na APAE –
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“A diferença entre a loucura e a saúde mental é que a primeira é muito mais comum” Millôr
No dia 30 de Novembro último, completei três anos de voluntariado na APAE de Fernandes Pinheiro (PR) onde comecei um trabalho que se estendeu por mais quatro escolas, todas situadas por aqui, no sul do Paraná, cujas escolas possuem cerca de 300 alunos matriculados, com idade de alguns meses a algumas décadas.
Voluntário da Pátria Eram meus objetivos como médico homeopata e em consequência a alguns resultados interessantes recolhidos da clínica particular: Comprovar como reagiriam essas pessoas especiais à medicação homeopática; Realizar um estudo clínico mais amplo desse tipo de doença, considerando casos isolados existentes na literatura internacional específica; Vencer certo preconceito a doentes mentais, existentes desde meus verdes anos na Escola de Medicina, em especial como relação ao choque provocado pelo estágio nas cadeiras de neuropsiquiatria. Sim, o estudo de medicina é chocante à personalidade imatura do adulto jovem, especialmente dos mais sensíveis, entre os quais me incluo, malgré moi; Ainda por contar o estágio no Manicômio Judiciário do Estado, como cirurgião, sofrido - mas produtivo: um vestibular no vestíbulo de Dante, o círculo infernal que faltou no livro do famoso Italiano e parecido com aquele bordão do JÔ: “Eu me odeio!” – o que senti em algumas ocasiões. Certo de que o resultado positivo dessa minha iniciativa poderia proporcionar melhor qualidade de vida a algumas dessas pessoas, que, por razões só atinentes à Providência Divina poderia explicar e que foram sorteadas com essa carga na vida, considerando elas próprias e seus correlatos. Ou seja, os ganhadores da ‘SORTE pequena’!
Após 36 meses de frequência à APAE, o que concluo?
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O desafio se mostrou muito maior do que a expectativa, sabidamente difícil; Minha ignorância também mostrou sua cara feia; Minha aposentadoria, relativamente tranquila, teve seus espaços preenchidos por deslocamentos, estudos e leituras árduas, surpresas as mais diversas e a conclusão de que, quase com certeza, o maior beneficiado em tudo fui eu mesmo; As escolas que conheço são instituições sérias e que cumprem seus objetivos plenamente, considerando a difícil tarefa a que se propuseram.
2 APAE de Teix.Soares
Uma surpresa e uma confirmação: Os “excepcionais”, por mim julgados, mais ou menos iguais, se revelaram talvez mais diferentes entre si do que os “normais” porque firmei a ideia de que normalidade é uma abstração, ou seja, a doença mental é uma questão de quantidade e não de qualidade, confirmando o ditado de que todos temos um pouco de médicos e de loucos. Confirmei, também, as duas coisas: tenho algo de médico e, convivendo com pessoas especiais, sinto-me um deles, embora privilegiado. Acabou aí o preconceito que, onde existe, é porque nos julgamos superiores, inclusive, quando estamos com peninha.
O conceito: Antigamente, nos dias de minha infância esfumada no tempo, quem era diferente era apenas “bobo”. Lembro-me de um primo assim e que a vaidade da mãe quis transformá-lo em advogado: não deu certo e tornou-se um adulto imprestável, no sentido misericordioso do termo. Quem não aprende, não é por não querer, é por não poder. Os compêndios de medicina já os classificavam em “idiotas, imbecis, débeis mentais, retardados” e outras expressões que se tornaram pejorativas e xingamentos, substituídas por outras menos agressivas até os
atuais e elegantes “especiais, excepcionais (de exceção), com necessidades especiais” e sabe-se lá o que se irá inventar para tentar tapar o sol com a peneira. Igualmente, hoje, um velho deve ser chamado de “idoso, na melhor idade...” e outras bobagens para iludir alguém que já anda assim por sua própria situação. Metáforas e malabarismos de palavras podem acabar em catacrese (“Nome fictício por falta de um próprio”) porque até disfarçam, mas não mudam a suposta realidade. Dizem que, moderação é a única virtude, sem esquecer que para muitos pais, isso é o mínimo que pode ser feito em benefício do filho que, de certa forma negou-lhes a alegria da perfeição. Em minha modesta (!) opinião creio que a verdade tem de ser encarada para que revele seus prós e contras e que se pareça com o diabo que, segundo propalam, não é lá tão feio como se pinta.
Inclusão por decreto Certa manhã, surpreende-me uma faixa no frontispício da Escola: “Não à Inclusão” – era parte do movimento contra proposta do Conselho Nacional de Educação, cortando subsídios e estabelecendo que em 2018 estes seriam extintos, ou seja, APAES e assemelhadas seriam sufocadas. Quem conhecesse a APAE por dentro jamais teria ideia tão absurda. Coisas de tecnocratas emburrecidos trás-escrivaninhas.
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Lembro que nossas melhores instituições de ensino estão em mãos particulares. Na Finlândia, copa do mundo em educação, ultrapassando a Suécia, o filho do garçom e o do ministro frequentam as mesmas escolas. Mas lá, a corrupção foi minimizada e o ensino se baseia na colaboração e na confiança; professores altamente preparados e Rotina na APAE
respeitados, inclusive por Ministros. Falar nisso, o anunciado Ministro da Educação, nem sequer empossado e a imprensa (“Folha Política.Org”3ª feira, 23/12/14) noticiou a pérola: “Professor que quiser dinheiro, arranje outra profissão”. Isso teria ocorrido no Ceará e noutra ocasião teria afirmado: “Professor deve trabalhar por amor e não por dinheiro”. Certo, senhor Ministro, será que os políticos não são servidores públicos? Talvez por isso mereçam salários mais do que relevantes, sem contar regalias mil? Ou aí estariam acima do bem, do mal, do amor, da lei?
Típico de governo totalitário, talvez a pessoa mais indicada para atuar na Coreia do Norte ou Cuba que está mais próxima. Existe até Senador da República com parentes entre os “excepcionais”, não necessariamente na APAE, que é uma escola que acolhe pobres principalmente, e onde um corpo docente cuida do corpo discente em todas suas necessidades, que vão muito além do ensinar o bê-á-bá. Não é incomum que um único aluno exija dois professores para seus cuidados. A APAE existe há 60 anos e funciona bem com seus minguados recursos e instalações franciscanas neste “sul-maravilha”. Como serão nas regiões mais pobres do país, se é que existam? Das capitais e cidades maiores não valem como exemplo porque aí apontarei cidades como Pato Branco (PR) que tem duas delas. Nos Estados Unidos, nosso eterno exemplo, suas congêneres são particulares e o governo detém instituições de fiscalização, controle e orientação. No mundo de hoje, portadores de deficiência e necessidades especiais é um grupo incluído numa epidemia em crescimento. Não me parece a hora de extingui-la por lei e com data anunciada. A necessidade é reforçála, sem eliminar o elemento “particular” (iniciativa privada) para não aumentar a confusão. Há de se incluir, somente quando a inclusão for beneficiar os jovens que evoluíram para essa possibilidade. NÃO À INCLUSÃO POR DECRETO, foi o grito agoniado das escolas da APAE no ano que findou.
Notas: Os artigos referentes à inclusão não foram aprovados graças à reação e demonstrações das APAEs. Mas “a luta continua companheiros”! Adotarei, daqui por diante, o termo “Excepcional” para designar os matriculados na APAE: (a) Por que está embutido na designação: Pais e Amigos dos Excepcionais, da qual o Governo seria um dos melhores amigos, conforme é de sua obrigação usar bem o dinheiro de todos os brasileiros. (b) O termo vem da palavra exceção, aquele que desmente a mesmice do bolo mediano, acima ou abaixo. (c) Por que não é pejorativo. Todos almejamos ser excepcionais na profissão, no esporte, nas artes, no amor e na própria vida. Bom lembrar que há muito mais do que dinheiro e lucro neste mundão enlouquecido. Ao grafar Escola, entenda-se, da APAE. PS – ainda voltarei ao tema “inclusão” – pelo “vacilo” do ano findo e porque Nosso Governo descobriu agora que tem de economizar. Economiza ou quebra: antes tarde do que nunca, mas muitas vacas já estão tossindo. E que a tosse não seja em cima dos excepcionais, embora, a corda tenda a quebrar nos pontos mais fracos exatamente.
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