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I EPÍSTOLA DE JOÃO

EPÍSTOLAS GERAIS

RESUMO DE 1 JOÃO

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A primeira carta de João não diz a quem ela é endereçada. Desde que o assunto discutido era corrente em Éfeso, nesse tempo, é seguro aceitar que os efésios estavam incluídos entre aqueles para quem a carta foi escrita. Provavelmente, João pretendia que sua carta fosse amplamente circulada e lida em muitos lugares. Em livros como 1 João, onde não há indivíduo ou congregação a quem foram dirigidos, o livro era designado como uma declaração escrita de doutrina necessária, não somente àquela geração, mas às gerações futuras. Era a declaração do Espírito Santo da vontade de Deus sobre o assunto. Sem dúvida, os escritos de João, com todos os outros escritos inspirados, eram muito apreciados e largamente distribuídos.

Um falso mestre chamado Cerinto estava ativo em Éfeso nesse tempo. A doutrina que ele ensinava era uma precursora do sistema doutrinário conhecido como gnosticismo. De acordo com Cerinto, Jesus era apenas um ser humano, o filho físico de José e Maria. Ele ensinava que o “eon Cristo” desceu sobre Jesus no seu batismo, mas deixou-o antes de Seu sofrimento e morte. Assim, Jesus sofreu e ressurgiu, enquanto o Cristo permaneceu acima do sofrimento, visto que Ele era um ser espiritual. Cerinto usava partes do Evangelho de Mateus, mas repudiava os escritos de Paulo, afirmando que ele era um desviado da lei. Ele tinha sua interpretação peculiar dos profetas e era judaico em seu estilo de vida.

Relata-se que Cerinto ensinava que haveria um reino de Cristo de mil anos sobre a terra. Esta doutrina se originou entre judeus do primeiro século. Portanto, alguns ensinavam que Cerinto escreveu o livro do Apocalipse. Por algum tempo, houve aqueles que rejeitavam o livro por causa de sua suposta autoria.

Os argumentos de João mostram claramente que alguns afirmavam que era possível continuar no pecado, sem de modo algum afetar a alma. Esta doutrina era particularmente atribuída aos nicolaítas (veja Apocalipse 2.6, 14, 15).

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Os três pontos de doutrina que João ressalta em 1 João são: a. O próprio Cristo realmente veio em carne, e manifestava Deus enquanto estava nessa forma. b. Não se pode declarar amar a Deus e odiar seu irmão. c. Não se pode ser um filho de Deus e continuar na prática do pecado.

Sinopse de 1 João

Jesus foi Cristo vindo à carne. Não se pode ser filho de Deus e não amar seus irmãos e irmãs, e não se pode ser filho de Deus e continuar pecando. Esses pontos ressaltam a fé em quem Jesus foi: O Cristo, o Filho de Deus na carne. Ressaltam também que a relação com Deus exige conduta especial. O pecado é incompatível com a afirmação de que se é um filho de Deus.

CENÁRIO OBSERVADO POR JOÃO

A situação da igreja inspirava cuidados. Notamos isso pelo que se lê nas cartas às sete igrejaa da Ásia (Apocalipse 2 e 3). As heresias grassavam em muitas comunidades. Em Apocalipse, livro escrito na mesma época, João menciona as expressões “sinagoga de Satanás” (Apocalipse 2.9), “nicolaítas” (Apocalipse 2.6,15), “doutrina de Balaão” (Apocalipse 2.14) etc.

O gnosticismo, sistema que mistura ideias filosóficas, crenças judaicas e cristãs, era uma das principais fontes de heresias da época. Assim, muitos cristãos se tornaram gnósticos. Criam em Jesus, mas negavam a realidade de sua encarnação e morte. O fato de se denominarem cristãos gerava uma situação confusa. Quem eram os verdadeiros cristãos? Os que criam de uma forma ou os que criam de outra? João observou a necessidade de identificação, discernimento, definição e posicionamento. Observemos as perguntas-chave que o autor apresenta:

1 – “Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?” (1 João 2.22). 2 – “Quem é o que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1 João 5.5).

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O autor se mostra bastante interessado em mostrar “QUEM É O QUÊ”. São usados pronomes demonstrativos e indefinidos para apresentar especificações bem definidas, que permitem identificar os indivíduos em relação a Cristo. João usa repetidamente a fórmula: “Quem não faz isso não é aquilo”. Ou “Quem faz tal coisa é outra coisa”.

Aquele – 2.6,11,17,22,23,26,29; 3.4,6,17; 5.1,5,16,18 (Veja também 2 João 1.9). Alguém – 2.1,15,27; 4.20; 5.16.

Quem – 4.7,8,9,10.

O mentiroso e o verdadeiro precisam ser identificados. Essa é a missão de João em sua primeira epístola. O autor ajuda a identificar os personagens do cenário e a situação dos próprios leitores no contexto da verdade e da mentira. O exemplo clássico utilizado é o de Caim e Abel (1 João 3.11-12), representando dois grupos de pessoas que estavam dentro da igreja. O autor identifica quem está em comunhão com Deus e quem não está. No quadro a seguir, listamos diversas expressões da epístola pormeio das quais se traça uma linha divisória entre os dois grupos. Vamos chamá-los, alegoricamente, de “grupo de Abel” e “grupo de Caim”.

“Grupo de Abel”

Vida (1.1,2; 2.16,25; 3.14,15,16; 5.11,12,13,16,20)

Verdade – 1.6,8; 2.4,5,8,21,27; 3.18,19; 4.6; 5.7,20. Verdadeiro (2.8,27; 5.20) Espírito da verdade (4.6) Cristo (1.3, etc.) Amor ao irmão (2.10) Sofre ódio do mundo (3.13) Luz –1.5,7; 2.8,9, 10.

“Grupo de Caim”

Morte (3.14; 5.16-17)

Mentira – 1.6,10; 2.4,21,22,27; 4.20; 5.10 Erro – 4.6 Engano - 1.8; 2.26; 3.7 Falso ou mentiroso (2.22) Espírito do erro (4.6) Anticristo (2.18,22) Amor ao mundo (2.15) Ódio ao irmão (2.11; 3.15) Trevas – 1.5,6; 2.8,9,11.

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É possível passar de um lado para o outro. Esse trânsito pode ser chamado conversão ou, no sentido contrário, apostasia. João disse que “passamos da morte para a vida” (3.14). E o seu cuidado era para que não acontecesse o processo contrário com alguns irmãos que, envolvidos pela heresia, pudessem passar da verdade para a mentira.

IDENTIFICANDO A DOUTRINA, O MESTRE E O ESPÍRITO

A heresia é uma doutrina errada, mas isso pode não estar tão claro no início. O que chega até nós é simplesmente uma doutrina. Esta deve ser então identificada. Por meio dos parâmetros encontrados na epístola, o autor identifica a doutrina, o mestre e o espírito que está por trás (2.22-23, 4.1-6). As chaves identificadoras são:

• Relação com Cristo (2.22-23); • Relação com os irmãos (3.10,17). • Relação com o mundo (2.15).

Estes são os “instrumentos” que nos farão identificar a verdade e a mentira. Tais indicadores são complementares entre si. Se alguém negar que Cristo é o Filho de Deus, estará reprovado. Não está na verdade. Se alguém afirma que Cristo é o Filho de Deus, mas nega Sua encarnação e morte, estará reprovado. Se alguém diz ter uma fé correta a respeito de Cristo, então o próximo teste é a relação com os irmãos. Se a pessoa odeia os irmãos ou lhes nega auxílio nas necessidades, então estará reprovada.

Se a pessoa ama o mundo, anda segundo o mundo, vive de modo agradável ao mundo, pecando habitualmente, então está do lado da mentira. A relações com os irmãos e com o mundo constituem evidências visíveis do tipo de relação que temos com Cristo, uma vez que esse vínculo é espiritual e invisível. O objetivo dessas colocações não é sairmos julgando as pessoas dentro da igreja. Em primeiro lugar, cada um deve julgar e purificar a si mesmo (1 João 3.3; 5.10; 1 Coríntios 11.28,31; 2 Coríntios 13.5; 2 João1.8). Depois, é preciso que saibamos julgar as profecias e as doutrinas que recebemos (1 Coríntios 14.29; 1 Tessalonicenses 5.20-21; 1 Coríntios 10.15).

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Se uma doutrina é contrária a Cristo, contrária à comunhão dos irmãos ou favorável ao mundanismo, então deverá ser rejeitada. Finalmente, a vida de um mestre deverá ser avaliada para que se decida sobre a sua doutrina. “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7.15-16). Muitos irmãos podem apresentar uma série de erros e até mesmo pecados por uma questão de imaturidade, fraqueza, ignorância etc. Não devem ser alvos de julgamentos, mas de orientação. O objetivo de João era alertar contra aqueles que se colocavam como mestres da igreja.

ESTAR E PERMANECER – POSIÇÃO E PERSEVERANÇA.

No cenário da verdade e da mentira, precisamos nos localizar. Onde estamos? João usa diversas vezes o verbo “estar”. Em algumas delas, ele se preocupa em “localizar” espiritualmente as pessoas. Se guardarmos a palavra e amarmos os irmãos, isso indica que “estamos” em Cristo. Quem não ama seu irmão, “está” nas trevas. Finalizando, o autor diz que “estamos” em Cristo, que é o verdadeiro Deus (1 João 2.5,6,9; 5.20).

Podemos ter nossa posição muito bem definida. Entretanto, vamos mantê-la? Outro verbo muito importante para João é “permanecer”. Lembre-se do capítulo 15 do Evangelho de João: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”. “Se alguém permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto.” “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora.” “Se vós permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós pedireis o que quiserdes e vos será feito.” “Permanecei no meu amor...” etc.

Na primeira epístola, a ênfase continua nos seguintes textos: 2.10,14,17,19,24,27,28; 3.6,9,14,15,17,24; 4.12,13,15,16. Em todos esses versículos aparece o verbo “permanecer”. Isso demonstra a preocupação do autor com a perseverança dos irmãos no caminho da verdade. (Veja também 2 João 1.2,9).

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COMBATE AO GNOSTICISMO

João se mostrou bastante combativo em relação ao gnosticismo. Essa palavra vem do termo grego “gnosis”, que significa “conhecimento”. Os gnósticos criam e ensinavam que a salvação da alma dependia do conhecimento de alguns mistérios só revelados aos que participavam de seus rituais de iniciação. O apóstolo usou então a mesma palavra, “conhecimento”, para combater as heresias gnósticas. Tanto no evangelho como na primeira epístola, ele mostrou o que realmente importa conhecer: A verdade, que é o próprio Cristo e o amor, que é o próprio Deus.

O conhecimento sem amor pode causar tragédias. A bomba atômica é um exemplo clássico. O verbo “conhecer” aparece nos seguintes versículos: 1 João 2.3,13,14,18,20; 3.1,6,16,19,20,24; 4.2,6,7,8,13,16; 5.2.20 (2 João 1.1). A carta destaca a palavra “luz”, que também é um símbolo do conhecimento: 1.5,7; 2.8,9, 10.

Outro verbo similar é o “saber”. Essa palavra tem um sentido muito forte, pois não admite dúvida, insegurança, medo nem ignorância. O comentário da Bíblia Thompson chama a primeira epístola de João de “a carta das certezas”. O autor usa o verbo “saber” de uma forma bastante clara e determinada (1 João 2.3,5,11,21,29; 3.2,5,14,15; 5.15). Ele diz: “Sabemos que somos de Deus”. Não estamos perdidos nem confusos. SABEMOS quem somos, onde estamos e para onde vamos.

O gnosticismo afirmava que o mal residia na matéria. Portanto, negavam que Deus pudesse se encarnar. Em relação a Cristo, João escreveu: “nós ouvimos, vimos, contemplamos, nossas mãos tocaram...” (1 João 1.1-3). Ou seja, o apóstolo estava afirmando insistentemente que o corpo de Cristo era matéria, pois poderia ser tocado, como de fato o foi. Não se tratava de um espírito, uma aparição, como os gnósticos afirmavam (1 João 4.2; 5.6).

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OUTRAS PALAVRAS, EXPRESSÕES E CONCEITOS EM DESTAQUE

VIDA – 1.1,2; 2.16,25; 3.14,15,16; 5.11,12,13,16,20 Vida de Deus para nós por meio de Cristo.

MUNDO – nosso posicionamento: não amamos o mundo; somos odiados por ele; haveremos de vencê-lo (1 João 2.2,15,16,17; 3.1,13,17; 4.1,3,4,5,9,14,17; 5.4,5,19).

VERDADEIRO – Mandamento – 2.8. Luz – 2.8. Unção – 2.27. Jesus – 5.20. Deus – 5.20.

AMOR (e verbo amar) 2.5,10,12,15; 3.1,10,14,16 (x João 3.16). 3.17,18,23; 4. 7,8,9,10,11,12,16,17,18,19,20,21; 5.1,2,3. (Obs. 2 João 1,3,6, 3 João 1,6,7 Apocalipse 2.3,4,19; 3.9,19). São da autoria de João alguns dos mais famosos versículos bíblicos sobre o amor: “Deus é amor” e “Porque Deus amou o mundo de tal maneira...”

Na primeira epístola, o autor usa o verbo amar em diversas conjugações: ama, ameis, amamos, amemo-nos, amado, amados, amou, amar-nos, amo, amar, ame, amemos.

O amor vem de Deus, através de Jesus. “Ele nos amou primeiro”. Daí em diante, o amor deve ter livre curso em direção aos irmãos, mas não em direção ao mundo. O amor deve “circular como sangue” no Corpo de Cristo, que é a igreja.

COMUNHÃO – 1.3,6,7. MANDAMENTO(s) – 2.3,4,7,8; 3.22,23,24; 4.21; 5.2,3.

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O QUE SE DIZ E O QUE SE É – 1.6,8,10; 2.4,6,9; 4.20;

MANDAMENTOS NEGATIVOS

NÃO AMEIS o mundo – 2.15. NÃO CREIAIS a todo espírito – 4.1. O amor e a fé só são positivos quando bem direcionados.

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