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Rosa Maria Santos

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

O tempo

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Assimilei que o tempo não é nosso. Por mais que o queiramos esconder, não conseguimos, não é como uma lágrima que cai e nos escorrega pela mão... As lágrimas não são apenas pequenas partículas de cloreto de sódio, os sais salgados, são antes de uma composição química, uma amálgama de sentimentos tão dispersos como o próprio vento, sentimentos que expressam alegria outristeza.

Quando de tristeza, servem como um unguento para nos libertar do sofrimento, quiçá, como um grito para libertar a nossa alma.

Quando de alegria, fazem resplandecer o nosso rosto, quantas vezes, deixando atrás de si uma efusiva vontade de sonhar.

Hoje escrevo de alma lavada, lancei os meus sentimentos num pequeno bloco de papel amarrotado pelo tempo. É assim a nossa vida: amarrotada, delimitada pelo tempo, muitas vezes fazendo-nos perder a noção do ser, do pensar, do viver. São também um alibi para nos curar das feridas, quais marcas tatuadas pelas pegadas do tempo, o nosso tempo. O tempo que desejávamos para nós e tantas vezes nos escapa das mãos sem que nos apercebamos. Com elas lavamos as angústias, os pesadelos e os medos guardados no curso da nossa peregrinação.

Acordei com o peso da nostalgia sobre os ombros. Vaticínio das condições do clima, certamente. Chove, é triste. Talvez porque o vento arrasta consigo a folhagem espalhada pelo chão, resquícios de um inverno tão diferente de si. Para trás, o tempo de lazer, as visitas ao campo, os passeios à beira mar, o cheiro a maresia, o vaivém perene das ondas. Lembranças retidas no olhar, tons frios, tons quentes, tons que nos penetram na mente e nos fazem sonhar, lembrar tempos idos que a memória regista onde tudo era belo e quente, tempo de promessas, de textos escondidos entre as folhas dos livros, tantas delas agora amarelecidas pelo tempo, promessas de amor que não chegaram ao destino mas que se conservam dentro de nós e nos fazem derramar uma lágrima de saudade, quem sabe, de sonhos ainda por sonhar.

Hoje fui ver o mar, o mesmo mar, o mesmo passeio que tantas vezes percorri, sozinha, pensando em ti.

Saudade, saudade do teu abraço, das palavras sem sentido que me sussurravas ao ouvido, promessas não cumpridas e que hoje percorrem os recantos da minha consciência. A saudade apoderou-se da minha consciência, entranhou-se no meu coração e a tomei conta de mim.

Na minha memória,lembranças de um grande amor, uma lágrima que cai, registos de alma que não mais vou esquecer. São elas que mantém vivo o meu pensamento, é por elas que choro. De alegria? De tristeza? Não, apenas de saudade!

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