Jornal de Letras

Page 1

ornal JLetrasde

Opiniões

Número:

Depoimentos Novos Lançamentos Entrevista Literatura Infantil

JL

digital

233

Mês: Maio Ano: 2018 Preço: R$ 5,00

ACESSE: www.folhadirigida.com.br/ edicoes-digitais/ jornal-de-letras

Falcão Imortal O escritor e jurista Joaquim Falcão foi eleito para a Cadeira número 3 do quadro dos membros efetivos da Academia Brasileira de Letras, vaga com a morte do acadêmico Carlos Heitor Cony. Concorreu com a escritora Vilma Guimarães Rosa, filha do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967). (Por Manoela Ferrari – págs. 10 e 11 – Foto: Guilherme Gonçalves).


ornalde 2 JLetras

A prova de que não andamos bem, em matéria de educação, no Rio de Janeiro, por exemplo, é a progressiva extinção do número de escolas nesse importante estado da união brasileira. São 384 fechadas, nos últimos anos, criando problemas de acessibilidade para os seus alunos. Eles estão sendo remanejados para locais distantes. Alguns até desistem de estudar. As desculpas apresentadas não são defensáveis, apesar da evidência da crise econômica em que vive o Rio de Janeiro. Existe agora uma perspectiva de que as coisas vão melhorar, com a recuperação da Petrobras e a força do que representa para a economia o famoso pré-sal. Mas até que tudo volte aos eixos, teremos dado uma triste demonstração de retrocesso, exatamente no setor mais importante da economia do Estado fluminense. Uma pena que isso tudo esteja acontecendo. O Editor.

A Academia Brasileira de Letras abriu seu ciclo de conferências do mês de abril de 2018, intitulado As cidades dos poetas, com palestra do acadêmico, professor, poeta e ensaísta Antonio Carlos Secchin (foto: Guilherme Gonçalves). O tema escolhido foi Caetano Veloso: Londres e São Paulo.

JL Expediente Diretor responsável: Arnaldo Niskier Editora-adjunta: Beth Almeida Colaboradora: Manoela Ferrari Secretária executiva: Andréia N. Ghelman Redação: R. Visconde de Pirajá N 0 142, sala 1206 — Tel.: (21) 2523.2064 – Ipanema – Rio de Janeiro – CEP: 22.410-002 – e-mail: institutoantares.info@gmail.com Distribuidores: Distribuidora Dirigida - RJ (21) 2232.5048 Correspondentes: António Valdemar (Lisboa). Programação Visual: CLS Programação Visual Ltda. Fotolitos e impressão: Folha Dirigida – Rua do Riachuelo, N 0 114 Versão digital: www.folhadirigida.com.br/edicoes-digitais/jornal-de-letras O Jornal de Letras é uma publicação mensal do Instituto Antares de Cultura / Edições Consultor.

JL Opinião

acervo JL

JL Editorial

Arnaldo Niskier

O sucesso do Canal Futura

Numa visita feita ao gerente do Canal Futura, João Alegria, soubemos de alguns números de programas de relevo, como o “Identidade Brasil”. Na segunda-feira, às 17h30, no Canal 87, quando ele é apresentado, há uma audiência de 21 milhões de pessoas, o que dá bem a dimensão do alcance do programa, nessa verdadeira escola sem paredes. O que se pode afirmar, com toda segurança, é que 46% da nossa população conhece essa rica programação, hoje licenciada para ser apresentada em emissoras da Europa, África, América e Ásia, divulgando ações de mobilização comunitária. O Canal Futura cresceu muito a partir do seu nascimento, no Rio, no dia 10 de setembro de 1997. Estima-se que, hoje, sirva a 60 milhões de brasileiros, com o reforço de uma importante rede de televisões universitárias, o que lhe dá ainda maior dimensão. No caso do “Identidade Brasil”, os temas abordados referem-se, basicamente, a educação, cultura, tecnologia e inovação, servindo, assim, a alunos e professores, além de estagiários atendidos pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), que acaba de criar uma inteligente Universidade Corporativa em São Paulo, para um universo de 20 mil estudantes por mês no Saber Virtual. A madrugada não conhece obstáculo para o Canal Futura. Os grandes temas da atualidade são discutidos de modo permanente, como aconteceu outro dia, às 3h da manhã. A TV Futura apresentou um belíssimo programa de discussão sobre as questões de gênero, na Escandinávia, particularmente na Suécia. Os alunos de pré-escola não são chamados de menino ou menina, mas por uma expressão genérica (heren). O significado disso é discutido por pais e professores. Dá um novo sentido ao papel da escola. É uma questão de atualidade. Faz tempo que defendo que a escola não é um espaço onde se aprende somente letras e números. É no ambiente escolar que se promove a cidadania e se aprende a pensar. Falar de gênero na escola é exercitar o reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres, estimulando o convívio num espaço democrático e inclusivo, onde estudantes aprenderão as regras mais simples do respeito mútuo. Repito sempre que necessário: a escola é um instrumento poderoso para o exercício da cidadania, onde se formam cidadãos que tenham apreço pela liberdade e pela tolerância, em igualdade de condições para todos. Isso está na legislação brasileira. Um dos artigos da nossa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional dispõe que: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Silenciarmo-nos sobre essa questão é reproduzir as desigualdades e ignorar a diversidade. Veicular debates sobre o assunto, como faz o Canal Futura, não significa anular as diferenças, nem promover ideologias. Canais como o 87 nos apresentam um espaço livre de discriminação, com a potência de formar uma audiência sem machismo, homofobia, misoginia ou qualquer outro tipo de preconceito.

“Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho” Clarice Lispector


ornalde 3 JLetras

Mérito judiciário O diretor responsável do JORNAL DE LETRAS, o acadêmico Arnaldo Niskier, recebeu a insígnia da Ordem do Mérito Judiciário Militar, no grau Alta Distinção. A entrega das medalhas ocorreu na solenidade em que o Superior Tribunal Militar (STM) comemorou os 210 anos de história da Justiça Militar da União, no Salão de Festas do Clube do Exército, no Lago Sul, em Brasília. Entre os agraciados, o presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira, o general de Exército Walter Braga Neto, interventor federal na segurança pública do Rio de Janeiro; o ministro da Justiça, Torquato Jardim; e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), José Antônio Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, além de parlamentares, membros do Judiciário, Ministério Público e Executivo e integrantes da sociedade civil. A organização não governamental Médicos sem Fronteiras está entre as instituições agraciadas.

O acadêmico Arnaldo Niskier recebe a Medalha da Ordem do Mérito Judiciário Militar das mãos do presidente do Superior Tribunal Militar, José Coelho.

61 anos de história A Ordem do Mérito Judiciário Militar (OMJM) foi criada pelo Superior Tribunal Militar (STM), em Sessão de 12 de junho de 1957, para celebrar os 150 anos da Justiça Militar da União, fundada em 1º de abril de 1808. A condecoração contempla pessoas e instituições que tenham prestado relevantes serviços à Justiça Militar da União. Além de ser uma forma de reconhecimento dos trabalhos prestados pelos próprios integrantes da Casa, a comenda também é dirigida para membros de outras instituições.

Nelson Pereira dos Santos, o pai do Cinema Novo Membro da ABL desde 2006, o cineasta paulista do Brás Nelson Pereira dos Santos sentava ao meu lado, nas sessões plenárias da Casa de Machado de Assis. Era um convívio extremamente amável e, por isso, inesquecível. Seu amigo e admirador, Cacá Diegues afirmou que Nelson inventou um cinema que somente poderia ser feito no Brasil. Levado a assistir a longa-metragens por sua mãe, no Cine Teatro Colombo, em São Paulo, acostumou-se com as obras de autores como Graciliano Ramos (levou à telas obras como Vidas Secas (1963) e Memórias do Cárcere), Machado de Assis (Azylo muito louco), Jorge Amado (Tenda dos milagres e Jubiabá), Guimarães Rosa (A terceira margem do rio), Nelson Rodrigues (Boca de ouro), Gilberto Freyre (Casa Grande & senzala) e Castro Alves (Guerra e liberdade). Nelson costumava afirmar que era de uma geração formada por esses e outros escritores do modernismo. Vindo para o Rio de janeiro, tornou-se pioneiro do Cinema Novo, com o seu notável “Rio 40 graus”, de 1955. Foi influenciado pelo neorrealismo italiano, de cineastas como Roberto Rosselini e Luchino Visconti. Mesmo tendo feito o curso de Direito na USP (concluiu em 1953) e exercendo atividades de jornalista no Jornal do Brasil e na Manchete, no Rio de Janeiro, estava predestinado a dedicar a maior parte de sua vida ao cinema. Produziu “Rio, zona norte”, filmou documentários sobre a seca do Nordeste e, em termos de contracultura, filmou “Fome de

O casal Arnaldo e Ruth Niskier, com a senadora Ana Amélia (PP-RS), que também esteve entre os agraciados pelo Tribunal de Justiça do DF com a medalha da Ordem do Mérito Judiciário.

amor”, “Quem é Beta” e a comédia carioca “El justicero”, sem esquecer o clássico histórico “Como era gostoso meu francês”. Nelson Pereira dos Santos foi fundador do curso de cinema da Universidade de Brasília e lecionou na Universidade da Califórnia e na Universidade de Columbia, em Nova York. Como se vê, um intelectual de múltiplas qualidades, que o país perde e lamenta profundamente. Apesar de ter se dedicado também ao jornalismo, participou de atividades de cineclubes e de teatro amador, além de se envolver com política, tendo se filiado ao Partido Comunista Brasileiro, do qual se desligou em 1956. Em 1949, viajou a Paris. Durante dois meses, frequentou a Cinemateca Francesa, de Henri Langlois. Ao voltar, filmou “Juventude”, média-metragem destinado ao Festival da juventude que ocorreria em Berlim. Em 1952, foi assistente de Alex Viany em “Agulha do palheiro” e foi acumulando experiências necessárias. Extremamente criativo, Nelson Pereira dos Santos filmou, em 1976, o seu “Amuleto de Ogum”, quando analisou as religiões afrobrasileiras e, em 1980, filmou o musical “Estrada da Vida”, baseado na trajetória da dupla Milionário e José Rico. Ganhou muitos prêmios internacionais e herdou de Humberto Mauro o título de “pai do cinema brasileiro”, até ter a sua vida interrompida por um câncer fatal. Deixou a mulher Ivelise, quatro filhos e cinco netos, além de uma saudade infinita.


ornalde 4 JLetras

JL Breves por Manoela Ferrari

JL Humor manoela.ferrari@gmail.com

TRÊS EVENTOS importantes marcam a viagem do Acadêmico Antônio Carlos Secchin a Lisboa, neste mês de maio. Além da palestra sobre sua criação literária, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o escritor tomará posse na Academia de Ciências de Lisboa e, por fim, lançará sua mais recente obra – Desdizer, na Biblioteca da Imprensa Nacional.

CONCRETIZADA na segunda metade de 2017, a compra da FENAC pela Cultura fez esta passar de 17 para 29 lojas em São Paulo, tornando-a a maior livraria do Brasil. A rede completa 70 anos, desde o início comandada por Pedro Herz, responsável pelo lançamento de O Livreiro, com 240 páginas, pela Ed. Planeta, contando ele próprio a sua história no ramo.

O PRIOR DA ORDEM Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, Monsenhor André Sampaio, lançará este mês uma das mais importantes obras sobre a instituição. Trata-se de um livro com a história da Ordem que há mais de 1000 anos é uma das guardiãs da tradição católica. Monsenhor Sampaio faz parte do Corpo Diplomático da Santa Sé, já tendo servido em várias Nunciaturas Apostólicas do mundo. É um dos mais preparados Sacerdotes Católicos da atualidade.

MORTA AOS 73 anos, em 2004, Hilda Hilst será a terceira mulher homenageada numa FLIP-Festa Literária Internacional de Paraty, este ano na 16ª edição, confirmadíssima entre 25 e 29 de julho. A escritora acumulou premiações como Jabuti e APCA, havendo sido traduzida para o inglês, francês, alemão, espanhol, italiano e japonês. Antes dela, Clarice Lispector, em 2005, e Ana Cristina César, em 2016, foras as escolhidas.

A SESSÃO DE autógrafos do novo livro do rabino Nilton Bonder – Alma & Política – Um regime para seu partidarismo, lançado pela Editora Rocco, contou com a leitura de trechos da obra por Mateus Solano e Joice Niskier, na Livraria da Travessa de Ipanema. ENCOMENDADA ao jornalista Paulo Roberto Pires, com o aval da família, a Editora Todavia prepara a biografia completa do saudoso escritor carioca Millôr Fernandes, que foi casado com a querida Cora Rónai. TÍTULOS BRASILEIROS da psicanalista Maria Rita Khel, da urbanista Raquel Rolnik e da autora de obras infantis Tatiana Tokitaka, pertencentes à Editora Bom Tempo, foram negociados para a Inglaterra, Argentina, Chile, Espanha e Uruguai. MARCANDO 20 anos da série “Música no Museu”, responsável só no ano passado por cerca de 420 concertos no país, Sérgio Costa e Silva prepara livro comemorativo para publicação ainda neste semestre. NO MOMENTO em que se procura fortalecer o mecanismo de incentivo cultural, a Lei Rouanet, desde a sua instituição, há 26 anos, até ao fim da última temporada, injetou mais de R$ 16 bilhões no setor em projetos de todas as ordens.

NOVO ESPAÇO de arte no centro da capital paulista, o Farol Santander, majestosa sede do antigo Banespa, reabriu após longas e cuidadosas reformas com atrações em 18 de seus 35 andares, ficando aberto ao público de terça a domingo, das 9 às 19 horas. EMBORA O centenário de João Cabral de Melo Neto só aconteça em 2020, a Ed. Todavia já fechou com Ivan Marques, professor de literatura brasileira da USP, para publicação da biografia do poeta no início daquele ano. UM NOVO SELO de quadrinhos será entregue ao público pela Editora Rico, com foco em autores brasileiros. NO SEGUNDO semestre, a Globo Livros coloca nas livrarias a biografia da grande estrela do cinema francês Brigitte Bardot, responsável por inserir a praia fluminense de Búzios no cenário internacional, através das provocantes fotos com ela feitas pela imprensa do mundo inteiro em suas areias. COMPLETANDO 30 anos, Virando a própria mesa – uma história de sucesso empresarial made in Brazil, escrito pelo empresário Ricardo Semler, com mais de 500 mil livros, teve edições em 36 países. Impresso pela Nova Cultural, a obra foi antes recusada em variadas editoras nacionais.

rabinovitch@un.org

por Jonas Rabinovitch NO PLANETA DOS ANIMAIS TAPETE DE HOMEM

ATÉ O MÊS de junho deverão ser concluídas as reformas no prédio da Biblioteca Nacional, no Rio, estendidas durante os últimos sete anos. Foram financiadas por recursos do Ministério da Cultura. REÚNE 20 CONTOS o novo livro do escritor mineiro Luiz Ruffato, edição da Companhia das Letras: A cidade dorme. Em 2016, ele sagrou-se o primeiro não europeu a faturar o Prêmio Internacional Hermenn Hesse, da Alemanha. COM MAIS UM título lançado na praça, História dos Crimes e da Violência no Brasil, com 485 páginas, pela Editora Unesp. Este em associação com Angélica Müller, da Universidade Federal Fluminense, Mary del Priore, da Universidade Salgado de Oliveira, atinge 48 livros de História. EM 2017, conforme a União Brasileira de Compositores, as mulheres obtiveram renda média 28% inferior aos homens em direitos autorais, pela execução pública de suas músicas. COUBE À Editora Ter-60 os direitos da publicação na Itália do livro Sonata em Auschwitz, da escritora brasileira Luize Valente. Na França, a escolha recaiu sobre a Ed. Les Escoles. BASEADA EM livro do português Norberto de Morais, Patrícia Andrade está produzindo para a TV Globo a série “O pecado de Porto Negro” em dez episódios.

UMA HISTÓRIA ÚNICA, último romance do laureado escritor britânico Julian Barness, aterrissa em junho no Brasil pelas mãos da Editora Rocco. UM DOS NOMES da atualidade literária mundial, Margaret Atwood terá publicado no Brasil, pela Ed. Morro Branco, HagSeed. ADQUIRIDA NOS EUA pela Avery Press, a autobiografia de Gisele Bündchen para os brasileiros ficará sob a responsabilidade da Editora Record. SERÃO CONHECIDOS, em junho, os vencedores do Prêmio SESC 2018. Sempre incentivando o aparecimento de novos valores, a entidade recebeu este ano a inscrição de 1.540 originais: 820 para romances e 720 para contos. FICOU ACERTADA a data de 31 de maio para o lançamento de Hippie, livro mais recente de Paulo Coelho (Ed. Paralela / Companhia das Letras). SAI, ainda este ano, pela Ed. Zahar, Dicionário amoroso da psicanálise, escrito pela francesa mundialmente famosa no setor Elisabeth Roudinesco. SEMPRE na frente, nasce, em São Paulo, o Espaço Cultural Cerverbaria, primeira cervejaria-editora do mundo. Nos rótulos das garrafas, textos inéditos e eventos diários em happy-hours, reunindo bate-papos com os autores.


ornalde 5 JLetras

Na ponta Por Arnaldo Niskier – Ilustrações de Zé Roberto

Malcriado

da Língua

Suspensão justa “O atraso constante da funcionária implicou em suspensão por dois dias.” A punição seria mais justa se o complemento do verbo implicar estivesse certo. Este verbo no sentido de acarretar é transitivo direto, logo o seu complemento – objeto direto – não admite preposição. Frase correta: “O atraso constante da funcionária implicou suspensão por dois dias.”

Ainda os homônimos “Cansei de apressar meus funcionários para apreçar os produtos”, disse Jorge ao irmão. Novamente, cuidado com os homônimos homófonos (mesmo som, grafias diferentes). Apressar: dar pressa, agilizar. Apreçar: dar preço, dar valor.

Encontro

“A criança é malcriada porque foi mal criada.” Perfeito! Veja: Malcriado (adjetivo): descortês, mal-educado (aliás, adjetivo formado por mal somente é hifenizado quando a palavra seguinte começar com vogal ou h. Ex.: mal-humorado). Mal criado (advérbio de modo): de modo imperfeito, de modo rude.

Não me beije! “Quando eu ver você na rua, vou dar um beijo.” Esse beijo não será bom! A conjugação do verbo ver no futuro do subjuntivo é vir. Período correto: “Quando eu vir você na rua, vou dar um beijo.”

Uma questão de princípios A princípio de tudo devemos ter em princípio que poderemos ganhar essa Copa do Mundo. Ótimo! Esperamos que sim. Construção correta. Observe: a princípio – no início / em princípio – em tese, antes de qualquer coisa.

Torcida duvidosa “Jogaremos um futebol muito bom, mas contando com os fluídos positivos enviados pelos torcedores.” Assim, ficará difícil! Fluído é o particípio do verbo fluir. O que os brasileiros mandarão para o nosso time serão fluidos, sem acento. Período correto: “Jogaremos um futebol muito bom, mas contando com os fluidos positivos enviados pelos torcedores.”

Sério engano

“Luciana disse que vai ao Méier encontrar Flávia.” Perfeito! Embora Méier seja uma palavra paroxítona com ditongo tônico – Méi-er, a nova regra do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa não se aplica nesse caso, pois a mesma termina em r. Outra exceção: destrói-er.

“O menino pediu ao pai que o levasse para conhecer a sala de troféis do seu clube.” Que tristeza! Ninguém pode falar assim. O plural de troféu é troféus. Período correto: “O menino pediu ao pai que o levasse a sala de troféus do seu clube.”

Protagonismo

Quando devo usar “te” ou”ti”?

“Gabriel será o protagonista principal da peça de teatro do bairro.” Não será destaque, escrevendo assim. O protagonista, já é personagem principal, portanto protagonista principal é uma expressão redundante. Devemos evitar as redundâncias, pois elas consistem em repetir uma ideia que já está explícita no discurso, fazendo com que ele fique cansativo e comprometa a qualidade da mensagem. Frase correta: “Gabriel será o protagonista da peça de teatro do bairro.”

Não há coração apaixonado que não se desencante com uma declaração de amor do tipo “Eu ti amo”. Não se enganem mais ao empregar os pronomes oblíquos te e ti. A forma ti, com “i”, é tônica, já a forma te, com “e”, é átona. Não ajudou muito, não foi? Vamos tentar esclarecer de outro modo. Ti sempre é acompanhada de preposições (a, contra, de, em, por etc.). O mesmo não ocorre com te. Exemplo: Eu te amo é Eu amo a ti.


ornalde 6 JLetras

JL Entrevista

de Arnaldo Niskier

Yvonne Bezerra de Mello

Em defesa das crianças Arnaldo Niskier: A Yvonne Bezerra de Mello é uma heroína, eu diria, porque tem feito um trabalho notável em defesa das crianças, dos povos, dos desvalidos. Nem sempre tem sido bem compreendida, mas isso é da vida. Yvonne, como vai o seu trabalho? Yvonne Bezerra: Meu trabalho está ótimo, e eu só tenho a agradecer de estar aqui com você, um dos ícones da educação no Brasil. O trabalho está indo bem, a minha escola, o Projeto UERÊ no Complexo da Maré. Mas ela já se expandiu para 253 escolas no Brasil e cinco na Europa, que lidam com crianças refugiadas. Arnaldo Niskier: É uma metodologia que você criou. Yvonne Bezerra: É uma metodologia que eu tenho de ensino, uma gestão de sala de aula diferenciada para crianças que vivem em zonas de risco, em zonas de guerra, porque elas não conseguem aprender esse ensino tradicional vivendo sob violência constante, e isso é uma coisa que todos sabem. Arnaldo Niskier: Qual é a fórmula que você utiliza para superar isso? Yvonne Bezerra: As crianças que vivem em trauma constante têm uma memória curta, diminuída. Essa passagem memória curta/memória longa do armazenamento de informação não se faz, então o que se tem que fazer é trabalhar em sala de aula com exercícios específicos. Essas sinapses têm que ser refeitas para que as crianças comecem a pensar e armazenar tudo o que elas têm que armazenar para poder compreender os diversos conteúdos pouco a pouco. Então, basicamente, é isso que eu faço, e na minha metodologia não existe aula de 50 minutos: as aulas são de 15 minutos. Podem ter o mesmo conteúdo; porém, a cada 15 minutos, ou 12 minutos, se muda a maneira como se vai ensinar a criança com diversos exercícios, então a escola fica muito mais ativa, fica muito mais engraçada, as crianças participam muito mais, e aí se tem a certeza de que o aprendizado vai ser feito, porque não existe criança burra, existe criança ou traumatizada ou cujo método não atinge, então nós temos que pensar nisso. Tenho professores que são formados quando vêm para mim e que depois capacito na metodologia. Aqui no Brasil, já foram, nos últimos dez anos, 15 mil professores capacitados, e, na Europa acho que são mil agora. Arnaldo Niskier: Já tem mil na Europa? Yvonne Bezerra: Alemanha e Suécia, porque lá você tem as crianças refugiadas que chegam mil vezes mais traumatizadas que as nossas, crianças de 12 ou 13 anos que andaram três anos saindo do Afeganistão, do Paquistão ou da Síria, chegamnum campo de refugiados, depois elas vão para os países, Alemanha e Suécia principalmente. Chegando lá, não é possível colocá-las numa escola tradicional;elas têm que ter um ensino diferenciado para começar a se adaptar, então é isso que eu tenho feito na Europa. Arnaldo Niskier: E o que é exatamente o Projeto UERÊ? Yvonne Bezerra: O Projeto UERÊ é um formato de escola, é uma ONG especializada em crianças com dificuldade de aprendizado devido à violência ou traumas dentro do Complexo da Maré. Só tenho uma escola, que é a escola-mãe, que é a escola-modelo, e esses professores capacitados no mundo todo que aplicam a metodologia em sala de aula. Arnaldo Niskier: Você é fã das possibilidades, das virtualidades da educação? Você acha que através da educação é possível recuperar essa meninada toda? Yvonne Bezerra: Acho que só pela educação. Diria que 80% a educação e os outros 80% vamos ajeitar o Brasil e as famílias brasileiras. O problema é que o Brasil ainda é um dos piores países de educação no mundo. Não avançamos no ranking do Pisa, no ranking da Unesco. Estamos no octogésimo oitavo lugar, octogésimo nono lugar, é uma coisa impressionante. Porque ninguém consegue definir dentro dos governos o que é educar. Educar e instruir são duas coi-

sas diferentes: você instrui e você educa, então a escola tem que contemplar os dois. Aqui você não instrui nem educa, você tem uma escola curricular onde você vai depositando conteúdo e as crianças cuspindo matéria sem saber se aquela matéria realmente vai ser compreendida, entendida. E você tem uma grande parte dos brasileiros que vivem em condições básicas terríveis, e que os núcleos familiares se deterioram cada vez mais, então você não tem nem lá nem cá. O que dá? Crianças que não aprendem e não conseguem se desenvolver corretamente. Arnaldo Niskier: Outro dia, no jornal O Estado de São Paulo saiu uma matéria incrível, que dizia: o Brasil, do jeito que está, precisa de 260 anos para recuperar a leitura nas escolas, para botar num nível compatível com as necessidades. Você acredita nisso? Yvonne Bezerra: Acredito, porque, nos últimos anos, as crianças terminam a escola, os jovens terminam a escola sem ter as capacidades específicas da faixa etária. Elas não conseguem entender o que é aquilo, e aí você viu os desastres por aí. Mas sou uma pessoa otimista, acho que talvez nós tenhamos um dia gestores nesse país que possam compreender isso e que nós possamos começar a ajeitar as coisas, porque a educação não pode ser posto político; educação tem que ser posto de pessoas que entendem. Mas aqui não, aqui é o amigo do amigo do amigo que vai para esse posto e não sabe. Arnaldo Niskier: Yvonne, que lembrança você tem da tragédia da Candelária? Você participou disso ativamente na recuperação daquela garotada que superou o trauma, dos que sobreviveram, oito morreram, infelizmente. Que lembrança você tem dessa tristeza? Yvonne Bezerra: A lembrança que eu tenho é que foi um turning point da minha vida. Aquilo ali foi uma ruptura de pensamentos meus, de ações minhas, e vai fazer 25 anos em julho o que aconteceu na Candelária, e eu posso dizer tranquilamente que nada aconteceu. Eu estava revendo semana passada todos os textos que escrevi. Artigos de jornal de 25 anos atrás, eu os poderia escrever hoje. Arnaldo Niskier: E o exemplo dos pais, Yvonne, como é que funciona isso? Yvonne Bezerra: Tenho que dizer que, na minha escola, de 450 alunos, 80% das crianças não têm pai. Teve um pai para procriar, mas são mulheres sozinhas que sustentam uma família, quer dizer, é a paternidade irresponsável. É uma coisa que tem que ser trabalhada nesse país. O pai ninguém sabe quem é, então você tem mães sozinhas que trabalham o dia inteiro, mas não tem o pai na família. É uma coisa muito impressionante. As mães têm que deixar os filhos, é muito complicado. E depois também tem o problema da gravidez precoce, porque hoje acho que 36% dos partos no país são de crianças de 10 a 15, 16 anos. Então, uma geração que seria da nossa época, por exemplo, 18, 20 anos, que era quando casávamos e começávamos a ter filhos, hoje começa aos 12 ou 13 anos. É impossível elaborar políticas públicas com esse número: é uma Frankfurt por ano que nasce no país, e sem estrutura nenhuma. Então, não tem prevenção, porque não pode ter prevenção porque as igrejas não deixam, não pode fazer isso, não pode fazer aquilo, e as meninas estão aí, parindo sem orientação nenhuma. E isso é muito triste. Arnaldo Niskier: Yvonne, é uma batalha. Fico imaginando como você trabalha para que essas coisas se modifiquem e como você precisa da solidariedade de todo mundo. Você conta com essa solidariedade ou você vai sozinha mesmo? Yvonne Bezerra: Conto com uma solidariedade parcial, vou dizer por quê: porque chegamos a um ponto no Brasil, especialmente depois desses últimos anos, Lava Jato e tal, onde as pessoas estão muito desacreditadas, as pessoas acham que nada mais vai acontecer, porque você tem leis lenientes, porque as coisas não acontecem, porque o sujeito

é condenado, mas ele não vai preso. As pessoas estão muito desacreditadas, então quando vou passar uma mensagem positiva, de que seria possível modificar esse estado educacional no Brasil, as pessoas são muito céticas, acham que eu sou uma louca. Já acham que sou uma louca porque eu estou na favela, enfim, tento passar de que nós não podemos ser mais só espectadores, nós temos que fazer parte do processo. E é essa a maior dificuldade, porque é muito mais fácil você defender o status quo que lhe é favorável. Na classe mais alta, o status quo é favorável de uma certa maneira. Então para que você vai mudar? O que isso vai trazer para você? Vai trazer satisfação. Arnaldo Niskier: Por que isso entrou na sua cabeça? Porque você só tem sido prejudicada pessoalmente. Você quer entrar no clube, não deixam, porque você é avançada demais. Por que você resolveu abraçar essa causa? Yvonne Bezerra: Eu vou dizer a você. A Lucy Barreto vai fazer um filme sobre a minha vida, e eu comecei a escrever minhas memórias. Voltei muito atrás, assim quando eu tinha 4, 5, 6 anos, e fiquei muito impressionada de ver como, com 6 anos de idade, já era eu, porque eu fui uma criança que sofri muito bullying na escola. Então eu me sentia injustiçada. Perto da minha casa já tinha crianças na rua, e eu olhava aquelas crianças e as achava parecidas comigo, porque elas também eram injustiçadas. Desde muito pequena, tanto que eu comecei a fazer trabalho voluntário com 12 anos de idade. Arnaldo Niskier: Você foi influenciada pelos seus pais, irmãos? Yvonne Bezerra: Eu fui influenciada pela minha mãe, porque meu pai, infelizmente, aparecia só de vez em quando, e esse foi o motivo do bullying, porque a minha mãe era desquitada. Na época, filho de desquitada... Arnaldo Niskier: Isso não pode. Yvonne Bezerra: Não pode, filho de desquitada não pode. E eu tive, não foi um contato muito grande, mas foi um contato muito bom, com meu avô, que era judeu, e aí comecei a ler toda a filosofia judaica, Spinoza e outros, com 12, 13 anos de idade, e me dediquei muito a esses estudos. Tanto que esse ano fui dar aulas na Polônia em duas universidades e fui a Auschwitz-Birkenau, e tenho que dizer a você que fiquei muito emocionada. Arnaldo Niskier: Em Auschwitz ficaram três milhões de judeus. Pode uma coisa dessas? Yvonne Bezerra: E aquela visita mudou alguma coisa em mim. Resolvi ser mais lutadora ainda, porque não quero que aquilo aconteça mais com ninguém. Acho que a minha vida foi uma sucessão de fatos que fazem com que eu acredite que não quero nenhuma criança sofrendo. Então o que eu puder fazer para melhorar isso... Não vou dizer que vou acabar. Estive agora na Suécia com aqueles meninos refugiados completamente traumatizados. Disse: nós temos que fazer alguma coisa, dar a essas crianças uma possibilidade acreditar que pode. Arnaldo Niskier: São muitos na Suécia? Yvonne Bezerra: São muitos, inclusive meninos sozinhos, que chegam lá com 15 anos. Arnaldo Niskier: Vêm da onde? Yvonne Bezerra: Vêm do Paquistão, do Afeganistão, principalmente da Somália, e eles passam três anos, e nem sabem mais quem são os pais, onde moram os pais, não sabem mais nada, não têm mais identidade. Eles vão ter que ter uma identidade, e aí fui capacitar esses professores para começar a lidar com eles. Arnaldo Niskier: Você faz isso em inglês? Yvonne Bezerra: Faço em inglês, exatamente. Então eu vou dizer a você: isso me faz continuar, isso me faz pensar que é uma luta da minha vida e que eu não vou terminar nunca, até o último dia, até o dia que eu puder ficar em pé, mas acho que todos nós temos obrigação de fazer um pouco isso. Arnaldo Niskier: O seu livro é para quando? Yvonne Bezerra: O meu livro da pedagogia já lancei em novembro do ano passado, mas não consegui editora, então eu mesma editei. Nenhuma editora se interessou. Já é o segundo livro da pedagogia. Tenho cinco livros escritos, e infelizmente não houve grande interesses, mas continuo escrevendo, estou escrevendo mais dois. Arnaldo Niskier: E o livro da sua vida? Yvonne Bezerra: O livro da minha vida estou escrevendo agora para ajudar a Lucy Barreto nesse filme que vai ser feito. Arnaldo Niskier: Ela só faz coisa boa. Yvonne Bezerra: Eu acho que vai ser coisa boa com certeza. Arnaldo Niskier: Olha, querida, peço a Deus que proteja o seu trabalho, que você continue a fazer essa coisa bonita que é a defesa das crianças, sobretudo das crianças que têm necessidade desse tipo de ajuda. Nós aqui estamos a sua disposição para ajudar no que couber. Parabéns, Yvonne Bezerra de Mello.


ornalde 7 JLetras

JL Livros e Autores manoela.ferrari@gmail.com

por Manoela Ferrari

Da Locomotiva à máquina de escrever Da locomotiva à máquina de escrever (Ed. Chiado, 2018) foge ao padrão das biografias tradicionais, repleta de datas e minuciosas descrições sobre a vida da celebridade homenageada. Esta obra sobre Francisco Ignácio do Amaral Gurgel, precursor da radionovela, considerado o maior novelista brasileiro de todos os tempos, foi escrito a quatro mãos por dois dos seus maiores fãs: José Sergio do Amaral Gurgel e Sergio Ricardo do Amaral Gurgel, filho e neto do escritor. Ao longo de 168 páginas, ilustradas por raras fotografias e recortes de matérias divulgadas pela imprensa, além da história das radionovelas brasileiras, o leitor encontrará os mais íntimos relatos. Com uma linguagem simples e sensível, os autores escreveram sobre um tema estranho às suas atividades profissionais. Sergio Ricardo, o neto, é advogado, atuando na área criminal desde 1994. Professor de pós-graduação em Direito Público, possui seis obras publicadas na área jurídica. Em Brasília, além de prestar assessoria jurídica junto ao Congresso Nacional, representa a Amaral Gurgel Advogados no âmbito do Direito Penal Econômico. José Sergio, filho de Amaral Gurgel, é arquiteto formado pela UFRJ. Prestou serviços de tradutor de romances estrangeiros para a Editora Bruguera. Por mais de 30 anos, ocupou diversos cargos públicos, entre eles, a presidência da FUNDREM (Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro). Sempre se dedicou a atividades artísticas em geral, como pintura, música e poesia. A sensibilidade da narrativa dos autores, sem deixar de lado os registros históricos que marcaram uma época de intensa produção cultural no país, resulta numa obra de amplo interesse e altamente recomendável.

O poeta Carlos & outros Drummonds O escritor e jornalista cearense Edmílson Caminha relembra a convivência com Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), reunindo em O poeta Carlos & outros Drummonds (Ed. Thesaurus, 2017) 37 artigos e crônicas sobre o autor do Poema de Sete Faces. Nos 30 anos da morte do poeta, os textos relembram Dona Dolores, o porto seguro do companheiro com quem foi casada por 62 anos; Maria Julieta, a filha que morreu doze dias depois do pai; o genro Manolo, também poeta e tradutor para o castelhano da poesia do sogro; os netos Carlos Manuel, Luis Mauricio e Pedro Augusto, herdeiros que mantêm viva a presença literária do avô. O cearense Edmilson Caminha é Membro do PEN Clube do Brasil, da Academia Brasiliense de Letras e Academia de Letras do Brasil, com diversas obras publicadas, entre elas: Palavra de escritor (1955), Inventário de crônicas (1997); Villaça, um noviço na solidão do mosteiro (1998); Lutar com palavras (2001); Drummond, a lição do poeta (2002); Pedro Nava, em busca do tempo vivido (2003); Rachel de Queiroz, a senhora do Não me Deixes (2010); Em memória de Drummond (2012); Dos rios do Pará aos verdes mares do Ceará (2013); Com a mala na cabeça (2014) e O professor, Beethoven e o ladrão (2016), entre outras.

Curso de Direito Constitucional Contemporâneo Editado pela Saraiva, a 6ª edição do livro Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo, de autoria do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, apresenta uma exposição didática e crítica dos grandes temas e das principais transformações ocorridas nos últimos anos no Direito. A obra apresenta uma introdução abrangente à teoria da Constituição e ao Direito Constitucional, com o olhar de um autor reconhecido nacional e internacionalmente. De maneira didática, expõe principalmente as transformações na área ao longo dos anos. O texto traz os conceitos fundamentais da teoria da Constituição, que teve seu objeto ampliado, e do direito constitucional, que assumiu definitivamente o seu caráter normativo, procurando conformar a realidade social e dando nova dimensão à jurisdição constitucional. Desde junho de 2013, ministro do Supremo Tribunal Federal, Luis Roberto Barroso é mestre pela Yale Law School, nos Estados Unidos, doutor e livre-docente pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, bem como professor e pesquisador visitante em diversas instituições, no Brasil e no exterior. É autor de livros clássicos, como O controle de constitucionalidade no direito brasileiro, e de numerosos artigos publicados no Brasil e no exterior, incluindo França, Estados Unidos, Espanha e México.

Janela Ao atravessar as 58 crônicas reunidas em Janela (Ed. Bagaço, 1997), segundo livro de crônicas da acadêmica pernambucana Marly Mota, o leitor percebe, neste resgate memorialístico, delicados flagrantes que evocam vultos e cenas comuns a todos nós. De acordo com o prefácio, assinado pelo escritor Daniel Lima: “O livro de Marly Mota é realmente uma janela que se abre para o tempo, não, porém, para se assistir a um desfile de sombras, pois não é uma ancoragem num tempo morto. Muito ao contrário, pessoas e coisas nele evocadas tornam-se vivas, familiares, e a distância, dissolvida, poeticamente, torna-se presença.” Marly de Arruda Ramos Mota nasceu no Engenho São Francisco, em Ipojuca (PE), em 1926. Nos anos 1940, transferiu-se para o Recife, onde cursou Magistério da Escola Normal, e conheceu o poeta, jornalista e professor Mauro Mota, com quem se casou e teve quatro filhos. Estreou na atividade literária com o livro de crônicas Pátio da Matriz, em 1965, mesmo ano em que produziu as primeiras telas, em estilo naif. Em 1997, lançou este segundo livro de crônicas, Janela. No ano seguinte, foi eleita para a Academia de Artes e Letras de Pernambuco. Artista plástica, sua primeira exposição de quadros foi em 1967. Em 1995, pintou a coleção de 12 telas Cenas Ecianas, sobre textos do escritor português Eça de Queiroz, que integram o acervo da Biblioteca municipal Rocha Peixoto, da Póvoa de Varzim.

Década perdida No livro Retrato de uma década perdida (Editorial Abaré, 2017), o senador Cristovam Buarque mostra um retrato do futuro do Brasil se perdendo na década entre 2005-2015, através da vida de uma menina de seis anos chamada Taciana, em 2005, e de seu filho Ângelo, em 2015. De acordo com o senador e ex-ministro da educação, devido à ausência do Estado nos rincões do País, Brasil não rompeu a tragédia da educação. O livro revela também as tentativas feitas junto aos ex-presidentes Lula e Dilma, diante da apresentação de propostas para, por meio da educação, quebrar o círculo vicioso da pobreza que une a mãe adolescente a seu filho criança e os conecta a seus avós e antepassados, repetindo-se no futuro. No final, o autor acrescenta uma mensagem aos colegas políticos, com uma proposta de fazerem o que não fizeram os antecessores: “mudar a cara do futuro, mudando a cara de nossas escolas. Porque o futuro de um país tem a cara de sua escola no presente.” Engenheiro mecânico, economista, educador, professor universitário, o senador Cristovam Buarque é filiado ao Partido Popular Socialista (PPS). É o criador da BolsaEscola, que foi implantada pela primeira vez em seu governo no Distrito Federal. Reitor da Universidade de Brasília (1985 a 1989), governador do Distrito Federal (1995 a 1998), foi eleito senador pelo Distrito Federal em 2002. Ministro da Educação entre 2003 e 2004, no primeiro mandato de Lula. Foi reeleito nas eleições de 2010 para o Senado pelo Distrito Federal, com mandato até 2018.

Pelas mãos dos avós Pelas mãos dos avós (2018) é uma narrativa de memória, onde o autor Francisco Aurélio Ribeiro relembra, com lirismo, sua infância e sua convivência com os avós. No livro, são narradas as histórias do avô, imigrante que saiu da Itália com os pais, aos seis anos de idade, e sua dura luta pela sobrevivência no Brasil, passando pela união com uma brasileira, neta de índios e negros. A leitura encontrará o caminho da leveza, com uma linguagem bem conduzida e alinhavada ao longo de toda a narrativa. Presidente da Academia Espírito-Santense de Letras, Francisco Aurélio Ribeiro nasceu em Ibitirama, na Serra do Caparaó, em 1955. Escritor e professor de Literatura Comparada, há mais de 45 anos é pesquisador de Literatura e História do Espírito Santo, tendo atuado em todos os níveis de ensino. Possui mais de 50 livros publicados, sendo vinte e um de literatura infantojuvenil e os demais de crônicas, historiografia e crítica literária. Entre os títulos publicados, estão Era uma vez uma chave, Leve como a folha, O ovo perdido, A casa mal assombrada, Frajola e sua paixão, Mistérios de lá e de cá, A gralha e a tralha, Ora, pombas!, Circe e Ricardo, Seu Miséria e Dona Pobreza, Nos passos de Anchieta, O menino e os ciganos e Clarissa e o beija-flor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do ES, é cronista e articulista do jornal A Gazeta.


ornalde 8 JLetras

Passeando por “Sampa”, de Caetano Veloso Por Antonio Carlos Secchin 1 Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João, é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas. Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução, alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João. Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto, chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto, 12 é que Narciso acha feio o que não é espelho, e à mente apavora o que ainda não é mesmo velho, nada do que não era antes quando não somos mutantes. E foste um difícil começo, afasto o que não conheço, e quem vem de outro sonho feliz de cidade aprende depressa a chamar-te de realidade, porque és o avesso do avesso do avesso do avesso. 19 Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas, da força da grana, que ergue e destrói coisas belas, da feia fumaça que sobe apagando as estrelas, eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços, tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva. Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba, [mas possível novo quilombo de Zumbi, e os novos baianos passeiam na tua garoa, 26 e novos baianos te podem curtir numa boa. (Disco Muito, 1978)

Proponho uma divisão em 3 partes: versos 1 a 11 – relação inicial com a cidade; versos 12 a 18, questionamento dessa visão inicial; verso 19 em diante, relação atual com São Paulo, ou melhor, com Sampa. É uma letra-mosaico, composta de numerosas referências e alusões à cultura paulistana em fins da década de 1960, no campo do urbanismo, da MPB, da poesia, da ficção, do teatro. A referência é mecanismo de caráter explícito: avenidas São João e Ipiranga (o centro velho de São Paulo), a cantora e compositora Rita Lee, o mito de Narciso, a figura histórica de Zumbi dos Palmares. A alusão é velada, oblíqua: um palimpsesto, em que uma palavra contém um referente embutido para além do referente imediato dela própria. Exemplo claro: a “dura poesia concreta de tuas esquinas”, verso 4: o cimento frio da urbe, ainda assim portador de certa – dura – beleza – e, numa segunda camada, a da alusão, o movimento da poesia concreta. Outras alusões: verso 14, o conjunto musical Os Mutantes; verso 16: Santo Amaro, que corresponderiam ao sonho feliz da cidade de origem do compositor; verso 22: poetas de campos, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos; verso 23, o Teatro Oficina, grupo dirigido por José Celso Martinez Correia que, em 1967, encenou O rei da vela, de Oswald de Andrade; verso 23, deuses da chuva: alusão a Jorge Mautner, que, em 1962, publicou Deus da chuva e da morte; e provavelmente aos “Demônios da Garoa”; verso 24, três alusões: Pan-América, romance de José Agripino de Paula, publicado em 1967, “túmulo do samba”: “São Paulo é o túmulo do samba”, frase infeliz de Vinicius de Moraes, e peça “Arena conta Zumbi”, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, com música de Edu Lobo; verso 25: Os Novos Baianos, grupo musical que surgiu em 1969. Retornemos à letra, em sua parte 1. “Alguma coisa acontece no meu coração”. Tanto ou mais do que a cidade, o poeta vai falar de sua reação, refratária ou amistosa, frente a São Paulo. Vai tentar avaliar-se e entender-se

através do modo como avalia a cidade. Falará desse afeto ambíguo, dessa “alguma coisa”, que ele ainda não sabe bem o que é, e, para tentar descobrir, vai atravessar a avenida que liga o seu coração ao Centro, o coração da cidade. Só quem admite nada ter entendido é que estará desarmado e disponível para tudo tentar entender. O caminho da compreensão de uma realidade a princípio feia, hostil, passa pela dissolução do maniqueísmo, pela relativização dos juízos condenatórios, muitas vezes taxativos e preconceituosos. A Parte 1, dos versos 1 ao 11, é a confissão do desconhecimento e da consequente recusa dessa estranha realidade urbana, marcada pela predominância de verbos no passado: cheguei, [nada] entendi, havia, encarei, [não] vi, chamei. Na Parte 2, dos versos12 ao 18, o poeta questiona a recusa e admite que o problema pode estar não no objeto, mas no observador, não na realidade que é vista, mas no ângulo restrito pelo qual ela era captada. Na Parte 3, do verso 19 em diante, com os verbos no presente, surge sua relação atual e amistosa com o espaço urbano, fundamentada na aceitação antinarcísica das diferenças desse outro-cidade. É seu retorno à mesma cidade, mas que se tornou diferente pela mudança de olhar a ela dirigido. Haverá, portanto, na parte 3, a desconstrução da recusa inicial da parte 1, após essa recusa ter sido posta em xeque na parte 2. No final da parte 1, os versos 10 e 11, “Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto / chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto” corresponderiam ao momento da eclosão do incômodo resistente face à força do real. Estabelece-se uma relação de causalidade: encarar a cidade, não ver o rosto – logo, aquilo que não me espelha necessariamente eu desqualifico como mau gosto. O problema parece situar-se lá, o mau gosto aparenta ser uma categoria externa eobjetiva, estou certo disso. Só que não. Terei certeza? Por que, se afirmo que aquilo é mau gosto, preciso tanto insistir? “Mau gosto” por 3 vezes – quem sabe até para que, à custa da repetição, eu acabe me convencendo de que é verdade aquilo em que eu quero acreditar. Para tentar dissolver o incômodo, é necessário desconfiar dessa proclamação do mau gosto, essa pedreira no meio do caminho, atrapalhando a fluência de minha transa e de meu trânsito em direção à cidade. Tenho de justapor à minha convicção a pergunta: “Por que?” Na parte 2, o poeta desmonta o mecanismo protetor, de defesa, que consiste na desqualificação do outro para não ter que reprocessar os próprios valores, para não ter que arduamente dissolver suas autoverdades cristalizadas. Caetano formulou um “por que?” implícito, ao fim do verso 11, tanto que se segue, no verso 12, uma resposta explícita: “é que Narciso acha feio o que não é espelho.” O verso “e à mente apavora o que não é mesmo velho” corresponde ao ponto central da canção: literalmente, é a linha ou a pedra lançada no meio do caminho do texto: verso 13, de um total de 26. Momento de movimento para o segundo lado. Desafio a ser vencido na passagem, ou ultrapassagem, de uma realidade a outra, da negação à aceitação de São Paulo. E se trata de um verso sintomática e sintaticamente perverso, cuja forma, num primeiro momento, nos espanta e incomoda, uma construção pouco usual, que tenderíamos a repelir: a anteposição repentina de um objeto direto preposicionado: “à mente.” De modo intuitivo, nossa leitura busca a segurança da ordem convencional, em que o sujeito antecede o objeto. E, ao “corrigir” a sintaxe, caímos na armadilha e constatamos a força do que ali se diz: realmente, tudo que não é velho, logo, tudo que é novo, apavora, até mesmo um objeto direto fora do lugar. O apego ao que já se encontra consolidado nos leva a não querer “nada do que não era antes” – o mundo é normativamente repetitivo, a menos que tenhamos a coragem de sermos mutantes. O poeta efetua o salto, ele, que veio lá de Santo Amaro com um pacote pronto com a receita de seu antigo sonho “feliz de cidade”, de plena felicidade. Essa realidade indomável, em mutação, em que de uma coisa ele vê outra surgir, ocupa a parte 3, continuamente desfazendo imagens estáticas, em prol do “avesso do avesso do avesso do avesso”. Mas não se trata da aceitação pacífica do “vale tudo”. Trata-se, ao contrário, da compreensão da tensa coexistência das contradições inerentes à dinâmica da vida. Exemplos: o dinheiro, capaz de gerar e destruir beleza; a fumaça, que compete com as estrelas, mas não consegue bloquear o brilho que emana dos poetas, mesmo no espaço da escuridão; a negritude, que, se de um lado se associa a túmulo do samba, de outro tem potência para trazer à tona a utopia libertária de Zumbi; e o poeta, que, sendo antigo, se apresenta, no fim do texto, como um novo baiano, porque conseguiu modificar-se, a ponto de se tornar outro baiano. Sabiamente, ele aprendeu que, se Narciso desviar-se da projeção obsessiva de seu próprio rosto, aí então, dentro de um espelho acolhedor e vazio, pode caber uma cidade inteira.


ornalde 9 JLetras

Demagogia no caminho da educação de qualidade Por Janguiê Diniz* A experiência internacional mostra que não há desenvolvimento social e econômico senão pelo caminho a ser trilhado na vereda da educação de qualidade, condição somente alcançada com a existência de órgãos responsáveis pela pauta educacional, fortalecidos e respeitados em suas atribuições. Este é um cenário que não se conquista sem ampla colaboração da sociedade e de governos, que devem trabalhar incansavelmente na construção de mecanismos capazes de garantir uma efetiva atuação das instituições envolvidas na esfera educacional, além de suportá-las por meio da constante demonstração de confiança e respeito. Os últimos acontecimentos, contudo, revelam um cenário perigoso de constantes tentativas de usurpar a competência de órgãos como o Ministério da Educação (MEC), o Conselho Nacional de Educação (CNE) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) – um escárnio ao trabalho sério e responsável desenvolvido por essas instituições.

Tais ações têm sido fundamentadas em bandeiras oportunistas, sob o falacioso argumento de que a qualidade dos cursos de graduação ofertados no país somente seria assegurada caso conseguissem, definitivamente, usurpar a alçada do Ministério da Educação e órgãos correlatos. Ora, políticas públicas para o desenvolvimento da educação não se faz com discursos demagogos e soluções inventivas motivadas por interesses classistas. Educação precisa ser tratada com técnica, estudos, competência acadêmica, discussões colegiadas, construções com a participação da sociedade, tudo de forma harmoniosa, organizada, ordeira e com claras competências definidas e repartidas entre os órgãos técnicos. Por óbvio, tem-se a clareza de que intercorrências acontecem, falhas podem se apresentar, mas não se constrói nada a partir de posturas belicosas e de apartamento dos atores envolvidos na educação. Especialmente a Constituição, e ainda toda a legislação vigente, definem com clareza as competências atribuídas a cada ministério, órgão e setor. Tais entidades devem ser fortalecidas com a participação colaborativa da sociedade, não com discurso de enfraquecimento para então querer ditar unilateralmente as regras. É preciso que cada cidadão e cada instituição, governamental ou não, reafirme seu compromisso de apoiar verdadeiramente a educação, rechaçando qualquer iniciativa motivada por interesses dissociados das metas traçadas em um dos mais importantes documentos para o setor que é o Plano Nacional de Educação (PNE). O país tem uma tarefa a cumprir e é essencial a atuação daqueles que queiram contribuir.

*Janguiê Diniz é mestre é doutor em Direito – Reitor da UNIVERITAS – Centro Universitário Universus Veritas – Fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional.

Diretoria 2018: Presidente: Marco Lucchesi sta e Silva Secretário-Geral: Alberto da Co do 1ª Secretária: Ana Maria Macha 2º Secretário: Merval Pereira lho Tesoureiro: José Murilo de Carva

Leituras dramatizadas

3 de maio 17h30min | Ciclo de Conferências LITERATURA E LOUCURA O romance de Maura Lopes Cançado Coordenação: Acad. Antônio Torres Conferencista: Gilberto Araújo

17h30min | Ciclo de Conferências LITERATURA E LOUCURA O ABISMO E O OBSTÁCULO: observações pontuais de Clarice Lispector, Virginia Woolf e Jacques Rivière sobre a [lou][cura] Coordenação: Acad. Antônio Torres Conferencista: Roberto Corrêa dos Santos

L

Livre para todos os públicos

Teatro R. Magalhães Jr.

17 de maio

10 de maio 17h30min | Ciclo de Conferências LITERATURA E LOUCURA Antonin Artaud, o exemplo anômalo Coordenação: Acad. Antônio Torres Conferencista: Ana Kiffer

24 de maio 17h30min | Ciclo de Conferências LITERATURA E LOUCURA Horacio Quiroga e seus contos de amor, de loucura e de morte Coordenação: Acad. Antônio Torres Conferencista: Eric Nepomuceno

15h | 23 de maio Não Consultes Médico Machado de Assis

Petit Trianon Visitas guiadas 14h | Segundas, quartas e sextas Agendamento: (21) 3974-2526 visita.guiada@academia.org.br

17 de maio 14h30min | Lançamento Dicionário Carlos Nejar, um Homem do Pampa Ed. Mecenas, organização de Luiz Coronel


ornalde 10 JLetras

Falcão imortal Por Manoela Ferrari

Foi eleito para a cadeira número 3 do quadro dos membros efetivos, vaga com a morte do acadêmico Carlos Heitor Cony, o jurista e escritor Joaquim Falcão. Concorrendo com a escritora Vilma Guimarães Rosa, filha de João Guimarães Rosa (1908-1967), Falcão venceu a disputa com 32 dos 35 votos possíveis. Houve três votos nulos. Carioca, com fortes ligações com Pernambuco, o mais novo acadêmico é advogado, professor de Direito Constitucional e diretor da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas. Mestre em Direito pela Universidade de Harvard (EUA) e doutor em Educação pela Universidade de Genebra, na Suíça, o conhecimento e a formação de Joaquim Falcão foram importantes em muitos projetos dos quais participou. “Nós estamos muito felizes porque Joaquim Falcão é um pensador do Brasil, é um homem que tem a responsabilidade com os desafios do presente, portanto, é uma força muito vigorosa para a cidade, para o Brasil e, naturalmente, para a Academia Brasileira de Letras”, afirmou o presidente da ABL, Marco Lucchesi.

manoela.ferrari@gmail.com

Durante a redemocratização, Falcão foi membro da Comissão Afonso Arinos e chefe de gabinete do Ministério da Justiça (1985-1986), com o ministro Fernando Lyra. Ex-diretor da Faculdade de Direito da PUC-Rio, tem um longo histórico de participação em organizações do terceiro setor, incluindo a Fundação Pró-Memória e a Fundação Joaquim Nabuco, onde, junto com Gilberto Freyre, fundou o Departamento de Ciência Política. Na década de 1980, convidado a dirigir a Fundação Roberto Marinho, permaneceu até 2000. Na época, criou o pioneiro Globo Ecologia e o Futura, além do Telecurso 2000, que, até hoje, permitiu que mais de sete milhões de brasileiros concluíssem a educação básica. Participa ativamente de conselhos de várias organizações da sociedade civil, como Viva Rio, Instituto Itaú Cultural, Instituto Hélio Beltrão, Centro de Liderança da Mulher, Associação de Amigos do Museu Histórico Nacional. Ex-membro do Conselho Nacional de Justiça (2005 a 2009), além de secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, presidente da Fundação Pró-Memória, e membro do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Suas publicações incluem Democracia, Direito e terceiro setor e A favor da democracia, ambos de 2004, além de Pesquisa Científica e Direito (1983) e Conflitos de Propriedade: Invasões Urbanas (1984), Mudança Social e Reforma Legal: Estudos para uma nova legislação do terceiro setor (1999), como organizador. Outros livros de destaque: O Supremo (Edições de Janeiro, 2015); Reforma Eleitoral no Brasil (Grupo Editoria, Record, 2015); O imperador das ideias – Gilberto Freyre em questão; Quase todos; Mensalão – Diário de um Julgamento; Fundamentos de Direito Constitucional; Administração Pública Gerencial; Novas Parcerias entre os Setores Público e Privado; Tributação Internacional e Planejamento Tributário; Ordem Constitucional Econômica e Normas Gerais de Direito Tributário. É autor de diversos artigos sobre ensino jurídico, direito constitucional, reforma do judiciário, democracia e patrimônio cultural em revistas especializadas, além de colaborador do Correio Braziliense, da Folha de São Paulo e da revista Conjuntura Econômica. É, ainda, colaborador do jornal O Globo, escrevendo sobre temas relacionados ao Supremo Tribunal Federal.

Fotos: Guiherme Gonçalves

Joaquim Falcão recebe os cumprimentos do acadêmico Antônio Carlos Secchin.

O acadêmico Joaquim Falcão é recebido pelos colegas imortais.


ornalde 11 JLetras

“Costumo dizer que a Academia é um conjunto de pluralidades, sincréticas, como o Brasil. Coincidiu que eu me especializei no Supremo. A Academia representa a autoestima do brasileiro, do brasileiro que pensa sobre si mesmo, do brasileiro que interpreta sobre si mesmo, liberdade de expressão, independência dos intelectuais. Muito necessário nos dias de hoje”, declarou o novo acadêmico.

Em momento de descontração, a família do novo imortal registra a alegria pelo celular.

O novo acadêmico, entre o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marco Lucchessi e o acadêmico Antonio Cicero.


ornalde 12 JLetras

JL Literatura Infantil

Por Anna Maria de Oliveira Rennhack

Visite a nossa página na internet: annarennhack.wix.com/amor

Literatura e Didática Mestre em educação, pedagoga, editora de livros infantis e didáticos — e-mail: amor.anna2014@gmail.com

A pedido da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ, fiz uma breve análise do novo edital do Governo para a aquisição de obras literárias para crianças e jovens. Ao mesmo tempo em que o mercado editorial comemora o retorno das compras, que injetam recursos nas editoras e devolvem aos alunos da rede pública o acesso à literatura, nos deparamos com exigências que não são pertinentes aos livros literários, descaracterizando-os na qualidade primordial de liberdade e descobertas. A obrigação de transformar obras literárias em projetos didáticos retoma preceitos antiquados da literatura utilitária, com normas de boa conduta e conselhos, ressuscitando temas transversais e tutelando as atividades do professor. Destaco alguns pontos do texto da AEILIJ: Como ponto negativo mais grave, a didatização da Literatura Infantil e Juvenil, atrelada a temas (quem não se lembra dos temas transversais?). A Literatura é livre e criativa. Exigir um manual para o professor com orientação para trabalhar a obra em sala de aula é um retrocesso de muitos anos. O enquadramento das obras de literatura a temas pré-definidos (com apresentação de justificativa para os que não se enquadrem aos temas propostos) e a obrigatoriedade de serem acompanhadas por um Manual do Professor digital (para os anos iniciais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio – PNLD 2018 Literário – e para os anos finais do Ensino Fundamental – PNLD 2020 , representa um retrocesso à leitura literária e à sua aplicação na sala de aula. O Edital prevê a inclusão de informações, a nosso ver, didáticas, incluídas no próprio volume da obra literária, descaracterizando o que entendemos como obra literária e a liberdade temática e criativa inerentes à literatura. “Cada obra literária inscrita deverá incluir, no próprio volume, informações paratextuais que: (1) contextualizem o autor e a obra; (2) motivem o estudante para leitura e (3) justifiquem a correspondência entre a obra, a categoria, o(s) temas(s) e o gênero literário, exceto para as obras da educação infantil. As informações paratextuais são critérios de avaliação das obras dos anos iniciais do ensino fundamental e do ensino médio.” (PNLD 2018 Literário - 4.20 e 4.20.1 – p.5) É importante ressaltar que nem sempre os detentores dos direitos autorais permitem qualquer alteração na obra original, principalmente no caso de obra estrangeira que, muitas vezes, incluem a proibição em contratos de edição, o que dificulta atender a essa exigência. Quanto à elaboração do Manual do Professor para as obras literárias, entendemos, pelo exposto no referido Edital, que não se coaduna ao aspecto libertário e criativo que a literatura reflete. Lembramos texto da educadora mineira Maria Antonieta Cunha, à época dos temas transversais, que afirmava que, ao enquadrarmos os livros de literatura infantil e juvenil aos parâmetros curriculares e a este ou aquele tema transversal, muitas vezes deixávamos de perceber aspectos muito mais ricos trazidos na própria obra.

O edital afirma que o Manual é parte integrante da aquisição das obras literárias, conforme especificações e, além disso, deverá estar em consonância, conforme o caso (sic), com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) ou as Diretrizes e Orientações Curriculares para o Ensino Médio e ser composto por Material de Apoio que: 1. Contextualize o autor e a obra; 2. Motive o estudante para leitura/escuta; 3. Justifique a pertença da obra aos seus respectivos temas, categoria e gênero literário; 4. Incluam subsídios, orientações e propostas de atividades para a abordagem da obra literária com os estudantes. 5. Prepare os estudantes antes da leitura das respectivas obras (material de apoio pré-leitura), assim como a retomada e problematização das mesmas (material de apoio pós-leitura). 6. Inclua orientações gerais para aulas de outros componentes ou áreas para a utilização de temas e conteúdos presentes na obra, com vistas a uma abordagem interdisciplinar. As editoras que dispuserem de recursos também poderão produzir um programa audiovisual tutorial, tipo vídeo-aula, com as mesmas orientações acima, com cerca de 5 minutos de duração. Bem sabemos da complexidade e custos da produção desse material que, apesar de facultativo, caso aprovado em avaliação pedagógica, será incluído como recurso para os professores. Os Anexos II e III apresentam as características técnicas (formato, papel etc.) e os critérios para a avaliação das obras literárias, ancorada em quatro dimensões: 1. Qualidade do texto; 2. Adequação de categoria, de tema e de gênero literário; 3. Projeto gráfico-editorial; 4. Qualidade do manual do professor digital. Para o PNLD Literário 2018, estão previstas seis Categorias, descritas em quadros com Temas e Enfoque da Obra. Fica claro que autores e editores, para se adequarem às exigências do Edital, vão precisar trabalhar com equipes pedagógicas e multidisciplinares para a confecção dos manuais, enquadrando suas obras às Categorias propostas pelo MEC e à BNCC. A complexidade da elaboração de atividades pré e pós-leitura e de interdisciplinaridade exigem conhecimentos didáticos, motivacionais e curriculares. O mesmo acontece para a preparação do material audiovisual facultativo, que, apesar de não ser obrigatório, certamente contará pontos positivos para a avaliação da obra. O saudoso autor Bartolomeu Campos de Queirós sempre destacou a promoção da leitura literária como instrumento de aquisição da cidadania (Movimento por um Brasil Literário), ao mesmo tempo em que reafirmava a liberdade da literatura. Seria bom que o MEC considerasse a afirmativa do Bartô, deixando a literatura livre e não a enquadrando em esquemas limitantes. “...o que a escola pretende é menor do que a arte possibilita. A escola empobrece a literatura quando interrompe o voo permitido por ela em detrimento da formalização.” (In: Bartolomeu Campos de Queirós – Uma inquietude encantadora. Org. ABL – Associação de Leitura do Brasil – FNLIJ. São Paulo: Moderna, 2012, p. 77) Uma última palavra, o professor não é um indivíduo tutelado, limitado em sua iniciativa e criação, prisioneiro de manuais e planos. Conhecedor de seus alunos e possibilidades, amplia as perspectivas e propõe novas oportunidades para crianças e jovens a quem se dedica. Se isso não ocorre, há que se propor novos cursos, treinamento, embasamento para o desempenho da sua função, e não alterar a proposta máxima da literatura e enquadrá-la em situações limitantes. É desumano o pássaro preso na gaiola. Ele é livre! Liberdade é a palavra base da Literatura.


ornalde 13 JLetras

JL

BBB

BibliotecaBásica BásicaBrasileira Brasileira Biblioteca

O Jornal de Letras apresenta mais três autores cujas obras não podem faltar numa Biblioteca Básica Brasileira. acervo JL

acervo JL

Antonio Houaiss Professor, diplomata e filólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 15 de outubro de 1915 e faleceu no dia 7 de março de 1999, na mesma cidade. Perito-contador pela Escola de Comércio Amaro Cavalcanti (1933); curso secundário de madureza (1935); bacharel (1940) e licenciado (1942) em letras clássicas pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Foi vice-cônsul do Consulado Geral do Brasil em Genebra (1947 a 1949), participou de assembleias gerais das Nações Unidas, da Organização Internacional do Trabalho, da Organização Mundial da Saúde e da Organização Mundial de Refugiados. Colaborou na imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo, tendo sido redator do Correio da Manhã (1964-1965). Membro da Comissão Machado de Assis e da Academia Brasileira de Filologia, eleito em 1960. Editor-chefe da Enciclopédia Mirador Internacional. Exerceu o cargo de Delegado do Governo Federal para proceder nos países de língua oficial portuguesa (Angola, Cabo Verde, GuinéBissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe); participou do Encontro para a Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa (janeiro-fevereiro de 1986), foi membro da delegação brasileira no Encontro para a Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, em maio de 1986. Ministro da Cultura do Governo Itamar Franco (1993); foi membro do Conselho Nacional de Política Cultural, do Ministério da Cultura (1994-1995). Foi presidente da Academia Brasileira de Letras (1996). Quinto ocupante da cadeira 17, foi eleito em 1º de abril de 1971, na sucessão de Álvaro Lins, e recebido pelo acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco em 27 de agosto de 1971.

acervo JL

Nélida Piñon Quinta ocupante da Cadeira 30, eleita em 27 de julho de 1989. Em 1996-1997, tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir a Academia Brasileira de Letras, no ano do seu I Centenário. Formouse no curso de Jornalismo, da Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em sua trajetória, pode-se destacar aquelas em que figura como o primeiro escritor de língua portuguesa, ou ainda a primeira mulher, ou a primeira brasileira, tais como: Premio de Literatura Latinoamericana y del Caribe Juan Rulfo. Prêmio Ibero-Americano de Narrativa Jorge Isaacs. Em 2005, recebe o Prêmio Príncipe de Astúrias – Letras. Recebeu o título Doutor Honoris Causa da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, 1998. Primeira mulher a receber este título em 503 anos. Em dezembro de 2013, Nélida Piñon foi a primeira mulher e primeiro autor de língua portuguesa a receber o prêmio Cátedra Enrique Iglesias, outorgado pelo BID, USA. Recebeu prêmios nacionais e internacionais, e condecorações, entre elas: Ordem do Cruzeiro do Sul, – Brasil; Comenda do Barão do Rio Branco, – Brasil; Lazo de Dama, de Isabel La Católica, da Espanha; é Doutor Honoris UNAM, México. Ganhou prêmios: Prêmio José Saramago (Lisboa, Portugal, 1999, 2001, 2003, 2005, 2007, 2009, 2011, 2013 e 2015), Prêmio Guimarães Rosa (Paris, França, 1992-93); Membro do PEN Clube do Brasil; Membro do International Pen Women Writer’s Committee (Kathmandu, Nepal); Membro do Conselho Deliberativo da Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro, Fundação Biblioteca Nacional, 1996).

Tarcísio Padilha Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 17 de abril de 1928. Sua formação fundamental principiou no Grupo Escolar D. Pedro II, em Petrópolis, tendo estudado no Colégio Santo Inácio até concluir o curso clássico. É bacharel em Filosofia e Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; diplomado em Ciências Sociais pelo Instituto de Direito Comparado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; diplomado pela Escola Superior de Guerra; licenciado em Filosofia pela Universidade Federal Fluminense; doutor em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É professor titular de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; professor de História da Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; vice-presidente da Union Mondiale des Sociétés Catholiques de Philosophie; vice-presidente da Asociación Interamericana de Filosofia; vice-presidente da Metaphysical International Society; membro do Comité Directeur e presidente da Academia Brasileira de Letras (2000-2001). Membro e depois presidente do Conselho Editorial da revista Communio, Rio de Janeiro, e do JORNAL DE LETRAS. Membro fundador do Collegium Academicum Universale Philosophiae, Atenas; membro da Academia Brasileira de Educação e da Academia Fluminense de Letras; membro do Pontifício Conselho para a Família, Vaticano; membro da Delegação Brasileira à XIV Conferência Geral da UNESCO, Paris (1966). Membro ativo do I Colloquium Romanum, Vaticano (1979). Recebeu a Medalha da Ordem Nacional do Mérito Educativo; Medalha por Serviços Relevantes prestados ao Estado da Guanabara; Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres, Paris; Benfeitor da Fundação Cesgranrio; Cavaleiro da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém, Vaticano; Medalha do Mérito Cultural da República Helênica, 2002. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 2000 e 2001.


ornalde 14 JLetras

Por Zé Roberto

zrgrauna@hotmail.com

mulheres, incluindo ela, unem arte com humor, cuja abertura foi no Museu de Arte Contemporânea de Campinas, MACC. Em 2017, publicou o Sketchbook Custom, pela Editora Criativo e ilustrou a capa do livro Batom, Lápis & TPM – Mulheres em traços, de Camila Lelis, da Coleção AHA de Humor Gráfico. A partir de abril de 2018, a artista passou a colaborar com a ASN – Agência Social de Notícias (agenciasn.com.br/), tornando-se colunista do site. Sua estreia foi marcada por uma bela ilustração em homenagem à Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro. A desenhista participou da exposição “Nair de Teffé – a Primeira Dama da caricatura”, em março de 2018, evento que aconteceu na Sala de Cultura Leila Diniz, em Niterói. Para conhecer mais sobre a artista, Synnöve Hikner mantém o site synnoveartist.com para exibição de seu portfolio e contatos com internautas.

Marielle Franco por Synoöve.

Synnöve Synnöve Dahlström Hilkner nasceu na Finlândia, mas, aos 7 anos, veio com a família para o Brasil. Nascida no dia 26 de abril de 1963, a artista reside em Campinas, no estado de São Paulo. A intimidade com o papel e as artes surgiu na infância, e, ainda na adolescência, fez diversos trabalhos de retratos, caricaturas, cartuns, em papel e escultura. Synnöve formouse publicitária pela PUC – Pontifícia Universidade Católica Autocaricatura de Synoöve. de Campinas, em 1991. Ela também trabalhou como professora e tradutora de inglês e sueco. Como artista, Synnöve sempre ramificou seus interesses, usando técnicas de pintura diversas e transitando por ateliês de artistas como Paulo Branco, Vera Ferro e Gonzalo Cárcamo, entre outros. Participou de várias exposições individuais, entre elas “Solitude em Movimento” e coletivas, no Brasil e no exterior, dentre as quais se destacam a “Troyart”, no MuBE – Museu Brasileiro de Esculturas, SP, em janeiro de 2011; e GAIA – Galeria de Artes do Instituto de Artes da Unicamp, Campinas. Também tem trabalhos na Suécia e Finlândia. O humor sempre foi marcante na vida da artista e, a partir de 2013, passou a participar de salões do gênero no Brasil e no exterior. Desde então, tem trabalhos selecionados em todas as edições do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, com caricaturas e charges, sendo que, no 43º Salão, em 2016, foi agraciada com Menção Honrosa, na categoria charge, com uma interessante escultura. Também está presente no Salão “PortoCartoon”, na cidade do Porto, Portugal, desde 2015 e no Salão “Batom, Lápis e TPM”, de Piracicaba, SP, desde a edição de 2014, entre outros. Em março passado, idealizou o projeto e fez a curadoria da 1ª edição da exposição “Humorosas”, em que 20 artistas,

Maria Bethania por Synoöve.


ornalde 15 JLetras

Afonso Arinos e o fantasma de Getúlio Por Edmílson Caminha Entre os grandes escritores que, ao longo da história (e até recentemente), dignificaram a política brasileira, mencionem-se quatro, pela inteligência e pelo saber que lhes eram comuns: José de Alencar, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e Afonso Arinos de Melo Franco, o mineiro ilustre que me concedeu, em 1986, substanciosa entrevista para o Diário do Nordeste, de Fortaleza. No ensaísta do Espelho de três faces, no sociólogo de O índio brasileiro e a Revolução Francesa, no historiador de Um estadista da República, notam-se o conhecimento da língua e o apuro literário do memorialista de A alma do tempo, A escalada, Planalto e Alto-mar/maralto, primores do gênero em nossa literatura. Diretor do Instituto de Direito Público e Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, recebeu-me em seu escritório para a conversa em que falou de literatura, mas, principalmente, dos trabalhos da Comissão de Estudos Constitucionais que presidia, encarregada de estabelecer os parâmetros da Constituição Federal que viria a ser promulgada em 1988. Deu-me respostas comedidas, ponderadas, em que, diferentemente de tantos fanfarrões, não buscou reescrever o passado, para atribuir-se importância maior do que verdadeiramente tivera. Perguntei-lhe: “O ministro Hermes Lima, seu companheiro de Itamarati, costumava dizer que política é uma atividade para pecadores. Como o senhor fez para conciliar a honradez e a dignidade com os conchavos próprios de um mandato parlamentar? As transigências da função política não o incomodavam?” Com franqueza e elegância, respondeu: – Não, porque nunca tive prestígio político, propriamente. Eu era o homem que falava, me mandavam para a tribuna. Dos acordos partidários, lutas, paixões, ambições, não participava muito. O que eu fazia era falar, dizem que melhor do que os outros. Então era o homem que ia para a tribuna: eles resolviam e eu expunha, às vezes com excessiva veemência, reconheço. Nunca pretendi influir decisivamente no meu partido: resistia a certas tendências que me pareciam incorretas e eles respeitavam minha posição. Isso sempre aconteceu. De vez em quando, não aceitava a decisão já tomada, e o fato de eu não aceitar era suficiente para que revissem o assunto. Mas, em geral, nunca exerci liderança política; quando muito tive liderança oratória, era o porta-voz da UDN, um partido importante. Mas sempre defendi um princípio que observo até hoje, aos 80 anos de vida: sou muito capaz de fazer coisas de que me arrependa, mas nunca de que me envergonhe. Essa é a diferença, e muito clara. Tempos depois, visito-o no gabinete de senador da República, em Brasília, e lembro-lhe o discurso que proferira na Câmara, como líder da oposição a Getúlio, em 13 de agosto de 1954; no dia 24, o presidente se matava com um tiro no peito, tragédia para a qual contribuíra, acusavam alguns, a violenta manifestação do deputado Afonso Arinos. E ele, em surpreendente confissão: “Pois é, sempre me angustiou a ideia de que eu possa ter concorrido, embora involuntariamente, para a morte de Vargas. Hoje, não faria aquele discurso, em que talvez tenha pecado por excesso, diante da turbulência política que então nos assustava. Acontece que só o distanciamento histórico permite essa avaliação; no calor da hora, fazemos o que nos obrigam as circunstâncias, e eu era o líder da minoria, a quem coube falar em nome dos colegas, não só em 13 de agosto, mas também onze dias depois, quando voltei à tribuna agora para lamentar, respeitosamente, o suicídio que traumatizara o Brasil. Pudesse voltar no tempo, preferiria não pronunciar aquele primeiro discurso, mas assim não haveria a história como testemunho do que, bem ou mal, ocorreu no passado, pois seria continuamente reformada, refeita pelos personagens que sobreviveram ao tempo, e assim não apenas envelheceram, se tornaram mais sábios, mais experientes, mais precavidos, mas também mais inseguros, mais hesitantes, mais medrosos...” Amigo do poeta e prosador fluminense Xavier Placer (1916-2008), Afonso Arinos escreveu-lhe duas cartas até este momento inéditas, presentes generosos que recebi do destinatário ao saber da minha admiração pelo autor do Roteiro lírico de Ouro Preto. A primeira manuscrita, sem data (com o carimbo dos correios, no envelope, de 30 de abril de 1984): Rua Dona Mariana 63 – Botafogo Meu caro Xavier Placer, Fiquei muito sensibilizado com sua carta pascal. Recebi-a nesses dias de repouso e meditação. Há tempos que não passava os olhos em A alma do tempo. Provocado pelas observações da sua carta, com ela em mão, percorri esse livro e,

sem nenhum sentimento de vaidade, senti que ele representa bem a claridade do meu crepúsculo vital. Um homem de 78 anos, como eu, sente-se consolado dos lados escuros da existência humana, quando percebe que a mensagem fixada de sua vida pode ajudar os leitores a viver. Recolhido à paz do casal (nos dois sentidos desta palavra portuguesa), percebo que o homem idoso não é solitário se se acompanha, pois a solidão – que tanto atinge aos jovens – no fundo não é senão a ausência de si mesmo. Sua carta provoca-me esta presença de mim dentro de mim, do que vivi no que vivo, e, talvez, no que outros viverão. Não pense que estou me isolando nesta posição. Penso em outros [ilegível] e companheiros de [ilegível], como Drummond ou Nava, que deverão sentir a mesma impressão. Vejo que você é professor da Uni-Rio e sei que a sede dela é próxima à minha casa, pois fica em Voluntários da Pátria. Se um dia – ou mais de um dia – lhe aprouver, telefone para esta velha casa de Dona Mariana e venha conversar um pouco. Desculpe o descoordenado desta carta não [ilegível] e aceite o abraço do colega agradecido Afonso Arinos. A segunda carta é datilografada: Rio de Janeiro, 12 de julho de 1984 Ilmo. Sr. Professor Xavier Placer Niterói – RJ. Meu caro Xavier, Tive grande satisfação em receber suas palavras amigas de adesão às opiniões que manifestei na recente entrevista ao Jornal do Brasil. Concordamos em que os atuais acontecimentos políticos são de tal gravidade que nenhum brasileiro consciente pode quedar-se insensível. E acredito, por isso mesmo, que grandes mudanças estão por vir. Enquanto isso, sem cultivar a presunção de realizar esforço notável, procuro contribuir, dentro de minhas limitadas possibilidades, para sensibilizar o povo e o governo no sentido de superar a inquietante crise que ora tumultua a nação. Suas palavras de confiança e solidariedade são para mim o melhor estímulo. Agradeço-lhas de coração. Na expectativa do próximo encontro pessoal, abraça-o cordialmente o colega e amigo Afonso Arinos. Esse, o pensador, o jurista, o escritor, o político sobre quem Luiz Viana Filho afirmou, no encerramento do seminário com que a Universidade de Brasília homenageou o colega, em 1981: “É muito difícil que outra personalidade do Brasil tenha, com a mesma grandeza, com a mesma luminosidade, com a mesma intensidade, essa multiplicidade de facetas. Ele não é o historiador, não é o orador, não é o poeta. Ele é tudo!”

Sob o Sol da Esperança Por Peilton Sena* Não diga que o nosso País está na lama. Na lama está o caráter desses políticos corruptos e corruptores. Não diga que o Brasil é uma vergonha. Ele ainda é e sempre será um país de milhões de honestos trabalhadores. Estamos sem direção, mas, não estamos perdidos. Somos maiores do que a ambição desses vorazes bandidos. Debaixo do tapete havia muita sujeira... A casa está sendo limpa. Toda tempestade provoca estragos, mas ainda assim é passageira. Não nos afastemos, sigamos de mãos dadas e corações em preces. Que a violência não nos alcance nem o ódio nos abrace. Deus não nos abandonou nem deixou de ser brasileiro. Vamos alimentar nossa Fé no Bem Maior que ainda nos resta. E permanecer ao lado da Justiça agindo sempre com honestidade de princípios do pequeno ao maior dos nossos atos. Eles pensaram que pisando nas flores matariam a primavera das nossas Esperanças. Ledo engano. Cometeram o maior de seus erros. Mexeram com grandes seres humanos: nós, o povo brasileiro! Em outubro rasgaremos esse véu que envolve o nosso Brasil numa noite soturna. O Sol da Liberdade há de brilhar de novo! É só cada um de nós agir com consciência diante das urnas. *Peilton Sena é poeta e membro da Academia Santista de Letras.


ornalde 16 JLetras

JL Novos Lançamentos Para cinéfilos Na antologia A experiência do cinema, Ismail Xavier reúne textos de teóricos, críticos, filósofos e cineastas das tradições francesa, anglófona, russa e alemã, produzidos entre 1916 e 1980. Assim, apresenta as principais teorias e uma abrangente reflexão sobre o cinema, revelando a diversidade de análises que têm marcado o pensamento sobre a experiência cinematográfica – desde as explicações básicas dos cineastas do princípio do século até as sínteses e novas propostas estéticas do pensamento contemporâneo. Com textos de André Bazin, Béla Balázs, Dziga Vertov, Edgar Morin, Hugo Mauerhofer, Hugo Munsterberg, Jean Epstein, JeanLouis Baudry, Laura Mulvey, Luis Buñuel, Mary Ann Doane, Maurice Merleau-Ponty, Robert Desnos, Serguei M. Eisenstein, Stan Brakhage e Vsevolod Pudovkin, a obra retorna às livrarias pela editora Paz & Terra. “Publicado originalmente em 1983, A experiência do cinema prolongava a durável contribuição teórica de Ismail Xavier aos estudos de cinema no Brasil, inaugurada nos seus livros O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência (1977) e Sétima arte: um culto moderno (1978). Se não foi a primeira nem seria a última antologia brasileira de teoria do cinema (J. L. Grunewald organizara, em 1969, A ideia do cinema, e Fernão Ramos viria a organizar, em 2005, Teoria contemporânea do cinema), esta tem sido, porém, a mais presente e longeva em nosso debate, como atesta a frequência invariável com que aparece na bibliografia dos livros da área...”, ressalta Mateus Araújo na orelha do livro.

Garças O poeta Lasana Lukata lança mais uma de suas garças. Em a Garça sem voz (livro rápido) o autor trás mais uma vez seu amor pela ave, que o acompanha por outros livros: Meu Cartão Vermelho (crônicas), Multifoco, 2010, Caçada ao Madrastio (crônicas, 2010), Exercício de Garça, Íthacas, 2011 (poesia); Separação de Sílabas, 2011 (poesia) Virtualbooks; Urdume (poesias), editora Multifoco, 2013; Homem ao Mar (contos), editora Livros Ilimitados, 2014, Setênfluo (Poesias), editora Livros Ilimitados, 2014, Garça na janela (poesias), editora Livros Ilimitados, 2015; Pássaros sem pressa, 2016 (poesias), Mergulho (leitura silenciosa para peixes), editora Livro Rápido (2017). Júnia Azevedo na orelha assim descreve o autor e o livro: “Esqueça tudo que você ouviu sobre garças. Na poesia de Lasana Lukata, elas surgem como seres mitológicos, que nos tiram do chão para um voo redentor, do desamparo ao aconchego, do lodo ao céu, do lixo ao luxo. Em meio a lembranças de uma infância dura às margens poluídas da Baía de Guanabara aos dias de marinheiro num navio que afundou ao ser rebocado para desmanche, as garças de Lasana são aparições de bom augúrio.” Seu destino hoje voa através das asas de suas garças, nelas Lasana Lukata vive, come, dorme e faz poesia. Poderia ser uma pessoa amarga por tudo que passou, mas nos transmite em seus poemas a liberdade da ave ciconiforme que habita áreas próximas a rios, lagos, praias marítimas, manguezais e estuários.

Ensaios compactos Umberto Eco publicou seu primeiro romance, O nome da rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas Confissões de um jovem romancista (Editora Record), escritas trinta anos depois de sua estreia na ficção, o autor rememora sua longa carreira como teórico e seus trabalhos mais recentes como romancista e explora essa bem-sucedida interseção. Originalmente, os quatro ensaios deste livro foram palestras do programa Palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna, na Universidade Emory, em Atlanta, Estados Unidos. Eco começa explorando a fronteira entre ficção e não ficção – passeando por esse limite de forma ao mesmo tempo divertida, sincera e brilhante. Uma boa não ficção, acredita, é estruturada como um romance policial, e um romancista habilidoso pode construir mundos extremamente detalhados por meio de observação e pesquisa. A mistura entre real e ficcional se estende também aos habitantes desses mundos inventados. Por que nos emocionamos tanto com a jornada de um personagem? Em que sentido Anna Karenina, Gregor Samsa e Emma Bovary “existem”? Levando o leitor por uma viagem através de seu método criativo, relembra como elaborou seus ambientes ficcionais: começou com imagens específicas, determinou o período, a ambientação e as vozes, e compôs histórias que atrairiam tanto leitores sofisticados quanto os mais populares. Em ensaios compactos e ainda assim excepcionais, este “jovem romancista” mostra-se um mestre que tem muito a ensinar sobre a arte da ficção e o poder das palavras.

Filho de Deus Escrito pelo autor laico brasileiro que mais vende livros de temática religiosa no país, Jesus – O homem mais amado da História (Editora Leya Brasil) é a obra mais atual sobre a vida daquele que ensinou a humanidade a amar e dividiu a História em antes e depois. O escritor e jornalista Rodrigo Alvarez recorreu às fontes bibliográficas mais recentes, investigou as mais antigas (entre elas diversos manuscritos originais) e viajou pelos mesmos lugares percorridos por Jesus em seu tempo. Fartamente ilustrado, o livro é resultado de uma pesquisa que buscou a informação em estado bruto – o mais livre possível dos interesses políticos e religiosos que sempre manipularam a História. O autor foi aos evangelhos, aos Atos dos Apóstolos, às cartas de Paulo, aos tratados de patriarcas, aos livros judaicos, às profecias, aos pergaminhos que os primeiros bispos da Igreja tentaram apagar na fogueira e aos livros gnósticos, com suas visões místicas, para reapresentar o leitor a uma figura histórica que, ao mesmo tempo Deus e humano, foi humilhado, traído, quebrou regras, desafiou e foi desafiado. Rodrigo viveu três anos em Jerusalém, de onde partiu para visitas ao Sepulcro de Jesus, à Gruta da Natividade em Belém, a Nazaré, à Turquia, à Jordânia, ao Chipre, ao Mar Morto e, claro, ao rio Jordão. Caminhou pelos mesmos desertos que Jesus, meditou no alto das mesmas montanhas, pisou nas mesmas pedras, entrou nas cavernas de Jericó, tomou banho no Mar da Galileia e subiu ao monte onde a tradição afirma que Jesus fez seu sermão inaugural.

Nossa realidade Em O sol na cabeça (Companhia das Letras Editora), Geovani Martins narra a infância e a adolescência de garotos para quem às angústias e dificuldades próprias da idade soma-se a violência de crescer no lado menos favorecido da Cidade partida, o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XXI. Em “Rolézim, uma turma de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, fazia marcação cerrada aos meninos de favela que pretendessem chegar às areias da Zona Sul. Em “A história do Periquito e do Macaco, assistimos às mudanças ocorridas na Rocinha após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP. Situado em 2013, quando a maioria da classe média carioca ainda via a iniciativa do secretário de segurança José Beltrame como a panaceia contra todos os males, o conto mostra que, para a população sob o controle da polícia, o segundo “P” da sigla não era exatamente uma realidade. Em “Estação Padre Miguel”, cinco amigos se veem sob a mira dos fuzis dos traficantes locais. Nesses e nos outros contos, chama a atenção a capacidade narrativa do escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes sem nunca perder o suspense e o foco na ação. Na literatura brasileira contemporânea, que tantas vezes negligencia a trama em favor de supostas experimentações formais, O sol na cabeça surge como uma mais que bem-vinda novidade.

Vida de publicitário Washington Olivetto lança sua biografia Direto de Washington - W. Olivetto por ele mesmo (Estação Brasil/ Sextante). Olivetto é criador de algumas das mais marcantes e divertidas campanhas da propaganda nacional. Nesta biografia ele conta algumas histórias que ajudam a compreender como criou o seu melhor personagem: ele próprio. Ganhou o primeiro Leão de Ouro do Brasil em Cannes, conquistou todos os prêmios da publicidade mundial, entrou para o Guinness Book of Records, inspirou personagem de novela, virou letra de músicas de sucesso, nome de pratos em restaurantes famosos, selo do correio no Brasil, vice-presidente do seu time do coração, o Corinthians, cidadão carioca sendo paulista, commendatore italiano sendo brasileiro. “Este livro é uma tentativa de contar um pouco da minha trajetória e das influências e circunstâncias que me ajudaram, direta ou indiretamente, a realizar o que tenho feito. Quando minha mulher me perguntou por que eu finalmente tinha decidido aceitar o convite para escrever essas histórias, respondi com uma frase de efeito: ‘Cansei de ler inverdades a meu respeito; agora resolvi contar as minhas próprias mentiras.’ A frase é divertida; parece do Grouxo Marx, mas é minha. E não é verdade”, brinca. A biografia tem 21 capítulos e não tem ordem cronológica – Olivetto resolveu escrever de acordo com o que foi lembrando, entre outubro de 2016 e dezembro de 2017. Foto da capa é de Sebastião Salgado e o texto de orelha, do jornalista Luis Fernando Silva Pinto.


ornalde 17 JLetras

Sua majestade o leitor Por Vera Lúcia Oliveira Alberto Manguel já nos encantou com a história da leitura, do livro e agora nos encanta novamente com a história do leitor. Em O leitor como metáfora – o viajante, a torre e a traça (SP: Ed. Sesc, 2017), representações do sujeito louco por livros, temos uma belíssima edição em que tudo atrai os loucos por livros: as ilustrações, a cor do papel, a diagramação, mostrando o capricho, tornando o livro uma obra de arte. Não bastasse o autor ser um renomado bibliófilo, possuidor de memorável biblioteca com mais de trinta mil exemplares escolhidos a dedo, é também editor e, atualmente, diretor da Biblioteca Nacional de Buenos Aires, sua cidade natal. E foi nessa Biblioteca que, durante quatro anos, ainda jovem, foi também guia e luz dos olhos de outro leitor: Jorge Luís Borges. Portanto, sua intimidade com os livros vem de longa data. Seu gosto pelo objeto livro e pela imaterialidade da leitura sempre foram os seus assuntos preferidos. Em Uma história da leitura, A biblioteca à noite, Os livros e os dias, e agora neste O leitor como metáfora, viajamos com ele no tempo e no espaço – o livro com viagem, e o leitor como viajante, desde os primeiros grandes leitores do ocidente, como Santo Ambrósio e Santo Agostinho, relembrando o que disse São João em seu evangelho que “no princípio era o Verbo” em que “estava definindo tanto sua tarefa de escriba como a de Autor em Si.” (Pág. 22) O que mais impressiona em Manguel é a sua capacidade de trocar em miúdos os temas mais eruditos de maneira a torná-los simples, acessíveis a todos os leitores, levando-os em sua viagem. A sua escrita é clara como a luz da lua. Para justificar o seu tema, a metáfora, lembra que Cícero disse que a metáfora surgiu para suplantar a pobreza da língua, ineficiente para nomear de maneira exata a nossa experiência concreta. A metáfora diz mais e melhor. Sempre. Assim, para caracterizar os três tipos principais de leitores, Manguel pensa no viajante, aquele que conhece o universo por meio da palavra escrita. Ou seja, viaja sentado no sofá. Desde a Bíblia, “o Livro é o único veículo que permite que a palavra de Deus viaje pelo mundo, e os leitores que o seguirem tornam-se peregrinos no sentido mais profundo e verdadeiro”. (Pág. 20) A leitura reproduz a experiência do mundo a esse leitor viajante. Santo Agostinho conta que chorou quando leu a morte da apaixonada Didi. Ele “viajava” com a Eneida, de

Uma autora com o sentimento do mundo Por Ronaldo Cagiano* Em seu novo livro O avião invisível (Ed. Ibis Libris, Rio, 2017), Raquel Naveira oferece ao leitor um caleidoscópio de visões e sensações estéticas sobre o mundo e seu tempo, em 78 narrativas que panoramizam sua aguda percepção crítica. São textos que nos remetem (ou nos fazem resgatar) os tempos de ouro da crônica no Brasil, vertente em que pontificaram, desde os primórdios, mestres como Medeiros e Albuquerque, Machado de Assis e João do Rio, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, José Carlos de Oliveira, Fernando Sabino e Otto Lara Resende. Raquel abrange ao mesmo tempo o questionador e filosófico, discutindo temas e questões presentes no nosso cotidiano, transcendendo o mero flagrante ou registro dos acontecimentos para inserir-se na categoria de uma narrativa densa e reflexiva sobre tudo que nos cerca, pois nada escapa ao seu sensível radar de arguta observadora da alma e da condição humanas. Essa obra de Naveira realiza um meticuloso rastreamento do próprio sentido da existência, num itinerário que transita do lírico ao social, do histórico ao geográfico, da literatura à filosofia, do onírico ao mitológico, do tangível pelos olhos ao místico tateado pelo espírito. Enfim, um delicado, sofisticado e poético panorama das re(l)(a)ções da autora com o universo e com as pessoas, suas influências literárias e referências culturais, em que valores e sentimentos são visitados com ternura e expansão espiritual, num movimento de percepção sobre a vida e seus contornos. Suas crônicas, mais que revelar o homem real e a cidade viva, o ser em transição e a história em mutação, a realidade com suas dores, delícias, sonhos, frustrações e metamorfoses, nesse tempo de tamanha dissolução, de tanta perplexidade, dissolução e paradoxos, é um convite à reflexão e ao desnudamento do humano em suas diversas projeções e representações. Em cada crônica, Raquel deslinda, como se retirasse palimpsestos, como numa imersão em universos e ambientes desconhecidos, para aclarar outras dimensões, além da geográfica e aparente. Numa interpretação sobre a variada linguagem e os signos que habitam seu inconsciente de escritora e de humanista, vamos encontrar um percurso sobre as ideias e sobre a arte em suas diversas manifestações: do livro

Virgílio. Para Manguel, “O ato de ler uma única linha, de modo profundo e abrangente, trazia para Santo Agostinho o eco de todas as nossas bibliotecas, passadas, presentes e futuras, com cada palavra remontando a Babel e antecipando a última trombeta. Significava um constante deslocamento de uma experiência adquirida para a seguinte, uma leitura nômade através da memória em direção ao desejo, consciente da estrada percorrida e da estrada ainda a percorrer”. (Pág. 60) Para o renomado romancista holandês Caes Nooteboom, a viagem da leitura é um meio mais rico de estar em casa consigo mesmo. Experiência compartilhada por Montaigne quatro séculos antes. E os viajantes ilustres são muitos... Mas o melhor do livro são os leitores da torre. Os que escolheram o isolamento para refletir sobre o mundo. Desde os primeiros cristãos que se isolaram para encontrar Deus, passando por Demócrito, que se retirou do convívio dos homens porque não queria fazer parte do mundo, por São Jerônimo, que formou uma grande biblioteca que ele amava acima de tudo e na qual se isolava, Manguel lembra que “Na tradição judaico-cristã, a torre aparece como símbolo de força protetora ou de beleza perfeita. O livro dos Provérbios diz: ‘O nome do Senhor é torre fortíssima: o justo corre para ela, e nela encontra refúgio’.”(Pág. 79) Mas a expressão “torre de marfim”, como a conhecemos e utilizamos modernamente, foi empregada pela primeira vez, talvez, pelo crítico francês Sainte-Beuve para contrastar a poesia abstrata de Alfred de Vigny à politicamente mais engajada de Victor Hugo: “É Vigny, mais discreto,/ Como que para sua torre de marfim, retornava antes do meio-dia.” (Pág. 79) E o ponto alto do leitor da torre ficou reservado para Hamlet, o príncipe intelectual de Shakespeare, analisado aqui por grandes especialistas. Ser ou não ser intelectual, eis a dúvida do príncipe da Dinamarca. Agir ou encerrar-se na sua casca de noz, eis a questão. Há ainda a torre de Gramsci, oposta à de Hamlet, que deve ser um território crítico, já que todos podem ser leitores levando a sua experiência a campo aberto, ao mundo. Esse leitor reflexivo da torre se vê hoje confrontado com a dificuldade de ler um só texto, pois é tentado pelo demônio dos meios eletrônicos a apenas mordiscar um pedacinho de cada leitura... O último tipo de leitor, assim como o minúsculo inseto, a traça, só vê graça na vida se estiver mergulhado nas páginas de um livro. Ele vive tão intensamente o prazer da leitura, que se apaixona por personagens, tornando-as muitas vezes reais. Outros, como o Louco dos Livros, Dom Quixote (livro que Flaubert sabia de cor antes de aprender a ler), assim chamado pelo autor Cervantes, geraram desconfiança quanto à sua sanidade mental. E outros ainda, considerados perigosos por “devorar” livros, atestando o temor e a “desconfiança que as sociedades sempre tiveram, perante o que pode ser criado com palavras, uma desconfiança do próprio ato intelectual”, diz Manguel, que disse ainda: “Somos os livros que já lemos.” Viajante, torre, traça.

ao cinema, da pintura ao teatro, da História à psicologia, da literatura clássica à contemporânea, do seu Pantanal e do seu Mato Grosso a São Paulo, metrópole apressurada que adotou por alguns anos, revisita dos mitos ancestrais que nos habitam aos totens e tradições que constroem identidade e formação. Enfim, um poutpourri delineando a singela aferição de uma observadora atenta às experiências individuais e coletivas e às demandas existenciais, que sabe transformar o corriqueiro e o banal em matéria e circunstância para o refinamento literário, extrai poesia do inaudito, constituindo-se num mergulho nesse mosaico que constitui a nossa crônica diária, povoada de nuances e mistérios, iluminando tudo que aí está e poucos são capazes de captar ou reconhecer suas verdades ou enganos, seja no multifacetado das cidades e dos homens, seja no familiar, no sagrado, no profano, nos pequenos atos heroicos, seja na ação anônima ou silenciosa dos que trabalham na artesania do tecido social, e, ao mesmo tempo, no surreal, insólito e absurdo da nossa própria trajetória, muitas vezes invisível como o avião que dá título ao livro. O avião invisível, como atesta Mafra Carbonieri na apresentação da obra, coloca a autora, sem dúvida e sem favor algum, na galeria dos grandes escritores brasileiros. Sua bibliografia, que contempla um amplo espectro criativo – poesia, crônica, conto, ensaio, crítica, resenhas, seminários, palestras – nada deve aos nomes bafejados pela grande mídia. Esta mídia sempre ausente, silenciosa, negligente e criminosa incensa a mediocridade e valoriza o lixo literário (com suas panelinhas, guetos, grupelhos, máfias, gangues e altares de pseudosumidades) em detrimento de verdadeiros escritores – como Raquel – que, com a perícia e ourivesaria dos genuínos estilistas, escrevem sobre o que é essencial e profundo, com um inegável responsabilidade estética e ética, porque está sintonizada com os sentimentos e valores universais. A autora contempla em suas crônicas um amplo espectro com a mesma profundidade e senso de investigação, mesmo quando trata de temas que muitas vezes canalizam uma visão mais personalista, o faz com independência crítica, isenção e sem sectarismo, tratando de aspectos que interessam mais a uma discussão dialética que ao maniqueísmo ideológico, como nos temas da religiosidade e da política, por exemplo, fruto de sua versatilidade e do seu modo holístico e eclético de considerar ou manusear os assuntos que lhe são caros. Essas crônicas radiografam o mundo, o tempo, as pessoas, registro afetivo para perenizar seu sentimento sobre esse mundo em que “a todo momento, tudo muda, cai ao chão, esfacela-se, apodrece, restaura-se, constrói-se, como um mapa decadente sem fim, apagando-se e redesenhando-se continuamente”, mas que só um escritor, um bom escritor como Raquel, detida no essencial e profundo, é capaz de captar e perenizar. Ao sairmos dessas páginas, temos aquela agradável sensação e o prazer da leitura, pois, como diria Mallarmé, “no fundo, o mundo é feito para acabar num belo livro”, como neste O avião invisível, de deliciosa viagem entre mundos e instâncias que só a boa literatura é capaz de nos levar, como nos levaram, pelas suas asas, as crônicas de Raquel Naveira. *Ronaldo Cagiano é escritor.


ornalde 18 JLetras

A forma poética de Marc Chagall Por Manoela Ferrari O compromisso com a alma judaica pode ser percebido em toda a trajetória de Marc Chagall, um dos maiores pintores do Surrealismo do século XX. Em nenhum momento da vida, o artista russo arrefeceu o orgulho da sua origem religiosa. Suas obras apresentam, de forma poética, a beleza do cotidiano numa unidade entre a realidade e a fantasia. Escrita no início da década de 1920, a obra “Minha Vida” é uma autobiografia poética em que Chagall tenta se reconciliar com sua infância difícil e com o início da vida adulta no Império Russo. Este ano marca o 131º aniversário de nascimento do pintor. Chagall nasceu em uma pequena aldeia russa, “Eu e a Aldeia” (1911). no dia 7 de julho de 1887. Filho de uma família judaica, era o mais velho de nove irmãos. Morreu quase centenário, em 1985, tendo passado por uma revolução, duas guerras e o exílio. Vivendo tempos de guerra e de paz, retratou tudo com uma qualidade ímpar. Transgrediu regras e códigos e nutriu-se do pensamento modernista, tornando-se pioneiro do Cubismo e do Surrealismo. São correntes, nos seus trabalhos, as tradições judaicas hassídicas (o seu rabino de Vitebské antológico), além de episódios bíblicos e aspectos de família, a que ele era muito chegado. Em 1910, Marc Chagall partiu para a França. Em Paris, entrou em contato com vários artistas da vanguarda modernista, entre eles, os pintores Amadeo Modigliani e Robert Delaunay e o poeta Blaise Cendrars, que viria batizar grande parte de suas obras. As tendências do Fauvismo e do Cubismo são visíveis nos quadros que realizou em seus primeiros anos na capital francesa. Nos anos seguintes, pintou dois dos seus quadros mais conhecidos: “Eu e a Aldeia” (1911) e “O Soldado Bebe” (1912). Em 1917, a Rússia estava em plena revolução e ele foi nomeado comis-

“O judeu rezando” (1923)

“A crucifixação branca” (1938).

sário de belas artes, em Vitebsk. Criou uma academia, onde se inscreveram 900 alunos. Em 1920, o teatro judeu de Moscou lhe encomendou nove imensos painéis decorativos. Estava com 33 anos e muitos o consideravam no seu apogeu artístico. Foi aí que nasceu “O violinista no telhado”, logo transformado em obra-prima. Em 1923, Chagall deixou a Rússia, voltou a Paris e passou a se dar com os intelectuais da época. Chegou, por momentos, a se encantar pela poesia. Fez a sua primeira retrospectiva, em 1924 e, dois anos mais tarde, a primeira exposição em Nova Iorque. Mas é em Paris que ele se sentia livre e feliz. Tanto “A noiva” (1950). que se propõe a pintar as fábulas de La Fontaine, o que fez com muito sucesso. Da mesma forma como deu vida a palhaços, animais e acrobatas do circo, outra das suas fixações. A leitura da Bíblia acompanhou Chagall desde a sua primeira infância. Foi à Palestina, em 1931, e visitou os lugares sagrados do judaísmo. Procurou exprimir o sofrimento do seu povo. Interpretou a Torá, onde se encontra a doutrina judaica. Naturalizado francês, em 1937, não se conformou com as perseguições aos judeus na Europa. A família Chagall embarcou para Nova Iorque, em 1941, justo no dia em que a então União Soviética foi atacada pela Alemanha, cujas autoridades nazistas haviam embargado suas obras das coleções públicas. Sua arte foi considerada “degenerada”. Em Nova Iorque, juntamente com a mulher Bella, conheceu artistas e poetas judeus que não ignoravam os atos de barbarismo perpetrados pelos nazistas. Guerra, perseguições, êxodo e povos em chamas habitam os quadros dessa época e seus trabalhos passaram a apresentar matizes sombrios. O tema da crucificação, símbolo do sofrimento humano, se repetiu na obra de Chagall. O tema clássico dos cristãos é acompanhado de objetos rituais do judaísmo, numa associação que procura harmonizar as duas grandes religiões. Depois de perder a esposa Bella nos Estados Unidos, o que lhe valeu a depressão de um ano, sem pintar, em 1948, Chagall voltou definitivamente à França, dedicando-se a temas solares, marítimos e mitológicos. Em Nice, foi criado o Museu Nacional Marc Chagall, com as preciosidades da sua obra imortal. Casou-se novamente com Valentina Brodsky e recuperou a felicidade. O paralelo entre as imagens da guerra e as imagens da paz revelam a complexidade da sua obra. Assim, segundo as circunstâncias, Chagall visita e revisita certos temas, sempre com uma dimensão pessoal, em que é possível perceber as diversas fases da sua vida. Apesar das dificuldades e da discriminação que Chagall enfrentou, em sua autobiografia, fica evidente que ele não nutria uma imagem negativa em relação à Rússia. Seu maior apego era a sua cidade natal, Vitebsk. O livro Minha vida se encerra com seus últimos pensamentos, antes de partir para Paris. “E talvez a Europa vá me amar, e, com ela, a minha Rússia”, escreveu.

“O aniversário” (1915).


ornalde 19 JLetras

O adeus a Edla van Steen Por Maria Cabral

Nome onipresente na discussão intelectual e literária do Brasil, a escritora catarinense Edla van Steen, radicada em São Paulo há 40 anos, morreu, na capital paulista, após um infarto, aos 82 anos. Viúva do crítico teatral Sábato Magaldi (1927-2016), autora e organizadora de dezenas de livros, entre ficção, peças teatrais, publicações críticas e jornalismo, Edla recebeu diversos prêmios ao longo da carreira, e foi, durante muito tempo, colaboradora do jornal O Estado de S. Paulo. Nascida em Florianópolis em 1936, Edla viveu alguns anos em Curitiba antes de se mudar definitivamente para São Paulo. Seu primeiro emprego foi numa rádio, em que lia e encenava cartas de amor e outros relatos de ouvintes. Seu primeiro livro de contos, Cio, foi publicado em 1965. De lá para cá, foram cerca de três dezenas de livros de sua autoria, e, pelo menos, outros 300 editados ou organizados por ela. Com a Editora Global, organizou as séries Melhores Poemas, Melhores Contos, Melhores Crônicas, que conta com pelo menos 100 autores. Dirigiu, também, entre outras, a coleção Roteiro da Poesia Brasileira, com 15 volumes, e publicou diversos romances e contos, como Corações Mordidos, No Silêncio das Nuvens, O Gato Barbudo, e A Revolta. Entre as incursões em outras carreiras do campo artístico, foi atriz (seu papel mais lembrado é em “Na Garganta do Diabo”, de Walter Hugo Khouri, em 1960), roteirista, redatora publicitária, tradutora e galerista. O crítico de teatro Sábato Magaldi foi seu terceiro e definitivo casamento, que durou 37 anos, até a morte do autor. Em 2015, ela organizou o livro Amor ao Teatro: Sábato Magaldi, coletânea de 1,2 mil páginas que reúne a produção crítica de Magaldi.

A informação da morte da escritora foi divulgada via Facebook pela família e por colegas, entre eles o poeta e membro da Academia Brasileira de Letras, Antônio Carlos Secchin: “Com muito pesar comunico a morte de Edla Van Steen, uma grande ficcionista, uma batalhadora incansável em prol da literatura brasileira, que tanto divulgou através das centenas de títulos que editou na coleção Melhores (poemas/crônicas/contos) da Global.” “Linda, inteligente, humor afiadíssimo, a escritora e dramaturga Edla van Steen nos deixa hoje. Viúva do saudoso Sábato Magaldi, mãe de três talentos de brilho próprio – Anna Van Steen, Lea Van Steen e Ricardo Van Steen – era a anfitriã perfeita. O segredo talvez estivesse no fato de ter genuíno prazer em receber – nem que fosse para depois arrancar humor das situações e tipos. Foi musa de Glauber e outros cineastas à época, e só não seguiu carreira de atriz porque as circunstâncias de vida não permitiram. Mas está lá, imortalizada, nas cenas de ‘Na Garganta do Diabo’ de Walter Hugo Khoury. Sua memória perdurará em sua obra e na lembrança dos que tivemos a sorte de entrar em sua órbita”, escreveu Aimar Labaki. “Edla é a grande colaboradora, o principal eixo cultural, na implantação desde o início da década de 1980 da linha editorial da Global Editora, hoje com suas bases totalmente fincadas na Literatura brasileira”, disse o editor Luiz Alves Júnior, em nota. “Uma vida dedicada a promover e valorizar a intelectualidade do país. A qualidade da editora se confunde com a qualidade do trabalho dela.” A escritora Edla van Steen morreu aos 82 anos, após um infarto, em São Paulo.



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.