www.pe.sebrae.com.br ano 43 • nº 3 • SETEMBRO/OUTUBRO 2017
ano 43 • nº 3 • SETEMBRO/OUTUBRO
Inovação na prática Pequenos negócios buscam consultoria Sebraetec para melhorar produto ou serviço
Conquistando a merenda Adoção de políticas públicas por prefeituras que compram dos pequenos negócios estimula a economia local e a alimentação saudável
Empreendedorismo na sala de aula O tema já faz parte do cotidiano de escolas e universidades
EDITORIAL Conselho Deliberativo | Pernambuco 2015-2018 Associação Nordestina da Agricultura e Pecuária – Anap Banco do Brasil S/A – BB Banco do Nordeste do Brasil – BNB Caixa Econômica Federal – Caixa Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco – Faepe Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Pernambuco – Facep Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco – Fecomércio/PE Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco – Fiepe Instituto Euvaldo Lodi – Núcleo Regional de Pernambuco – IEL/PE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Trabalho e Qualificação de Pernambuco – SEMPETQ Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Estado de Pernambuco – Senac/PE Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Estado de Pernambuco – Senai/PE Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional do Estado de Pernambuco – Senar – AR/PE Fundação Universidade de Pernambuco – UPE Presidente do Conselho Deliberativo Estadual Josias Silva de Albuquerque Diretor-superintendente José Oswaldo de Barros Lima Ramos Diretora técnica Ana Cláudia Dias Diretora administrativo-financeira Adriana Tavares Côrte Real Kruppa Comitê de Editoração Sebrae Pernambuco Eduardo Jorge de Carvalho Maciel Janete Evangelista Lopes Fábio Lucas Pimentel de Oliveira Ângela Miki Saito Carla Andréa Almeida Jussara Siqueira Leite Roberta de Melo Aguiar Correia Jornalista responsável Janete Lopes | DRT – 2232 Texto e edição Dupla Comunicação Revisão Betânia Jerônimo Ilustração da capa Stock Photos Concepção da capa Unidade de Marketing e Comunicação Projeto gráfico original Felipe Gabriele | Z.diZain Comunicação Diagramação Edson Figueiredo | Z.diZain Comunicação Tiragem 3.000 exemplares Periodicidade Trimestral Impressão CCS Gráfica
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Carta ao Leitor
A
palavra inovação tem sido recorrente no vocabulário de quem empreende ou quer empreender. Principalmente em tempos de instabilidade econômica, nunca se pensou tanto em alternativas e formas de se diferenciar, ser competitivo, em busca de crescimento ou perpetuação de um negócio. Nesta edição, vamos mostrar que a inovação para empresas pode estar mais perto e fácil do que se imagina. Em uma reportagem especial, a Revista Direção vai contar histórias de empreendedores que, por meio dos serviços customizados e especializados do Sebraetec, tiveram acesso a soluções em diversas áreas do conhecimento da inovação. E, se nunca é tarde demais para pensar em inovar, também não é tarde para abrir um negócio. Pesquisas mostram aumento do empreendedorismo entre quem tem mais de 45 anos de idade. Este é mais um tema de matéria desta edição, mostrando que a necessidade de sentir-se ativo e a busca pela complementação da renda têm influenciado muitas pessoas a tornarem-se empreendedoras após a aposentadoria. Por outro lado, o empreendedorismo também pode ser uma opção de carreira a ser seguida até por quem ainda nem entrou no mercado de trabalho. Assim, projetos desenvolvidos nas escolas e faculdades fazem a diferença na formação de jovens empreendedores. É o que você vai acompanhar em reportagem da Revista Direção, que traz também, nesta edição, entre outras matérias e artigos, uma entrevista com Fernando Kimura, um dos principais especialistas de neuromarketing no Brasil. Boa leitura! Até a próxima edição.
Josias Albuquerque Presidente do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae
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Capa
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Consultoria em inovação
Educação
Desenvolvimento
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A regionalização da merenda escolar incentiva a aquisição de gêneros alimentícios saudáveis
Mercado
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Iniciativas inserem estudantes no empreendedorismo com foco na cooperação, na ética e na cidadania
Inspiração
Os cuidados necessários ao abrir negócios que fazem referência a outros países
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Histórias de quem enxergou nas férias escolares uma oportunidade de negócio
Artigo
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Oportunidade
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Empreendedores com mais de 60 anos vêm se tornando cada vez mais comuns no país
Entrevista
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Fernando Kimura fala sobre neuromarketing
Flávio Costa
Flávio Costa
Flávio Costa
Marcela de Holanda
Por meio do Sebraetec, micro e pequenas empresas conseguem aprimorar seus processos produtivos
Inovação
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Ideias de negócios inusitados que surtiram bons resultados
Dicas
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Artigo Compre do pequeno e fortaleça a economia local
Revista Direção Setembro/Outubro 2017 Rua Tabaiares 360 Ilha do Retiro – Recife/PE 0800 570 0800
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Assim caminha a inovação
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Esclareça dúvidas sobre o programa Empreender Mais Simples
CAPA
Consultoria em inovação
gera melhorias para empresas
Micro e pequenas empresas conseguem aprimorar seus processos produtivos e alavancar as vendas com a ajuda do Sebraetec, programa que possibilita o acesso a soluções em sete áreas de inovação por
MARIANA MESQUITA
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novação” é um termo muito empregado dentro do contexto empresarial. Para os desavisados, investir em inovação pode parecer, à primeira vista, simplesmente criar novos produtos, comprar equipamentos de ponta ou realizar reformas na empresa. Mas é algo muito mais amplo e importante que isto: inovar é (re)inventar ideias, processos, ferramentas e serviços. Envolve a criação de novos modelos de negócios, novos processos organizacionais, novas formas de atender às necessidades dos clientes e novos meios de competir e cooperar, gerando um novo padrão de desempenho para a empresa. Tudo acontece em meio a demandas constantes, que exigem criatividade e, muitas vezes, disponibilidade de recursos financeiros.
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CAPA
Dentro de mercados cada vez mais competitivos, a capacidade de inovar está diretamente ligada à sobrevivência de um negócio: ela vai permitir que a empresa se diferencie e ocupe uma posição de vantagem sobre a concorrência, mesmo que momentânea, gerando conhecimento, alcançando novos clientes, aumentando vendas e ampliando o valor de determinada marca. Assim, a inovação deveria ser vista como uma estratégia central de qualquer empreendimento. Apesar disso, nem sempre os empreendedores tomam a iniciativa de colocar esse processo em prática – geralmente por causa do desconhecimento ou do pouco acesso a ferramentas que ajudem neste sentido. “Ao montar um negócio, especialmente em se tratando de pequenos empreendedores, as pessoas geralmente agem de forma empírica, partindo de uma aptidão ou interesse que já possuem. No começo pode dar certo, porque há uma curiosidade dos consumidores por aquele novo produto ou serviço e, também, porque o proprietário está animado e dando 150% de si. O problema é que, após o ‘boom’ do lançamento, começa a haver um declínio. O grande desafio de qualquer negócio é aumentar a eficiência para combater essa tendência, que é natural”, explica Valdenice Ferreira, analista do Sebrae/PE. “Investir em inovação é uma forma de ampliar a permanência no mercado, especialmente num cenário marcado por graves crises financeiras e grandes transformações tecnológicas”. Para se manter em atividade no mercado, é preciso estar sempre atento às necessidades dos clientes e às inovações promovidas pela concorrência. Muitas empresas, principalmente as grandes, fazem isso com regularidade, antecipando tendências, reduzindo custos e alimentando o consumo. Outras necessitam de um direcionamento, daí a importância de contar com uma consultoria em inovação. Mas as micro e 8
Quem decide se uma empresa vai sobreviver ou não é o cliente. Mas existem formas de melhorar a inserção no mercado. O Sebraetec pode ajudar pequenas empresas brasileiras também contam com um instrumento essencial para fomentar sua capacidade de produção e atendimento. Trata-se do Sebraetec, um programa de consultoria tecnológica que já fez a diferença para centenas de milhares de empresas em todo o país. “Quem decide se uma empresa vai sobreviver ou não é o cliente. Mas existem formas de melhorar a inserção no mercado e certamente o Sebraetec pode ajudar”, afirma Valdenice Ferreira. Ela ressalta que o programa não está focado na gestão empresarial e nem financia reformas estruturais ou aquisição de equipamentos, mas possibilita que pequenos empreendedores tenham acesso a soluções compreendidas dentro de sete áreas de conhecimento da inovação: design, produtividade, propriedade intelectual, qualidade, inovação, sustentabilidade e serviços digitais. Por outro lado, empresas que atuam nos ramos de inovação e tecnologia podem participar como prestadoras de serviços, sendo cadastradas pelo Sebrae para este fim. Assim, por meio do Sebraetec, é possível promover a aproximação entre os empreendedores e os prestadores de serviços especializados. O programa subsidia até 70% dos custos das propostas e acompanha o processo de perto para garantir os resultados finais.
Inovação na prática
Em Pernambuco, várias empresas conseguiram melhorar seus processos produtivos e começaram a incorporar a inovação em suas rotinas por meio do Sebraetec.
“Lucena Auto Service”: consultoria em prol da competitividade negócio, Kleybson deu prosseguimento às suas metas. Hoje, com quase 13 anos da empresa no Recife, buscou novamente o Sebrae para continuar crescendo e aumentar o nível de qualidade de seus serviços. “Contratei duas consultorias através do Sebraetec, uma de estoque e outra de atendimento ao cliente. Foi uma experiência ótima. É muito bom poder ter acesso a serviços de consultoria que antes só grandes empresas poderiam contratar. Isto aumenta muito a nossa competitividade e é saudável para o negócio”. Maker Mídia
O sonho de Kleybson Lucena era abrir uma oficina mecânica independente, com tanta ou mais qualidade que as grandes empresas que já funcionavam na área. “Eu sabia que, para me destacar, teria que oferecer atendimento especializado, de qualidade. Minha meta é impressionar o cliente, porque se ele fica satisfeito, sempre volta”, afirma. O empreendedor ingressou na área por meio de um curso técnico no Senai, em 2005. “O Sebrae foi meu grande parceiro desde o começo”, relembra. Após fazer um estudo de mercado e planejar seu
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“Gesso Yeso” implementa serviços digitais A indústria de Ismael Seixas foi fundada em 1992, em Trindade, no Sertão pernambucano, e tem como proposta oferecer produtos inovadores de gesso, voltados para a construção civil. O químico buscou consultoria no Sebraetec para implementar serviços digitais (e-commerce), prospectando clientes por meio das mídias sociais, e para obter certificação ISO 9001 (norma que certifica um sistema de gestão da qualidade). Hoje o empresário comemora os resultados das consultorias: “aumentamos o número de clientes e o faturamento, e conseguimos a certificação desejada”, aponta. Por conta da inovação constante de produtos, a Yeso vem se tornando referência no segmento de gessos especiais.
“Gran Mármore” consegue redução de custos e aumento nas vendas Com 17 anos de funcionamento, a empresa de Fernanda Feitosa, em Jaboatão dos Guararapes, nunca tinha passado por uma avaliação de seus processos, apesar de lidar com situações complexas desde descarregar até produzir e expedir suas peças em mármore e granito. “O Sebratec veio num momento muito oportuno.
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Começamos em 2016 e notamos melhorias como redução de custos e aumento nas vendas. Implantamos novos processos, adquirimos uma máquina de etiquetagem, detectamos algumas deficiências na gestão e organização de processos internos. Foi muito bom, conseguimos melhores condições de produção e estamos satisfeitos com os resultados da consultoria”, afirma.
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“Associação Café com Arte” lança novo produto Fátima Belém e outras 21 mulheres de Petrolândia, no Sertão pernambucano, fundaram uma associação de artesãs e contaram com o apoio do Sebraetec. “O Sebrae é um parceiro muito forte, que está sempre conosco em tudo que precisamos”, aponta. O grupo participou de diversos cursos e palestras, e iniciou a produção de um novo tipo de produto, após a consultoria recebida, que ensinou a curtir a pele de peixe, transformando-a em couro. “O lançamento do couro de tilápia se deu por meio dessa intervenção. Estamos com uma expectativa muito positiva e acreditamos no nosso crescimento por meio deste produto, que é sustentável e ecologicamente correto. A matéria-prima é da nossa cidade. Catamos a pele de tilápia no mercado público, curtimos no tanquinho de lavar roupa, tratamos tudo de forma artesanal e, em seguida, fazemos o tingimento para dar cor a todas as peles”, descreve a artesã. “Nossa experiência junto ao Sebraetec é de aprendizagem, parceria e muita expectativa no futuro. O nosso sonho é crescer junto com o Sebrae”.
Investir em inovação é uma forma de ampliar a permanência no mercado
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“Bella Ótica” mais confortável e atrativa Com 15 anos de funcionamento e três unidades (duas no centro do Recife e uma em Olinda), a Bella Ótica participou do Sebraetec e obteve melhorias em sua identidade visual, criando uma logomarca e um site e reestruturando uma das lojas da Rua Camboa do Carmo, no bairro de Santo Antônio. “A consultora fez um excelente projeto arquitetônico e a reforma acabou melhorando muito nosso movimento. Os óculos agora estão mais bem expostos e o espaço ficou mais confortável e atrativo para os clientes”, avalia Erinaldo Vaz,
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mais conhecido como Juba. “Essas ações eram extremamente necessárias, mas, sem a ajuda do Sebraetec, não teria sido possível fazer tudo isso ao mesmo tempo, por causa dos custos. Numa fase de crise, esse investimento foi essencial”, afirma. Juba relata que também já buscou o Sebrae para obter consultorias nas áreas de finanças e gestão de pessoas. “A gente não quer ficar estagnado, quer sempre melhorar. A meta agora é melhorar as outras unidades da ótica”, adianta.
“Supermercado Bônus” apresenta crescimento após consultoria O Sebraetec foi realizado no supermercado de Calby de Carvalho Cruz em 2015, com o objetivo de eliminar desperdícios e trabalhar o layout e a sinalização. Dois anos depois da consultoria, o negócio deixou de ser microempresa e passou para empresa de pequeno porte, e Calby lidera uma associação de 15 mercadinhos atendidos pelo Sebrae através de um projeto específico para empresas de alimentos e bebidas. Ele se mostra cheio de planos: “Estou com um projeto de implementar energia solar na loja para tornar limpo pelo menos uns 40% do seu consumo. Também estamos avaliando a expansão do negócio. Penso em abrir uma segunda loja mais compacta, com um ponto de venda menor”, descreve. No ramo de supermercados há 27 anos e há 11 atuando em Petrolina, Calby conta que seus clientes têm se mostrado muito satisfeitos com as melhorias feitas no Bônus. “Temos uma loja de bairro, mas a marca é bem lembrada, graças a Deus. Depois do Sebraetec, melhoramos a gestão, o espaço cresceu e ficou mais organizado. Mudei a posição das portas, coloquei uma coberta, instalei porcelanato na calçada. Foi muito útil para renovar nossas ideias. O pessoal do Sebrae sempre passa aqui para auxiliar, mostrar novidades. E eu procuro sempre investir e estar atento. Quem é comerciante não pode ficar acomodado. É como diz o ditado, ‘animal satisfeito, dorme’”, brinca.
Como ter acesso ao Sebratec • O Sebraetec funciona de forma
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simples: basta o empreendedor se dirigir ao Sebrae com sua identidade e CNPJ. Qualquer empresa, mesmo os Microempreendedores Individuais (MEI), pode se candidatar. O atendimento inicial é gratuito. Só após mapear o funcionamento da empresa e pesquisar que tipo de inovações o empreendimento demanda, é gerada uma proposta customizada de atuação com valores reduzidos para o empreendedor. É possível solicitar atendimento até três vezes por ano. Outras informações no Portal do Sebrae (http://www.sebrae.com.br) ou por telefone (0800-5700800).
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“Recicletool” amplia gama de serviços com inovação nos processos tecnológicos
“Yellow Idiomas” de cara nova e mais profissional A professora Roberta Sandes e Urskarl contrataram três consultorias do Sebraetec para a sua escola de línguas, que funciona desde 2013 no Bairro do Recife. Na primeira, trabalhou a identidade visual da Yellow por meio do Centro Pernambucano de Design. “Fizemos folder, marca, cartão de visita, sinalização interna e conseguimos dar um ar mais profissional à empresa”, destaca. Na segunda consultoria, obteve um projeto arquitetônico que deu suporte à reforma e ambientação do espaço. Por fim, com uma consultoria em marketing, ela conseguiu dar mais ênfase às redes sociais e se comunicar melhor com seus potenciais clientes. “Para os pequenos empreendedores, o Sebraetec é essencial, porque muitos de nós temos dificuldades de dar um start no negócio”, frisa Roberta. “O apoio logístico foi fundamental para a Yellow e a redução dos custos foi significativa, já que as ações contam com o aporte do programa”, comenta ela. “Graças ao Sebraetec, a Yellow ganhou uma cara nova e saiu definitivamente do ambiente caseiro para o profissional”.
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A empresa de Thiago Dantas é uma startup do Recife que fabrica máquinas de reciclagem com tecnologia patenteada brasileira. As unidades são disponibilizadas em locais de grande circulação, onde os usuários podem descartar latinhas de refrigerante, garrafas PET e outros resíduos recicláveis com formato cilíndrico e código de barras. No processo, todos ganham: os cidadãos são remunerados a cada reciclagem, o local que oferece o espaço é beneficiado com a redução de lixo e as indústrias fabricantes dos produtos passam a atender às exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (que diz que o lixo deve voltar para o produtor), ao mesmo tempo que recebem informações estratégicas
“Recicletool” amplia gama de serviços com inovação nos processos tecnológicos A empresa de Thiago Dantas é uma startup do Recife que fabrica máquinas de reciclagem com tecnologia patenteada brasileira. As unidades são disponibilizadas em locais de grande circulação, onde os usuários podem descartar latinhas de refrigerante, garrafas PET e outros resíduos recicláveis com formato cilíndrico e código de barras. No processo, todos ganham: os cidadãos são remunerados a cada reciclagem, o local que oferece o
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“Sacolas Pajeú”: mudanças influenciam aumento da produção O Sebraetec também ajudou a reformular o negócio de Cosme Soares, que fabrica sacolas plásticas no município de Tabira, no Sertão de Pernambuco. “Melhoramos nosso negócio de diversas formas. A primeira mudança foi na fachada, porque a gente não tinha nenhum tipo de identificação na entrada. Também passamos a controlar melhor nosso estoque através de um sistema informatizado. Outra mudança muito boa foi a gestão do fluxo de caixa. Antes do Sebraetec, não fazíamos muita ideia da quantidade de dinheiro que entrava e saía”, confessa o empresário. Ele calcula que o conjunto de mudanças estimuladas pelo Sebraetec fez a produção aumentar 30%. “Agora estamos passando pela segunda reforma no prédio para poder ampliar a empresa”, comemora.
espaço é beneficiado com a redução de lixo e as indústrias fabricantes dos produtos passam a atender às exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (que diz que o lixo deve voltar para o produtor), ao mesmo tempo que recebem informações estratégicas de mercado e de pós-consumo, por meio de relatórios inteligentes. A iniciativa começou no ano passado, numa academia de ginástica em Boa Viagem — até o final de setembro, 12 máquinas vão estar funcionando no Recife. Thiago Dantas conta que já utilizou as consultorias do Sebraetec em duas ocasiões. Em 2016, conseguiu criar um aplicativo mobile que
permitiu maior facilidade de acesso aos dados gerados nas coletas, fazendo com que os clientes empresariais saibam o que se passa através do smartphone. Agora está investindo numa integração do tipo Business Intelligence (BI) para integrar os dados em relação ao perfil de cada cliente, ao tipo de resíduo coletado e à gestão desses resíduos. “O Sebraetec permitiu que a Recicletool ampliasse a gama de serviços que podemos oferecer a nossos clientes, aproximando a empresa das necessidades deles”, diz Thiago. “O programa é uma maneira rápida e fácil de implantar inovações dentro dos processos tecnológicos das empresas”.
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“Mais Saúde” com novo posicionamento A mudança na empresa de Ericsson e Elane Batista foi tão ampla que incluiu até a mudança de nome. Antes, a empresa, que fica em Araripina, no Sertão pernambucano, chamava-se Gastrodiagnóstico, mas após a consultoria do plano de marketing foi estabelecido um novo posicionamento, gerando a abertura de novas especialidades médicas na clínica de saúde e possibilitando a realização de novas estratégias de
captação de clientes. Na sequência, foi contratada uma consultoria em design de comunicação, que criou um manual de identidade visual, uma nova logomarca e a sinalização interna e externa do ambiente. “Percebemos um aumento de 30% no número mensal de atendimentos”, destaca o empresário. Além disso, ele cita que, por conta das melhorias na posição da empresa no mercado, houve um consequente aumento nas vendas e no faturamento.
“Produtos Brotinhos”: a empresa se reinventa Maker Mídia
Em Serra Talhada, no Sertão do estado, a empresa fabrica pipocas, salgadinhos, ração animal, flocos para cuscuz e outros alimentos derivados do milho, compondo um mix de 25 produtos. Está em funcionamento desde 1993, investindo na qualidade da produção e na capacitação dos seus funcionários. Segundo Sebastião Alves de Souza, que é proprietário da pequena indústria, a empresa “foi reinventada por meio do Sebraetec”. “Tivemos incentivos para inovação, investimentos em novos produtos, renovação da nossa marca, treinamento de funcionários”, enumera.
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“Tito Lima” transforma-se em empresa de assessoria esportiva Tito é professor de Educação Física e microempreendedor individual no Recife. “Através do Sebraetec me transformei numa empresa de assessoria esportiva”, comemora. As consultorias trabalharam sua identidade visual e auxiliaram a divulgação através das redes sociais. “Estou conseguindo mostrar mais meu trabalho e a resposta tem sido muito boa”, avalia. Tito trabalha como personal trainer e oferece ginástica laboral e treinamentos individualizados ou em grupo em academias, condomínios ou espaços abertos como parques e praias. “Aprendi a investir em mim, como empresa, da melhor forma. A demanda pelos meus serviços aumentou, a visibilidade está muito maior. Talvez eu tivesse conseguido tudo isso sozinho, mas o caminho desta forma foi muito facilitado. Além de ser mais barato, porque o Sebrae financia uma parte dos custos, com esse suporte eu corri menos riscos”, analisa.
Para os pequenos empreendedores, o Sebraetec é essencial, porque muitos de nós temos dificuldades de dar um start no negócio
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“Blend Pipoca Gourmet”: mais segurança nas tomadas de decisão
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Gérson Silva e Celiana Ribeiro, da Blend Pipoca Gourmet, em Jaboatão dos Guararapes, utilizaram o Sebraetec para obter uma consultoria sobre tecnologia de produto. Após experimentarem alguns sabores gourmet de pipocas, durante suas viagens, eles partiram para pesquisar o histórico e os processos de fabricação do produto. “De uma forma geral, o Sebrae nos proporcionou muita informação por meio
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de cursos e consultoria”, diz Gérson. “Já o Sebraetec, especificamente, forneceu segurança para nossas tomadas de decisão. A gente precisava muito de uma abordagem analítica em relação a equipamentos e embalagens, por exemplo. Sem essa ajuda, não teríamos alcançado este resultado. Nosso trabalho sem o Sebraetec não teria sido possível”, agradece.
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“Perfil da Moda”: inovações em design impulsionam as vendas As irmãs Kênia e Késsia Oliveira, de Serra Talhada, no Sertão pernambucano, trabalham com moda feminina e já usufruíram de diversos treinamentos proporcionados pelo Sebrae. “Já tivemos treinamentos de atendimento, planejamento, controle de caixa, layout da loja, gestão de estoque... Isto tem ajudado muito. O Sebrae vem sendo um grande parceiro desde que abri meu negócio”, reconhece Késsia. Segundo ela, o Sebraetec ajudou muito na atualização do layout, da logomarca e do projeto da loja. “Faz um ano que fizemos essas modificações e percebemos o aumento das vendas em relação ao ano anterior. O resultado foi muito bom e hoje a nossa loja parece outra em relação àquela do início”.
O Sebraetec subsidia 70% do valor dos projetos. Promove ainda a aproximação entre empreendedores e profissionais especializados
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DESENVOLVIMENTO
Por uma merenda mais saudável O combate à obesidade infantil têm motivado iniciativas para melhorar os hábitos alimentares das crianças, principalmente na em relação à merenda servida nas escolas por
ERICKA FARIAS
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obesidade e o sobrepeso vêm aumentando no Brasil, tornando-se um verdadeiro problema de saúde pública. De acordo com um relatório conjunto da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização Panamericana de Saúde (Opas), mais da metade da população brasileira está com sobrepeso, enquanto a obesidade já atinge 20% das pessoas adultas no país. Segundo o “Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe”, divulgado em janeiro de 2017 e elaborado com base em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), foi detectada uma tendência de crescimento do sobrepeso infantil entre os brasileiros. Os dados mostram que 7,3% das crianças menores de cinco anos já estão acima do peso, sendo as meninas as mais afetadas, com 7,7%. Tais índices fazem redobrar a preocupação com a alimentação das crianças e com os lanches servidos nas escolas do país. “A obesidade infantil está ligada a fatores genéticos e ambientais, e é preciso investir em educação nutricional desde cedo. Isso também precisa acontecer dentro do ambiente escolar, onde as crianças passam grande parte do dia, permitindo que alguns hábitos possam ser implementados ou corrigidos para evitar doenças 20
Marcela de Holanda
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DESENVOLVIMENTO
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futuras como diabetes e hipertensão”, afirma Tânia Lúcia, que é nutricionista do Hospital Memorial Jaboatão. Ela cita que tanto os lanches individuais como coletivos devem fazer parte de um projeto de merenda saudável, em que estejam presentes alimentos naturais e frescos, com baixo teor calórico e grande valor nutricional, evitando o excesso de gordura e de açúcar. Cuidar do que as crianças comem é missão das famílias mas, também, das instituições de ensino e das autoridades governamentais. O crescimento da obesidade infantil e a dificuldade de muitas famílias e escolas em controlar o que as crianças comem, por conta da correria da vida moderna, questões logísticas e outros fatores, gerou uma oportunidade de negócio descrita no site do Sebrae: o “kit merenda”, produto planejado por nutricionistas que possui a quantidade de nutrientes recomendados para o período que o aluno irá permanecer na escola e é entregue em embalagens individuais e seguras. Porém, enquanto a busca por uma alimentação mais saudável depende de iniciativas individuais das famílias e da direção das escolas privadas de ensino (onde a venda de frituras, embutidos, refrigerantes e outros alimentos ultra processados ainda é frequente), nas escolas públicas, já existe uma legislação que estabelece parâmetros para a composição do lanche coletivo e aquisição dos ingredientes. A regionalização da alimentação escolar incentiva a aquisição de gêneros alimentícios saudáveis, produzidos localmente, de preferência pelos agricultores familiares, bem como incentiva a aquisição de outras
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variedades com empresas locais e regionais. Ao comprar dos pequenos agricultores os municípios aumentam o desenvolvimento sustentável, gerando maior renda e acesso a inclusão social e econômica da população. Em Pernambuco, por exemplo, a busca por uma alimentação mais saudável está se tornando uma excelente oportunidade de negócio, trazendo resultados positivos para todos os envolvidos, porque as crianças passam a comer melhor, os produtores lucram e os municípios crescem. É o que acontece, por exemplo, no Sertão do Araripe, por meio do Programa de Regionalização da Alimentação Escolar. Idealizado pela Unidade do Sebrae nessa região, o programa já movimentou mais de R$1,2 milhão em 2017, com a adesão das prefeituras de Araripina, Santa Filomena e Granito. A iniciativa visa utilizar os recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para promover o desenvolvimento local sustentável e garantir uma alimentação saudável aos estudantes, respeitando a vocação agrícola da região. “Os empresários conseguiram vislumbrar essa oportunidade. Eles investiram, melhoraram seus produtos, aumentaram a produtividade e estão conseguindo entrar no mercado da compra de produtos da merenda escolar. Não é à toa que a gente tem três municípios com R$1,2 milhão comprados este ano, como resultado desse programa de interação. Eles precisavam conhecer como eram as regras, o que o governo precisava para comprar deles. Então, eles se adaptaram e olharam essa venda como oportunidade”, explica a diretora técnica do Sebrae em Pernambuco, Ana Cláudia Dias. O primeiro município a aderir ao programa foi Santa Filomena, em 2016, com 16 agricultores familiares que venceram a chamada pública. Com a adesão de Araripina e Granito, mais de 50 agricultores e empresários já foram
Janete Lopes
A regionalização da alimentação escolar incentiva a aquisição de gêneros alimentícios saudáveis, produzidos localmente, de preferência pelos agricultores familiares
beneficiados, contando com o apoio do Sebrae – que capacita e organiza a cadeia produtiva, acompanhando todo o processo, da chamada pública ao fornecimento dos alimentos. De acordo com a Lei nº 11.947/2009, “do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas”. De acordo com a gerente da Unidade do Sebrae no Sertão do Araripe, Maria Lucélia Sousa, o programa contribui com o desenvolvimento e competitividade dos pequenos negócios, gerando emprego, distribuição de renda, inclusão social, redução da informalidade e fortalecimento da economia local. “Os resultados são muito positivos e a meta é que esse projeto avance para os 11 municípios do Araripe”, revela Lucélia. O programa também contempla a capacitação de gestores públicos, orientando
na utilização dos recursos repassados pelo Governo Federal, por meio do FNDE. O Sebrae realiza o levantamento de informações dos municípios envolvidos; sensibiliza os atores do projeto; cria e/ou adapta os instrumentos/documentos a serem utilizados durante a aplicação do projeto; divulga as ações do projeto; capacita; monitora, e acompanha as execuções das etapas. Para o prefeito de Araripina, Raimundo Pimentel, o programa é importante para o fortalecimento da economia local. “A prefeitura é um grande comprador e é um instrumento de incentivo à produção local, na medida que a gente direciona essa compra da merenda escolar, que é um recurso bastante expressivo e regular, com recursos garantidos para os agricultores do município, estamos incentivando a economia local e os agricultores a produzir na sua localidade. E isso, com o apoio do Sebrae, que tem feito essa articulação. Já conseguimos ampliar a participação dos produtores locais na merenda escolar e vamos continuar esse trabalho até atingir 100% da merenda comprada no município”, garante. SETEMBRO/OUTUBRO 2017 23
EDUCAÇÃO
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Fabiano Barros
Empreendedorismo que se aprende na escola Indo além de criar e gerenciar negócios, iniciativas voltadas para estudantes de escolas públicas fomentam atitude empreendedora baseada em valores como cooperação, ética e cidadania
por
MARIANA MESQUITA
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FLÁVIO COSTA
elhora no desempenho escolar, nas relações familiares, na inserção social e na futura postura profissional é vantagem de quem consegue inserir-se no universo do empreendedorismo desde cedo. Assim, é possível adquirir competências que vão influenciar a vida e a comunidade de quem tem a oportunidade de participar de programas como o Despertar, que está acontecendo pela terceira vez nas escolas públicas de Ensino Médio de Pernambuco, e o Jovens Empreendedores Primeiros Passos (Jepp), voltado para o Ensino Fundamental. Segundo a analista Cláudia Azevedo, que coordena o programa Educação Empreendedora, do Sebrae em Pernambuco, o Despertar tem como objetivo predispor os jovens para empreender, de uma maneira voltada para a cooperação, a ética e a
cidadania. “Não há obrigatoriedade de um sentido de negócio, mas de protagonismo”, destaca. “A gente sente que há uma carência de informações sobre o que é empreender e o efeito no ambiente escolar é muito grande, não só entre os alunos. O programa acaba afetando os gestores, as famílias, a comunidade. Ocorre nitidamente uma mudança de comportamento, porque cai o estigma de que o empreendedorismo envolve apenas a abertura de negócios. Então, o Despertar serve para ajudar a focar na vida, planejar a carreira, ter mais comprometimento com o seu desenvolvimento profissional e pessoal”, aponta. Para a superintendente pedagógica da Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco, Maria Medeiros, esse é um aspecto essencial do programa. “Não há um olhar voltado exclusivamente para a abertura de um negócio individual ou pequena empresa. SETEMBRO/OUTUBRO 2017 25
EDUCAÇÃO
O objetivo do Despertar é estimular a empreender na vida”, destaca. “Trabalhamos em parceria com o Sebrae desde 2015, porque a gente apoia, valida e acredita na importância de fomentar as atitudes empreendedoras de nossos jovens. Nas escolas integrais, trabalhamos com a premissa do protagonismo juvenil e a proposta de que eles possam empreender na construção de seus projetos de vida”, acrescenta Maria Medeiros. A metodologia é simples e dinâmica. Primeiro, os professores são capacitados para poderem multiplicar as informações nas unidades de ensino onde atuam. Em 2017, estão participando cerca de 120 professores e 2.600 alunos de 55 escolas. Após a formação dos professores, são programados cerca de dez encontros, onde os alunos vivenciam o que é empreender. O ponto de culminância é a grande Feira do Jovem Empreendedor, mostrando produtos e serviços produzidos por todos os estudantes. O evento está programado para acontecer em outubro. “Ao longo de dois anos de parceria com o Sebrae, pudemos observar que, ao final das práticas de vivência, os estudantes apresentam mudanças reais de atitude, de postura. Tornamse mais autônomos, proativos, solidários e resilientes”, enumera Maria Medeiros, para quem o Despertar ajuda a fortalecer todo o projeto educativo das escolas participantes. Além desse crescimento pessoal, a superintendente orgulha-se ao citar o saldo final das feiras: “Como há um forte estímulo à inovação, foram criados produtos que têm plenas condições de ser colocados no mercado, uma vez que foram até patenteados. Estamos buscando estratégias para continuar ajudando esses ex-alunos, no sentido de incubarem suas ideias através dos serviços de apoio existentes nas universidades”, complementa. Inicialmente o Despertar foi aplicado apenas em escolas técnicas e, em 2016, desenvolvido em dez escolas da rede pública de Ensino Médio. A Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Clotilde de Oliveira, localizada no bairro de Casa Amarela, na zona norte do Recife, é uma das 55 26
unidades de ensino onde o programa Despertar está sendo aplicado em 2017. Nossa equipe de reportagem conversou com os alunos enquanto eles participavam do seu sexto encontro, no início do mês de agosto. Animados, eles falaram sobre o que estão vivenciando. “O Despertar superou minhas expectativas. Está sendo interessante, traz muitas atividades legais”, diz Josiel Gomes, de 17 anos, que nega fornecer detalhes sobre o projeto que seu grupo está preparando. “É segredo de estado”, afirma, arrancando gargalhadas do resto da turma. Seu colega de grupo, Carlos Henrique Azevedo, de 15 anos, acrescenta que o Despertar é mais amplo do que ele pensava. “Eu estou satisfeito com o que venho aprendendo”, comenta. Os 35 alunos estão sendo orientados pela coordenadora da escola, Nadiene Brandão, e foram selecionados entre os estudantes que cursam o primeiro e o segundo ano. “Abrimos uma convocatória, fizemos entrevistas individuais e apresentamos o que seria o programa para todos os interessados”, relembra a mestra. A formação dos grupos foi feita através de sorteio. Na sequência, o grupo mais votado vai representar a escola na Feira do Jovem Empreendedor. Enquanto Josiel prefere manter o mistério, Maria Heloísa Menezes, que tem 16 anos e cursa a segunda série, conta que está criando um canal no YouTube sobre cabelos crespos e cacheados. “Quem tem este tipo de cabelo sofre quando vai comprar produtos. A proposta do canal é mostrar soluções, misturas e cremes baratos que dão certo”, explica. Já Everaldo Alves, Pablo Danillo e Luiz Felipe Correia, todos com 17 anos, estão planejando uma loja otaku (termo usado no Japão e outros países para designar fãs de animes e mangás). “A ideia é montar uma empresa que forneça aplicativos de celular ou jogos de tabuleiro dentro desse universo”, adiantam eles. Além dos projetos em si, os estudantes estão animados com outros aspectos que vêm sendo repassados nos encontros. “Aprendemos
A Escola de Referência em Ensino Médio Clotilde de Oliveira é uma das 55 onde o programa Despertar está sendo aplicado. Os alunos são orientados pela coordenadora da escola, Nadiene Brandão
que é importante respeitar a opinião dos outros, lidar melhor com os clientes e se comportar de forma adequada dentro do ambiente de trabalho”, cita Carlos Henrique. Para Giselle Pereira, de 16 anos, as aulas têm servido para entender, na prática, o que é ser empreendedor. “A gente vê que precisa ter planejamento, saber tratar as pessoas, se colocar no lugar do outro. E procurar inovar, às vezes mudando coisas simples, mas que são essenciais”, descreve. A colega Carmen Lumacki, da mesma idade de Giselle, complementa: “Trabalhar em grupo da maneira como estamos fazendo é um aprendizado que precisamos levar para a vida pessoal”. ALÉM DO ENSINO MÉDIO O Sebrae também faz parceria com unidades do Ensino Fundamental através do programa Jovens Empreendedores Primeiros
Passos (Jepp), voltado para crianças entre seis e 14 anos cursando entre a primeira e a nona série. “A proposta é semelhante, mas a metodologia do Despertar é mais densa, com carga horária de 84 horas/aula por semestre, enquanto os alunos menores têm apenas 45 horas”, descreve Cláudia Azevedo. Para quem quer empreender e já concluiu o Ensino Médio, o Sebrae vem instalando pontos de atendimento em diversas faculdades públicas e privadas da Região Metropolitana do Recife, divulgando uma agenda específica de palestras e cursos e auxiliando a criação de microempresas individuais (para mais informações, ligue 08005700800). Além disso, existe uma plataforma autônoma chamada Desafio Universitário Empreendedor (www.desafio.sebrae.com. br), onde os interessados podem ter acesso a informações, jogos e cursos online. SETEMBRO/OUTUBRO 2017 27
OPORTUNIDADE
Ainda não é hora de pendurar as chuteiras Seja para aumentar os rendimentos ou para manter o sentimento de significância social, muitas pessoas decidem abrir o próprio negócio ao se aposentarem
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hegar à aposentadoria, muitas vezes, é como começar a usufruir de merecidas férias. No início, ter tempo para fazer o que se quer, na hora e ritmo em que se deseja, é motivo de comemoração. Depois, com o passar dos meses, a sensação de falta de propósito na vida e a queda no poder aquisitivo podem causar depressão e outras doenças. Ou também podem servir de estopim para o recomeço: empreendedores com mais de 60 anos vêm se tornando cada vez mais comuns no país.
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A tendência vem se intensificando e abrange outras faixas etárias de adultos experientes, que vêm sofrendo com a crise econômica que assola o Brasil e já desempregou cerca de 14 milhões de pessoas. No estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado em 2016 numa parceria entre o Sebrae e o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), foi detectado um aumento significativo no número de empreendedores nas faixas entre 45 e 54 anos (16,6%) e entre 55 e 64 anos (10,4%). Os setores que têm atraído a maior participação de empreendedores de faixas etárias avançadas são alimentação, acessórios e vestuário. Divulgado no último mês de maio, o GEM 2016 sinaliza que o crescimento do empreendedorismo após os 45 anos está relacionado tanto com a situação de desemprego generalizado — e especialmente cruel — em relação aos trabalhadores com mais idade, quanto com as perspectivas de uma aposentadoria cada vez mais tardia e insuficiente. A opção pelo empreendedorismo, contudo, ainda é tímida, se comparada à realidade de
outros países. Um estudo da Ewing Marion Kauffman Foundation indica que a maior taxa de crescimento de novos negócios nos Estados Unidos, nos últimos 15 anos, partiu de pessoas com idades entre 55 e 64 anos. Lá, empreendedores com mais de 55 anos são maioria e, em 2014, representavam 25,8% daqueles que iniciavam um negócio. O cenário econômico brasileiro não desanima a arquiteta e museóloga Tereza Miranda, de 56, e o agrônomo Jayron Fernandes, de 59 anos. “Crise é oportunidade e a gente sempre trabalhou muito. Olhamos para frente, contando com a base dos erros e acertos que acumulamos e que nos permitem ser mais sábios e ágeis”, avalia. Por mais de três décadas, Tereza foi bancária e, Jayron, gerente de uma indústria de cerâmica. Após ambos se aposentarem, há cerca de três anos, resolveram no início curtir um pouco a vida. “Viajamos, limpamos a mente, curtimos. Depois quisemos estabelecer novos objetivos de vida. Porque após a aposentadoria, a renda cai, não tem bônus e nem 13º, as despesas de saúde se acumulam. E ficar em casa descansando não é nosso perfil. Nós ainda somos jovens. Daqui a dez, 20 anos, queremos ter estabilidade na renda e muitos bons motivos para viver”, planeja Tereza. Junto desde 1982, o casal se encaixa num perfil de motivação que o Sebrae classifica como sendo de oportunidade — e não de necessidade estrita, como infelizmente vem acontecendo com um grande contingente de brasileiros que, na falta de renda, se veem obrigados a empreender. Tereza e Jayron representam um tipo de empreendedor que adiou o sonho de abrir um negócio para depois da aposentadoria, preferindo não se arriscarem enquanto tinham empregos de carteira assinada, criavam filhos e consolidavam seu patrimônio. “Agora a gente busca qualidade de vida em todos os aspectos. Trabalhamos por necessidade e prazer”, define Jayron. SETEMBRO/OUTUBRO 2017 29
OPORTUNIDADE
Os dois possuíam uma propriedade no município de Aliança, na Zona da Mata (norte) de Pernambuco, uma região onde tradicionalmente se cultiva cana-de-açúcar. Embora Jayron seja filho de um antigo fornecedor de cana e o avô de Tereza tenha sido gerente de usina, ao comprarem as terras, no ano 2000, a ideia era apenas utilizar o espaço para lazer. Mas a identificação com o meio rural falou mais alto e, após buscarem aconselhamento junto ao Sebrae, resolveram investir na produção de mel de engenho, açúcar mascavo e rapadura. Viajaram para o Ceará e Minas Gerais, pesquisando opções de moenda e métodos de produção. Por fim, instalaram o próprio maquinário, investindo também no plantio e em outros equipamentos. “Desde o início do ano, estamos fazendo um produto original, artesanal, todo dentro da tradição”, orgulha-se Jayron. A marca Capibarim faz referência à Fazenda Capibaribe-Mirim. O nome surgiu numa discussão entre Tereza, Jayron e as filhas Laura, que é administradora de empresas, e Laís, que é designer. Embora as duas não estejam diretamente envolvidas na empresa, têm colaborado de forma ativa. “O mais motivador é sonhar junto e fazer acontecer. Tudo vem sendo exaustivamente pensado e experienciado”, detalha Tereza. “Somos uma empresa familiar, mas já estamos conseguindo um impacto social importante e dando emprego a outras pessoas do município”, comemora. Com a produção de melaço iniciada em janeiro, Jayron vem fazendo testes para também fabricar açúcar e rapaduras, estas concebidas em embalagens individuais menores que podem ser utilizadas em lanches. “Fizemos várias sondagens de mercado e, por conta disso, nosso mel está mais grosso, mais apurado, de acordo com a preferência do público”, exemplifica Jayron. Em julho, durante a 18ª edição da Fenearte, a Capibarim marcou presença no estande da Associação 30
de Produtores de Aguardente de Cana e Rapadura de Pernambuco (Apar). “Zeramos nosso estoque”, comemora Tereza. “Hoje em dia, esse tipo de produto tem tido muita procura, porque é algo natural sem aditivos e nenhum componente de origem animal”, analisa. Inquieta, a dupla busca novas alternativas para agregar ao negócio. “Voltei a estudar, porque penso em criar um espaço voltado para o turismo rural lá na fazenda”, adianta Tereza, que está participando de uma associação local de artesãos e pretende transformar em arte resíduos como a palha e o bagaço da cana. Do seu lado, Jayron tem feito pesquisas técnicas sobre as melhores variedades de plantio e estabeleceu parcerias com sitiantes vizinhos, a fim de otimizar a produção e a moagem. “Queremos diversificar nosso olhar para alcançar o ciclo produtivo como um todo. A Capibarim também é uma maneira que encontramos de melhorar o nosso entorno”, afirma Jayron. Para os que querem seguir seu exemplo, o casal manda um recado: “Viver é aprender. A questão do medo é inerente ao processo e a chave é encontrar coragem através da informação, da memória, da experiência. Nem sempre é fácil, há muitos obstáculos para superar. Mas conosco está dando certo, porque fazemos algo que nos dá prazer, numa área com a qual temos identificação. A verdade é que hoje a gente trabalha mais do que antes, mas nem sente”. APOSENTAR E EMPREENDER Quem quer começar a empreender numa idade mais madura precisa contornar algumas dificuldades. Obviamente os jovens têm mais tempo para começar de novo, se falharem no processo. Mas as pessoas mais velhas têm experiência acumulada, que pode ser utilizada em seu favor. Mas, por onde começar? Segundo Valdir Cavalcanti, que é analista do Sebrae/PE, em
Flávio Costa
Após a aposentadoria, Tereza Miranda e Jayron Fernandes resolveram empreender e investiram na produção de mel, açúcar mascavo e rapadura
algumas instituições de grande porte — como Chesf, Petrobras, Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) e Prefeitura do Recife, existem parcerias para estabelecer programas de preparação para a aposentadoria, onde funcionários em fim de carreira se organizam para minimizar o impacto da mudança em suas vidas, tanto do ponto de vista psicológico como financeiro. “O mercado é cruel e, muitas vezes, deixa de aproveitar pessoas produtivas e com todo vigor. Então, definir um Plano de Negócios é uma excelente oportunidade para iniciar um novo ciclo”, explica. Para quem precisa de suporte individual, o Sebrae também conta com o programa Aposentar e Empreender. “Muitas pessoas passam a vida como empregadas e não têm a visão e a postura empreendedora”,
comenta Valdir. Aberto a qualquer pessoa, o programa foi lançado recentemente e ensina como elaborar um Plano de Negócios, detalhando modelos e mostrando como lidar com a concorrência, vender produtos e serviços, administrar finanças e selecionar fornecedores. “Trata-se de um programa que não termina. Ele funciona como um momento de consolidação de um possível negócio e uma porta aberta para a busca de novas soluções. É um ponto de partida, o primeiro passo para o empreendedor se tornar mais seguro, eficiente e cada vez mais competitivo dentro do mercado”, frisa. O Aposentar e Empreender fará turmas mensais com 25 vagas voltadas para este público específico. Para mais informações, deve-se entrar em contato com o Sebrae pelo número 0800-5700800. SETEMBRO/OUTUBRO 2017 31
INOVAĂ‡ĂƒO
O inusitado pode dar certo
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Assumindo alguns riscos, empreendedores investem em ideias de negĂłcios com produtos diferentes
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er uma ideia diferente de negócio é um dos maiores desafios de quem quer empreender (tanto que muitos desistem de inovar e preferem optar por alternativas mais tradicionais e seguras). Porém, alguns visionários persistem, abrindo caminho para novos negócios e provando que o risco pode, sim, valer a pena. A cartilha de criação de um bom negócio prega que é necessário descobrir uma necessidade de mercado e fazer estudos para avaliar a demanda e o potencial do produto a ser oferecido. Quem adentra num setor pouco explorado, ao mesmo tempo que pode se tornar referência e, possivelmente, lucrar mais, também se arrisca a perder, caso o produto não consiga boa aceitação. “A inovação provoca uma ruptura em relação ao que já existe. Essa mudança pode ocorrer no modelo de negócio, no produto em si ou na forma de comercializar ou entregar. Então, ao passo que pode ser uma oportunidade de se destacar no mercado, é preciso tomar cuidado ao lançar algo novo. Boa parte do público é conservadora e tende a demonstrar resistência”, explica Vítor Abreu, que é analista do Sebrae/PE. No caso de um produto novo, os riscos aumentam em função da ausência de informações. Por outro lado, deixar de buscar a inovação pode ser um grande erro. “O mercado nunca é estático e o empreendedor não pode se aquietar. Um negócio que não se reinventa acaba ficando para trás”, alerta. Segundo ele, algumas mudanças levam décadas para acontecer, enquanto outras alteram a realidade em poucos meses. “Se o empresário não acompanha o mercado e o que a concorrência está fazendo, será fatalmente engolido”, aponta Vítor. Para minimizar os riscos de um novo negócio, ele recomenda apostar num “meio termo”: criar um protótipo e realizar testes de aceitação. “A pessoa sai da estaca zero e
consegue perceber se vale a pena seguir em frente ou não”, descreve. Este foi o caminho trilhado por Joelma e Rui Leite, que em 2015 criaram a empresa Mr.Crowds, especializada na produção de sorvete na chapa (ice pan). Na época, o técnico em eletromecânica havia sido demitido da indústria siderúrgica onde trabalhava. “Nós vimos um vídeo tailandês na internet, mostrando um jeito diferente de produzir gelados”, relembra Joelma. Com base em sua experiência, Rui confeccionou, do zero, três versões diferentes da máquina, até chegar no congelamento ideal. Hoje a chapa chega a -30 C e o sorvete vai sendo formado na hora, a partir de bases neutras que podem ser saborizadas de acordo com o gosto do cliente. Em seguida, os dois abriram uma pequena loja no bairro de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, a fim de testar a aceitação do público. Vendo que o produto era bem recebido, mas que o ponto comercial era caro e ruim, eles tiveram a ideia de montar uma food bike de sorvete na chapa, consolidando a vocação itinerante do negócio. Agora eles trabalham exclusivamente com eventos (convenções, casamentos, aniversários etc) voltados para um mínimo de 50 participantes, que podem se servir à vontade, ao longo de três horas, a um custo de R$ 700. Além da primeira bicicleta, montaram mais três, adaptáveis às demandas dos clientes. “Temos uma menorzinha para poder subir nos elevadores dos apartamentos. Temos chapas reduzidas para atender um menor número de convidados. E temos chapas duplas para eventos maiores”, detalha Rui. Eles também diversificaram as bases dos sorvetes, inicialmente feitas com leite integral: agora há opções com leite desnatado, sem lactose, sem açúcar e sem ingredientes de origem animal. Em cada evento, o cliente escolhe quatro sabores dentro dos 12 contidos num cardápio de possibilidades. O sorvete é feito de forma artesanal e personalizada, sem uso de gordura hidrogenada e com baixo custo, se comparado a concorrentes SETEMBRO/OUTUBRO 2017 33
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INOVAÇÃO
Junto com a esposa Joelma, Rui Leite criou,em 2015,a empresa Mr.Crowds, especializada na produção de sorvete na chapa
com a mesma qualidade, custando em média R$ 8,00 a porção. “Como a gente produz, consegue baratear os custos e manter a empresa competitiva”, explica Joelma. Essa tendência de relacionar inovação e personalização é um ponto forte apontado por Vítor Abreu. “O cliente gosta de receber algo com a cara dele. A possibilidade de customização ajuda a minimizar a rejeição, mesmo quando se lida com um público mais conservador”, diz o analista. Rui e Joelma precisaram enfrentar dificuldades no início, especialmente no período anterior à criação das food bikes. “Era um produto novo e as pessoas não entendiam como o processo funcionava. Chegamos a pensar também em produzir sorvete com base de nitrogênio, que é uma técnica onde o produto petrifica na hora. É algo inovador, mas muito caro. 34
Então desistimos, porque o público gosta de comida boa, mas com baixo custo”, diz a empresária. Para ela, os pernambucanos são conservadores e começar algo totalmente do zero é muito arriscado. “Para quem pensa em fazer algo assim, sugiro optar por algo de baixo custo e que tenha boa aceitação. Para nós, foi mais fácil porque, apesar do processo de produção ser diferente, o produto final era sorvete, algo que já é conhecido e bastante consumido durante todo o ano”, aponta. A Mr.Crowds foi a primeira do ramo no Brasil. Como prêmio pelo pioneirismo, Rui vem sendo procurado por empresas de todo o país, em busca da aquisição de suas máquinas. “A gente controla todo o processo de produção e não depende de ninguém”, comemora Joelma. A empresa Bebê na Rede também surgiu no mercado com um propósito de inovação,
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O sorvete é produzido na hora, a partir de bases neutras que podem ser saborizadas de acordo com o gosto do cliente, em uma chapa que chega a -30 C
quando o primeiro filho de Evaldo Pedrosa e Simone Monte nasceu, no início de 2016. Ao receberem uma redinha de presente, vinda do Piauí, eles acharam o produto interessante e resolveram fazer uma parceria com a cooperativa têxtil que produz os objetos. Feitas 100% em algodão semelhante às redes comuns, as redinhas simulam o ambiente intrauterino e ajudam os bebês a dormir melhor, tendo grande receptividade do público. “Foi uma saída interessante para nossa família. Criamos uma loja virtual e os produtos são enviados pelos Correios. Houve mês de vendermos cerca de 300 peças”, conta Evaldo.
No site www.bebenarede.iluria.com, cada redinha custa em média 90 reais e os empreendedores trabalham em parceria com os produtores. “A gente determina, por exemplo, novas cores e modelos, com base nas necessidades dos clientes”, afirma. Atualmente o casal tem um novo bebê e a mãe de Evaldo, Tereza Pedrosa, foi incorporada ao empreendimento. “Queremos oferecer novos produtos para este nicho de mercado, tais como brinquedos e enxovais de berço”, adianta. SETEMBRO/OUTUBRO 2017 35
MERCADO
É de fora, mas é daqui O equilíbrio entre fatores da cultura local e internacional e questões referentes à burocracia na importação são desafios do empreendedor que investe em um negócio com bandeira de outro país
por
MARIANA MESQUITA
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FLÁVIO COSTA
Acepipes de sotaque andino são destaque no peruano Chiwake
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ânsia de experimentar sabores de outros lugares e se aprofundar em novas culturas é uma característica cada vez mais presente entre os brasileiros. E se isto estimula muitas pessoas a viajar, faz com que outras tentem vivenciar essa experiência sem sair do lugar onde vivem. Esta pode ser uma explicação para o sucesso de diversos negócios que fazem referência a outros países. O sucesso, porém, depende da capacidade do empreendedor de equilibrar, de forma respeitosa, as peculiaridades de uma cultura diferente e as preferências do consumidor local. ““Essa tentativa de conciliação é antiga dentro de setores como hotelaria, por exemplo, que sempre se preocupou em facilitar a adaptação dos viajantes à comida do novo espaço”, cita o gastrônomo Danilo Lopez Martinez, que é consultor do Sebrae/PE. Segundo ele, adaptar os ingredientes de uma culinária exótica ao paladar mais tradicional do consumidor faz com que as pessoas se atrevam a experimentar novidades. “No Japão, a tradição gastronômica é de muita acidez nos molhos. Não existe essa coisa de sushi frito ou com cream cheese, como é comum nos restaurantes japoneses daqui”, ensina. Comida é cultura e, quando há muita diferença, às vezes o choque cultural é inevitável ou até insuperável. “Conheço um excelente restaurante indiano cujas donas desistiram e resolveram vender cachorroquente”, exemplifica. Ele também enumera casos de sucesso como a fábrica de paletas mexicanas Don Diego, que flexibilizou o seu cardápio de sorvetes e incluiu sabores como cajá e tapioca. Este tipo de adaptação também é importante para poder baixar os custos dos insumos importados, que em alguns casos são caros ou difíceis de obter. Mas ela deve ser feita de forma calculada e após muita pesquisa e conhecimento acerca da realidade que se
quer reproduzir. “Hoje muita gente viaja ou tem acesso a informações através da internet. O consumidor é exigente e informado. E esse aprofundamento é necessário para que não se cometa nenhuma gafe e o cliente não se sinta comprando gato por lebre”, alerta o consultor. CULINÁRIA PERUANA EM PERNAMBUCO Apostar no novo deu certo para Manuella Lisboa e Biba Fernandes, donos do restaurante peruano Chiwake. Há dez anos, quando se apaixonaram pela culinária nikke (que mescla influências do próprio Peru e da colônia japonesa, muito influente naquele país), eles possuíam um restaurante japonês em Porto de Galinhas. “A gente já tinha experiência e referências, mas o público não conhecia a culinária e confundia com a mexicana. Achava que a comida devia ser muito apimentada e tinha certa rejeição que precisamos reverter aos poucos com degustação e divulgação do trabalho”, relembra. Hoje, além do Chiwake, o chef Biba Fernandes comanda o Chicama, que funciona dentro do Iate Clube do Cabanga e tem proposta mais autoral, mesclando a culinária peruana com a nordestina. Para Manuella, optar por um ramo desconhecido da culinária foi, ao mesmo tempo, um risco maior e um excelente diferencial. Felizmente a inauguração do Chiwake coincidiu com o destaque que a comida peruana vem ganhando no cenário mundial, despertando a curiosidade dos clientes locais. “Tivemos sorte e abrimos logo, antes dessa moda do ceviche”, ri a empresária. E, se por um lado a comida produzida no Chiwake utiliza muitos ingredientes de fácil acesso (como macaxeira, batata-doce, milho e coentro, que são preparados de maneira inovadora), até hoje o casal precisa viajar periodicamente ao Peru para comprar a pimenta ají, que não é comercializada no Brasil. “Meu marido conseguiu que um produtor local plantasse, mas não houve continuidade. Então, SETEMBRO/OUTUBRO 2017 37
MERCADO
a cada seis meses, vamos ao Peru comprar ají e outros ingredientes, e aproveitamos para reciclar nosso conhecimento sobre o que está sendo produzido por lá. Para se trabalhar com a culinária de outro país, não é preciso ser nativo, mas tem que respeitar e estudar muito”, alerta. A LOGÍSTICA PODE SER UM ENTRAVE Às vezes, detalhes que passam despercebidos podem inviabilizar completamente um negócio. Foi o caso da loja Pure Nepal, que comercializava roupas de algodão produzidas por cooperativas de costureiras daquele país. A loja durou 38
dois anos e meio e, apesar da grande procura pelas peças, o proprietário Christian Cunha decidiu fechá-la. “A logística era muito cara e estressante, pois a importação para o Brasil é muito burocrática. Precisei enfrentar erros de documentação e demora no transporte, e a mercadoria ficava retida por longos períodos”, lista o empresário, que preferiu se dedicar apenas às terapias holísticas, nas quais se aprofundou em sucessivas viagens ao Oriente. Através da Pure Quantum Terapias, ele achou uma forma de continuar divulgando a cultura e sabedoria do Nepal. Segundo Christian, ao contrário do que acontece na Europa e nos Estados Unidos, onde as peças são classificadas como
Antes de abrir um negócio que faz referência a outro país, atente para o seguinte: • faça uma pesquisa com o público para
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• Apostar no novo deu certo para Manuella Lisboa e Biba Fernandes, donos do restaurante peruano Chiwake
artesanais e ficam livres de impostos, as roupas nepalesas são sobretaxadas em nosso país pelo simples fato de serem confeccionadas em algodão, por conta de leis protecionistas que visam a garantir o mercado dos produtos brasileiros feitos deste material. “As taxas de importação são absurdas. É melhor comprar roupas de tecido sintético de baixa qualidade da China ou de Bangladesh, muitas vezes produzidas por meio de trabalho escravo”, critica. “Nós somos o que vestimos e eu tinha garantia da origem daquela roupa, sabia quem produzia, que era um comércio justo, que não envolvia trabalho escravo e nem infantil. Eu fazia isso de forma correta, com o coração. Mas ficou impossível prosseguir”, lamenta.
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verificar a rentabilidade e a aceitação. Analise bem para não aderir a um modismo passageiro e perder seu investimento rapidamente; os brasileiros são naturalmente abertos a novos sabores e experiências, porque fomos colonizados por muitos países e nossa cultura já é uma fusão de vários elementos. Porém, nem todas as novidades são bem recebidas; pense em flexibilizar seu negócio. No lugar de abrir um restaurante grego, que tal ampliar o foco e investir na culinária mediterrânea, que compreende uma região maior e com mais possibilidades de agradar aos diversos paladares? prepare-se para gastar mais com propaganda, fazer degustações, investir na marca e no conceito do seu negócio. Lidar com o diferente significa ter que criar novos hábitos de consumo entre o público-alvo; oque em produtos que tenham certa “denominação de origem”. Alguns incensos indianos, por exemplo, são feitos de forma manual e com ingredientes diferenciados, chegando a apresentar as impressões digitais de quem o preparou. Para quem entende, isto representa um grande diferencial, agregando valor ao que está sendo comercializado; analise todos os aspectos logísticos envolvendo custos de importação, transporte, conservação etc. Estes elementos podem inviabilizar o seu negócio; estude a fundo e conheça o que está vendendo. Jamais deixe o cliente se sentir enganado.
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Crianças em férias, oportunidades de negócios Colônias permitem que as empresas diversifiquem suas atuações, ajudando famílias a ocuparem seus filhos durante o período de recesso escolar
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MARIANA MESQUITA
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ês de férias é sinônimo de viajar, fazer programas com a família, buscar descanso ou aventura. E pode ser também motivo de dor de cabeça para os pais que não têm folga ou dinheiro durante o período, e uma época de “vacas magras” temida por muitos empresários. Afinal, como enfrentar a sazonalidade típica de julho, que no Recife é agravada por conta da estação do inverno? “Nessa época, a gente tem habitualmente uma redução muito grande no volume financeiro, porque há uma diminuição significativa do fluxo tanto na frequência, quanto no volume de inscrições”, aponta o professor de educação física Carlos Kucera, proprietário da academia Pratique Movimento, sediada no Poço da Panela. Esta era a mesma queixa de Silvana Souza Leão, fundadora da escola de natação Leão Marinho, que há 17 anos funciona nas dependências
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do Clube Alemão, no Parnamirim. No caso de Silvana, a debandada no período era ainda maior por causa das chuvas, já que as aulas de natação são oferecidas num parque aquático ao ar livre. A solução encontrada por ambos foi investir nas colônias de férias, criando uma fonte extra de renda e uma oportunidade para tirar as crianças do ócio – e, ao mesmo tempo, divulgando o espaço para potenciais futuros alunos regulares. Silvana acaba de concluir a 19ª edição de sua colônia, que acontece duas vezes por ano e atende um público que vai dos quatro aos 13 anos, organizado em grupos que participam de atividades diferentes e adequadas para cada faixa etária. Além da piscina, ela utiliza todo o espaço do clube, promovendo atividades como resgate de brincadeiras e introdução a diversas modalidades desportivas, culinária e artesanato. “Na primeira vez, tivemos 30 inscritos. Agora foram mais de 200”, comemora. Dentro de um nicho onde há muito improviso, ela faz questão
Silvana Souza Leão concluiu este ano a 19ª edição de sua colônia de férias, que atende um público que vai dos quatro aos 13 anos
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INSPIRAÇÃO
de frisar que todos os profissionais que estão à frente da colônia têm formação em educação física. “A gente não trabalha com babás. Todo mundo tem fundamentação científica no que faz e a gente busca incentivar a cooperação entre as crianças através da psicomotricidade. A procura é grande, porque as famílias necessitam desse espaço. Há muitos filhos únicos que precisam de interação”, destaca. Carlos Kucera reforça a ideia de que uma colônia não deve servir simplesmente para “ocupar” e “entreter” as crianças. “Nós não trabalhamos com recreação. O nosso diferencial é focar na aprendizagem e no desenvolvimento por meio do movimento”, explica. A equipe da academia é formada por cerca de oito pessoas com formação em educação física, que atendem turmas de cerca de 20 alunos nas faixas etárias de três a cinco e de cinco a sete anos. “Nesta fase, as crianças não devem se especializar em esporte, então trabalhamos de forma mais livre o desenvolvimento motor e socioafetivo através da dança, circo, artes, brincadeiras e treinamento funcional infantil”, detalha. As poucas vagas oferecidas se esgotaram rapidamente. “Temos uma boa procura entre o público da zona norte do Recife, que percebe o serviço diferenciado que oferecemos”, destaca. A Pratique Movimento foi criada em 2015 e já foram realizadas cinco edições da colônia. Mas a experiência de Kucera na área é mais antiga. “Trabalhei muitos anos como personal trainer. Nas férias, realizava atividades com crianças em vários prédios. Sempre enxerguei as colônias como uma excelente estratégia empresarial para diversificar minha atuação profissional e aumentar o faturamento. Enquanto alguns se queixam, eu sempre trabalhei mais nesta época”, ri o educador físico. RESGATE DOS QUINTAIS DE INFÂNCIA Indo de encontro à tendência das colônias de férias mais especializadas, há três anos a Casa Astral promove tardes lúdicas no Poço 42
da Panela. “Somos um espaço cultural voltado para a arte e a celebração”, conceitua Philipe Castro, proprietário do espaço juntamente com sua companheira, Guida Gomes. Durante todo o ano, shows e eventos culturais dividem o espaço com festas infantis e de familiares “realizadas sem a pressa, ostentação e barulheira dos bufês tradicionais”, como destaca Guida. Segundo ela, a Casa Astral tem uma proposta nova dentro do Recife e, para poder ser implantada, eles buscaram estruturar um Plano de Negócios junto ao Sebrae. “O plano
A Pratique Movimento foi criada em 2015 e já foram realizadas cinco edições da colônia de férias
foi importante para organizar nossas ideias e metas. Não conhecemos ninguém que tenha uma proposta igual à nossa. Achamos um único exemplo parecido em São Paulo”, relembra. A ideia da colônia da Casa Astral é colocar as crianças para brincar com os pés no chão, como se estivessem no quintal da vovó. Em parceria com educadoras do Centro Escola Mangue, a colônia também trabalha a relação com o meio ambiente e promove a ligação com o Rio Capibaribe, que passa próximo ao local. “A meninada se suja, pisa
na terra. Ao mesmo tempo em que temos uma programação lúdica, as atividades não têm rigor de horário. Seguimos o fluxo do que as crianças desejam fazer”, descreve Guida. Preocupada com a sustentabilidade e a responsabilidade social, a equipe da Casa Astral procura fornecer alimentação saudável aos pequenos e também oferece bolsas para pessoas carentes da comunidade do Poço da Panela, que são encaminhadas através de uma parceria com a associação de moradores e a biblioteca comunitária do local. SETEMBRO/OUTUBRO 2017 43
ENTREVISTA
“Dependendo do tipo de sentimentos que eu desperto no consumidor, eu tenho uma fidelização maior com ele” Entender os desejos e anseios do consumidor é a chave para o sucesso do negócio. Conquistar o público e despertar os mais íntimos sentimentos fazem com que o cliente crie uma conexão com o produto e que elas sejam das formas mais efetivas de fidelizar o consumidor. A palavra neuromarketing está na moda, mas muitas dúvidas ainda pairam sobre ela. Fernando Kimura é um dos principais especialistas do assunto no Brasil. Com especialização realizada na Universidade de Buenos Aires, já ministrou palestras sobre neuromarketing em diversos eventos internacionais. Ele esteve recentemente na sede do Sebrae em Pernambuco para desmistificar o neuromarketing para empreendedores locais e falou à Revista Direção.
por
ERICKA FARIAS
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MAKER MÍDIA
O que é neuromarketing? É basicamente a associação de duas áreas — a área de marketing e a área de neurociência. Elas se unem para entender o que, neurologicamente, acontece na cabeça das pessoas. Como os consumidores reagem perante um estímulo, produto ou comercial. Baseado no conceito de neuromarketing, eu posso começar a entender como as cores têm influência no cérebro das pessoas. 44
Aqui no Brasil isso já é aplicado pelas empresas? Isso já é aplicado há muitos anos por muitas empresas. É possível medir isso em máquinas, mas algumas empresas talvez não apliquem tecnicamente. As empresas perceberam diversos comportamentos psicológicos e começaram a aplicar isso. Como as cores influenciam, por exemplo. No mercado de coisas sensuais, sempre se usa muito
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ENTREVISTA
vermelho, embora aqui no Recife tenha um motel famoso que foge à regra e usa verde. Mas, de uma maneira geral, o vermelho é uma cor sensual que se usa muito neste segmento. Outro aspecto importante do neuromarketing muito utilizado é entender que as pessoas compram por inveja. As marcas se utilizam de uma estratégia que é de causar inveja nas pessoas. Quais vantagens as empresas têm ao entender esses fatores? A partir do momento que eu sei de alguns comportamentos e entendo como a cabeça do ser humano funciona, eu construo minha estratégia. O que poucas empresas usam — e que é uma novidade — é a parte de estudo neural. Para tal, é necessário contratar uma empresa que faça isso, mas é bem restrito, caro e utilizado por empreendimentos que possuem muito potencial financeiro, que por sua vez nem sempre precisam. Essas empresas já possuem muita tradição no mercado e sabem o que estão fazendo. Isso poderia ajudar (e muito) as pequenas e médias empresas, mas nesse momento do mercado o preço desse tipo de produto não condiz com as condições financeiras do segmento. Quais tipos de soluções do neuromarketing as pequenas e médias empresas poderiam aplicar na sua realidade? Contratar um teste de eficiência de embalagem, por exemplo, é algo que pode fazer uma enorme diferença. Vamos supor que eu fabrique água de coco. Eu pego minha embalagem e a dos meus principais concorrentes para fazer uma análise neural. A intenção é ver o que acontece no cérebro das pessoas, ao visualizar cada uma das embalagens. A partir disso, eu teria um relatório sobre qual delas gera descargas mais positivas no consumidor do que negativas. 46
Então, a possibilidade desse produto ser comprado é maior. Esta é uma forma de fazer uso das técnicas em design de embalagem. Por que minha loja chama atenção? As pessoas olham para quais elementos da minha vitrine? Isto pode me dizer para onde devo direcionar os produtos. A mesma coisa pode ser aplicada no site. Essas técnicas também podem ajudar na fidelização do cliente? Podem. Na verdade, a fidelização do consumidor está ligada ao fato de você entender o que acontece na cabeça do consumidor. Quando a gente começa a entender isso, você percebe que as marcas precisam avaliar as três áreas de análise do neuromarketing: tensão, memória e emoção. O quanto o produto gera de cada coisa? As marcas podem se relacionar de maneira emocional. Dependendo do tipo de sentimentos que eu desperto no consumidor, tenho uma fidelização maior com ele. A Estrela, por exemplo, é uma marca brasileira de brinquedos antiga e muito conhecida. Quantos têm uma relação com ela desde a infância? Você deve ter maravilhosas memórias da Estrela, então você associa a coisas boas. A marca tem conexão emocional. Quando você for comprar um presente para o seu filho ou para presentear uma criança, isto vai ser muito relevante. A tendência é transferir aquele sentimento para a hora da compra. E quando o consumidor final também é uma empresa? O sentimento também conta? No mercado de negócios, por exemplo, o contrato entre uma empresa e outra pode ser emocional, do ponto de vista que tem que transmitir transparência, credibilidade, segurança, idoneidade. Isto faz com que
o relacionamento seja construído através de emoções, o que pode ajudar, mas não necessariamente você precisa ter um estudo para fazer isso. É preciso ter uma estratégia para você saber qual emoção quer gerar. Aí entra marketing, assessoria de imprensa, pré-venda, pós-venda. A empresa tem que definir a sensação dos clientes e precisa ser trabalhada por toda a comunicação e todo o atendimento.
A partir do momento que eu sei de alguns comportamentos e entendo como a cabeça do ser humano funciona, eu construo minha estratégia
Nesse cenário, as redes sociais seriam um espaço indispensável para a aplicação do neuromarketing? E como construir essas sensações? Sim. As redes são mais um canal de comunicação, mas as empresas não podem se esquecer da assessoria de imprensa, do marketing tradicional, do pós-venda, do “0800”. As redes sociais são mais um canal que une todos. Problemas em qualquer um dos setores podem refletir nas redes sociais. É um desafio para as empresas, porque você tem que criar conteúdo todo dia e isto as empresas não estão acostumadas a fazer. Então vejo que este é um desafio complexo. O neuromarketing atua de forma diferenciada no consumidor moderno, uma vez que ele possui um comportamento diferenciado? Não. Isto é um mito que a gente tem. A internet vem mudando o comportamento de pessoas não só jovens. A minha mãe, que não é jovem, também teve o comportamento alterado, porque ela não compra nada sem que antes eu veja para ela onde é mais barato, ou mesmo se o produto tem registro no Reclame Aqui ou no Facebook. Então, criaramse alguns novos comportamentos. O jovem compra por status, assim como as pessoas mais velhas e as crianças. Isto é desde que o mundo foi construído. Não foi alterado. As pessoas compram por inveja, por segurança, por insegurança, por medo, por sensações. Se você sabe aplicar as sensações corretas, você faz as pessoas comprarem.
Como nós não temos acesso a pesquisas e isso tudo é caro, o meu propósito é fazer com que as pessoas entendam o que é feito, como é feito e que, de certa forma, você aplique as melhores práticas no seu negócio. Então pense no seu negócio e como você constrói um valor inconsciente. O cliente não percebe que aquilo é um valor. Por exemplo, você tem um produto e a embalagem brilha; a sua loja tem um cheiro bem suave que mal deixa o cliente perceber o perfume. Essas coisas constroem um valor inconsciente. Um ovo de Páscoa que possui embalagem brilhante, mas tem o mesmo peso que uma barra de chocolate e custa 10 vezes mais caro. Do ponto de vista racional, é um absurdo você pagar 10 vezes mais caro na mesma coisa, mas as pessoas pagam por causa do valor inconsciente. O fabricante conta uma história e a sensação de ganhar aquele produto é diferenciada. A barra de chocolate você come o ano inteiro. O desembrulhar, o barulho, o papel, tudo isso a gente se lembra da infância. Por mais que seja para os nossos filhos, há o resgate. Por isso, produtos “retrô” estão na moda. Aquela geladeira que parece uma geladeira antiga, que lembra a casa da sua avó. Esse era um momento gostoso da sua vida. Comprar aquele produto faz você reviver um pouco do passado tão bom. SETEMBRO/OUTUBRO 2017 47
DICAS
Conheça o programa
Empreender Mais Simples O programa Empreender Mais Simples é um projeto de crédito orientado do Sebrae. Nesta edição do quadro “dicas”, serão esclarecidas algumas dúvidas em relação ao programa e quem pode participar.
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O programa O programa Empreender Mais Simples oferece crédito orientado destinado ao capital de giro de microempresas ou empresas de pequeno porte. Por enquanto, apenas o Banco do Brasil está operando o programa de financiamento.
Como conseguir Para pedir o financiamento, primeiro é necessário que o microempresário procure a consultoria do Sebrae, para que seja elaborado um diagnóstico e um estudo de capacidade de pagamento. Com essa orientação, será dado um parecer favorável ou não para o pedido de financiamento. Caso não seja aprovado, serão apontados fatores de gestão para serem melhorados antes que a empresa tenha acesso ao crédito.
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Consultoria A análise da empresa é realizada por um profissional com vasta experiência na área de serviços financeiros disponibilizado pelo Sebrae Nacional. A consultoria é gratuita para o cliente.
Uso do financiamento O Sebrae sugere que o financiamento seja utilizado como capital de giro puro, isto é, seja usado na aquisição de matérias primas, mercadorias, pagamento de fornecedores, pagamento de salários e outras despesas operacionais. O uso desse crédito para reformas e imobilizações não é indicado, porque é um tipo de financiamento a curto prazo. O ideal é buscar outro tipo de empréstimo.
Limite de crédito O limite bruto do financiamento de crédito é de R$ 200 mil, porém a quantia será estabelecida de acordo com uma análise cadastral do agente financeiro e pelo levantamento da capacidade de pagamento. O prazo de pagamento do crédito é de 24 meses, incluindo os seis meses de carência. Este período também pode ser alterado de acordo com a análise de capacidade de pagamento.
Taxa de juros A taxa de juros nominal em cima do financiamento é de 1,56% ao mês, podendo variar em função da análise de risco de cada empresa. Por isso, é importante que o microempresário procure um agente financeiro.
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ARTIGO
Compre do pequeno e fortaleça a economia local por
DEBORAH GUERRA
O Movimento Compre do Pequeno Negócio foi lançado pelo Sebrae em agosto de 2015, com o intuito de fazer os brasileiros reverem seu modo de pensar. Uma estratégia de marketing bem planejada e um enorme trabalho de divulgação e mobilização que vem, ao longo desses anos, conscientizando as pessoas no sentido de que fortalecer os pequenos negócios interessa ao país e a cada um de nós. A mensagem sensibilizou parceiros, apoiadores e cidadãos. A campanha mostrou que uma mudança de atitude da população pode significar uma saída concreta para a instabilidade econômica que atinge os brasileiros.
Salão de Beleza
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Foram inúmeras iniciativas de apoio. Um bom exemplo aconteceu na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, que sancionou a Lei nº 15.720, de 8 de março de 2016, e institui o Dia Estadual da Micro e Pequena Empresa no calendário de eventos do Estado de Pernambuco, a ser realizado anualmente, no dia 5 de outubro, dedicado também ao Movimento Compre do Pequeno Negócio, idealizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
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Associações comerciais; CDLs; federações; jornais locais; bancos; Secretaria de Micro e Pequena Empresa, Trabalho e Qualificação; prefeituras, entre outras instituições, também são parceiros nesse movimento. Nos anos anteriores, o Sebrae em Pernambuco promoveu, em todo o estado, grandes palestras e capacitações, preparando o empresário para esse movimento. As ações aconteceram em todas as regiões, contando com mais de 13.000 atendimentos, entre cursos, oficinas, palestras, feiras, consultorias e orientações técnicas. O intuito foi preparar o empreendedor e promover vendas e contratações para os pequenos negócios. A programação englobou variados temas como marketing e vendas, liderança, inovação, tecnologia, empreendedorismo, gestão, legislação e finanças, vitrinismo e atendimento ao cliente. Este ano não será diferente. O Sebrae Pernambuco realizará capacitações em todo o estado, de 15 de setembro a 7 de outubro.
E, no dia 19 de setembro, acontecerão palestras simultâneas com grandes nomes em Recife, Araripina, Caruaru, Petrolina, Garanhuns, Serra Talhada, Cabo de Santo Agostinho e Goiana. Para incentivar a participação no Movimento Compre do Pequeno Negócio, haverá campanhas na mídia e nas redes sociais, e distribuição de kits gratuitos em pontos específicos para celebrar o grande dia, chamando a atenção dos consumidores. Os beneficiários diretos de todas as ações propostas pelo projeto são os microempreendedores individuais, as microempresas, as empresas de pequeno porte e os produtores rurais. O Sebrae acredita no poder dos pequenos negócios e numa cultura mais consciente de consumo. É por isso que foi lançado esse movimento. Para valorizar e ajudar ainda mais os empresários e empreendedores. *Deborah Guerra é assessora da diretoria executiva do Sebrae em Pernambuco e coordenadora estadual do Movimento Compre do Pequeno Negócio.
Mercadinho Cafeteria
Farmácia
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ARTIGO
Assim caminha a inovação por
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GLEYCE RAMOS*
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Em um mundo onde os clientes acordam todo dia se perguntando “O que há de novo”?, vemos como as empresas precisam ser incansáveis na inovação. A inovação é uma grande aliada na jornada do empreendedor em sua busca, quase incessante, de criar negócios lucrativos. Vivemos numa época em que tudo está se “obsoletando”. Produtos, serviços e até empresas têm sido engolidos por formas mais eficientes de trabalho. Outro ponto é que o mundo tem aceitado a inovação com muito mais rapidez. A eletricidade, por exemplo, levou 46 anos para ser adotada por 25% da população americana. Para o celular “explodir”, foram 13 anos e, a internet, apenas sete. Apesar do exemplo acima, é preciso deixar uma coisa clara: inovação não é sinônimo apenas de tecnologia de ponta ou criação de algo espetacular que nunca havia sido pensado. Para falar a verdade, a melhor definição de inovação que ouvi resume-se em três palavras: “mudar para melhor”. Existe outro componente nessa dinâmica: o cliente não compra mais produto (e serviço) porque é bom e barato apenas — e sim também pela experiência que as marcas proporcionam. E podemos ir mais além: se ele é “envolvido” na construção do produto, ainda melhor. A Camiseteria adotou um modelo de negócio em que trabalha em parceria com o cliente para criar seus produtos, recebendo sugestões de estampas e votação no site. Com isso, a camiseta é produzida já saindo com o aval do cliente. Acredito que o brasileiro tenha um DNA inovador, simplesmente porque a maior inspiração para inovar venha das dificuldades. Muitas empresas hoje usam o WhatsApp para divulgar e vender seus
produtos. Recentemente uma amiga organizou a festa de aniversário de 15 anos da filha apenas usando este aplicativo. Visite qualquer dia a Rua 25 de Março, em São Paulo, e você verá quanta criatividade e quanto foco no cliente existe ali. O comércio de rua é um grande laboratório, onde com muito bom humor o vendedor lança o velho jargão “mulher bonita não paga, mas também não leva” e vai sobrevivendo, sempre com um sorriso nos lábios. Outro povo inovador e com foco no cliente é o indiano. Há alguns anos, quando estive naquele país, decidi adquirir um sári. O sári é um traje típico usado pelas mulheres; na verdade, ele é um pedaço de pano de cerca de seis metros e, com as dobras que você faz, transforma-se em um vestido. O vendedor, muito simpático, insiste para que eu compre. Provei e olhei no espelho. Achei bonito, mas aí vem a questão: “Quando voltar, como transformar esse pano num vestido”? Pergunto a ele com o meu inglês “capenga” e logo escuto um “Don´t worry”. E lá vem uma moça com um manual para se dobrar sári em português! E você ainda recebe um treinamento na hora (aprender fazendo). Isto é foco total no cliente. Para fechar a venda, a pergunta padrão de todo indiano: “Are you happy”? Se você disser não, está desfeita a venda... Ah, a cultura... A inovação requer esforços. Steve Jobs (impossível não citá-lo) também fez fama por suas incríveis apresentações nos lançamentos dos produtos da Apple. O que poucos sabem é que aquilo que parecia natural tinha sido exaustivamente construído e treinado nos mínimos detalhes. Jobs chegava a ensaiar 100 vezes para uma apresentação. Qualquer pessoa pode adotar medidas simples para melhorar a sua capacidade de inovar. Para mim, três passos são fundamentais: SETEMBRO/OUTUBRO 2017 53
ARTIGO
Passo 1 Observe – prestar atenção é muito importante, identificar necessidades no meio em que vivemos é uma fonte de inspiração. Passo 2 Acredite em você – compartilhar uma ideia com os outros pode ajudar, mas atenção: invariavelmente as pessoas terão foco nas dificuldades que você encontrará. Não dê ouvidos. Acredite na sua ideia e siga em frente. Passo 3 Ponha em prática – você só vai saber se funciona testando e não espere o melhor momento com as condições ideais. Faça! Se você não fizer, pode ter certeza que alguém fará. Meu avô foi das pessoas mais inovadoras/ empreendedoras que conheci. Ele foi o primeiro comerciante a levar sorvete e produtos de delicatessen para Gravatá, na década de 1940. Detalhe sobre o sorvete: a cidade não tinha eletricidade na maior parte do tempo. Na verdade, a energia funcionava apenas das 18h às 22h. As poucas geladeiras que existiam na cidade eram a gás e só encontradas nos hotéis, na casa de saúde e nas residências de alguns moradores mais abastados. Ele produzia o sorvete duas vezes por semana e saía para vender na hora. Esta história daria outro artigo. E o fracasso? A inovação e o fracasso andam de mãos dadas. Em seu artigo Why Failure Drives Innovation, Baba Shiv, da Universidade de Stanford, escreve: “O fracasso é um conceito temido pela maioria dos empresários. Mas o fracasso pode ser realmente um grande motor da inovação para um indivíduo ou para uma organização. O truque consiste em abordálo com a atitude certa e aproveitá-lo como uma lição — e não como uma maldição”. O Sebrae é uma entidade que procura disseminar, entre as empresas que 54
atende, a importância do conhecimento, a importância de inovar. Há alguns anos, tínhamos um projeto: Visão do Futuro. Em Petrolina, buscando atender os empresários das localidades mais distantes que não conseguiam comparecer aos nossos eventos, decidimos começar a transmitir as palestras ao vivo por meio das rádios locais. Foi um tremendo sucesso. Hoje isso não parece nada inovador, todo mundo transmite tudo pela internet. Mas, na década de 1990, isso foi uma iniciativa que democratizou a informação pelos rincões mais longínquos do Sertão. E, para finalizar, conheci recentemente duas experiências que muito me tocaram. O PretaLab, que é uma iniciativa que visa a tornar acessível a tecnologia para mulheres negras e indígenas, como forma de reduzir as desigualdades sociais no país. Silvana Bahia, filha e neta de empregadas domésticas, teve seu rumo de vida mudado por causa da inovação. Com parcerias e poucos recursos, ela segue em frente e dispara: “Tecnologia não é só digital, é marcenaria, bordado, crochê. Estamos num makerspace, mas o grande valor desse local são as pessoas”. E outra, o Instituto Santos Dumont, localizado no Rio Grande do Norte. Além de pesquisas envolvendo neurociência, promove educação integrada à pesquisa e contribui para uma transformação mais justa e humana da realidade social brasileira. Este é o Brasil que queremos. O mundo caminha a passos largos em direção ao futuro. Tudo o que temos ouvido refere-se a leapfrogging, inovação, mindset, tecnologia, velocidade. Mas, nesse caminhar, acredito que o projeto mais disruptivo do momento é preservar nossa humanidade, nossa simplicidade. Isto garantirá a nossa sobrevivência. *Gleyce Ramos é gerente de Inovação do Sebrae Pernambuco.
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Inovação na prática Pequenos negócios buscam consultoria Sebraetec para melhorar produto ou serviço
Conquistando a merenda Adoção de políticas públicas por prefeituras que compram dos pequenos negócios estimula a economia local e a alimentação saudável
Empreendedorismo na sala de aula O tema já faz parte do cotidiano de escolas e universidades