Sebastião Biano e seu Terno Esquenta Muié by Selo Sesc

Em seus 11 anos de trabalho, o Selo Sesc vem construindo um catálogo com obras que estabelecem um diálogo entre o histórico e a inovação, buscando estimular a produção e a difusão de trabalhos relevantes no âmbito cultural. Alguns desses trabalhos são calcados no alicerce da tradição e ao serem gravados e compartilhados com o público, mantém viva a nossa memória cultural. Este disco de Sebastião Biano é prova disso. Único remanescente da formação original da Banda de Pífanos de Caruaru, um dos grupos mais tradicionais do Brasil, e considerado o mestre maior do pífano, Sebastião Biano inacreditavelmente nunca havia gravado um disco solo. Lacuna que, com satisfação, ajudamos a preencher. Aos 96 anos, Seu Biano, como é conhecido, continua tocando seu “pife” com a mesma vitalidade com que, aos 8 anos de idade, esqueceu o medo e tocou para Lampião e seus cangaceiros. Esse e outros causos, além de suas composições, estão presentes nesse disco, que é ao mesmo tempo uma homenagem à sua história e um incentivo a sua inesgotável potência criativa. Com esse lançamento, o Selo Sesc corrobora seu compromisso de apoiar o registro e a difusão da diversidade de nossa música em todas as suas vertentes, ampliando as possibilidades de troca entre artista e público, ação fundamental para o desenvolvimento de uma melhor apreciação artística. Diretor Regional do Sesc São Paulo

Duas flautas virtuosas costurando e recosturando ritmo e melodia, cortando e recortando o ar com o timbre de madeira e aço. Percussão, balanço e dança, ritmo e balé, costurando e descosturando gente que se move sem preguiça. E se começar, nem peça pra parar que o que é bom tem que demorar.

O que vale mesmo é que são tempos onde a pequena iniciativa possibilita enormes encontros, desses que menosprezam as diferenças de idade, classe e - por que não - cor da pele, já que tem muito racismo em nossa insistência em não reconhecer o valor de tudo o que tem a marca de negro e índio no Brasil.

Parece coisa que índio e negro roubaram do português pra fazer melhor. Talvez por isso - que nada é à toa - condenadas ao restrito alcance de tudo quanto é entendido como “manifestação folclórica”, anônima, “espontânea”, do povo, “nosso” patrimônio imaterial, as bandas de pífano espalhadas por todo o Semi-Árido nordestino até hoje carecem de um reconhecimento à altura de sua beleza e importância.

Daí que é lindo ouvir o encontro de Sebastião Biano com Renata Amaral, Eder O Rocha, Junior Kaboclo, Filpo Ribeiro e André Magalhães.

Cansei de ver, em Caruaru (PE), banda de pífano tocando forte, pisando macio e manobrando coreografia complicada pra música ligeira, embaixo de som alto de palco e palanque, nem aí pra o pequeno espaço e a função marginal, dando tudo de si e de bom e recebendo sempre menos do que todos. Tudo isso sempre foi “o normal”, mas nunca foi tão necessário, mas perguntarmos até quando seguiremos menosprezando nossa fina filosofia sonora, poética, bailarina?

Biano, que tem deixado sua marca na história recente da música brasileira ao fertilizar Tropicália e Mangue Beat, só agora - na casa dos noventa - consegue fazer um registro mais pessoal de sua música, que por sua vez não cabe apenas nos sons e só se completa no disco com as histórias e estórias na voz do Mestre. Vamo ouvindo, pra aprender melhor a ganhar o pão com honestidade, atirar na codorna somente quando ela voa, tomar com gosto da água que já nasce benta. E pra onça não beber o sangue da gente... Cantor e compositor

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