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RESUMO DAS EPÍSTOLAS DE PEDRO

EPÍSTOLAS GERAIS

Como em todos os livros que foram escritos fora da estrutura histórica do livro de Atos, há incerteza sobre as circunstâncias envolvendo a escrita das epístolas de Pedro. Qualquer posição tomada por nós será incerta. Desde que o tempo da escrita e as circunstâncias são tão incertas, combinemos a informação de ambas as epístolas para compilar todos os pormenores que podemos.

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A QUEM FORAM ENDEREÇADOS OS LIVROS?

A epístola de 1 Pedro é endereçada aos “forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”. Essas eram as principais províncias da península da Ásia Menor. Paulo fez um extenso trabalho no lado sul da Ásia Menor, mas nenhum nas províncias do lado norte, ou seja, Ponto e Bitínia, nem na província do lado oeste, ou seja, Capadócia. Obviamente, outros estiveram trabalhando arduamente, pois Pedro se dirige aos cristãos em toda a área. Note o termo “forasteiros” ou “Dispersão”. Pedro afirma determinada ideia ao usar essas palavras. Os cristãos estão apenas de passagem através desta vida; eles são estrangeiros, forasteiros, peregrinos a caminho de uma pátria melhor (veja também 1 Pedro 1.17; 2.11).

Já a carta de 2 Pedro é endereçada a um grupo mais geral: “aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa”. Isso inclui todos os santos. Com certeza, Pedro enviou essa carta aos santos de determinado lugar, ainda que essa localidade não seja declarada. Desde o princípio, Pedro pretendia que ela fosse passada a todos os santos, conforme a oportunidade se apresentasse.

QUANDO OS LIVROS FORAM ESCRITOS?

O período da escrita dos livros de Pedro é muito difícil de estabelecer. Seus livros são numerados primeiro e segundo por causa de seu tamanho e não necessariamente por causa de quando foram escritos seu tamanho. Seu assunto indica que 2 Pedro pode ter sido escrita primeiro. 2 Pedro lida com o perigo dos falsos mestres. 1 Pedro se refere à perseguição iminente, aparentemente de uma natureza severa e extensa.

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Como mencionamos, Nero começou uma severa perseguição aos cristãos depois do desastroso incêndio de Roma, de 19 de julho de 64 d.C. Ainda que haja alguma dúvida entre estudiosos sobre quão extensas eram as perseguições de Nero fora da Itália, há indicações de que os governantes provinciais tendiam a seguir a orientação de Roma. Somente uma perseguição imperial poderia explicar tão extensas perseguições, como aquelas abrangendo o Ponto, a Ásia, a Bitínia, a Galácia e a Capadócia. É evidente que 1 Pedro foi escrita num momento de extensa perseguição, porque um dos principais pontos que Pedro diz é que a salvação vale qualquer perseguição que venha. Apesar do fato de haver perseguições contra a igreja desde o dia em que ela começou, eram esporádicas e locais até o começo da perseguição romana. Portanto, parece que 1 Pedro se ajusta melhor ao tempo de Nero. Se for, ela foi escrita no fim de 64 d.C., depois do estouro da perseguição. Pedro, provavelmente, morreu antes do fim desse ano, ou em algum momento de 65.

Se 2 Pedro foi escrita depois de 1 Pedro, é de se admirar que nada seja dito sobre a perseguição, tão devastadora naquele tempo. Muito poucos meses se passaram entre o tempo em que a perseguição irrompeu, no verão de 64, e a morte de Pedro. Portanto, se 2 Pedro foi a segunda a ser escrita, então os dois livros foram escritos quase na mesma época. Por outro lado, entretanto, Pedro descreve sua morte como iminente em 2 Pedro 1.4. Também se refere a 2 Pedro como sua segunda epístola (3.1). Porém, isso não prova necessariamente que ele estava se referindo ao livro que chamamos 1 Pedro. Já vimos pelos escritos de Paulo que o Espírito Santo não escolheu incluir cada palavra que esses homens escreveram no Novo Testamento (veja Colossenses 4.16).

Ainda que o assunto seja tão diferente, e ainda que Pedro não mencione perseguição em 2 Pedro, suas advertências contra os falsos mestres se ajustariam em qualquer ano que ele escolhesse para escrever o livro. Paulo advertiu Timóteo contra os falsos mestres e a ameaça deles à sua fidelidade, enquanto enfrentava a morte (2 Timóteo 2.14-18, 23; 3.1-9, 13; 4.3-4). Os argumentos não são conclusivos. Muitos estudiosos pensam que 2 Pedro foi escrita primeiro, provavelmente cerca de 61 ou 62. Esses seriam os anos em que Paulo esteve preso em Roma pela primeira vez. Isso faria que o tempo da sua escrita fosse aproximadamente o mesmo, ou

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pouco mais cedo, do que o das quatro cartas de Paulo, que ele escreveu em Roma (Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom). Quase todos os estudiosos concordam que 1 Pedro foi escrita em 64 d.C., depois de a perseguição de Nero irromper. Mesmo concordando que 2 Pedro foi provavelmente escrita primeiro, preferimos estudá-las na ordem em que aparecem nas Escrituras.

ONDE ESTAVA PEDRO QUANDO ESCREVEU SEUS LIVROS?

A única maneira de podermos saber onde e quando um livro foi escrito é examinar o próprio livro. Lucas não fez uma pausa na sua narrativa para dizer: “Paulo escreveu duas cartas aos irmãos de Tessalônica enquanto estava em Corinto”. Nem interrompe a história das viagens de Paulo para nos contar que Pedro também fez jornadas a fim de pregar o evangelho. Há poucas informações nos escritos dos cristãos primitivos que nos ajudam a recompor a história, mas essas notas são muito infrequentes. Portanto, a localização de Pedro no momento em que escreveu seus livros é difícil determinar.

II Pedro não menciona qualquer localidade, nem na saudação de Pedro, no começo do livro, nem nas observações do fim. Não há qualquer nota pessoal no livro, por isso é inútil especular sobre onde ele poderia ter estado. À primeira vista, parece fácil encontrar a localização de Pedro ao escrever 1 Pedro. Ele escreve: “Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda” (1 Pedro 5.13). Assim, parece que ele estava na antiga cidade de Babilônia, quando ele escreveu aos santos da Ásia Menor. Mas não é tão fácil assim! Examinemos algumas razões porque essa localização é questionada:

Pedro e os outros apóstolos continuaram o trabalho na região de Jerusalém e da Judeia depois que as primeiras perseguições espalharam os santos (Atos 8.4). Mesmo depois que a maioria dos apóstolos saiu para outros lugares, Pedro permaneceu em Jerusalém. Ele estava lá quando Paulo e Barnabé foram à reunião sobre o assunto da circuncisão, em Atos 15. Ele era uma “coluna” da igreja, naquela época (Gálatas 2.9). O Senhor deu a Pedro a tarefa de pregar aos judeus (a circuncisão), assim como dera a Paulo a tarefa de pregar aos gentios (a incircuncisão) (Gálatas 2.7).

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Depois da reunião em Jerusalém, Pedro foi a Antioquia da Síria por um tempo. Paulo o repreendeu, nesse momento, por ter se afastado dos gentios (Gálatas 2.11-14).

O relato histórico não segue o trabalho de Pedro depois disso. Paulo menciona as viagens de Pedro em 1 Coríntios 9.5. Paulo diz que Pedro levava sua mulher consigo em suas viagens. Há poucas evidências confiáveis, contudo, sobre onde ele viajou e trabalhou. Ele não é mencionado no grupo em Jerusalém, quando Paulo voltou à cidade, no fim de sua terceira viagem de pregação. Em vez disso, foram Tiago e os anciãos que aconselharam Paulo (Atos 21.17-18).

A antiga cidade de Babilônia não era mais uma cidade importante. A última referência histórica certa a Babilônia como uma cidade é uma tabuinha de argila que foi encontrada, datando de 10 a.C. A cidade pode nem ter existido mais nos dias de Pedro. Há registros, contudo, de uma grande colônia judaica na área. Pode ser que ele estivesse, de fato, na colônia judaica da baixa Mesopotâmia, na região da antiga Babilônia. Ninguém pode provar que Pedro não estava na Babilônia literal. A linguagem do resto do livro não é figurada, então por que sua menção a Babilônia seria figurada?

Há alguns argumentos significativos, contudo, de que essa referência fosse figurada referente a Roma. O argumento mais forte é que diversos dos primeiros cristãos dizem que ele estava em Roma. Uma vez que os pormenores em seus registros não são completos, e às vezes são difíceis de confirmar, não nos apoiamos nos seus registros exclusivamente. Mas quando não conflitam com o registro da Bíblia, e quando concordam uns com os outros, seu registro histórico é aceito como confiável. Há forte evidência histórica de que Pedro morreu em Roma, quase certamente durante a perseguição de Nero, isto é, num tempo entre 64 e 68 d.C. Eusébio representa esses primeiros cristãos quando diz: “Mas Pedro faz menção a Marcos na primeira epístola, a qual também diz-se ter sido escrita na mesma cidade de Roma, e que ele mostra esse fato, ao chamar a cidade pela figura incomum, Babilônia; assim, ‘A igreja de Babilônia, eleita junto com vocês, saúda-os, como também meu filho Marcos’”. Babilônia foi a cidade que levou Judá em cativeiro no Antigo Testamento, tornando-se assim o símbolo profético de poder mundial. Mas por que Pedro usaria tal nome simbólico? Por que não dizer simplesmente: “Estou escrevendo de Roma”?

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Talvez Pedro estivesse fazendo uma afirmação acerca do que ele sentia sobre Roma. Talvez ele estivesse disfarçando o nome da cidade, usando outro nome, mas um nome que qualquer um versado nas Escrituras entenderia. Se Nero estivesse perseguindo todos os santos que pudesse encontrar em Roma, então é fácil entender por que Pedro escreveria “a igreja na Babilônia” em vez de “a igreja em Roma”.

Babilônia ficava longe, muito longe de Roma e das províncias da Ásia Menor. O território da Mesopotâmia estava sob o domínio dos partos, e não dos romanos, naquele tempo. A perseguição de Nero foi severa enquanto durou, mas teve vida curta e limitada a Roma e às províncias que eram mais simpáticas à causa do imperador. Pedro saberia muito mais sobre a perseguição nas áreas visadas se estivesse em Roma do que se estivesse na Babilônia. Se ele estivesse na Babilônia literal, é surpreendente que lidasse com uma situação tão afastada no ocidente. Se Pedro escrevesse aos irmãos da Ásia Menor da própria Roma, os encorajaria saber que Pedro escrevia da própria cova da víbora. Daria menor peso se ele estivesse muito longe da perturbação, dizendo àqueles no calor da perseguição que permanecessem fiéis. Portanto, ainda que hesitemos em afirmar que um nome figurado é usado num livro literal, são fortes os argumentos sobre Pedro estar em Roma. Sua fidelidade em face de provações severas encoraja outros (de todas as gerações) a tomar a mesma postura. Afortunadamente, nosso entendimento do livro não depende da localização de Pedro.

SINOPSE DE 1 PEDRO

A salvação dos cristãos é tão grande que vale qualquer sacrifício que precise ser feito. Vivam como filhos de Deus, como santos sacerdotes a serviço de Deus. Se sofrerem, não sofram como criminosos, mas como cristãos. O tema de 1 Pedro é: Fé na vida e fé no sofrimento, sustentada pela esperança na salvação eterna.

A Primeira Carta de Pedro é considerada a mais pastoral e terna do Novo Testamento. A nota dominante é o permanente alento que Pedro dá a seus leitores para que se mantenham firmes em sua conduta, mesmo em face da perseguição. Myer Pearlman diz que a carta foi escrita para animar os fiéis a estarem firmes durante o sofrimento e levá-los à santidade. De fato, trata-se de uma das mais comoventes peças da literatura do período da perseguição. Pedro se dirige aos cristãos da Ásia

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como um verdadeiro pastor que cuida do seu rebanho, obedecendo ao desiderato recebido de Cristo (João 21.15-17).

Algumas características especiais podem ser notadas nesta epístola:

Em primeiro lugar, a carta tem o melhor grego do Novo Testamento. A Primeira Carta de Pedro foi escrita num grego bastante culto. Isso provocou sérias suspeitas acerca da autoria petrina. Alguns comentaristas chegam a rejeitar peremptoriamente a autoria de Pedro, uma vez que ele era um pescador galileu, homem iletrado e inculto que não teria condições de usar linguagem tão escorreita e imagens tão vívidas, no melhor grego da época. Em face desse arrazoado, destacamos algumas ponderações.

1) Pedro morava na Galileia, a região mais influenciada pelo helenismo, ou seja, pela cultura e pela língua grega. Consequentemente, os galileus falavam o grego e ainda estavam familiarizados com a Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento. Sendo assim, a autoria de Pedro não é de todo improvável. Reforçando esse pensamento, Mueller escreve: “A Galileia no tempo de Jesus era uma região mista e bastante cosmopolita. Certo é que a influência helenista lá se fazia sentir como em nenhuma outra parte da Palestina”. Mueller prossegue informando que o grego era linguagem corrente na Palestina no tempo de Jesus, o que valeria especialmente para a Galileia, mais ao norte e mais aberta ao comércio e cultura, bem como, a imigrantes gentios. Holmer enfatiza que, para o império romano como um todo, a “Bíblia” não era o Antigo Testamento hebraico, mas a Septuaginta. Por essa razão, é provável que Pedro também estivesse familiarizado com ela, do mesmo modo que os destinatários da carta. Um missionário, porém, utiliza a Bíblia que é entendida na terra em que atua, nesse caso, a Septuaginta. 2) Pedro diz que escreveu esta epístola em parceria com Silvano (5.12), um dos homens “notáveis” da Igreja Primitiva (Atos 15.22). Esse Silvano foi o mesmo Silas que acompanhou Paulo na segunda viagem missionária. Ele era cidadão romano e também profeta (Atos 15.32). Bem poderia ser que Pedro fosse o autor da carta e Silvano o seu amanuense. Barclay sugere que Silvano foi o agente ou instrumento de Pedro para escrever esta carta.

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3) O mesmo Espírito que inspirou o conteúdo da carta poderia ter capacitado Pedro para escrevê-la de forma erudita e bela. Em segundo lugar, a carta destaca a chegada de um grande sofrimento. Matthew Henry afirma que a principal intenção de Pedro em escrever esta carta foi preparar os cristãos para o sofrimento. Pedro refere-se ao sofrimento em pelo menos quinze ocasiões ao longo da missiva, usando para isso seis termos gregos diferentes. O tema “sofrimento” percorre toda a epístola. As pessoas para as quais Pedro escreve estão sofrendo múltiplas provações (1.6). Submetidos a uma prova de fogo (1.7), padecem uma campanha de difamação (2.12,15; 3.16; 4.4). A perseguição aos cristãos está crescendo (4.12,14,16; 5.9) e eles não devem ficar surpresos com o sofrimento (4.12). Ao contrário, devem estar preparados a sofrer por causa da justiça (3.14,17) e ser coparticipantes do sofrimento de Cristo (4.13). Em virtude do encorajamento que esta carta traz à igreja sofredora, Warren Wiersbe chega a descrever Pedro como o apóstolo da esperança, enquanto Paulo é o apóstolo da fé, e João é o apóstolo do amor. Os cristãos da Ásia, além de estarem espalhados pelas províncias romanas no continente asiático, ainda se sentiam sem pátria, sem chão, como peregrinos. A dispersão não era apenas geográfica. Agora, era impulsionada também pelos ventos furiosos da perseguição. A perseguição atingia os cristãos não porque eles praticavam o mal, mas porque praticavam o bem. Os cristãos eram perseguidos não porque eram rebeldes, mas porque eram cordatos. Ser cristão passou a ser ilícito no império. Os cristãos passaram a ser caçados, espoliados, torturados e mortos pelo simples fato de professarem o nome de Cristo. Esse fogo ardente da perseguição não atingia apenas os cristãos da Ásia, mas se espalhava por todo o mundo. Em terceiro lugar, a carta destaca a graça de Deus. Warren Wiersbe tem razão quando afirma que somente quando dependemos da graça de Deus é que podemos glorificá-lo em meio ao sofrimento. Pedro escreve: ... vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de novo, que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes (5.12). A palavra “graça” é usada em todos os capítulos de 1 Pedro (1.2,10,13; 2.19,20; 3.7; 4.10; 5.5,10,12). 4) A carta destaca a glória de Deus. Está coberto de razão Warren Wiersbe quando diz que tudo começa com a graça de Deus que conduz à glória (5.10). Assim, sofrimento, graça e glória unem-se para formar uma mensagem de enco-

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rajamento para os cristãos que enfrentam tribulações e perseguições. Esses temas são resumidos em 1 Pedro 5.10. 5) A carta destaca a doutrina de Deus. A doutrina de Deus é central na epístola de Pedro. O apóstolo enfatiza logo no início de sua epístola a doutrina do Deus Triúno: o Pai elegeu seu povo de acordo com sua presciência, Jesus Cristo verteu seu sangue por esse povo, e o Espírito Santo o santificou (1.1,2). 6) A carta destaca a doutrina de Cristo. Pedro enfatiza tanto a humanidade quanto a divindade de Cristo. Mostra Cristo como nosso exemplo (2.21), nosso substituto (2.24) que morreu pelos nossos pecados (3.18). Pedro apresenta Cristo como Senhor (1.3; 3.15). 7) A carta destaca a doutrina do Espírito Santo. Mesmo em esparsas referências, o apóstolo descreve de maneira ampla a obra do Espírito Santo. O Espírito santifica o povo de Deus (1.2) e orienta a pregação (1.12). Agiu na ressurreição de Cristo (3.18) e repousa sobre os cristãos que sofrem (4.14). 8) A carta destaca a doutrina da igreja. Embora a palavra igreja não apareça na carta, toda a epístola se refere a ela ao descrever o povo de Deus como “eleitos” e “forasteiros do mundo” (1.1,2); “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (2.9). 9) A carta destaca um chamado veemente à santidade em meio ao sofrimento. O sofrimento pode trazer endurecimento de coração e decepção com a fé. Muitos, como a semente lançada entre os espinhos, sucumbem diante da dor. Outros se revoltam, como a mulher de Jó. Há outros que preferem a apostasia ao martírio, como Demas. Pedro escreve essa missiva para encorajar os cristãos à santidade em meio ao sofrimento. 10) A carta destaca a salvação como o fundamento da nossa alegria. Os cristãos não tinham pátria permanente. Viviam dispersos pelos cantos da terra, mas podiam, mesmo nessas fugas constantes, alegrar-se na salvação. Essa salvação foi planejada pelo Deus Pai, executada pelo Deus Filho e aplicada pelo Deus Espírito Santo. A própria Trindade estava engajada nessa gloriosa salvação, e os cristãos, mesmo provando o fogo ardente da perseguição, deveriam exultar por causa de sua herança imarcescível e gloriosa.

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11) A carta destaca as mesmas ênfases dos sermões de Pedro em Atos. Citando C. H. Dodd, Barclay diz que a pregação da Igreja Primitiva estava ancorada em cinco pontos principais:

1. O tempo do cumprimento tinha amanhecido; a idade messiânica havia começado. Esta é a última palavra de Deus. Inaugurou-se uma nova ordem e os eleitos são chamados a unir-se à nova comunidade (Atos 2.14-16; 3.1226; 4.8-12; 10.34-43; 1Pedro 1.3,10-12; 4.7). 2. Essa nova era tinha chegado por causa da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, em cumprimento às profecias do Antigo Testamento e como resultado do definido conselho e presciência de Deus (Atos 2.20-31; 3.13,14; 10.43; 1 Pedro 1.20,21). 3. Em virtude da ressurreição, Jesus foi exaltado à destra de Deus como o cabeça messiânico do novo Israel (Atos 2.22-26; 3.13; 4.11; 5.30,31; 10.3942; 1 Pedro 1.21; 2.7,24; 3.22). 4. Esses acontecimentos messiânicos alcançarão pleno cumprimento com a volta de Cristo em glória e com o juízo dos vivos e dos mortos (Atos 3.1923; 10.42; 1 Pedro 1.5,7,13; 4.5,10-18; 5.1,4). 5. Esses fatos são a base de um apelo ao arrependimento e do oferecimento do perdão, do Espírito Santo e da promessa da vida eterna (Atos 2.38,39; 3.19; 5.31; 10.43; 1 Pedro 1.13-25; 2.1-3; 4.1-5).

12) A carta destaca a segunda vinda de Cristo, a consumação da nossa esperança. A esperança da segunda vinda de Cristo, como a consumação de todas as coisas, tal qual um fio dourado, percorre toda a epístola (1.5,7,13; 2.12; 4.17; 5.1,4). Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Nossa herança não está aqui. Nossa recompensa não está aqui. Nossa pátria permanente não está aqui. Aguardamos nosso Senhor que está no céu. Mueller diz que essa carta inteira respira essa perspectiva e os leitores são exortados repetidamente a fazerem dela a sua perspectiva de vida.

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Sinopse de 2 Pedro

A mensagem de 2 Pedro é centrada nos falsos mestres. O primeiro capítulo ressalta a necessidade do verdadeiro conhecimento, se quisermos gozar as bênçãos de Deus. O segundo capítulo avisa que haverá falsos mestres. Só porque tais mestres estão ativos não significa que Deus os está ignorando: “Sua destruição não dorme” (2.3). Pedro descreve o caráter dos falsos mestres. O terceiro capítulo assegura aos santos que o julgamento está vindo, apesar dos zombadores que o negam. Portanto, prestem atenção. Como deveremos viver tendo em vista esse dia?

AUTORIA

A. Esse é dos livros mais questionados do NT quanto à sua autoria tradicional.

B. A razão para essas dúvidas são tanto internas (quanto ao estilo e conteúdo) quanto externas (sua aceitação posterior).

QUESTÕES INTERNAS

1. Estilo a. O estilo é muito diferente de 1 Pedro. Isso foi reconhecido por Orígenes e Jerônimo. i. Orígenes reconheceu que alguns rejeitavam a autoria de Pedro, ainda que ele tenha citado 2 Pedro seis vezes em seus escritos. ii. Jerônimo atribuiu isso ao fato de Pedro ter usado diferentes escribas. Ele também reconheceu que em seus dias alguns rejeitaram a autoria de Pedro. iii. Eusébio direciona essa preocupação em seu livro Eccl. His. 3:3:1: “mas a assim chamada segunda Epístola que nós não temos recebido como canônica, de qualquer maneira tem aparecido ser útil a muitos, e tem sido estudada com outras Escrituras”.

b. O estilo de 2 Pedro é muito distinto. Na Epistola de Tiago, Pedro e Judas na Bíblia Ancora, p. 146-147, B. Reicke chama isso de “Asianismo”:

“Isso foi chamado de estilo ‘asiático’ por que seus mais importantes representantes vieram da Ásia Menor, e era caracterizado por uma carregada, detalhada e

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altissonante expressão conduzindo para o romance e o bizarro, e sem preocupação com a violação da ideia clássica de simplicidade... Nossa epístola era escrita indubitavelmente em conformidade com as regras a escola asiática, que era muito importante no primeiro século”. c. É possível que Pedro estivesse tentando escrever em uma linguagem (o grego Koine) com a qual não era muito familiarizado. Sua língua natal era o aramaico.

2 – Gênero a. Ela é uma carta típica do primeiro século? i. Ela tem uma abertura e um encerramento. ii. Ela, contudo, parece ser uma carta circular para diversas igrejas, como aos Gálatas, Efésios, Tiago e I João.

b. Parece um gênero judaico especializado chamado “testamento”, que é caracterizado por i. Um discurso de despedida a) Deuteronômio 31-33 b) Josué 24 c) O Testamento dos doze Patriarcas d) João 13-17 e) Atos 20.17-28 ii. A predição da morte iminente (cf. 2 Timóteo) iii. Uma admoestação de seus ouvintes para que se mantivessem em sua tradição.

3. A relação entre 2 Pedro e Judas a. Obviamente, houve alguns empréstimos literários. b. A referência feita às fontes não canônicas tem provado muitas rejeições tanto a Judas quanto a 2 Pedro, ainda que mesmo 1 Pedro faça alusões a 1 Enoque e Paulo eventualmente cite poetas gregos.

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4. O livro afirma ser da autoria de Pedro, o apóstolo a. Ele se nomeia em 1.1. Ele é chamado de Simão Pedro. Pedro é o nome dado a ele por Jesus (cf. Mateus 16). Simeão (não Simão) é raro e eventual.

Se alguém estivesse tentando escrever em nome de Pedro, a escolha desse apelido semítico seria muito surpreendente e um pseudônimo contraprodutivo. b. Ele afirma ter sido uma testemunha ocular da transfiguração (cf. Mateus 17.1-8; Marcos 9.2-8; Lucas 9.28-36) in 1.16-18. c. Ele afirma ter escrito a primeira carta cf. 3.1), o que quer dizer 1 Pedro.

5. Ortodoxia a. Não há nada nessa carta que contraindique o ensino apostólico do NT. b. Existem alguns tópicos únicos (isto é, o mundo destruído por fogo e os escritos de Paulo vistos como Escrituras), mas nada gnóstico ou obviamente herético.

DATA

A. Isso depende da autoria.

B. Se alguém é convencido da autoria de Pedro, então o tempo é antes da sua morte (cf. 1.14).

C. A tradição da igreja afirma que o apóstolo Pedro morreu em Roma enquanto Nero era o césar. Nero estabeleceu a perseguição contra os cristãos em 64 d.C. Ele se matou em 68 d.C.

D. Se um seguidor de Pedro escreveu em seu nome, então uma data tardia entre 130-150 d.C. é possível, por que 2 Pedro é citado em o Apocalipse de Pedro, assim como em O Evangelho da Verdade e o Apócrifo de João.

E. O renomado arqueólogo norte-americano W. F. Albright afirma que ele foi escrito antes de 80 d.C. por causa de suas similaridades com os Rolos do Mar Morto.

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DESTINATÁRIOS

A. Se 1 Pedro é mencionado em 2 Pedro 3.1, então os destinatários seriam os mesmos (ou seja, nordeste da Turquia).

B. 2 Pedro pode ter sido um testemunho de encorajamento a todos os crentes para perseverarem debaixo das provações, resistirem aos falsos mestres e a viverem fielmente na tradição do evangelho em antecipação à Segunda Vinda.

OCASIÃO

A. Assim como Pedro fala sobre perseguições e sofrimentos, 2 Pedro fala sobre os falsos mestres.

B. A natureza exata desses falsos ensinamentos é incerta, mas pode ter sido relacionada ao gnosticismo antinomiano (cf. 2.1-22; 3.15-18). Isso pode ter sido uma técnica apologética proposital para atacar sua teologia.

C. Esse livro, como 2 Tessalonicenses, fala sobre o assunto do retardamento, mas certa, Segunda Vinda, quando os filhos de Deus serão glorificados e os incrédulos julgados (cf. 3.3-4). É interessante que 1 Pedro caracteristicamente usa o termo apucalupsis para se referir ao retorno de Jesus, enquanto 2 Pedro usa parousia. Isso possivelmente reflete o uso de diferentes escribas (cf. Jerônimo).

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