Autoamor dá conta? - Número 1 - Revidar, por Slam Marginália

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Essa publicação nasce de um convite, um chamado, de outra, para que se escreva novamente-outras-coisas. Mas essa outra também é nois, porque depois do convite, nos re/vendo, também nos lembramos que precisamos segu-ir escrevendo ainda e novamente essas outras coisas. É Bárbara Esmenia quem fez o convite ao Slam Marginália para compor um fanzine online para tratar da importância e dos desafios de falar e pensar saúde mental no contexto da vida trans. Como no Marginália a coletividade se expressa no é nois, convidamos outras experiências pra se somar nessa criação coletiva que é abigail Campos Leal, Ayo, Carú de Paula, Castiel Vitorino Brasileiro, Kika Sena, Preto Téo, Trindade, Uarê. Escrevendo rostos e paisagens, desenhando palavras imag-éticas, rabiscando colagens, diagramando emoções... É sobre a vida, ou uma vida, a ou uma vida que enfrenta, ainda num território mundo colonial Brasil que é especificamente anti-trans, anti-prete e anti-indígena, as violências de tentar fugir do binarismo de gênero e das racializações racistas que são outros nomes pro ato colonial de matar. É sobre a vida e seus desafios e dificuldades e mistérios, portanto, que aqui, ainda se reflete mais uma vez. revidar se desenha e se escreve e se cola e se diagrama como uma forma de fugir; onde fuga é apenas um nome provisório pra vida.

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revidar é essa conjunção de forças, corpos, mistérios, movimentos e energias que, às vezes, se transforma em vômito emocional, grito de dor, pedido de ajuda, troca de afetos, feitiços malditos, palavras sorrisos, desejos ardentes, urros de loucura, silêncios... e tudo isso é também uma outra forma de orar pra defender a vida trans (preta indígena, em especial) contra aniquilação colonial chamada Brasil. A pandemia anuncia o fim do mundo (que existe há mais tempo do que se percebe). Mais do que nunca, então, as vida trans (pretas e indígenas, especialmente) precisam de nutrição e proteção para seguir (n)a trajetória contraditória e misteriosa da transformação. Essa publicação, assim desejamos, é o gesto que anuncia essa profecia, esse feitiço, essa praga. revidar Slam Marginália inverno de 2020

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concepção e curadoria Slam Marginália capa Carú de Paula texto e imagens abigail Campos Leal, Ayo Lima, Carú de Paula, Castiel Vitorino Brasileiro, Kika Sena, Preto Téo, Trindade projeto gráfico Uarê Erremays slammarginalia@gmail.com

Tipografia: Garamond / Diagramação: Scribus Materializado durante o quinto mês da quarentena de 2020, quando a contagem de corpos chegou a 100mil. 4


sumário

limpeza / amigues / a cura que amarga / rezinha (tambor 90bpm)

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Preto Téo ensaio sobre o exercício de brotar Kika Sena Trindade

Ayo Lima

folhas de vida no fim do mundo abigail Campos Leal jornal da existência - alma guerreira: uivo em ventania (ancestral)

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Carú de Paula quando incorporei o pai amor Castiel Vitorino Brasileiro

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limpeza

Preto TĂŠo

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amigues

nasceu de repente rebentando caco pra todo canto segunda, se viu reflexo na terรงa, gostou de si na quarta, mandaram matar na quinta, fugiu na sexta, salvaram no sรกbado, rachou domingo, colaram

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a cura que amarga

definitivamente não queria escrever mais nada nada nada nada nada quando a angústia me come o peito a garganta poupa a palavra muito cansada, pigarra tosse, engasga melhor não falar só emanar pensamento bom pra amores bons que me irrigam a alma, um beijo Bibi, Carú, Carol saudade é bom mas nunca vi salvar nada uns tempo de encolha cola de volta o peito partido silêncio, depressão me põe pra dentro e eu finjo que medito mais insisto que realmente organizo pensamento respiro, respiro cansa as perna, súa, sente dor, come bem quando come bebe água sente só só eu me refaço só eu só eu me refaço só cansa. pensa, tivesse uns placo viajava não de nuvem pensamento sonho como faço mas de matéria mesmo, beber vinho, fumar bom, escolher o prato que nada 9


capital me obriga a ser máquina como, se tô só a borracha gasta? nem pra receber pensei, nem pra isso também, cachê sempre escasso fosse grandão me botava em outros tipo de asfalto planície, oceano, mata dentro e a fora que nada nem todo dinheiro do mundo acabaria esse moinho de farpa quando tinha que guentar mesmo, não poupei as palavra vai entender a lógica que lógica, que farpa que nada meu amor quentinho tá longe e protegido de mim que nada nada dia vai, mundo vem e só sobra a caneta que caneta, zé? tá escrita mas ainda é palavra

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rezinha (tambor 90bpm)

o próprio chão que eu agradeço de pisar me guarda marafo e água marafo e água pede licença pra abrir a rezinha com fumaça, desbaratino memo é com sorrisos dos meus parça tudo boyceta-flor, chapa memo no perfume que nunca falte amor pra cultivar a planta que une marafo e água marafo e água simples e iluminada é a presença sagrada de corpos como o meu, de antigas caminhada retornando transmutado para experimentar a possibilidade de hoje se libertar marafo e água marafo e água proteção e alento pra todo preto suspeito axé e caminhos abertos pros de barba e peito que a história do meu povo seja de prosperidade Zé Pilintra e Xangô afastem toda a maldade 11


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ensaiei muitas vezes o que queria dizer: remexi, misturei, mas não decorei texto nenhum. o branqueamento urgente de uma sociedade que subjetiva o progresso em detrimento da objetificação de corpas pretas insistiu em calar qualquer grito que ousasse surgir de nossas gargantas. pode parecer até que deu branco, e toda sabedoria se perdeu no tempo. daí vem o cada um por si e nenhum por todes. mas o branco é plano de fundo frouxo: rapidinho se rasga e no fundo do fundo se vê a herança pr’além de uma linha reta têm curvas, relevo, tantas |s i n g u l a r i d a d e s| espalhadas no tempo que se encontram numa espécie de fortaleza ancestral. a memória nunca me falha quando penso em criação de corpas pretas e periféricas. a memória nunca talha a lembrança de minha própria criação. minha irmã carolina de souza |sou poeta| me chamou a atenção pra existência de um provérbio africano que acolhe e disse: “amiga, é preciso de uma aldeia para se educar uma criança.” ainda escuto as qualidades do som e a atitude de sua voz ao me abrir a escuta sobre essa conexão-comunhão que temos. tradução de comunhão é expansão de conquistas é devolução d’àquela esperança que diziam que existia quando olhavam nos nossos olhos e enxergavam o futuro. 13


hoje, ocupadas de presente, acessamos essa memória ancestral talvez para não esquecer o motivo da necessidade de permanência do ar em nossos pulmões pra sentir o sangue correndo, o choro correndo, a corpa correndo contra a maré que é o que dá força. brotamos aonde não é permitido insistimos em não se adequar à imposição de uma norma: insistimos em reivindicar pela poesia da nossa existência pelo riso agudo, a fala gritada... a desobediência. até a gravidade quis nos empurrar para baixo, calando aquilo que chamamos de voz. e nossas corpas, quase que adaptadas, vez ou outra esqueciam das enchentes e não conseguiam colocar pra fora a angústia do desgaste provocado pelo tempo: correnteza. voltamos à memória que nunca falha pra tentar encontrar no presente a esperança que um dia foi futuro: nós crianças cheias de sonhos. tempestade que inunda é resposta. que em seguida vira broto e como que nas raízes encontra água pra ficar de pé vida compartilha comum sentimento: criação.

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Cura, pra mim, nesse momento de pandemia, é retornar à tudo o que eu gosto de fazer: dançar, me movimentar, jogar pra fora o que estou sentindo. Junto vem a costura, onde semeio amor naquilo que estou fazendo; umas das coisas que mais gosto de fazer desde sempre, depois de todo o caos que aconteceu em minha vida, fui me curando através disso. Depois veio mais coisas que nos derrubou totalmente, e seguimos em frente mostrando que estamos vivos, sim, e não vamos abaixar a cabeça. Claro que não somos de ferro, somos atravessados o dia inteiro, e estamos aqui de pé.

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Trindade

Nesse tempo, eu me juntei com os meus, está sendo maravilhoso, ajuntando todas as forças que temos, nos curando juntos, nos fortalecendo juntos. Nesse tempo de cura, em meio ao caos, eu estou amando também, Dandara, uma travesti maravilhosíssima que entrou na minha vida pra seguirmos juntes e prosperar nossas vidas trans. Mostrando que não estamos pra brincadeira, e aonde o amor prevalece, amo a vida de todes. Vidas trans importam!

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Ayo Lima

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E você lembrou do seu banho tomar Não é aquele que cai do chuveiro É um banho ancestral para ajudar no caminho traça Coloque ervas que pode te curar Ou coloque sal grosso para te livrar do que pode te atrasar Esse é só um lembrete Banhos também pode te ELEVAR

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Nunca pensei estรก assim Dentro de uma casa a existir Se sentindo livre pra seguir Curando feridas e entendendo o que tenho que fazer aqui Obrigado

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folhas de vida no fim do mundo abigail Campos Leal 23


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I se a paisagem é uma herança, o que a Terra herda, então, do Vírus Branquitude? em verdades sujas múltiplas desvairadas me banho. olhando de longe, vejo infinitos tons de verde baixo, terra norte, marrom flecha. m/e faço em pinceladas de sóis pretos y amarelos laranjais. se a vida vegetal mineral animal espacial se recria em alongadas faixas de transição por que não me permitiria experimentar em mudanças transicionais? sssssss sssssss sssssss sssssss ssssss sssss ssss sss ss s

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II Marias Marianes erráticas errantes Venturas Verônicas lunares lunáticas de Paulas Palmares, Teófilos Inácios me ensinaram a desenhar, gorda de vida marrom, com a curva do meu cabelo molhado em ódio crespo; me inspiram a escarrar, em gotas desobedientes, de volta, a mão-valor podre que sufoca as minhas genitálias; me remexem em desejos gotedesejantes de lamber com o cu as estrelas cristalinas y brilhantes da sua alma clitoriana retinta; me refazem em sorrisos caminhantes quando vocês me vem aqui, nas nossas lembranças arruaçadas, de nóis, saqueadoras da meia-noite, louca nas escada-ria do meu coração de puta apaixonada, nóis na praça suja repleta de vermes pálidos, caótimas, assaltitando as suas distópicas normas espaciais, só existindo, como os viadinhos bêbados de amor y fúria que vocês sabem que nós somos; me instigam a pintar novamente, em músicas desejantes de vida rebolada, em pixos revoltosos fugitivos abolidores feitos nas paredes rugosas do meu cucérebro roxo, a minha tribo de ancestrais desfeitores de gêneros y racializações, morrenascidos, que escavei y inventei por aí; me possibilitam encontros y andanças pra refazer esse mundo em outros fins que são apenas mundanças. 27


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III pessoa podre, gente morta, cultura imunda, direitos cínicos, progresso merda, deus cólera, sexo tédio, pensamento medíocre, duro duro tudo duro tenso duro fechado! o seu Homem-esgoto, depositário de todas as imundices racionais fanáticas, que vocês ainda insistem em chamar de valores, y tudo aquilo que faz vocês saltitarem com o mais sincero dos orgulhos, não passa de um enorme saco podre reluzente de sangue coagulado, esperma seco, repleto de trapaças, roubos, estupros, saques, pilhagens, mentiras, des mem bra men tos, desastres, massacres, emboscadas, caçadas, cercos, prisões, guerras, cercas farpadas, pacificações, grades, armações, jaulas, crucificações, torturas, invasões... aqui, todo dia é fim do mundo, mas aqui, nessas outras paisagens, não existe Apocalipse porque nesse fim não existe julgamento final, como quiseram, vocês, pastores-ovelhas do deserto! e s p a ç a d a, desertando outras andanças, me perdendo em outras paisagens, e,u, que habito outra terra, terra que está sempre chegando ao fim, mas que também está sempre renascendo, vos digo, não existe Apocalipse porque não existe julgamento y nem juiz, mas também porque tudo continua, na teimosia transformadora, espaçando o f i m pra frente... que cada fudida disgraçada que rebola seus desejos incandescendentes em 100 mil BPM´s, seja uma maldição pra fazer cair o seu Império-ColôniaCidade cinza de merda que fede à mijo, gás de pimenta y despejo y que daí 7 bilhões de espirros de vida sônica sejam paridos!

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IV y então, o que podemos aprender com as plantas? que não somos Humanos? com a capa dura, com restos de vida verde y com a ponta dos meus dedos virando páprica y terra, com 7, não, com 777 capas duras, que afundam na terra y com água se programam vida, nascimento mole, e,u desenho outras paisagens. num banheiro sujo do Terminal Tietê, nos becos y vielas do Retiro, nas margens colonialmente canalizadas do Rio Maracanã, no chão cismentado de um quintal, a vi/da irrompe em nascimento mais uma vez, buscando energia, indo ao Sol amarelo-vida atrás de energia, rumando perdida até se enraizar as tripas estrelares se perdendo em brilho morrenascendo! e,u volto y vou no tempo disdevendo vida vivendo! cresço, me alimento y me bebo vida, to florindo espiralada em infinitas ondas espirituais y vou deixando meus frutos gordos de vida pelo mun do .

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V e,u quero arte­vida criação­mistério que me remexa os dentro que me tire os centro que me gire as tripazidéia que me mova as ganas marrom y as ancas que me traia as vista que m/e roube sorrisos porque meu coração de manga rosa esfumaçado meio terra que voa em mares escuros morrenascidos imemoriais se lembra de ser leve y alegre y amarelo y ele já tá cansado de bater acelerrado pra bombear s-uó pra carregar as suas neuroses coloniais frias y pesadas gélidas glaciais do seu deserto ontológico branco; a minha pele paleolítica já cospe os seus já dados mortos chatos que é só mais uma mesmíssima variação que mata das suas próprias ainda extremamente mesmas in-mundáveis cis-mas brancas catarrentas de ordens erodidas. e,u quero que você me batuque as certezas, quero gozar pelo córtex a cada DIP conceitual que você der na Bóu dos nossos amores errantes, porque quando te sinto m/e reflito y m e movo alongática as mãos o olho o ombro em arrepios descalafrios... y aí e,u já danço ondas gordas de vida sincopada, vibrasônicas de ondas gordas de vida sincopada oooooooondas goooooooooordas ooooooooooooooooooooooooooooondas oooooooooooooooooooooooooooooon ooooooooooooooooooooooooooon oooooooooooooooooooooooon oooooooooooooooooooooo oooooooooooooooooooo oooooooooooooooooo ooooooooooooooo ooooooooooo oooooooo ooooo ooo oo o . 33


jornal da existĂŞncia -17 de julho de 2020

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jornal da existência -17 de julho de 2020

Jornal da existência lembranças pandêmicas

alma guerreira: uivo em ventania (ancestral)

algo intenso vibra no interno de nós que não nos permite esquecer o desejo de seguir comendo y transbordando potência vital. se quer viver bem, beber água fresca, frutas maduras doces, descansar a cabeça para contar histórias sobre quem já foi nas estrelas que registram guerras y amores antigos, y deveras registram profecias. se quer viver bem, sem ser comida do medo que de gigante, y tão, inflama os nervos, tornando a experiência do corpo uma constante irritabilidade, deslocamento, raiva, desajuste, dor, inflamação, é como estar sob uma plataforma quente. (fervendo) (o inferno é aqui)

se quer viver bem, sentir o calor do sol na nuca y ser aconchegado em colo de terra y folhas, dançar o canto no fim de tarde, refrescar o corpo em água corrida de rio, dormir uma noite fresca com quem se ama, amiga, 35


jornal da existência -17 de julho de 2020

família, amor, amante, cachorro, gato y o que nos acompanhar em espírito. uma batalha antiga que se conhece desde sempre, a de se seguir vivo todo dia, a vida sempre sobressai por ser de si a experiência de romper o impossível, o fim. se vive no ato que também se supera a morte - que é além corpo y não se encerra nele - é experimentar a queda constante. queda como experimentação da continuidade da vida, que não possui tracejo regular ou caminho pré determinado, a morte como sequência da vida y a vida como sequência da morte. queda como deslocamento do corpo - território que somos na experimentação dos atritos - micros e macros - entre o ‘’eu’’ y o ‘’outro’’, outro que não é de outro mundo, se não o nosso, o outro que o ego afoga, onde habita a loucura, onde é possível avistar os flertes da desrazão. se quer viver bem, sem medo do que dorme na fissura, que antes de tudo está na margem do precipício, o quase y o ‘’y se ‘’. fim. é preciso acabar com o fim, com a parede fim, com o fim pelo fim, com a rua sem saída - quando toda entrada é também rota de fuga. 36


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é preciso comer o medo (branco) y lembrar a morte como rito de passagem, para vir a ser; vento, tigre, planta, história, riso de ventania, tromba d’água. [ancestral de quem vem, memória viva de quem foi]

é preciso não mais esquecer que somos sequência, y por isso, futuro quando somos presente ao carregar o passado nas entranhas. não me engana mais, não me come mais, o olho que grafa o osso: propriedade do outro que é eu {ego}, duro reduzido a osso oco, vazio de nervo que faleceu inflamado - se comeu -. (já teve de fazer um canal? hoje existe um dente sem nervo na minha boca, um osso oco a vista quando abro a boca em frente ao espelho)

se quer viver bem, y não oco. raivosos y doloroso, oco.

sem interesse algum sobreviver, quando em sangue berra viver.

em meu

em território corpo que se grita vivo, articulado, criativo, inesperado, impossível, guerreiro de noite perdida, acostumado a subir o sol de cada dia. [grita dentro do peito: ‘’ei guerreiro!”]

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assim era: deitado em uma rede entre o céu de ontem y o que está por vir, as pernas com pequenas fuligens que chamo de graminha em terra seca, não tem pelos, os dedos da mão são finos y longos, a pele escura avermelhada, cor de barro, terra molhada, cheirava a chuva, o cabelo comprido até o cóccix preto da cor da noite, como seus olhos, que nasceram em um rosto sobre um corpo forte y grande. a rede azul cor do mar, com detalhes em verde da cor do rio. gostava de ver de cima, enquanto seu arco descansava ao pé de um céu. do alto podia ver o que se passava, cuidando da noite e garantindo o nascimento do sol. foi assim que o vi em um sonho pela primeira vez, em um misto de saudades y desconhecimento do que sentia. um futuro distante, um passado em câmera lenta… como o uivo do vento. (ancestral) uivo que berrou quando tocou meu escutar: se

prepare.

se quer ser y é guerreiro sem medo de ser menino para além de só no possível: violento. 38


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me disse inúmeras vezes, pediu que não deixasse se perder em um ritmo distante, perdido na memória: o que te grita do peito - raiva que é vontade de viver suprimida no medo. nos tiraram alguns chãos, confundiram nossa memória, olhar, y compreensão do que desejamos, mas a raiva que grita do peito é vontade de viver suprimida no medo. como vive um corpo

(o que anuncia

masculinidades [as transmasculinas indígenas pretas -

que é na constância de sua existência anunciado como ruptura violenta de tudo o que é potência de/em vida? principalmente])

transmasculinidades/ masculinidades dissidentes no macro: invisíveis no micro: traidores de um progresso ‘’feminista’’ (o branco ao menos). aberrações, o outro do espelho asséptico do homem cis hétero branco. ocupação de um lugar invisível, sentido nos peitos, nos punhos cerrados, na lágrima corrida sabor de mar, no barulho ensurdecedor no peito que nada silencia y/ou traduz.

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TRADUÇÃO o trabalho de escuta do barulho ensurdecedor. (re)aprender uma escuta antiga. uma conversa antiga. orientações de uma antiga. escuta do que grita no peito. assobio de vento vem a ser memória de sobrevivência. com os olhos escuros, me penetrou na memória, ei, és alma guerreira! em sonho me gritou tantas memórias, que a calma que meu desejo berra, está no embate y não na ausência dele. é preciso desfazer os nós, ter coragem para desfazer os nós, retomar a memória de que nunca se temeu nem onça nem sucuri em mata escura a ponto de fugir, medo alerta para saltar, é memória ancestral, não algema e preservação do que está parado/estagnado/cristalizado/polido/ branco - pacto esse sem dúvida com o fim pelo fim. desenterrei o arco para retomar a respiração, ele me contou também, arqueiro de alma guerreira tende a perder a respiração, quando seu centro está na mira - onde se é também arco y flecha 40


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de onde venho? como venho? como vim até aqui? estou. respirando, algumas devagar que outras.

manhãs

mais

no meu centro cravou o sorriso brilhante: iluminou o embrolho na boca do estômago. retome que o masculino que grita do embrolho é parte y não todo, é também memória ancestral, temos passado, como somos presente e seremos y somos futuro. também semente, fruta, estamos conectados. alma guerreira que grita masculinoS, sacudida pelo esforço recorrente de passar branquinho em tinta preta e urucum. no sonho da última noite, me sussurrou: és filho de curandeiro perdido na casa grande. neto de curandeira sem medo, de tempos de terra batida. bisneto de curandeiro que tem seu rastro primeiro no rio jundiaí. TRADUÇÃO barulho no peito)

(do que dói y não se entende de ( y/ou cura [?])

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em sonho venho: (re)aprendendo uma escuta antiga. retomando uma conversa antiga. escutando orientações de uma antiga. descobrindo de onde venho.

assobio de vento (ancestral) vem a ser memória de sobrevivência que se escuta quem no sangue grita vida. -----------------------------------------------nota 1 um anúncio breve, de uma memória que grita mas também de uma criatividade que cria. nota 2 esse é um dos registros sobre meu projeto Lembranças Pandêmicas, são memórias retomadas y criadas durante um período pandêmico de uma doença de branco, iniciado em 1500. nota 3 doença de branco: afeta a respiração - causa falta de ar angustia no sufocamento adoece as ramificações dos brônquios

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doença de branco: viver arfando, buscando ar, buscando pausa mata o pulmão da mata mata o pulmão da gente doença de branco: culpa achar que o rio morre ansiedade doença o que freia potência o que nega que a vida não se pausa que vê fim na morte

Carú de Paula 43


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Quando incorporei Pai Amor.

Castiel Vitorino Brasileiro

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Agô: cultuar almas são formas de agradecer por algumas lembranças que não desaparecem. Eu quero começar agradecendo ao começo que desconheço e à continuação que iniciei quando decidi continuar viva. Não serei esquecida, porque até hoje me lembro de Lacraia, Chuchu e de mim mesma que em outro tempo sonhou com isso que sou hoje. Agradeço à PombaGira que fez do meu corpo seu canzuá e fez de mim um redemoinho de memórias… essa espiral de memórias. Girei sem cair, ou ficar tonta. Mas quando eu cai, você me colocou de frente ao espelho e me disse: quem é você agora que tanto sonhou com esse hoje, e agora que é, não consegue prosseguir? E eu a disse: sou eu Castiel Vitorino Brasileiro, sua filha que em São Paulo chorou por ti e por Exú, antes de fazer a travessia de volta para meu cazuá que já não é mais meu, e sim nosso. Agradeço também à Oya, que me acolheu numa quartafeira de Preto-Velhos, e desde então me ensina sobre vento e velocidade. A densidade de meus movimentos de cura que são feitos com rebolados: agradeço ao meu cu e ao meu pau e ao meu corpo insondável que não sei dizer o nome porque me assusta e me faz rir sempre que tento dizê-lo em palavras. Sou indescritível.

Agradeço a boca da mata da Fonte Grande, que me engoliu, mastigou-me e me transformou em hibisco. Fui transfigurada, então sou hoje a Temperança. Eu vim de longe para agradecer ao Caboclo que me ensinar a ser Corpo-flor, e quando fui flor, descobri ser água, fogo terra e vento. Descobri que posso ser a Temperança. 46

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Eu agradeço a coragem de Marcela Aguiar, que me pariu e me fez travesti. Castiel nasceu de uma travesti e foi embriagada e alimentada por alguém e uma força tão contraditória quanto eu: Rucka de Lacaia. Esse texto é pra vocês continuarem gargalhando de minhas contradições identitárias. Agradeço ao medo e à insegurança identitária, que me fazem lembrar que meu corpo precisa respirar. E agradeço à Oxum e a Dandalunda, que me ensinaram a mergulhar em minha existência, sem me afogar: eu escolho ser peixe, antes de ser humana porque sou filha da Lua Crescente que me faz ser a verticalidade que liga Kalunga à Tukula. Agradeço à Isis Lumière e à Terra, que me acolheram em Cachoeira-BA na viagem onde esse escrito nasceu e se fez presente em forma falada. E eu também quero começar agradecendo e falando de Pai Amor, que é minha mãe, minha irmã e minha ancestral. Porque hoje quero falar de amor. Pois se tem algo que eu desejo falar, aqui e agora, é sobre o amor. E para isso, preciso mergulhar na existência desse amor que encarna o corpo que se fez pai, enquanto foi mãe: Pai Amor, macumbeira baiana que em 2019 reencontrei na cidade de Cachoeira.

Pai amor, minha ancestral viva, negra escura, crespa, perigosa e verdadeira. Pai amor, iniciada nas tradições africanas que aqui persistem ao esquecimento: o candomblé. Pai amor, Mãe de Santo de minhas amigas travestis, nossa ancestral que nos faz lembrar que Exú protege quem lhe oferece sacrifícios. Por isso somos travestis, porque sacrificamos nosso corpo à imprevisibilidade, oferecemos nossa vida à transfiguração. Pai amor, quem me fez lembrar daquilo que a racialização tenta me fazer esquecer. 47

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E com toda minha verdade eu vos digo: foi o amor que possibilitou nossos testículos transformarem-se em femininos. Foi esse amor profano, de merda, que fez meu pau, um órgão feminino. Amor à transfiguração. Agradeço à Pai Amor, e lhe peço agô. Agô a todas as moças que estiveram junto comigo em Cachoeira e me ouviram dizer sobre macumbas de travesti. E agô a todas as vidas que aqui me leem. Agô aos testículos femininos. Agô às pirocas femininas. Ago às travesti. Agô às pirocas e as cus que desaprenderam suas funções coloniais e fizeram de seus músculos, receptáculos de sangue energeticamente modificado por macumbas de travestis e feitiços de bixas. Agô aos hibiscos, às calêndulas, às camomilas, às turmalinas, às selenitas, às ametistas. Agô às almas e às águas barrentas, escuras e cristalinas. Agô às minhas meninas. Ago à morte e à vida, agô à mim, agô ao meu corpo. Eu peço licença ao meu corpo para continuar o habitado como local de vida, e local de falha, pois a vida é falha e para ser falha eu preciso continuar viva. Por isso, quero me habitar enquanto local de falha e local de vida. A peço agô para continuar habitando este lugar de vida, que é o meu corpo. E quando a licença me foi dada, e eu fui permitida a pisar no terreiro e incorporar como uma sereia, eu tive um orgasmo com a minha pele que tremeu feito terremoto e trovoada. 48

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A experiência da incorporação é um mergulho ou um ato de ingerir, ou um ato de dançar e gargalhar. Incorporar significar trazer ao corpo, fazer um corpo, permitir um encontro. A incorporação é um encontro, mas antes é um convite. Um convite que o corpo me faz a compreender a demanda de minha existencia. Para eu continuar viva nos mundos dos vivos e dos mortos, eu preciso perceber, entender e vencer demandas. Por isso peço agô ao reino vegetal que me convidou a encontrar a planta Vence-Demanda. E também peço agô ao reino animal, e à espécie Homo Sapiens Sapiens, que se modificou o bastante para consegui fazer com que hoje eu - sendo eu pertencente à essa espécie - conseguisse beber e incorporar uma planta; e como é incorporar uma planta?

A incorporação de uma planta ou de uma travesti negra Então a incorporação é esse diálogo entre reinos, espécies, luz e profundidade. É um diálogo vital. A incorporação é uma relação interespecífica, é a relação da coopenetração. É uma dança e um gesto, é uma relação de infecção recíproca. E como e porque estar aqui assumindo que eu estou lhes infectando, sendo eu uma travesti retinta que ao longo de toda história ocidental, é compreendida como um corpo que os humanos precisam tomar cuidado para não serem infectados? E porque que ainda assim afirmo meu desejo de infectar vocês que encontram comigo? E do que ja estou sendo infectada, na medida em que assumo esses convites de escrita e palestras? 49 49


Que relação é essa que ocorre entre eu e vocês? Essa relação de infecção e de sujeira. Sujeira de que? Acredito que é de memórias… a memória como sujeira... E a sujeira da memória é o que permite a incorporação. E a incorporação é lembrar no corpo as memórias que me permitem transfigurar a carne. Estou em vocês com a distância que vocês estão em mim, porém as intensidades não são as mesmas porque nossas histórias não são constituídas e não criam as mesmas memórias. Porque a experiência do encontro ou do distanciamento é diferente, mesmo a distância entre nós sendo a mesma. O que acontece com a planta que me benze e me descarrega dos carregos do gênero? O que acontece com o mar que limpa meus chakras e cura meu Ori dos desequilíbrios causados pelas racializações? Eu sou uma negra travesti benzendeira, eu sou macumbeira. Eu sei o que fazer com a planta mas não sei como elas fazem o que fazem comigo; esse são seus mistérios… O que acontece com o reino vegetal quando me encontra? O que acontece em nossos encontros e o que acontece em nossas incorporações? A incorporação, além de ser um encontro, é uma experiência de sustentar tais encontros, sustentar esses diálogos indescritíveis. Então como que agora, neste instante, estamos sustentando esse diálogo entre nossas vidas? Digo, enquanto você me lê ou me escutava, e enquanto eu escrevia e falava para você me ouvir… o que aconteceu em mim e em você e nos fez continuar nessa incorporação ? 50 50


Que relação intraespecífica é essa que aqui ocorre e possibilita que esse encontro continue acontecendo? E que encontro é esse que aqui está acontecendo? E como fazer desse encontro um encontro de cura? E, o que é essa cura que vocês tanto me solicitam? O que é a vida que vocês tanto imaginam ser a minha? E como eu continuo vivendo em desconformidade à sua expectativa de negritude e de travestilidade? Se a incorporação é um diálogo e um encontro, então pergunto: como incorporar travestis negras? Ou seja: como encontrar conosco e sustentar esse encontro como encontro que não seja de mortificação, mas de cura pela transfiguração? Mas, como não nos sobrecarregar? Somos pessoas que assumiram para si um feminino que é um sagrado, e pessoas que construíram um sagrado feminino. E transformamos nosso feminino em merda e fizemos dessa merda, sagrada. Somos o Sagrado Feminino de Merda. Como fazer de nosso encontro, uma dança de modificação que não me deixe sobrecarregada com o peso da culpa que se faz presente em seu corpo cisgênero ou transsexual que a todo momento me convida para dançar? Uma vez que para encontros acontecerem, é preciso de vida em transfiguração. A incorporação é um encontro de vidas que permitem vidas continuarem acontecendo de modo transfigurado, mas a transmutação não se restringe às pessoas trans e travesti, porque a transfiguração antes de ser uma questão de gênero, é uma experiência da carne; a carne oferecida à Exú. 51 51


Para a vida exusiática acontecer, preciso encontrar, sustentar e respeitar a imprevisibilidade. Respeitar o acaso e abandonar a linearidade. Que tempo é esse? Como organizo minha vida num outro tempo? Porque a temporalidade colonial me fez negra, bixa, travesti, e me fez ter gastrite por não ser nada disso. E também foi no tempo de Aruanda, em que percebi que sou negra, fui bixa, agora sou travesti mas nunca deixei e nunca deixarei de ser um corpo de mistérios. Um mistério exusiático. Um filamento de Exú. Um desígnio pombogiresco. Meu corpo é um tempoespaço que preciso sempre pedir licença e permissão para habitar. Meu corpo é um espaço, e que espaço é esse em que peço licença para habitar com minha vida insondável? minha vida kalungueira… minha vida encabulada. O meu corpo é mar e cemitério, por isso sou contraditória. Existe um mistério em minha existência, que é a possibilidade de negociação. Mas o mistério é sempre para alguém, e criado por outro alguém. O mistério é isso: alguém sabe e alguém parecia não saber. Na relação com o mistério da transfiguração, onde estão vocês?

Amor de marinheiro Novamente eu peço licença para Pai Amor, que é minha mãe, minha irmã e minha ancestral. Amor é o desejo e a feitura das possibilidades cotidianas de continuarmos vivas. Por isso,

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amei Isis e Greice em Cachoeira. Nos amamos ontem e hoje. E a incorporação é a possibilidade de amar a próxima como ela mesma e amar aquela que está distante, numa intensidade que possa nos aproximar. Porque nascemos no amor. Por isso afirmo o Amor. No entanto, por que não nos amam e ainda assim nos perguntam sobre amor? Porque perguntam às Pombagiras sobre amor depois de a terem queimadas vivas nas sexta-feiras da paixão? Fomos nós condenadas pela lei da inquisição, do gênero e da raça para sermos assassinadas. Somos nós as filhas, as netas, as irmãs, as sobrinhas, as amigas, as afilhadas, e as avós dessas meninas mulheres travestis que foram queimadas, envenenadas, apedrejadas, estranguladas, esquartejadas pelos seus amores. Somo nós essas travestis mulheres meninas.

Sexta feira da paixão…. pelo o quê? Fomos condenadas, assassinadas, queimadas, estupradas pelas pessoas que servem à Modernidade. Então… paixão pela liberdade da contradição e pela contradição que nos faz libertas. Mas, a compreensão de nossa vida a partir da palavra contradição, também é uma limitação cognitiva. Porque em verdade não somos contraditórias, mas sim exusiáticas. Como construir uma cognição que compreenda exú, como construir uma cognição que respeite os desígnios de pombagiras? Como criar um corpo que viva e deseja o fogaréu? 53

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Durante as giras na macumba, sempre me emociono com quando ouço um ponto de marujo que me diz assim: mas um amor de marinheiro…. é um amor de meia hora….

Porque sinto uma dança entre fogo e água acontecendo em mim. Porque amar é ter coragem para se incorporar. Porque o tempo da Kalunga é espiralado e insondável e indescritível. Porque me foi preciso abandonar a linearidade, para conseguir viver a transfiguração. Porque… porque… porque….

nota Esse texto é uma transcrição e uma criação a partir da fala pública que fiz na cidade de Cachoeira, em Bahia no ano de 2019. Com muita felicidade, essa palestra foi feita no primeiro lançamento do meu livro “Quando encontro vocês: macumbas de travestis, feitiços de bixas”. Tanto o lançamento, quanto a palestra, fez parte do Elixir: “um programa permanente de encontros, seminários, laboratórios com foco nas urgências e vitalidades da arte. Realizado desde 2019 a partir da interlocução entre os programas de pesquisa e extensão Áfricas nas Artes e Práticas Desobedientes – ambos localizados na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – visa através de diversas estratégias de criação fomentar e ampliar o debate em torno das problemáticas do fazer artístico a partir do nosso presente”. (https://www.praticasdesobedientes.com/elixir). Esse texto também é uma carta à Pai Amor, à Chikal, à Isis e à Terra, que reencontrei na cidade. 54 54


dedicado à memória de Demétrio Campos. 55


abigail Campos Leal cria seu pensamento y sua arte transitando entre a filosofia y a poesia. atualmente faz doutorado em Filosofia pela PUC-SP. compõe a organização do Slam Marginália. lançou esse ano seu livro de estreia "escuiresendo: ontografias poéticas" pela editora O Sexo da Palavra y publica ainda esse ano seu livro "ex/orbitâncias: os caminhos do comunitarismo y da deserção de gênero" pela Glac Edições. abigail tenta, de muitas formas, das mais simples y singelas, através da sua vida, do seu corpo, desfazer o mundo como o conhecemos, y aí mesmo, inventar possibilidades de vida. @bibirigosa bibicamposleal@homail.com 56

Ayo é um corpo preto que resiste e reside na zona sul de São Paulo, que tenta mostra o seu melhor em tudo que faz. Estudante de técnico de som e violinista, anda se aventurando e amando o mundo do áudio e produção musical . Escritor e poeta faz com que suas vivências e pensamentos saiam para o mundo, de uma forma que seja inspiradora. E tem sonhos de colocar em forma de filme todas suas vivências como pessoa. Transcista, trabalha pra que a auto estima preta seja elevada e que todos pretos se sintam coroados. Preto, periférico e sonhador, é assim que é conhecido ... Príncipe Ayo.. @ayo.lima


carú de paula é uma ação potente que atravessa identidades transmasculinas, poeta, escritor, arteiro, psicólogo, uma corpa dessa terra e não outra se não nessa na qual pisa. uma corpa afoita por afetos, e ações de vida éticas e sobretudo anticoloniais. Atualmente é mestrando em psicologia clínica pela PUC São Paulo e compõe a organização do Slam Marginália. @carudpaula carudepaulaseabra@gmail.com

Castiel Vitorino Brasileiro. Artista visual, macumbeira e psicóloga (CRP 06/162518) formada em Universidade Federal do Espirito Santo em 2019/2. Atualmente mestranda no programa de Psicologia Clínica da PUC-SP sob orientação de Suely Rolnik. Pesquisa e inventa relações em que corpos não-humanos se desprendem das amarras da colonialidade. Compreende a macumbaria como um jeito de corpo necessário para que a fuga aconteça. Dribla, incorpora e mergulha na diáspora Bantu, e assume a vida como um lugar perecível de liberdade. Atualmente, desenvolve estéticas macumbeiras de sua Espiritualidade e Ancestralidade Travesti. @castielvitorino 57


Alagoana enraizada no Distrito Federal, Kika Sena é arteeducadora, atriz, escritora, poeta, performer e pesquisadora da voz e da palavra em performance. É ex-aluna do Programa de PósGraduação em Artes Cênicas da Universidade de Brasília. Lançou em 2017 o livro Periférica, pela Padê Editorial, antecedido por Marítima, 2016, publicação independente. Sua publicação mais recente, também de forma independente, é a zine “Subterrânea”, de 2019. Atualmente integra a Coletiva Teatral Es Tetetas, com sede localizada em Rio Branco, no Acre. @sereiavulcanica

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Preto Téo faz poesia, cena e produção cultural. É autor do livro EP (Padê Editorial, 2018) e da zine Meia Noite (Móri Zines, 2019). Faz macumba, canta alto, erra muito e documenta tudo. Sempre escreve e aqui, de novo, resolveu mostrar. @pretinhoteo


Trindade, 19 anos, leonino; artista plástico, estudante de direção de arte. Moro na segunda maior favela de São Paulo, Heliópolis, mas nasci e fui criado no extremo leste, Guaianazes. Aonde vivi tudo que podia construir fora dali; minha relação com os familiares não era tão boa naquela época, cheguei a morar em um abrigo, foi onde consegui cursos da área que mais me interessava, a moda. Isso em 2017/ 2018, o tempo se passou e ainda estou aqui hoje produzindo tudo isso que sempre desejei botar para fora. Junto com tudo isso a transição me fez evoluir em vários sentidos também.

Uarê é bicho curioso. Sua pesquisa é o corpo, e o trabalho se materializa em muitas linguagens - uma delas a zine. Pela urgência da autopublicação, desde 2016 toca o selo Móri Zines, cavando espaço na cena da publicação independente. Além de imprimir seus textos e desenhos, vem se construindo como editor/ diagramador de produções literárias e imagéticas de pessoas LBTQ+, gordas e negras - porque produzimos e queremos ser lides. Tendo a experimentação e a valorização do erro como estética, pretende comunicar e afetar a partir da publicação.

@trindadehgw

@morizines

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