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UM DERMATOLOGISTA INCANSÁVEL
Exímio aluno de Matemática, o jovem Sebastião de Almeida Prado Sampaio queria mesmo era ser engenheiro. Mas mudou os planos para realizar o sonho da mãe, que desejava um filho médico. Sua energia inesgotável levou um de seus colegas da Faculdade de Medicina da USP a lhe dar o apelido de “mosquito elétrico”. “Magro, alto e muito agitado, ele dizia que só se sentia vivo depois de tomar café – o que, em seu caso, queria dizer beber pelo menos duas xícaras de chá com a bebida”, conta o Dr. João Roberto Antonio. A Drª Alice de Oliveira de Avelar Alchorne, que foi residente do Prof. Sampaio no HC, lembra que, para avançar mais rápido pelos corredores do hospital, ele costumava andar em ziguezague. “Eu até segurava o passo para não ficar em seu caminho” lembra.
Na década de 50, o Prof. Sampaio fez um estágio na Mayo Clinic, nos Estados Unidos, e foi convidado para continuar trabalhando naquele país. Mas preferiu voltar para o Brasil a fim de praticar aqui o que aprendeu por lá, mudando completamente os contornos da Dermatologia nacional que, na época, seguia o tradicional modelo francês. “Nos Estados Unidos, os pacientes eram visitados todos os dias pelo corpo médico da clínica, recebendo tratamento altamente eficaz. Os casos mais complexos eram mandados para discussão e, quando chegava o fim do dia, o assistente acompanha o residente para a análise e observação dos pacientes”, disse ele em entrevista publicada no livro Mestres da Dermatologia Paulista (Ed. JSN). Esse foi o ponto de partida para que, em 1970, já à frente da cátedra de Dermatologia da Faculdade de Medicina da USP, implantasse as célebres reuniões das manhãs de sábado, obrigatórias para todos os residentes e assistentes.
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Visionário, defendia que a Dermatologia era uma especialidade clínico-cirúrgica e que deveria ganhar status de departamento dentro da USP, uma das primeiras a ter a área funcionando independente da Clínica Médica, aliás. Dono de extensa produção científica, foi pioneiro em diversas áreas da especialidade, prescrevendo, por exemplo, o uso de anfotericina B para o tratamento da paracoccidioidomicose. No inicío da década de 80, foi o primeiro médico da América do Sul a prescrever isotretinoína para o tratamento da acne, quando essa prática ainda estava engatinhando nos Estados Unidos.
Sua atuação em prol da evolução da Dermatologia paulista é tão importante, que se costuma dizer que a história da especialidade no país pode ser dividida em duas fases: antes e depois do Prof. Sampaio. Atuante, mesmo depois de sua aposentadoria, dizia que sempre havia algo a aprender. Um mês antes de falecer, em outubro de 2018, compareceu ao Congresso Brasileiro de Dermatologia e ministrou uma aula sobre seus extraordinários conhecimento no tratamento da acne.
Prof. Sampaio e esposa
A banca examinadora do exame do primeiro TED. Da esq. para a dir.: Profs. Rubem David Azulay, Ruy Miranda, Sebastião de Almeida Prado Sampaio, Tancredo Furtado e Clóvis Bopp
Prof. Sampaio e Dr. João Roberto Antonio
O Prof. Sampaio era uma liderança natural, muito competente como dermatologista e como gestor. A residência que fiz sob sua orientação no HC tinha um programa moderno, inédito para a época, que continua valendo atualmente. Ele me fez passar por várias áreas: Cirurgia Plástica, Alergia, Moléstias Infecciosas e Anatomia Patológica. Aprendi muito!
Drª Alice de Oliveira de Avelar Alchorne, Presidente da SBD-RESP (2003)
Foi o Prof. Sampaio quem me convenceu a fazer Dermatologia. Havia duas vagas de Residência no HC e nenhum candidato! Eu estava em dúvida, mas o Prof. Sampaio insistiu, afirmando que a Dermatologia ia muito além da clínica e incluía pequenas cirurgias, a parte estética... Acontece que a Dermatologia da época era predominantemente clínica, mas o Prof. Sampaio já vislumbrava como seria o futuro da especialidade.
Dr. Fernando Augusto de Almeida, Presidente da SBD-RESP (1984/1985)
O Prof. Sampaio apreciava o talento das pessoas, mas exigia empenho e esforço. Obrigava seus assistentes e residentes a participar das reuniões aos sábados. Para não perder nenhum desses encontros valiosos para a minha formação, embarcava em um trem na noite da véspera e chegava antes das 7 horas da manhã de sábado, na Estação da Luz, em São Paulo. As reuniões começavam às 8 horas e, por força do horário do trem, eu costumava ser o primeiro a chegar. Creio que o Professor Sampaio se impressionava com isso. As reuniões terminavam ao meio dia e eu, então, embarcava em um ônibus, às 14 horas. À noite, estava de volta em São José do Rio Preto, a tempo de sair com minha esposa. Por dois anos, frequentei essas reuniões com assiduidade.
Dr. João Roberto Antonio, Presidente da SBD-RESP (2009)