São Paulo: paisagens sonoras (1830-1880)

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São Paulo paisagens sonoras (1830-1880)

Anna Maria Kieffer

Igreja de São Pedro, 1827 (à direita: Sé de São Paulo) Jean-Babtiste Debret Acervo Instituto Cultural São Fernando, Rio de Janeiro


Pesquisa, Paisagens Sonoras e Concepção ANNA MARIA KIEFFER Direção Musical ANNA MARIA KIEFFER e GISELA NOGUEIRA Recriação de Acompanhamentos GISELA NOGUEIRA GABRIEL LEVY GIACOMO BARTOLONI LEONARDO FERNANDES PAULO DIAS Restauração de Partitura (Tema e variações para clarinete) ACHILLE PICCHI


Intérpretes ANNA MARIA KIEFFER, meio-soprano ALESSANDRO GRECCHO, tenor SANDRO BODILON, barítono ANDRÉ CORTESI, f lauta (27, 36 e 40) TONINHO CARRASQUEIRA, f lauta (24) SÉRGIO BURGANI, clarinete GABRIEL LEVY, acordeão GISELA NOGUEIRA, viola de arame e guitarra romântica GIACOMO BARTOLONI, guitarra romântica MARIA JOSÉ CARRASQUEIRA, cravo e piano (7, 24, 33, 35, 36 e 40) LEONARDO FERNANDES, piano (23, 25, 26, 36 e 40) PAULO DIAS, percussão e buzina cachorreira Participações Especiais QUARTETO VOCAL FEMININO: FERNANDA FARINA e LUÍSA VENTURA, sopranos, ELISABETH BARTELLS, meio-soprano (3) e CAROLINA DOERINGER, contralto LUÍS COARACY, LEONARDO FERNANDES, RODOLFO NANNI, vozes ELSON LEONIDAS, sinetas e psaltério BRASILESSENTIA GRUPO VOCAL, VITOR GABRIEL, regente, ELISA FREIXO, órgão


SÃO PAULO: paisagens sonoras Cidade síntese da modernidade brasileira, São Paulo se estrutura como um organismo em metamorfose e crescimento desenfreados a partir do fim do século XIX, nos conhecidos processos de imigração, industrialização e urbanização. As mudanças necessárias se fazem freneticamente, numa paisagem urbana em trepidação, como blocos de concreto sobre ruínas de um passado não tão distante assim. Resgatar a história dessa cidade mutante não é tarefa banal. O que dizer então de suas múltiplas histórias do cotidiano destinadas ao esquecimento? O CD “São Paulo: paisagens sonoras (1830-1880)” – concebido pela cantora e pesquisadora musicológica Anna Maria Kieffer – é um projeto ambicioso, alicerçado em ampla pesquisa. O período escolhido é emblemático, porque nesse meio século transcorrido podemos imaginar a transformação de um vilarejo tímido, com suas janelas cobertas por gelosias, em uma cidade que começa a se abrir ao novo, trazendo o germe do que seria seu cosmopolitismo atual. Ao escutar o CD que temos em mãos, somos transplantados para outro tempo, numa jornada de conhecimento e fruição. São de fato sonoras as paisagens! Entre composições musicais populares, eruditas, profanas ou sacras, temos também sugestões de ruídos urbanos ou não tão urbanos, de uma natureza que se fazia ouvir. A organização do disco em seis partes temáticas busca uma cronologia ascendente. Assim, podemos não só sentir, mas entender as transformações sonoras passo a passo, percorrendo cantigas tradicionais, letras de célebres alunos do Curso Jurídico, cantos de trabalho, canções para saraus, trovas abolicionistas e composições dos primeiros músicos profissionais da cidade.


Com a produção da presente obra, o Sesc cumpre a missão institucional de preservação do patrimônio imaterial e da memória cultural do país, difundindo projetos de pesquisa musical e trazendo a um público mais amplo a vasta gama de manifestações estéticas que formam a cultura brasileira. Desejo a todos uma boa viagem no tempo! Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo



No caminho de São Paulo Quem achar um lenço é meu Bordado nas quatro pontas Foi paulista que me deu. Cantiga tradicional de tropeiro

São Paulo se assemelha a uma cidade da Andaluzia [...]. Não é raro ouvir-se, como em Cádiz, o som de uma guitarra, em hora avançada da noite, debaixo de alguma janela gradeada que se abre por indecisa mão. Ferdinand Denis em Brésil, 1837

Senti um mais profundo respeito por São Paulo do que por qualquer outra cidade sulamericana que tenha visitado [...]. Há nada menos de quinhentos estudantes de Direito na escola que ali funciona, cujo aspecto realmente evoca as escolas de Direito dinamarquesas, a Universidade de Harvard e os estudantes de Heidelberg. O gênero estudante é o mesmo no mundo – cheio de travessuras, graça e malícia. Daniel Parich Kidder & James Cooley Fletcher em Brazil and the Brazilians, 1857

Paulista e religioso mendicante – Ilustração do livro de James Henderson, A history of the Brazil, 1821 Coleção Pedro Corrêa do Lago, São Paulo


SÃO PAULO: paisagens sonoras (1830-1880) INTRODUÇÃO Este trabalho nasceu de um esboço sonoro, gravado em 1996, em colaboração com Julio de Paula, no qual foram reunidas cantigas relacionadas às ruas da cidade de São Paulo no século XIX. Nos vinte anos que se seguiram, novos materiais foram coletados ou sugeridos, possibilitando estender o projeto até a forma atual: um painel sonoro da capital entre 1830 e 1880, seguindo sua transformação a partir de um vilarejo de tropeiros, passando a importante centro de estudantes e chegando à beira da expansão industrial, urbanística e cultural que a caracterizará a partir da década de 1880. Nesse painel são abordadas cantigas de rua, pregões, cantos de trabalho, música composta e executada pelos estudantes do Curso Jurídico (atual Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo) e seu círculo (muitas vezes integrado por importantes compositores do período) com textos de colegas que foram alguns dos mais representativos poetas do Romantismo. Da mesma forma, são ressaltados os movimentos abolicionista e republicano, os modelos culturais trazidos pelos primeiros imigrantes europeus e a formação de clubes musicais que contribuíram para a maior internacionalização da prática musical no período. Esse arcabouço de sons foi dividido em seis partes, mantendo-se, na medida do possível, uma ordem cronológica das peças musicais completadas por paisagens sonoras recriadas com materiais captados da natureza e com pequenos ruídos do cotidiano.


A CIDADE A cidade se apresenta como na Primeira Planta da Imperial Cidade de São Paulo, de autoria do engenheiro português Rufino Felizardo e Costa, em 1810, revista em 1841. Com base em seu traçado, foi realizado um percurso musical que a contorna, passa por algumas de suas principais ruas e atravessa os rios que a circundam: o Anhangabaú e o Tamanduateí. Partindo da Rua de São José (hoje, Líbero Badaró) e descendo a Ladeira do Acu, o caminhante passa pela ponte do mesmo nome e continua pela Rua de São João (hoje, avenida) até o Campo dos Curros (hoje, Praça da República), na cidade nova. A “Cantiga do Acu”, segundo Afonso de Freitas, faz referência à água da bica do Acu, carregada de “partículas arsenicais ainda que tênues e sumamente saturada de gás mefítico”, que a tornavam venenosa. Um improviso executado à viola de arame ressalta o uso desse instrumento entre os paulistas até meados do século XIX e nos conduz ao tanque do Arouche. Aí, entre o coaxar de sapos, eleva-se uma toada recolhida por Mário de Andrade. Do Beco do Mata Fome (hoje, Rua Epitácio Pessoa) ouve-se o ruído dos cincerros das mulas madrinhas que serviam de guia às tropas vindas de Sorocaba pela antiga Estrada dos Pinheiros (hoje, Rua da Consolação) e os ecos de uma velha cantiga de tropeiro. Ao subir a Ladeira de São Francisco, o som de uma guitarra relembra o instrumento mais usado pelos estudantes do Curso Jurídico. Trata-se de um trecho do “Prelúdio em Ré Menor”, de Francisco Molino (Ivrea, Itália, 1775 / Paris, França, 1847), cujo Método de Violão foi anunciado pelo jornal Correio Paulistano em 30 de setembro de 1854. O tom menor desse prelúdio anuncia a passagem pelo edifício da cadeia, pelo Largo da Forca (hoje, Praça da Liberdade), pelo Cemitério e Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, ainda existente


no beco que sai da atual Rua dos Estudantes. A tradição conta que aí se rezava à Virgem pelas almas dos enforcados. Uma “Salve Rainha” popular faz referência a esse local e a esse costume. Pouco a pouco, esse canto se mescla aos ruídos da fauna que povoava as margens do Rio Tamanduateí e a Várzea do Carmo: cantos das aves do banhado, gritos das anhumas vindas do Tietê, ruídos de porcos do mato que, juntamente com veados, pacas e tatus, constituíam caça farta para os habitantes da cidade, ainda em meados do século XIX. Na altura da Ladeira do Carmo, que unia a rua do mesmo nome (hoje, Roberto Simonsen) à saída para o Rio de Janeiro, um cravo faz a ligação da cidade à Corte, por meio de um miudinho, dança muito em voga, desde a Independência, a ponto de o primeiro imperador ter composto uma série de variações sobre ela, hoje perdidas. É possível que tenha sido executada, poucos anos depois, no salão da Marquesa de Santos quando, de volta a São Paulo, ela se estabeleceu na atual Rua Roberto Simonsen, no solar ainda lá existente. Pelo menos o foi, por ocasião da exposição “A Marquesa de Santos: uma mulher, um tempo, um lugar”, aí curada por Heloisa Barbuy, em 2011. Continuando pela margem do Tamanduateí – em direção ao Guaré (hoje, Luz) –, o caminhante atinge o convento do mesmo nome pelo Caminho das Sete Voltas, alusão à sinuosidade do rio antes de sua retificação, que originou a atual região da Rua XXV de Março. Volta ao centro ao som do “Bendito do Divino Sacramento”, cantiga religiosa popular a anunciar o pequeno cortejo que levava comunhão aos doentes, geralmente acompanhada de uma sineta e de um instrumento musical – aqui, um saltério rústico. Ao chegar à Sé, um hino sacro de autoria de André da Silva Gomes (Lisboa, Portugal, 1752 / São Paulo, Brasil, 1844), guarda a memória daquele que foi seu mestre de capela por cinquenta anos. À porta do templo, um velho escravo forro e inválido é alvo de caçoada


das crianças. É o Zé Prequeté, imortalizado, em sua desgraça, por uma quadrinha repetida decênios afora e aqui reproduzida. As sombras da noite, a neblina e a garoa encobrem os vultos do grande número de mulheres que, segundo o naturalista e viajante francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), “espalhavam-se pelas ruas para vender seus encantos”. A cachucha, dança de origem espanhola do início do século XIX, foi muito executada nos teatros da Rua do Salitre, em Lisboa. Popularizou-se de tal modo que passou aos salões e teatros burgueses europeus, divulgada pela bailarina austríaca Fanny Elssler (1810-1884) e aproveitada pelo compositor italiano Gioachino Rossini (1792-1868) em La Dama del Lago. Mas não abandonou as tascas e lupanares onde, depois, imperou o fado. Espalhou-se por todo o Brasil como “Maria Cachucha”, a ponto de se tornar cantiga de roda, e, na Bahia, cantiga de ninar, com seu texto adaptado. Aqui é apresentada em sua forma original, por melhor ilustrar o ambiente em que era executada. O CURSO JURÍDICO Criado em 1827, começou a funcionar em 1828, no Convento de São Francisco, fazendo com que a ele acorressem estudantes de todas as partes do Brasil. Foi o começo da transformação gradual da cidade em um centro de jovens intelectuais, muitos dos quais se tornariam figuras de projeção, principalmente nas letras, na política e na diplomacia. As badaladas de um sino indicam o início das aulas. O “triste sino” é mencionado por Antônio Augusto de Queiroga (Vila do Príncipe, atual Serro, MG, 1811? / Diamantina?, MG, 1855), na letra de “A Vida do Estudante”, escrita pelo poeta quando era aluno do Curso Jurídico.


Foi muito cantada ao violão pelos jovens acadêmicos até a década de 1860, e seu texto completo aparece no estudo de José Américo Miranda, que publicou a obra integral do poeta. Tanto Almeida Nogueira como Penteado de Rezende citaram apenas trechos dele, lamentando que a música se tenha perdido. É muito provável que essa música seja uma contrafação da “Canção do Marinheiro”, tal como aparece nas cheganças de marujos coletadas por Mário de Andrade em vários locais, também conhecida como “A Vida do Marujo”, cuja primeira estrofe coincide com a escrita por Queiroga. Nas cheganças, a canção é cantada pelo Ração (cozinheiro), secundado pelo Vassoura (faxineiro), dois personagens cômicos desses autos populares. E é dentro desse espírito que é apresentada aqui: como uma troça de estudantes. Dentre eles destacam-se, na década seguinte, Álvares de Azevedo (São Paulo, SP, 1831/ Rio de Janeiro, RJ, 1852) e Bernardo Guimarães (Ouro Preto, MG, 1825-1884). Este último transitou do sentimentalismo de A Escrava Isaura à irreverência de poemas obscenos e ao grotesco expresso nos bestialógicos, na poesia nonsense, que teve, entre os estudantes do período, grande voga. Guimarães, diz Penteado de Rezende, era hábil violonista e costumava cantar modinhas mineiras com versos de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810). Somandose ao hábito de se dizer poesia acompanhada de música, assim é apresentado, aqui, o mais famoso de seus bestialógicos: “Eu Vi dos Polos o Gigante Alado”. Álvares de Azevedo escreveu a maior parte de sua obra em São Paulo, antes dos vinte anos de idade. Influenciado por Byron, por Musset e pelos românticos alemães, seus poemas expressam uma multiplicidade de tendências que aqui são apresentadas em duas obras: “Vagabundo”, de cunho satírico, musicada por compositor desconhecido, e “Meu Sonho”, em que o poeta dialoga com um cavaleiro fantasma, lembrando o clima de terror de Erlkönig, de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832).


Um canto de irmão das almas – entoado nas sextas-feiras da Quaresma – separa as obras de cunho satírico das de caráter dramático. Para ressaltar a urgência poética de “Meu Sonho”, optou-se por um acompanhamento instrumental realizado pela percussão, que se tornará solista no trecho de um “caiapó”, dança dramática citada por Álvares de Azevedo em carta à sua mãe. Parece que o ruído insistente dos tambores fez o poeta mudar da Rua de São Francisco para a Chácara dos Ingleses, seguido por Bernardo Guimarães e Aureliano Lessa, trio que aí teria comandado as famosas farras acadêmicas de inspiração byroniana. De origem ameríndia, segundo Mário de Andrade, já na época de Álvares de Azevedo os caiapós eram representados por negros travestidos de índios. Embora tivessem enredo – a busca de uma indiazinha ou de um curumim sequestrado e morto pelo homem branco e, enfim, ressuscitado pelo pajé – não possuíam texto: eram apenas dançados, com arcos e flechas, ao som de percussões várias e buzinas feitas de chifre de boi com bocal de metal e palheta. Estas foram identificadas como buzinas cachorreiras, empregadas para reunir os cães rastreadores nas caçadas, o que faz todo sentido, no entrecho dos caiapós. A parlenda do “Papagaio Real” retoma, com outro sentido, uma cena de caça. Usada para ensinar papagaio a falar, há poucos anos era ainda popular no Brasil, inclusive em São Paulo. Frei Vicente do Salvador (1564-1636), no começo do século XVII, a menciona em sua História do Brasil: “E desse modo se hão os povoadores, os quais, por mais arraigados que na terra estejam e mais ricos que sejam, tudo pretendem levar para Portugal e, se as fazendas e bens que possuem souberam falar, também lhes houveram de ensinar a dizer como os papagaios, aos quais a primeira coisa que ensinam é: Papagaio real pera Portugal, porque tudo querem para lá”.


VOZES DAS RUAS São as vozes dos vendedores ambulantes, das quitandeiras nos mercados ao ar livre, dos escravos de ganho que apregoavam suas mercadorias em vários pontos da cidade, dos trabalhadores que amenizavam seus afazeres por meio de melodias e cantos ritmados. Mercados construídos para tal fim não havia em São Paulo, até meados do século XIX – apenas um corredor de construções baixas, localizadas na Rua da Quitanda, onde se vendiam legumes e verduras, e na Rua das Casinhas (hoje, do Tesouro), onde se podia comprar arroz, milho, farinha, toucinho e carne seca. Em frente ao Carmo, reuniam-se as peixeiras; no Largo de São Francisco, estacionavam os carros de boi que traziam lenha de Santo Amaro; ouvia-se, vindo dos quintais das casas, o bater de roupa das lavadeiras, que também exerciam seu ofício às margens do Tamanduateí. Por todo o centro, circulavam vendedoras de comida de rua, quitutes de todas as procedências, tanto portuguesa como africana e indígena. Pregões e cantos de trabalho, testemunho de memorialistas e musicólogos, foram recriados e compostos como uma pequena obra musical polifônica, a começar por um canto de lavadeira. Embora recolhido em Minas Gerais no começo do século XX por Angélica de Rezende, foi cantiga comum em diversas províncias e já considerada tradicional naquela época, da mesma forma que o canto de socar pilão. Ernani da Silva Bruno relata a venda de saúvas fêmeas (içás) torradas, herança indígena, ao lado da cambuquira (broto de aboboreira frito) em frente à Academia de Direito. Antônio Egídio Martins lembra o cuscuz de bagre e camarão de água doce, a empada de piquira ou lambari, o quindungo – amendoim torrado e socado com pimenta cumari e sal –


apregoados diante das igrejas e do Teatro São José, além de doces, biscoitos e sequilhos arrumados em tabuleiros e vendidos pelas ruas. Jorge Americano cita o fruteiro, o verdureiro, a vendedora de ovos, o amolador e o caldeireiro ou folheiro, além do engraxate, geralmente italiano. Seu pregão é aqui acompanhado, ao longe, por uma cantiga tradicional italiana – “Fenesta Vascia” –, segundo informação de José Ramos Tinhorão. SAR AUS E SERENATAS Reuniões musicais familiares já eram frequentes em São Paulo, no começo do século XIX – algumas testemunhadas pelo viajante britânico John Mawe (1764-1829) e pela dupla de naturalistas alemães Johann Baptist von Spix (1781-1826) e Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), que as registraram em sua Viagem pelo Brasil. Com a presença dos estudantes do Curso Jurídico, essas reuniões se estenderam para as repúblicas sem, contudo, deixar os salões, como o da Marquesa de Santos, que trouxe o hábito do sarau cortesão, depois de sua volta do Rio de Janeiro. Até meados do século XIX, os instrumentos mais usados nessas reuniões estudantis eram a viola, o violão, a flauta e o clarinete, os mesmos empregados nos passeios pelas chácaras dos arredores da cidade e nas serenatas, incluindo as fluviais, quando os jovens acadêmicos desciam o Tietê em batelões, cantando e tocando à luz do luar. O piano, reservado de início às famílias burguesas, foi aos poucos se tornando mais presente, a partir da segunda metade do século XIX, até em algumas repúblicas, comercializado ou mesmo alugado por casas especializadas, como a de Jean-Jacques Oswald,


à Rua da Casa Santa (hoje, Riachuelo), depois pela Casa Levy, que também importava e editava partituras. Ao mesmo tempo, professores de música e dança estrangeiros, principalmente europeus, vinham se estabelecer em São Paulo; cantores de ópera italianos e instrumentistas virtuoses internacionais se apresentavam com mais frequência, alguns deles se radicando na cidade, caso do pianista francês Gabriel Giraudon, que fora aluno do pianista e compositor suíço Sigismond Thalberg (1812-1871) e que formou duas gerações de músicos ilustres. Apareceram conjuntos musicais mais ou menos estáveis, como a Orquestra Paulistana, dirigida pelo maestro Antônio José de Almeida, mestre de capela da Sé, e grupos corais integrados por imigrantes alemães. Todos esses fatores operaram uma transformação no gosto, na composição e na prática da interpretação musical em São Paulo, como se pode constatar nas obras dos compositores a seguir. Venâncio José Gomes da Costa Júnior (Pouso Alto, MG, 1840 / Franca, SP, ?), ou Venancinho Costa, como era chamado, entrou para a Academia em 1862, sendo contemporâneo do poeta Fagundes Varela (São João Marco, RJ, 1841 / Niterói, RJ, 1875). Compositor diletante, foi hábil violonista e dividiu com o poeta noitadas de boêmia e a autoria de modinhas e serenatas, entre as quais “Noite Saudosa”, aqui apresentada. O poeta Antônio Frederico de Castro Alves (Fazenda Cabaceiras, Curralinho, BA, 1847 / Salvador, BA, 1871) chegou a São Paulo em 1868, acompanhado da atriz portuguesa Eugênia Câmara (1837-1879). Integrou-se imediatamente ao ambiente acadêmico, numa época em que a Academia fervilhava de estudantes músicos e poetas e em que a cidade começava a oferecer maior número de opções culturais. Muitos de seus versos foram musicados, mas,


principalmente, interpretados como recitativos acompanhados de música, repetidos em saraus por todo o Brasil. Aqui, foram escolhidas duas peças de compositor desconhecido, que acabaram por se tornar tradicionais: “O Coração”, modinha sobre poema escrito no Recife, em 1865, e a canção “Adormecida”, com texto composto em São Paulo, em 1868. Dentre os recitativos, destaca-se “Canção do Boêmio”, comentada mais adiante. Ilustrando o ambiente festivo das reuniões familiares, é entoado um brinde tradicional muito divulgado em todo o Brasil, no período. Em São Paulo, a exclamação final “Hip, hip, hurra!” era substituída pelos estudantes pelo grito: “Tabatin, tabatin, tabatin, guera!”. Antônio Carlos Gomes (Campinas, SP, 1836 / Belém, PA, 1896), que se tornaria o mais conhecido compositor brasileiro do século XIX, aos quinze anos já compunha valsas, polcas e quadrilhas e se apresentava em fazendas no interior de São Paulo. A partir de 1859 começou a frequentar a capital mais amiúde, época em que compôs modinhas e o “Hino Acadêmico”, dedicado aos estudantes de Direito. Antes de partir para a Itália, onde desenvolveu sua importante carreira, terminou a ópera Joana de Flandres, com texto em português de Salvador de Mendonça, dedicada ao compositor carioca Francisco Manuel da Silva. Estreada no Teatro Lírico Fluminense, em 1863, nela figura o “Entreato para Flauta”, dedicado ao grande flautista belga Mathieu-André Reichert (1830-1880) e ora apresentada para flauta e piano, em versão camerística do compositor. Elias Álvares Lobo (Itu, SP, 1834 / São Paulo, SP, 1901) foi aluno de Antônio José de Almeida, em São Paulo, e de Rafael Coelho Machado, no Rio de Janeiro. É autor de música sacra e da primeira ópera considerada brasileira: A Noite de São João, com libreto de José de Alencar, cuja estreia se deu em 1860, no Teatro São Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro, sob regência do jovem Carlos Gomes. Antes disso, em 1859, apresentou aos estudantes da


Academia a versão ainda não instrumentada dessa ópera. Viveu em Itu, Itatiba, Campinas e São Paulo, onde atuou como compositor, regente e professor, e organizou concertos e saraus. As duas peças aqui apresentadas, o lundu “Chá Preto, Sinhá – Recordações de um Sarau Artístico” e a canção “Bem-te-vi”, com texto de Bittencourt Sampaio, ilustram a produção vocal camerística desse compositor. Em 1862, o estudante José Joaquim de França Júnior (Rio de Janeiro, RJ, 1838 / Poços de Caldas, MG, 1890) escreve a comédia de costumes acadêmicos Meia Hora de Cinismo, que teve grande sucesso na época, sendo repetida inúmeras vezes nos anos seguintes e chegando a fazer parte do repertório da companhia teatral montada por Eugênia Câmara. Na sessão de 21 de junho de 1868, o recitativo “Canção do Boêmio”, texto de Castro Alves e música de Emílio Eutiquiano Correa do Lago (Franca, SP, 1832 / São Paulo, SP, 1871), é inserido na peça de França Júnior representada no Teatro São José. Em razão do grande sucesso, o recitativo é publicado quase que imediatamente, em versão para recitante e piano, embora Penteado de Rezende afirme que o mesmo tenha sido acompanhado, na ocasião, “por uma orquestrinha”. Ao visitar o arquivo da família Levy, um daguerreotipo, aqui reproduzido, chamou a atenção o conjunto de quatro músicos – um clarinetista, um flautista e dois violonistas – com seus respectivos instrumentos. Um dos violonistas aponta para uma espécie de cartaz, colado à parede, onde se lê: “Cynismo”. No mês seguinte, Meia Hora de Cinismo é repetida no concerto organizado por Giraudon em benefício de seu jovem aluno, o futuro compositor Henrique Oswald (1852-1931), que deveria partir para a Europa em viagem de estudos. O anúncio do concerto, com seu respectivo programa, é publicado no Correio Paulistano de 3 de julho de 1868 e nele figura, também, a participação de Eugênia Câmara. A partir dessas informações, e da partitura para piano, foi recriado o acompanhamento para os instrumentos que


aparecem no daguerreotipo. Entre os integrantes do pequeno conjunto, foram identificados Henrique Luís Levy (clarinete) e – possivelmente – o flautista fluminense Viriato Figueira da Silva (1851-1883). Não foram identificados, até agora, os dois violonistas. ABOLICIONISTAS E REPUBLICANOS Embora não relacionadas diretamente à música, não se pode deixar de citar, no período abordado, as sociedades antiescravistas em São Paulo, as quais tiveram papel fundamental na alforria de escravos e na difusão das ideias abolicionistas e republicanas. Representadas pelas associações emancipacionistas, como a Onze de Agosto, e pelas lojas maçônicas, como a Amizade, a maior parte delas foi frequentada pelos acadêmicos de Direito e seu círculo, entre eles Castro Alves, Rui Barbosa, Américo de Campos, Carlos Gomes e seu irmão Santana Gomes, Paulo Eiró, Angelo Agostini e Luís Gama. Dentre as quadrinhas tradicionais paulistas de gênero ou repressão, foi encontrada a da “Mulata do Siô Coroné”, que abre a quinta parte deste trabalho, fazendo referência ao tema da escravidão, seguida de uma cantiga de ninar relativa à Guerra do Paraguai (1854-1860). Sabe-se que, nessa ocasião, foi enviado grande número de escravos para combater no lugar de seus senhores, com a promessa de alforria, quando voltassem... se voltassem. Segue-se um trecho do poema de Paulo Eiró (Santo Amaro, SP, 1836 / São Paulo, SP, 1871) poeta e dramaturgo que deixou em sua obra o testemunho de sua ideologia republicana e abolicionista. Veja-se, por exemplo, “Verdades e Mentiras” – aqui presente – e a peça Sangue Limpo – primeira obra teatral brasileira a retratar temáticas de preconceito racial e de gênero.


Embora Castro Alves tenha sido considerado “o poeta dos escravos”, preferiu-se, aqui, ressaltar a figura de Luís Gama (Salvador, BA, 1836 / São Paulo, SP, 1871). Ex-escravo, conseguiu cursar a Academia de Direito como ouvinte e, atuando como rábula, libertar mais de quinhentos escravos. Fundou, com o caricaturista Angelo Agostini, o jornal humorístico Diabo Coxo (1864) e, com Américo de Campos, o hebdomadário Cabrião (1866), ambos de tendência abolicionista. Criou, com Rui Barbosa, a loja maçônica América, chegando ao grau de “venerável” da instituição. Publicou, sob o pseudônimo de Getulino, Primeiras Trovas Burlescas, reunindo poemas satíricos e líricos, dois das quais são aqui apresentados sobre uma criação musical que emprega instrumentos africanos citados pelo poeta em seu texto. Figura de grande importância, seu enterro foi considerado o maior jamais visto em seu tempo, tal a multidão que o acompanhava. Em 2015, a OAB São Paulo concedeu-lhe, post mortem, o título de advogado. OS LEVY O pregão de um vassoureiro francês evidencia a presença cada vez maior de imigrantes na cidade. Linhagem de músicos atuantes na segunda metade do século XIX em São Paulo, os Levy participaram, por meio de sua ação como intérpretes, criadores, impressores, comerciantes e promotores de música, da evolução da prática musical em São Paulo. O primeiro deles, Henri-Louis (ou Henrique Luís) Levy (Dehlingen, Alsácia, 1829 / São Paulo, SP, 1896), chegou ao Brasil em 1848 e dedicou-se ao comércio de joias, que vendia nas fazendas do interior de São Paulo. Em 1856, fixa-se em Campinas, onde conhece a família


de Manuel José Gomes, o Maneco Músico, pai de Carlos Gomes. Clarinetista de qualidade, reconheceu o talento dos irmãos Carlos e Pedro Santana Gomes e exerceu grande influência no início de carreira de ambos. Promoveu uma apresentação conjunta com eles em São Paulo, onde Henrique Luís fundara uma casa para comercializar joias – Ao Bouquet de Brilhantes – em 1860, na Rua do Rosário (depois, da Imperatriz; hoje, XV de Novembro). Aos poucos, a joalheria passa a vender instrumentos musicais e partituras e, logo, a imprimi-las, transformando-se na Casa Levy, ainda em funcionamento. No arquivo da Família Levy foi encontrada a partitura manuscrita do “Tema e Variações para Clarinete” de Pedro Santana Gomes (Campinas, SP, 1834-1908), aqui apresentada e provavelmente dedicada a Henrique Luís Levy. Por faltar uma página do acompanhamento de piano, este foi restaurado por Achille Picchi especialmente para esta gravação. Pedro Santana Gomes exerceu importante atividade em Campinas como violinista, regente e compositor, tendo escrito duas óperas, peças vocais e instrumentais e vários quartetos de cordas. Dentre os filhos de Henrique Luís Levy, dois dedicaram-se especialmente à música: Alexandre Levy (São Paulo, SP, 1864-1892), pianista, compositor e crítico musical com o nome de Figarote, teve uma formação musical multicultural, a começar pelos estudos com seu irmão Luís, com Gabriel Giraudon e com os compositores germânicos radicados em São Paulo, Georg von Madeweiss e Gustav Wertheimer. Posteriormente, iria completar seus estudos na Itália e na França, com Émile Durand (1830-1903), que seria também professor de Claude Debussy (1862-1918). Alexandre Levy foi um grande admirador da obra de Robert Schumann (1810-1856), mas é apontado como um dos precursores do nacionalismo musical brasileiro – ao lado de Brasílio Itiberê da Cunha (1846-1913) e de Alberto Nepomuceno


(1864-1920) – por usar temas populares em algumas de suas obras e nos títulos das mesmas. Sua morte precoce impede confirmar que rumo estético ele poderia definitivamente tomar e suas múltiplas influências podem ser apreciadas no “Tango Brasileiro”, aqui apresentado. A ação cultural de Alexandre Levy se estenderá por toda a década de 1880, a começar pela criação do Club Haydn, em 1883, que divulgará, em São Paulo, a obra de compositores brasileiros, mas, sobretudo, dos grandes mestres europeus. Um pequeno dueto “caipira” – modelo que irá se popularizar nas décadas seguintes – antecede as duas peças dos irmãos Levy e antecipa a discussão entre rural e urbano, entre popular e erudito, entre nacional e internacional por meio de elementos presentes na obra de Alexandre, Luís e de outros contemporâneos, a ser levada mais a fundo pelos modernistas. Luís Levy (Campinas, SP, 1861 / São Paulo, SP, 1935), pianista e compositor que, como seu irmão mais moço, foi aluno de Gabriel Giraudon, tornou-se um apreciado instrumentista em seu tempo. Manteve estreita ligação com a cultura francesa, apresentando-se na Sala Erard, em 1878, durante a Exposição Universal de Paris, e publicando, em Bruxelas, grande parte de sua obra. Foi o continuador da ação cultural e comercial de seu pai, junto à Casa Levy, por meio da importação e impressão de partituras de autores brasileiros e internacionais. Participou ativamente da divulgação de novo repertório para música de câmara e sinfônica em São Paulo, ao mesmo tempo que compôs música de salão e de dança, como a “Quadrilha”, aqui apresentada, sobre temas da opereta Mam’zelle Nitouche, do compositor francês Hervé, pseudônimo de Louis-Auguste-Florimond Ronger (1825-1892). A quadrilha de salão ou quadrilha francesa foi muito dançada no Brasil durante o século XIX e dela deriva a quadrilha junina, como a conhecemos hoje. Em ambas as formas,


um mestre de cerimônias ou marcador dita as figuras que deverão ser formadas pelos dan-

çarinos. Segundo Álvaro Dias Patrício, em seu Manual de Dança, a quadrilha de salão, no Brasil, era marcada em francês. É dessa forma que a apresentamos, aqui, em arranjo de outro Levy, Gabriel, bisneto de Henrique Luís, atual representante musical dessa família que teve importante participação na vida cultural da cidade, quando esta começava a trilhar o caminho do cosmopolitismo que a caracterizaria a partir de fins do século XIX. Anna Maria Kieffer São Paulo, abril de 2018


Primeira planta da Imperial Cidade de São Paulo pelo Capitão de Engenheiros Rufino J. Felizardo e Costa, 1810, copiada em 1841. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo – vol. XVI – 1911



IMAGEM PONTE DE SANTA IFIGÊNIA (A CIDADE)


A C I DA D E 1 Cantiga do Acu [01:01] Tradicional

7 Miudinho (Prazeres do Baile) [00:51] Compositor desconhecido

2 Improviso Para Viola [00:37] Gisela Nogueira

8 Bendito do Divino Sacramento [01:17] Tradicional

3 Lá Dentro Daquele Tanque [00:50] Tradicional

9 Hino Crudelis Herodes para as Vésperas da Epifania (trecho) [00:50] André da Silva Gomes (Fonograma gentilmente cedido pela Editora PAULUS)

4 No Caminho de São Paulo [00:38] Tradicional 5 Prelúdio (Método para violão - trecho) [01:21] Francisco Molino 6 Salve Rainha [01:34] Tradicional

10 Zé Prequeté [00:30] Tradicional 11 Maria Cachucha [01:20] Tradicional Acompanhamento: Gisela Nogueira

Roteiro, Texto e Paisagem Sonora: Anna Maria Kieffer Ponte de Santa Ifigênia (Acu), São Paulo, 1827 – Jean-Babtiste Debret Coleção particular, Rio de Janeiro


Cantiga do Acu Tradicional

Salve Rainha Tradicional

Eu passei na ponte A ponte estremeceu Água tem veneno, morena, Quem bebeu, morreu.

Salve, Rainha, mãe de misericorde Vida, doçura, esperança nossa, Salve! A Vós salve, os degredados filhos de Eva Por Vós suspirando Gemendo e chorando Nesse vale de lágrimas Eia pois, adevogada nossa [...]

Lá Dentro Daquele Tanque Tradicional Lá dentro daquele tanque Salta a cobra, nada o peixe Enquanto o mundo for mundo Não receies que eu te deixe.

No Caminho de São Paulo Tradicional No Caminho de São Paulo Quem achar um lenço é meu Bordado nas quatro pontas Foi paulista que me deu.

Bendito do Divino Sacramento Tradicional Bendito, louvado seja O Santíssimo Sacramento O fruto do ventre sagrado Por Deus glorificado. Bendito, louvado seja O rosário de Maria Se ela não viesse ao mundo, Ai de nós o que seria.


Maria Cachucha Tradicional Hino Crudelis Herodes André da Silva Gomes [...] Regem venire quid times? Non eripit mortalia Qui regna dat caelestia. [...]

Zé Prequeté Tradicional Óia o Zé Prequeté Na porta da Sé Tira bicho do pé Pra comê com café!

Maria Cachucha, quem te cachuchou Foi um frade loio que aqui passou (bis) Maria Cachucha, não vás ao Rossio Toma lá dinheiro, sustenta teu brio Maria Cachucha, não vás ao quintal Em sainha branca que parece mal (bis) Maria Cachucha que vida é a tua Comer e beber, passear pela rua Maria Cachucha, se sais a passear Vai pelas beirinhas, podes te molhar (bis) Maria Cachucha, com quem dormes tu? “Eu durmo com um gato que me arranha o cu.”



O CU R SO J U R ÍDICO 12 A Vida do Estudante [03:12] Tradicional / Antonio Augusto de Queiroga 13 Eu Vi dos Polos o Gigante Alado [00:52] Bernardo Guimarães 14 Vagabundo [01:40] Tradicional / Álvares de Azevedo

17 Caiapó [00:47] Tradicional Recriação: Paulo Dias 18 Papagaio Real [00:19] Tradicional

15 Canto de Irmão das Almas [00:34] Tradicional 16 Meu Sonho [01:03] Álvares de Azevedo Acompanhamento: Paulo Dias

Acompanhamento para viola e guitarra: Gisela Nogueira

Convento de São Francisco, 1862 Militão Augusto de Azevedo Coleção Pedro Corrêa do Lago, São Paulo


A Vida do Estudante Tradicional / Antônio Augusto de Queiroga Triste vida a do estudante! Vida triste e malfadada que com a reles mesada passa misérias! Dom, dom!

Então, de gravata tesa, enfiando o casacão, no buxo damos com o pão mal mastigado! Dom, dom!

Esperando pelas férias a ver se pilha dinheiro, assim passa o ano inteiro. Vida mofina! Dom, dom!

E vamos ao malfadado convento de São Francisco! Ainda correndo risco das caçoadas! Dom, dom!

Às horas sete se escuta o triste sino tocar que nos faz alevantar da triste cama! Dom, dom!

Começa pela maçada de aturar veteranos que nos tecem mil enganos e nos desfrutam! Dom, dom!

À pressa grita-se à ama que ponha água no fogo. E ela vem dizer logo: – Chá está na mesa! Dom, dom!

Maldito primeiro ano! Maldito seja o teu ponto! Mas que tudo vá em desconto dos meus pecados! Dom, dom!


Bestialógico: Eu Vi dos Polos o Gigante Alado Bernardo Guimarães Eu vi dos polos o gigante alado sobre um montão de pálidos coriscos, sem fazer caso dos bulcões ariscos, devorando em silêncio a mão do Fado! Quatro fatias de tufão gelado figuravam da mesa entre os petiscos; e, envolto em manto de fatais rabiscos, campeava um sofisma ensanguentado! – “Quem és, que assim me cercas de episódios?”, lhe perguntei, com voz de silogismo, brandindo um facho de trovões seródios. – “Eu sou” – me disse, -- “aquele anacronismo, que a vil coorte de sulfúreos ódios nas trevas sepultei de um solecismo...”


Vagabundo Tradicional / Álvares de Azevedo Eu durmo e vivo ao sol como um cigano Fumando meu cigarro vaporoso Nas noites de verão namoro estrelas, Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, E quem vive de amor não tem pobreza. [...] Oito dias lá vão que ando cismando Na donzela que ali defronte mora Ela ao verme sorri tão docemente Desconfio que a moça me namora!... [...] Escrevo na parede as minhas rimas, De painéis a carvão adorno as ruas; Como as aves do céu e as flores puras Abro meu peito ao sol e durmo à lua. [...] Ora, se por aí alguma bela Bem doirada e amante da preguiça Quiser a nívea mão unir à minha, Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.

Canto de Irmão das Almas Tradicional Um Padre Nosso E uma Ave Maria Pelas almas do cemitério.


Meu Sonho Álvares de Azevedo EU Cavaleiro das armas escuras, Onde vais pelas trevas impuras Com a espada sanguenta na mão? Por que brilham teus olhos ardentes E gemidos nos lábios frementes Vertem fogo do teu coração? Cavaleiro, quem és? – O remorso? Do corcel te debruças no dorso... E galopas do vale através... Oh! Da estrada acordando as poeiras Não escutas gritar as caveiras E morder-te o fantasma nos pés? Onde vais pelas trevas impuras, Cavaleiro das armas escuras, Macilento qual morto na tumba? Tu escutas... Na longa montanha Um tropel teu galope acompanha? E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? Que mistério... Quem te força da morte no império Pela noite assombrada a vagar? O FANTASMA Sou o sonho de tua esperança, Tua febre que nunca descansa, O delírio que te há de matar!...



VO Z E S DA S RUA S 19 Pregões e Cantos de Trabalho [04:19] Tradicionais Cantiga de lavadeira

Pregão do caldeireiro

Canto de socar pilão

Pregão da vendedora de empadas

Pregão das vendedoras de sonhos

Pregão do vendedor de quindungo e amendoim torrado

Pregão do bananeiro Pregão do vendedor de tremoços Pregão da vendedora de içá e cambuquira Pregão da vendedora de broinhas de milho Pregão da vendedora de cuscuz

Pregão do verdureiro Pregão do vendedor de pinhões Pregão da vendedora de pastéis e biscoitos Pregão da vendedora de frangos e ovos Pregão do engraxate italiano

Pregão do afiador Recriação, Composição e Paisagem Sonora: Anna Maria Kieffer Ponte do Carmo sobre o Tamanduateí com lavadeiras, 1870 – Jules Martin Ilustração em São Paulo antigo e São Paulo moderno. Jules Martin, Nereu Rangel Pestana, Henrique Vanorden, 1905 – Coleção João Emílio Gerodetti, São Paulo


Pregões e Cantos de Trabalho Tradicionais Senhora Santana Desceu do monte Por onde andava Deixou uma fonte Os anjos desceram Beberam nela Que água tão doce Senhora tão bela Lenha bruta de Santo Amaro! Tanta gente prá comê, eu só prá socá! Sonhos, iaiá, sonhos! Olha a banana amarelinha, pintadinha! Quem quer tremoços! Içá, içá, cambuquira! Broinha de milho, quentinha, d’erva doce!

Olha o cuscuz de bagre, camarão! Tanta gente prá comê, etc. Amolador, olha o amolador, afia tudo que lhe dá valor, amola tesouras, facas, canivetes, navalhas de barba! Caldeireiro! Empadas de piquira, lambari! Tanta gente prá comê, etc. Quindungo, amendoim torrado! Verdureiro, olha o verdureiro! Pinhão! Pasteis de farinha, biscoitos de porvio! Tanta gente prá comê, etc. Frango gordo, ovo fresco! Ingraxate, ingraxate, la moda de Parise, que seja de invernize, que seja de cordobone!

Peixeiras no Carmo, 1857 Ilustração em São Paulo antigo e São Paulo moderno. Jules Martin, Nereu Rangel Pestana, Henrique Vanorden, 1905 – Coleção João Emílio Gerodetti, São Paulo




S A R AU S E S E R E N A T A S 20 Noite Saudosa [02:41] Venâncio José Gomes da Costa Jr / Fagundes Varela Acompanhamento: Gisela Nogueira 21 O Coração [01:54] Tradicional / Castro Alves Acompanhamento: Gisela Nogueira 22 Adormecida [03:25] Tradicional / Castro Alves Acompanhamento: Gisela Nogueira 23 Brinde [00:26] Tradicional Acompanhamento: Leonardo Fernandes

24 Entreato em Joana de Flandres [05:43] Carlos Gomes 25 Chá Preto, Sinhá [03:51] Elias Álvares Lobo 26 Bem-te-vi [02:35] Elias Álvares Lobo / Bittencourt Sampaio 27 Canção do Boêmio [04:51] Emílio Correa do Lago / Castro Alves Recriação do acompanhamento: Giacomo Bartoloni

Músicos que tocaram a Canção do Boêmio de Emilio do Lago, texto de Castro Alves, em Meia Hora de Cinismo, de França Junior, 1866 – Autor desconhecido Arquivo Levy, São Paulo


Noite Saudosa (Serenata) Venancinho Costa / Fagundes Varela

O Coração Tradicional / Castro Alves

Ah! Como brilhas no céu azul, Doirando os cerros, astro do sul! Quanta tristeza, quanta saudade no seio expandes da soledade.

O coração é o colibri dourado Das veigas puras do jardim do céu. Um -- tem o mel da granadilha agreste, Bebe os perfumes, que a bonina deu.

Ah não, não fujas! Não mais te escondas da névoa errante nas brancas ondas. Vê como as aves adormecidas soltam sonhando queixas sentidas!

O outro – voa em mais virentes balsas, Pousa de um riso na rubente flor, Vive do mel – a que se chama – crenças, Vive do aroma – que se diz – amor.

Vê como as selvas, o prado, as flores num só abraço tremem de amores! Na sombra o rio chora e desmaia; mortas as vagas gemem na praia. Ah! Fica, fica no céu azul! Não mais te afastes, astro do sul! Ah! Fica, fica no céu azul! Não mais te afastes, astro do sul

Adormecida Tradicional / Castro Alves Uma noite, eu me lembro... ela dormia Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão... solto o cabelo E o pé descalço do tapete rente. ‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte, Via-se a noite plácida e divina. De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos entravam pela sala, E de leve oscilando ao tom das auras, Iam na face trêmulos – beijá-la.


Era um quadro celeste!... A cada afago Mesmo em sonhos a moça estremecia... Quando ela serenava... a flor beijava-a... Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Aí tem rosca fina, chá preto aqui está! Receia mofina? Não toma, Sinhá? Sinhazinha, meu amor, vale a pena, regue a flor!

[...]

As flores da madrugada serão estrelas do dia; da noite flor será fada de doce melancolia. Sinhazinha, meu amor, vale a pena, regue a flor!

Eu, fitando esta cena, repetia Naquela noite lânguida e sentida: “Oh, flor! – tu és a virgem das campinas! Virgem! – tu és a flor da minha vida!...” Brinde Tradicional Papagaio, periquito Saracura, sabiá Todos cantam, todos bebem À saúde de Sinhá Tabatin, tabatin, tabatin, guera! Chá Preto, Sinhá Elias Álvares Lobo Sinhazinha, ontem de tarde, perdeu as cores mimosas. Ai! Quanto mais o sol arde, mais se desbotam as rosas. Sinhazinha, meu amor, vale a pena, regue a flor!

Aí tem rosca fina, chá preto aqui está! Receia mofina? Não toma, Sinhá? Sinhazinha, meu amor, vale a pena, regue a flor! Já a noite solta o seu manto e coram-te as faces belas... Sinhá, meu tímido encanto! Oh! Rosa, gêmea de estrelas! Sinhazinha, dê-me a flor! Dou-lhe em paga o meu amor! E dou roscas finas e dou-lhe bom chá; Não creia em mofinas! Ai! Toma... Sinhá? Sinhazinha, dê-me a flor! Dou-lhe em paga o meu amor!


Bem-te-vi Elias Ávares Lobo / Bittencourt Sampaio

Canção do Boêmio Emílio do Lago / Castro Alves

Debaixo deste arvoredo para te olhar me escondi. Tu passavas; -- em segredo cantei baixinho com medo: Bem-te- vi!

Que noite fria! Na deserta rua tremem de medo os lampiões sombrios. Densa garoa faz fumar a lua, ladram de tédio vinte cães vadios.

Quis dizer-te atrás correndo: “Morro de amores por ti!” Mas não sei porque, tremendo, fiquei parado, dizendo: Bem-te- vi!

Nini formosa! Por que assim fugiste? Embalde o tempo à tua espera conto. Não vês, não vês?... Meu coração é triste como um calouro quando leva ponto.

Junto à fonte cristalina cismando chegaste ali! Sopra a brisa à casuarina doce nome – Cipladina – Bem-te-vi!

A passos largos eu percorro a sala, fumo um cigarro que filei na escola... Tudo no quarto de Nini me fala, embalde fumo... tudo aqui me amola.

E tu voltaste cantando, -- que voz tão meiga que ouvi! Fui então te acompanhando. Foste andando... foste andando... Bem- te- vi!

Diz-me o relógio, cinicando a um canto: — Onde está ela que não veio ainda? – Diz-me a poltrona: “Por que tardas tanto? Quero aquecer-te, rapariga linda.” Em vão a luz da crepitante vela de Hugo clareia uma canção ardente; tens um idílio — em tua fronte bela... um ditirambo — no teu seio quente...


Pego o compêndio... inspiração sublime pra adormecer... inquietações tamanhas... Violei à noite o domicílio, ó crime!, onde dormia uma nação... de aranhas...

No entanto, ainda do Xerez fogoso duas garrafas guardo ali... Que minas! Além, de um lado, o violão saudoso guarda no seio inspirações divinas...

Morrer de frio quando o peito é brasa. . . quando a paixão no coração se aninha?! Vós todos, todos, que dormis em casa, dizei se há dor que se compare à minha!...

Se tu viesses... de meus lábios tristes rompera o canto... Que esperança inglória!... Ela esqueceu o que jurar-lhes vistes, Ó Paulicéia, ó Ponte Grande, ó Glória!...

Nini! o horror deste sofrer pungente só teu sorriso neste mundo acalma... Vem aquecer-me em teu olhar ardente... Nini! Tu és o cache-nez dest’alma.

Batem!... Que vejo! Ei-la afinal comigo... Foram-se as trevas... fabricou-se a luz... Nini! Pequei... dá-me exemplar castigo! Sejam teus braços... do martírio a cruz.

Deus do Boêmio! São da mesma raça as andorinhas e o meu anjo louro... Fogem de mim se a primavera passa, se já nos campos não há flores de ouro... E tu fugiste, pressentindo o inverno, mensal inverno do viver boêmio... Sem te lembrar que por um riso terno mesmo eu tomara a primavera a prêmio...



A B OL IC ION IS TA S E R E PU BL IC A NO S 28 A Mulata do Siô Coroné [00:17] Tradicional Acompanhamento: Gisela Nogueira 29 Cantiga de Ninar [01:37] Tradicional Acompanhamento: Gisela Nogueira 30 Verdades e Mentiras IV (trecho) [00:12] Paulo Eiró 31 Trovas de Getulino / Lá Vai Verso (trecho) / Junto à Estátua (trecho) [02:41] Luis Gama Acompanhamento: Paulo Dias e Anna Maria Kieffer

De volta do Paraguai – Angelo Agostini Vida Fluminense, n. 12, 1870 Coleção Pedro Correa do Lago, São Paulo


A Mulata do Siô Coroné Tradicional

Verdades e Mentiras IV Paulo Eiró

A mulata do siô coroné Bota a xicra, num bota café Bota a xicra, café num botô Apanhô de chicote e chorô

Meu Deus! Se eu visse, neste céu da pátria Gracioso ondear pendão vermelho... [...] Tambores da república tocando Nas praças a rebate...

Cantiga de Ninar Tradicional Nana, nanana, Que é feito do papai Nana, nanana Morreu no Paraguai Nana, nanana Com bala de fuzil Nana, nanana Morreu pelo Brasil

Trovas de Getulino Luís Gama Lá Vai Verso (trecho) Oh! Musa de Guiné, cor de azeviche, Estátua de granito denegrido, Ante quem o Leão se põe rendido, Despido do furor de atroz braveza; Empresta-me o cabaço d’urucungo, Ensina-me a brandir tua marimba, Inspira-me a ciência da candimba, Às vias me conduz d’alta grandeza.


Junto à Estátua (trecho) No Jardim Botânico da Cidade de São Paulo Luís Gama Formosa virgem de nevado colo, De garços olhos, de cabelos louros Sanguíneos lábios, elegante porte, Mimoso rosto de Ericina bela, Curvando o seio de alabastro fino, Mimosa imprime nos meus lábios negros Gostoso beijo de volúpia ardente! – Vencido de prazer, nadando em gozos, Já temeroso pé movendo incerto, Voo com ela às regiões etéreas Nas tênues asas de ternura infinda.



OS LEV Y 32 Pregão do Vassoureiro Francês [00:11] Tradicional

Quadrilha Luiz Levy / Recriação: Gabriel Levy

33 Tema e Variações para Clarinete [08:13] Pedro Santana Gomes Restauração: Achille Picchi

36 Parte I – Pantalon [00:53]

34 Chiquita [01:12] Tradicional Acompanhamento: Gisela Nogueira

38 Parte III – La Poule [00:51]

35 Tango Brasileiro [02:52] Alexandre Levy

40 Parte V – Le Galop [01:18]

37 Parte II – L’ Été [00:35]

39 Parte IV – La Pastourelle [00:33]

Henrique Luis Levy, esposa e filhos, 1880 – Fotógrafo desconhecido Arquivo Levy, São Paulo


Pregão do Vassoureiro Francês Tradicional

Quadrilha Luís Levy

Fraternité, égalité, vassourité! La facilité de la famille!

Monsieurs, Dames, attention! I. Pantalon Chaîne anglaise / Balancé / Chaîne des dames / Tour des mains / En avant! II. L’été Em avant / Traversé / Retraversé / Balancé ! III. La poule Mains droites / Mains gauches / Balancé / Change de place / Demi-chaîne anglaise ! IV. La Pastourelle Le cavalier conduit as dame au vis-à-vis / Rendre la dame / Demi rond! V. Le Galop Grand rond deux fois / En avant / Traversé / En avant / Retraversé / Balancé / Tour des mains / Final!

Chiquita Tradicional Ele: Chiquita, se eu te pedisse De modo que ninguém visse, Um beijo tu me negava? Ela: Eu dava, eu dava Ele: Se sozinha te encontrasse Na varanda costurando Beijava tua linda mão! Ela: Pois não, pois não Ele: Se teu pai, esse beócio, Ao saber do nosso negócio, Quiser se valer da lei? Ela: Não sei, não sei Ele: O casar é que me assusta, É coisa que mais me custa, Que havemos de decidir? Ela: Fugir / Ele: Fugir?

Capa da “Quadrilha” de Luís Levy Coleção particular, São Paulo



ÁLVARES DE AZEVEDO (1831-1852)

CASTRO ALVES (1847-1871)

BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)

FAGUNDES VARELA (1841-1875)

PAULO EIRÓ (1836-1871)

LUÍS GAMA (1830-1882)


BITTENCOURT SAMPAIO (1834-1895)

CARLOS GOMES (1836-1896)

PEDRO SANTANA GOMES (1834-1908)

ALEXANDRE LEVY (1864-1892)

ELIAS ÁLVARES LOBO (1834-1901)

LUÍS LEVY (1829-1896)


SÃO PAULO: soundscapes Brazilian modernity finds its synthesis in São Paulo: the city has been structuring itself as an organism in rampant metamorphosis and growth since the end of the 19 th century, in the known processes of immigration, industrialization and urbanization. The necessary changes took place frantically, in a wavering urban landscape, like concrete blocks settling over the ruins from a not so distant past. Recovering the history of this mutant city is no ordinary task. What should we then say about its multiple stories of daily life destined to oblivion? The CD São Paulo: soundscapes (1830-1880) – conceived by singer and music researcher Anna Maria Kieffer – is an ambitious project, based on extensive research. The chosen period is emblematic: we may imagine, in that half-century, the transformation of a timid village, with its windows covered by lattice, into a city that begins to open to what was new, bearing the germ of what would be its current cosmopolitanism. As we listen to this CD we are taken to another time, in a journey of knowledge and enjoyment. The landscapes do sound indeed! Among popular musical compositions, classic, profane or sacred, we also have suggestions of urban or not so urban noises, of a nature that made itself heard. The CD is organized into six thematic parts, with the intention to establish an ascending chronology. Thus, we may not only feel but also understand the sound transformations step by step, from traditional songs, lyrics by the celebrated students of the city’s Legal Course, work songs, songs for saraus (musical and literary meetings), abolitionist trovas (four stanza poems) to compositions by the first professional musicians of the city.


With the production of the present work, Sesc fulfills its institutional mission of preserving the intangible cultural heritage and memory of the country, disseminating musical research projects and bringing the wide array of aesthetic manifestations that make up Brazilian culture to a wider audience. I wish you all a good time travel!

Danilo Santos de Miranda Regional Director of Sesc SĂŁo Paulo


SĂƒO PAULO: soundscapes (1830-1880) INTRODUCTION The present work was born from a music sketch recorded in 1996, in collaboration with Julio de Paula, in which 19 th century songs related to the streets of the city of SĂŁo Paulo were gathered. In the following twenty years, new material was collected and suggested, allowing the extension of the project to its present form: a musical and sound panel of the city between 1830 and 1880. In these fifty years, it changed from a village of muleteers to an important academic center, and then it knew the industrial, urban and cultural expansion that would characterize it from the 1880s on. This panel includes street songs and cries, work songs, music composed and performed by students of the Legal Course (nowadays the Law College of the University of SĂŁo Paulo) and its circle (including some important composers of the period) with texts by colleagues who became some of the most remarkable poets of Brazilian Romanticism. In addition, we emphasize the abolitionist and republican movements, the cultural influence brought by the first European immigrants, and also the formation of music clubs that would contribute to the greater internationalization of the musical practice in the period. We divided this framework of sounds into six parts, keeping as far as possible a chronological order of the musical pieces supplemented by soundscapes recreated with materials captured from nature, as well as the small noises of daily life.


THE CITY The city presents itself as in the First Plant of the Imperial City of São Paulo, authored by the Portuguese engineer Rufino Felizardo e Costa, in 1811, and revised in 1841. Based on this plan, we carried out a musical tour around it, passing through some of its main streets and crossing the surrounding rivers: Anhangabaú and Tamanduateí. A small text announces the way, accompanied by songs and instrumental interventions, most of them anonymous: modinhas, toadas, sacred music and popular religious songs, such as the “Salve Rainha” sung to the Virgin Mary in behalf of the souls of the hanged, and the “Bendito do Divino Sacramento”, which heralded the communion taken to the sick. Among the most usual instruments are the Brazilian baroque guitar – from the baroque guitar family –, and the romantic guitar, often played in duo, such as “Maria Cachucha”, danced in taverns and in the popular theaters of Rua do Salitre, in Lisbon, and later spread all over Brazil. To complete the songs, we included the sounds produced by the fauna living along the roads and rivers: frogs, crickets, birds, anhumas (waterfowls) from the Tietê, wild boars, alongside with deer, pacas (small rodents) and armadillos. People living in the city hunted all these animals as late as the mid-19 th century. THE LEGAL COURSE It started in 1828, in the Convent of São Francisco, soon housing students from all over Brazil. It was the beginning of the gradual transformation of the city into a center for young intellectuals. Many of them became distinguished names, mainly in literature, politics and diplomacy.


“A vida do estudante” (The Student’s Life), written by Antônio Augusto de Queiroga (Vila do Príncipe, now Serro, MG, 1811? / Diamantina ?, MG, 1855) was a very popular among young academics, with the melody of “Song of the Sailor”, which was part of the popular cheganças de marujos (a sort of dramatic dance), presented here as a mockery of students. Álvares de Azevedo (São Paulo, SP, 1831 / Rio de Janeiro, RJ, 1852) and Bernardo Guimarães (Ouro Preto, MG, 1825-1884) are distinguished Brazilian Romantic writers. In São Paulo, Bernardo Guimarães wrote obscene and nonsense poetry, very much appreciated by students at the time. Byron, Musset and the German Romantic poets strongly influenced Álvares de Azevedo. His poetry presents a multiplicity of tendencies found in the works: “O vagabundo” (The Vagabond), a satyre set into music by an unknown composer, and “Meu sonho” (My Dream), in which the poet dialogues with a ghost knight, invoking the horror mood in Goethe’s “Erlkönig”. A religious song (“Canto de irmão das almas”) – sung on Fridays of Lent – separates the satirical works from the dramatic ones. Caiapós, a dance of Amerindian origin, used to be performed by black people dressed as Indians. Its theme was the search for an indigenous child kidnapped and killed by a white man and eventually resurrected by the shaman. People danced it to the sound of various percussion instruments and horns used to gather tracking dogs during hunting. The words of the song “Papagaio real” (Royal Parrot) recall – in a different way – a hunting scene. Used to teach a parrot to speak, it was first mentioned by Frei Vicente do Salvador in the early 17th century, but a few years ago it was still popular in Brazil, even in São Paulo.


STREET VOICES These are the voices of street vendors, grocers in the open-air markets, slaves of gain hawking their wares in various parts of the city, and workers trying to make their job easier by means of melodies and rhythmic chants. In front of Carmo, women fishmongers gathered; in Largo de São Francisco, men parked their oxcarts bringing firewood from Santo Amaro; from the backyards of the houses, one could year washerwomen at work, but they were also active on the banks of the Tamanduateí. Throughout the city-center, vendors of street food circulated, offering delicacies from all background – Portuguese, African, and indigenous. For this recording, we recreated and composed street cries and labor songs as a small polyphonic musical piece, beginning with a song by a washerwoman and a labor song by someone grinding grains in his pestle. Ernani da Silva Bruno reports the sale of içás (toasted female ants), an indigenous heritage, together with cambuquira (fried squash shoots) in front of the Law Academy. Antônio Egídio Martins recalls the couscous with freshwater catfish and shrimp, the piquira or lambari (freshwater fish) pies, the quindungo – roasted peanut pounded with cumarí pepper and salt – in addition to sweets, cookies and cakes arranged on trays and sold in the streets. Jorge Americano mentions men selling fruit, vegetables, eggs, as well as grinders and boilermakers; he also refers to shoeshiners, who were usually Italian. One of their street cries is here accompanied in the distance by a traditional Italian song – “Fenesta Vascia” –, according to information by José Ramos Tinhorão.


SOIRÉES AND SERENADES Family musical meeting were frequent in São Paulo in the early 19 th century. With the presence of students from the Legal Course, these meetings were also held at the repúblicas (students’ lodgings). However, they were mainly held at the halls of great houses, such as the ones sponsored by the Marchioness of Santos, who brought the novelty of saraus (musical and literary meetings) from Rio de Janeiro. Until the mid-1800s, the most usual instruments in these student meetings were the two kinds of guitars, the flute and the clarinet, the same ones used in the visits to country houses around the city, and in serenades, including the river serenades, when young academics went down the Tietê in barges, singing and playing in the moonlight. The piano – initially restricted to bourgeois families – gradually became more popular, even at some of the repúblicas, while international singers and instrumentalists came to perform in São Paulo, and foreign music teachers settled in the city, such as the French pianist Gabriel Giraudon, who had been a student of Sigismond Thalberg (1812-1871). Some more or less stable music groups appeared, such as Orquestra Paulistana, conducted by maestro Antônio José de Almeida, chapel master of the See, and choral groups created by German immigrants. These elements trigged a change in taste, composition and practice of music performances, as we can notice in the works of composers and poets belonging to this group, some of the main exponents of Romanticism in Brazil: Venâncio José Gomes da Costa Júnior (Pouso Alto, MG, 1840 / Franca, SP, ?), a contemporary to poet Fagundes Varela (São João Marco, RJ, 1841 / Niterói, RJ, 1875), was a talented


guitarist and shared with Varela a few bohemian nights and the authorship of modinhas and serenades, such as “Noite saudosa”, here included. Poet Antônio Frederico de Castro Alves (Fazenda Cabaceiras, Curralinho, BA, 1847 / Salvador, BA, 1871) arrived in São Paulo in 1868, when the city was starting to offer a larger number of cultural choices. He is regarded as one of the most important Brazilian poets of his time. Many of his lines were set to music or recited with musical accompaniment. Here we perform “O Coração”, a modinha with words from a poem written in Recife in 1865, and also the song “Adormecida”, with lyrics written in São Paulo in 1868. Among his recitations, “Canção do Boêmio” stands out, and we shall discuss it later. In order to illustrate the joyful mood of the family meetings, we present a traditional toast, well known all over Brazil at the time. In São Paulo, the final exclamation Hip, hip, hurra! was substituted by students for: Tabatin, tabatin, tabatin, guera!, making a pun on the name of Tabatinguera street. Antônio Carlos Gomes (Campinas, SP, 1836 / Belém, PA, 1896), who would become the most popular Brazilian composer in the 19th century, was only fifteen when he composed waltzes, polkas and quadrilles, performing on several farms in the countryside of São Paulo. From 1859, he began to visit the capital. Before leaving for Italy, where he developed his important career, he wrote his opera Joana de Flandres, premiered in Rio de Janeiro in 1863. In that opera we can find his “Entreato para Flauta”, dedicated to the great Belgian flautist André Mathieu Reichert. We here perform it in a chamber version for flute and piano written by the composer. Elias Álvares Lobo (Itu, SP, 1834 / São Paulo, SP, 1901) wrote church music and the first opera acknowledged as Brazilian, A Noite de São João, with a libretto by José de Alencar. In 1859, he presented a version not yet instrumented of this opera to the students of the


Academy. The lundu “Chá Preto Sinhá – memories of an artistic soirée”, and the song “Bem te vi”, with lyrics by Bittencourt Sampaio, are examples of this composer’s chamber music. In 1862 student José Joaquim de França Júnior (Rio de Janeiro, RJ, 1838 / Poços de Caldas, MG, 1890) wrote a comedy involving academic customs, Meia Hora de Cinismo, which was a great hit at the time, with many performances in the following years. In the performance of June 21, 1868, he inserted the recitation “Canção do Boêmio”, with words by Castro Alves and music by Emílio Euriquiano Correa do Lago (Franca, SP, 1832 / São Paulo, SP, 1871), published in a version for reciter and piano. While visiting the Levy family archive, a daguerreotype, here reproduced and showing four musicians, caught our attention. One of them is pointing to a poster on the wall, which reads “Cynicism”. The following month, Meia hora de cinismo is repeated in the concert organized by Giraudon on behalf of his young student, the future composer Henrique Oswald (1852-1931), who was to leave for Europe on a study trip. Correio Paulistano of July 3, 1868 published the release of the concert and its program. This information and the piano score allowed us to recreate the instrumental accompaniment suggested by the daguerreotype. Among the members of the small ensemble, we could identify Henrique Luis Levy (clarinet) and possibly flautist Viriato Figueira da Silva (1851-1883). So far, we have not identified either guitarist. ABOLITIONISTS AND REPUBLICANS Although not directly connected to music in the period, it is imperative to mention the anti-slavery societies in São Paulo, which played a fundamental role in the freeing of slaves and the diffusion of abolitionist and republican ideas, most of them created and attended by the law students.


Among the traditional genre or repression poems, we found “Mulata do Siô Coroné”, referring to slavery and followed by a lullaby related to the Paraguay War (1854-1860). At the time, a large number of slaves was sent to fight instead of their masters, with the promise of manumission on their return… if they ever return. We then present an excerpt of a poem by Paulo Eiró (Santo Amaro, SP, 1836 / São Paulo, SP, 1871), a poet and playwright, author of Sangue Limpo – the first Brazilian play to present themes such as racial and gender prejudice. An ex-slave, Luís Gama (Salvador, BA, 1836 / São Paulo, SP, 1871) managed to attend the Law Academy as a listener and set free over five hundred slaves. He was one of the founders of the humorous newspapers Diabo Coxo (1864) and Cabrião (1866), both of abolitionist inclination. With Rui Barbosa, he created the masonic lodge America, eventually becoming a Venerable of the institution. Under the pen name of Getulino, he published Primeiras Trovas Burlescas, a collection of satirical and lyrical poems; we present two of them upon a musical creation with the African instruments the poet mentions in his texts. A major figure, in 2015 the São Paulo Bar granted him the postmortem title of lawyer. THE LEVY FAMILY The cry of a broom street vendor testifies the increasing presence of immigrants in the city. A lineage of musicians working in the second half of the 19 th century in São Paulo, the Levy family participated in the evolution of musical practice in São Paulo as interpreters, creators, printers, merchants and music promoters.


The first of them, Henrique Luís Levy (Dehlingen, Alsace, 1829 / São Paulo, SP, 1896), arrived in Brazil in 1848 and soon entered the jewelry trade, having founded the store Ao Bouquet de Brillantes in São Paulo in 1860. A skillful clarinetist, he recognized the talent of brothers Carlos and Pedro Santana Gomes, exerting a great influence on the starting career of both of them. Little by little the jewelry store started to sell musical instruments and sheet music, and then to print it, becoming Levy House, which is still in business. In the archive of the Levy family we found the manuscript score of “Theme and Variations for Clarinet” by Pedro Santana Gomes (Campinas, SP, 1834-1908), presented here and probably dedicated to Henrique Luís Levy. Santana Gomes worked as a violinist, conductor and composer, having written vocal and instrumental pieces, as well as several string quartets. Two of Henrique Luís Levy’s sons became musicians. Alexandre Levy (São Paulo, SP, 1864-1892), was a pianist, composer and music critic, had a multicultural background, beginning his studies with his father, then with Gabriel Giraudon and the German composers based in São Paulo, Georg von Madeweiss and Gustav Wertheimer. Later he would complete his music training in Italy and France. Alexandre Levy is one of the forerunners of Brazilian musical nationalism, since he used popular themes in some of his works. His multiple influences are present in his “Tango Brasileiro”, presented here. Alexandre Levy’s cultural work would extend throughout the 1880s, starting with the creation of the Haydn Club in São Paulo in 1883 to reveal the works of Brazilian composers and, above all, of the great European masters. A short caipira (rural style) duet – a pattern that would become popular in the following decades – precedes the two works by the Levy brothers and anticipates the discussion


between rural and urban, popular and classic, national and international through elements in the work of Alexander, Luis and other contemporaries. The modernists would expand this discussion. Luís Levy (Campinas, SP, 1861 / São Paulo, SP, 1935), a pianist and composer like his younger brother, studied under Gabriel Giraudon, becoming an admired instrumentalist in his day. He took over his father’s cultural and commercial activity at Casa Levy, importing and printing works by Brazilian and international composers. He was active in the diffusion of a new repertoire of chamber and symphony music in São Paulo, while composing salon and dance music, such as the “Quadrilha” on themes from the operetta Mam’zelle Nitouche, by the French composer Hervé (Louis-Auguste-Florimond Ronger, 1825-1892), here included. The “quadrille de salon” or “French quadrille” was very popular in Brazil in the 19 th century; it gave birth to the quadrille people dance in Brazil nowadays in the month of June. In both cases, a master of ceremonies dictates the procedures dancers are to execute. According to Álvaro Dias Patrício – in his Dance Manual –, the quadrille procedures in Brazil should be spoken in French. This is how we present it here, in an arrangement by another Levy, Gabriel, a great-grandson of Henrique Luís’s and a current musical representative of this family who had an important participation in the cultural life of the city when it started marching towards a cosmopolitanism that would characterize it from the late 19 th century on. Anna Maria Kieffer São Paulo, April, 2018


BIBLIOGR AFIA / BIBLIOGR APHY ALVARENGA, Oneyda. Música popular brasileira. Porto Alegre: Editora Globo, 1960. AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo. São Paulo: Saraiva, 1957. ANDRADE, Mário de. Danças dramáticas do Brasil. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1959. ANDRADE, Mário de. Dicionário musical brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia; Brasília: Ministério da Cultura; São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1989. ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964. AZEVEDO, Manuel Antonio Álvares de; AZEVEDO, Vicente de Paulo Vicente de. Cartas de Álvares de Azevedo. São Paulo: Academia Paulista de Letras, 1976. BARROS, Maria Paes de. No tempo de dantes. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998. BRUNO, Ernani da Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. São Paulo: Hucitec / Prefeitura do Município de São Paulo, 1984. CANDIDO, Antonio. O Romantismo no Brasil. São Paulo: Humanitas –FFLCH/USP, 2002. CARVALHO, Pinto. História do fado. Lisboa: Empresa da História de Portugal, 1908. FREITAS, Afonso Antônio de. Tradições e reminiscências paulistanas. 3. ed. São Paulo: Governo do Estado, 1978. GAMA, Luiz (Getulino). Primeiras trovas burlescas. São Paulo: Martins Fontes, 2000.


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Da esquerda para a direita: Alessandro Greccho, Gabriel Levy, Gisela Nogueira, AndrĂŠ Cortesi, Leonardo Fernandes, Anna Maria Kieffer, Sandro Bodilon


Toninho Carrasqueira, Maria JosĂŠ Carrasqueira, Giacomo Bartoloni, Elisabeth Bartells, SĂŠrgio Burgani, Rodolfo Nanni


AGRADECIMENTOS A Gilmar de Carvalho, Joaci Pereira Furtado e João Adolfo Hansen, pelo acompanhamento carinhoso na elaboração dos textos. A Heloisa Barbuy, Dalton Sala, Paulo Castagna, Paulo Ikeda e Vitor Gabriel, pelo aconselhamento em questões históricas e musicológicas. A Jaelson Bitran Trindade, pelas informações sobre tropeirismo. A Beatriz Pimenta Camargo, Bia e Pedro Correa do Lago, João Emílio Gerodetti, Ronaldo Cezar Coelho e Instituto Cultural São Fernando, pela gentil colaboração e pela permissão do uso de imagem de obras que integram suas coleções e acervos. A Alessandra Biglia, Andreia Cavalcante e Thomas Merkel, pelo apoio. A Eduardo Saron e Angélica Pompílio de Oliveira, pela cessão do uso de imagem do “Panorama da Cidade de São Paulo”, de Arnaud Julien Pallière, pertencente ao Acervo do Banco Itaú – Coleção Brasiliana. A Edelton Gloeden, pelo empréstimo da guitarra romântica, utilizada na “Canção do Boêmio”. A Elson Leônidas, pela amável participação em “Bendito do Divino Sacramento”. A Alexandre Negrini, pelo apoio na produção fotográfica dos intérpretes. Ao Sesc, na pessoa de seu diretor Danilo Santos Miranda, e à toda a equipe do Selo Sesc pelo entusiasmo com que abraçaram este projeto.


FICHA TÉCNICA Pesquisa, concepção e paisagens sonoras Anna Maria Kieffer

Coordenação de estúdio Shen Ribeiro

Direção musical Anna Maria Kieffer Gisela Nogueira

Técnicos de gravação Carlos (KK) Akamini José Luís Costa Gato

Recriação de acompanhamentos Gisela Nogueira Gabriel Levy Giacomo Bartoloni Leonardo Fernandes Paulo Dias

Edição Gustavo do Vale José Luís Costa Gato

Restauração de partitura Achille Picchi

Mixagem e masterização José Luís Costa Gato (Cia. do Gato) Projeto gráfico Eduardo Campos – Estúdio Darshan

Texto Anna Maria Kieffer

Fotógrafos Horst Merkel (iconografia) Alexandre Nunis (músicos)

Revisão Joaci Pereira Furtado

Produção executiva Rodolfo Nanni – AKRON

Versão para o inglês Valter Lellis

Assistente de produção Sabrina Souza da Silva

Tradução e revisão de textos Gabriela Maloucaze

Secretária Mariana Lelis

Gravação (finalizada em março de 2018) Estúdio Sala Viva – Espaço Cachuêra!


SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor Regional Danilo Santos de Miranda Superintendentes Comunicação Social Ivan Paulo Giannini Técnico-Social Joel Naimayer Padula Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli Selo Sesc Gerente do Centro de Produção Audiovisual Silvana Morales Nunes Gerente Adjunta Sandra Karaoglan Coordenador Wagner Palazzi Produção Giuliano Jorge, Ricardo Tifona Comunicação Alexandre Amaral, Alexandre Calderero, Raul Lorenzeti, Renan Abreu Propriedade Intelectual Katia Kieling, Yumi Sakamoto Administrativo Bianca Thais, Clarissa Nobrega, Erika Takahashi, Thays Heiderich Áudio João Zilio, Marcelo Sarra

Av. Álvaro Ramos, 991 São Paulo/SP - CEP 03331-000 Tel: (11) 2607-8271 selosesc@sescsp.org.br sescsp.org.br/selosesc sescsp.org.br/loja



Cรณdigos ISRC: [1] BXSVC1800278, [2] BXSVC1800279, [3] BXSVC1800280, [4] BXSVC1800281, [5] BXSVC1800282, [6] BXSVC1800283, [7] BXSVC1800284, [8] BXSVC1800285, [9] BXSVC1800286, [10] BXSVC1800287, [11] BXSVC1800288, [12] BXSVC1800289, [13] BXSVC1800290, [14] BXSVC1800291, [15] BXSVC1800292, [16] BXSVC1800293, [17] BXSVC1800294, [18] BXSVC1800295, [19] BXSVC1800296, [20] BXSVC1800297, [21] BXSVC1800298, [22] BXSVC1800299 , [23] BXSVC1800300 , [24] BXSVC1800301, [25] BXSVC1800302, [26] BXSVC1800303, [27] BXSVC1800304, [28] BXSVC1800305, [29] BXSVC1800306, [30] BXSVC1800307, [31] BXSVC1800308, [32] BXSVC1800309, [33] BXSVC1800310, [34] BXSVC1800311, [35] BXSVC1800312, [36] BXSVC1800313, [37] BXSVC1800314, [38] BXSVC1800315, [39] BXSVC1800316, [40] BXSVC1800317.


Imagem da capa: Costumes de São Paulo, 1835 Ilustração do álbum de Johann Moritz Rugendas, Voyage Pittoresque Dans le Brésil, Paris, Engelman & Cie., 1835 Coleção Brasiliana Itaú, São Paulo

Imagem da próxima página: São Paulo - Vista tomada da várzea do Tamanduateí, c.1890 Anônimo, a partir de fotografia da livraria Garraux, São Paulo Ilustração do livro de E. Levasseur Le Brésil Coleção Pedro Corrêa do Lago, São Paulo



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