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COVID-19 E O MERCADO DE LOCAÇÃO DE IMÓVEIS
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COVID-19 E O MERCADO IMOBILIÁRIO
Como a crise afetou imobiliárias e a locação de imóveis.
Buscando entender melhor o atual cenário do mercado imobiliário na cidade de Uberlândia em meio à crise causado pelo novo Coronavírus, a Revista Secovi procurou algumas das imobiliárias associadas ao Secovi-Tap para conversar sobre o assunto. Uma delas foi a Arantes Imóveis, acompanhe a seguir:
Dr. Francisco Arantes, advogado da Arantes Imóveis nos concedeu uma entrevista e descreveu para a revista como está o mercado de locação durante a pandemia. Em um bate papo bem amistoso foi possível visualizar como o covid-19 impactou este setor da economia local.
Revista Secovi: Qual o impacto que o covid-19 trouxe para os contratos de locação?
Dr. Francisco: O impacto maior para as imobiliárias foi a inadimplência. Já esperávamos por esse aumento, assim como pelas desocupações. Nosso grande objetivo como intermediadora dos contratos de locação é entrar em um consenso entre locador e locatário para a manutenção da locação. No início tivemos uma demanda muito grande, e ainda temos, de solicitação de negociação dos valores dos aluguéis. Por meios de aditivos estamos conseguindo conter o aumento da inadimplência fazendo negociações; seja para prorrogação dos pagamentos, descontos nos valores dos aluguéis e, em alguns casos, até mesmo isenção. Tudo depende de cada caso.
Revista Secovi: E como este processo tem sido estruturado?
Dr. Francisco: Nós pedimos para que o locatário comprove sua vulnerabilidade frente à situação do covid-19. Informando de que forma sua renda foi afetada e fazendo uma solicitação formal por e-mail. Feito isso, acionamos o locador e apresentamos a situação juntamente com uma proposta, solicitando o posicionamento do proprietário do imóvel de imediato.
Revista Secovi: Essas negociações tem apresentado êxito? Dr. Francisco: Até agora esse método tem tido bons resultados. Olhando para nossa carteira, nós já negociamos algo em torno de 35% a 40% dos contratos.
Revista Secovi: Então o maior impacto foi na inadimplência. Esse impacto foi muito representativo? Houve um crescimento muito grande no número de inadimplentes?
Dr. Francisco: Por causa dessas ações conseguimos contê-la, se não fossem as negociações tenho certeza que a inadimplência subiria muito. Lógico que está sendo mais complicado. Mesmo negociando ainda existem locatários que não estão conseguindo se manter. Nosso maior desafio tem sido encontrar o meio termo para evitar a desocupação, porque não é interessante para o locatário desocupar, seja comercial ou residencial. Ainda tem o fato de que estamos em uma cidade universitária. Onde muitas locações são feitas para estudantes que nem na cidade se encontram. Voltaram para a cidade dos pais e ficaram por lá. Quem banca esses estudantes são os pais
que também foram afetados de alguma forma. Outro exemplo é a locação para salão de festas e academias que estão fechados e não se sabe quando vão voltar. Se estes desocuparem, qual a garantia que o locador tem que esse imóvel será locado novamente? Por isso tentamos sempre entrar em um acordo para a manutenção dos aluguéis.
Revista Secovi: E vocês conseguiriam dizer qual tem sido a perspectiva do locador e do locatário diante dessa crise?
Dr. Francisco: Olha, o pessoal tem se mostrado sensível com a situação. Raro tem sido as vezes que não entramos em um acordo. Tenho percebido que estamos vivendo uma nova realidade e as coisas precisam ser tratadas de formas diferentes e o melhor caminho tem sido negociar.
Revista Secovi: Outra questão que o covid-19 trouxe para dentro das imobiliárias foi um novo formato de trabalho: o homeoffice. Como vocês se adequaram a essa nova realidade?
Dr. Francisco: Para o ramo imobiliário trabalho em homeoffice é bastante complicado. Até porque não havia, dentro das empresas, tecnologia voltada para esse tipo de trabalho, a não ser para a área de marketing, mas a locação em si ainda é muito manual. A pessoa precisa pegar uma chave e precisa ir olhar um imóvel. É complicado locar só pela foto. O cliente quer visitar o imóvel. Por essa razão é totalmente inviável o trabalho homeoffice, a não ser em casos bem específicos. Quando tudo isso começou e os decretos estavam mais rígidos em relação à questão do trabalho e do isolamento, nós concedemos férias para alguns funcionários na intenção de não ter nenhuma baixa na empresa, porque o volume de novas locações caiu muito. Com essa crise, ninguém está pensando em alugar um novo imóvel. Optamos então em dar férias para uma boa parte dos funcionários e trabalhar com um grupo reduzido seguindo as orientações de uso de máscaras, distanciamento e sem o atendimento presencial. Quando foi possível voltar o atendimento ao público fizemos triagem na porta da imobiliária, permitindo a entrada somente com máscaras, respeitando o limite de distância e assim temos seguido.
Revista Secovi: Mesmo com todas essas medidas, a empresa foi forçada a desligar algum funcionário ou conseguiu manter o quadro sem alterações? Dr. Francisco: Por conta do covid-19 até agora não foi preciso fazer nenhum desligamento. Até porque, com o retorno do mercado o movimento voltou e temos conseguido retomar o comércio, lógico que não está 100%, mas já está melhor do que estava. Claro que a gente continua sentindo, porque, como mencionei, nossa cida - de é
uma cidade universitária então a desocupação tem acontecido muito, pois os estudantes não sabem quando a universidade irá voltar e por isso preferem desocupar o imóvel e alugar depois novamente ao invés de ficar com o imóvel fechado. Infelizmente está tendo muita desocupação comercial também, essas pessoas não estão conseguindo se manter, por conta da baixa do comércio e de ter que ficar fechado sem previsão de quando tudo vai acabar.
Revista Secovi: Como sabemos, essa quarentena não tem data para acabar e a curva ainda não chegou. Diante disso como você visualiza o futuro caso as restrições voltem a ficar mais pesadas ou venhamos a chegar até em um chamado “lockdown”?
Dr. Francisco: É preocupante. Querendo ou não isso tudo é novo. Cada dia é uma surpresa, uma situação nova. Logo quando começou, as reuniões da diretoria da empresa eram diárias para decidirmos o que fazer. Agora a gente já conseguiu se adaptar e entender um pouco de como funcionam as coisas e trabalhar com o que se tem. Eu acredito que hoje se a gente passar por um lockdown ainda temos a suspensão de contratos dos funcionários que a gente ainda não chegou a utilizar, mas com certeza corre o Revista Secovi: O que você espera para o futuro do mercado?
Dr. Francisco: O mercado imobiliário está sim sofrendo um baque, mas as pessoas precisam de um lugar para morar. Então, referente à locação assim que essa crise passar, acredito que o mercado tende a voltar ao normal. Tudo isso está sendo um aprendizado, porém o mercado tende a continuar após a crise por ser algo essencial.
Revista Secovi: Para encerrarmos, o que você nos diz sobre o novo projeto de lei que o senado aprovou recentemente que proíbe despejar inquilino inadimplente?
Dr. Francisco: Na verdade, essa lei tem um prazo ainda, é longo, mas é complicado porque ela, na verdade, não proíbe os despejos, ela proíbe as liminares em ação de despejo. Não está proibido ajuizar ações de despejo, isso não mudou em nada, o que você não vai conseguir é aquelas decisões antecipadas de despejo. Então essas decisões limina- res não vão ser concedidas, precisa ter uma análise de mérito, análise do processo, dar direito a defesa da outra parte para aí sim ter ação de despejo. Isso vai deixar a justiça ainda mais lenta e os despejos que poderiam sair em poucos meses, vão se arrastar por bastante tempo, causando muitos problema ao setor, como por exemplo: criação de uma falsa sensação de insegurança de que o locatário não vai ser despejado. Só que o locatário precisa entender que ele não está livre da dívida e que pode sim ser despejado. Isso é um grande perigo.«