Curado - Hurtmold & Paulo Santos

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CURADO Apesar da pouca idade de seus integrantes, o Hurtmold já pode ser chamado de veterano. Com 18 anos de estrada, o sexteto paulistano vem construindo seu lugar na cena musical brasileira, trafegando por gêneros como rock, jazz e a música eletrônica de vanguarda para encontrar sua própria sonoridade // Sonoridade que é marcada pelos mais variados encontros e parcerias que o grupo promoveu ao longo dos anos, desenvolvendo de maneira própria uma identidade musical calcada em processos coletivos de criação. E esse disco é fruto de mais uma dessas parcerias // Ao convidarem Paulo Santos para um novo projeto, o Hurtmold recebeu em troca toda a experiência com experimentações sonoras que o músico acumulou em sua trajetória ao lado do Uakti. Composto apenas de material inédito (com exceção de uma releitura do próprio Hurtmold), esse trabalho alia a inventividade musical de Paulo Santos e a sonoridade moderna e urbana do grupo paulistano. O resultado é esse disco maduro, ou como o próprio nome já diz, Curado // Com esse lançamento, o Selo Sesc fortalece seu catálogo na medida em que promove o encontro de duas gerações de músicos que nunca se importaram com as armadilhas dos gêneros musicais, produzindo, para nosso deleite, a boa música. Boa escuta! Danilo Santos de Miranda diretor regional do Sesc São Paulo




FLAMBADO (ou POR QUE É QUE VOCÊ TÁ AQUI?) Escrever sobre música é um negócio estranho. É como um menino de sunga na praia. Esse moleque dá socos numa onda. Pra quem o vê (e lê), o soco na onda (e o texto) é (é) um espetáculo meio bocó, engraçadinho, curioso / Vazio / Tanto o garotinho quanto o crítico realizam o inútil. Sobre isso, um texto de 1810. E.T.A. Hoffmann, autor d’O Quebra-Nozes. Ele diz lá que a música é incapaz de viver fora dela mesma / Ou melhor: ela comunica um universo que as palavras não comunicam / Ou pior: ela é um mecanismo que não pertence ao verbo / Cada vez que uma composição é explicada (e músicos possuem uma alergia infinita a explicá-la), ela deixa de ser o que é / Somos egoístas. Você e eu acreditamos que toda canção é feita a nosso serviço. Música e letra ressoam somente aquilo que levamos no estômago – o amor que não deu certo, a paisagem na janela, a vontade de suar. Uma concordância infinita na discordância. Ela é sempre sobre nós / E assim que, ao falar de música, você e eu, ele e ela, a diluímos / Uma gota de vinagre na água e a água não é mais água / Aqui o vinagre: Curado, oito músicas, duas vinhetas, 46 minutos, 2016, o sétimo álbum do Hurtmold. É o melhor trabalho do sexteto paulistano desde Mestro (2004). E o mais definidor desde Cozido (2002) / Curado e Cozido, a propósito // Pra além da óbvia conexão culinária dos títulos, são discos que conversam sobre a passagem do tempo. No exemplo mais evidente, os álbuns repetem a faixa Bulawayo. Em 2002, a banda a gravou com as certezas da juventude: a música era afirmativa, alta, bruta / Em Curado, 14 anos depois, o sexteto envelhece com a sabedoria de quem perde os cabelos e certezas. Aqui, Bulawayo é menos repetitiva. A introdução, criada por Paulo Santos, ex-Uakti, grita as coisas entre os silêncios. Diz


seja lá o que tiver de dizer com pouco / Ao permitir a comparação entre a Bulawayo de lá e da Bulawayo daqui, o Hurtmold desafia o espelho // Paulo Santos é a presença essencial do disco. Com sons que tira de tubos de PVC, arcos metálicos, espumas, ele torna cada faixa um exercício inesperado. Este é um disco do Hurtmold. Mas é um disco do Hurtmold curado pelo mineiro / Para a banda, sua convocação é uma ferramenta de ruptura (como o cornetista norte-americano Rob Mazurek, em trabalhos passados, foi outra) / Em Mils Crianças (2012), um disco de esgotamento, o molde perdia elasticidade, aceitando mais das mesmas coisas. Curado cutuca esses limites / Este é um disco desafiador de rock. Portanto, atiçará as confusões de sempre. E são engraçadas, essas confusões. Note como: (1) muita gente costuma pregar definições fajutas ao grupo. Há quem ouça jazz ali. Mas jazz não há. E (2) tem também quem aponte uma excelência em improvisos – embora o sexteto seja uma das bandas que menos improvisem entre as bandas que parecem improvisar / O que interessa, ao cabo: estar diante de artistas que confundem, que fazem a gente errar, que sinalizam coisas amplas e puramente não-verbais. Música, enfim // Música é a suprema distração. Arte que prescinde de palavras. O verbo, ao contrário, é o fracasso da música. Um fracasso irresistível, mas um fracasso. Porque se escrever sobre uma melodia é o negócio estranho lá do alto da página, fazê-lo aqui embaixo é como iluminar uma sombra / No momento em que a luz e a palavra a tocam, ela some / Ela é outra coisa / Ridendo dicere severum / Curado, como piada de Cozido, diz. Edmundo Clairefont jornalista
























HURTMOLD

PAULO SANTOS

CURADO

ESNAIPES 2:44 / 2 PASTEL DE PIXO 5:30 / 3 OIDNIOD 4:10 / CONTAS 4:15 / 5 YICE 4:43 / 6 7:30 OLHA O QUEIJO 6:05 / 7 BULAWAYO 4:52 / 8 ROSAS 4:07 / 9 YICE 2 3:18 / 10 DIMAS 1 4

6:16

Todas as composições de Hurtmold e Paulo Santos, exceto a faixa Bulawayo (Marcos Gerez/Hurtmold), editada por Radiola Records

Gravado por Fernando Sanches e Eric Yoshino Mixado e masterizado por Fernando Sanches - Estúdio El Rocha (fevereiro, março e abril de 2016) - São Paulo/BR Guilherme Granado teclado, vibrafone, percussão / Marcos Gerez baixo, sintetizador / Mauricio Takara bateria, percussão, vibrafone, guitarra, sintetizador / Fernando Cappi guitarra, vibrafone, percussão / Mario Cappi guitarra / Rogério Martins percussão, clarinete, clarone, teclado / Paulo Santos darbuka, saxtubo, cacho de pvc, trimi, berimcéu, kalimba elétrica, flauta de pvc, tubo em lá, erhu, flauta de bambu Ilustrações Mario Cappi / Projeto Gráfico Mario Cappi e Rogério Martins / Diagramação Alexandre Amaral / Fotos Rogério Martins (fotos individuais) e Alexandre Nunis (foto Paulo Santos e foto com todos os músicos)

Produção Frederico Finelli


SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor Regional Danilo Santos de Miranda Superintendentes Comunicação Social Ivan Paulo Giannini / Técnico-Social Joel Naimayer Padula / Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina / Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli Selo Sesc Gerente do Centro de Produção Audiovisual Silvana Morales Nunes / Gerente Adjunta Sandra Karaoglan / Coordenador Wagner Palazzi / Produção Giuliano Jorge, Ricardo Tifona / Comunicação Alexandre Amaral, Raul Lorenzeti, Renata Wagner / Administrativo Katia Kieling, Thays Heiderich, Yumi Sakamoto / Áudio João Zilio, Marcelo Sarra

Av. Álvaro Ramos, 991 São Paulo I SP l CEP 03331-000 Tel: (11) 2607-8271 selosesc@sescsp.org.br sescsp.org.br/selosesc sescsp.org.br/livraria



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