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OBSERVATÓRIO: OCUPAÇÕES E IMAGINÁRIOS SOBRE A CIDADE
CIBELE LUCENA • BRINCANTES URBANAS • COLETORES • IMARGEM CARTOGRAFIA NEGRA • CASADALAPA • MARILIA JAHNEL
EQUIPE SESC 24 DE MAIO GERENTE PAULO CASALE ADJUNTO THIAGO FREIRE PROGRAMAÇÃO SUAMIT BARREIRO [COORDENAÇÃO], SIMONE WICCA [SUPERVISÃO], GABRIELA XABAY, TATIANA ZACARIOTTI, VALÉRIA BOA SORTE E VANESSA ROSADO COMUNICAÇÃO CRISTINA TOBIAS [COORDENAÇÃO], MARINA BURITY [SUPERVISÃO], WALTER BERTOTTI ENSAIO VISUAL E ILUSTRAÇÕES CIBELE LUCENA COLETIVOS BRINCANTES URBANAS COLETORES IMARGEM CARTOGRAFIA NEGRA CASADALAPA CURADORIA MARILIA JAHNEL PRODUÇÃO LAURA DEL REY DESIGN E DIAGRAMAÇÃO WALTER BERTOTTI REVISÃO DE TEXTOS REGINA STOCKLEN
O DIREITO À CIDADE E A (RE) CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO
ÍNDICE
MARILIA JAHNEL
4
SOBRE MENINES E RUAS COLETIVA BRINCANTES URBANAS
INSURGÊNCIA DIGITAL: UMA DIGRESSÃO COLETIVO COLETORES
16
ENSAIO VISUAL CIBELE LUCENA
SOBRE DIREITO À CIDADE IMARGEM
28
22 ENTRE APAGAMENTOS E VISIBILIDADE: NARRATIVAS SOBRE A CIDADE
DESPROIBINDO A CIDADE CASADALAPA
40
10
34
CARTOGRAFIA NEGRA
O DIREITO À CIDADE E A (RE) CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO MARILIA JAHNEL
A segunda edição da Revista Rampa olha para a cidade de São Paulo a partir das ações, reflexões e intervenções de coletivos que atuam no espaço urbano. Os textos desta publicação foram elaborados por cinco coletivos que disputam os usos do espaço público e os imaginários da cidade: coletiva Brincantes Urbanas, Coletivo Coletores, Imargem, Cartografia Negra e casadalapa. É grande minha satisfação em participar desta edição e retomar o diálogo com o tema da ocupação do espaço público e os usos da cidade, anos depois de ter trabalhado na extinta Coordenação de Promoção do Direito à Cidade, da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da prefeitura de São Paulo, entre 2013 e 2016. Assim como na experiência da Coordenação, a reflexão sobre o direito à cidade acontece a partir da interface com os coletivos que questionam o modelo de cidade no qual vivemos, denunciando injustiças e pautando reivindicações. As cidades são construídas e reconstruídas de acordo com a lógica do capital, garantindo o reinvestimento dos lucros, fazendo a engrenagem girar, por isso os processos de urbanização são centrais para a manutenção do capitalismo. A especulação imobiliária que desloca os mais pobres para os territórios privados de serviços públicos e afastados dos locais de trabalho, e a constante mercantilização dos espaços de convivência da cidade repetem processos históricos de produção do espaço urbano. Essa lógica se baseia nas desigualdades socioespaciais,
de gênero e no racismo
rou as desigualdades socioeconômicas
estrutural – ao mesmo
dos centros urbanos, explicitando a per-
tempo em que os intensi-
versidade do capitalismo. A vida na cida-
fica – e implica um modo
de passa pelo convívio e pela circulação
de vida que exige grandes
constante de pessoas, e é exatamente
deslocamentos diários,
aí que o vírus se dissemina. Soma-se a
devasta o meio ambien-
isso o fato de que as recomendações
te, reforça a violência e
sanitárias são inalcançáveis para imen-
nega direitos, cindindo os
sa parcela da população que não tem
territórios e as pessoas.
condições dignas de moradia, tampouco
Esse modelo de cidade
água encanada e tratamento de esgoto,
define quem pode estar, e
além da inevitável circulação para garan-
como pode estar, nos es-
tia da sobrevivência material, diante da
paços públicos. Determi-
ausência e insuficiência do auxílio emer-
na quem pode transitar,
gencial. Os dados territorializados das
quem pode pertencer e
mortes por Covid-19 não deixam dúvidas
quem fica apenas durante
dos impactos desiguais da pandemia.
o tempo de servir.
Para o geógrafo inglês David Harvey, o
No último ano, a pande-
direito à cidade é o direito de transformar
mia da Covid-19 escanca-
as cidades e o direito de participar das
Os dados territorializados das mortes por Covid-19 não deixam dúvidas dos impactos desiguais da pandemia.
decisões referentes à sua produção para que não seja exclusivamente orientada pelos interesses do capital em detrimento das pessoas. Dessa forma, o direito à cidade aparece como uma possibilidade de disputar a cidade em que vivemos. Nesse sentido, lutar pelo direito à cidade não é apenas a legítima reivindicação por acesso individual aos serviços públicos que devem ser garantidos pelo Estado; é um direito de transformar a cidade e, por isso, é um direito coletivo que implica a participação política e a construção de processos que a reconstruam de forma coletiva. Diante da pluralidade de coletivos, reunimos uma interessante composição de grupos que dialogam com o direito à cidade. Os temas e os estilos de cada texto refletem a multiplicidade das composições, origens e intervenções desses coletivos e sua relação com o espaço urbano. As ocupações e os usos da cidade colocam o espaço público como o local de resistência e de reivindicação de direitos.
A coletiva Brincantes Ur-
do Cartografia Negra disputa as narra-
banas pauta o direito ao
tivas sobre São Paulo e mostra como os
brincar, reflete sobre as
apagamentos das memórias negras con-
interações das crianças
tribuem com a atual segregação dos cor-
com o espaço público e
pos no espaço público, impactando nas
nos convoca a reencantar
definições de quais grupos pertencem
as ruas. O Coletivo Cole-
ou não à cidade.
tores aborda a potência
O coletivo casadalapa relata ações de
das ações socioculturais
cuidado e de escuta para construção de
que relacionam arte, cida-
vizinhança desenvolvidas na Cracolân-
de e tecnologia e ressigni-
dia. A arte, as plantas e a mesa de café
ficam o espaço público.
como ferramentas de construção de re-
O debate sobre a crimina-
lações humanas em meio à degradação
lização e o apagamento
estratégica da especulação imobiliária
da arte urbana está pre-
do território. Ainda, as ilustrações de
sente no texto do Imar-
Cibele Lucena ampliam o imaginário da
gem. O coletivo traz a
cidade ao dialogar com as diversas ca-
noção de cuidadoria, ins-
madas dos textos e, em seu ensaio au-
tiga-nos a VER a Cidade e
toral, compartilha memórias registradas
pensar como a arte parti-
em um caderno preenchido ao longo de
cipa das possibilidades de
intervenções pela cidade.
sua reconstrução. O texto
De maneiras diversas, os coletivos pro-
blematizam os usos do espaço público e contribuem para a construção de uma cidade plural, diversa, democrática, participativa e justa. No cenário pandêmico, as intervenções seguem ocorrendo, quer adaptadas ao virtual, quer respeitando os protocolos de segurança, pois este momento exige a continuidade das ações de disputa da cidade e de seu imaginário. Agradeço o convite da equipe do Sesc 24 de Maio, aos integrantes dos coletivos e à artista visual, que construíram esta revista. Além disso, sou muito grata pela parceria com a mais que produtora Laura Del Rey. Por fim, importante registrar que minha participação nesta jornada é fruto de diversos processos com companheiros, companheiras, ativistas, artistas e militantes que lutam por uma cidade mais justa, mais humana e solidária.
•
De maneiras diversas, os coletivos problematizam os usos do espaço público e contribuem para a construção de uma cidade plural, diversa, democrática, participativa e justa.
SOBRE MENINES E RUAS BIANCA PEREIRA DOS SANTOS CRISTIANE DE LIMA DIANA DE SOUZA SALES MARA ESTEVES COSTA COLETIVA BRINCANTES URBANAS
Ao começar estes escritos, pedimos permissão e licença àqueles que vieram antes de nós. Àqueles que abriram os caminhos nas “matas do saber” para que pudéssemos estar aqui hoje a compartilhar nossas histórias. Reverenciamos as crianças, espíritos encantes, de corpos serelepes, que acabaram de chegar à Terra e já anunciam sabedoria de vida. Saudamos as ruas em que vivemos, os cenários onde construímos as primeiras experiências com o brincar e a sociabilidade. Compartilhamos fragmentos de memórias de nossas infâncias a partir de olhares e sentimentos da nossa meninice, vivenciada nas periferias da zona sul da cidade de São Paulo.
MEU QUINTAL ERA MAIOR QUE O MUNDO A rua, vista do portão da casa, era a entrada da favela. Havia muita gente, mulheres sentadas na calçada, som alto, crianças brincando, cachorros passando… A mãe da criança trabalhava o dia todo e tinha medo de que ela ficasse na rua, a recomendação era para brincar no quintal.
SOBRE MENINES E RUAS Era 1994. Nós nos dividimos em dois times; quatro passos bem alinhados, traves de chinelo e bola de capotão no meio da rua, o jogo começa. Berruga grita, porque acabara de arrancar o “tampão” do dedo. Ele dá umas batidinhas no pé e o jogo continua. Brincar de “gol caixote” era a forma como iniciávamos nossos dias. A rua era nossa morada, extensão de nossas casas, nossa quizomba, lugar da diversidade, espaço de ser e de estar.
O BANHO DE TERRA MOLHADA Verão de 1990. Ela e sua melhor amiga voltavam do bar da dona Laura, saquinho cheio de bala Juquinha na mão, quando a chuva chegou, forte. A rua de terra virou pista de sabão. Entre escorregões e gargalhadas, uma ideia: em instantes estavam brincando na poça de lama. A menina nunca mais esqueceu o cheiro daquela memória. Presenciávamos a passagem das ruas de terra para o asfalto. Era um desafio chegar até o destino com os sapatos limpos, sem as manchas marrons e avermelhadas de barro. Daí que veio o termo “pé de barro”, dito de uma forma pejorativa para designar nós, as pessoas pobres, faveladas e periféricas. A selagem das ruas sem planejamento urbano para o encontro e o convívio, sem instalações de praças e áreas verdes, fez que o asfalto, fruto da reivindicação da população, tomasse grande proporção. A manta asfáltica selou os espaços e as relações entre as pessoas e separou os corpos da natureza. Os cheiros das ruas mudaram. Os sons antes marcados pela gritaria das crianças aos poucos foram diminuindo à medida que os barulhos dos motores ganharam espaços. Os portões aumentaram de tamanho e espessura, passaram a ser fechados, em vez de encostados.
Ocupamos centro, periferia, ruas, vielas, bibliotecas, espaços culturais e avenidas, movidas simplesmente pelo desejo de brincar (n)os espaços públicos.
A rua, que era lugar do encontro, virou local de passagem, perigo e medo. As mudanças, as “muda-danças” desses cenários foram acontecendo à medida que a urbanização foi se aproximando. A rua abriu espaço aos automóveis: o tal “des-envolvimento” chegou! Queremos nós, Brincantes, hoje ter os pés de barro, estar em contato novamente com a terra, ter pés sujos que deslizam, amaciam o chão e brincam de chutar poças de lama. Formada apenas por mulheres, uma pedagoga, duas psicólogas e uma letróloga, a coletiva Brincantes Urbanas estuda a cultura da infância. Em 2015, com o apoio do edital “Redes e Ruas”, fizemos residência brincante na Praça do Campo Limpo e circulamos em outras praças, ruas e parques na cidade. Com corda, bola, tecidos e bambolês, entre outros brinquedos, chegávamos ao local escolhido e provocávamos as brincadeiras coletivas. O desejo era agenciar situações em que o brincar fosse o fio condutor do encontro e das trocas. Com um simples bater de cordas nas praças e ruas vimos crianças,
adultos, jovens, famílias inteiras se ache-
Acreditamos que inicia-
gando a nós para brincar e estar juntes.
tivas como a nossa não
A corda era um desses fios condutores,
garantem ser criança
que levava os rostos sisudos a sorrirem,
em sua potência e pleni-
querendo sempre mais. Ocupamos cen-
tude. Como sociedade,
tro, periferia, ruas, vielas, bibliotecas,
estamos falhando com
espaços culturais e avenidas, movidas
nossas crianças, somos
simplesmente pelo desejo de brincar (n)os
uma sociedade adulto-
espaços públicos.
cêntrica e individualista.
Esse movimento gerou uma campanha
Precisamos construir cida-
coletiva: Quero Brincar nas Ruas! Um
des, ruas, bairros e escolas
grito reafirmando a importância de exer-
que acolham as infâncias
cer o direito à cidade e ao brincar. Nossa
e toda a diversidade hu-
contribuição efetiva para a ocupação dos
mana. O atual contexto do
espaços públicos. Porém, com a chegada
país, marcado por discur-
da pandemia do novo coronavírus, o
sos (e atos) de ódio, medo,
isolamento social nos obrigou a recuar
violência e uma pandemia
das ruas e reafirmar o íntimo de nossas
sanitária, convoca-nos a
casas para brincar e atravessar este tem-
novas rupturas – antes
po que pede proteção. Seguimos espe-
que seja tarde demais. É
rançosas de que, com a imunização da
urgente repensar as rela-
população, a campanha Quero Brincar
ções com as ruas da cida-
nas Ruas retome seu espaço de origem:
de para o reavivamento da
a vida livre nas ruas!
vida coletiva e solidária, e a
Quando há a possibilidade de ter es-
nossa coletiva surge desse
paços seguros e dignos, a ocupação da
desejo: de reencantar as
cidade acontece!
ruas e a vida comunitária!
•
INSURGÊNCIA DIGITAL: UMA DIGRESSÃO FLÁVIO CAMARGO SERES TONI BAPTISTE COLETIVO COLETORES
O ano 2020 foi marcado por lembrar a humanidade sobre quanto um evento local pode desencadear globalmente transformações sociais de proporções dantescas. Se no ano 2001 o ataque às torres gêmeas nos EUA expôs as chagas sobre aquilo que as hegemonias defendiam como o modelo funcional de globalização, a crise financeira de 2008 terminou por sepultar esse mesmo modelo de globalização como uma ficção infeliz. O que temos em comum entre os anos 2001, 2008 e 2020 é uma incrível desculpa para instaurar um modelo de existência que vai contra o que conhecemos por direito à cidade e, da mesma maneira, vai em oposição ao básico daquilo que entendemos por direitos humanos. Historicamente, nós nos unimos para todo e qualquer tipo de ataque e nos separamos quando deveríamos nos proteger. Como em todas as crises deflagradas ao longo da história global, é comum que boa parte das comunidades mais vulneráveis se encontre mais exposta a diversos tipos de mazelas, seja por conta de modelos políticos que permitem tratamentos desiguais para pessoas de um mesmo povo, seja por instituições que fazem da
As cidades tornaram-se palco para uma série de manifestações organizadas de diferentes formas, fazendo da insurgência uma estratégia comum para que diferentes pautas sejam apresentadas, ouvidas e reivindicadas.
administração das crises oportunidades para impor o lucro acima da vida e das relações de trabalho. Na contramão desse contexto de fricção, observamos uma série de movimentos e ações coletivas que se utilizam das ferramentas disponíveis para fazer a luta pela existência acontecer de forma inclusiva e coletiva. As cidades tornaram-se palco de uma série de manifestações organizadas de diferentes formas, fazendo da insurgência uma estratégia comum para que diferentes pautas sejam apresentadas, ouvidas e reivindicadas. Segundo o antropólogo James Holston, um dos maiores teóricos ligados às insurgências urbanas, as movimentações coletivas avistadas desde a virada do milênio organizam-se a partir de três pilares: (1) fazer a cidade acontecer; (2) ocupar a cidade e (3) reivindicar direitos. Em “Rebeliões metropolitanas e planejamento insurgente no século XXI”, o autor afirma que a partir desses pilares foram gerados movimentos por novas formulações de cidadania, que o autor nomeia “insurgentes, as quais, simultaneamente, demonstram e fazem valer novas formas de democracia direta. Todas essas rebeliões urbanas usaram a mídia digital como elemento central de mobilização”. Holston ressalta que essas manifestações coletivas ligadas ao direito à cidade se valem das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) como ferramentas de organização, comunicação, memória, denúncia, expressão, luta, educação, colaboração, sustentabilidade, entre outros, possibilitando, por meio de pautas em
comum e transversais, a convergência de
linguagens. As ações com
movimentos e a formulação de uma cida-
videoprojeção destacam-
dania que nasce a partir da insurgência.
-se pela amplitude de terri-
É nesse caminho que muitos artistas,
tórios, temáticas e escalas.
coletivos e movimentos culturais têm
É neste contexto que
se organizado diante da condição
o Coletivo COLETORES
do distanciamento social, realizando
tem realizado ações
movimentos e ações socioculturais
buscando dialogar
relacionando arte, cidade e tecnologia.
e cocriar a partir de
Algumas dessas ações acontecem no
diferentes contextos
formato de apresentações, workshops e
mesclando: Arte,
debates, via transmissão on-line, enquan-
Tecnologia e História.
to outros artistas utilizam a cidade como
Atuando como um dos
suporte para diferentes intervenções ur-
coletivos pioneiros nos
banas, seja em murais de graffiti e “pixo”,
usos da linguagem da
que posteriormente são divulgados nas
projeção mapeada em
redes sociais, seja em apresentações com
periferias, o COLETORES
videoprojeção mapeada.
desenvolveu um modus
Diversas cidades do Brasil passaram a re-
operandi que reflete so-
ceber uma série de intervenções visuais
bre territórios, memó-
em diferentes estruturas arquitetônicas
rias e figuras que foram
e monumentos, com o objetivo de res-
apagadas, perseguidas
significar as realidades nas quais estão
ou marginalizadas. Entre
inseridas, ocupando a cidade com arte
as ações realizadas pelo
urbana digital, mixando vídeo, dança,
coletivo nos últimos me-
ilustração, animação, poesia, entre outras
ses, destaca-se o projeto
Tebas Re-memórias, uma ação com pro-
possibilitou uma maior
jeção mapeada em escala arquitetônica
expansão e exploração
que contou a história de Joaquim Pinto
da linguagem configu-
de Oliveira, sob dois olhares dialógicos:
rando-a como uma ação
“Vida e obra” & “Legado”.
para além dos circuitos
O projeto compôs a Jornada do Patri-
de artes digitais, shows e
mônio 2020 e contribuiu para que o
eventos, ocupando cada
grande público pudesse acessar a obra
vez mais as cidades por
do arquiteto negro Tebas que, mesmo
meio de ações espontâ-
escravizado, inovou a forma de se fazer
neas ou previamente pro-
e pensar as cidades. Com o apoio do
jetadas, gerando novas
jornalista Abilio Ferreira, o projeto Te-
perspectivas para a ocu-
bas Re-memórias pôde fazer uma ponte
pação dos espaços pú-
entre documentos históricos, ilustra-
blicos, novas linguagens
ções, aquarelas e fotografias de época,
visuais, redes de solida-
entrecruzadas com rastros do legado de
riedade, além de cami-
Tebas, passando pela história do samba
nhos seguros para conti-
paulista, a criação do Movimento Negro
nuar a promover a saúde
no Brasil e a preocupação com o resgate
cultural das cidades.
de memórias e referências negras que,
Nesse diapasão, o COLE-
similares à história de Joaquim Pinto de
TORES se coloca como
Oliveira, também tiveram suas trajetórias
um rizoma que espalha
apagadas ou editadas.
e conecta não só lingua-
Embora a projeção mapeada não seja
gens e público, mas tam-
um fenômeno inédito, sem dúvida algu-
bém territórios, memó-
ma o contexto atual do confinamento
rias e coletividades.
•
ENSAIO VISUAL CIBELE LUCENA
SOBRE DIREITO À CIDADE IMARGEM
A partir das margens da cidade, uno com tinta a paisagem dividida, imagens de gente, desenhos de casas e escritas como conjugações com a palavra ver em percursos de acessos para além das fronteiras. Também conhecido como Veracidade, sou Mauro Neri, um preto nascido em 1981, criado no Grajaú, periferia sul de São Paulo, onde o movimento Imargem foi idealizado, em 2006, junto com meu irmão, o artivista Wellington Neri, de 1984, conhecido como Tim e outros amigos Agentes marginais, desenvolvemos ações, registros e reflexões multidisciplinares que correlacionam intervenções artísticas urbanas, educação, direitos humanos e meio ambiente. No projeto Cartograffiti, fizemos percursos de murais ligando a periferia do extremo sul ao centro e vivenciamos uma complexa articulação burocrática para a obtenção de autorizações, entre conflitos e parcerias com agentes da polícia, pichadores e a contradição da prefeitura com os apagamentos precoces dos murais. A partir de 2015, o Infograffiti replica stencils, lambe-lambes e a mão livre e utiliza estatísticas para denunciar as políticas de desigualdades sociais estruturais. Em resposta aos constantes apagamentos e criminalização de intervenções urbanas, em 2017, como coidealizador da Comissão de Arte Urbana, dialogamos
com diferentes instâncias
picham e grafitam, os primeiros a dar o
do poder público sobre
exemplo de uma gentileza urbanística?
os processos de autoriza-
Quantas obras de arte são apagadas pelo
ções e descriminalização
poder público e não há consulta aos ar-
da arte urbana. O poder
tistas nem à sociedade? É preciso cobrar
público e as outras autori-
transparência, o apagamento merece
dades estéticas da cidade,
atenção, a mão de obra e matéria-prima
como arquitetos, paisagis-
empreendidas podem ser muito mais
tas, publicitários, grafitei-
bem aplicadas. Aprimorar os processos
ros e pichadores, impõem
das prefeituras regionais junto às em-
seus valores sem autoriza-
presas terceirizadas que, com critérios
ção da sociedade. Desde a
recorrentemente equivocados, apagam
homenagem a figuras da
quilômetros de muros grafitados. Quais
história de reputação hoje
interesses estão acobertados pelo uso da
questionada, as propa-
tinta feita de cal cinza, cor de concreto? A
gandas que bombardeiam
cor da cidade, acorda a cidade.
com poluição visual até o
A pandemia explicitou ainda mais quais
vandalismo das campa-
são nossas urgências, prioridades e
nhas eleitorais. Quanto
quais as vidas importam e quais vidas
de perversidade pode
na história parecem importar menos. A
existir nesses apelos? Em
repetição do abuso de poder e de privi-
que medida isso compro-
légios contrasta com o direito a ter direi-
mete o corpo e a mente
tos, e quando acreditamos ter alcançado
das pessoas e também o
a democracia, ela se mostra ameaçada,
organismo da cidade? Se-
e quando existe, aparece como um pri-
riam os não credenciados,
vilégio para poucos, assim como a jus-
os marginalizados que
tiça que parece haver para quem pode
acessá-la e fazê-la na prática. A educomunicação e arte é nossa possibilidade viral e vital de ser e de fazer justiça e democracia. Veja, viva, deixe e faça viver, fazer e ver. Para fazer uma mensagem mais presente na visão e memória das pessoas, adotamos estratégias resilientes de inserção inspiradas na convivência dinâmica da cidade. Cuidamos da rua, ocupamos espaços vazios sem aviso
Quais interesses estão acobertados pelo uso da tinta feita de cal cinza, cor de concreto? A cor da cidade, acorda a cidade.
prévio, lugares e não lugares descuidados, às vezes abandonados e sem perspectivas de restauro e utilização. Essa convivência ensina como são diferentes as leituras e interpretações de quem gosta ou não do que fazemos, de acordo com seus respectivos repertórios e orientação política. Nesse aprendizado cabe o exercício de uma empatia projetada: em vez de captar a realidade do outro, apenas refletimos a nossa. Acreditamos que é digna alguma possível consulta pública a quem cuida, quem vê, quem tem, quem administra o local para poder transformar a paisagem, cada vez mais. Esse relacionamento honra os encontros para além da rua. “Legal, mas custava ter pedido autorização antes?”. Tinta na parede, expressões sem autorização ganham status de crimes contra o meio ambiente. A perseguição aos envolvidos virou política de delação e vigilância e encaminhamento até departamentos especializados em crime organizado. O infrator, por sua vez, contraditoriamente se sente ainda mais estimulado a colecionar processos e marcar a cidade que o judicializa e tenta ora o excluir, ora inserir. Como réu, na minha primeira pena senten-
ciada, pude cumprir 28 horas de trabalho
para isso, ouvir a opinião
obrigatório pintando um mural participa-
da sociedade, engajá-la
tivo em aulas em uma escola pública de
nessa escolha participativa
educação infantil.
e convidá-la a exercer a to-
O grafite traz a prática contraventora da
lerância ou não com a op-
conciliação, pode ser provocador, político,
ção da permanência cíclica
mas não indiferente; algo que por si é im-
das comunicações visuais
positivo, sem negar sua característica ine-
urbanas, nos muros públi-
rente transgressora, mas também pode
cos e privados.
repensar seus papéis na dinâmica da cida-
Arte está mais no olhar de
de. Podemos exercitar o descumprimento
quem vê que na mão de
e o cumprimento das regras, valorizando
quem faz. Na busca por
a empatia. Violar o discurso do ódio. Se
transformar o contexto
estar à margem é da natureza do grafite,
vigente e o cuidado com a
nada é tão marginal hoje em dia quanto o
paisagem urbana, mostrar
diálogo focado mais nas semelhanças que
arte que seja compreensí-
nas diferenças.
vel e que transmita, com
Ter a cidade como suporte e a opinião
intensidade e beleza, a ur-
pública como aliada da arte pública são
gência daquilo que se acre-
facilitadores dessas discussões. As men-
dita ser mais importante.
sagens manifestadas ou apagadas dos
Essa arte pretende agra-
muros estimulam a participação da socie-
dar, inspirar, influenciar,
dade nas polêmicas sobre a curadoria e
questionar, refletir e nos
cuidadoria das comunidades, de acordo
perguntar: qual é o assun-
com a disposição da população em parti-
to? O que a gente prefere,
cipar da zeladoria da cidade. Compartilha-
deixa, escolhe, autoriza ou
mentos, curtidas e seguidores são ferra-
se legitima ver na cidade
mentas de sondagem de opinião pública
de verdade.
•
ENTRE APAGAMENTOS E VISIBILIDADE: NARRATIVAS SOBRE A CIDADE CARTOGRAFIA NEGRA
Entre o fim do século XVIII e o começo do século XIX, ocorreram diversas mudanças no ciclo econômico do Brasil: a descoberta de pedras preciosas em Minas Gerais, a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, transformando-o em capital do país, e a expansão cafeeira no sudeste, principalmente em São Paulo, são alguns desses marcos. O ciclo do café transformou a pequena vila de São Paulo de Piratininga na maior metrópole da América Latina. Mas essa parte da história nós já conhecemos, o que pouco nos é contado é como esse processo se deu, sabemos a história do progresso econômico, mas não de quem realmente construiu essa riqueza. Isso se dá por um projeto político organizado pela elite cafeeira, escravista, que não poupou esforços no sentido de apagar registros da memória de quem vivia aqui antes – povos originários – e de africanos e afro-brasileiros que trabalhavam nas lavouras e nas cidades. É um projeto que se mantém até hoje, quando observamos a narrativa oficial da cidade, o sistema de ensino, quem são os heróis homenageados nos monumentos e índices contemporâneos sobre feminicídio, homicídio e questões relacionadas às vulnerabilidades sociais, que sempre tangem mais à população negra.
Tal esforço dessa elite,
so a saúde, cultura e moradia – envolve
em apagar as contribui-
também direito à memória.
ções e memórias que as
Uma das histórias que fica invisibilizada
diversas populações têm
na narrativa oficial da cidade é o proces-
da cidade, faz com que a
so de destruição da Capela Nossa Se-
identidade do povo pau-
nhora do Rosário dos Homens Pretos, na
listano fique incompleta,
região central de São Paulo. Era um es-
nega que grande parte da
paço relevante na reunião da população
população tenha conhe-
negra: onde as pessoas não só rezavam
cimento sobre o que seus
e zelavam por seus entes queridos, mas
antepassados construíram
também batucavam, celebravam e com-
e como viveram, sobre
binavam fugas, conquistas de alforrias ou
quem foram os torturado-
mais ideias para alcançarem sonhos.
res, esconde histórias que
A antiga Igreja Nossa Senhora do Rosá-
serviriam para que toda a
rio dos Homens Pretos foi construída
população se sentisse per-
entre os anos de 1724 e 1737 na atual
tencente ao espaço públi-
praça Antônio Prado. Na época, a terra
co e impossibilita o acesso
era do governo da cidade de São Paulo
ao direito à cidade, para
e foi requerida e concedida à Irmanda-
parte das pessoas que
de do Rosário dos Homens Pretos, que
aqui vivem. Direito à ci-
ali ergueu sua igreja, entre as ruas São
dade não envolve apenas
Bento e XV de Novembro.
questões ligadas a aces-
No início do século XX, a Lei 698, de 24
de dezembro de 1903, desapropriou as
A partir da percepção
terras da Irmandade para fazer obras de
dessas narrativas sobre
modernização na cidade, e as terras (in-
São Paulo surge o coleti-
clusive as do cemitério da Igreja) foram
vo Cartografia Negra em
entregues ao irmão de Antônio Prado,
2017, que pesquisa essas
prefeito naquela época, o Martinico Pra-
memórias e desenvolve
do. Ali, sobre o cemitério, foi construído
práticas educacionais
o Palacete Martinico Prado, que já abri-
antirracistas e interações
gou o Citibank e, hoje, acolhe a Bolsa de
com a cidade, visando
Mercadoras & Futuros.
colaborar na recuperação
O nome atual do largo é uma homenagem
do legado das populações
ao cafeicultor, banqueiro, jurista, jornalista
negras e originárias.
e político dr. Antônio da Silva Prado, o Con-
Desde 2018, o grupo rea-
selheiro Antônio Prado (1840-1929), que
liza caminhadas públicas,
ocupou diversos cargos públicos como
nas quais compartilha
vereador e deputado, e foi o primeiro pre-
fotos, mapas e histórias
feito da capital de São Paulo.
encontradas em seu pro-
A praça abrigava a antiga Igreja do Rosário
cesso de estudo, a Volta
dos Homens Pretos e, por esse motivo,
Negra. Esse percurso, que
recebeu, ao final do ano 2016, o primeiro
já foi feito também com
monumento em homenagem a Zumbi
estudantes de ensino mé-
dos Palmares na capital paulista.
dio, graduação e pós-gra-
duação, propõe revisitar, conhecer e ressignificar alguns territórios negros históricos em São Paulo. Lugares de resistência ou espaços que foram utilizados para venda, tortura ou execução de pessoas escravizadas e que hoje têm nomes e significados que apagam essas histórias, disputando as narrativas da cidade. Nesse cenário de pandemia, as caminhadas foram suspensas por conta de questões sanitárias. O debate sobre racismo ganhou destaque na mídia nacional e internacional após o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos – o que gerou uma onda de manifestações antirracistas no Brasil e no exterior. Os jornais locais começaram a discutir cada vez mais os monumentos das cidades, o que tem gerado resultados como a implantação do monumento em homenagem a Tebas famoso, arquiteto negro do século XVIII em São Paulo. Para além disso, a violência policial agravou-se, e o coronavírus provoca maior mortalidade nas regiões que são mais povoadas por pessoas negras. O caminho para a restituição da memória é longo e abrange muitos mais espaços e regiões. Por isso, continuamos realizando conversas remotas sobre o tema, associadas à pesquisa sobre a qual nos debruçamos.
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Tal esforço dessa elite, em apagar as contribuições e memórias que as diversas populações têm da cidade, faz com que a identidade do povo paulistano fique incompleta [...]
DESPROIBINDO A CIDADE CASADALAPA
A casadalapa, um coletivo transdisciplinar, foi agrupado pela força da rua para dialogar com a cidade em sua multiplicidade, talvez com o intuito de fazer pontes de escuta entre cidadãos comuns. A grande cidade São Paulo tem um crescimento exponencial e ordenado para apartar os cidadãos marginalizados nas bordas. Apartar aqueles que são sua força motriz, e o único direito desses cidadãos é morar longe dos acessos. Uma cidade composta de territórios singulares onde o ocupar a calçada – seja por cultura interiorana, seja por não ter quintal – ouvir música alta, brincar na rua disputando espaço com os carros, jogar bola nos resistentes campos de várzea, ir ao culto aos domingos, frequentar o baile, encontrar-se ao alvorecer no vagão de trem, ou no ônibus, são práticas de vizinhança dos territórios que ficam bem longe dos bairros privilegiados que concentram os acessos públicos e privados de uma vida com direito a cultura e lazer. Territórios distantes, mas inventivos de uma produção singular de cultura e arte. Um desses territórios singulares sobrou no centro, mas a disputa em viver nele é grande. Nesse território, fomos batizados como coletivo no dia 13 de julho de 2007, na alameda Barão de Piracicaba, entre a alameda Nothman e a rua Glete, no então bairro dos Campos Elíseos, aquele que
já fora o bairro mais nobre
que vieram morar mais perto do centro.
da cidade de São Paulo. O
Mal sabiam eles que estariam mudando
bairro mudou sua ocupa-
para uma zona de guerra em disputa pelo
ção. Onde um dia viam-se
mercado imobiliário.
enormes casarões das fa-
Naquele dia 13 de julho de 2007, nós do
mílias dos barões do café e
coletivo casadalapa, acompanhados de vá-
hotéis que serviam aos via-
rios aliados, fomos pintar uma quadra de
jantes que chegavam pelas
futebol no meio da rua e jogar uma bola.
estações de trem, agora
Na quadra, uma frase pintada no chão in-
essas enormes casas sem
dagava: “Onde está o Craque?”. Era uma
quintais passaram a abri-
provocação coletiva, para uma região ro-
gar centenas de famílias,
tulada de Cracolândia. Para nossa surpre-
em pequenos espaços
sa, abriram-se dois pequenos portões de
subdivididos e sublocados.
ferro e começaram a sair crianças que se
Próximo às estações ferro-
juntaram a nós para brincar na rua.
viárias, surgiu a rodoviária
A poucos metros dali existia uma praça
que trouxe viajantes de
com estrutura de lazer, mas muitas dessas
outros estados. Com o fim
crianças não podiam brincar lá, pois suas
da rodoviária da Luz e o
mães e pais tinham medo daquilo a que
sucateamento dos trens
o bairro estava fadado. O crack, mais uma
de longa distância que par-
vez no mundo, servindo para ser o motivo
tiam rumo ao interior pau-
da remoção de pessoas pobres de suas
lista, o bairro deixou de
casas para a chegada da revitalização, uma
ser esse centro circulante
política de intolerância e ganância.
comercial e acomodou
Sete anos depois, voltamos a trabalhar
famílias de trabalhadores
na região. A Cracolândia continuava lá e o
plano de desqualificar o bairro e depois vender barato ainda não tinha acabado. Em 2014 chegou uma Secretaria de Direitos Humanos e uma política intersecretarial de redução de danos com relação às drogas. Um programa foi lançado: “De Braços Abertos”, e a nós o convite de participar dessa experiência ímpar. Surgiu a “Casa Rodante” (youtu.be/TayMN-WSYs0). A vontade de incentivar a vizinhança entre as pessoas, através da arte, foi-nos permitida nessa parceria. Nossas ferramentas eram uma caminhonete antiga com uma casa de madeira em cima, dois cavaletes com um
Na quadra, uma frase pintada no chão indagava: “Onde está o Craque?”. Era uma provocação coletiva, para uma região rotulada de Cracolândia.
tampo para nossa mesa, duas garrafas térmicas de café, dois bancos caipiras, enxadas, tintas, linhas e tecidos, livros, muitos livros para serem compartilhados livremente, papel e cola branca, um bebedouro para a água, um projetor de vídeo para o cineminha, duas caixas de som para os saborosos bailes de rua e muito afeto e escuta de todos os artistas e profissionais que ocuparam essa casinha de madeira. Atitudes simples e provocativas como pintar uma amarelinha na calçada para lembrar que ali também era espaço de infância. Plantar em conjunto pés de arruda, babosa, mamão, algodão, maracujá, feijão, temperos, alfaces, no meio da calçada para lembrar do quintal da vó. Sentar em volta da mesa com as crianças, mães, policiais, servi-
dores da saúde, usuários de crack, popu-
Fazer uma arte que não
lação em situação de rua e todos toma-
seja extrativista, mas de
rem aquele café da tarde juntos e contar
fato uma arte que soma,
suas histórias. Retratar aquelas pessoas
respeita e aprende as
no estúdio do Zeca Caldeira, montado na
dinâmicas dos lugares.
calçada e ofertar uma memória ampliada
Conhecer e conviver nas
e impressa a ser colocada nas paredes
pequenas cidades que
simples das casas, quartos de hotéis ou
formam esta cidade,
nos carrinhos dos catadores. Atitudes
incentivar a prática da
simples de aproximação entre nós huma-
vizinhança, seja ela de
nos, na tecnologia do encontro.
portão, de vilas, de bair-
Esses conhecimentos foram amplificados
ros, ou mesmo de extre-
nos projetos “Casa Latina,” na praça da
mos geográficos. Andar
Kantuta com a comunidade boliviana, e
nas calçadas e não ter
no “Famílias do Arouche” (fb.watch/3q-
medo dos outros seres
VBbP_4qK/), com as comunidades LGBTs,
humanos que coexistem
que fazem o Largo do Arouche pulsar.
naquele espaço e tempo.
Nesse período de isolamento social, es-
Apresentar os cantinhos
tamos fazendo ações pontuais, como a
despercebidos e seus ha-
renovação do Escadão Marielle Franco em
bitantes. Nestes últimos
Pinheiros, e a intervenção em homena-
quinze anos, esses têm
gem ao mestre Itamar Assumpção, na Pe-
sido os bons motivos ge-
nha. O convívio com o vírus é real, temos
radores de todos os nos-
que zelar por todos, seguir os protocolos,
sos trabalhos coletivos.
mas sem deixar de propor soluções.
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A Revista Rampa 1 abordou a atuação de grupos espalhados pela cidade de São Paulo, a partir de um disparador, a ação do coletivo VoteLGBT, no Sesc 24 de Maio. Os textos discutem a promoção da cultura e a construção de redes de sociabilidade entre e para a população LGBT+.
aquilo que não é centro
Alile Dara Onawale
experiências culturais de coletivos LGBT+ em São Paulo
1
alile dara onawale poupatrans arouchianos mexa ilú obá de min amem jaqueline santiago gui mohallem
Disponível em issuu.com/sesc24demaio
Sesc 24 de Maio
Rua 24 de Maio, 109 TEL.: (11) 3350-6300 República | Anhangabaú /sesc24demaio
sescsp.org.br/24demaio