A Índia que eu vi - Vera Shivani / Semente Editorial

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Rio de Janeiro, Primavera / 2013 1ª edição


© 2013 by Vera Shivani 1ª edição dezembro 2013 Direitos desta edição reservados à Semente Editorial ltda Av. José Maria Gonçalves, 38 – Patrimônio da Penha 29.590-000 Divino de São Lourenço-ES Tel.: (28) 3551.1912 Rua Soriano de Souza, 55 casa 1 – Tijuca 20.511-180 Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 2567.2777 (21) 98207.8535 contato@sementeeditorial.com.br www.sementeeditorial.com.br Produção Editorial: Estúdio Tangerina Preparação de Texto: Mirian Cavalcanti Revisão: Mirian Cavalcanti, Tania Cavalcanti Projeto Gráfico, Diagramação e Capa: Lara Kouzmin-Korovaeff Imagem da Capa: Details of design of royal Lotus Mahal, Queens’ Palace, Hampi, Karnataka, India Ryabuhina / Shutterstock Editora Responsável: Lara Kouzmin-Korovaeff N.E. : Originais da autora revistos previamente por Vera Mourão. Fotografias de: Adriana Rezende, Eduardo Leite e João Mazza. Fotos e referências inseridos com a devida autorização dos envolvidos.

S558i Shivanni, Vera A índia que eu vi / Vera Shivani. – Semente Editorial, 2013. 228p. : 23 cm ISBN 978-85-63546-14-2 1. Índia – Descrições e viagens. 2. Índia – Usos e costumes. I. Título .

CDD: 915.4


A minha família e principalmente a meus oito netos, presentes preciosos que recebi na vida, a declaração de um profundo sentimento de sua avó, relatado aqui. Vera Shivanni



Agradecimentos Não posso iniciar estes agradecimentos sem me dirigir mentalmente aos meus pais, Sulamita e José Alberto, que sempre me ajudaram e incentivaram, mesmo sem entender o porquê desta paixão. À minha família querida — marido, filhas, genros e oito netos — que me permitiram tão longas viagens, com amor e compreensão. Especialmente meu companheiro de vida, Dílson, que se esforçou e possibilitou todas essas idas e vindas sozinha, sempre com desprendimento, e por vezes com sacrifício dos seus próprios interesses. Em favor da minha busca pessoal. Aos meus companheiros dos grupos de viagens, guias e organizadores, que fizeram com que aqueles se transformassem em momentos inesquecíveis. Ao meu amigo João, que já se foi, e a quem eu sempre dizia ter sido “um presente como companhia”. À minha Mestra Gloria Arieira, que me levou a entender e realizar o verdadeiro objetivo dessas peregrinações. À minha “companheira” Adriana, sempre ao meu lado, como verão. Finalmente, não posso encerrar sem elevar o pensamento e coração ao Senhor Śhiva e meu guru Paramahansa Yogananda, a quem singelamente entrego meus sonhos.

Grata a todos, Vera Shivani.



Sumário

Prefácio, 11 Introdução, 17

Primeiras Viagens, 19 1989 / Primeira Viagem, 21 1993 / Segunda Viagem, 24 1995 / Terceira Viagem, 26 1999 / Quarta Viagem, 27 2003 / Quinta Viagem, 29

2007 / Primeira Peregrinação / Primeira Yatra, 33 O Rajastão, 91

2010 / Segunda Peregrinação, Segunda Yatra, 119 O Início, 125 A Subida, 165 A Descida, 189 O Nepal, 207

Palavras da Autora, 223 Glossário, 224



Prefácio No vaivém das buzinas, do cheiro de incenso, da poeira das terras caminhadas, de visões inesperadas, aromas picantes e ao som dos templos, os sentidos afloram e despertam a mente para as infinitas possibilidades. O que leva alguém a trilhar um caminho? Pode parecer fácil a resposta, pois olhando os gostos é fácil deduzir as escolhas, ver as identificações e reconhecer afinidades. Mas identificações, simplesmente, são suficientes para definir escolhas? Vera escolheu um caminho e trilhou com coração e intelecto. Estudou e se dedicou a ensinar yoga, estudou também Sânscrito, Vedanta, Mantras, Simbolismo Védico, visitou templos, participou de muitas pūjās (cerimônias), ouviu e palpitou bastante sobre o Mahābhārata, mergulhou no Ganges... e a tudo isso ainda se soma o que se processou nas peregrinações nos Himalayas, com atenção a Rana Chatti, onde, com ímpeto, em uma cadeirinha de palha, encarou uma subida tão rápida que adoeceu e caiu do alto das suas forças e crenças, expondo as raízes da própria fragilidade. Um caminho que fez com os pés, coração e entrega plena. De forma tal que já está a programar a próxima ida. Sem dúvida, Vera escolheu a Índia como seu caminho, e são tantas as histórias que tem para contar que faria uma epopeia, com certeza. Eu mesma tive a sorte de acompanhá-la e dividir muitas emoções por esse país, descobrindo-o e reverenciando-o ao seu lado.


A pergunta que antecede ou cala muitos questionamentos é: vale a pena a resposta? Responder não muda nada; há um caminho interno, de infinitas possibilidades, em cada escolha, e mais vale seguir e ter claro o que se escolheu. E seria mesmo através das identificações que se constrói uma autoimagem diferenciada, mas apenas uma imagem onde estão as diferenças quando se olha profundamente? Pois Vera não se preocupou com diferenças e lançou seu olhar a iluminar a Índia. Observou cada aspecto, como o povo, sua espiritualidade, crenças, a beleza dos templos, dos Himalayas, das vacas nas ruas, do aroma e sabor das especiarias, da própria devoção... E não quis fazer um guia, pois mesmo o caminho comum é uma experiência particular. Ela fala de como a Índia mexeu com suas emoções, o que encontrou por lá. E muito podemos ver, em seu livro, dos caminhos que percorreu, com detalhes técnicos como distâncias, mapas e fotos que ela anotou para se distrair e não se perder com tudo que essas peregrinações iam lhe trazendo. Para os que já foram ou estiveram ao seu lado nessas viagens, ler seu livro é como rever o filme que se escreveu e encenou plenamente, e ao qual agora pode-se assistir com o mesmo encanto de então, até mesmo descobrindo outros olhares do que ficou e não se percebeu. Para quem nunca foi, mas tem um desejo nesta direção, pode encontrar aqui um relato despretensioso, espontâneo, emotivo, como Vera, e fiel às inúmeras facetas desse grande país.


Por alguma razão, que também não carece de explicação, ela pediu-me esse prefácio, mas aproveito a oportunidade para agradecer esse caminhar ao seu lado. E poder lhe dizer Om namah Shivaya. Estou no elenco para segui-la na estrada rumo a Kedarnath, quem sabe mais histórias nesta história sem fim.

Adriana Rezende



Introdução Tomei contato com a cultura hindu através de meus estudos de yoga. Aos poucos me foi sendo revelado um mundo que correspondia em muito às minhas ideias mais interiores, até então consideradas como ateísmo, mas, no íntimo, sentidas por mim como de uma profunda devoção, embora expressada de forma diferente. Confesso que, inicialmente, isso me trouxe muito medo. Afinal, aquele novo pensar vinha desmentir todo o meu discurso sobre religiões e crenças! Mas, apesar do medo, não conseguia ignorar o grande sentimento de amor e identidade a uma cultura que estava me revelando uma visão muito mais clara de Deus. E comecei a ler, assistir a documentários e palestras sobre a Índia, sua cultura e filosofia. E, mais e mais, fui sendo tomada de um sentimento diferente de reencontro e gratidão para com aquele povo e terra. Certa vez ouvi — perdoem, mas não recordo de quem — uma frase que ficou martelando na minha mente e marcada em minha vida. “Você não vai à Índia impunemente; é ela que vem buscar você.” Pura verdade. Fiquei então esperando que ela decidisse a hora de conhecê-la. Pedia a minha mãe Bhārāta e a Gangā (rio Ganges, como é chamado localmente), que me levassem pelo menos uma vez aos seus braços. Naquela época, o querido professor Hermógenes ia todos os anos com grupos, e eu sonhava ir com ele. Sabia ser um sonho distante, do outro lado do mundo, e muito além de minhas posses. Além disso, muitos diziam ser viagem complicada, difícil, que demandava 48 horas para se chegar ao destino... O tempo foi passando. Em setembro de 1988, minha amiga de infância Yara contou 15


que estava se reunindo a um grupo para ir em janeiro de 1989 à Índia, sob a orientação do professor Orlando Cani. No exato momento em que a ouvi, falei que iria também. E apesar de não ter, à época, um montante financeiro suficiente para a viagem, comecei, mesmo assim, a frequentar as reuniões do grupo. A cada encontro, crescia minha necessidade de chegar àquela terra encantada. Gradativamente, com a ajuda da família e o abnegado desprendimento de meu marido, fomos separando o necessário para custear a viagem. Mas posso dizer que, de certa forma, nem me preocupava com esse aspecto, tamanha a alegria: finalmente, iria à Índia! Foi marcada a data. Mas, um forte e inesperado furacão abalou a Inglaterra. Nosso primeiro ponto de translado, o aeroporto de Londres, fechado; a viagem, adiada. Mais alguns dias de espera. Eu quase não dormia, tamanha a ansiedade. Chegou o dia, 27 de janeiro 1989. A família muito “aflita” — “em que aventura esta criatura vai se meter?”. Eu muito feliz, ao entrar naquela aeronave da British Airways. Passamos por Londres sob neblina densa. Esperamos oito horas no aeroporto para, enfim, embarcar para Délhi. Começaria a descortinar, a partir dali, aquelas que seriam as minhas primeiras visões da Índia.





Ajanta

Ellora


1 - Primeira Viagem - 1989 Roteiro: Délhi, Rajastão, Jaipur, Mandawa, Samode,

Amber, Agra, Khajuraho, Darjeeling, Calcutá, Bhubaneswar, Konarak, Puri, Benares, Nepal e Délhi.

Chegamos a Délhi pela madrugada, com nossos guias nos esperando com guirlandas e muita alegria. Já naquele instante, meus olhos procuravam tudo que pudessem registrar da nova terra querida, enquanto o coração me dizia ter reencontrado um grande amor. A alegria me invadia; tudo era lindo. O hotel onde nos hospedamos ficava logo em Janpath, a via do centro da cidade. Prédio antigo, uma alameda de árvores na entrada, luxuoso e amplo; nosso quarto no primeiro andar era confortável e grande. E nos instalamos satisfeitas. Exatamente no segundo dia, ouvimos batidas na janela logo pela manhã. Como era ao pé do chão, pensei tratar-se de algum funcionário, em providências rotineiras de limpeza. Abri a janela, e, surpresa, me vi diante de uma família de macacos, que simplesmente entrou, atravessou o quarto e saiu pela janela do banheiro. Sem cerimônias. É verdade, eu estava na Índia! Como dizem os indianos:

“It’s India!” A viagem era extensa. Nos três dias em Délhi, visitamos vários pontos turísticos (Délhi será mencionada com frequência, ao longo de toda a narrativa), e partimos para o destino seguinte: Rajastão. O Rajastão é um estado diferente, para mim o mais belo do país por suas cidades coloridas, como as roupas de seu povo, mui-


to alegre. A terra do artesanato, das joias e panos bordados com brilhos e espelhos, onde se compram de joias a utensílios de cozinha. Tudo é enfeitado nessa terra. Aqui, fizemos muitas visitas a museus e palácios; a própria capital, Jaipur, a Cidade Rosa, por si só já é uma bela visão. Em Samode, ainda no Rajastão, hospedamo-nos em hotéis maravilhosos, como o conhecido Palácio de Samode, hoje cotado entre os cinco mais luxuosos do mundo. Passeamos pelo deserto em charrete conduzida por camelo, e ficamos em palácios que lembravam contos de fada. E, como se não bastasse, ao luar, acomodadas sobre almofadas que rodeavam uma fogueira, jantamos, com músicos e músicas a nossa volta. Puro encanto. Em Calcutá impressionou-me o número de pessoas — na ocasião falava-se de 20 milhões de habitantes, 300 mil veículos e 10 mil bois pela cidade. Trânsito indescritível, sujeira acumulada, calor terrível. Andar na cidade sozinha? “Uma temeridade!” Mas, mesmo assim, deixando de lado o considerado pela maioria, aventurei-me numa voltinha. Era o caos. A cidade é um dos pontos de migração de todo o território indiano. Lá ouvi: “não procure problemas, porque vai encontrar”. É verdade. Vimos pessoas vivendo em verdadeiros acampamentos nas calçadas, bebendo a água que se acumulava nos meios-fios. Foi o local onde realmente vi miséria. E, no bairro do templo de Kali (1809), local onde são feitos sacrifícios com animais, algo tocante. Duas vezes ao dia, ali, acontece distribuição de alimentos, e lá nos encontrávamos quando um grande grupo de mendigos reuniu-se no pátio do templo, todos em ordem, aguardando serem servidos. Os pūjāris, com grandes tinas de chai (chá) e de biscoitos, iam derramando o chá nas cumbucas e oferecendo um biscoito pequeno para cada um. Num dado momento, chegou alguém atrasado para a distribui22


ção, caneca na mão. Já havia passado o momento! O que estava ao seu lado, então, sem uma palavra, derramou metade do seu chá no recipiente vazio e dividiu a bolacha ao meio com ele. Este era o bairro de madre Tereza de Calcutá e do meretrício. Depois, em um micro-ônibus, foram 250km por estradas estreitas e acidentadas à beira do abismo, para as montanhas, em North Bengal, com destino a Darjeeling, “a terra do trovão”, uma cidade construída na encosta da montanha e conhecida por seu chá. Lá, da janela do quarto de hotel, podia ver as nuvens abaixo, sobre a plantação de chá. Um frio intenso, lareira e aquecedor no quarto não davam conta. Visitamos o Museu do Himalaya, onde havia relatos e objetos dos alpinistas e até uma foto do “homem das neves”. Saímos do frio para a região das praias, Orissa, e especialmente a Puri, um local místico com inúmeros ashrams e templos. Finalmente, pude chegar mais próxima do Mestre, indo ao Yogoda School, onde ele estudara. E o que me levou até lá foi, no mínimo, surpreendente. Estávamos hospedados em chalés em Konarak. Amanhecera com muita chuva, e estávamos em nosso bangalô, situado em belo jardim, olhando a chuvarada cair. Minha amiga Yara, inesperadamente, me convida para ir à cidade; uma despedida, disse-me ela. Era nosso último dia útil na Índia, e no dia seguinte seguiríamos para Délhi, onde embarcaríamos. Naquele momento, não tendo nada em especial que fazer, lá fomos nós, de ônibus. O grande mercado estava formado; barracas de todas as coisas e gente comprando, sob chuva. Vimos uma espécie de museu, de onde no segundo andar pode-se avistar o pátio interno do templo de Jagannāth, que atrai peregrinos de toda a Índia, e onde é proibida a entrada de não hindus. No primeiro andar, uma exposição de livros antigos, escritos em folhas de madeira. Estava olhando 23


a Gītā quando um rapaz aproximou-se e começamos a trocar palavras. À pergunta de um dos meus amigos sobre se conhecia o ashram de Yogananda, ele respondeu que sim, e que estava acostumado a levar visitantes lá. Não pensei duas vezes, entramos os quatro em um carro e partimos para lá, para o Yogoda School. Estar no espaço em que ele viveu, caminhar no jardim que tanto amou e visitar sua sala de aula foram emoções não facilmente descritas. Fomos ver o samade (túmulo) de seu mestre, e nos detivemos olhando aquele singelo lugar onde um homem sábio vivera. Foi uma enorme alegria para o meu coração, como se me aquecesse o peito; uma doce alegria. Deixei meu nome no livro de visitas, marcando minha presença. E fiz minha primeira visita a Benares. Inesquecível. Ver o Ganges, tocar nele, passear por suas bordas, os ghats de Varanasi... É uma experiência única. Para mim, aquele lugar guarda uma força milenar como só poucos lugares no mundo o conseguem.

Lá alcancei realmente meu primeiro entendimento sobre Deus. Agradeço a tal lugar essa revelação.

2 - Segunda Viagem – 1993 Roteiro: Délhi, Rishikesh, Haridwar, Agra, Vrindavan,

Varanasi, Chennai (então chamado Madras), Pondichery, Mahābalipuram e voltamos a Chennai, de onde embarcamos para a Europa.

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Para uma nova experiência, já me considerando íntima do país, resolvi optar por outro estilo de viagem. Queria ir sem roteiro, sem reservas de hotel e viver a vida da cidade, como desejava. Para isso me juntei ao grupo do Narenda Das e sua esposa, Chandra. Combinamos um possível roteiro com mala nas mãos e dólares nos bolsos. E lá fomos nós. Narenda é um guia divertido e real conhecedor. Visitei espaços e locais onde, geralmente, turistas não vão, o que me deu coragem para esticar a viagem por mais 15 dias. Em Rishikesh fiquei três dias com minha amiga Marília, no ashram de swami Dayananda. Antes de vivenciá-lo, desconhecia a importância desse encontro. Lá ouvi ensinamentos de Vedanta com swami Visaradananda, que acabou por me fazer prometer que iria estudar com a Gloria. Àquela época, já frequentava alguns cursos e palestras, mas a distância de casa até os locais onde eles aconteciam acabava por interferir na assiduidade. Coisa que ele não entendia: afinal, não se tratava de empecilho justificável! Em Agra também passamos alguns dias, onde pudemos ver do alto da colina o amanhecer e entardecer sobre o Taj Mahal, o que causa mudanças de cores. É realmente uma das maravilhas do mundo. Então, ainda se podia visitar o verdadeiro túmulo da princesa, hoje visita proibida. Não vou falar sobre o Taj, visto já ser muito conhecido. Vrindavan, a cidade de Krishna, trouxe-nos o encontro com Pad Baba, considerado o São Francisco indiano. Era realmente interessante ver os animais passeando sobre seu corpo, enquanto ele falava. Pássaros, esquilos; uma intimidade total. Em Pondichery já estávamos sozinhas, eu e minha amiga Carmem. Fomos ao Aurobindo Ashram. Fazia muito calor no sul da Índia. Fizemos nossas refeições no ashram, e passeamos pela praia. Desta vez voltei aos prantos de lá, uma saudade enorme antes mesmo de sair. Mas voltaria dali a dois anos. 25


3 - Terceira Viagem - 1995 ROTEIRO: Mumbai, Pune, Lonavla, Udaipur, Jaipur,

Amber,

Vrindavan,

Benares,

Rishikesh,

Narendra

Nagar, Kunja Puri, Bangalore, Puttaparthi, Mumbai.

Ainda com o grupo de Narenda, e desta vez com minhas amigas Tânia e Annabella junto. Nosso caminho agora foi Itália, Grécia e de volta à Índia. O roteiro foi organizado aqui em casa, com um delicioso almoço, onde nos divertimos e sonhamos muito. Foram três cidades do estado de Maharashtra: Mumbai, Pune e Lonavla. Chegamos por Mumbai e fizemos os passeios a pé. Eu gosto dessa cidade, de seu comércio, ruas largas e arredores cheios de favelas. De lá fomos visitar Karla Cave, uma caverna budista datada de 80a.C.; ela é alcançável por escadarias de pedra, e apresenta enormes esculturas nas paredes. Em Pune, visitamos Sri Iyengar em sua escola de yoga, e em Lonavla, o hospital de yogaterapia, que nos proporcionou experiências bastante interessantes. Já no Rajastão, fomos a Udaipur, uma linda cidade cercada de lagos; e também a Jaipur e Amber. Depois, Vrindavan e Benares (ou Varanasi), onde visitamos Sri Ananda Aram Baba em seu ashram de tantra cheio de caveiras e com o fogo eterno, que nunca se apaga. Fomos à casa de Lahiri Mahashaya, mestre do mestre de Yogananda, e conhecemos seu bisneto. Voltamos a Rishikesh e subimos a Narendra Nagar, Kunya Puri, e finalmente voamos para o sul, para Bangalore e Puttaparthi, ao 26


ashram de Satya Sai Baba, de quem minha amiga Tânia é devota. Foi uma experiência tocante. Voltamos por Mumbai, e de novo chorei muito. Mas minha mãe Bhārāta nunca ficou muito tempo longe de mim, estava tão presente no meu coração, que logo, logo voltaria.

4 - Quarta Viagem - 1999 Roteiro: Délhi, Rishikesh, Haridwar, Jaipur, Sa-

mode, Fatehpur Sikri, Agra, Varanasi, Sarnaht,

Aurangabad (Ajanta e Ellora Cave), Kathmandu (Nepal), Bangalore, Puttaparthi e Délhi.

Desta vez, me aventurei: tomei coragem e resolvi ir levando meus amigos. Formamos um grupo com Annabella, Tânia, Lucia, Carminha e nosso inesquecível amigo João. Montamos o roteiro em comum, com a ajuda de uma amiga guia e agente de viagens à Índia. Era realmente uma aventura e eu contava com o apoio de Annabella. Acontece que às vésperas da partida ela sofreu um acidente, e ficamos sem sua companhia. Bem, concluímos por um esquema em que eu cuidaria de assuntos da Índia, e Lucinha e João do inglês e da comunicação. E lá fomos nós. Nossa saída foi atrasada por uma pane no avião da British, “aquele que nunca havia apresentado um acidente”, conforme anunciado na aeronave. E tivemos que ficar em um hotel (muito bom) em São Paulo, por 24 horas. Chegamos à Índia com atraso maior ainda, pois ao chegarmos em Londres o nosso voo já havia partido, e foi preciso esperar 27


por vinte horas até o voo subsequente. Foi muito cansativo, viajamos mal acomodados, mas, pela madrugada do dia seguinte, finalmente, Délhi. E tivemos nosso primeiro problema: a bagagem da Tânia não chegara, causando-nos constrangimento e preocupação. Ficamos em Délhi por dois dias, aguardando a chegada das malas, e, novamente na dependência da escala de voos, acabamos por nos deslocar para Rishikesh com mais um dia de atraso. Mas ainda assim nos divertimos muito! De lá fomos para Haridwar, e, depois de receber as malas perdidas, seguimos para o Rajastão, Jaipur, e Samode — no que chamamos de três dias de rani (rainhas) —, e Fatehpur Sikri, a cidade abandonada no deserto. De lá seguimos para Agra, para ver o Taj Mahal, local que emocionou muito a Lucinha, que pareceu reviver lembrança de outra vida, fato muito interessante que nos envolveu muito. Mais uma vez o avião, agora da Indian Airlines, deu pane, e acabamos no Hotel Taj Will, um belíssimo cinco estrelas, por conta da companhia. Benares, enfim. Era época da festa de Saraswati e a cidade estava linda. Fizemos muitos passeios turísticos e visitamos locais lindíssimos desta cidade que beira o Ganges. Foi lá que comprei de um escultor local uma bela imagem de Śhiva, em madeira, que levei para lavar no Ganges no Kedar Ghat, em momento emocionante. Novamente no avião, agora com destino a Aurangabad, para visitar as grutas de Ajanta e Elora. É um passeio de beleza indescritível, acho que necessitava um livro só para falar daqueles 16km de pura arte esculpida nas pedras. Maria do Carmo, ao ver Kailasa, o templo de Śhiva em Elora, exclamou: “os deuses já estavam aí; o homem só tirou o excesso de pedras”. Realmente devia fazer parte de todo roteiro à Índia uma visita a esse lugar. 28


Alguns incidentes ocorreram nessa viagem: descemos no aeroporto errado e deixamos o povo no avião esperando; o rapaz de outro aeroporto não aceitou a passagem da Lucia e ela teve que pagar de novo... Enfim, coisas de Índia. Mas tudo se resolveu. Então: ao Nepal, a Kathmandu. Na volta de Kathmandu, dirigíamo-nos a Puttaparthi para ver Sai Baba, com Tânia, quando nossa camionete foi abordada pela polícia. Resultado: acabamos viajando com guardas em nossos bancos traseiros, e portando metralhadoras... Motivo: parece-me que o motorista vinha em velocidade maior do que a permitida. No dia seguinte, João soube que ele fora detido. Continuaram os problemas, pois nossa reserva não havia sido feita. Mas, no fim da confusão, alugamos uns quartos bem em frente ao ashram, e tudo deu certo. Voltamos a Délhi, finalizando mais uma linda viagem.

5 - Quinta Viagem – 2003 ROTEIRO: Délhi, Matura. Objetivo principal: Ir ao

ashram de swami Dayananda, para estudar.

Saímos em final de fevereiro e voltamos em meados de abril. Desta vez foram comigo Paula e Annabella. Lá encontramos outros brasileiros, inclusive Lígia, que iria também, depois, às peregrinações. Chegamos em Délhi alguns dias antes do curso; Paula tinha um amigo indiano, que muito gentilmente nos recebeu e fez companhia na cidade. 29


Mas já desde o avião, entretanto, eu começara a me sentir mal; uma sensação indefinida de vertigem e enjoo, vindos como uma onda, forçando-me a me deitar, mas que, ao passar, não deixava nenhum outro sintoma. Bem estranho. Devido a isso, nos passeios fiquei grande parte do tempo na condução, esperando por eles. Mas, mesmo assim... eu estava na Índia! Chegamos durante o auge do Mahā Śhivaratri, a grande noite de Śhiva, mas não pude participar. Na aula inicial não consegui ir. Swami Vagishananda, nosso conhecido aqui do Rio e colega de turma de Gloria, vindo até meu quarto, achou por bem me levar ao hospital que atendia ao ashram. Na verdade, o médico nada faria, considerando ser de origem alimentar tudo o que se passava comigo, mas swami, sabiamente, passando em uma farmácia comprou remédios ayurvédicos. O que foi ótimo, pois em sete horas eu estava de pé, tendo me mantido bem por todos os 45 dias do curso. Em março, nosso querido swami Dayananda chegou e as aulas transcorreram normalmente. Pela manhã tínhamos meditação, aula de canto, de sânscrito e de Vedanta. Na parte da tarde, canto védico e outra aula de Vedanta. À noite sat sanga (reunião) — mas, na verdade só fui a uma. Era muita pressão para mim. Não foram muito fáceis aqueles dias, apesar de estar à beira do Ganges e de fazer encantadores passeios as suas margens. Contei com o apoio de swami Vagishananda durante todo o tempo. Ele conversava comigo sempre com muita clareza e me dizia que aquele período era apenas um momento da minha vida, que logo eu voltaria a minha rotina, portanto que eu vivesse bem aqueles dias, pois eles serviriam como força para o futuro. Foi muito bom ter contado com o apoio dele; me fez refletir. Ao final do curso, houve uma cerimônia linda e de muito choro de nossa parte, mas ainda ficamos por uma semana em 30


Délhi, acompanhadas pelo filho e amigo que encontrei na Índia, Santosh. Passeamos em Matura, terra onde Krishna viveu, e por regiões turísticas da capital. Nessa época o calor é muito forte e o clima seco, o que torna qualquer esforço um sacrifício. Voltamos por Frankfurt e chegamos ao Brasil muito saudosas. O período entre essas primeiras viagens e as que se sucederam, dessa vez, foi longo. E na abordagem às peregrinações, nas referências mais detalhadas a cada lugar, minha tentativa de oferecer uma visão aproximada do que seja a Índia e as transformações que venho constatando ao longo destes 20 anos de visitas periódicas. De tais relatos é que surgiu o nome deste livro: “A

Índia que eu vi” sala de aula – Rishikesh



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