13o ano
77 7diretores autores Leituras
Esperando Godot teatrodoabsurdo
Samuel Beckett Concepção, Direção Geral e Direção Eugênia Thereza de Andrade
Teatrodoabsurdo*
O
termo Teatro do Absurdo foi criado pelo crítico Martin Esslin (1918/2002), que assim intitulou seu livro de 1961. A intenção era agrupar, sob esta designação, as obras dramáticas do pós-guerra que colocavam em evidência o nonsense da vida cotidiana, a incomunicabilidade generalizada e, em suma, o absurdo da vida contemporânea, que se caracteriza pela fragmentação da personalidade e a busca inútil e incessante de algum sentido na existência. O Teatro do Absurdo teve muita repercussão no Brasil, até porque, em muitos aspectos, a realidade brasileira em muito se aproxima do mundo sem nexo e sem saída retratado por esta corrente a cada dia mais contemporânea. Frederico Barbosa Poeta e Professor SP, 30/1/2019
* O Teatro do Absurdo de Martin Esslin. Edição atualizada (2018) – Zahar Editores
e s p e r a n d o g o d o t Samuel Beckett
E
sperando Godot pode ser considerada, sem exageros, a mais revolucionária peça teatral da modernidade. Primeira obra dramatúrgica do irlandês Samuel Beckett, que quando a escreveu já era, em 1953, amplamente conhecido nos meios literários como poeta, romancista, e também por ter sido ativo participante da Resistência Francesa.
A peça apresenta dois clowns, Vladimir e Estragon, ou Didi e Gogô, que passam toda a encenação esperando um misterioso Godot que nunca chega. Seus diálogos, impregnados com humor e resignação, beiram o nonsense e revelam a dificuldade contemporânea de comunicação e a natureza fragmentada da existência humana no pós-guerra. Quem será o Godot que tanto demora? Uma representação de Deus (God em inglês)? Metáfora do quê? Quando questionado, Beckett respondeu que se soubesse a resposta, a teria mostrado na peça. Fica, portanto, para cada espectador descobrir o que significa o seu próprio Godot.
Frederico Barbosa Poeta e Professor SP, agosto de 2019
Quando a Inglaterra estava em guerra alguém do governo sugeriu ao Primeiro-ministro cortar o financiamento das artes ao que Winston Churchill apenas respondeu:
“Se cortarmos o financiamento das artes, então estamos lutando para quê?”.
Quando sobram só farelos.
D
urante os anos sombrios da ditadura conheci um homem de quem nunca me esqueci. Eu era bem mais jovem que ele, mas quando o encontrava sempre tínhamos muito a conversar. Com o tempo, desenvolvi estima por ele. Alguns fatos de sua história fiquei sabendo por outros, mas evitava perguntar-lhe. Era coisa delicada e coisa assim não se pergunta. Soube, entre cochichos, que havia resistido a muitos tormentos. Seu código de honra e de outros seus iguais não admitia outro proceder. Foi há tanto tempo, mas nesses dias de agora em que nossos receios voltaram, lembro-me bem dele e até do tom da voz. Seu rosto arredondado trazia impresso vincos de bondade. Ah! Sim, era moreno o homem de quem falo. Disseram-me que tinha vivido maus pedaços e de mau pedaço em mau pedaço construiu um caminho de vida difícil, de claras convicções e firmeza de caráter. Ao vê-lo conversar com tranquilidade e ouvir as pessoas com atenção ninguém diria que sofreu o que contavam.
Aquele homem esteve em muitos lugares longínquos, viu muitas coisas extraordinárias, por isso nossos assuntos eram diversos. Certa madrugada, quando já tínhamos tomado muitos chás, todos os cafés e dos biscoitos só sobravam farelos, armei-me de segurança e perguntei-lhe: – Como você teve coragem para enfrentar a tortura? – Eugênia, no homem a constante é o medo, a coragem é só resistir.
SP, 20 de agosto de 2019
Foto: Mark Axelrod
S a m u e l b e c k e t t
N
ascido na sexta-feira santa, 13 de abril de 1906, em Dublin na Irlanda, Samuel Beckett é um dos mais influentes escritores da segunda metade do século XX em todo o mundo. Formado em Literatura Francesa pelo Trinity College em 1927, no ano seguinte passou uma temporada em Paris. É neste período que conhece o grande escritor irlandês James Joyce e se torna membro do círculo íntimo de escritores admiradores do seu conterrâneo. Às vésperas da Segunda Grande Guerra, em 1938, diz preferir “Paris em guerra à Irlanda na paz”, permanece na Paris ocupada e integra as forças da Resistência Francesa. Em reconhecimento à sua luta contra os invasores nazistas, recebe a Croix de Guerre e a Médaille de la Résistance do governo francês.
B e c k e t t
Após a guerra, publica a obra que o consagraria. A trilogia de romances Molloi (1951), Malone Morre (1951) e O Inominável (1953) aí é notada pela crítica, é a estreia da peça Esperando Godot (1953) que torna, ainda que por meio da polêmica e por vezes do deboche, o seu nome conhecido na França e no mundo, levando-o a receber o Prêmio Nobel da Literatura em 1969. Beckett escrevia originalmente em francês e depois traduzia suas próprias obras para o inglês, segundo ele porque “em francês posso escrever sem estilo”. A partir dos anos 1960 sua produção diversificou-se. Escrevendo para o rádio, a TV e o cinema, tornou-se o primeiro escritor importante legitimamente multimídia. A produção dos seus últimos anos foi de peças e prosas curtas e incisivas, tornando-se, assim, um verdadeiro anti-Joyce: o minimalismo contra o transbordamento do mestre. O requinte de seu trabalho chegou ao extremo: uma de suas últimas obras, Company, tem exatamente 1906 palavras, remetendo ao ano em que Beckett, que iria falecer em 1989, nasceu. Jogo Estúdio SP, agosto de 2019
7 L EI T UR A S ,7A U T ORE S ,7 DIRE T ORE S 13º Ano – Teatro do Absurdo
CONCEPÇÃO E DIREÇÃO GERAL EUGÊNIA THEREZA DE ANDRADE SELEÇÃO DE TEXTOS Eugênia de Andrade, Mika Lins, Marco Antônio Pâmio e Frederico Barbosa ESPERANDO GODOT Samuel Beckett TRADUÇÃO Flávio Rangel DIREÇÃO Eugênia Thereza de Andrade AMBIENTAÇÃO CENOGRÁFICA Mika Lins TEXTOS PARA O PROGRAMA Frederico Barbosa FIGURINO E OBJETOS CÊNICOS Jorge Luiz Alves
ELENCO Agnes Zuliani Carlos Meceni Eduardo Silva Fernando Paz Kleber Brianez PARTICIPAÇÃO ESPECIAL Ná Ozzetti Zé Alexandre Carvalho (baixo acústico) ILUMINAÇÃO Vitória Pamplona FOTOS Edson Kumasaka PRODUÇÃO Messias Lima Jogo Estúdio
Rinoceronte Eugène Ionesco Direção: Caetano Vilela 28/maio Pastiches Tom Stoppard Direção: Nelson Baskerville 25/junho Coração Partido Caryl Churchill Direção: Marco Antônio Pâmio 30/julho Esperando Godot Samuel Beckett Direção: Eugênia Thereza de Andrade 27/agosto
PRÓXIMAS LEITURAS: Piquenique no Front Fernando Arrabal Direção: Oswaldo Mendes 24/setembro O Zelador Harold Pinter Direção: Kiko Marques 29/outubro Ping Pong Arthur Adamov Direção: Eric Lenate 26/novembro
7 Leituras 7 Autores 7 Diretores Teatro do Absurdo Esperando Godot – Samuel Beckett 27/8/2019, terça, 19h30. Teatro Anchieta Duração: 80 min.
Sesc Consolação Rua Dr. Vila Nova, 245 01222-020 São Paulo - SP Higienópolis-Mackenzie Tel: (11) 3234-3000 / sescconsolacao
sescsp.org.br/consolacao