IVC Health foi estruturada com aporte financeiro do Criatec, um fundo de investimentos de capital semente destinado à aplicação em empresas emergentes inovadoras, o qual tem como investidor majoritário o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

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sendo duas em São Paulo, uma em Brasília e a outra no Recife. E para melhor atender aos médicos já formados, bem como demais profissionais da área médica que querem conhecer o tema da Fisiologia Hormonal e se aprofundar nele, foi criada, há dois anos, a Academia da Longevidade Saudável. A entidade funciona como um braço científico do grupo e tem ainda como missão estreitar a relação e a comunicação com o público da área médica. “O grau de excelência do conteúdo passado pela Academia da Longevidade Saudável tem permitido aos

Hoje, o Grupo LS oferece mais de 500 horas/aulas anuais em cursos, sendo que o de Pós-graduação Lato Sensu hoje conta com quatro turmas, sendo duas em São Paulo, uma em Brasília e a outra no Recife 56 | Revista Longevidade em Foco

nossos médicos estarem no mesmo nível de profissionais estrangeiros, ou até superior, pois está alinhado ao conhecimento adquirido graças a recentes avanços científicos. Tudo dentro da realidade brasileira, para que o médico possa colocar o que aprende em sua prática diária, beneficiando com segurança seus pacientes. Os avanços da biotecnologia, da biologia molecular, da área diagnóstica e da genética estão ao alcance de todos, bastando que estejamos abertos aos novos conhecimentos, à velocidade da informação e desprovidos de preconceitos ou de ideias preconcebidas que se recusem a aceitar o processo evolutivo em que estamos inseridos”, diz Avellar.

Novidades do Grupo Longevidade Saudável para 2015 Sempre atento à demanda constante, hoje existente, por mais conhecimento, informações e atualização profissional por parte dos médicos que trabalham com o conceito defendido pelo LS – de uma Medicina que tem como base a Fisiologia e vê o paciente como um todo – o grupo passa a oferecer este ano novos serviços. Um deles é a criação de um módulo internacional dentro do curso de pós-graduação. “O objetivo é trazermos professores internacionais de renome, pesquisadores e especialistas de diferentes áreas, para compartilharem com nossos alunos seus conhecimentos. E o primeiro evento será realizado no próximo mês de abril, em Brasília. O módulo é aberto aos alunos das quatro turmas hoje existentes e ex-alunos interessados também podem participar, num programa de reciclagem”, explica o diretor executivo. Dentro do projeto de investir em educação médica continuada de excelên-

cia, o Grupo Longevidade Saudável inicia em 2015 uma nova pós-graduação, que tem como público-alvo os médicos focados em prevenção e saúde, sob a ótica da aplicabilidade clínica. O corpo docente será multidisciplinar, composto por profissionais com profundo conhecimento técnico e comprovada prática clínica, nas áreas de Nutrologia, Nutrição, Fisiologia Hormonal, Ortomolecular e Fisiologia do Esporte. A pós-graduação, denominada Ciência dos Alimentos e Fisiologia Nutricional, tem em sua matriz curricular um modelo de ensino do alimento sob os aspectos físico-químico, microbiológico e nutricional, da produção ao consumo. “O curso vai permitir ao participante aprofundar seu conhecimento e perceber cada vez mais a sinergia entre Nutrição, Fisiologia, Nutrologia e Medicina Ortomolecular, para o acompanhamento sistêmico e multifatorial da saúde humana, a partir da otimização metabólica e produção de energia. A base do curso é a fisiologia, mas com vistas à proposta de observar o paciente como um todo, dentro da visão da medicina integrativa”, explica Avellar. As aulas da nova pós-graduação têm início no Recife, mas já estão sendo planejadas turmas nas cidades de São Paulo e Brasília. Outra novidade é a criação de outros dois cursos de extensão e pós-graduação, voltados para nutricionistas, fisioterapeutas, biólogos, farmacêutico e fisiologista do esporte. “Existe hoje uma demanda reprimida por parte desses profissionais, que precisam estar preparados para entenderem o acompanhamento médico preconizado ao paciente, dentro da visão multidisciplinar que defendemos e, assim, dentro da área de atuação de cada um, potencializar os resultados clínicos dos pacientes. Por isso, vamos ofertar essas novas opções de qualificação”, diz Avellar.



Economia

O desafio da longevidade saudável Aumento da expectativa de vida em todo o mundo torna prioridade determinar se os anos a mais serão ou não com saúde

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O envelhecimento da população mundial trará cada vez mais desafios para a economia de cada país, em particular para aqueles mais pobres. A constatação é da Organização Mundial da Saúde (OMS), que alerta ainda que o envelhecimento dominará a ordem do dia das políticas de saúde nos próximos anos. Em uma série de estudos, publicados na revista médica The Lancet, a entidade diz que, dentro de cinco anos, pela primeira vez na História, o número de pessoas com 60 anos ou mais no mundo superará o de crianças com menos de cinco anos.

Ainda de acordo com os pesquisadores, nos últimos 60 anos, houve apenas um ligeiro aumento na proporção de pessoas com 60 anos ou mais, de 8% para 10%. Porém, o envelhecimento populacional será mais acentuado nos próximos anos, e, até 2050, esse grupo vai representar uma parcela de 22% da população global, com o número de idosos chegando a 2 bilhões de pessoas. No Brasil, a previsão é que o número de idosos triplique até 2050, passando de 21 milhões para 64 milhões. Seguindo essa estimativa, a proporção de pessoas mais velhas em relação ao total da população brasileira passaria de 10% para 29%, em 2050. Os cientistas responsáveis pelo estudo lembram que os avanços na medicina e o desenvolvimento socioeconômico reduziram substancialmente as taxas de mortalidade e morbidade por doenças infecciosas e, em certa medida, por doenças crônicas não transmissíveis, como osteoporose, diabetes, hipertensão arterial e doenças

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cardiovasculares, entre outras. Mas, por outro lado, as mudanças demográficas e epidemiológicas, juntamente com a rápida urbanização, a modernização e a globalização, que resultaram em mudanças no estilo de vida, aumentaram a proeminência de condições crônicas. A pesquisa, realizada pelo Multi-Country Studies (MCS, na sigla em inglês, um grupo composto por especialistas de diferentes países nas áreas de epidemiologia, medição, instrumento de desenvolvimento, gerenciamento de dados e análise), da OMS, lembra ainda que, nos países de baixa e média rendas, os serviços de saúde não estão organizados para tratar de pessoas idosas. E é justamente nesses países que os problemas de saúde dos idosos são múltiplos e crônicos, tendo como causas de óbito o câncer, as doenças respiratórias, a artrose e os problemas mentais e neurológicos.

Envelhecimento maior em países de baixa renda De acordo com o psiquiatra Somnath Chatterji, chefe do MCS, embora o número de adultos mais velhos esteja crescendo rapidamente em todo o


mundo, a taxa de crescimento é maior justamente nos países menos desenvolvidos. Por isso, a questão do envelhecimento não é mais um problema apenas para os países de alta renda. “Atualmente, cerca de dois terços dos adultos mais velhos do mundo vivem em países de baixa e média rendas”, afirma. Ainda segundo o especialista, quando a população de idosos chegar a 2 bilhões, cerca de 900 milhões estarão morando no Brasil, na China, na Índia e na Indonésia. Outros cerca de 1,6 bilhão estarão em regiões menos desenvolvidas do mundo. Para o cientista, com o aumento da expectativa de vida em todo o mundo, torna-se uma prioridade determinar se os anos a mais que estão sendo adicionados serão anos saudáveis ou serão com saúde debilitada. Ele lembra que dados do Global Burden of Disease 2010 mostram que, entre 1990 e 2010, houve um incremento na expectativa de vida, porém a expectativa de vida saudável aumentou mais lentamente, com relativamente pouco progresso na redução dos impactos na saúde de doenças não fatais. O especialista lembra ainda que o Estudo Global do Envelhecimento e da Saúde do Adulto (Sage, na sigla em inglês), da OMS, revela um declínio significativo na saúde ao longo do tempo de vida, sendo que as mulheres e pessoas mais pobres estão em piores condições de saúde, em todas as idades. O Sage é um estudo longitudinal, usando informações de adultos com 50 anos ou mais, que depois são comparadas com informações de pessoas entre 18 e 49 anos. Participaram do estudo 40 mil pessoas de China, Gana, Índia, México, Rússia e África do Sul.

“Os estudos mostram que as doenças crônicas são extremamente prevalentes. Fatores de risco, como tabagismo, atividade física inadequada, obesidade e hipertensão, são muito comuns. E a falta de saúde é associada com o declínio do bem-estar subjetivo e com a redução das redes sociais dos indivíduos. Defendo que há pouca evidência de um envelhecimento saudável nessas populações. Há uma necessidade urgente de dados e metodologias que possam identificar como fatores sociais, biológicos e outros contribuem separadamente para o decréscimo da saúde enfrentado por homens e mulheres, à medida que envelhecem. Precisamos de medidas para resolver as estruturas sociais e práticas institucionais que impactam de forma injusta a saúde dos homens e mulheres mais velhos”, diz o cientista.

Situação no Brasil Com relação ao Brasil, levantamento apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) é preocupante: 36,5% das pessoas hoje com mais de 50 anos apresentam algum tipo de incapacidade funcional ou dificuldade para realizar tarefas simples, como atravessar a rua ou subir escadas. Em termos de comparação, vale lembrar que, na Inglaterra, por exemplo, o percentual é de 23%. A questão da incapacidade funcional é preocupante porque se estima que, em dez anos o país terá aproximadamente 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade, alcançando a sexta colocação no ranking mundial de países mais longevos. Quer dizer: mais idosos, porém com possíveis problemas de saúde e autonomia. E vale lembrar que a deficiência na capacidade funcional representa elevado custo para os serviços de Saúde.

Segundo a OMS, em países de baixa e média rendas os serviços de saúde não estão organizados para tratar de pessoas idosas Para Vinícius Botelho, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as atuais políticas públicas de saúde voltadas para a prevenção de doenças não são suficientes para aumentar a qualidade de vida nesses anos a mais. O economista defende a necessidade da adoção de um modelo de saúde que priorize práticas médicas que ajudem a evitar as doenças que vêm com a idade e lembra que cuidar de uma população idosa saudável é diferente de cuidar de uma população doente. Além disso, segundo Botelho, é preciso planejar ações voltadas para a prevenção dos fatores de risco, como o sedentarismo e a má alimentação, além de investimentos na qualificação da atenção e da assistência aos pacientes.

Adoecendo cedo A primeira edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), identificou que 39,3% dos brasileiros adultos, com 18 anos ou mais, foram diagnosticados com, pelo menos, uma de 11 doenças crônicas não transmissíveis pesquisadas, entre elas o câncer, a depressão, o diabetes, a hipertensão, problemas cardiovasculares, a asma e a insuficiência renal.

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Depressão: um problema mental ou físico? Neurocientista propõe que conceito da patologia seja revisto para doença infecciosa, mas não contagiosa

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Diversos estudos realizados por cientistas de diferentes instituições mundiais já mostraram que a inflamação crônica subclínica é um dos agentes centrais no processo de envelhecimento. Esse tipo de inflamação está relacionado a doenças como a aterosclerose, diabetes tipo 2, câncer, obesidade, artrite, fibromialgia, hipertensão arterial e Alzheimer. E nos últimos anos vem surgindo um número cada vez maior de cientistas que dizem que a depressão é outra patologia que resulta da inflamação causada pelo sistema imunológico do organismo.

O neurocientista George Slavich, chefe de neurocirurgia na Universidade de Toronto, no Canadá, estuda a depressão há vários anos e chegou à conclusão de que a doença tem tanto a ver com o corpo com a mente. O pesquisador diz que não trata mais a depressão como uma condição psiquiátrica. “Ela envolve a psicologia, mas também envolve partes iguais de biologia e saúde física”, diz. Segundo o pesquisador, proteínas chamadas citocinas, produzidas em resposta a microrganismos e outros antígenos, instigam o organismo a abrandar, numa reação natural de proteção, seja para evitar mais danos, para conservar a energia necessária para combater uma infecção, ou para evitar o contágio a outros. Mas o excesso de citoninas no organismo leva à depressão. Segundo o neurocientista, a depressão maior é conhecida por ser acompanhada de uma ativação das respostas imunoinflamatórias. E pacientes com episódios de depressão apresentam uma alta concentração de citocinas no organismo, além do aumento no número de leucócitos sanguíneos periféricos e outros fatores, como a elevação na concentração plasmática de proteínas de fase aguda. Assim, o aumento na produção de citocinas pró-inflamatórias e o desequilíbrio na resposta das células Th1/Th2, envolvidas no sistema imunitário, podem desempenhar um papel relevante na fisiopatologia da depressão. O pesquisador lembra ainda que estudos já mostraram que pessoas que sofrem de trantorno bipolar, que se caracteriza por oscilações de humor, entre a euforia e a depressão, apresentam baixa concentração de citocinas, quando em remissão, o que reforça a tese de a depressão é ser um fenômeno psiconeuroimunológico. Outros indícios dessa relação entre a inflamação e o distúrbio psicológico foram observados em pacientes com doenças inflamatórias, como a artrite reumatoide. De acordo com o neurocientista, esses pacientes tendem a sofrer mais do que a média com a depressão. Já pacientes com câncer que fazem uso do medicamento

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Interferon alfa, que aumenta a resposta inflamatória do organismo, para ajudar a combater o câncer, muitas vezes tornam-se deprimidos.

Proposta de revisão de conceito Exemplo disso é um estudo publicado em dezembro no Biology of Mood & Anxiety Disorders. O autor, o neurocientista Turhan Canli, propõe a revisão do conceito da depressão para doença infecciosa, mas não contagiosa. Em seu estudo, ele lembra que, apesar de décadas de esforços substanciais de investigação, o transtorno depressivo maior (MDD na sigla em inglês) permanece entre os transtornos mentais mais comuns, com uma taxa de prevalência acumulada de 16,6%. Ele lembra que as abordagens de tratamento farmacológico, com o objetivo de disponibilizar maior quantidade de neurotransmissores, em particular a serotonina, noradrenalina e/ou dopamina, não mudaram durante esse período. Porém, os antidepressivos podem trazer alívio para pacientes com sintomas graves, mas não são clinicamente mais eficazes do que placebos em casos leves e moderados. “Com efeito, as taxas de recorrência de 50% para pacientes com primeiro episódio e de 80% para os pacientes com segundo episódio sugerem que o núcleo da doença não é tratado”, diz ele em seu artigo. Dado esse histórico, o especialista argumenta que é hora de uma abordagem totalmente diferente. Em vez de conceituar a depressão maior como um transtorno emocional, ele sugere renomear o problema como uma forma de uma doença infecciosa.

Ensaios clínicos com adição de anti-inflamatórios E se a depressão tem como um dos fatores causais a inflamação, a boa notícia é que já vêm sendo realizados ensaios clínicos em que os pacientes, além do antidepressivo, recebem anti-inflamatórios durante o tratamento da doença. Um desses estudos foi publicado no jornal Nature por pesquisadores do Hospital de Psiquiatria e Psicoterapia Ludwig-Maximilians, da Universidade de Munique, na Alemanha. Durante a pesquisa, uma parte dos pacientes recebeu o medicamento Celecoxibe, um anti-inflamatório não esteroide usado no tratamento de doenças como a osteoartrite,

artrite reumatoide e outras patologias. E, no final, os cientistas concluíram que unir antidepressivos e anti-inflamatórios não só melhora os sintomas, mas também aumenta a proporção de pessoas que respondem ao tratamento.

Doença multifatorial Para o diretor científico do Grupo Longevidade Saudável, Dr. Ítalo Rachid (Cremesp 114612), a depressão tem a inflamação como um de seus componentes, mas esse não é o único. Ele lembra que outros fatores envolvidos são o intenso desequilíbrio da flora intestinal, que pode baixar os níveis de serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar. De acordo com o especialista, 90% da produção da serotonina ocorre no intestino e, quando a pessoa sofre de disbiose intestinal, por exemplo, há uma queda na produção da substância. Vale lembrar que as causas da disbiose intestinal podem ser divididas em dois grupos. Um deles é o de causa medicamentosa, que inclui o uso indiscriminado de antibióticos e de anti-inflamatórios, que provocam alteração da flora intestinal; e o uso abusivo de laxantes, que “varrem” as bactérias benéficas do intestino. A outra causa é ambiental ou fisiológica, ou seja: fatores que influenciam a nossa microbiota intestinal. Isso pode ser resultado da qualidade de vida levada pelo indivíduo, tendo como fatores o estresse, uso abusivo de álcool e cigarro, alergias alimentares e dieta inadequada, entre outros. “A depressão é um processo multifatorial. E podemos dizer, com certeza, que o paciente com depressão jamais ficará curado tomando apenas antidepressivos”, diz o Dr. Rachid.

Biomarcadores inflamatórios Com relação à inflamação, a boa notícia é que é possível avaliar a existência e o grau da condição, antes que surjam as doenças a ela associadas. Os biomarcadores inflamatórios permitem a detecção precoce de doenças ainda na fase subclínica, ou seja, antes que apareçam os sintomas e sinais da patologia. Os biomarcadores inflamatórios são considerados importantes e valiosas ferramentas de aplicação clínica, sendo usados na identificação precoce de doenças, prognóstico evolutivo e no controle de cura de numerosas doenças. Entre as substâncias usadas como biomarcadores inflamatórios estão as citocinas/quimicionas, a insulina de jejum, a homocisteína, a proteína C reativa ultrassensível, interleucinas 6 e 10 e o fator de necrose tumoral alfa, entre outras.

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EUA adotam novas medidas para conter o avanço da obesidade Estabelecimentos terão que informar total de calorias em alimentos e bebidas à venda

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País com a maior taxa de obesidade do mundo – pelo menos, uma pessoa em cada cinco é obesa, segundo pesquisas recentes –, os Estados Unidos vêm travando uma grande batalha para incentivar a população a adotar hábitos mais saudáveis. Uma das medidas mais recentes foi adotada pelo FDA (Food and Drug Administration, órgão do

governo que fiscaliza e regula a produção e venda de alimentos e medicamentos) e tem como objetivo levar o consumidor a uma alimentação consciente. Para tanto, o órgão criou novas regras que determinam que restaurantes, supermercados, fast food, lojas de conveniência (incluindo bombonnières nos cinemas, que vendem pipocas, doces e refrigerantes) e máquinas de venda auto-

mática informem o total de calorias em cada item à venda. A informação deve ser exibida de “forma clara, coerente e visível” e, além do total de calorias nos alimentos e em algumas bebidas alcoólicas, menus e placas de menu (como aquelas que ficam expostas na entrada dos restaurantes), também terão que exibir a mensagem: “O aconselhamento nutricional geral é de consumo diário de 2 mil calorias, mas as necessidades calóricas variam.” O objetivo, de acordo com o órgão, é ajudar os consumidores a entender o significado das informações sobre o total de calorias dentro do contexto de uma dieta diária total. As novas regras foram publicadas no final do ano passado e entram em vigor este ano, quando acaba o prazo dado pelo órgão para adequação dos estabelecimentos. Margaret Hamburg, comissária da FDA, diz no site do órgão que, “entre comida e bebidas, os americanos consomem cerca de um terço do total ideal de calorias diárias longe de casa e precisam de informações claras sobre os produtos que consomem”. Ainda segundo a comissária, “tornar as informações de calorias

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disponíveis em cardápios de restaurantes, máquinas de venda automática e demais estabelecimentos é um passo importante para a saúde pública, que irá ajudar os consumidores a fazerem escolhas para si e suas famílias”. De acordo com o FDA, estudos mostram que, além de levar as pessoas a fazerem escolhas mais saudáveis, as novas regras vão incentivar os restaurantes a reverem os menus, para reduzir o teor de calorias de seus alimentos. O país já conta com o 1990 Nutrition Labeling and Education Act, a lei que estabelece a rotulagem nutricional na maioria dos alimentos processados, porém a norma não prevê a informação do total de calorias dos alimentos em pontos de venda, como restaurantes, por exemplo, ou padarias, que vendem produtos prontos para consumo – do café com leite ao croissant, por exemplo.

As novas regras também preveem que os estabelecimentos ofereçam aos consumidores outras informações nutricionais, como o total de calorias provenientes de gordura e o total de gordura saturada e gordura trans, sódio, carboidratos, fibras, açúcares e proteínas. Essas informações devem estar disponíveis para clientes que fizerem um pedido por escrito. E para informar o consumidor, os estabelecimentos terão que colocar um comunicado, em seus cardápios e placas de menu, sobre a disponibilidade dessa informação nutricional adicional, mediante solicitação.

Primeira-dama faz campanha contra obesidade infantil E a primeira-dama Michelle Obama também vem atuando no combate à obesidade. Há cerca de quatro anos,

Empresas incentivam funcionários a perder peso Reportagem publicada pelo The Wall Street Journal em janeiro deste ano mostrou que o custo para as empresas, em razão da obesidade de funcionários, é de mais de US$ 73 bilhões por ano. Para reverter o quadro, muitas companhias estão adotando ações para incentivar seus funcionários a emagrecer. Além de alimentos saudáveis em seus refeitórios e de negociar descontos com academias de ginástica, as companhias estão oferecendo a seus empregados wearable devices (dispositivos vestíveis, em tradução livre), monitores de desempenho físico para serem usados no corpo. Outra aposta são a cobertura de cirurgias e a terapia psicológica, para tratar emoções que podem estar por trás das questões alimentares. A rede de lojas de varejo L.L. Bean, por exemplo, após realizar exames biométricos em funcionários do Departamento de Serviço de Atendimento ao Cliente, verificou que cerca de 85% dos empregados estavam acima do peso ou obesos. E inscreveu 24 deles em um programa piloto, com um ano de duração, com exercícios, acompanhamento nutricional e terapia emocional. Tudo durante o horário de trabalho. No final do período, os participantes haviam perdido, em média, 6,8 kg. Desde então, a empresa implantou uma versão de 16 semanas do programa em outras áreas, obtendo resultados similares.

ela lançou uma campanha nacional contra a obesidade infanto-juvenil, chamada Let’s Move! (Vamos Nos Mover!, em tradução livre). A campanha tem como objetivo aumentar o valor nutritivo de refeições escolares e melhorar o acesso a alimentos saudáveis em áreas mais pobres. Há dois anos, a ação liderada pela primeira-dama ganhou novo contorno, passando a focar também o incentivo à atividade física nas escolas. A campanha Escolas Ativas foi criada por meio de uma parceria entre o poder público e a iniciativa privada, com investimento de US$ 150 milhões. O objetivo é que 50 mil escolas, até 2018, em todo o país, dediquem, pelo menos, uma hora por dia à educação física dos alunos. Mas, apesar dos esforços da Casa Branca, o número de obesos nos EUA continua aumentando. Estudo apresentado no segundo semestre do ano passado pelas organizações Trust for America’s Health e pela Fundação Robert Wood Johnson, com base em dados do governo federal americano, mostra que a taxa de obesidade entre adultos é a mais alta da História.


Praticar ioga ajuda a proteger o coração e ainda traz outros benefícios para a saúde

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Fazer ioga pode ser uma boa maneira de se proteger contra doenças cardíacas, especialmente para quem não pode fazer exercícios pesados. É o que mostrou recente pesquisa feita na Holanda, por cientistas da Erasmus University Medical Center, em Rotterdã. Eles revisaram 37 estudos feitos anteriormente, envolvendo cerca de 3 mil pessoas, e chegaram à conclusão de que a atividade está associada a uma redução de fatores de risco cardíaco, como pressão arterial elevada e colesterol. Segundo os pesquisadores, que publicaram o trabalho no European Journal of Preventive Cardiology, embora não exija força física demasiada, como uma atividade aeróbica de intensidade moderada, como recomendam as autoridades médicas para proteger coração e pulmões, a ioga demonstrou benefícios significativos. Quando comparada a atividades como caminhada rápida ou corrida, segundo os cientistas holandeses, a atividade demonstrou os mesmos benefícios. Uma das vantagens apontadas pelos especialistas é o efeito calmante do exercício, uma vez que o estresse tem sido associado a doenças cardíacas e pressão arterial elevada.

Prática também ajuda a fortalecer sistema imunológico, manter a produção hormonal e melhorar o sono

“Os benefícios da prática da ioga são decorrentes de trabalhar os músculos e a respiração, o que pode trazer mais oxigênio para o corpo, levando a uma menor pressão arterial”, explica o cardiologista Jorge Elias Neto (Cremesp 25742), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O especialista lembra que outro estudo anterior, realizado por pesquisadores do Hospital Universitário de Kansas, em Kansas City, nos Estados Unidos, já havia mostrado que, além de reduzir a pressão arterial e níveis de colesterol elevados, a ioga também pode reduzir à metade o risco de batimentos cardíacos irregulares da fibrilação atrial, problema que é a principal causa de acidente vascular cerebral (AVC) e é mais comum em idosos. Nessa pesquisa, os cientistas mostraram que, além de reduzir pela metade os episódios de fibrilação atrial, a ioga também reduziu os sintomas de ansiedade e depressão relacionados à condição. O estudo envolveu 49 pacientes com o distúrbio do ritmo cardíaco, que não tinham limitações físicas e nenhuma experiência prévia com a ioga. Os episódios de batimentos cardíacos irregulares foram medidos por um período de seis meses por pesquisadores do hospital. Nos primeiros três meses, os pacientes foram autorizados a participar de outras atividades, de que eles gostavam. Nos outros três, eles foram submetidos a um programa supervisionado de ioga, que envolveu exercícios de respiração, posturas de ioga, meditação e relaxamento. Nesse período em que foram submetidos à prática, os episódios de batimentos cardíacos irregulares caíram pela metade. Além disso, os pesquisadores perceberam a redução de depressão e ansiedade, melhoramento da condição do funcionamento físico e vitalidade. “A prática regular da ioga traz outros benefícios, como regulação do sistema respiratório, melhora do sono, equilíbrio da produção hormonal, fortalecimento do sistema imunológico e aumento da capacidade de concentração e criatividade, entre outros”, atesta o cardiologista.

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Doenças crônicas não transmissíveis: uma epidemia global

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou a alertar para a necessidade de uma ação urgente por parte dos governos dos países para conter a epidemia global de mortes por doenças crônicas não transmissíveis. Segundo relatório do órgão, divulgado em janeiro, anualmente, 16 milhões de pessoas morrem prematuramente - antes da idade de 70 anos – em todo o mundo por causa de doenças cardiovasculares e pulmonares, acidente vascular cerebral, câncer e diabetes. A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, aproveitou o lançamento do Global Status Report on Noncommunicable Diseases 2014 (Relatório Mundial sobre doenças não transmissíveis 2014”, em tradução livre), para afirmar que, investindo apenas entre 1 e 3 dólares por pessoa por ano, os países podem reduzir o número de novos casos de doença, bem como o total de mortes. De acordo com o relatório, o total de mortes por doenças não transmissíveis, em países de baixa e média rendas, já ultrapassa o número por mortes por doenças infecciosas. O estudo aponta que quase 3/4 de todas as mortes por doenças não transmissíveis no mundo estão concentradas nesses países. “O mundo atual possui o conhecimento e os recursos para alcançar

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as metas globais de redução em 25% no número de mortes por doenças não transmissíveis até 2025. Se perdermos essa oportunidade de definir metas nacionais em 2015 e trabalhar no sentido de alcançar nossos objetivos, não vamos conseguir resolver um dos principais desafios para o desenvolvimento do século 21”, alertou o Dr. Oleg Chestnov, diretor-geral assistente da OMS para as Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental. O relatório da OMS afirma que o número de mortes prematuras por doenças não transmissíveis pode ser significativamente reduzido por meio de políticas governamentais contra o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, as dietas pouco saudáveis e o sedentarismo, além da criação de serviços universais de cuidados com a saúde. O documento cita como exemplo de política pública o Brasil, onde a taxa de mortalidade vem caindo de 1,8% ao ano, em parte devido à expansão da atenção primária à saúde. Outro país citado pela organização, por ter adotado intervenções para atender às metas globais de combate às doenças não transmissíveis, é a Hungria. O país aprovou uma lei criando impostos para insumos de alimentos e bebidas com alto risco para a saúde, como o açúcar, o sal e a cafeína. Um ano depois da entrada

da lei em vigor, 40% dos fabricantes mudaram a fórmula de seus produtos, para reduzir os ingredientes passíveis de tributação.

No Brasil, doenças são responsáveis por 70% das mortes Mas, apesar de o Brasil ser citado pela OMS como um dos países que vêm “fazendo seu dever de casa” em relação ao combate às doenças crônicas, a primeira edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada no final de dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com a Fiocruz, revelou que, em 2013, cerca de 40% dos brasileiros adultos, com 18 anos ou mais, tinham, pelo menos, uma doença crônica não transmissível. A pesquisa foi feita a partir da visita a 80 mil residências, em 1,6 mil cidades, e mostrou que quase 58 milhões de pessoas adultas foram diagnosticados com, pelo menos, uma de 11 doenças crônicas não transmissíveis, como asma, câncer, diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares, insuficiência renal, problemas na coluna ou depressão. De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), essas doenças respondem por mais de 70% das mortes no país.


em todo o mundo, passando de 14 milhões para 22 milhões. E as razões são o aumento da expectativa de vida e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis, como falta de atividade física, tabagismo, baixo consumo de frutas e verduras e consumo exagerado do álcool”, adverte.

Tabaco é um dos principais vilões

Para se ter uma ideia, a hipertensão arterial é a doença mais prevalente entre os brasileiros. Segundo a PNS, 31,3 milhões de pessoas já foram diagnosticados com o problema. Já o total de pessoas com problemas de coluna chega a 27 milhões, enquanto 2,2 milhões já sofreram um AVC. Com relação à depressão, a doença foi confirmada por um profissional de saúde mental em 11,2 milhões de adultos, o que correspondeu a 7,6% de pessoas com 18 anos ou mais. Já no caso do câncer, o diagnóstico foi positivo para 1,8% da população adulta (2,7 milhões de pessoas). Segundo o cirurgião médico Antônio Joaquim de Castro (CRM RJ 29968-1), mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz, as doenças crônicas não transmissíveis

são resultado de múltiplos fatores relacionados, principalmente, à condição de saúde e aos hábitos de vida. “O sedentarismo, o estresse, a alimentação inadequada, o tabagismo e o alcoolismo são alguns dos riscos comportamentais para essas doenças”, comenta o Dr. Castro, que ressalta que fatores genéticos também contribuem e são considerados importantes em algumas das doenças crônicas. O especialista lembra que, no caso do câncer, por exemplo, são registrados anualmente 14 milhões de novos casos e 8 milhões de mortes em todo o mundo. Mas esses números tendem a subir nos próximos anos. “Pesquisa divulgada recentemente pela OMS mostra que o número de novos casos de câncer deve aumentar 70% nas próximas duas décadas,

De acordo com dados do SUS, as doenças crônicas não transmissíveis respondem por mais de 70% das mortes no país

O médico lembra que o tabaco aparece como o principal fator de risco para o câncer, mas também está relacionado com outras doenças não transmissíveis, como a hipertensão. “O cigarro e o sedentarismo, a obesidade e o álcool são algumas das causas da hipertensão, que, por sua vez, é um fator de risco para ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais, favorecendo ainda o aparecimento de outras doenças”, explica. O médico ressalta que a obesidade em adultos está associada ao desenvolvimento de várias doenças crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares, câncer, osteoartrose (em especial dos joelhos) e doenças do trato digestivo, além de estar relacionada com a mortalidade precoce. “Entre as causas da epidemia da obesidade na sociedade atual destacam-se o sedentarismo e a dieta rica em calorias, como gorduras e açúcares”, comenta. Para quem não está acostumado a se exercitar, mas quer mudar o estilo de vida, o especialista recomenda começar com uma intensidade leve, respeitando-se os limites do corpo. “Isso ajuda a evitar lesões e diminui as chances de o indivíduo se sentir desestimulado com o exercício. Variar as modalidades também é uma medida que ajuda a espantar o desânimo”, sugere o médico.

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Substâncias em protetor solar causam queda na fertilidade

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Estudo publicado no American Journal of Epidemiology recentemente por cientistas do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos concluiu que produtos químicos usados na fabricação de protetores solares e produtos de higiene pessoal que filtram os raios UV podem levar a problemas de infertilidade entre os homens. O estudo acompanhou 501 casais das cidades de Michigan e Texas, que pararam de usar contraceptivos, entre 2005 e 2009, e queriam engravidar. Os pesquisadores coletaram amostras de urina dos casais e os fizeram manter um diário até que a mulher tivesse engravidado ou completasse um ano tentando engravidar.

Segundo a pesquisa, nos casais que levaram mais tempo para conceber, os homens tinham algo em comum: elevada concentração de benzofenona-2 ou de 4Oh-BP, dois produtos químicos encontrados em bloqueadores solares, mas também usados em hidratantes e xampus. De acordo com o trabalho, os homens com concentração mais elevada do composto apresentaram 30% menos chance de engravidarem suas parceiras dentro de um ano. Germaine Buck Louis, doutora em Epidemiologia, principal autora do

estudo e diretora da Divisão de Epidemiologia, Estatística e Investigação de Prevenção do Instituto, diz que os produtos químicos são tidos como seguros para uso na proteção da pele aos raios solares, mas os efeitos indesejáveis precisam ser estudados mais a fundo. Essa não é a primeira vez que pesquisadores relacionam o uso da benzofenona encontrada em filtros UV a problemas de saúde. Há cerca de dois anos, uma equipe da Universidade do Estado de Nova Iorque publicou, no jornal Environmental Science and Technology, o resultado de um estudo que relaciona à substância um maior risco de endometriose em mulheres. Segundo os cientistas, isso ocorre porque pequenas quantidades de benzofenona podem passar através da pele e serem absorvidas pela corrente sanguínea, onde imitam os efeitos do estrogênio, hormônio feminino de que a endometriose precisa para se desenvolver. Participaram do estudo 625 mulheres submetidas à cirurgia para endometriose. Por meio de exames de urina, os especialistas descobriram que todas tinham altos níveis de uma benzofenona específica, a 2,4OH-BP.

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Disruptores endócrinos O diretor científico do Grupo Longevidade Saudável, o ginecologista Ítalo Rachid (Cremesp 114612), lembra que, além da benzofenona, outras substâncias, como o metilparabeno, usado como conservante em medicamentos, como pomadas, e artigos de higiene pessoal, como xampu e creme dental, podem interferir no sistema endócrino, com efeitos adversos para a saúde. “Essas substâncias com comportamento estrogênico podem levar ao risco de doenças como o câncer, por exemplo”, explica o Dr. Rachid. De acordo com o especialista, no organismo, a substância, embora artificial, se liga aos receptores, impedindo o acesso dos hormônios. Com isso, o organismo passa a reduzir a produção hormonal. Toda essa situação gera alterações na função fisiológica dos hormônios e altera o funcionamento do sistema endócrino. “Mas, especificamente no caso do protetor solar, o uso do produto pode trazer outro problema grave: a queda da produção de vitamina D pelo organismo. O corpo precisa dos raios UV para produzir a vitamina, que é essencial para a saúde”, lembra. Em vários países, alguns desses produtos químicos já estão na mira das autoridades sanitárias, que querem

Embora substâncias sejam consideradas seguras para a proteção da pele aos raios solares, os efeitos indesejáveis precisam ser mais estudados proibir o seu uso. Na Europa, por exemplo, o Conselho Nórdico, órgão que representa os governos da Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia, divulgou, há dois meses, um relatório sobre o impacto econômico do uso dessas substâncias, em razão do prejuízo à saúde. O documento cita substâncias químicas encontradas em produtos de higiene, cosméticos, medicamentos, plásticos e pesticidas, estimando os prejuízos em centenas de milhões de euros por ano. De acordo com o órgão, as perdas detectadas representam apenas uma fração das doenças relacionadas com o sistema endócrino. O Conselho exigiu que a União Europeia acelere seu plano para identificar, avaliar e proibir os disruptores endócrinos prejudiciais.

OMS diz que faltam informações Há cerca de dois, anos a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas publicaram também um trabalho sobre o assunto, que concluiu que pessoas de todo o mundo estão

sendo expostas aos disruptores endócrinos, por meio de formas diversas, incluindo ingestão de alimentos e água, inalação e pela pele, estando, portanto, sujeitas aos riscos associados ao uso das substâncias. De acordo com o estudo, a produção e o uso desses aditivos vêm crescendo desordenadamente ano a ano, porém pouco se sabe sobre os efeitos no organismo humano, até porque muitos produtos não são testados, em relação ao impacto na saúde do homem. Também faltam estudos sobre seus efeitos no sistema hormonal, quantidades seguras para uso e a relação desses aditivos com doenças específicas. O que se sabe é que a exposição a muitos desses químicos pode estar ligada a casos de câncer de mama, tireoide e próstata, deformações em bebês, hiperatividade em crianças, diabetes, asma, obesidade, males de Alzheimer e Parkinson, derrames e queda de fertilidade. Entre as substâncias citadas na pesquisa estão os ftalatos, usados em perfumes e produtos de higiene pessoal, como desodorantes, e o Bisfenol-A.


Proteína de beterraba pode substituir sangue Segundo pesquisadores suecos, hemoglobina do vegetal é similar à hemoglobina presente no organismo humano

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Muitos já sabem dos benefícios nutricionais da beterraba para o organismo. Mas agora cientistas da Universidade de Lund, na Suécia, estão investigando a possibilidade do uso de uma proteína encontrada no vegetal para substituir o sangue humano. Segundo os pesquisadores, a hemoglobina vegetal presente na beterraba é similar à hemoglobina presente no sangue humano. O que eles querem agora é descobrir como modificar a proteína do legume, para que ela possa ser absorvida pelo tecido humano. Segundo o doutor Leif Bülow, professor de Bioquímica Aplicada da Universidade de Lund, o sangue produzido a partir da proteína da beterraba poderia ser usado em transfusões de emergência (no caso, por exemplo, de pessoas vítimas de traumas, por acidente de carro ou baleados) ou ainda em terapias para o tratamento de câncer e doenças do sangue. O pesquisador, que há anos se dedica a pesquisar a solução para a escassez de sangue no mundo, explica que a composição química da proteína da planta tem entre 50% e 60% de similaridade com a hemoglobina humana, proteína presente nos glóbulos vermelhos e que tem como função principal transportar oxigênio para os tecidos. Ainda segundo o cientista, durante o estudo, a proteína da planta se comportou de maneira similar à hemoglobina encontrada no cérebro humano, além da estrutura similar.

A descoberta é considerada importante por cientistas de outros países, embora há algumas décadas já se saiba que algumas plantas produzem proteínas similares à hemoglobina, as leg-hemoglobinas. Essas substâncias são responsáveis por fixar o oxigênio ou nitrogênio nas plantas e têm estrutura e função muito semelhantes às da mioglobina – principal transportador intracelular de oxigênio nos tecidos musculares, além de estocar oxigênio nos músculos – e da hemoglobina.

Células sanguíneas em laboratório Outra novidade nessa área é uma pesquisa que vem sendo realizada por um grupo de universidades e órgãos do governo britânico, para produção de células sanguíneas a partir de células-tronco. Eles planejam iniciar a primeira bateria de testes com o sangue artificial em humanos no próximo ano. Uma equipe da Universidade de Edimburgo, na Escócia, encarregada pela pesquisa, vem usando uma técnica, em laboratório, que cria células do sangue a partir de células-tronco pluripotentes induzidas, também conhecidas como células iPS ou iPSCs. As células sanguíneas cultivadas em laboratório permitiriam aumentar a oferta de sangue para transfusões, o que poderia evitar problemas, como o risco de transmissão de infecções, a incompatibilidade com o sistema imunológico do receptor e a possibilidade de excesso de ferro no sangue do doador. Outra vantagem clínica, em relação ao sangue coletado em doadores, é que as células produzidas artificialmente são mais novas e têm maior longevidade. Outras instituições ao redor do mundo também pesquisam o sangue artificial, mas apenas a equipe de Edimburgo conseguiu uma eficiência de 40% a 50% na transição de células iPS para células sanguíneas.

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Guia alimentar recomenda o consumo de alimentos frescos

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O governo federal lançou um novo Guia Alimentar para a População. A novidade da publicação é que, em vez de trabalhar com grupos alimentares e porções recomendadas, a abordagem agora é mais qualitativa. A indicação é para que a alimentação na mesa dos brasileiros tenha como base alimentos frescos, como frutas, carnes e legumes, e minimamente processados, como arroz, feijão e frutas secas. Outra orientação é evitar os alimentos ultraprocessados, como pratos prontos congelados, macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote, refrigerantes e sopas liofilizadas (aquelas instantâneas, que vêm em pó na embalagem). O manual ainda aconselha moderação no uso de óleos, gorduras, sal e açúcar para temperar alimentos, e o consumo limitado de alimentos processados, como embutidos e conservas, utilizando-os, preferencialmente, como ingredientes ou parte de refeições. O novo guia foi lançado em novembro pelo Ministério da Saúde (MS), sendo que o anterior foi elaborado em 2006. Com a publicação, o governo tem como objetivo incentivar a população a adotar hábitos alimentares saudáveis e, assim, tentar evitar o avanço do sobrepeso e da obesidade no país. Vale lembrar que a mais recente pesquisa encomendada pelo MS mostra que mais da metade (50,8%) dos brasileiros estão acima do peso.

O guia também orienta as pessoas a optarem por refeições caseiras e evitarem a alimentação em redes de fast food e produtos prontos, que dispensam preparação culinária e necessitam apenas aquecer para o consumo, como é o caso de molhos para massas e misturas prontas para tortas, por exemplo. Para sobremesa, a sugestão é consumir as feitas em casa, evitando as industrializadas.

Sugestões de pratos para o dia a dia Com texto ilustrado, o documento também traz dicas de combinações saudáveis para cada refeição no dia a dia. Para o café da manhã, por exemplo, uma das sugestões é café com leite, bolo de mandioca, queijo e mamão. Já para o almoço, uma sugestão do que colocar no prato é arroz, alface, lentilha, pernil, repolho e batata. O objetivo é reforçar para o público a mensagem da importância do consumo de alimentos em detrimento de produtos. Segundo a nutróloga Maria Fernanda de Castro (CRM SP 59300), a retirada dos alimentos ultraprocessados do cardápio é algo importante para a saúde, e cada um deveria pensar sobre isso. “O consumo frequente de comida industrializada congelada faz mal à saúde, porque contém substâncias, aditivos para manter a cor e o sabor, que podem ser prejudiciais ao organismo. Além disso, esse tipo de alimento contém sódio, pode causar retenção de líquidos e aumento da pressão arterial”, lembra a especialista. A forma como o cidadão faz as refeições também tem destaque especial no novo guia alimentar. A recomendação é ter regularidade de horário e, sempre que possível, companhia. Para isso, o ideal é evitar práticas como fazer refeições assistindo à TV, falando ao celular, em frente ao computador ou ainda durante atividades profissionais. O novo guia alimentar é dirigido a famílias, profissionais de saúde, educadores, agentes comunitários e outros trabalhadores envolvidos com promoção da saúde. A versão impressa pode ser encontrada nas unidades de saúde de todo o país e a versão digital está disponível no portal do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br).

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Advanced Physiology Course: uma imersão na fisiologia hormonal, visão multidisciplinar e conhecimento avançado

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Intestino, Nosso Cérebro Metabólico. Esse foi o tema principal abordado no Advanced Physiology Course, realizado pelo Grupo Longevidade Saudável, em Muro Alto (Porto de Galinhas), em Pernambuco (PE). Ao longo de quatro dias, entre 5 e 8 de março, o evento reuniu um público formado por médicos de diferentes especialidades, que atuam em diversos pontos do país. O evento também marcou a criação da primeira seccional da Sociedade Brasileira para Estudos da Fisiologia (Sobraf). A cerimônia de fundação da unidade de apoio da Sobraf/PE ocorreu no dia 6 de março, assumindo a coordenação local o Dr. Ronald Canejo, de Pernambuco, acumulando com a coordenação local do grupo LS. Sua principal missão neste primeiro momento será sedimentar a agenda científica anual/local da Sobraf, promover a fidelização dos associados e estimular os programas de educação médica continuada, visando à padronização de condutas e diretrizes científicas estabelecidas e validadas pela Sobraf. Essa foi a terceira edição do Advanced Physiology Course, evento que oferece aos participantes um conhecimento avançado sobre Fisiologia Hormonal e Medicina Integrativa e Preventiva, a partir de uma visão multidisciplinar. As palestras ficaram a cargo de professores de renome, tendo como tema principal a fisiologia do trato gastrointestinal, visto sob a visão hormonal (Dr. Ítalo Rachid), Nutricional (professora Denise Carreiro), aspectos genéticos (professor Marcelo Ladeira) e, por fim, também uma visão da prática ortomolecular. O evento, realizado no Beach Class Resort, contou com um atrativo à parte: a programação científica foi elaborada de modo a também valorizar os momentos com a família e os amigos, além do bem-estar físico dos participantes. Ademais da atividade física, sob a orientação de fisiologista, os participantes puderam estar presentes a atividades esportivas e aventura, como o Off Road Longevidade Saudável, e de momentos de lazer e descanso.

“O Advanced Physiology Course é um curso diferenciado e único dentro do nosso calendário de eventos. Ele reúne propostas inovadoras e oferece um conhecimento avançado em fisiologia, sempre com visão multidisciplinar, não só para os médicos que concluíram o curso introdutório e buscam se aprofundar no assunto, mas também para os médicos pós-graduados ou que estejam cursando a pós-graduação em uma das turmas Lato Sensu – Master em Ciências da Fisiologia Humana, do Grupo Longevidade Saudável”, explica o diretor executivo do LS, Carlos Avellar. A próxima edição do Advanced Physiology Course será realizada em Gramado (RS), em junho de 2016.

Primeira unidade regional de apoio da Sobraf Fundada há cerca de dois anos e meio, a Sobraf passou a contar com sua primeira representação regional, a Seccional/PE. Será dada continuidade ao trabalho da entidade no Estado, que conta com mais de 100 médicos atuantes e que trabalham dentro da ótica de um modelo de saúde e bem-estar que preconiza a medicina preventiva, visando a uma longevidade mais saudável aos pacientes. A Sobraf foi criada com a missão de promover e fomentar o conhecimento relativo à Fisiologia Humana, contribuindo para a propagação de práticas de prevenção em saúde. Para tanto, reúne, hoje, mais de 300 associados, que são profissionais que exercem atividades afinadas com sua missão: realizar periodicamente eventos para debater e divulgar as atualizações científicas e demais temas objetos de seus estudos. Nestes mais de dois anos de atuação, a entidade já realizou eventos como o I Encontro de Qualidade de Vida, em outubro do ano passado, e o I Congresso Internacional da Sobraf, em 2013, evento que ocorrerá em sua segunda edição em outubro de 2015, em São Paulo, o qual já está com as inscrições abertas.

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Cientistas dão importante passo para desvendar a perda da memória

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Uma equipe internacional de cientistas, entre eles pesquisadores da Faculdade de Medicina e do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, em Portugal, conseguiu um importante avanço na compreensão científica da origem dos distúrbios da memória. Segundo o estudo feito pelo grupo, que, além de portugueses, contou com cientistas da Holanda, dos Estados Unidos e da China, os receptores A2A para a adenosina – neurotransmissor que atua como sinal de estresse no funcionamento de vários sistemas do organismo, especialmente no cérebro – têm um papel crucial no surgimento da perda da memória. A pesquisa, publicada no jornal Molecular Psychiatry, uma das principais publicações na área da Psiquiatria, permitiu verificar, pela primeira vez, que o funcionamento em excesso dos receptores A2A, localizados na membrana dos neurônios, é suficiente para causar os distúrbios na memória. Mais de 20 cientistas participaram da pesquisa, que foi feita em laboratórios com uso de cobaias. Para conseguir a máxima precisão na informação sobre o comportamento dos animais durante as experiências, os cientistas da Universidade de Coimbra desenvolveram um dispositivo inovador que, com o uso da optogenética (técnica que combina feixes de luz, genética e bioengenharia, para estudo de circuitos neuronais), permitiu ativar o receptor de adenosina e observar o comportamento dos circuitos neuronais.

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“Pudemos observar no exato momento em que os modelos animais desempenhavam tarefas de memória que a ativação intensa do receptor A2A era suficiente para provocar danos no circuito e gerar dificuldade em recordar”, explicou aos jornalistas o cientista Rodrigo Cunha, professor da Universidade de Coimbra e coordenador da equipe portuguesa. De acordo com o pesquisador, a descoberta pode ser determinante para tratar doenças como o Alzheimer, que se caracteriza pela perda de memória. “Se a simples ativação do receptor A2A é suficiente para causar distúrbios na memória, é possível desenvolver bloqueadores seletivos para esse receptor”, disse.

Respostas imunológicas cerebrais Um outro estudo recente sobre o mal de Alzheimer, feito por uma equipe da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, mostrou que a doença poderia ser evitada e até curada por meio de impulsos nas respostas imunológicas do cérebro. Esses impulsos manteriam em operação as células responsáveis pela limpeza do cérebro contra bactérias, vírus e corpos estranhos perigosos que matam as células nervosas. As células, chamadas micróglias, segundo os pesquisadores, funcionam bem quando as pessoas são jovens, mas, quando envelhecemos, uma

proteína chamada EP2 faz com que elas parem de funcionar de forma eficiente. Durante a pesquisa, publicada no Journal of Clinical Investigation, os cientistas testaram em ratos o bloqueio da proteína EP2. Segundo a Dra. Katrin Andreasson, professora de neurologia e ciências neurológicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Standford, no teste com ratos jovens, as micróglias mantiveram o seu funcionamento normal. Já nos ratos mais velhos, a proteína EP2 conseguiu parar as células. Então, alguns dos animais foram geneticamente manipulados para não ter a EP2, e, assim, o Alzheimer não se desenvolveu. Nos casos em que a doença já tinha sido diagnosticada, ao se bloquear a proteína, o resultado foi o de reversão da perda de memória.




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