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INTRODUÇÃO

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GLOSSÁRIO

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ARQUEOLOGIA BÍBLICA

A palavra “arqueologia” deriva de duas palavras gregas: “archaios” que significa “antigo, do começo”, e logos, “palavra”. Portanto, etmologicamente, o termo significa “palavra a respeito”, ou, “estudo de antiguidade”. É assim que o termo era empregado pelos antigos escritores. No entanto, o termo se aplica, hoje, ao estudo de materiais escavados pertencentes às eras anteriores. A arqueologi a bíblica pode ser definida como um exame de artefatos antigos outrora perdidos e hoje recuperados e que se relacionam ao estudo das Escrituras e à caracterização da vida nos tempos bíblicos.

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Esta delimitação é importante porque a arqueologia tem escavado inúmeras civilizações ao redor do globo, mas nem todas elas têm relação alguma com os acontecimentos narrados nas Escrituras. Se tomarmos os Livros do Antigo e do Novo Testamento em conjunto, veremos que a região dos acontecimentos bíblicos é muito restrita, abrangendo um pouco do Oriente Próximo, um pouco da Europa e um pouco do Norte da África. Esse é o mundo da Bíblia e, portanto, o mundo da arqueologia bíblica.

A arqueologia é basicamente uma ciência, com todas as características pertinentes às ciências. O conhecimento neste campo se obtém pela observação e estudo sistemáticos, e os fatos descobertos são avaliados e classificados num conjunto organizado de informações. A arqueologia é também uma ciência composta, pois busca auxílio em muitas outras ciências, tais como a química, a história, a lingüística, a antropologia e a zoologia.

Naturalmente, alguns objetos de investigação arqueológica (tais como obeliscos, tempos egípcios e o Partenon em Atenas) jamais foram “perdidos”, mas talvez algum conhecimento de sua forma e/ou propósito originais, bem como o significado de inscrições neles encontradas, tenha se perdido.

Lembremos que ela é o estudo do antigo e não apenas dos monumentos antigos. Documentos antigos também fazem parte do seu escopo e visto que são inú-

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meros os manuscritos tanto do Novo quanto do Antigo Testamento, a descoberta desses manuscritos também se relacionam com a arqueologia. E nesse campo ela também fez importantes achados. Assim sendo, o alvo da arqueologia é descobrir, resgatar, observar e preservar fragmentos enterrados da antiguidade, e usá-los para ajudar a reconstruir a vida antiga.

Para facilitar o estudo da arqueologia, os estudiosos a dividiram em quatro partes:

1. Arqueologia pré-histórica: Está mais interessada em fragmentos de material resultante de atividades humanas do que em documentos escritos;

2. Arqueologia pré-clássica: Focaliza a região do Mediterrâneo oriental e no oriente. Estuda as sociedades antigas que se desenvolveram no Egito, Mesopotâmia e Palestina;

3. Arqueologia Clássica: Se concentra nas civilizações Greco-romanas;

4. Arqueologia Histórica: Tenta suplementar os textos escritos, descrevendo a rotina diária das culturas que os produziram.

Arqueólogos vêm pesquisando há cerca de dois séculos as terras especificamente relacionadas com o Antigo e Novo Testamento. Fizeram-se descobrir de fato impressionantes, que iluminam o cenário onde se desenvolveu o contexto histórico-cultural das Escrituras.

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FUNÇÕES DA ARQUEOLOGIA BÍBLICA

A Arqueologia geral, como ciência, baseada na escavação, decifração e avaliação crítica dos registros do passado, é assunto perenemente fascinante. De maior interesse ainda é o campo mais restrito da arqueologia bíblica.

A Arqueologia geral, como ciência, baseada na escavação, decifração e avaliação crítica dos registros do passado, é assunto perenemente fascinante. De maior interesse ainda é o campo mais restrito da arqueologia bíblica. A arqueologia bíblica auxilia-nos a compreender a:

Auxilia a compreender a Bíblia;

Revela como era a vida nos tempos bíblicos;

Esclarece que passagens obscuras da Bíblia realmente significam; e como as narrativas históricas e os contextos bíblicos devem ser entendidos;

Ajuda a confirmar a exatidão de textos bíblicos e o conteúdo das Escrituras; a) Tem mostrado a falsidade de algumas teorias de interpretação da Bíblia;

b) Tem auxiliado a estabelecer a exatidão dos originais gregos e hebraicos e a demonstrar que o texto bíblico foi transmitido com um alto grau de exatidão;

c) Tem confirmado também a exatidão de muitas passagens das Escrituras, como, por exemplo, afirmações sobre numerosos reis e toda a narrativa dos patriarcas.

Não se deve ser dogmático, todavia, em declarações sobre as confirmações da arqueologia, pois ela também cria vários problemas para o estudante da Bíblia. Por exemplo: relatos recuperados na Babilônia e na Suméria descrevendo a criação e o dilúvio de modo notavelmente semelhante ao relato bíblico deixaram perplexos

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os eruditos bíblicos. Há ainda o problema de interpretar o relacionamento entre os textos recuperados em Ras Shamra (uma localidade na Síria) e o Código Mosaico. Pode-se, todavia, confiantemente crer que respostas a tais problemas virá com o tempo. Até o presente não houve um caso sequer em que a arqueologia tenha demonstrado definitiva e conclusivamente que a Bíblia estivesse errada. O que definitivamente mostra essas descobertas acima é que os fatos e ensino contido no Pentateuco e em outras porções antigas das Sagradas Escrituras estava em pleno acordo com outros textos antigos da época. A idéia de que foram escritos em um período muito posterior caíram definitivamente por terra. Mesmo assim, apesar das semelhanças, é fácil se perceber uma coerência superior das Escrituras, frente às lendas da mesma época sobre os mesmos eventos, como é o caso da criação e do dilúvio. A arqueologia, nas mãos de estudiosos da Bíblia, pode ser de grande utilidade, ou motivo de abuso. O resultado será determinado, em grande parte, pela atitude do investigador com respeito ao significado das Escrituras em si. Se ele simplesmente for um técnico científico, despido das características espirituais e rejeitar os aspectos que fazem da Bíblia um Livro divino-humano, aceitará apenas as características humanas e os dados arqueológicos em suas mãos, e assim sendo, estará em constante perigo de ter uma falsa interpretação e a empregará como base em teorias errôneas, quando ele tentar aplicá-las às Escrituras. Se, por outro lado, como técnico científico, o investigador tem uma compreensão do significado espiritual e está de acordo com a mensagem da Bíblia, a aplicação que fizer das descobertas arqueológicas prestará enorme benefício à ilustração e elucidação dos oráculos antigos para o mundo moderno. Legitimamente manuseada, as contribuições que a arqueologia está fazendo ao estudo das Escrituras são vistas e de longo alcance.

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HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA BÍBLICA

A acuracidade histórica das Escrituras é também uma classe de evidências por si só, infinitamente superior aos registros escritos deixados pelo Egito, Assíria e outras nações antigas. As confirmações arqueológicas do registro bíblico são quase inumeráveis. O Dr. Nelson Glueck, a maior autoridade em arqueologia israelita, disse: “Nenhuma descoberta arqueológica jamais contradisse qualquer referência bíblica. Foram feitas dezenas de descobertas arqueológicas que confirmam em detalhe as declarações históricas relatadas na Bíblia. E, da mesma maneira, uma avaliação própria de descrições bíblicas tem geralmente levado a fascinantes descobertas no campo da arqueologia moderna”.

E quando a arqueologia contradiz o texto bíblico? E quando os resultados da pesquisa científica arqueológica parecem não se harmonizar com a narrativa encontrada na Bíblia? Simplesmente ignoramos o que dizem as Escrituras e passamos a crer somente no que pode nos fornecer a arqueologia? Ou fechamos nossos olhos completamente para os resultados da pesquisa arqueológica e professamos cegamente nossa fé na Bíblia? Essa atitude é honesta?

Algumas colocações são importantes aqui. Aqueles que acreditam na Inerrância das Escrituras têm também bases objetivas para isso. Não crêem apenas por crer. Crêem porque ao longo dos anos, e porque não dizer dos séculos, a experiência tem se inclinado ao seu favor. E por isso gostaríamos de falar algumas coisas sobre a arqueologia.

Primeiramente, arqueologia não é uma ciência exata. Não é uma matemática, onde dois mais dois são definitivamente quatro. Ela se utiliza de muitas outras ciências e saberes, portanto, conclusões resultantes não podem todas elas ser tomadas como verdades absolutas e inquestionáveis. Pode haver divergências de opiniões e

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de pareceres. É como na medicina onde em algumas circunstâncias se busca uma segunda opinião. Portanto, querer que todas as descobertas arqueológicas solucionem definitivamente os problemas de conhecimento histórico é exigir dela mais do que ela pode dar. Os conflitos internos de conclusões dentro da própria ciência arqueológica sugerem cautela.

Podemos dizer que as conclusões resultantes podem conter erros de pelo menos duas naturezas. Os primeiros erros seriam de natureza prática. Nem sempre os dados fornecidos pelos achados arqueológicos fornecem recursos suficientes para uma conclusão infalível. Tudo o que as civilizações antigas podem nos fornecer são vestígios. Hoje temos recursos áudio visuais muito avançados, com os quais as civilizações antigas, objetos de estudo da arqueologia, sequer sonharam. Nós, todavia só possuímos uma ínfima parcela de objetos dessas civilizações e por mais acurada que possa ser uma investigação, vai se deparar com lacunas que não poderão ser preenchidas ou se o forem, serão preenchidas por raciocínios, deduções ou mesmo criatividade e podem nem sempre corresponder aos fatos. Nada impede que algo tão definitivamente aceito como fato, possa ser de repente negado e esclarecido, por achados arqueológicos posteriores. Isso tem acontecido e com certeza voltará a acontecer. E podemos dizer que não apenas na arqueologia, mas em muitas outras áreas do conhecimento humano.

O segundo fator a ser levado em conta é a pessoa do próprio arqueólogo. Embora todo cientista procure objetividade e imparcialidade em seu campo de estudo nem sempre ele consegue tal façanha. Imaginemos um arqueólogo ateu ou cético, para quem a Bíblia não passa de um amontoado de lendas sem qualquer relação com os acontecimentos históricos. Agora imagine um arqueólogo cristão, para quem a Bíblia é definitivamente a Palavra de Deus e não contém nenhum erro, seja de natureza teológica ou de natureza histórica ou geográfica. Claro que ambos podem chegar a conclusões diferentes de um mesmo conjunto de informações.

Isso se chama conhecimento a priori, ou seja, uma visão antecipada da natureza do conjunto de informações disponíveis. Se alguém cava um sítio arqueológico com intenção de provar que a Bíblia é falsa, ele já foi influenciado por tal

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perspectiva e na certa vai ignorar os dados que confirmem a veracidade da Bíblia e vai ressalvar aqueles que aparentemente a desacreditem.

Josh McDowel se utilizou citações que expressam muito bem esse posicionamento, onde uma opinião antecipada tem trazido dificuldades de harmonização entre a Bíblia e as descobertas arqueológicas:

John Warwick Montgomery expõe um problema típico enfrentado por muitos eruditos hoje em dia: Thomas Drobena, pesquisador do Instituto Norte-Americano de Estudos sobre a Terra Santa, advertiu que onde a arqueologia e a Bíblia parecem estar em conflito, a questão é quase sempre de datação, a área mais instável na arqueologia contemporânea e a única em que o raciocínio científico a priori e circular freqüentemente substitui uma análise empírica apropriada.

Mas não apenas em questões mais específicas como datações, essa visão apriorística de certos conhecimentos e fatos, influencia a investigação bíblica referente aos próprios fatos. Toda uma forma de pensar e ver o mundo e a natureza da realidade, afetam a investigação científicas e as proposições dela derivadas. Um caso muito conhecido é o do famoso livro “E a Bíblia tinha razão”, de Werner Keller. Sendo alemão ele foi muito influenciado pela escola liberal de teologia. Isso significa de imediato que ele não poderia aceitar a possibilidade de milagres. Esses só poderiam ser relegados ao aspecto de lenda. Toda sua obra, apesar da grande erudição apresentada, foi afetada por esse fato. Agora imaginem ele analisando a Bíblia e seu valor histórico, tendo nas mãos um Livro cujos milagres estão presentes em quase cada página. O resultado só poderia ser uma distorção do texto para se ajustar à sua filosofia naturalista.

A proposta do livro, identificada já no título do livro foi anulada por essa premissa. Ele não acreditava na infalibilidade das Escrituras, não como nós cremos hoje. E seu trabalho foi bastante distorcido por esse fato. Basta lermos o término de sua obra e ficamos cientes dessa deficiência, na verdade, uma forte distorção do valor e da veracidade da Bíblia, como se pode verificar:

Em outras palavras, a Bíblia não tolera ser comprimida dentro da moldura rígida, apertada, das nossas exigências — por si sós bastante problemáticas — de “verdade histórica” e “objetividade científica”, a não ser que pretendêssemos violá-la. Ela é (ou antes, era) uma obra histórica, mas não no sentido como nós o compreendemos. Ela é a narração de um povo e seu deus, cujas disposições foram

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sentidas pelos seus adeptos, na própria carne, ao longo da história. E ela nem pretende constituir-se

no protocolo neutro, incorruptível, dos eventos relatados, pois para tanto ela está engajada

demais e demasiadamente condicionada à sua época, cuja linguagem fala. E há outro ponto que não deve ser esquecido: a Bíblia serve-se de meios de expressão que nem sempre coincidem com os nossos; também a linguagem bíblica, a fundo, é uma abstração, como nem poderia deixar de ser, porém ela é muito mais rica em quadros demonstrativos do que a nossa, atual. Aquilo que procuramos formular para que seja compreendida da maneira mais fácil e sucinta, a Bíblia transforma em história e, freqüentemente, suas imagens são verdadeiros “enigmas visuais”, ensejando interpretações múltiplas, o que, não raras vezes, é nitidamente intencional. Assim, a cena do sacrifício de Isaac, exigido por Deus e, no último instante, evitado por Abraão (Gênese 22.1 a 13) é passível de três interpretações: 1) Trata-se do reflexo de um antiqüíssimo ritual de iniciação, uma espécie de “batismo de sangue”. Somente aquele que se sujeita a seu Deus, de maneira total e incondicional, se torna membro pleno da comunidade; 2) A passagem representa — de certo modo em forma de enigma visual — o repúdio da prática do sacrifício humano, mormente do menino, conforme era difundida no antigo Oriente; 3) Para Abraão, trata-se de uma prova de fé. Essa interpretação até foi sugerida pelo próprio autor da passagem bíblica em questão, pois ele começa sua narrativa com as palavras “tentou Deus a Abraão...” Atualmente, nós, sempre com pouco tempo e paciência, nos sentimos pouco à vontade diante da tarefa de decifrar tais “enigmas visuais, lingüísticos”. A fim de assimilarmos o mundo dos pensamentos dos autores bíblicos, cumpre fazermos voltar atrás à roda da história, até a época que marcou o início da codificação, do registro por escrito, das diversas tradições até então orais, ou seja, até as escrituras do antigo Israel, quando começou o crescimento, a elaboração do fenômeno complexo conhecido como Bíblia. Todavia, será que a Bíblia tem razão? Por certo, isso pode ser confirmado, sem quaisquer reservas, quanto às passagens que foram autenticadas, ou por genuínas fontes paralelas, extra bíblicas, ou por achados arqueológicos. No entanto, ela ainda pode pretender para si mais outra forma, a cujo título “tem razão”, na medida em que nos aproximarmos sucessivamente da sua época e do homem dessa época, a fim de que possamos aprender a inteirar-nos melhor dos seus sermões, das suas parábolas, alegorias, visões, dos seus símbolos, imagens e alusões. Talvez chegue o dia em que teremos condições de confirmar também para uma ou outra passagem, hoje ainda considerada enigmática ou pouco clara: “E a Bíblia tinha razão”,

do ponto de vista do seu tempo!

Dizer que a Bíblia tinha razão do ponto de vista do seu tempo, equivale dizer que ela não tem razão do ponto de vista de nosso tempo. Que a mente moderna não pode aceitar as verdades históricas nela contidas como fatos e não pode aceitar os milagres como reais. Todo o livro é uma tentativa de explicar por meios racionais os milagres e retirar da Bíblia todo elemento sobrenatural, seja a abertura do Mar Vermelho, seja o falar de Deus com Abraão. Essa é a postura do livro.

Não vamos negar o valor do conteúdo investigativo do livro. Ele é uma pérola de erudição. Mas apesar disso, a postura apriorística do autor elimina certos fatores. É como se por exemplo, usando nosso enfoque anterior, ele não aceitasse a

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ressurreição de Jesus como fato e portanto começasse sua pesquisa e exposição já dizendo que Jesus não ressuscitou. Com certeza teria outra visão e negaria pontos evidentes, interpretando tudo a partir dessa perspectiva. A invetigação seria com certeza atingida por essa falta de imparcialidade. A influência da teologia liberal é gritante. O exagerado ceticismo de muitos desses teólogos liberais não é fruto de uma avaliação cuidadosa dos dados disponíveis, mas de uma forte predisposição contra o sobrenatural. Logo, sua compreensão deturpada influenciou eruditos como Werner Keller e outros.

Diante de tudo isso devemos sim nos utilizar da ferramenta arqueologia, mas com as devidas reservas. Nem todos aqueles que adentram nesse campo da ciëncia são necessariamente crentes na Bíblia, sendo muitas vezes seus críticos ferrenhos. Mesmo assim, a arqueologia bíblica é uma disciplina digna de nossa atenção.

Se nossa atitude de certo modo parece duvidosa por não aceitarmos facilmente fatos arqueológicos que contradigam as Escrituras, isso se dá pelas experiências anteriores. Como vimos em alguns casos e veremos em outros, o desdém inicial para com as Escrituras diante de um achado arqueológico transformou-se posteriormente em vergonha para os que desprezaram seu valor histórico. O respeito e a reverência à Bíblia foi restaurado para aqueles que já criam nela, enquanto isso dificilmente acontecerá com aqueles que não criam. Eles com certeza aceitarão a primeira afirmação e ignorarão a segunda.

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DATAÇÃO DOS ACHADOS ARQUEOLÓGICOS

Os métodos mais empregados pelos arqueólogos para datação de vestígios são a radiometria, a estratigrafia, a glaciologia estratigráfica e, no caso de árvores, a dendrocronologia. Vejamos cada um a desses métodos:

Radiometria: Métodos de datação que se baseiam nas alterações sofridas por diversos elementos radioativos ou seus isótopos instáveis. Os processos em que essas alterações ocorrem podem supostamente durar milhares, milhões ou até bilhões de anos. Para que os métodos de datação radiométricos sejam válidos dependem de que diversos pressupostos (aos quais se atribui grau variável de certeza) sejam verdadeiros. O primeiro pressuposto necessário é o de que essas alterações ocorram sempre em um ritmo constante e conhecido, e que seja impossível que haja qualquer exceção, nem mesmo devido a fatores externos (até mesmo o primeiro pressuposto é muitas vezes improvável). Geralmente se mede a quantidade do material que sofreu a alteração, compara-se com a quantidade do material original que se deduz, pela diferença entre as quantidades, o tempo que durou o processo.

Um segundo pressuposto é que nenhum fator externo tenha alterado a proporção entre o material original e o derivado. O método do potássio-argônio, por exemplo, é baseada nessa lógica. Um isótopo instável do elemento potássio (o K-40) decai no gás argônio (Ar-40). Calcula-se que a meia-vida (tempo em que metade do material original já decaiu para a forma alterada) do (K-40) é de 1,25 bilhões de anos. É um método largamente empregado para datar amostras de rochas antigas (o famoso fóssil “Lucy” foi datado por essa abordagem - é importante observar que a datação não foi estimada a partir da coleta de uma amostra do fóssil em si, mas de uma das rochas que estava nas proximidades de onde o fóssil foi encontrado). Consulte também o módulo (C14).

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Estratigrafia: O estudo dos arranjos e disposições de camadas subterrâneas superpostas. A estratigrafia permite analisar as fases da ocupação de um tell. Como as camadas mais próximas à superfície de escavação costumam conter materiais mais recentes (exceto quando ocorre alguma alteração geológica importante), é muitas vezes possível estabelecer uma datação relativa (apesar de que, pela própria natureza do método, essa datação costuma ser imprecisa).

Glaciologia estratigráfica: Em regiões glaciais é possível estudar as diferentes camadas subterrâneas de gelo que se sobrepõem sucessivamente a cada inverno. Visto que com a chegada da estação amena, diversas espécies encontram ambiente mais adequado ao crescimento e à reprodução, é possível analisar seus vestígios no registro estratigráfico e estabelecer sua datação relativa por meio da contagem dos estratos.

Dendrocronologia: Método de datação que se baseia na contagem e análise dos anéis do tronco de certas árvores. Nelas, o número dos anéis corresponde ao número de anos da sua idade, e a espessura de cada um dos anéis indica a quantidade de chuva que caiu no ano em que o anel foi formado. A dendrocronologia é um método de datação bastante preciso e confiável, e por isso é um procedimento padrão para usá-lo como uma referência para calibrar outros métodos, como o do (C14). No entanto, quanto à questão das datas muito antigas, a evidência confirma que todas as árvores pré-diluvianas foram destruídas pelo cataclismo. Há quem conjecture uma idade maior para algumas plantas sem, no entanto utilizar a abordagem dendrocronológica, mas a árvore mais antiga (que é, pelo que se sabe, o habitante vivo mais antigo do planeta) que foi datada por meio da dendrocronologia tem “apenas” 4.767 anéis (em 2001). Trata-se de um pinheiro “bristlecone” chamado “Methuselah” que vive na região montanhosa de White-Inyo, na Califórnia.

Além disso, apesar da confiabilidade geral do método, a dendrocronologia não é infalível, pois sob certas condições climáticas (como o atraso da chegada do inverno, especialmente em lugares em que o frio é rigoroso), algumas

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árvores podem produzir mais de um anel por ano (o que, felizmente, é um fenômeno bastante raro).

Vamos nos concentrar no método do Carbono 14 devido à sua freqüente utilização e ao fato de que é constantemente citado em contextos em que a autenticidade da Bíblia é questionada.

O método do radiocarbono foi desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial por Willard F. Libby, da Universidade de Chicago. Ele se baseia na quantidade do isótopo 14 do carbono, presente em uma determinada amostra. Isótopos são variedades de um elemento que possuem o mesmo número atômico (isto é, o mesmo número de prótons), mas números de massa diferentes (porque possuem número de nêutrons diferentes). Há três isótopos principais do elemento carbono presentes na atmosfera (o C12 e o C13, estáveis, e o C14, instável). Os três isótopos ocorrem em proporções fixas: C12 = 98.89%; C13 = 1.11% e C14 = 0.0000000001%.

Carbono 14 ou C14 é o elemento utilizado para a datação de objetos e seres. Muitas vezes há discrepância entre datas indicadas pelo (C14) e outras fontes. Por tratar-se de um método totalmente científico alguns consideram a datação resultante do teste do carbono 14 algo definitivo e infalível. Mas não é bem assim.

O C14, como é denominado abreviadamente, se forma à partir do Nitrogênio, nas altas camadas da atmosfera. Raios cósmicos bombardeiam constantemente a nossa atmosfera produzindo nêutrons livres. Estes bombardeiam o Nitrogênio produzindo um isótopo do Carbono, o Carbono 14. Este é radiativo.

De uma dada quantidade de átomos de C14 a metade decai, aleatoriamente, para C12 em 5730 anos, ou seja, após 5730 só resta ainda a metade de C14 do original. O C14 está uniformemente distribuido na atmosfera. Todos os seres vivos metabolizam o C14 contido nos seus alimentos, na concentração proporcional aproximada de 10-12 % do C12 no ar, porque ambos tem a mesma reatividade e afinidade química. Quando um ser vivo morre deixa de metabolizar C14 e este começa a reduzir a sua concentração, por força do decaimento radiativo, nos tecidos mortos. Medindo-se a proporção entre o C14 e o C12 de

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restos mortais e comparando-os com as proporções contidas nos seres vivos pode-se calcular a sua idade.

Devido às concentrações extremamente pequenas de C14 na atmosfera, cerca de 1 C14 para cada trilhão de átomos de C12, é impossível medir datas além de 20 ou 30 mil anos. Os criacionistas que mantém que a Terra é muito jovem, no entanto, não aceitam nem datas desta grandeza, mas porque?

A taxa de formação de C14 é muito pequena e necessitaria de milhares de anos para que se equilibre com a taxa de decaimento. Se estas taxas não estiveram em equilíbrio por ocasião da época de vida do ser vivo a ser datado, e se parte de uma concentração inicial de C14 é menor e a idade apurada é maior do que a real, ninguém consegue determinar se a taxa atual de formação é igual a taxa atual de decaimento, ou seja, ninguém consegue determinar se estas duas grandezas estão em equilíbrio. Para medições até 3000 a.C., existe um desvio não muito significativo, comparado com fosséis de data arqueológica conhecida, mas antes desta data ninguém sabe. O campo magnético da Terra mantém o cinturão Van Allen. Este cinturão é um escudo contra radiação cósmica. Quanto mais forte o campo eletromagnético da Terra mais forte o escudo Van Allen. Quanto mais forte o escudo menor a radiação cósmica e quanto menor a radiação cósmica menor a taxa de formação de C14. Acontece que o capo eletromagnético da Terra está em franco decaimento. Há apenas dois mil anos atrás, por exemplo, ele tinha três vezes a sua intensidade de hoje. Se, por exemplo, devido ao acima exposto, a concentração de C14 na atmosfera, há 5000 anos atrás, tivesse um quarto da concentração atual, um fóssil falecido naquela data, forneceria uma idade atual de 5730 x 2 + 5000 = 16460 anos.

Este engenhoso método parece ser razoavelmente confiável para datar objetos recentes, mas deve-se ter certa desconfiança a respeito de datas muito antigas. Em uma amostra atual, há um trilhão de átomos de C12 para cada átomo de C14. Em uma amostra mais antiga, os vestígios de C14 serão ainda mais raros e esta proporção será ainda mais desigual, tornando a datação pouco confiável.

Por estes e mais motivos fala-se, cientificamente, em anos ou idade radio-

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carbono, que obrigatoriamente não quer dizer necessariamente a mesma coisa que anos solares. A mídia, muitos cientistas e leigos interessados além de muitos livros escolares não sabem distinguir entre os dois.

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